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E.T.E.

JOÃ O LUIZ DO NASCIMENTO

A HOMOFOBIA E A FAMA
Famosos que apó iam a causa GLBT
defendem publicamente colegas e anô nimos
do mundo inteiro.
Gabriel Fontoura e Douglas Justino
POLÊMICA LITERÁRIA SOBRE ATORES GAYS

No final de abril, o articulista Ramin Setoodeh, da revista eletrônica Newsweek, publicou uma
matéria que causou uma grande polêmica nos EUA: De acordo com a matéria, ele acha que
atores homossexuais não convencem como personagens heterossexuais. A polêmica tomou
proporções tão grandes que atores e atrizes dos Estados Unidos e do mundo tomaram as
dores dos ofendidos com o artigo. Entretanto, o maior destaque nesta história foi para a atriz
Kristin Chenoweth. Chenoweth ficou famosa por interpretar papeis em peças como You’re a
Good Man, Charlie Brown e Wicked, e em séries como Pushing Daisies e Glee. Até janeiro de
2011, ela está em cartaz na Broadway com o musical Promises, Promises. Chenoweth foi a
primeira a criticar publicamente o artigo. Chenoweth é uma grande defensora da causa GLBT,
dizendo em um vídeo sobre sua vida que ela prefere gays a garotas adolescentes.

Chenoweth foi a primeira, mas não foi a única. Ryan Murphy, o criador da série Glee, também
quis deixar claro que não gostou do artigo. Tanto que inclusive incitou os fãs da série musical a
boicotar a revista eletrônica Newsweek. Ryan Murphy é homossexual assumido e sua série é
dita como favorita do público GLBT, uma vez que o elenco de personagens conta com um
garoto assumido gay e que enfrenta bullying e todos os tipos de repressão na escola (seu
intérprete, o ator Chris Colfer, é gay também) e duas líderes de torcida bissexuais que
protagonizaram uma cena lésbica em um dos episódios da série.

E a polêmica está longe de acabar, porque em resposta às críticas, Setoodeh postou um novo
artigo, em que diz que suas palavras foram mal interpretadas. O subtítulo do artigo lança a
pergunta polêmica: “atores heterossexuais interpretam personagens gays o tempo todo. Por
que isso nunca funciona no sentido contrário?” - ou seja, por que os atores gays são incapazes
de interpretar personagens héteros? O articulista começa criticando a performance de Sean
Hayes, que interpretou o personagem Jack em Will & Grace e homossexual assumido, no
musical Promises, Promises. Segundo Setoodeh, “francamente, é estranho ver Hayes
interpretando um hétero. Ele parece duro e insincero, como se estivesse tentando esconder
alguma coisa, o que ele sem dúvida está fazendo.” Poder-se-ia argumentar que talvez essa
impressão do articulista tenha sido motivada pelo personagem mais popular da carreira de
Hayes, mas não foi isso. Mais adiante no artigo, Setoodeh critica também a atuação de
Jonathan Groff, Jesse St. James, na série Glee. Para ele, “alguma coisa em sua performance
parece estar errada. Em metade de suas cenas, ele está franzindo as sobrancelhas – seria isso
um substituto para a heterossexualidade do personagem? Quando ele sorri ou ri, ele parece
uma prima donna, um par romântico mais adequado para Kurt (o personagem gay) do que
para Rachel (a protagonista da série).”

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Ainda no artigo, Setoodeh diz: “não ajuda muito o fato de Jesse ter tentado levar sua
namorada para a cama cantando e dançando ao som de Like a Virgin (em um episódio da série
em homenagem à Rainha do Pop Madonna). Ele é tão distrativo, que começo a me perguntar
se o personagem de Groff na série deve ser secretamente gay.” Seguindo essa linha de
pensamento, os atore Corey Monteith e Matthew Morrison seriam gays também, pois
participaram da música em cenas semelhantes às de Lea Michele (Rachel) e Jonathan Groff. O
articulista continua: “o fato é que atores abertamente gays ainda têm razões para temerem.
Enquanto é OK para um ator heterossexual interpretar um personagem homossexual (como
Jake Gyllenhaal e Heath Ledger em O Segredo de Brokeback Mountain), é raro que alguém
consiga realizar a mesma coisa ao contrário.” E ele não é o único a pensar assim. No ano
passado, o ator Rupert Everett sugeriu aos atores gays que não saiam do armário. “A verdade”,
disse, “é que você não podia ser, e ainda não pode ser um homossexual com cerca de 25 anos
tentando se dar bem no cinema.” Setoodeh encerra seu artigo com mais uma pergunta: “se
um ator do porte de George Clooney saísse do armário amanhã, você ainda o aceitaria
interpretando personagens heterossexuais?” Kristin Chenoweth julgou o artigo “terrivelmente
homofóbico”, mesmo sabendo que seu autor é gay: “De forma geral, eu guardaria silêncio
sobre um assunto como esse. Mas me sinto ofendida com esse artigo, não por causa da minha
profissão ou do meu trabalho com Hayes ou Jonathan (considerados “afetados” demais para
interpretar héteros)."

“Esse artigo me ofende", prossegue a atriz, "porque sou um ser humano, uma mulher e uma
cristã. Por exemplo, houve um tempo em que atores judeus eram obrigados a mudar seus
sobrenomes porque os anti-semitas pensavam que nenhum judeu poderia ser convincente no
papel de um cristão.” E, para encerrar, ela completa: “o público não está dando a mínima
sobre quem está dormindo com quem ou sobre a vida pessoal dos atores. Dá um tempo!
Somos atores em primeiro lugar, não importa se estamos interpretando prostitutas, jogadores
de baseball ou o Rei Leão!”

Ryan Murphy, criador de Glee, se juntou a Kristin na crítica, e foi além: exigiu um pedido de
desculpas de Setoodeh. “Hoje, pedi ao presidente da GLAAD (Aliança Gay e Lésbica contra a
Difamação) Jarrett Bairros para se juntar a mim e promover um boicote imediato à revista
Newsweek até que um pedido de desculpas seja feito a Sean Hayes e todos os corajosos atores
homossexuais assumidos que foram cruelmente citados nesse texto desnecessariamente
cruel.”. E o criador da série continua: "um pedido de desculpas deve ser redigido também a
todos os leitores gays da revista... operários, pais, contadores, médicos, etc. Americanos
trabalhadores e orgulhosos que, se esse artigo for levado a sério, devem identificar-se apenas
com a imagem de 'frutinhas' (a palavra é usada por Setoodeh no artigo) que ficam no fundo do
ônibus e aceitam um estereótipo ultrapassado há décadas.”

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Setoodeh respondeu às críticas, dizendo que ele acredita que o verdadeiro objeto de seu texto
– questionando se os gays realmente tiveram algum progresso em Hollywood – foi mal-
interpretado. “Meu artigo se transformou numa bandeira de homofobia e dor em todo o
mundo. Se você é pró-gay, você é anti-Newsweek. O argumento de Kristin Chenoweth é válido,
mas não era disso que eu estava falando”, ele escreveu. "Eu estava dividindo minha sincera
impressão sobre uma peça a que assisti. Se você não concorda comigo, ficarei feliz em ouvir
um ponto de vista oposto. Mas eu tinha esperança de iniciar um diálogo que fizesse as pessoas
pensarem, não tornar o texto um alvo para aqueles que distorceram minhas palavras. Não sou
um escritor conservador com uma agenda anti-gay. Não odeio os homossexuais nem a mim
mesmo”, revelou o autor do texto polêmico, que é assumidamente homossexual.

A Newsweek, por sua vez, também tentou remendar a situação: “Ramin Setoodeh escreveu
um ensaio honesto sobre um tópico controverso. É uma pena que seu argumento tenha sido
mal compreendido e que ele tenha sido acusado de preconceituoso.” E, numa tentativa de
selar a paz com Ryan Murphy, “nós esperamos que nossas cópias antecipadas dos episódios de
Glee continuem chegando à redação, pois aqui na Newsweek somos grandes fãs da série (até
mesmo os heterossexuais).” Muitos fãs dos atores e atrizes citados no artigo não concordam
com a opinião de Setoodeh, e dizem que não é notável a homossexualidade dos intérpretes
nos personagens. Os fãs de Glee dizem que veem o personagem de Jonathan assim como
Setoodeh vê, mas não notam nada além de uma versão masculina da protagonista, que quer o
“estrelato”, por isso seus trejeitos seriam exagerados, mas que o personagem não chega a
parecer um homossexual em segredo. Se a lógica de Setoodeh fosse verdadeira, os atores e
atrizes homossexuais estariam eternamente destinados a interpretar personagens gays.
Infelizmente, o dia em que a orientação sexual de uma pessoa deixará de causar polêmica não
parece estar se aproximando.

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LADY GAGA PARTICIPA DE PARADA GAY E GRITA COM PRESIDENTE

A Cantora Lady Gaga (nome artístico de Stefani Germanotta), bissexual assumida, fez o
discurso inaugural da Parada Gay de Washington em 11 de Outubro de 2009, declarando ser
aquele “o momento mais importante de sua carreira. Desde que ficou famosa Lady Gaga usa
sua influência para ajudar a causa GLBT, dizendo diversas vezes que queria que o mundo fosse
gay. Na abertura do evento, em frente ao National Mall, a cantora, declarando-se como porta-
voz de uma nova geração, ela disse que se deve continuar a luta do movimento gay e derrubar
de vez as barreiras que impedem que a sociedade norte-americana seja igualitária. Ela ainda
disse que não ia tolerar qualquer comportamento misógino e homofóbico nas letras, música
ou atitude na indústria musical”.

Mas Lady Gaga prosseguiu e direcionou suas críticas para o presidente norte-americano Barack
Obama. “Obama, eu sei que você está nos ouvindo. Você está nos ouvindo?”, perguntou,
levantando o tom de voz. Gaga ainda terminou o discurso dizendo estar orgulhosa de
participar da manifestação: “Como mulher com os fãs gays mais lindos do mundo, estou muito
honrada de estar aqui hoje.”

Meses depois, Lady Gaga investe contra o senado americano, que estava votando um projeto
de lei que inclui a revogação da proibição do ingresso de homossexuais declarados no exército.
Mas a pressão para que a medida seja aprovada começou na segunda-feira, quando a cantora
decidiu mobilizar milhares de fãs em uma campanha pela internet.
Ela pediu aos senadores que votem para revogar a norma "Don't Ask, Don't Tell" ("Não
Pergunte, Não Diga"), que obriga os militares gays americanos a esconder sua
homossexualidade sob pena de serem expulsos da corporação. “Votação chave esta terça-
feira. Precisamos de 60 senadores. Ligue para seu senador agora”, conclamou a cantora, na
sua página pessoal do Twitter.

Além da internet, Lady Gaga levou sua mobilização para as ruas. Na segunda-feira, ela
participou de um comício no estado do Maine, onde mais de 200 pessoas protestaram contra a
lei. "Estou aqui porque 'Don't Ask, Don't Tell' é ruim, é injusta, e acima de tudo contraria tudo
que nos identifica como americanos", disse, em um parque de Portland. "O verdadeiro
problema é o soldado heterossexual que odeia o soldado gay. A lei deveria expulsar o
homofóbico."

Ela já havia produzido um vídeo em que cobra os senadores a respeito da questão e, durante a
entrega do prêmio MTV Video Awards, apareceu acompanha de quatro veteranos do exército
americano, abertamente gays. A proibição foi instaurada durante o governo Bill Clinton, em
1993, e tornou-se bandeira dos senadores republicanos conservadores na atual legislatura.

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