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PARAFILIAS

 
Até que um dia, o mais frágil deles entra sozinho em nossa casa, rouba-nos
a luz, e, conhecendo nosso medo, arranca-nos a voz da garganta.
Vladimir Mayakovki

De acordo com a Medicina Legal as parafilías são comportamentos sexuais


considerados anormais. Este é o termo atualmente empregado para os transtornos da
sexualidade, anteriormente referidos como "perversões", uma denominação ainda
usada no meio jurídico. Estudar as Parafilías é conhecer as variantes do erotismo em
suas diversas formas de estimulação e expressão comportamental. É difícil
conceituar a sexualidade normal segundo o ponto de vista do médico inglês Havelock
Ellis que afirma "todas as pessoas não são como você, nem como seus amigos e
vizinhos, inclusive, seus amigos e vizinhos podem não ser tão semelhantes a você
como você supõe." (1) Abordar as parafilías do ponto de vista da fisiologia ou mesmo
enquanto patologia, não será o objetivo deste trabalho.
Abordaremos a parafilía por outro ângulo, propondo apenas uma pequena reflexão
sobre o que poderia vir a ser a causa, que tem levado tantas pessoas à busca de
comportamentos sexuais diversos.
Para Freud “a ética é um limitador do instinto” (2).
Em nosso entender o fator limitante do desejo é a relação pai-filho que está
diretamente ligado todo ao social, esta é transparente a todos os comportamentos
humanos, inclusos os relacionados à sexualidade. É na primeira infância onde se
consolidam os liames que iram determinar a forma como o individuo ira se relacionar
com o outro. A psicologia e a psicanalise têm explorado de forma sistemática e fértil
este assunto, iremos aqui fazer umas poucas referencias que nos levarão ao nosso
objetivo.
A relação simbiótica existente entre mãe-filho precisa de um elemento externo que
produza a ruptura desta díade. Como relação simbiótica, entendemos que ambos os
elementos, mãe e filho, obtêm vantagens em mantê-la. Biologicamente a simbiose é
uma relação mutuamente vantajosa entre os organismos. Dentro desta realidade a
relação mãe-filho não é proveitosa apenas para o filho como se pode pensar. A mãe
tem como ganho nesta relação como a disponibilidade de “ter” um ser vivo que
retroalimenta as suas necessidades afetivo-emocionais. O que pode vir a ser a
possibilitar a ruptura da mesma é um elemento externo a ela, o pai. Por ser prazerosa
para mãe e filho isto aumenta o grau de complexidade neste cadinho de emoções e
desejos, e se torna mais um elemento complicador, visto que para o homem, projeto
de pai, nada há que o estimule a querer entrar nessa verdadeira teia de sentimentos e
posse. Neste cenário a mãe passa a ser um adversário no processo que põe fim à
relação. Se para o homem não se constitui tarefa fácil adentrar este universo
hermético, ainda ter a resistência da mãe torna a empreitada praticamente impossível.
Entendemos que o ser humano é um complexo de corpo a soma, alma a psique e o
espírito o pneuma. Estes elementos compõem o individuo, não tendo como separa-
los, pois cada um age e tem suas funções e características próprias. Sem corpo o ser
humano não existe biologicamente na esfera física, não tem como se expressar, não
existe. Ele precisa existir biologicamente para ser percebido enquanto ser vivo, sem
esta dimensão não há que se falar em ser humano. A psique também é parte
integrante do ser humano que tem como característica mais forte a emoção que se
expressa na forma de desejo, ela, a alma, só é percebida no instante em que o
individuo demostra suas emoções, sejam elas quais forem. Sem emoção nem desejo
não há que se falar em psique assim como sem vida biológica não há se falar em
corpo. É inquestionável que para que a psique possa se expressar é imprescindível
que o soma esteja funcionando nas condições mínimas necessárias, para que as
emoções possam ser externadas de forma a serem percebidas e vivenciadas sem
distorções. Entendemos que ao nível da psique só podemos nos mover com posse e
posição, por esta razão é que se ocorrem os conflitos humanos, pois vivemos à busca
de possuir o outro e sermos possuídos. O possuidor normalmente é controlado e o
possuído é o controlador. Se analisarmos de forma objetiva as relações humanas
veremos que este padrão é recorrente. Da mesma forma que a soma e a psique, o
pneuma, espirito, é parte integrante do homem. Assim como a psique precisa do
corpo para se expressar o pneuma precisa da alma e do corpo para que possa ser
percebida. Os judeus dizem que a diferença básica do homem para um animal é que
neste falta o elemento vontade, que só existe no ser humano, permitindo que este
possa fazer o que nenhum outro ser vivo faz escolher. A escolha é, pois a
caraterística maior do espirito humano. O ser humano tem vontade própria que é
peculiar a cada um e que ninguém a não ser ele próprio tem o controle dela. O livre
arbítrio é uma das maiores características do espirito humano. Por ser um nível mais
profundo que o consciente tem a capacidade de mudar as próprias emoções, assim a
vontade pode mudar a emoção tanto quanto o desejo. O espirito como o próprio nome
indica tem a substancia como se fora ar, pneuma, por isso é muito volátil e pode
interagir com os outros com quem tem contato mesmo sem que percebamos. A aura
é a expressão da energia que compõe o pneuma e que se esvai com a morte. Por isto
através dela se detectam os diversos estados da soma do individuo, inclusive quando
o mesmo está sendo controlado. É nosso entender que a vontade é mais forte que o
desejo e a emoção, por isso o ser humano que controla o seu pneuma tem suas
emoções e desejos sob seu controle. Não caberia discutir ao nível de pneuma a
questão de repressão. O individuo que tem o seu espirito sob seu controle não está
sujeito a quem ele não queira estar. Ter a vontade submissa a si próprio é um
paradigma, a partir do qual é possível determinar, controlar o que o eu querer, o fazer
e o desejar. Então o ser que nos tornamos diariamente é o resultado das escolhas
que fazemos conscientes ou não em nosso dia-a-dia.
Escolher um comportamento sexual diferente está diretamente ligado à busca do
prazer. Está busca tem uma característica progressiva assim, portanto entendemos
que quem tem este comportamento não o faz de pronto no seu nível mais intenso,
mas vai se entregando na busca desenfreada de mais e mais prazer de todas as
formas e vai se permitindo praticar as diferentes formas de vivências sexuais e com
isso passa a perder seus limites, que são bem frágeis, paulatinamente e ao perceber
está em um caminho sem volta.
Limites nos remetem ao pai, à perda dos limites seria a perda deste pai ou a busca
incessante pelo mesmo!
Então entendemos que o conflito entre a ética individual e o prazer desmedido,
ilimitado, como busca incessante de satisfação, está intimamente ligado à busca pelo
pai, é um grito ensurdecedor, um clamor agonizante para que se estabeleça está
relação que foi perdida em algum momento. O filho busca o pai pela eternidade sem
fim.
Então a busca pelo prazer é de busca pelo pai perdido!
A pessoa que se entrega às praticas sexuais em busca do prazer enquanto fim em si
na realidade busca o pai que lhe imponha limites.
Há prazer no limite?
Há gozo no obedecer?
Entendemos que sim!
O prazer de satisfazer o desejo do pai é a fonte do gozo que se procura na vida como
um todo e em especial no ato sexual.
No nosso entender a permissividade da sociedade daqui a algum tempo ira
“descriminalizar” as parafilías assim como o fez com o homossexualismo e o
bissexualismo, que até pouco tempo eram consideradas “aberrações”.
A busca desenfreada do prazer denota uma sociedade sem limites.
Aonde isto ira nos leva?
Uma breve reflexão sobre a sociedade contemporânea nos mostra claramente que
vivemos em um mundo dominado pelos sentidos, a estética, e não pela ética. A vida
está se baseando na busca e satisfação do desejo pelo desejo, e os meios de
comunicação se utilizam da exploração dos desejos até os limites do absurdo.
Como o desejo deixa de causar efeito rapidamente, então, novas formas de estímulos
são criadas para não deixar a “adrenalina” cair, ou seja, com os padrões morais e
éticos que temos não é difícil prever onde iremos chegar se alguma coisa não for feita
para frear os impulsos do individuo e do social.
Entendemos que falta algo neste mundo que vivemos.
 
Referencias
1.    http://virtualpsy.locaweb.com.br/index.php?art=166&sec=78
2.    Freud, Sigmund. Moisés e o Monoteísmo, Rio de Janeiro-RJ, Imago Editora,
1997.
 

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