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Ano 1 - Nº 1

Jornal Março - 2005


Anápolis-GO

O Centenário Fonte: Museu Histórico de Anápolis - Secretaria Municipal de Cultura

Anápolis
Cem anos de história

Anápolis em 1926 - Rua 15 de Dezembro

Editorial Apresentação do Jornal


A UniEVANGÉLICA, inspirada nos princípios da A proposta do jornal O Centenário será de envolver a população
indissociabilidade de ensino, pesquisa e extensão, apresenta à anapolina nesse grande momento em que a cidade se prepara para
sociedade de Anápolis o primeiro número do Jornal O Centenário. O comemorar o seu centenário, relembrando a sua história, o seu
periódico é um projeto idealizado pelo professor Juscelino Polonial desenvolvimento, toda a sua trajetória.
com o apoio do Instituto Superior de Educação, sob a proposta de O jornal terá textos assinados com o título Fato Histórico. Neste
constituir-se num espaço para informação e resgate da nossa história, e espaço, a idéia é envolver todos os profissionais que queiram apre-
surge no ensejo das comemorações dos 100 anos de existência da nossa sentar um texto sobre algum fato da história da cidade. O primeiro está
cidade, que se completarão em 2007. assinado pelo professor Juscelino Polonial e fala do desenvolvimento
Instituição de ensino que tem como marca a tradição e a econômico da cidade por época da chegada dos trilhos.
excelência, a UniEVANGÉLICA se orgulha de fazer parte desta A segunda parte, com o título, Um dia foi assim, será o estudo de
história, reconhecendo que estamos numa sociedade em que o mudanças nos aspectos econômico, político, social, religioso e
conhecimento e a informação têm tido um papel fundamental tanto nos cultural de Anápolis nos últimos 100 anos. A matéria deste número
processos de desenvolvimento econômico quanto nos processos de fala sobre a diversidade de jornais existentes no início dos anos 1930.
democratização política e social. Temos ainda os itens, Curiosidades, Naquele tempo e
A história continua e precisa ser manifestada e transformada Indicações de Leitura. Cada um procurará trazer informações sobre
numa atividade intelectual criadora. Assim, mais uma vez a Anápolis nesses últimos cem anos. No primeiro caso, envolvendo
Associação Educativa Evangélica sai na vanguarda, promovendo algum fato pitoresco, engraçado ou algo do gênero; no segundo,
uma publicação que contará nossa história, despertando alegria, algumas datas que foram marcantes para a cidade; e o último, com
recordação, saudade... produção de livros, monografias e ensaios sobre alguma temática da
O desejo da UniEVANGÉLICA é participar da construção da história local.
história de nossa cidade com o comprometimento de quem faz parte A última parte do jornal, com o título História e Memória, tem o
dela e pode contribuir para promover a reflexão, a pesquisa e o debate, objetivo de registrar algum personagem marcante na história de
como uma forte aliada na formação dos jovens e da comunidade em Anápolis, que será entrevistado falando de alguns momentos
geral. decisivos para a cidade, resgatando a sua memória. Também serão
entrevistadas pessoas anônimas, com mais de 65 anos e que, pelas suas
Parabéns, Anápolis!
memórias, possam relatar momentos importantes da nossa história.
Carlos Hassel Mendes da Silva
Reitor UniEVANGÉLICA Juscelino Polonial

UniEVANGÉLICA
CENTRO UNIVERSITÁRIO
Fato histórico O Centenário

Com os trilhos, o progresso


Fonte: Museu Histórico de Anápolis - Secretaria Municipal de Cultura
populacional destas cidades. No caso de
Anápolis, esse aumento esteve acima da
média nacional, com taxas de crescimento
anual de 6,58%, entre 1911 e 1920, e 5,61% ,
entre 1921 e 1935, sendo este último, o ano da
extensão da ferrovia à cidade.
A chegada dos trilhos, a dinamização
da economia com o aumento das atividades
comerciais, os melhoramentos urbanos, tudo
isso fez de Anápolis um pólo atrativo na
região e terminou criando uma rede de
dependência , no setor de serviços, entre
dezenas de municípios goianos e o município
anapolino.
Esse processo foi lento, mas contínuo,
e integrou a economia anapolina à economia
nacional. A compra e venda de mercadorias
cresceu e dinamizou a economia local,
transformando a cidade no maior centro
comercial do Estado.

Evolução da população de Anápolis


Festa de inauguração da ferrovia, que trouxe mudanças à cidade, contribuindo para seu desenvolvimento econômico e urbano
entre 1872 e 1980
ANO POPULAÇÃO PERÍODO % ANO
Entre 1870 e 1935, a região do desse processo desenvolvimentista que, em 1872 3.000 -- --
município de Anápolis sofreu profundas conjunto com a construção da estrada de 1900 6.296 1872-1900 2,96
1910 8.476 1901-1910 3,02
mudanças. As poucas moradias existentes, rodagem de Anápolis a Roncador, em 1920, 1920 16.037 1911-1920 6,58
habitadas por escassa população, deram lugar transformou a cidade no maior centro de troca 1935 33.375 1921-1935 5,61
a uma aglomeração humana mais complexa. de mercadorias de Goiás nas décadas 1940 39.148 1936-1940 3,24
As casas aperfeiçoaram-se com construções seguintes à chegada da ferrovia. 1950 50.338 1941-1950 2,02
1960 68.732 1951-1960 3,16
de alvenaria, e a cidade ganhava feições Influenciada pelo ritmo do progresso, 1970 105.121 1961-1970 4,34
urbanas mais definidas. entre 1910 e 1935, a cidade experimentou 1980 179.973 1971-1980 5,52
Terceiro município mais populoso do expressivo crescimento populacional, o FONTE: CENSOS DO IBGE- (percentuais trabalhados pelo Prof. Polonial).
Estado, hoje com 287.666 habitantes maior da história do município. Os
(IBGE,2000), Anápolis tem uma participação m e l h o r a m e n t o s u r b a n o s o c o r r e r a m Estrangeiros em municípios
importante no quadro paulatinamente, para goianos em 1940
geral da História de melhor receber a leva Número de % no
Goiás. Em tempos “Anápolis vivia em efervescência, Municípios
de imigrantes que estrangeiros Estado
passados, foi cogno- raro o dia em que não chegavam
chegavam à região. Anápolis 422 22,76
minada de "Ribeirão pelos vagões de passageiros da Goiânia 306 16,5
Vinham eles tanto de
Preto Goiana", por con- Estrada de Ferro Goiás, um Ipameri 207 11,16
outros estados brasi- Catalão 140 7,55
ta da produção cafeeira, comerciante com objetivos definidos leiros, principalmente Goiás(Cidade) 97 5,23
e de "Manchester Goia- de aquisição de mercadorias, um
de Minas Gerais e de Estado 1.854 100
na", devido ao desen- representante comercial de alguma
São Paulo, como de FONTE: IBGE - 1940 (percentuais trabalhados pelo Prof. Polonial).
volvimento comercial; empresa do sul, com esperança de
diversos países, com
mais recentemente de abrir ou ampliar o mercado para a
destaque para o Japão
Cidade Supersônica, empresa que representava ou, ainda, (24,64% dos que chega- Expediente
em função da instalação um aventureiro disposto a realizar o vam) e para a Itália
da Base Aérea. Essas negócio capaz de mudar sua
(13,51%), (IBGE,
denominações justifi- vida."(FREITAS & POLONIAL, Contato com o Jornal
1940). Anápolis era o jpolonial@ig.com.br
cavam-se pelo grande 1988:74).
município goiano que tatianagoncalves@unievangelica.edu.br
dinamismo econômico mais recebia estran-
por que passou a cidade geiros no Estado Idealizador do projeto/textos
após a segunda década do século XX. A (22.76% do total). Pela análise dos dados, Professor Juscelino Polonial
ampliação do mercado interno nacional e o podemos concluir que os imigrantes Edição
prolongamento dos trilhos da estrada de ferro acompanhavam os trilhos: entre os cinco Tatiana Gonçalves
tiveram papel decisivo nessas mudanças. primeiros municípios que mais recebiam Diagramação
Os estudiosos sobre a história de imigrantes, 41.47% do total eram da região da Ricardo Alves
Anápolis explicam o grande desenvol- estrada de ferro , o que traduzia a procura
vimento econômico alcançado atribuindo-o pelos centros comerciais mais dinâmicos do Revisão
ao fato de que a cidade se tornou o ponto Estado. Aélia Cavalcante
terminal da estrada de ferro. Até mesmo a Marisa Espíndola
A estrada de ferro, portanto, teve
perspectiva da expansão dos trilhos foi parte participação importante no crescimento Tiragem
5.000

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Um dia foi assim O Centenário

Nas páginas dos jornais Curiosidades


Fonte: Museu histórico de Anápolis

Fonte: Museu histórico de Anápolis

José Batista Júnior

1. DOS PIONEIROS: Muitos árabes


Diversos jornais foram criados na década de 1930. De todos eles, só o Anápolis resistiu ao tempo e funciona até hoje. contribuíram para o desenvolvimento
de Anápolis. Alguns autores citam que
A década de 1930 foi de grande O jornal O Verbo, fundado no dia 15 de
Abrahão José Asmar foi o primeiro
desenvolvimento econômico em Anápolis, setembro de 1931, circulando até abril de
sírio-libanês a chegar em nossa cidade.
muito ligado ao prolongamento dos trilhos. 1932, era de propriedade do Sr. Jarbas Jayme.
Outros falam em Miguel João ou
Mudanças significativas aconteceram no O Jornal A Luta, de oposição ao
Joaquim Spin e há ainda quem diga ter
cenário social, tendo como referência a Interventor, era de propriedade do Sr. A. G.
sido Antônio Jorge Sahium, avô do
chegada dos imigrantes. No campo cultural, a Pinto.
atual prefeito. E agora? Quem terá sido
cidade teve diversos jornais que foram O jornal O Operário, fundado pelo Sr. F.
o primeiro imigrante árabe a chegar em
criados nesse período como se segue: Garcez Chiquito, que foi também o seu
Anápolis? Se você tem alguma pista,
O jornal Annápolis*, fundado em 31 de diretor, circulou apenas no ano de 1933.
entre em contato com a redação do
março de 1935 por Luiz Caiado de Godoy, Vo l t a v a - s e p a r a o s i n t e r e s s e s d o s
jornal (Sheila Luppi).
Manuel Gonçalves da Cruz, Orlando Motta e trabalhadores tendo os seguintes lemas:
Sebastião Guimarães. É o jornal de maior "Igualdade, Justiça e Fraternidade" e
2.POLÍTICA: Em 1973, depois que
tempo de circulação entre os periódicos "Operários! Ajudemos uns aos outros".
Anápolis foi declarada Área de
anapolinos, circulando até os dias de hoje. O Jornal O X, sob a direção de Adahyl
Segurança Nacional, aconteceu a
Como diz Haydée Jayme Ferreira, "...o Lourenço Dias e Waldemar B. de Oliveira,
intervenção militar na cidade,
Annápolis cresceu com a cidade, lutou a favor circulando em 1932, tendo na sátira a sua
provocando a deposição do então
dela, sofreu com ela, brigou por linha editorial, quase sempre criticando as
prefeito eleito pelo voto popular, José
ela."(Ferreira,1979:312). oligarquias da época.
Batista Júnior e colocando na prefeitura
O jornal Correio de Anápolis, o primeiro O Jornal Voz do Sul, era semanário e
de Anápolis interventores. Entre 1973 e
da cidade, foi fundado em 10 de março de circulou entre 1930 e 1934, sob a direção de
1985, a cidade teve 8 indicações e 1
1929 pelo Intendente Municipal Adalberto José Lourenço Dias e era afinado com os
interino. Você sabia disso?
Pereira da Silva. Era o periódico oficial do ideais da Revolução de 1930.
Município.

Naquele tempo Indicações de


25/4/1870 - Gomes de Sousa Ramos obteve instalada em 10 de março de 1892, tendo sido leituras
uma doação de uma gleba de terra para a nomeado chefe da junta administrativa, José Nesse primeiro número indicamos
construção de uma capela em homenagem a da Silva Batista (Zeca Batista). dois livros para quem quer conhecer um
Nossa Senhora Santana. É o marco inicial do pouco mais a História de Anápolis:
povoamento da região, embora décadas antes 31/7/1907 - A Vila é elevada à condição de 1 - Anápolis: Passado e Presente,
já existissem moradores em fazendas onde cidade com o nome de Anápolis, sendo eleito editado pela Voga em 1995;
hoje se situa a cidade de Anápolis. como chefe do executivo, Joaquim Prudêncio 2 - Conhecendo Anápolis, edição do
Batista autor, 3ª edição, em 2002.
6/8/1873 - O povoado é elevado à condição Esses dois trabalhos foram
de freguesia de Santana das Antas. 7/9/1935 - Inauguração da Estação elaborados pelo professor Revalino
Ferroviária de Anápolis, que contribuiu para Antônio de Freitas, professor da UFG,
15/12/1887 - Lei nº 811 cria a Vila, emanci- o desenvolvimento da cidade um dos grandes estudiosos sobre a
pando a região de Pirenópolis, mas só História de Anápolis.

* - grafia da época
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História e Memória O Centenário

Paulo Nunes Batista: O poeta andarilho


Paulo Nunes Batista nasceu em João JC - Como foi a sua saída do trabalho na para São Paulo e era redator do Jornal Hoje,
Pessoa(PB), no dia 2 de agosto de 1924 e em Colônia? quando fui preso, porque publicamos uma
mais de 80 anos de vida, dos quais 70 PN - Na época havia uma denúncia contra matéria que afirmava que o Brasil se
dedicados à literatura, já que escreveu seu Bernardo Sayão e uma comissão de preparava para mandar soldados para a
primeiro poema aos 10 anos de idade, sendo deputados estaduais foi à Colônia, entre eles, Guerra da Coréia (1950-1953). Alguém do
que desses, 50 anos vividos em Anápolis, Abraão Isaac Neto, que era do PCB. Quando Partido lá dentro deixou vazar o documento.
publicou mais de três centenas de trabalhos ele me viu veio me abraçar como Naquela época, muitos comunistas estavam
literários em vários gêneros como: crônicas, companheiro o que causou alguns problemas dentro das Forças Armadas. Fui preso. Por
poesias, abecês. Como muitos nordestinos, e por fim fui demitido, mas o Sayão deixou causa dessa prisão, o meu irmão mais velho
foi um andarilho pelo Brasil, tendo morado que eu ficasse morando na casa da colônia. Lá veio a falecer. Com a minha prisão em São
em mais de 20 cidades brasileiras, até se tinha gente de vários estados do Brasil e a Paulo e com a morte do meu irmão, minha
radicar em Anápolis na década de 1950. É pai maioria era analfabeta, eu passei a escrever mãe voltou para João Pessoa com minha filha.
de 11 filhos, sendo dois já falecidos, tendo cartas para eles que assim poderiam mandar Depois que saí da prisão, fui atrás delas e em
ainda 18 netos e 8 bisnetos. Paulo Nunes notícias para as suas famílias. Eles me Recife fui preso novamente. Alegaram que eu
Batista é de uma família de literatos, poetas e pagavam, na maioria das vezes em produtos era um subversivo. Fiquei mais sete dias
folcloristas e sempre buscou viver da sua arte, alimentícios, e às vezes com algum dinheiro. preso. Nesse período, em nenhum momento o
apesar das dificuldades. Hoje é membro da Assim eu tocava a vida. Partido ajudou a minha família. Por esses e
Acadêmia Goiana de Letras, do Instituto outros motivos eu pedi a minha desfiliação.
Histórico e Geográfico de Goiás, dentre JC - O que aconteceu depois? Abandonei o Partido, mas não os meus ideais
outras instituições do gênero. Em Anápolis, PN - Fui morar em Inhumas, convidado para socialistas.
foi um dos fundadores da União Literária trabalhar como escriturário em um escritório
Anapolina (ULA). de Contabilidade. Por essa época eu publiquei JC - Já em Anápolis, mas fora do partido,
o meu primeiro livro de Cordel em Anápolis, como você viu o golpe de 1964?
Jornal Centenário - Fale sobre seus A Vida Atrapalhada de Zé Bico Doce, em PN - Pessoalmente não fui atingido, pois já
primeiros tempos em Goiás? 1949. Em 1950 eu mudei para Anápolis. estava fora do PCB desde 1952, mas para
Paulos Nunes - Cheguei em 1947 e fui morar Ainda em Inhumas, com apoio do PCB, mim foi um retrocesso político, econômico,
em Campinas, na pensão da Dona Orcina, e fundamos a Associação dos Trabalhadores de social e cultural. Tive muitos amigos presos.
me liguei ao PCB, então o partido decidiu Inhumas. Fui até ameaçado de morte por Eu queimei alguns papéis na minha casa que
criar uma escola para filhos de operários, de capangas. Nesse época, minha esposa me podiam me comprometer. Aconteciam
pais pobres e me pediu para coordenar o abandonou e me deixou duas filhas para reuniões do SNI e as pessoas eram delatadas.
trabalho. Sem recursos, a experiência durou criar”. Certa vez meu nome apareceu, delatado por
mais ou menos três meses. Como não tinha um cidadão. O Rivadávia Xavier Nunes disse
mais trabalho fui para a Colônia Agrícola de JC - E a sua vida em Anápolis? que não iria me prender porque eu era espírita
Ceres e tentei um trabalho com o Bernardo PN - Eu iniciei a venda dos Cordéis e passei a e não comunista, então fui salvo.
Sayão. Como não existia vaga no escritório, viver disso. Corri todo o Estado de Goiás
pedi qualquer trabalho e ele me deu a função divulgando e vendendo a minha obra. Em JC - E a cultura anapolina, como era?
de cavouqueiro (trabalho braçal). Um dia Anápolis, ficava na Praça Bom Jesus, que na PN - Antes de 1964 era rica. A cidade tinha até
precisaram fazer um ofício no escritório e época tinha o nome de Largo do Bom Jesus, três jornais, sendo um diário. Aconteciam
como ninguém sabia, eu me candidatei e na chuva era barro e na seca era só poeira, pois reuniões da AGI (Associação Goiana de
rapidamente bati na máquina o não tinha asfalto. Eu aproveitava as festas Imprensa) em Anápolis com jantares
ofício para espanto dos religiosas de Goiás para vender os meus culturais, com espaço para a poesia e a prosa.
presentes. Com isso ganhei o folhetos. Por essa época, em 1953, Era muito dinâmico. Hoje os jornais não
emprego no escritório. conheci a minha atual esposa. Em falam de cultura. Na época da ditadura essa
Trabalhei um ano e meio na 1955 fundei em Anápolis a primeira vida não existia. Os intelectuais tinham medo
Colônia. banca de Jornal da cidade, na e se escondiam.
praça Bom Jesus, que vendia
jornais, revistas, livros JC - E hoje?
usados, etc. PN - A ULA é um renascimento da cultura
anapolina. Prosadores e poetas voltaram a se
JC - Você não saiu mais de aglutinar, mas ela está longe de cumprir o seu
Anápolis? objetivo, pelas dificuldades que a cultura
PN - Saí. Ainda em 1950 morei dois encontra para se desenvolver. Estamos num
meses em Patos de Minas. Agitei a bom momento, com apoio da Secretaria de
cidade com a distribuição de Cultura. Nunca houve tantos projetos
panfletos do PCB. Para não ser culturais e eles são levados para o povo.
preso, fui para Belo Horizonte, tudo JC - Para finalizar, quem é Paulo Nunes
a pedido do PCB, e trabalhei no Batista?
Jornal do Povo, que foi PN - Sou um rebelado contra as injustiças
empastelado pelo Governo. sociais. Na minha atividade cultural defendo
Mesmo assim o jornal dois pontos básicos: o social e o espiritual.
continuou a sair mimeo- Sou um eterno insatisfeito e sei que poderia
grafado e quem levava ter feito muito mais. Quando me tornei
Foto: Luiz Fábio

material para a edição era espírita, a literatura passou a ser a forma de


eu, sempre disfarçado, para denunciar as mazelas sociais. Não perdi os
fugir da polícia, isso em meus ideais.
1951. No ano seguinte fui

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