PROFESSORES: NEUSA ROCHA E MIGUEL ANGEL TURMA: DIREITO D-112 / FARO ALUNO: ELSON SYDNEY BUZAGLO CORDOVIL
ATIVIDADE INTERDISCIPLINAR PORTUGUÊS PSICOLOGIA
Este trabalho é resultado de uma da atividade interdisciplinar realizada
pelos professores das disciplinas de Língua Portuguesa e Psicologia Geral, da Fundação João Neórico – FARO, do curso de graduação em Direito, turma D- 112/2010, e tem como proposta avaliar os argumentos que envolvem o processo psicológico do drama vivido pela pequena Lucy e seu pai Sam, no filme “Uma Lição de Amor”, bem como estimular a aplicação prática da língua portuguesa, dentro de um discurso consistente, claro, organizado e coerente, acerca da questão do poder familiar de pessoas deficientes e do preconceito que envolve esta relação. Consiste em analisar o filme, que servirá de base para argumentação e posicionamento do acadêmico de Direito, em relação à concessão de guarda de filhos de pais portadores de deficiências mentais, levando em consideração os critérios guias - Standard - promulgados pelas cortes de Minnesota e de Michigan, nos Estados Unidos. O filme retrata uma história de ficção em que as personagens vivem um drama, no qual Sam, pai de Lucy, é um deficiente com idade mental equivalente a de uma criança de sete anos, mas que demonstrou ter todo amor e o desejo de querer cuidar de sua filha. Apesar de todas suas limitações, após ter sido abandonado na porta do hospital pela mãe da criança, ele vai para casa com Lucy. Com a ajuda da vizinha e de seus amigos, também portadores de deficiência mental, cuidou da criança até completar sete anos. A partir dessa idade, Lucy já começa a fazer inúmeras indagações ao pai, e com o tempo, em razão do seu comportamento estranho, ela percebe que ele é diferente. Neste contexto, o poder público discute a incapacidade dele para cuidar de sua própria filha e são levantadas questões jurídicas relacionadas à guarda e adoção. Daí para frente desenrola todo o drama em que o poder público tenta decidir se Lucy continua com o pai ou não. Sam por sua vez é orientado a procurar um advogado. Inicialmente a advogada não queria atendê-lo, já que ele não teria condição de pagar pelos serviços. A seguir, pressionada pelos amigos resolve fazer a defesa de Sam sem cobrar nada. O final do filme não mostra a sentença do caso, não deixando claro com quem ficou oficialmente a guarda da menina. Neste contexto, inicia-se a argumentação em relação à guarda de Lucy no “Filme uma Lição de Amor”, considerando os critérios guias Standard, estabelecidas pela corte de Minnesota e de Michigan em consonância com o Código Civil Brasileiro. Traçando um paralelo entre o que ocorre no filme e o ordenamento jurídico Brasileiro, acredita-se que seria quase impossível a outorga da guarda de Lucy aos cuidados de Sam, considerando ser uma pessoa relativamente incapaz, conforme estabelece o disposto no Código Civil Brasileiro de 2002, em seu art. 4, inciso III. Por força deste dispositivo Sam é considerado uma pessoa que não pode praticar qualquer ato da vida civil, a não ser que estivesse juridicamente assistido por um representante legal. O Art. 1.633 do Código Civil brasileiro também preconiza que: “o filho, não reconhecido pelo pai, fica sob poder familiar exclusivo da mãe; se a mãe não for conhecida ou capaz de exercê-lo, dar-se-á tutor ao menor.” No que tange aos critérios guias Standard, entendemos que Sam também não lograria êxito em sua demanda judicial junto à Corte de Minnesota e de Michigan. Em que pese o primeiro critério tratar da “existência de amor, afeto e outros vínculos entre as partes”, sentimentos fortes e presentes, no relacionamento entre pai e filha, este critério não pode ser avaliado desvinculado dos demais. San possuía capacidade e disponibilidade para dar assistência material para sua filha, colocá-la em uma escola, dar cuidados médicos e psicológicos, pois, trabalhava e era remunerado. Até mesmo na hora do aperto buscava auxílio e orientação de amigos. Nestes itens San atenderia aos critérios 1, 2, 7 (Critérios guias, Ackermann, citado por Arce e Farina, 2000). Porém, a capacidade e disponibilidade de qualquer das partes para dar afeto, amor, assistência material, devem estar associadas à capacidade de continuidade na educação dos filhos, inclusive preparando-o para o convívio social e comunitário. Neste ponto, o aspecto da relação paterna no convívio social e comunitário é negativo. San não demonstra capacidade de acompanhar o rápido desenvolvimento de Lucy. Isso afeta o seu aprendizado, uma vez que a menina já estava com seu psicológico abalado e não queria desenvolver a habilidade de leitura para não ser diferente do pai. Em outro momento, a menina nega até a paternidade (diz que era adota) para não sofrer ainda mais com as observações de seus amigos. O ambiente familiar de Lucy não era adequado, quanto à possibilidade de maior tempo possível num ambiente de confiança que pudesse dar continuidade das relações estáveis, pois o comportamento estranho de Sam não permitia considerá-lo de confiança. Portanto, neste critério ele pode ser considerado incapaz de exercer o papel de responsável pela manutenção de uma ordem familiar estável. Em que pese o pai gostar de atividades culturais, de filmes, de visitar o parque, podemos afirmar que o ambiente cultural de Lucy era limitado, o que esbarra no cumprimento do critério de background cultural dos filhos. Lucy não tinha parâmetros para escolha de preferência, uma vez que seu núcleo familiar era formado por ela e seu pai. Como ela ainda era uma criança de sete anos não tinha maturidade para expressar os seus desejos de preferência de forma livre e autêntica. Portanto, este critério Standard não deve ser considerado neste momento. Quanto à formação de um novo ambiente de confiança, que possa dar continuidade de representação de um núcleo familiar, sabemos que nos dias atuais os núcleos familiares não seguem mais os padrões tradicionais: pai, mãe e filhos. Muitos núcleos são formados por mães e filhos ou pais e filhos, outros aparecem à figura dos avôs, dos padrastos e das madrastas. Neste caso, poderia se pensar em um núcleo familiar diferente e adequado ao caso de Sam e Lucy. Para se julgar um caso como este, a Corte (Juiz ou Tribunal) deve considerar alguns pontos relevantes e os fatos concretos, quais sejam: há uma criança ligada pelo amor paterno; um pai que tem deficiência mental, mas um amor incondicional à filha; um poder público que tem o dever de proteger as pessoas vulneráveis. No caso em tela, entendo que esta criança pode ter um tutor que irá exercer os direitos e deveres inerentes ao de pátrio poder, mas a relação entre pai e filha não deveria ser alterada, considerando o forte laço afetivo. Por todo o exposto, em relação à guarda de Lucy tem-se o posicionamento de que a Corte (Tribunal ou Juiz) deveria conceder a guarda de Lucy a uma família substituta, com permissão para que Sam realizasse visitas regulares, até que esta atingisse a maioridade e decidisse sobre seu futuro.