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Geologia

Material Teórico
Geobiocronologia

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Me. Carlos Eduardo Martins

Revisão Técnica:
Prof.ª Me. Camila Moreno de Lima Silva

Revisão Textual:
Prof. Me. Claudio Brites
Geobiocronologia

• Geobiocronologia;
• Classificação das Unidades Litoestratigráficas.

··A unidade tem por objetivo analisar os vários estágios de evolução, a


metodologia e os recursos de datação cronológica utilizados em Geologia.
··Veremos desde as formas mais simples, como a datação relativa, as mais
complexas, que fazem uso da radiometria para dar maior confiabilidade à
datação de uma rocha.

Nesta unidade em que trataremos da geobiocronologia, você terá acesso a diversos recursos.
Veja o mapa mental que sintetiza a estrutura do assunto tratado neste módulo.
Fique atento aos prazos das atividades que serão colocadas no ar.
Recorra sempre que possível às videoaulas e aos slides narrados para tirar eventuais dúvidas
sobre o conteúdo textual.
Participe do fórum de discussão proposto para o tema.
No seu tempo livre, procure pesquisar as fontes do material complementar.
Além disso, pesquise o máximo que puder sobre o tema geobiocronologia, há inúmeros
conteúdos na internet que são úteis para o seu estudo e para a sua formação profissional.

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Unidade: Geobiocronologia

Contextualização

Escala Oficial e Atual do Tempo Geológico

Fonte: gsabulletin.gsapubs.org

Alguns eventos geobiocronológicos selecionados

Fonte : adaptado de ENEN(2006)

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Geobiocronologia

Os primórdios da cronologia geológica


A questão da escala de tempo em Geologia é quase tão complexa quanto a aceitação
da dinâmica existente na superfície. A forte influência da moral cristã somada ao idealismo
impregnado na prática científica foram obstáculos por muito tempo intransponíveis para a
percepção do tempo profundo evidenciado nas rochas, nos minerais e nos fósseis.
Podemos considerar que a primeira tentativa de estabelecimento de uma lógica temporal
nos fenômenos geológicos foi feita por Nicolau Steno (1631-1687) e está relacionada aos
três princípios ou leis desenvolvidas por ele e detalhados mais à frente no item sobre datação
relativa, a saber: as leis da superposição, horizontalidade original e continuidade lateral.
As leis estratigráficas de Steno estão relacionadas à capacidade humana de estabelecer
empiricamente, com base na experiência sensível, a cronologia ou a datação dos fenômenos
geológicos. Ela não nos permite inferir quantos milhões de anos uma rocha tem, mas se ela
é mais antiga ou mais jovem que outra – ou então se ela se formou antes ou depois de um
determinado evento geológico do qual ainda restam indícios.
Antes de tudo, é necessário considerar uma premissa básica que serviu de eixo para a
construção conceitual de tais leis. Steno acreditava que a Terra estivera completamente coberta
por um oceano primordial e que, nas águas desse oceano global, teriam estado em suspensão
e/ou em solução todos os componentes que integram as rochas da crosta terrestre – essa
premissa marca a origem do pensamento netunista.
O fato de Steno acreditar que as rochas têm origem comum e decorrente de um fenômeno de
magnitude universal, no caso o dilúvio bíblico, faz dele também um catastrofista e um diluvianista.
A metodologia de Steno foi publicada em um texto intitulado por ele de De solido intra
solidum naturaliter contento dissertationis prodromus, ou Pódromo, em 1679. Nesse texto,
Steno estabelece a sua noção bastante subjetiva de cronologia geológica, pautando-se em uma
hierarquização vertical e em alguns aspectos de singularidade que poderiam ocorrer em cada
uma das fases de formação das rochas. A classificação cronológica de Steno é representada
no Quadro 1.
Quadro 1 – Cronologia estratigráfica de N. Steno
Era Singularidade
Primeira Sedimentos
Segunda A terra ergueu-se no mar.
Terceira O fogo ou a água transformaram a planície em montanhas e colinas.
Quarta O mar invadiu a terra e encheu os vales de material sedimentar contendo conchas, restos de antigos animais,
moluscos e peixes.
Quinta A terra ergue-se novamente sobre o mar. Os rios cavaram os vales, depositaram sedimentos e construíram
deltas que aos poucos foram avançando pelo mar.
Sexta As planícies levantaram-se mais ainda. O fogo subterrâneo devorou as camadas inferiores. Essas
desmoronaram, fazendo com que a superfície da terra fendesse e se formassem novos morros.
Fonte: adaptado de Place (1963, p. 27)

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Unidade: Geobiocronologia

Abraham Werner (1750 - 1817), professor de minas e mineralogia em Friburg-Alemanha,


corroborou com Steno quanto ao princípio netunista-catastrofista-diluvianista na explicação
dos fenômenos geológicos, aliás, preferia o uso do termo geognosia em vez de geologia.

Werner afirmara que todas as rochas foram depositadas no fundo de um oceano primordial
de proporções globais em um empilhamento sequencial, de tal modo que, para ele, todas as
rochas do mundo são sedimentares superpostas umas às outras. Assim como recomendava a
lei de superposição de Steno.

Derramaram-se críticas ao princípio de superposição de Werner. A maioria delas dizia


respeito às irregularidades observadas tanto no relevo quanto nas rochas. Em sua defesa,
Werner sentencia que o problema estava no fato do oceano global ser constantemente
varrido por “fortes ventos”, isso ocasionou, posteriormente, a formação (subaquática) das
irregularidades de relevo, como as montanhas e os vales.

Assim que o oceano refluiu, as rochas secaram e os relevos viraram a terra firme conhecida.
Para Werner, como esse princípio é valido para o mundo todo, foi muito cômodo elaborar
uma sequência cronológica obedecendo a graduação empírica de superposição. O Quadro 2
apresenta a classificação geocronológica de Werner.

Quadro 2 – Classificação geocronológica de A. Werner

Era Rocha Singularidade


Primária Granito É universal, cobre todo o globo; rocha mais antiga;
não contém fósseis.
Transição Originam-se do rebaixamento universal do nível
dos oceanos até a origem da vida (poucos fósseis).

Floetz Arenitos, calcários, carvão, basalto e obsidiana

Aluviais Lodo, marga, argila, areia e turfa Encontradas em terras baixas do globo.

Fonte: adaptado de Place (1963, p. 41-42)

James Hutton (1726 – 1797), um naturalista escocês, passou sua vida observando os
fenômenos geológicos e foi bem mais longe que os demais. Com menos eloquência para
a escrita, não foi compreendido como gostaria. Não tendo corroborado com os princípios
tradicionais e nem com os preceitos bíblicos, teve seu trabalho desprestigiado nos meios
acadêmicos europeus.

Hutton inaugura o pensamento plutonista confrontando os netunistas quanto ao fato de ter


reconhecido rochas mais velhas sobrepondo rochas mais novas. Afirmara que os sistemas de
deposição e erosão são cíclicos, ou seja, após a deposição, o soerguimento e o dobramento,
seguem-se novas sequências de sedimentação calma.

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Qual não foi a surpresa dos netunistas quando Hutton afirmou que: as rochas formam-se a
partir do resfriamento do calor interno da Terra e podem ser classificadas em extrusivas, as que
resfriam na superfície ou abaixo dela, e as intrusivas, que arrefecem em grandes profundidades
antes de serem expostas à superfície.
Posteriormente Culvier (1769 – 1832) concordou com Hutton ao afirmar que as rochas
mais antigas não têm fósseis por conta das altas temperaturas quando da sua formação.
Hutton reformulou a sequência cronológica das rochas simplificando um pouco mais a
sequência estratigráfica de Werner. Sua classificação situa as rochas da seguinte forma:
· Rochas terciárias (mais novas);
· Rochas secundárias (intermediárias);
· Rochas primárias (mais velhas).
Se compararmos a cronologia de Hutton com a de Werner, teremos a seguinte mudança
na escala (Quadro 3):

Quadro 3 – Comparação entre a cronologia de Werner e Hutton

Werner Hutton
Aluvial (Terciário)
Floetz Terciário
Transição Secundário
Primitivo Primário
Fonte: adaptado de Place (1953, p. 67)

William Smith (1769 - 1839), agrimensor inglês, deu uma enorme contribuição à Geologia,
pois é de sua autoria o primeiro mapa geológico da história.
Smith ganhou notoriedade também pela criação do método de correlação de áreas, pela
coluna estratigráfica e pelo método de classificação das rochas segundo a toponímia do local
onde foram descobertas.

Lei da Assembleia da Fauna: segundo Smith, se os fósseis de


determinada espécie ou conjunto de espécies (vegetal ou animal) ocupam
determinado estrato de rocha, tanto o estrato quanto as espécies têm a
mesma idade geológica.

A ferramenta utilizada na identificação cronológica de fósseis e rochas foi definida por


Adam Sedgwick (1785-1873) com a convenção para a escala do tempo geológico. Esse
geólogo de Cambridge desenvolveu uma escala de convenção para a classificação das rochas
e fósseis, representada no Quadro 4.

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Unidade: Geobiocronologia

Quadro 4 – Convenção da escala do tempo geológico de Sedgwick

Idade Estágio: “Idade do Gelo” (curto período)


Época Série: Eoceno (divisão mais longa)
Período Sistema (mais longo que época)
Era Dois ou mais períodos
Fonte: adaptado de Place (1953, p. 67)

Charles Lyell (1797 - 1875), na obra Principles of Geology (Princípios de Geologia),


questionou a manutenção do Terciário de Hutton propondo uma divisão em unidades
menores. Justificou essa mudança com base na abundância de fósseis, eles representavam
uma diversidade de tempo e não deveriam ser classificados de uma forma tão genérica.
Para ele, são necessárias três subdivisões:

Eoceno (eo = aurora + ceno = presente)


Mioceno (mio = médio)
Plioceno

Como o Plioceno era muito amplo, Lyell o subdividiu em:

Novo plioceno

Antigo plioceno

Posteriormente, o próprio Lyell reclassificou o Antigo Plioceno denominando-o simples-


mente de Plioceno, e o Novo Plioceno, chamou de Pleistoceno – que depois ficou conhecido
como a idade do gelo.

Terciário Cenozoico (ceno = presente + zoe = vida);

Secundário Mesozoico (subdividido em Jurássico, Cretáceo e Triássico).

Após as proposições de Lyell, a escala geocronológica já apresentava um ordenamento bem


significativo e uma temporalidade um pouco mais longa; muito embora qualquer suposição de
data para os fenômenos geológicos, até então, seria altamente especulativa, já que os métodos
de datação ainda eram os mesmos elaborados por Steno. O Quadro 5 apresenta a escala
geocronológica do fim do século XIX, já inscrita dentro do padrão de Sedgwick.

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Quadro 5
Era Período Época
Cenozoica Terciário Recente
Pleistoceno
Plioceno
Mioceno
Oligoceno
Eoceno
Paleoceno
Mesozoica Cretáceo
Jurássico
Trássico
Paleozoica
Proterozoica
Arqueozoica
Fonte: adaptado de Place (1953, p. 68)

Adam Sedgwick (1785 - 1873) e Roderick Murchison (1792 – 1871), em pesquisas


individuais, agruparam estratos sedimentares em períodos novos.
Sedgwich estudou e classificou o período Cambriano em homenagem à Cambria, ou País
de Gales em latim romano, e Murchison tratou sobre o período Siluriano, em homenagem aos
silures, uma antiga tribo celta que resistiu à conquista romana.
Da correlação entre os dois períodos, feita pelos dois pesquisadores que encontraram fósseis
muito similares do período estudado pelo outro, surgiu um terceiro período intermediário que
recebeu a denominação de Ordoviciano, que homenageia os ordovices, antigo povo da Gália.
Em 1842, William Edmond Logan (1798 - 1875) descobriu no Canadá grandes maciços de
rochas muito velhas, atravessadas por batólitos de granito. Denominou essas rochas de pré-
cambrianas, admitindo as contribuições que Sedgwich e Murchison haviam feito em relação
ao Cambriano.
Logan dividiu as rochas descobertas em Arquezoicas, as mais velhas, e Proterozoicas, as
mais novas e intrudidas naquelas.

De lá para cá, as pesquisas apresentaram uma dinâmica qualitativa e quantitativa muito


intensa. Com a descoberta da radioatividade, foi possível datar as amostras de rochas, minerais,
restos fósseis e matéria orgânica de forma ampla e quase irrestrita, o que proporcionou um
aumento maior ainda no ritmo e na melhoria dos resultados dos trabalhos em geocronologia.

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Unidade: Geobiocronologia

Demarcando o tempo geológico ou o tempo profundo


A atual escala geocronológica ou do tempo geológico é de uma complexidade admirável.
Embora o método tenha sido preservado, novas subcategorias aparecem dia após dia e a sua
reprodução aqui ficaria bastante comprometida pela baixa resolução e diminutas fontes, assim,
preferimos disponibilizar a Escala Geológica Internacional na parte de contextualização desta
unidade e o seu link de acesso está no material complementar a este conteúdo.
Vejamos um exemplo mais simplificado e resumido, mas com a mesma proposta de
classificação cronológica de rochas, minerais, fósseis e eventos geológicos. Essa escala
simplificada será de grande importância para o seu estudo e para a resolução de várias questões
propostas (Figura 1).

Figura 1 – Escala simplificada do tempo geológico Na Figura 1, podemos observar alguns


aspectos de grande importância para a
compreensão do tempo geológico. O primeiro
deles é o método de divisão do tempo e das
unidades utilizadas. Na classificação da escala
do tempo geológico atual, a história é dividida
hierarquicamente da seguinte forma:

Éon: maior subdivisão de tempo na escala de tempo geológico;

Era: divisão de um éon;

Período: divisão de uma era;

Época: divisão de um período;

Idade: divisão temporal de uma época.

Fonte: files.professoralexeinowatzki.webnode.com.br

Outro aspecto a ser considerado é o princípio da Terra há cerca de 4,6 bilhões de anos
(4.600 M.a. ou 4,6 G.a.) no Eon Criptozoico ou Pré-Cambriano (que só no final passou a
abrigar seres muito simples) até o Cambriano, iniciado há 570 milhões do presente, quando a
vida começava a se desenvolver de forma plena na superfície, de lá decorreram mais de 4 G.a.
(4 bilhões de anos) – o que quer dizer que a escala está propositalmente muito simplificada e
desproporcional em relação à temporalidade representada, isso porque a magnitude do tempo
é muito grande para caber no papel.
Isso se deve, de um lado, à dificuldade de se encontrar eventos e remanescentes geológicos
dessas etapas tão antigas da história; por outro, do Cambriano até o Holoceno, ou o Quaternário,
a quantidade de restos fósseis e de rochas e minerais é exponencialmente aumentada – daí a
desproporção na representação.

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Para melhor visualização dessas porções relativas de tempo, a Figura 2 retrata uma
distribuição temporal em forma de círculo proporcional.

Figura 2 – Círculos proporcionais do tempo geológico

Fonte : Wikimedia Commons

Note, na Figura 2, que da origem dos primeiros seres vivos, os procariontes, datados
de 4 G.a., no Hadeano, até o aparecimento da espécie Humana, há pouco mais de 2
M.a., decorreram cerca de 3,8 G.a. de história natural praticamente desprovida de seres
complexos na Terra.
A magnitude de tempo tão longa é praticamente incomensurável ao homem, sua
esperança de vida média é da ordem de 70 anos, isto é, as chances de observarmos grandes
mudanças no âmbito geológico são muito pequenas. Uma possibilidade de minimizar a
dificuldade é comprimir a idade da Terra em um período compatível à escala de tempo
histórica humana, assim:

1º de janeiro: início do Criptozoico Hadeano tem início a formação da Terra e da Lua;

24 de fevereiro (Criptozoico – Hadeano) ocorre a formação das primeiras rochas;

24 de fevereiro a 17 de março (Criptozoico – a Terra estava sendo muito bombardeada por


Hadeano) meteoritos;

De 17 de março a 18 de abril (Criptozoico ou Pré-


surgiram os primeiros continentes;
Cambriano – Hadeano)
28 de março (Hadeano) surgiram as primeiras bactérias;

De 18 de abril a 20 de maio (Criptozoico ou Pré- os estromatólitos espalham-se por toda a Terra e


Cambriano ou Pré-Cambriano – Arqueano) teve início a fotossíntese;

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Unidade: Geobiocronologia

surgiram as bacias sedimentares, as fraturas


intracontinentais, as colisões entre continentes
De 20 de maio a 13 de junho (Criptozoico ou Pré- e eventos orogênicos de âmbito global, além da
Cambriano – Proterozoico) formação do supercontinente Rodínia – ou terra
mãe, em russo –, formam-se as principais jazidas
ou grandes concentrações de minerais metálicos;

De 13 de junho a 24 de agosto (Criptozoico ou


aparecem os primeiros seres eucariontes;
Pré-Cambriano - Proterozoico)
De 24 de agosto a 12 de outubro (Criptozoico ou entre os animais existentes inicia-se a reprodução
Pré-Cambriano – Proterozoico - Ediacarano) sexuada;

De 12 de outubro a 17 de novembro (Criptozoico


tem início a biota Ediacarana;
ou Pré-Cambriano – Proterozoico – Ediacarano)
havia um clima ameno em toda a superfície;
surgiram os anelídeos, os artrópodes, os
De 17 ao 22 de novembro (Fanerozoico – braquiópodes, os equinodermos, os moluscos e as
Paleozoico – Cambriano) esponjas, entre outros animais; as Trilobitas e os
braquiópodes tornam-se dominantes; a superfície
só apresentava vegetais, tipo algas marinhas;

o clima tornou-se muito úmido, embora ameno;


no final do período, porém, formaram-se
grandes geleiras, sendo essa a provável causa
do desaparecimento de cerca de 60% de todos
De 22 a 25 de novembro (Fanerozoico –
os gêneros de vida e 25% dos invertebrados
Paleozoico – Ordoviciano)
marinhos; apareceram os primeiros animais de
grande porte, como os artrópodes marinhos (com
2 metros ou mais), e os primeiros peixes sem
mandíbula e com barbatanas;

ocorreu o derretimento das geleiras e a consequente


elevação do nível do mar; surgiram os recifes de
De 25 a 28 de novembro (Fanerozoico – corais e os primeiros peixes com mandíbula; os
Paleozoico – Siluriano) artrópodes colonizaram a terra firme; no final
dessa fase, aparecem animais e plantas em terra
firme, surgindo também as amonites;

apareceram as plantas de pequeno porte e os


corais chegam ao seu auge; surgiram os primeiros
De 28 de novembro a 2 de dezembro
anfíbios; os insetos têm grande desenvolvimento
(Fanerozoico – Paleozoico – Devoniano)
e os peixes começam a deixar a água com a
transformação das barbatanas em patas;

formam-se grandes jazidas de carvão; nos últimos


De 2 a 7 de dezembro (Fanerozoico – Paleozoico
dias dessa fase, os répteis adquiriram a capacidade
– Carbonífero)
de se reproduzir em terra firme;

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os continentes unem-se e formam a Pangeia;
a fauna terrestre é dominada por insetos
semelhantes às baratas e por animais que não
são nem répteis nem mamíferos, os Synapsida;
nas águas doces, havia anfíbios gigantes e no
De 7 a 11 de dezembro (Fanerozoico – mar já existiam tubarões primitivos, moluscos
Paleozoico – Permiano) cefalópodes, braquiópodes, trilobitas e artrópodes
gigantes; as únicas criaturas voadoras são parentes
gigantes das libélulas; surgiu a flora Glossopteris e
os répteis, como o Mesossaurideo; no fim dessa
fase, ocorre a extinção de 95% da vida na Terra,
extinguindo as trilobitas;

a América do Sul torna-se um vasto deserto


arenoso; os répteis dividem-se em muitos grupos
De 11 a 15 de dezembro (Fanerozoico –
e ocupam diversos habitats; surgiram os primeiros
Mesozoico – Triássico)
dinossauros e os primeiros mamíferos ovíparos; as
florestas de coníferas floresceram;

tem início a divisão da Pangeia; as maiores


formas de vida são os répteis marinhos, como
os ictiossauros, os plesiossauros e os crocodilos,
bem como os peixes; em terra firme, os grandes
De 15 a 19 de dezembro (Fanerozoico – répteis (arcossauros) são os dominantes; surgiram
Mesozoico – Jurássico) os primeiros pássaros e os pterossauros tornam-
se numerosos; surgiram as plantas com flores;
instalam-se as condições para a formação das
bacias sedimentares oceânicas com potencial
petrolífero que temos hoje;

os continentes começaram a adquirir a atual


configuração e os dinossauros alcançaram seu
De 19 a 25 de dezembro (Fanerozoico – auge, sofrendo, porém, uma extinção em massa às
Mesozoico – Cretáceo) 18 horas do dia 25, momento em que surgiram os
primitivos mamíferos placentários e mais algumas
plantas com flores;

De 25 a 29 de dezembro (Fanerozoico – surgiram os mamíferos modernos e ocorre a


Cenozoico – Paleogeno) extinção das espécies mais velhas;

ocorre a expansão dos mamíferos de grande porte


(embora muitos tenham sido posteriormente
De 29 a 31 de dezembro (Fanerozoico – extintos) e o aparecimento do Homo sapiens
Cenozoico – Neogeno) sapiens, nosso ancestral primitivo mais recente,
que surgiu no dia 31 de dezembro às 23 horas,
36 minutos e 51 segundos.
Adaptado de http://www.cprm.gov.br/. Acessado em 16/10/2014. E de Eicher (1975, p. 34).

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Unidade: Geobiocronologia

Classificação das Unidades Litoestratigráficas

Todas as rochas, exceto os granitos e gnaisses, obedecem a padrões de sucessão vertical e


são hierarquizadas dentro de uma normatização universal. Consideramos as rochas sempre a
partir da seguinte classificação (Figura 3):

Supergrupo (associação de vários grupos);

Grupo (duas ou mais formações);

Formação (unidade fundamental);

Membro (parte de uma formação).

Formação
Figura 3 – Modelo de coluna estratigráfica com a nomenclatura
hierarquizada de camadas ou estratos de rocha

Fonte: degeo.ufop.br

A formação é a unidade litoestratigráfica fundamental. Ela deve ser definida por uma ou
mais camadas de uma ou mais rochas, com certa homogeneidade.
A formação pode ser constituída por um único tipo ou por uma repetição de dois ou mais tipos de
rochas ou, ainda, possuir uma rocha que, por sua singularidade, possa ser diferenciada das camadas
adjacentes.

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O nome das unidades leva o tipo de rocha e a toponímia do local onde ela foi originalmente descrita
e apresenta as suas características mais singulares. Como exemplo, podemos citar: Formação Rio do
Rasto, Formação Botucatu, Grupo Bom Jardim, Formação Serra Geral, etc. A Figura 3 apresenta um
esquema de legenda de uma coluna litoestratigráfica.

Unidade litodêmica ou corpo


Unidade litodêmica ou corpo é aquela que, devido aos seus aspectos litológicos, não
obedece à lei de sucessão vertical das camadas. São os casos das rochas ígneas intrusivas e
das rochas metamórficas. No Brasil, esse tipo de classificação é utilizada principalmente para
rochas do pré-cambriano.
Para tanto, é necessário que a rocha apresente limites mais ou menos reconhecíveis, como
os contatos bem definidos em relação às rochas adjacentes.
Assim, as unidades litodêmicas ou corpos rochosos correspondem mais ou menos às
formações da classificação anterior. A diferença é que, no caso da unidade litodêmica, trata-se
de um único corpo de rocha ígnea intrusiva ou metamórfica.
A denominação dos litodemas obedece ao mesmo critério das formações, ou seja, utiliza-
se o nome da rocha e a toponímia do local onde foram descritos de forma pioneira – por
exemplo: Anortosito Capivarita, Granito Santana.

Suíte
Em termos conceituais, a suíte se assemelha ao grupo, isso é, contém dois ou mais litodemas.
A denominação da unidade é dada da mesma forma que nas classificações anteriores – por
exemplo: Suíte Granítica Caçapava do Sul, Suíte Granítica de Itu, etc.

Complexo
Não se assemelha a nada já apresentado anteriormente. O complexo é formado por lito-
demas de dois ou mais tipos que apresentam alguma delimitação reconhecível em relação às
rochas adjacentes e que, por esse motivo, não devem ser considerados como rochas indepen-
dentes. A nomenclatura segue as regras anteriores, por exemplo: Complexo Metamórfico
Porongos, Complexo Amparo, Complexo Belo Horizonte, etc.

Datação ou idade relativa


A datação ou a idade relativa das rochas, por seu elevado teor empírico e subjetivo, não
permite que saibamos quantos anos ela tem, e sim se ela se formou antes ou depois de um
evento geológico ou de rochas adjacentes. Nesse tipo de datação são empregados os princípios
de Steno, dos quais passaremos a tratar em seguida.

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Unidade: Geobiocronologia

Princípio da superposição
Figura 4 – Afloramento de Varvito com Em uma sequência de camadas de rocha
marcas de ondulação não perturbadas por tectonismo, a camada é
sempre mais jovem do que aquelas que estão
abaixo dela e mais velha do que as que estão
acima (BRANCO, 2014). A Figura 4 representa
uma situação cabível à aplicação do princípio
de superposição, muito embora haja sinais de
perturbação (ondulações) em algumas camadas.

Princípio da horizontalidade original


Segundo Steno, as rochas sedimentares são depositadas horizontalmente. São os esforços
posteriores de compressão ou distensão que mudam essa originalidade. Há algumas exceções,
como depósitos de encostas escarpadas e depósitos em dunas (BRANCO, 2014). O princípio
pode ser aplicado ao exemplo da Figura 4, ainda que haja perturbações do tipo marcas de
ondulação em algumas camadas.

Princípio da continuidade lateral


Figura 5 – Trecho do rio Colorado, As sequências estratigráficas idênticas
Grand Canyon National Park. Arizona-EUA expostas em lados opostos de um vale ou os
morros sedimentares residuais em uma grande
planície devem ser interpretados como restos de
camadas que já foram contínuas na área onde
o vale foi aberto. A repetição entre os estratos
rochosos deve ser idêntica em ambos os lados
do vale ou nos vários “morros testemunhos” da
antiga superfície erodida (CARNEIROS, 2005).
A Figura 5 é um exemplo de situação na qual
podemos aplicar o princípio da continuidade
lateral.

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Princípio das relações de intersecção
Figura 6 – Intersecção em sedimentos Qualquer rocha que foi atravessada por um
de encosta íngreme corpo de rocha intrusiva ígnea, ou por uma
falha, deve ser considerada mais antiga que a
rocha ígnea ou a falha (BRANCO, 2014). Na
Figura 6, é possível observar que em meio aos
sedimentos há uma intersecção de material
ígneo. Com o tempo e o processo de erosão,
ambos são desgastados e expostos ao ar livre,
mas todo o processo de intersecção ocorre em
grandes profundidades.

Fonte: farm3.staticflickr.com

Datação ou Idade absoluta


A data ou idade absoluta de uma rocha ou qualquer objeto datável pode ser determinada de
duas formas básicas:
· Datação pelo conteúdo fossilífero

Figura 7 – Assembleia fóssil em sedimento Os fósseis que viveram por curtos espaços
de tempo geológico e em grandes áreas na
superfície terrestre são considerados como
fósseis-índices. Eles são usados para determinar
a idade das rochas que os abriga desde a sua
morte até a atualidade.

As assembleias fósseis são as acumulações


mais numerosas das partes duras (esqueléticas)
de formas de vida alóctones ou autóctones, em
estratos sedimentares específicos (Figura 7).

Fonte: Wikimedia Commons

· Datação por isótopos radioativos ou datação radiométrica


A datação radiométrica usa a desintegração espontânea (“meia-vida”) de núcleos atômicos
de alguns elementos químicos encontrados na natureza para descobrir a idade das rochas. Os
elementos que possuem 84 prótons ou menos são considerados instáveis e precisam emitir
radiação para voltar ao estado de equilíbrio.

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Unidade: Geobiocronologia

Todos os elementos químicos que têm núcleos instáveis emitem radiação num certo instante
da sua existência. Daí eles se transformam em outro elemento (por decaimento radioativo),
que vai emitir radiação em uma temporalidade diferente do anterior e em uma intensidade
menor. Após diversos estágios de decaimentos sucessivos, o elemento do último estágio da
transformação se torna estável, ou seja, para de emitir radiação.

O decaimento mais simples é a emissão dos raios gama quando


isótopos instáveis têm seus núcleos rompidos em razão da
instabilidade atômica.

Sabendo a velocidade com que esse processo ocorre, ou seja, a quantidade de tempo que o
núcleo instável leva para sofrer o decaimento, esse corresponderá à idade da rocha.
A título de exemplo, vejamos o método de datação da sequência Urânio – (U238) / Chumbo
(Pb206). O isótopo Urânio (U238) desintegra quando seu núcleo é rompido. Após a emissão
da radiação, ele se transforma no Tório (Th234). Esse, por sua vez, após a emissão, gera o
Protactínio (Pa234). As perdas sucessivas de “meias vidas” ocorrem por mais 14 fases até que,
finalmente, a sequência chega ao produto considerado final: o Chumbo (Pb206), com núcleo
estável, ou seja, não emite mais radiação.
Em cada uma das sequências que levam à transformação do isótopo “pai”, por exemplo, o
Urânio - U238, até o “filho”, Chumbo (Pb206), ocorre a perda de “meia vida” em temporalidades
específicas. O Quadro 6 apresenta as características, incluindo a perda de meia vida, dos
diversos isótopos, incluindo o do exemplo citado, mais usado em datação radiométrica.

Quadro 6 – Os isótopos e suas meias idades (em bilhões de anos - G.a.)


Isótopo ‘‘pai’’ Isótopo ‘‘filho’’ Meia vida (G.a.)
(Sm) Samário 147 (Nd) Neodímio 160,0
(Rb) Rubídio 87 (Sr) Estrônico 87 48,8
(Th) Tório 232 (Pb) Chumbo 208 14,0
(U) Urânio 238 (Pb) Chumbo 206 4,5
(K) Potássio 40 (Ar) Argônio 40 1,25
(U) Urânio 235 (Pb) Chumbo 207 0,70
(Re) Rênio 187 (Os) Ósmio 187 43,0
(Lu) Lutécio 176 (Hf) Háfnio 176 35,0
(C) Carbono 14 (N) Nitrogênio 14 0 - 50 000 a
Fonte: adaptado de http://www.ige.unicamp.br/terraedidatica/v1/pdf-v1/p006-035_carneiro.pdf. Acessado em: 16/10/2014.

Assim, chegamos à configuração da escala contemporânea do tempo geológico. A datação


radiométrica deu ao homem a possibilidade de explicar o tempo profundo, aquele no qual
nós, seres humanos, não estivemos presentes, mas que, devido ao emprego dessa tecnologia,
podemos narrar com bastante precisão.

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Material Complementar

Sites:
Mapa geológico de William Smith (1769 – 1839) – clique sobre a imagem para
ampliar.
http://libweb5.princeton.edu/visual_materials/maps/websites/thematic-maps/quantitative/geology/smith-map-1815-thumbnail.jpg

Escala internacional do Tempo Geológico (2014) – clique sobre a imagem para


ampliar. http://www.stratigraphy.org/ICSchart/ChronostratChart2014-02.jpg
Uma proposta de descrição do tempo geológico:
http://www.cprm.gov.br/publique/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=1094&sid=129

CPRM – Paleontologia das Bacias do Parnaíba, Grajaú e São Luís – Reconstituições


Paleobiológicas:http://www.cprm.gov.br/publique/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=1261&sid=9
CPRM – Publicações: http://www.cprm.gov.br/publique/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=1114&sid=9

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Unidade: Geobiocronologia

Referências

BRANCO, P. M. Como Sabemos a Idade das Rochas? Disponível em:


http://www.cprm.gov.br/publique/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=1070&sid=129.
Acessado em: 16/10/2014.

CARNEIRO, C. D. R.; MIZUSAKI, A. M. P.; ALMEIDA, F. F. M. de. A determinação


da idade das rochas. Terræ Didática, 1(1):6-35. 2005. Disponível em:
http://www.ige.unicamp.br/terraedidatica/. Acessado em: 16/10/2014.

EICHER, D. Tempo Geológico: textos Básicos de Geociências. São Paulo: Editora Edgard
Blucher, 1975.

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Anotações

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