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Caminhos da História - Augusto Pestana em 145 anos de imigração

Expediente
Concepção/ Realização:
ACADESCA - Associação Comunitária Cadeado para o Desenvolvimento Cultural e Artístico

Pesquisa e Textos:
Salete Vogt - Sonia Teresinha Müller - Zenaide Simon Hüller
Oldemar Schneider - Lirdi Nogara - Adriano Guiotto
Fabiana Ricoy Sá - Janis Loureiro - Betina Maria Silva
Nilvia Mattioni - Adir Milton Kunz

Projeto Gráfico e Editoração:


Z Agência

Revisão:
Gilberto João Zardin

Fotografia:
Daniel de Almeida

Edição:
Janis Loureiro

Coordenação:
Leonair de Barros Sost

Financiamento:

Dados de Catalogação

C183 Caminhos da história: Augusto Pestana em 145 anos de imigração / Janis


Loureiro ... [et al.]. - Augusto Pestana: Z Agência, 2015. -
100 p. : il.

1. Augusto Pestana. 2. Colonização do RS. 3. Imigração.


4. História. I. Loureiro, Janis. II. Nogara, Lirdi. III. Mathioni, Nilvia. IV.
Schneider, Oldemar. V. Vogt, Salete. VI. Müller, Sonia Teresinha. VII. Guiotto,
Adriano. VIII. Silva, Betina Maria. IX. Kunz, Adir. X. Hüller, Zenaide Simon.
XI. Sá, Fabiana. XII. Título. XIII. Título: Augusto Pestana em 145 anos de
imigração.

CDU : 981(816.5)

ISBN : 980

Aline Morales dos Santos Theobald


CRB10/1879

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Apresentação
Todo livro tem sua história. Este não pretende ser diferente. E isto tem lá suas van-
tagens. Esta obra é composta por um livro, ilustrado, com textos concisos, fotos e muita
informação que tem como título “Caminhos da História Augusto Pestana em 145 Anos de
Imigração”, disponível em 100 páginas, além de uma versão digital e um blog.
A presente publicação visa resgatar e registrar a história desde a ocupação do es-
paço territorial do município de Augusto Pestana, que teve seu início por volta de 1870, por
meio de pesquisa, entrevistas, valorizando os saberes da comunidade, as manifestações lo-
cais relacionadas às culturas tradicionais e populares, valorizando o patrimônio cultural ima-
terial, mapeando e buscando registros fotográficos significativos, que possam promover a
cultura e o interesse pela leitura, difundindo a história do Município para a Região e o Estado.
Cabe destacar que o livro é resultado de um projeto que foi embasado em uma das
cinco finalidades propostas pelo Edital Sedac nº 11/2013 “Desenvolvimento da Economia da
Cultura Pró-cultura RS Fundo de Apoio à Cultura (FAC)”, tendo como proponente a Associa-
ção Comunitária Cadeado para o Desenvolvimento Cultural e Artístico - Acadesca. A publica-
ção será dirigida aos estudantes na rede de ensino com o objetivo de aproximar a história do
município das novas gerações, incentivar a pesquisa e a difusão do conhecimento.
Propõe-se a expor um relato histórico, com fatos e sujeitos, que sirva de referên-
cia, corrigindo uma lacuna hoje presente na comunidade. Temos o compromisso de fazer
uma narrativa temporal que coloca em destaque o início da colonização com a chegada dos
primeiros imigrantes Alemães, Italianos e agora, depois desta pesquisa, também os Portu-
gueses, bem como enunciar a sucessão de estados e transformações, a partir da análise das
práticas culturais dos pioneiros.
A cronologia terá como fio condutor a foto biografia de personagens e fatos da
história do Município, que hoje dão nome aos principais logradouros e instituições da cidade.
Ao resgatar de forma contextualizada essas trajetórias, o livro possibilitará ao leitor relacio-
nar o passado e o presente do Município e estimular a compreensão do processo histórico,
social e cultural da comunidade de Augusto Pestana. Com esta obra, queremos disponibilizar
e organizar todos os registros bibliográficos existentes democratizando o acesso ao livro, à
leitura e à literatura para setores expressivos da comunidade local e regional, da história de
Augusto Pestana.

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Caminhos da História - Augusto Pestana em 145 anos de imigração

Apresentação
É com alegria que colocamos em suas mãos o resultado do Projeto: “ Caminhos da Histó-
ria” referente ao processo histórico de 145 anos da Colonização de Augusto Pestana. O fruto deste
trabalho percorreu um longo caminho. Muitos participaram desta jornada, orgulhosos e honrados
de poder contribuir com essa conquista.
O presente Projeto resgatou e registrou a história da ocupação do espaço territorial do
município de Augusto Pestana, que teve seu início por volta de 1870. Compôs um relato histórico,
com fatos e sujeitos que tiveram papel preponderante nessa colonização, bem como enunciou a
sucessão de estados e transformações, a partir da análise das práticas culturais dos pioneiros.
A diluição das distâncias e a interpretação entre o sujeito e o objeto de trabalho instigou
alguns sujeitos a assumirem uma subjetividade interpretativa, questionando a dimensão do real
e o comprometimento do conhecimento histórico com a verdade em termos de vínculos com a
realidade social. Nessas dimensões, as especificidades do conhecimento histórico foram redimen-
sionadas. A referência passou a ser o diálogo, a entrevista, a pesquisa que o interlocutor estabeleceu
com a comunidade, a coerência de sua abordagem metodológica e a organização do conteúdo por
meio de uma formalização da linguagem histórica, onde se valorizou os saberes da comunidade, as
manifestações locais relacionadas às culturas tradicionais e populares, a valorização do Patrimônio
cultural imaterial, mapeando e buscando registros fotográficos significativos, que promovem a cul-
tura e o interesse pela leitura, difundindo a história do município e região.
Partindo de uma efetiva dimensão de contemporaneidade, utilizamos como eixo nor-
teador desse trabalho a discussão do passado sob a luz do presente. Procuramos a todo instante
mergulhar nos acontecimentos e nas ações do homem, nos quais o passado e o presente estão ar-
ticulados no desafio à compreensão da história. Tal procedimento não tem a intenção de conceder,
aos atores históricos do passado, sentimentos e ações gerados no presente, ou mesmo distorcer os
acontecimentos da história, e sim a de levar o leitor a uma compreensão ativa da realidade social
do município e região.
Nosso livro procura atingir um amplo número de professores de história, alunos da Edu-
cação Básica, e aqueles interessados em acessar um recurso didático em obra específica da história
de Augusto Pestana.
Com este livro, você terá a oportunidade de conhecer um pouco mais sobre si mesmo,
sobre as pessoas com quem você convive em casa, na rua e na escola. O passado e legado históri-
co biográfico de personagens e fatos da história do município, que hoje dão nomes aos principais
logradouros e instituições da cidade, a partir deste material merecerão significado e respeito maior
e um olho clínico do nosso leitor.

ICLÊ RHODEN
Coordenadora pesquisa

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Apresentação
A presente publicação foi viabilizada através da Associação Comunitária Cadeado para
o Desenvolvimento Cultural e Artístico (Acadesca), fundada no dia 9 de fevereiro de 1996, com o
objetivo de reunir cidadãos interessados, associados ou não, para mobilizar forças econômicas e
sociais no sentido de estudar e preservar as raízes culturais básicas da população, estimulando,
especialmente nos jovens, a manifestação folclórica, artística e cultural.
Tem como objetivo ainda, identificar os meios existentes ou criar e desenvolver meca-
nismos e instrumentos para a promoção de obras culturais e manifestações artísticas de jovens
e cidadãos que não disponham de recursos para desenvolver talentos e habilidades; Promover a
integração social na comunidade, buscando formas para estabelecer um relacionamento de com-
panheirismo, de solidariedade e cooperação entre moradores, estimulando a boa vontade e ajuda
mútua como instrumento para alcançar o bem estar comum, fortalecendo a parceria com os ser-
viços públicos nas situações de calamidades, epidemias, campanhas de defesa civil e nos esforços
coletivos de defesa do interesse geral da sociedade.
Primando pelo desenvolvimento cultural a Acadesca é parceira de vários Projetos, entre
os quais:
• Projeto “Mostra Cultural da Expoap”, aprovado no Ministério da Cultura, que será realizada na
IX EXPOAP - Exposição Feira de Augusto Pestana, em dezembro de 2015.
• Projeto “Caminhos da História- 145 anos de história da imigração” aprovado pelo FAC - Pró-
cultura.
• Mantém a Rádio Comunitária Liberdade com participação da Comunidade, Escolas e Grupos
culturais e étnicos, promovendo reuniões, debates e apresentações.
• Mantém programas semanais de rádio da etnia Alemã, Etnia Italiana e Centro de Tradições
Gaúchas.
• Apoiadora da Cultura através do teatro de rua “Cidadãos Rio-grandenses sopram os ventos
da Revolução”.
• Entidade apoiadora dos Eventos culturais de suas associadas, desde a organização até a
realização.
A Acadesca é formada pelas seguintes entidades: Associação Comercial e Industrial de
Augusto Pestana - ACIAP; Associação Protetora Hospital São Francisco; Lions Clube de Augusto Pes-
tana; Sindicato dos Trabalhadores Rurais; Paróquia Católica São José e Paróquia Evangélica Santo
André.
A Acadesca tem orgulho de promover ações culturais no município de Augusto Pestana
e acredita que esta publicação vai atingir a finalidade de resgatar a história, incentivar a pesquisa e
a leitura, e o mais importante, envolver os jovens e estudantes nas ações culturais da comunidade,
proporcionando a democratização do acesso aos bens culturais, bem como valorizando a história
e produção cultural local.

Boa leitura a todos.


Sonia Teresinha Schmidt Müller

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ÍNDICE
INTRODUÇÃO 10

JOÃO RAYMUNDO DA SILVA NETTO 16

MALVINA AYRES DA SILVA 20

AUGUSTO PESTANA 26

HENRICH MÜLLER 32

GUILHERME HASSE 36

EDUARDO JULIUS SCHÜNEMANN 38

ANTONIO NOGARA 40

JOSÉ LANGE 42

ORLANDO DIAS DE ATHAYDE 48

JOSÉ NORBERT 54

ALBERTO VAN DER SAND 58

PADRE BURMANN 60

GUILHERME CLEMENTE KÖHLER 68

ALFREDO PELLENZ 72

JOÃO BAPTISTA DEBONI 74

ALFREDO SCHMIDT 76

FELIPE FREDOLINO SOST 80

GUILHERME KLAMT 82

ANTONIO AVELINO HEINEN 84

VERÔNICA KIPPER 88

ROSÁRIO 90

EXPEDICIONÁRIOS NA 2ª GUERRA MUNDIAL 94

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Caminhos da História - Augusto Pestana em 145 anos de imigração

Introdução
Há 145 anos, tudo era muito diferente. As pessoas falavam cousas ao invés de coisas. O país era go-
vernado por um rei e não havia eleições para a escolha dos governantes. As famílias ricas possuíam escravos,
tornando possível comprar pessoas para realizar todo o trabalho pesado, que ficavam à disposição para rece-
ber ordens e realizar tudo aquilo que o dono solicitava. O meio de transporte mais popular era o cavalo, que
percorria estradas estreitas, abertas a facão no mato fechado, o que significava um tempo longo, uma jornada
de dias, quase uma grande aventura para chegar ao destino que hoje os automóveis e as estradas asfaltadas
permitem o acesso em menos de trinta minutos. As famílias eram grandes. Ter dez irmãos era comum e todos
trabalhavam juntos para o sucesso da lavoura, sem o uso das máquinas modernas que existem hoje.
O cardápio na mesa de cada dia era simples. Não existia a variedade de produtos e marcas dispo-
níveis em longas, iluminadas e coloridas prateleiras do supermercado. Nas casas de comércio, ou bolichos,
atrás do balcão, era feita a troca do que sobrava na colheita, ou seja, aquilo que não seria usado no próprio
consumo da casa por itens essenciais, que não era possível cultivar na terra.
Naquela época, na região Noroeste do Estado, a moda era não ter nenhum estilo ou tendência
de roupa ou acessório recém-criado para seguir. As mães compravam um corte de tecido e costuravam elas
mesmas, as camisas e calças que seriam usadas para ir à escola, para ajudar na lavoura e para ir à missa aos
domingos, muitas eram aproveitadas do saco de sal, comprado para dar ao gado. Tinha que usar até gastar e
quando rasgava era só fazer um remendo e continuar usando. As escolas eram pequenas, com uma sala de
aula, que recebia alunos de várias idades para aprender com um único professor que dava todas as matérias.
As professoras guardavam suas carroças no pátio da escola que muitas vezes era dividido com as brincadeiras
na hora do recreio. Não tinha aula de língua estrangeira. Na verdade, o português que era a língua estranha. O
mestre falava na sala o idioma da sua terra natal, que era a mesma língua que os alunos aprenderam em casa,
ensinado pelos pais que também eram estrangeiros. Portanto, aula em alemão e italiano.
Hoje, na sala se discute se pode ou não utilizar o celular como ferramenta de pesquisa que auxilia na
aprendizagem. No século retrasado, como não dava para mandar um whatsapp com uma foto para nosso

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Foto: João Marcos de Moura/Jornal Correio Regional

tio ou tia que morava em outra cidade, cartas escritas em folhas de papel de embrulho e a lápis percorriam
longas distâncias onde a maioria dos carteiros eram os tropeiros que iam e vinham pelas estradas, com de-
talhadas descrições relatavam como estava a vida dos parentes, que sempre eram respondidas, mas que
demoravam um tempão para chegar.
Cem anos atrás ficar doente era muito arriscado. Doenças que nem existem mais matavam muita
gente. Acidentes como picada de cobra também eram fatais. Não existiam médicos, remédios, exames. Não
havia a quem recorrer. As clínicas e hospitais foram construídos aos poucos com um grande esforço da co-
munidade, que precisava de assistência.
São essas enormes diferenças que tornam tão interessante ler sobre o passado. E é lendo sobre
as coisas de antigamente que conseguimos compreender o que é mais positivo nos dias atuais e o que se
tornou pior, pois faz mais de uma centena
de anos que o desenvolvimento prejudica
fortemente o meio ambiente e as gerações
atuais sofrem com essa realidade.
Augusto Pestana, assim como outros
municípios, surgiu a partir do trabalho das
pessoas que inicialmente habitaram as ter-
ras, que posteriormente foram delimitadas e
denominadas como município de Augusto
Pestana. Foi um processo longo, em que os
moradores aos poucos e com dificuldades fo-
ram se organizando e dando nomes e sig-
nificados para os espaços, ruas, localidades
e prédios. Antes de 1912, Augusto Pestana ao lado de imigrantes/Arquivo MADP

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Caminhos da História - Augusto Pestana em 145 anos de imigração

Por outro lado, o município de Augusto Pestana foi influen-


ciado pelo que acontecia na região, no Estado, no país e fora dele. Por
exemplo, se há 120 anos a vida na Europa estivesse mais promissora e
sem guerras e o governo do Brasil Império não tivesse adotado polí-
ticas para ocupar áreas inabitadas no país com o objetivo de garantir
o território, os imigrantes de diversas etnias não teriam chegado até
aqui e a história dessa área que hoje o município de Augusto Pestana
ocupa no mapa do RS seria outra.
A ocupação da Serra do Cadeado datada de 1801, con-
firma o esforço junto a Sepé Tiaraju, índio das Missões, de que “esta
Suinocultura no Cadeado/Arquivo MADP
terra tem dono”, pois antes de pensarmos em colonização é preciso
lembrar que a expansão do povoamento gaúcho ocorre inicialmente
com as Missões Jesuíticas. A área que constitui hoje o RS, era domí-
nio espanhol, até a instituição do Tratado de Madri em 1775. O novo
acordo entre Portugal e Espanha decreta o fim das Missões, o gover-
no imperial brasileiro expulsa os indígenas, que procuram as missões
a oeste do rio Uruguai e alguns buscam um recomeço no território
português na Província de São Pedro, nos territórios de Rio Pardo ou
na Aldeia dos Anjos, atual Gravataí.
Com a ocupação definitiva do Estado por Portugal, após o
Tratado de Badajós (1801), as terras começaram a ser possuídas por
tropeiros, por militares e estancieiros, vindos do Paraná e da região
Agropecuária na Serra do Cadeado/Arquivo MADP da Campanha. Foram relegados aos caboclos, negros e bugres os
fundões das estâncias, incorporados como agregados e posteiros dos
novos estancieiros. Muitos foram expulsos ou simplesmente elimina-
dos, especialmente a partir da Revolução de 1893. Outro momento
importante foi a Revolução Farroupilha, durante o período, famílias
começaram a ocupar a região.
Após abandonar o modelo jesuítico para a ocupação es-
pacial do Estado, inicia-se em 1824 a colonização com a imigração
alemã, que se estabeleceram primeiro na Feitoria, 1º núcleo colonial
oficial, hoje, município de São Leopoldo. Meio século depois foi a vez
de receber os imigrantes italianos. Habitaram primeiramente a locali-
dade de Conde d’Eu, hoje Garibaldi. Em 1877, novas levas de imigran-
Barbearia de Alfredo Ruckert/Arquivo MADP tes foram enviadas à região de Santa Maria, onde fundaram Silveira
Martins.
Ijuí foi a primeira das colônias novas nas terras de cima do
Planalto, situadas no Noroeste do território. Implantada após a de-
claração da República (1889), a colônia de Ijuí foi fundada em 19 de
outubro de 1890.
Em 1912 passou a ser município. O território englobava as
terras que hoje pertencem aos municípios de Ijuí, Ajuricaba, Augusto
Pestana e Bozano.
A colônia oficial recebeu planejamento rigoroso e a partir da
Linha Base, hoje Rua 13 de Maio, para Oeste e para Leste era contada
Correios do 2º Distrito de Ijuí/Arquivo MADP uma linha. O interesse em ocupar essa região, deveu-se a motivos

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estratégicos, visando a defesa de fronteira e também baratear os custos dos gêneros alimentícios. Foi uma
solução viável para driblar a escassez de terras.
A migração das gerações mais jovens, provenientes das colônias velhas, às regiões Norte e Noro-
este do Estado começa com a fundação de Ijuhy, entre os campos de Cruz Alta, Santo Ângelo, Tupanciretã e
Palmeira das Missões, significando a ocupação das últimas áreas disponíveis no Rio Grande do Sul.
A família Barros, primeira proprietária da Fazenda Cadeado se radicou na região, como muitas ou-
tras famílias, vindas do Centro-Oeste. Eram comerciantes, denominados de tropeiros, responsáveis pelo co-
mércio do gado xucro abundante no Estado após o fim das Missões Jesuíticas. Os rebanhos que haviam sido
criados nas Missões procriaram livremente nos pastos. Com o passar do tempo, esses rebanhos começaram
a despertar a atenção. Nesta época iniciou-se a mineração no centro do país e o gado sulino foi aproveitado
como alimento e como meio de transporte. Surgiu então a figura do tropeiro, que reunia e transportava o
gado. Com o tempo, muitos dos locais onde os tropeiros paravam para reunir o gado tornaram-se estâncias,
fazendas de criação de gado para venda. Cruz Alta estava nessa rota. João José de Barros é notoriamente um
dos pioneiros, sendo fundador da comarca.
A Província de São Pedro, como era denominado o Estado do Rio Grande do Sul, em 1833 era
dividida em cinco comarcas: Rio Grande, Piratini, Missões, Rio Pardo e Porto Alegre. No ano seguinte, foram
criados os municípios de São Borja e Cruz Alta. Depois da conquista das Missões, em 1801, pelos portugueses,
todo o território passou a ter um comandante, que subdividiu a grande área em distritos. Cruz Alta consti-
tuía o 6º distrito e seu primeiro comandante foi o tenente de guerrilhas Antônio Pinto da Silva. Em junho de
1821, os moradores de Cruz Alta requereram a construção de uma Capela, embrião da futura vila. A primeira
autoridade civil foi Bernardino José Lopes, eleito Juiz de Paz. A partir de Cruz Alta, se povoou o restante do
Planalto Médio.
As famílias de imigrantes eram dispostas conforme a etnia e a religião. Nos primeiros anos, além de
brasileiros, a colônia recebeu poloneses, russos, alemães, italianos. Recebeu ainda austríacos, suecos, france-
ses, belgas, lituanos, mais tarde, ainda, libaneses e japoneses.
Eram anos duros. A agricultura era baseada na policultura de subsistência. O trabalho realizado
pelas famílias com ferramentas manuais era precário. Aos poucos foi aperfeiçoada permitindo gerar um ex-
cedente.
Este modelo seria superado com a mecanização da lavoura e a opção pelo plantio da soja e trigo. O
avanço do transporte, com a construção da estrada de ferro (1869), em 1911 acelera e potencializa o comércio.
Seguindo esses moldes, ocorreu a ocupação do território de Augusto Pestana, na época, chamada
de Serra do Cadeado. Segundo registros, a denominação remonta ao trânsito dos primeiros colonizadores,
que vinham de Cruz Alta pela estrada, hoje Cruz Alta Ponte Queimada, com destino a região de Ijuí.
Não havia a RS-342 e precisavam passar pelas terras da Fazenda do Cadeado da família Mena Bar-
reto Prates, que possuía a Fazenda do Cadeado e a Fazenda do Retiro, do Dr. João Raymundo, promotor de
justiça, de São Gabriel, solteiro. Contam que na porteira da fazenda tinha um grande cadeado.
Conforme pesquisas em velhas escrituras, antes de 1900, a área era subdividida em posses adqui-
ridas e agrimensadas pelas famílias Ayres e Azambuja, tendo a ocupação do espaço de Augusto Pestana ini-
ciada por volta de 1870, quando a família Ayres, descendentes de portugueses, radicou-se na Boca da Picada
(nome da atual localidade), tornando-se conhecida pela profissão de ourives e fabricação de erva-mate. Em
1891, o italiano Antonio Nogara com seu filho Pedro fixou residência no atual Alto Leal (Formigueiro).
Embora os alemães tenham tido o papel preponderante nessa colonização, como vimos, indíge-
nas, portugueses e italianos os precederam como moradores isolados da região. Desconsiderando esses pri-
meiros ocupantes da área, conforme alguns escritos, a história de Augusto Pestana começou em 1901.
Em 29 de Setembro de 1901, chegaram os imigrantes alemães, vindos das então “Colônias Velhas”

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Caminhos da História - Augusto Pestana em 145 anos de imigração

(Montenegro, São Sebastião do Caí, Santa Cruz do Sul, Cachoeira do Sul), tiveram que subir a serra para chegar
aqui e foi o motivo que deram o nome a este lugar de “Serra do Cadeado”. É a colonização propriamente dita,
iniciada no ano de 1901, quando o engenheiro Dr. Augusto Pestana, na época chefe da comissão de terras da
Colônia de Ijuí, se responsabilizou pela medição das terras de Serra Cadeado.
Em 29 de Setembro de 1901 chegaram os imigrantes: Guilherme e Augusto Hasse, Reinoldo e Gui-
lherme Schünemann. No ano seguinte chegaram Gustavo Ladwig, Paulo Huth e Gustavo Drews. Já em 1903,
Peter Krolich e Ferdinando Ladwig, ocupando as redondezas do atual Rincão dos Müller e Rincão Seco. Os
primeiros moradores da sede foram: Guilherme Richter, Miguel Schneider e seu filho Teodoro. Como foi fun-
dada a primeira comunidade evangélica, denominada Santíssima Trindade, religião predominante entre os
imigrantes alemães, junto também à igreja, surgiu a Comunidade Escolar. A cultura alemã ainda hoje, é pre-
dominante no município, ainda hoje é comum ver pessoas falando alemão na cidade. Já em 1905 começou
a chegar um grupo de Italianos.
A Serra do Cadeado aos poucos foi sendo ocupada, as florestas ricas em madeiras de lei, como
cedro, louro, cabriúva, canafístula e outras, constituía uma atração para os desejosos de aventurar a coloni-
zação, principalmente pelos húmus acumulados na terra roxa e solo fértil, onde as sementes eram lançadas,
brotando ricas e variadas culturas. Conforme relatou o naturalista sueco Carl Axel Magnus Lindmann, que
visitou a Colônia Ijuhy em março de 1893 sobre sua chegada após passar por Cruz Alta, “alguns capões de
grandes dimensões se sucediam para logo formarem a mata contínua e abundante em cipós de Ijuhy. Após
30km de caminho por esta região florestal, cheguei ao centro da colônia, onde demorei-me por duas sema-
nas”. Ele descreveu a colônia como muito bem regada por córregos. ‘Já havia grandes roças de milho e em
muitos lugares derrubadas”. No entanto, escreveu que a mata estava em expansão na época, o que contrasta
com os dias de hoje: “os matos insulares nas fontes do Ijuí, com suas porções de campo incluídas, evidente-
mente crescem em terrenos outrora campestres”.
O 2º distrito de Ijuí criado com a denominação de Dr. Pestana, por Ato Municipal nº 1, de 12 de
fevereiro de 1912, foi elevado à categoria de município com a denominação de Augusto Pestana, pela Lei
Estadual nº 5030, de 17 de setembro de 1965, originando-se do desmembramento de terras de três outros
municípios: Ijuí, Cruz Alta e Santo Ângelo.
Mas esse avanço foi conquistado a partir da mobilização em 1964, alavancada pela constituição da
Comissão Pró-Emancipação. Formada pelas seguintes lideranças políticas: Dr. Orlando Dias Athayde; Wen-
delino Frantz; Inocêncio Gonçalves Terra; Alfredo Schmidt; Padre Dorvalino Rubim; Renato Gonçalves Terra;
Benhur Cruz Müller; Germano Hickmann; Antério Bottura; Raimundo Stragliotto; Hugo Zimermann e Dorva-
lino Deboni. Credenciada em 21 de agosto de 1964, a comissão passou a mobilizar as atenções da população
conscientizando-a sobre a importância de uma comunidade emancipada.
Em 22 de junho de 1965, autorizado por Lei Estadual, foi realizado o plebiscito, para que a popu-
lação opinasse sobre a proposta de emancipação. Com ampla maioria, expressa no resultado de 95% de sim
na votação, a emancipação foi respaldada. Para comemorar a vitória, houve carreata por todas as localidades
do interior culminando com uma grande confraternização na então Vila Dr. Pestana. Assim o município foi
criado pela Lei Estadual n°. 5030 de 17 de setembro de 1965 e instalado em 14 de maio de 1966.
A partir de 1968 é criado o Distrito de Rosário, na localidade de mesmo nome. Atualmente, Augusto
Pestana tem o bairro Esperança, Sost e Sol Nascente e as seguintes localidades: Sede Velha, Arroio Bonito, São
Miguel, Rincão dos Klein, Formigueiro (parte pertencente a Boa Vista do Cadeado), Rosário, Esquina Gaúcha,
Rincão Seco, Paraíso, Cambará, Ponte do Ijuizinho, Linha Santo Antônio, Esquina Renz, Rincão dos Müller,
Linha São João, Bom Princípio, Rincão dos Ferreira, Ijuizinho, Rincão Comprido, Marmeleiro, Ponte Branca,
Linha Progresso, Rondinha, Fundo Alegre, Rincão do Progresso, Boca da Picada, Fundo Grande, Rincão dos
Pampa (parte pertencente a Coronel Barros).
Inicialmente Augusto Pestana foi dirigido por interventores, nomeados pelo governo Estadu-

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al, primeiro interventor, Dr. Orlando Dias de Athayde (14/05/1966
a 28/02/1968); segundo interventor, Coronel Vitor Hugo Martins
(28/02/1968 a 31/01/1969); Após foram eleitos os seguintes prefeitos:
Alfredo Schmidt (31/01/1969 a 31/01/1973); Ari Hintz (31/01/1973 a
31/01/1977); Alfredo Schmidt (31/01/1977 a 31/01/1983); Orlando Pel-
lenz (31/01/1983 a 31/12/1988); Darci Sallet (01/01/1989 a 31/12/1992);
Luís Tomate Menegol (01/01/1993 a 31/12/1996); Nelson Wille
(01/01/1997 a 31/12/2000); Darci Sallet (01/01/2001 a 31/12/2004); Dar-
ci Sallet (01/01/2005 a 31/12/2008); Vilmar Zimmermann (01/01/2009
a 31/12/2012); Darci Sallet (01/01/2013 a 30/06/2013); Everton André
Schneider (01/07/2013 a 04/10/2013) e Luís Antônio Kruel Bohrer
Pórtico de entrada de Augusto Pestana
(04/10/2013 a 31/12/2016).
Nas gestões municipais, muitos avanços foram registrados
em relação à infraestrutura e serviços públicos destinados à popula-
ção. Algumas ações foram marcantes em termos de Administração
Pública como o início das atividades em dezembro de 2005, da Casa
Colonial Recanto da Produção. Foi criada a partir de uma associação
formada por um grupo de produtores que vendiam seus produtos
de casa em casa. Contou com assessoramento da Emater, Secreta-
ria Municipal de Indústria e Comércio da Agricultura e do setor da
Vigilância Sanitária. Como objetivo, a comercialização de produtos,
exclusivamente do município e feitos artesanalmente, como rapa-
dura, cachaça, melado, vinhos; verduras; geleias; frutas cristalizadas,
Casa Colonial - Recanto da Produção
conservas, cocadas, doces, embutidos, além de derivados de leite,
como queijos, nata, kerchmier, ricotas entre outros. Foi o resultado
de quatro anos de trabalho, tendo a associação se efetivado em 24 de
agosto de 2005.
Em 2007, foi finalizada uma importante obra que foi cita-
da como exemplo de boa aplicação dos recursos públicos no Esta-
do. A construção da sede administrativa do Executivo Municipal, a
nova prefeitura, chamando a atenção pelo estilo arquitetônico com
inspiração eixamel. Além da beleza e a preocupação para que a cons-
trução pudesse acrescentar ao projeto de turismo planejado pelo e
para o município, claro que o prédio atinge as funções do Executivo. Centro Administrativo Municipal de Augusto Pestana
Juntamente com a inauguração do Centro Administrativo Municipal,
foi finalizado ao projeto de revitalização da Praça Farroupilha. Foi re-
alizado ajardinamento, melhoria na arborização e colocação de uma
cascata. A praça infanfil também foi reformada.
Em 2008, foi dado outro passo importante para o muni-
cípio com a criação do roteiro turístico Caminhos da Produção, im-
plementado pela Secretaria de Indústria, Comércio e Turismo, sob
o comando da secretária Leonair de Barros Sost, na Administração
Darci Sallet. Na inauguração do roteiro em novembro foi realizada a
visita à Agroindústria Quality, à Panificadora Mendonça, à Agropecu-
ária Beck, à Agroindústria Scheer, ao Caminho das Águas da família Caminhos da Produção
Scarton e à Cantina Del Nono.

15
João Raymundo da Silva Netto, advogado que herdou
do seu padrinho homônimo João Raymundo da Silva a Fazenda do Retiro
JOÃO RAYMUNDO
DA SILVA NETTO
No livro Solo de Clarineta, o escritor cruzaltense Erico Veríssimo revela lembranças da sua infância
e adolescência e lembra com carinho da sua convivência com um tio que descreve como clássico, barbudo,
que o inspirou a ler os grandes escritores e a aprofundar os seus conhecimentos.
Era João Raymundo da Silva Netto, um advogado que herdou do seu padrinho homônimo João
Raymundo da Silva a Fazenda do Retiro. “Seu padrinho e homônimo, porém legou-lhe uma estância de vas-
tos e belos campos no município de Cruz Alta. Para lá se mudou João Raymundo - lobo solitário em busca
de uma estepe - e foi na sede desse município que conheceu e mais tarde veio desposar Iracema, a filha mais
moça de meu avô Aníbal Lopes da Silva”, escreve Érico.
João Raymundo da Silva Netto é tataraneto de João Propício Menna Barreto. Família tradicional
do Estado ligada ao princípio da organização do Exército Brasileiro. Vieram de Minas Gerais e se enraizaram
na antiga província de Rio Pardo. Os Menna Barreto junto com o General Mallet, oficial francês, teriam dado
início ao Exército em 1820, em Rio Pardo, na casa do tataravô do João Raymundo.
Em 1801, existia no RS três províncias: Rio Grande, Rio Pardo e as Missões. As missões era um vazio
muito grande, onde índios e jesuítas disputavam com as coroas portuguesas e espanhola o território brasi-
leiro-riograndense após a assinatura do Tratado de Madri em 1750.
Nesse território em disputa, o Cadeado foi uma peça-chave para a defesa da fronteira do Estado
e do Brasil. É provável que as forças dos quartéis de Cruz Alta se explicam justamente pela defesa dessas
fronteiras. E as famílias que inicialmente habitaram o Cadeado foram importantes nessa tarefa, moradores
da Fazenda Cadeado, Mena Barreto, sede da Fazenda do Retiro, João Raymundo da Silva Netto foi a primeira
guarnição, ou até mesmo o primeiro quartel da região. E a denominação de Retiro pode ser explicada pelo
fato de que acolhia combatentes que se refugiavam ali para descanso, isso por volta de 1801.
O pioneiro a tomar posse da terra foi João Raymundo da Silva que faleceu em 1922. Era irmão do
Tito Prates, pai do João Raymundo da Silva Netto.
Em 1869 começa a chegada dos imigrantes. Toda a estrada da colonização do Noroeste do Estado
era a estrada de Ponte Queimada. As famílias vinham pela estrada e passavam pela Fazenda do Cadeado e
pela Fazenda do Retiro em direção a Ijuí e Augusto Pestana. Na passagem, era preciso cruzar uma porteira
fechada por um enorme cadeado.
Daí o motivo da denominação que a colônia nos anos seguintes receberia de Serra do Cadeado.

Sede da Fazenda do Retiro em 1922 Sede atual Fazenda do Retiro

17
Caminhos da História - Augusto Pestana em 145 anos de imigração

Local onde segundo os herdeiros era a passagem dos imigrantes e localizava-se a porteira fechada a cadeado

Relatos contam que em 1886, quando João Raymundo Silva e Cândida Prates da Silva adquiriram a sede da
fazenda de Maria Tereza Barbosa de Jesus, viúva de Manuel Moreira de Barros, um dos fundadores de Cruz
Alta, a mesma usava um enorme e descomunal cadeado em sua porteira. Assim teria se originado o nome
Colônia Serra do Cadeado. Cândida Prates era irmã do influente político Júlio de Castilhos.
Por outro lado, o cadeado é simbólico do uso inicial desse espaço como guarnição militar, porque
o cadeado fecharia as fronteiras para os inimigos do Prata.
Nessa passagem, mulheres chegavam em trabalho de parto e ali muitas crianças nasceram, passa-
vam de carroça, cortando troncos para abrir espaço. Também era ponto para troca de cavalos, os cansados
ficavam e os que ali estavam parados eram usados para tocar a viagem.
Foi na época da colonização pelos imigrantes europeus que se deu início à regulamentação das
terras, logo depois da Proclamação da República, em 1889.
Nessa região, forma-se uma equipe liderada pelo engenheiro Augusto Pestana, o geógrafo Fre-
derico Westphalen, mais tarde chega o advogado João Raymundo da Silva Netto, que havia se formado em
Direito em 1907 junto com Getúlio Vargas no Rio de Janeiro.
O jovem advogado teria perdido um júri popular, permitindo a absolvição de um assassino. A de-
cepção o levou a tentar o suicídio, que teria deixado uma marca no rosto, até por isso usava uma barbicha.
Assim, ele abandona a banca advocatícia e a carreira judiciária e casa com a filha mais jovem do
maior estancieiro da região chamado Aníbal Lopes, proprietário da Fazenda Santo Izidro. Iracema era irmã
de Abegahy Lopes, mãe do escritor Erico Verissimo.
Como grande inspirador de Erico, podemos imaginar
que a Terra de Santa Fé e outras histórias que ele contava, ele
imaginava no Cadeado, na fazenda do tio João Raymundo. Em
1949, quando João Raymundo morreu, Erico escreve na revista
O Globo os artigos “Os Galos estão Cantando no Cadeado” em
homenagem a João Raymundo, contando que ele aprendeu a
acordar cedo com o João Raymundo, pois homem que é ho-
mem no momento que o galo canta tem que levantar.
João Raymundo e Iracema não puderam ter filhos.
Eles adotaram uma menina órfã de apenas dois anos da família
Pereira. Jeny era neta da Tiloca e tinha um irmão, Nico, cujo nas-
cimento levou à morte da mãe de Jeny no parto.
Foi adotada por João Raymundo porque o pai dela, José,
guardião das terras, não deixou passar pela fazenda um suposto
ladrão de gado. O mesmo, irritado pela barreira, atirou no servi- Iracema Lopes da Silva

18
çal de João Raymundo pelas costas. Descobriram
que ele tinha morrido porque o cavalo de José
chegou na sede da Fazenda somente com os ar-
reios.
Ele também morreu em defesa da terra.
As crianças Jeny e Nico ficaram sem pai e mãe e a
avó Tiloca socorre os dois netos. João Raymundo
e Iracema pedem a João de Deus Pereira que trou-
xesse a menina que iriam adotá-la. Recebeu muito
carinho, tanto que só descobriu que era filha ado-
tiva no dia que se casou. Uma mulher que além de
bonita e virtuosa, prendada e em 1946 casa-se com
Capitão das Agulhas Negras Carioca Rosber Pinhei-
ro de Medeiros Brandão, também filho único. Casamento da filha de João Raymundo e Iracema, Jeny com
o capitão das Agulhas Negras, o carioca Rosber Pinheiro de
Com o seu prematuro falecimento de Medeiros Brandão
João Raymundo em 1948, foi sepultado numa
coxilha linda da Estância, escolhida anteriormen-
te por ele. Era advogado de invulgar inteligên-
cia e aprimorada cultura, mas dedicou-se à vida
campeira. A sua viúva Iracema Lopes da Silva, em
1957, com a ajuda de seu genro Major Rosber P. M.
Brandão concretiza o sonho de João Raymundo, a
primeira escola estadual em zona rural, “Escola Es-
tadual Dr. João Raymundo” em 1957, em Boa Vista
do Cadeado. Erico Verissimo
revela lembranças
O povoado cresceu em uma bela coli-
da sua convivência
na, que não aparece nos mapas atuais - a Serra do com o seu tio João
Raymundo da Silva
Cadeado, que do alto, enxergava quilômetros de
Netto que o inspirou
distância. A paisagem era digna de uma “boa vista”. a ler os grandes
escritores
O processo de ocupação de Boa Vista iniciou-se
em 1920, com às famílias Aita, Danni, Copetti Gai,
que mais tarde uniram-se as famílias de Augusto
Pestana, Stragliotto, Müller, Teixeira, Ribas, Pereira,
Daltrozo, Strada, Vieira.
Em 1965, no processo de emancipação
de Augusto Pestana, a área da Fazenda do Cade-
ado passou a pertencer ao município de Augusto
Pestana, deixando de ser território de Cruz Alta.
Seguiu nessa condição até que novo processo
de emancipação fosse promovido, resultando na
criação de Boa Vista do Cadeado e englobando os
campos da fazenda do Retiro. Portanto, o processo
de ocupação de Augusto Pestana tem como im-
Luis Fernando Verissimo: com os amigos de Erico Verissimo, em
portante capítulo a história da localidade em que visita ao Solar dos Brandão, construído pelo seu bisavô, Aníbal
hoje se localiza o município de Boa Vista do Ca- Lopes da Silva

deado.

19
Caminhos da História - Augusto Pestana em 145 anos de imigração

20 O casal João Luiz da Silva e Malvina Ayres da Silva


e os filhos Venâncio Ayres da Silva, Manuel Ayres da Silva e João Evangelista da Silva, em 1920
MALVINA AYRES DA SILVA
Entre os habitantes pioneiros de Augusto Pestana está gravada a figura de uma mulher muito
forte e determinada chamada Malvina Ayres. Herdeira de uma grande propriedade de terras, ela foi casada
com um ourives, João Luiz da Silva. A fazenda de criação de gado e também utilizada para extração de
erva-mate foi ocupada antes da chegada dos imigrantes. Eram campos, muito valorizados na época, hoje
ainda mais.
Na região Noroeste gaúcho havia áreas de campo aberto muito propícias para criação de gado.
Na verdade, o gado ocupava naturalmente os campos, ainda mais nessa região tão próxima das Missões,
que quando foram extintas deixaram manadas dispersas pelo planalto. Essas áreas foram sendo ocupadas.
Muitas foram tornando-se posse de tropeiros. Eram chamadas terras devolutas.
Retomando a história, com a chegada dos portugueses, todo o território brasileiro tornou-se
domínio do Império Português. A Coroa determinava o uso das terras, que eram passadas para os coloni-
zadores mediante concessões de sesmarias, com a obrigação aos donatários de medi-las, demarcá-las e
cultivá-las sob risco de reversão das terras à Coroa. O objetivo era povoar o interior do país. As terras que
não foram trespassadas ou não foram cultivadas tornavam-se devolutas.
O sistema de sesmarias perdurou até 1822. Com a instituição da Lei das Terras em 1850, as ses-
marias antigas foram reconhecidas, aqueles que ocupavam áreas e lotes receberam a posse e a partir de
então a compra tornou-se a única forma de obtenção de terras no Brasil. Alguns autores defendem que a
lei foi uma iniciativa para organizar a propriedade privada e também uma forma de proteção dos grandes
fazendeiros para impedir que os negros ao fim da escravidão se tornassem donos de terras, já que mais
cedo ou mais tarde a abolição ocorreria.
Também nesse período foram concedidas gratuitamente terras para os ex-voluntários da Pátria
que lutaram na Guerra do Paraguai, o maior conflito armado internacional ocorrido na América do Sul. A
guerra foi travada entre o Paraguai e a Tríplice Aliança, composta por Brasil, Argentina e Uruguai. A guerra
estendeu-se de dezembro de 1864 a março de 1870. O conflito iniciou-se com a invasão da província brasi-
leira de Mato Grosso pelo exército do Paraguai, sob ordens do presidente Francisco Solano López. O ataque
paraguaio ocorreu após uma intervenção armada do Brasil no Uruguai, em 1863. Ao final, o Paraguai foi
vencido e saiu arrasado do conflito.
A família Ayres, proprietária de terras nos então municípios de Cruz Alta e Santo Angelo Custódio
e São Luiz Gonzaga, era originário de Itapetininga da Serra, cidade paulista, perto de Itu e tropeiros de gado
e principalmente mulas, adquiridas na Argentina e Uruguai. Eram igualmente militares, até porque para se
aventurar nesta distância, era necessária formação e postura decidida e armada.
Dessa forma, os Ayres são exemplo de famílias que receberam terras do governo federal, dono
de todas as terras no então denominado Continente de São Pedro, mais tarde Província de São Pedro. Na
época, não haviam fronteiras definidas e definitivas entre Brasil, Uruguai, Argentina e Paraguai, portanto, a
distribuição de terras a militares advindos da guerra foi estratégica. Os Ayres, com inúmeros militares entre
eles, foram agraciados com terras devolutas, recebendo provavelmente Registro Torrens, fornecido pelas
autoridades monárquicas. O Registro de Imóveis surgiu com a República, a partir de 1889.
Os Ayres presentes em Augusto Pestana e Coronel Barros são, na verdade, os Ayres da Silva. O
casal Malvina e João Luiz foram os primeiros a fixar residência na fazenda em Serra Cadeado, logo após
o casamento e depois de Malvina receber a propriedade dos pais Manoel de Oliveira Ayres, militar, major,
casado com Maria do Rosário Ayres. Ele integrou as forças brasileiras no Paraguai após 1870, final da luta,
mas não da ocupação brasileira. Lá faleceu face dos ferimentos recebidos.

21
Caminhos da História - Augusto Pestana em 145 anos de imigração

Oficialidade do Corpo Provisório auxiliar da Brigada na Revolução de 30. O tenente Venâncio Ayres da Silva é o 5º sentado da
esquerda para direita/Arquivo MADP

Essa morte traz para história de Augusto Pestana a figura de Maria do Rosário Ayres, pois ela
obrigou-se a assumir o gerenciamento das terras, assim como outras mulheres, cujos maridos sucumbi-
ram nas sucessivas guerras travadas no Território de São Pedro de Rio Grande. Os mapas do município de
Ijuí, quando foi criado em 1912, registram na divisa com Santo Ângelo Custódio terras de Maria do Rosário
Ayres. Isto é, o nome feminino que aparece nos mapas e registros refe-
re-se à mãe de Malvina Ayres.
Maria do Rosário era nora do Tenente Coronel Salvador de
Oliveira Ayres, natural de Itapetininga da Serra, casado com Gertrudes
Vieira Ayres. O casal, além do filho Manoel, combatente e vítima da
Guerra do Paraguai, teve outros dois filhos que se radicaram no Rio
Grande do Sul.
Maria Manuela de Oliveira Ayres, de cujo casamento com
Antônio Gomes Pinheiro Machado, adveio o famoso militar, político e
estadista brasileiro, senador José Gomes Pinheiro Machado, nascido
em Cruz Alta, pois seu pai era juiz da comarca, ou seja, de uma re-
gião onde atualmente temos mais de duzentos municípios e Venâncio
Ayres, jornalista, advogado, polemista republicano, um dos signatários
da Carta de Itu de 1870, Manifesto Republicano, acabou em Santo Ân-
gelo Custódio, onde advogou, exerceu o jornalismo com proselitismo
em favor da República, mas morreu antes dela ser proclamada. Desta
forma, justifica-se existirem o município com seu nome e ruas em toda
a nossa região e outras cidades gaúchas, inclusive Porto Alegre.
Venâncio foi fundador do Partido Republicano Riograndense e
também primeiro redator-chefe do jornal do partido, A Federação. Suas
José Gomes Pinheiro Machado/AHRS

22
teses foram sustentadas por seus discípulos, Júlio Prates de
Castilhos, Pinheiro Machado e Ramiro Barcelos. Sua doutrina
foi a base do castilhismo e do pinheirismo. Foi vereador em
Santo Ângelo. Sua irmã Maria Manoela casou com Dr. Antô-
nio Pinheiro Machado. São os pais do senador José Gomes
Pinheiro Machado. Outra figura ilustre da história política do
povo gaúcho. Faleceu em Santo Ângelo em 16 de outubro
de 1885, aos 40 anos. Pela defesa incansável da libertação
dos escravos e pela grande pregação da causa republicana,
denomina ruas em várias cidades gaúchas, inclusive dá seu
nome a uma delas, considerada a Capital do Mate.
A presença dos Ayres da Silva é registrada em arti-
go do advogado Cláudio da Silva Rufino, bisneto de Malvina.
Ele relata que João Luiz Ayres da Silva era ourives, natural do
interior de Vila Rica, mais tarde Júlio de Castilhos, e dono de
uma joalheria em Santa Maria. Após o casamento, deixou o
negócio para trás e passou a administrar as terras que eram
dos Ayres situadas no lado esquerdo do rio Conceição na es-
Venâncio Ayres
trada velha que ia a Santo Ângelo. Dessa forma, o casal Mal-
vina e João fixou residência no local, ocupando terras e mato
nos atuais municípios de Augusto Pestana e Coronel Barros, em 1888, até para garantir a posse.
Em uma carta de Gertrudes Vieira para Maria do Rosário, mãe de Malvina, saudando o casamen-
to desta com João Luiz da Silva, Gertrudes apesar de aludir minha filha, na verdade era sogra de Maria do
Rosário. Interessante documento da época, que comprova que a ocupação da fazenda ocorreu antes da
fundação da Colônia Ijuhy, em 19 de outubro de 1890. O original se encontra com Terezinha Sfoggia, filha
de João Evangelista Ayres da Silva, neta de Malvina. Tanto que os Ayres da Silva, inclusive, mandaram abrir
uma picada pelo mato, visando acesso dos primeiros colonizadores a Santo Ângelo, pelos campos de sua
propriedade e de outros, bem como para a subcolônia depois denominada Augusto Pestana. A área em
que se localizava a sede da Fazenda Velha hoje é propriedade
de Walter Luiz Driemeyer. Segundo Rufino, lá há alguns anos
observava-se a mangueira e o resto da casa de madeira. Atu-
almente nada resta.
Rufino conheceu João Luiz, conhecido como João
Ayres, já bem velhinho com barba grande e branca. Era alto
de olhos azuis. Segundo relatos de familiares até se comuni-
cava em alemão, língua dominante na região, pois a maioria
dos comerciantes vieram das Colônias alemãs de Santa Cruz
do Sul, Estrela e Lajeado. Ele contava também da existência
de uma diligência entre Ijuí e Cruz Alta, a qual foi algumas
vezes assaltada.
Atualmente, a grande fazenda não existe mais, grande
parte foi vendida pelos herdeiros, mas consta que muito se
perdeu ainda sob o comando de João Ayres, que teria fir-
mado uma procuração isenta de prestação de contas, para
o Intendente Alfredo Steiglich, o que possibilitou a Antônio
Soares de Barros, o Cel. Dico, governante por trinta anos de
Maria do Rosário Guimarães Ayres da Silva Rufino

23
Caminhos da História - Augusto Pestana em 145 anos de imigração

Ijuí, realizar o assentamento de colonos em parte daquela gleba e arredores. A colonização e consequente
aumento populacional possibilitou alavancar o comércio e o Coronel Dico tornou-se o maior beneficiário
dessa política, por ser o principal comerciante local. Anos depois, a perda dessas terras foi motivo de arre-
pendimento. Conta-se que João da Silva chegou a mudar-se de Ijuí para não encontrar mais com o Coronel
Dico. Cabe citar que os colonos alemães pioneiros em Serra Cadeado também relatam queixas do com-
portamento do Coronel Steiglich, que teria se apropriado do dinheiro dos colonos alemães indevidamente.
Mesmo com a perda de parte da propriedade, ainda havia grande área.
Ao contrário de João Luiz que era um homem simples sem muita instrução, Malvina era edu-
cada, lecionava, foi professora. Era autoritária segundo conta Maria Guimarães da Silva Rufino. Dizia que
os netos tinham que pajear os avós. Ela o chamava de Seu João. Ele a chamava de Malvina. Cerimoniosos.
Sempre juntos. Fisicamente era baixinha, uma característica comum a todos os Ayres, maçãs do rosto sa-
lientes, talvez devido a ancestrais de origem indígena. Contam que ela era autoritária e que era ela quem
controlava o dinheiro.
O casal teve três filhos: Venâncio Ayres da Silva, tendo recebido este nome em homenagem
ao tio famoso de sua mãe, nasceu em 1888 ou 1889, foi estudar em Porto Alegre e fez carreira na Brigada
Militar, tendo casado em Santa Maria com a filha de um oficial da Brigada, Auristela Pouey Guimarães.
Residiu em Porto Alegre e afinal, reformado do serviço público, veio morar em Ijuí. Manoel Ayres da Silva,
com nome igual ao do avô materno, faleceu jovem de pneumonia, em razão de ter ido atrás de um cavalo
fugitivo das baias de seu pai num dia de inverno e João Evangelista Ayres da Silva, nascido em 1890 prova-
velmente, com a profissão de “creador”, assim denominavam os agropecuaristas, pois vivia da exploração
das terras de sua família, tendo arrendado outras igualmente para exercer o seu ofício.
João Luiz da Silva acabou por dividir o restante da fazenda com os dois filhos, Venâncio e João
Evangelista, este mais conhecido por Janguta. Consta que não tinham vocação para administração de área
agrícola e por este motivo acabaram vendendo as terras. O único descendente dos Ayres da Silva a manter
propriedade no município de Augusto Pestana é o advogado Claudio da Silva Rufino, filho primogênito de
Maria Guimarães da Silva Rufino. Esta nascida em 01 de setembro de 1920 é uma dos nove descendentes
de Venâncio e Auristela, esta conhecida por Mimosa. Casada com Francisco Brazil da Câmara Canto Rufino,
vive ainda, alternando residência entre Santa Maria e Porto
Alegre, onde residem suas filhas Regina Maria e Elisabeth
Maria.
João Luiz e Malvina residiram em Ijuí e Augusto
Pestana, atingindo ele 90 anos de idade, vindo a óbito em
1952. Malvina Ayres da Silva, João Luiz, Janguta, Manoel e
uma escrava deles, de nome Isabel, estão enterradas no Ja-
zigo da Familia Ayres da Silva no Cemitério Municipal, por
translado a primeira do antigo Cemitério nos altos da Av.
Cel. Dico, atualmente Praça dos Imigrantes. Em Augusto
Pestana reside um descendente dos Ayres. Seu Abílio Ayres
é filho de Crispiniano Ayres. Sua mãe morreu no parto do
irmão dele, dois anos depois o pai faleceu, ficando órfão
aos três anos. Ao perder os pais, Abilio foi criado por um
parente por algum tempo e por volta dos quatro anos foi
adotado pelo avô materno Senhor Olimpio Lid. Quem con-
ta é o genro do Olimpio, sr. Arno Goergen. Devido ao afas-
tamento, Abílio pouco sabe da família Ayres, desconhece
parte dessa história.
Abilio Ayres

24
História da Localidade de Boca da Picada
Por volta de 1870, chegou aqui a família Ayres,
donos de muitas terras. Esta localidade passou a chamar-se
“Picada Ayres”. Havia um lajeado que cortava estas terras que
também recebeu o nome de “Lajeado dos Ayres”, mas isso
não ficou sempre assim. Em 1917 estas terras foram sendo
ocupadas por imigrantes que vinham de todas as partes do
Rio Grande do Sul: Montenegro, Estrela, Nova Petrópolis, Ja-
guari, etc. Os primeiros moradores foram: Carlos Persch, Otto
Schenkel, Levino Weber, José Simon, Carlos Luiz Sulzbach,
Pedro Görgen, Francisco Görgen, Leopoldo Herbele, Jorge
Leopoldo Kerber, João Stefller e outros.
Mas para chegar aqui passaram muitas dificul-
dades: chuvas torrenciais, tormentas, e rios para atravessar,
vinham de carroça, a cavalo, levando até mais de 30 dias, al-
gumas esposas e filhos vinham de trem.
Escolheram este local por ser uma região de terras
férteis e de muita madeira. Quando chegaram encontraram
vastas matas, então foi feita uma picada no meio do mato
para os primeiros moradores se localizarem, esta é a origem Primeiro educandário da Boca da Picada,
do nome Boca da Picada. Feitas as casas, começaram a derru- comunidade constituída em áreas circundantes
a propriedade dos Ayres da Silva
bar o mato para realizar as plantações, principalmente milho,
mandioca, trigo e ainda a criação de bovinos e suínos.
Durante sete anos o gado era xucro e devoravam todas as plantações que já eram difíceis de ser plan-
tadas: milho, por exemplo, era plantado com a ajuda de um pau de madeira que servia para fazer buracos para
semear os grãos.
A localidade de Boca da Picada obteve progresso, pois houve além da agricultura, várias outras ati-
vidades que foram desenvolvidas. O objetivo dos imigrantes era um trabalho conjunto com todas as famílias.
Atividades como: atafona do Lindolfo Gressler; vinicultura de Carlos Luis Sulbach; moinhos de trigo e milho da
família Göergen e trabalhos manuais de Ana Maria Persch. Houve ainda grande comércio de madeiras e dormen-
tos transportados em carroças que eram levados para Ijuí, que tiveram que ser transportados pelo Rio Conceição,
onde havia uma barca, todos a conheciam como Paço da Barca, o proprietário era o Senhor Wily Gerhardt.
Mas o tempo foi passando, os filhos foram crescendo, e estes filhos deveriam aprender a ler e a es-
crever, foi então que surgiu o primeiro educandário no ano de 1924. Leopoldo Heberle, doou um terreno para a
escola, iniciaram-se então as primeiras aulas, já com um vasto número de alunos. Citando alguns dos primeiros:
Catarina Persch, Aloisio Persch, Ella Görgen, Ilma Simon, Lídia Mensch, Armando Seidenfus, Osvaldo Renz, Vuni-
baldo Renz, Roberto Doberrstein, Oscar Sulzbach e outros.
Os primeiros professores foram: Amalia Lange, Wilemburg Miguel Pletch e mais tarde, aproximada-
mente no ano de 1941, transferiram o prédio mais para o centro da localidade, onde Leopoldo Scherer doou um
terreno. Passaram-se alguns anos e novamente o prédio foi transferido. Lindolfo Gressler doou 10.000m², onde
está localizado até hoje. O nome da escola é Mem de Sá, em homenagem ao 3º Governador geral do Brasil, que
governou por 14 anos.
Boca da Picada é hoje uma região rica em atividades econômicas, agricultura da soja, trigo e milho,
sendo que hoje está bem desenvolvida a bacia leiteira e a criação de porcos.

25
Augusto Pestana em 1901 determinou a demarcação
da região do atual município/Arquivo MADP
AUGUSTO PESTANA
Augusto Pestana foi o primeiro prefeito da cidade de Ijuí, apesar do mandato curto, de 31 de
janeiro a 22 de julho de 1912, ano em que ele ajudou a conduzir a cidade à emancipação, projetou e orga-
nizou a Colônia Ijuhy. Transferido para o Rio Grande do Sul em 1880, destacou-se como líder republicano,
administrador público e especialista em transporte ferroviário.
O engenheiro, que faleceu em 29 de maio de 1934, fez parte da bancada gaúcha na Câmara
dos Deputados por quatro mandatos e foi fundador da Viação Férrea do Rio Grande do Sul (VFRGS), atu-
almente extinta.
Foi muito influenciado pelo positivismo, de Comte, e é tido como um integrante típico da
geração que ajudou a definir os rumos da República Velha (1889 - 1930). A existência desta, aliás, foi ba-
sicamente o período de sua vida política. Pestana foi decisivo no desenvolvimento de Ijuí, bem como de
todo o noroeste gaúcho, e defendeu que políticas públicas fortes fossem implementadas em educação
e infraestrutura. Ele considerava que estes eram pilares para o desenvolvimento social e econômico do
estado. Foi um administrador eficiente, honesto e conciliador, embora personalista e autoritário, a exem-
plo de Júlio de Castilhos e Borges de Medeiros. A cidade de Augusto Pestana, que era distrito de Ijuí, e
outras instituições recebem seu nome. Teve 10 filhos com a mulher, Virgínia Pestana. Entre eles, Clóvis
Pestana, que foi desembargador do Tri-
bunal de Justiça do Rio Grande do Sul,
e César Pestana, prefeito de Veranópo-
lis e de São Sebastião do Caí. Bisavô de
Vera Sílvia Magalhães, que esteve entre
aqueles que lideravam a resistência à
ditadura militar, que aconteceu de 1964
a 1985, e de Carlos Pestana Neto, que
foi secretário-chefe da Casa Civil do
Governo do Rio Grande do Sul, de 2011
a 2014.
Nascido em 22 de maio de 1868,
no Rio de Janeiro, que na época era a
capital imperial, Pestana veio de uma
família de origem portuguesa, com-
posta por servidores públicos. Antônio
José Pestana, avô paterno de Augusto
e pai de Manuel José Pestana, era na-
tural de Figueira da Foz, em Portugal, e
foi juiz de paz. Antônio era parente do
procurador eclesiástico português An-
tônio Pestana Coimbra, o padre que foi
o primeiro visitador apostólico do RS.
Seu filho, Manuel, pai de Augusto, era
funcionário da Casa Imperial e casou-
se com Januária de Abreu Pestana, mãe
de Pestana, filha de um agente portuá- Augusto Pestana era carioca, nascido em 22 de maio de 1868, veio de uma
família de origem portuguesa, composta por servidores públicos/Arquivo MADP

27
Caminhos da História - Augusto Pestana em 145 anos de imigração

rio do Ministério da Fazenda.


Pestana, que era um ávido
leitor de enciclopédias e de Augusto
Comte, perdeu o pai com apenas quinze
anos e recusou duas bolsas de estudos
oferecidas pela Princesa Isabel, no Colé-
gio Pedro II e na Faculdade de Direito de
São Paulo, por ser um republicano con-
victo. Para ajudar a família e pagar os
próprios estudos no mesmo colégio e
na Escola Politécnica do Rio de Janeiro,
lecionou geografia, história, português
e matemática.
Formou-se engenheiro geó-
grafo em 1886 e civil, em 1888, o mais
jovem de sua turma. Em paralelo aos
estudos universitários, Pestana lecionou
gratuitamente para alunos carentes na
Associação Protetora da Instrução, fun-
dada pelo senador e ex-chanceler Ma-
nuel Engenheiro no Rio Grande do Sul.
Depois de terminar os estudos, foi con-
tratado como engenheiro da Comissão
de Estudos e Construção da Estrada de
Ferro Porto Alegre-Uruguaiana. Com o
cargo, ele pôde conhecer o interior do
estado, pois sua atividade incluía o des-
Formou-se engenheiro geógrafo em 1886 e civil, em 1888, o mais locamento constante entre as cidades
jovem de sua turma. Depois de terminar os estudos, foi contratado de Porto Alegre, Cachoeira do Sul, San-
como engenheiro da Comissão de Estudos e Construção da Estrada
de Ferro Porto Alegre-Uruguaiana/Arquivo MADP ta Maria e Saicã, à época um distrito de
Rosário do Sul, onde ele morou. Com a
função, ele também teve oportunidade
de acompanhar o desenvolvimento da Revolução Federalista e, depois, o estabelecimento da ditadura de
Júlio de Castilhos, à qual se identificava ideologicamente, já que a mesma era inspirada na doutrina de
Augusto Comte.
Em 24 de maio de 1892 casou-se com Virgínia da Fontoura Trindade, filha de tradicional família
de Cachoeira do Sul, cuja união contribuiu para tornar esse carioca um gaúcho com profundas ligações
com o Rio Grande do Sul.
Por causa de problemas orçamentários, as obras da ferrovia foram paralisadas e Pestana foi
convidado por Júlio de Castilhos, em 1897, para chefiar a Comissão de Estudos do Rio Jacuí. Mas, pouco
tempo depois, ele escolheu trabalhar na Estrada de Ferro Baturité, no Ceará. Em 1898 o engenheiro voltou
para o Rio Grande do Sul para trabalhar nas linhas telegráficas, onde ficou menos de quatro meses, pois
foi nomeado para comandar a Colônia de Ijuí, fundada 8 anos antes, e a Comissão Discriminadora de Ter-
ras Devolutas e Verificadora de Posses nos Municípios de Cruz Alta, Palmeira das Missões, Santo Ângelo
e Passo Fundo. Na segunda comissão, ele participou da regularização fundiária do noroeste do Estado.
Neste período, Ijuí passava por uma crise, que foi resultado de problemas na gestão e dos con-

28
flitos entre os colonos, que vieram de
cerca de vinte países diferentes. Pestana
trabalhou na conciliação entre os líde-
res das comunidades de imigrantes, em
reuniões realizadas no Alto da União.
Nesse aspecto, um fato marcante foi a
pacificação que ele conseguiu entre
Chimangos e Maragatos, no histórico
encontro que promoveu entre as lide-
ranças dessas duas facções, sob a som-
bra de duas figueiras, no chamado 6º
Quarteirão, encontro esse que deu ori-
gem ao nome do atual distrito de Alto
da União.
Além disso, ele atuou na ra-
cionalização da política dos assenta-
mentos rurais. Para a distribuição das
terras, priorizou famílias que tivessem
experiência na área agrícola e buscou
oportunidades urbanas para aqueles
com afinidade com a área industrial ou
comercial. Pestana também priorizou
o investimento em educação e infraes-
trutura, contribuindo para diversificar a
economia local.
Em 1901, determinou a de-
marcação e colonização da região co-
nhecida como Cadeado, entre os rios Augusto Pestana com a esposa Virgínia da Fontoura Trindade,
filha de tradicional família de Cachoeira do Sul,
Conceição e Ijuizinho, no atual muni- com quem casou-se em 24 de maio de 1892 /Arquivo MADP
cípio de Augusto Pestana. No período
de cerca de treze anos, em que Augusto
Pestana esteve na gestão de Ijuí, a po-
pulação quadriplicou, passando de 6 para 28 mil habitantes. A colônia ganhou em torno de 300km de
estradas e pontes, 32 escolas, sendo metade delas públicas e totalizando 2 mil crianças matriculadas. A
cidade, que no fim do século XIX tinha dificuldades para sobreviver com a agricultura de subsistência,
prosperava, em 1912, com diversas fábricas, moinhos de cereais, serrarias e hotéis. O excedente da pro-
dução local era exportado, tanto para o Estado, quanto para o resto do País. Toda essa evolução levou
a cidade a emancipar-se de Cruz Alta, em 31 de janeiro de 1912 e Pestana foi seu primeiro prefeito (na
época, chamado de intendente).
Em 1913, depois de períodos complementares em Ijuí e Porto Alegre, sendo diretor dos Telé-
grafos, foi diretor-presidente da Estrada de Ferro Oeste de Minas, nomeado pelo presidente Hermes da
Fonseca. Em dezembro de 1914, voltou ao estado como político. Foi deputado federal de 1915 a 1918,
pelo Partido Republicano Rio-Grandense (PRR), período em que participou das comissões de Finanças e
Educação, relator do orçamento de viação e obras públicas, com destaque para sua defesa do aumento e
da modernização da infraestrutura do país. Foi cotado para o Ministério de Viação e Obras Públicas, mas
não assumiu, por causa da morte do presidente Rodrigues Alves.

29
Caminhos da História - Augusto Pestana em 145 anos de imigração

Em 1898 o engenheiro voltou ao Rio Grande do Sul e foi


nomeado para comandar a Colônia de Ijuí, fundada 8 anos antes,
e a Comissão Discriminadora de Terras Devolutas
e Verificadora de Posses nos Municípios de Cruz Alta,
Palmeira das Missões, Santo Ângelo e Passo Fundo/Arquivo MADP

Como crítico do modelo de concessões, fez campanha contrária à Compagnie Auxiliaire de Che-
mins de Fer au Brésil. A empresa da Bélgica controlava as ferrovias do Rio Grande do Sul desde 1905,
controlada por Percival Farquhar, empresário norteamericano. Em 1910, com poucos investimentos da
empresa e problemas de gestão, o transporte ferroviário do estado estava em crise. Em 1920, conseguiu
a aprovação da União para a estatização da empresa, criando a Viação Férrea do Rio Grande do Sul (VFR-
GS), isso acontece a partir de uma articulação, envolvendo o presidente, Epitácio Pessoa, o governador,
Borges de Medeiros e membros gaúchos do Congresso.
Pestana foi diretor-presidente da empresa até 1926, apenas com uma interrupção em 1924,
quando representou uma empresa do Rio de Janeiro. Depois, até 1928, foi secretário estadual de Viação
e Obras Públicas. Nesse período, atuou na recuperação das linhas ferroviárias do estado e participou da
aquisição de novas composições. Entre elas, duas locomotivas alemãs, que usavam como combustível
carvão nacional, já que se preocupava com a dependência do carvão importado. Além disso, estimulou
estudos que demonstrassem possibilidades de uso do carvão nacional. Essa mesma motivação o levou
a, em 1922, adquirir o primeiro motor gasogênio do país, que seria movido somente por combustível
gaúcho. O volume de passageiros e de carga do transporte ferroviário gaúcho dobrou entre 1920 e 1928,
apesar da Revolução de 1923 e da Revolta Tenentista de 1924.
Implementou o novo modelo de gestão, investimento e planejamento da empresa, asseguran-
do seu bom funcionamento até que fosse absorvida pela Rede Ferroviária Federal (RFFSA), em 1959. Entre
1960 e 1970, aconteceu o sucateamento do transporte ferroviário gaúcho.
Em 1928, foi novamente eleito para a Câmara dos Deputados. Em setembro do mesmo ano, recu-
sou o comando do Loyd Brasileiro. O fez por reflexo de articulações políticas, cujo resultado foi a candi-

30
datura de Getúlio Vargas à presidência, que era governador do Rio Grande do Sul. Em 1930 se reelegeu
como deputado federal. Preferiu não ter participação da revolução de 1930. Quando o Congresso se
dissolveu, voltou ao Rio Grande do Sul. Em 1932, assumiu seu último cargo público, a diretoria do porto
de Porto Alegre. Em seus últimos anos de vida, sofreu com a perda do filho, Celso, que era oficial da
Marinha. Celso, de 33 anos, faleceu em 25 de abril de 1933, no acidente, com o carro que levava Getúlio
Vargas a Petrópolis, saindo do Rio de Janeiro. Ele havia sido nomeado ajudante de ordens do presidente
uma semana antes e essa era sua primeira missão. Em 1934, Pestana foi ao Rio de Janeiro, para fazer um
tratamento contra o câncer e faleceu na capital em 29 de maio do mesmo ano. Seu corpo foi sepultado
no cemitério São Miguel e Almas, em Porto Alegre.

Depoimento de José Lange sobre Augusto Pestana

“Não quero encerrar minhas pa-


lavras sem reavivar ainda algumas recor-
dações do fundador desta localidade. O
Dr. Augusto Pestana era um homem que
tinha em alta consideração a gente que
deveras trabalhava. Nos anos passados
tive muitas vezes a honra da sua visita.
Tive que mostrar-lhe cada arvorezinha
frutífera e ele inspecionou a serraria com
grande atenção e aceitou um copo de vi-
nho em minha casa. Nunca posso esque-
cer este homem nobre e generoso. Na sua
última viagem a Ijuí, ele também passou
por Cadeado e procurou-me na minha
casa, sendo, porém, uma tarde dominical,
estive ausente infelizmente; numa festa
em Esquina Gaúcha. Passando por essa
localidade também ele parou e cumpri-
mentou-me cordialmente. Conversamos
abundantemente, lastimei que não esti-
vesse em casa para lhe oferecer um copo
de vinho como no passado, mas ele res-
ponde: não posso mais tomar vinho, não
estou mais são. Falei com ele das minhas
preocupações sobre o sucessor de nosso
Cel. Barros. Dr. Pestana, retrucou: se eu
fosse dez anos mais novo eu mesmo vol-
taria novamente a Ijuí. Três meses mais
tarde estava morto”.

31
Caminhos da História - Augusto Pestana em 145 anos de imigração

32
HENRICH MÜLLER
Heinrich Müller foi o primeiro imigrante alemão a adquirir terras em Serra Cadeado, porém, nunca
fixou residência nestas terras, que totalizavam 86 colônias de 25 hectares cada, compradas pelo valor de 36
contos de Réis.
Conta a história que Heinrich Müller, imigrante alemão do ano de 1858, casou-se com Luísa, nascida
Dietrich. Era comerciante na localidade de Brochier, 2º distrito de São João do Montenegro, hoje, Linha Pinheiro
Machado, município de Brochier. De lá, saiu no lombo de um cavalo no ano de 1892 a procura de novas terras,
andou por meses a cavalo, enfrentando todos os perigos, como o frio, a chuva e animais selvagens. Sem encon-
trar as terras pretendidas, já retornando, parou em uma fazenda, em algum lugar do município de Tupanciretã
que na época vinha até o rio Ijuizinho. Contou sua história a Pita Araújo, dono da fazenda que o informou da
existência de uma posse de terras de mato à venda,
pertencente a Bento Azambuja, sobre a qual existia
um engenho de serra, na localidade, que após foi cha-
mada de “Müllersland”, atualmente Rincão dos Müller,
onde ainda existem peças do engenho (serraria) em
terras pertencentes a herdeiros de Helvin Müller.
Arrematou a posse em Santo Ângelo, tendo
emprestado parte do dinheiro para a compra de Pita
Araújo, que acabara de conhecer e o acompanhava.
Retornou a Linha Pinheiro Machado. Neste intervalo
Serraria da Müllersland
explodia a Revolução Federalista (1893 a 1895), entre
Chimangos, defensores do governador Júlio de Castilhos e Maragatos (federalistas) adversários do governo Gaú-
cho, abalando sua situação financeira do comerciante, por ter sido saqueado pelos revolucionários, obrigando-o
a ceder parte de suas terras (850 hectares) ao cunhado Felippe Bauer conforme escritura datada de 27 de março
de 1901 e a Heinrich Kühn, ficando por fim com um terço de suas terras.
Heinrich Müller doou suas terras para seus filhos, Jorge Antônio, Leopoldo, Augusto, Rosalina e Frida,
que vieram para ocupar as terras que o pai havia comprado, cabendo a cada filho a quantia de 78 hectares, me-
didas pelo filho mais velho Jorge Antônio, que além de agrimensor também era músico. A filha Helena enviou os
três filhos para ocupar a sua parte na área. Grande parte da população pestanense tem descendência do corajoso
empreendedor Heinrich Müller. Seu corpo está sepultado no cemitério de Linha Pinheiro Machado, município
de Brochier.
Cunhado do Heinrich Müller, Philippe Bauer também fez história e deixou descendentes em Augus-
to Pestana. Nascido em 29 de janeiro de 1849 em Wendeslshein, Darmstadt, Alemanha, era filho do professor
Johanes Bauer e de Cristine Althaus Bauer. Seu pai, faleceu jovem,
em 1850, e logo após a morte de Johanes sua mãe Cristine decidiu
vir para o Brasil com quatro filhos pequenos. Durante a travessia do
Oceano Atlântico, que levou meses em embarcações rústicas e len-
tas, dois filhos de Cristine faleceram, sendo colocados em caixotes e
largados em alto mar sob o olhar dos demais ocupantes da embarca-
ção que permaneciam com os olhos fixos no caixão que boiava sobre
as ondas até desaparecerem.
Philippe, o irmão João e a mãe fixaram residência na região
de Montenegro. Philippe casou-se no ano de 1876 com Jacobine
Dietrich, nascida em 1860 em Montenegro. Desta união nasceram Philippe e Jacobine Bauer

33
Caminhos da História - Augusto Pestana em 145 anos de imigração

três filhas: Alvina (1889) casada com Albino Mattes Filho, Luisa
(1892) casada com Otto Schmitt e Lina Catharina (1896), casada
com Frederico Guilherme Kunz. Philippe Bauer comprou 34 co-
lônias, totalizando 850 hectares de Heinrich Müller, seu cunhado.
A escritura tem data de 27 de março de 1901, porém passaram-se
mais de 10 anos para que Philippe viesse definitivamente para
“Serra Cadeado”, mais especificamente Esquina Gaúcha, com as
três filhas já casadas. A terra era toda de mata nativa, e ficou co-
nhecida como “Bauerswaldt” (Mato dos Bauer), sendo necessário
grande esforço para a abertura de pequenas áreas para agricultu-
Frederico Guilherme Kunz e esposa Lina e os filhos
ra de subsistência. Philppe Bauer foi homenageado com a colo-
Erna, Otto, Osvaldo, Oscar e Elsa.
cação de seu nome em uma rua da cidade de Augusto Pestana.
Seu corpo está sepultado no cemitério de Rincão Seco, junta-
mente com as três filhas e genros. O sobrenome de Philippe não teve continuidade por ter somente filhas mu-
lheres, contudo as terras a ele pertencentes, na sua grande maioria, continuam em posse de seus descendentes,
bisnetos e tataranetos das famílias Kunz, Borgmann, Wunder, Wust, Hoerle, Hass, Weimer, Mattes, Wolf e Schmitt.
Sr. Adir Milton Kunz é tataraneto de Heinrich Müller e bisneto de Philippe Bauer e um dos descen-
dentes que continua habitando a área que fica na localizada na Esquina Gaúcha. Ele lembra que o pai contava
uma história que demonstra a personalidade de Philiphe Bauer. Uma ocasião um vizinho o procurou para pedir
dinheiro emprestado com o objetivo de comprar uma área de terra em uma localidade próxima. Na época, todos
os homens fumavam cigarros de palha, chamados palheiros. Esse vizinho ao acender o cigarro, ao invés, de
acendê-lo na chama do fogão a lenha, usou um fósforo. A atitude foi o suficiente para que Philipe Bauer decidis-
se por negar o empréstimo. O vizinho demonstrou ser pouco econômico ao desperdiçar um palito de fósforo,
que na época era um artigo mais valorizado. Tal exemplo demonstra o espírito de trabalho e determinação que
ajudou a consolidar o estabelecimento dos imigrantes na região.
Adir é irmão de Elenor Kunz. Foi o primeiro brasileiro a concluir o doutorado na área de Educação
Física no Brasil pela universidade de Hannover, na Alemanha. Começou como professor do Colégio Evangélico
Augusto Pestana (Ceap), em Ijuí. Possui sete livros publicados na área, tendo sido professor e pesquisador na
Universidade Federal de Santa Catarina. Atualmente, aposentado pela UFSC, reside em Florianópolis, mas leciona
na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).
Dona Elsa Maria Müller, aos 94 anos, possuía uma memória impressio-
nante e o conhecimento da língua alemã. Esposa de Arcídio, um dos netos des-
cendentes do pioneiro Henrich Müller. Contou que trabalhou por seis anos com o
Dr. Otto Rudel como parteira. Confessou que não tinha muita vocação, mas muita
pena das mulheres, por isso se dedicava à tarefa. Seu relato sobre a assistência
médica nos primórdios da cidade, nos faz pensar em como evoluiu o atendimen-
to e a Medicina. Mesmo sem um curso superior ou qualificação específica, Dona
Elsa era autorizada pelo sistema público de saúde a realizar partos. Era a forma
que existia para garantir alguma atenção às grávidas. A boa sorte e a experiência
vivenciada em outros partos pela Dona Elsa ajudou muitas mulheres de Augusto
Pestana a parir os seus filhos em casa.
Filha de Luis Vendelino Mensch, que chegou ao Cadeado e adquiriu
terra do velho Ayres, Dona Elsa ajudou a traduzir uma carta escrita por Albin Sch- Elsa Müller foi parteira e trabalhou
ao lado do Dr. Otto Rüdel
neider, em 15 de janeiro de 1916 ilustrando um pouco como era a vida dos imi-
grantes em Serra do Cadeado. Albin Schneider é avô de Oldemar Schneider e sobrinho de Philippe Bauer. A carta
foi encontrada por Evaldo Wolf, casado com a neta de Philippe Bauer. Foi Oldemar quem pediu a Elsa Müller para
transcrever para o alemão moderno. A tradução para português foi feita por Valdemar Heldwing.

34
Guilherme veio da Alemanha com três filhos.
Era viúvo. No navio, conheceu Dona Ema Hedwer, com quem casou/Arquivo MADP
GUILHERME HASSE
Hoje nas terras dos Hasse, os descendentes dos irmãos Augusto e Guilherme Hasse, ainda residem
na propriedade dos pioneiros da imigração. Eles moram no Rincão Seco. A localidade tem esse nome devido
a uma ocorrência climática registrada em setembro de 1901. Quando os irmãos chegaram na Serra do Cade-
ado, começaram a derrubada da mata e realizaram a queimada para abrir o campo para plantio. Foram meses
de muita chuva, o que dificultava o trabalho, que era árduo, sem mecanização. A partir de dezembro, com os
campos semeados, até os três meses seguintes, somente sol a brilhar no céu. Sem chuva, a colheita foi compro-
metida. Daí surgiu o nome Rincão Seco.
Guilherme veio da Alemanha com três filhos (Rodolfo, Carlos e Luiza). Era natural da Pomerânia e veio
para o Brasil com 20 anos. Era viúvo. No navio, conheceu Dona Ema Hedwer, com quem casou. O irmão de Ema,
Max Hedver casou com Luiza, filha do primeiro casamento de Guilherme. Arnoldo Hasse, foi o primeiro filho do
casal a nascer no Rincão Seco. Guilherme foi durante muitos anos funcionário municipal, ocupando diversos
cargos, tais como inspetor de quarteirão, sub-delegado e sub-prefeito do 2º Distrito de Ijuí. Chegou a assumir
a prefeitura de Ijuí por meio ano, substituindo Alfredo Steiglich. Ia a cavalo para a Prefeitura. Na propriedade,
é possível conhecer a casa de madeira construída por Guilherme, bem como o pinheiral plantado por ele. Um
dos seus filhos, Rodolfo, foi presidente da Igreja Luterana no Brasil e representante da Igreja nos Estados Unidos.
Augusto Hasse, irmão de Guilherme, também natural da Alemanha, veio ao Brasil em 1890 e assim
como o irmão, residiu inicialmente em Cachoeira, quando casou com Ida Forsch, para depois migrar e fixar
residência em Rincão Seco.
Foi a localidade de Rincão Seco a primeira área a ser colonizada pelos imigrantes que vinham de Ca-
choeira do Sul para se instalar nas posses da Colônia Serra Cadeado pelo fato de coincidir com o trajeto utiliza-
do, portanto, foi o primeiro núcleo de colonização germânica no território que hoje pertence a Augusto Pestana.
Os primeiros moradores passaram muitas dificuldade e privações, mas também demonstraram mui-
ta perseverança e força de vontade para superar obstáculos, como o isolamento. Após a derrubada da mata,
iniciava-se o plantio de feijão, milho, batata e cevada. As barracas que serviam de primeira moradia, foram sendo
substituídas por modestas construções feitas de madeira rachada por machado e tábuas cortadas à mão, em
geral unidas por cipós.
Em 5 de novembro de 1903, foi fundada, por 12 membros, a Comunidade Evangélica Santíssima Trin-
dade de Rincão Seco. O presidente da comunidade e principal estimulador foi Guilherme Hasse, colono ativo
e culto. A comunidade adquiriu cinco hectares de terra para construção de um prédio que servia ao mesmo
tempo como capela e escola, cuja madeira foi toda serrada à mão. Essa construção exigiu muito sacrifício, como
todas as empreitadas na época. Como o idioma era o alemão, denominava-se originalmente Evangelische Kir-
chengemeinde und Gemeindeschule Heilige Dreieinigkeit.

Sr. Emílio conta que Guilherme chegou a


Guilherme foi durante muitos anos
assumir a prefeitura de Ijuí por meio ano,
funcionário municipal, ocupando cargo
substituindo Alfredo Steiglich.
de sub-prefeito do 2º Distrito de Ijuí.

37
Caminhos da História - Augusto Pestana em 145 anos de imigração

Registro da família de Eduardo Schünemann, um dos pioneiros da colonização de Serra Cadeado

EDUARDO JULIUS
SCHÜNEMANN
A história dos Schünemann na colônia de Serra Cadeado iniciou-se em 29 de setembro de 1901
com a chegada dos irmãos Reinhold Gustav Schünemann e Sophia Kräulich; Wilhelm Schünemann e es-
posa Emma Steyding, dando início ao núcleo do Rincão Seco. Ambos são considerados, juntamente com
os irmãos Hasse, os primeiros colonizadores do território que hoje se denomina Augusto Pestana. Edu-
ardo Julius Schünemann e esposa Bertha Auguste Luize Steyding; Albert Oscar Schünemann e esposa
Alinda Jost, chegaram logo em seguida e fixaram residência no local que hoje é a sede do município. Foi
proprietário de uma hospedaria na localidade. Albert é avô do ator Werner Schünemann. Ewald Theodor
Schünemann veio no ano de 1912 e também se instalou em Rincão Seco.
Como ocorreu com a maioria dos colonizadores alemães, assim que foram adquiridas as terras,
a providência mais urgente era iniciar o cultivo de alimentos, e logo em seguida a construção de moradas
com tábuas rachadas a machado.
Os irmãos pioneiros eram nascidos na localidade do Paraíso, Cachoeira do Sul. Eram filhos de

38
Helmuth e Frederica Schünemann que vieram da Alemanha para o Brasil. Guilherme residiu a vida toda
no Rincão Seco. Teve sete filhos: Alfredo Reinoldo, Roberto Teófilo, Fridolino Otto, Elsa Frederica, Hilda
Emma, Laura Berta e Hulda Olinda. Reinholdo também permaneceu na localidade até falecer em 1930 na
Serra Cadeado. Sua esposa Sofia, foi viver em Feijão Miúdo, Três Passos. Também deixaram sete descen-
dentes: Helmuth, Frida, Tecla, Olinda, Rainilda, Regina e Lily.
Eles sempre demonstraram forte espírito religioso e envolvimento comunitário. Como não ha-
via escola, logo, manifestaram preocupação em relação à educação de seus filhos e envolveram-se para
viabilizar um espaço educativo no Rincão Seco. Assim, no ano de 1904, foi iniciada a construção de um
prédio de madeira, concluído em 1905. Este prédio serviu de templo e de escola. A construção exigiu um
grande esforço de todos.
Outra preocupação foi com o aspecto religioso. Na mudança para a colônia, não transportaram
muitos pertences, mas não esqueceram de trazer a Bíblia, na tradução de Lutero e o Hinário. Também foi
ativo e contribuiu juntamente com outras famílias de imigrantes na fundação da Comunidade Evangélica
Santíssima Trindade.
A construção do prédio exigiu um grande esforço de todos os membros da localidade, durante
dois anos. A madeira utilizada foi serrada a mão, tendo sido parte dela cedida por Guilherme Schüne-
mann, que tinha inicialmente a intenção de usá-la para construção da própria moradia. O mesmo prédio
funcionava como templo religioso e como escola. A primeira turma era composta de 16 alunos. A igreja
do Rincão Seco é a primeira comunidade religiosa de Augusto Pestana.
Um símbolo dessa dedicação religiosa é Lora Kunde, ainda atuante na comunidade Santíssima
Trindade, aos 92 anos. Filha de Roberto Kunde, proprietário da primeira casa comercial do Rincão Seco. É
irmã de Lili Kunde, casada com Hubert Schünemann. Lora por 62 anos tocou harmônio na comunidade
evangélica do Rincão Seco.
Outro Schünemann que fez história em Augusto Pestana foi Eduardo Julius Schünemann sen-
do líder na história da Comunidade Santo André. É considerado o grande evangélico luterano da comu-
nidade. Ele cedeu suas terras para a instalação da comuni-
dade. Dessa forma, não doou apenas trabalho e dedicação
à comunidade, como viabilizou materialmente entregando
área de terra, além de ocupar por três vezes a presidência
da Comunidade Santo André. Foi também um de seus fun-
dadores. A data oficial da fundação é 1º de abril de 1908,
quando foi inaugurada uma casa rústica de madeira que
serviu de igreja e escola, tal qual ocorreu no Rincão Seco.
Era localizada na Linha Pau de Erva. Em 1914, Eduardo foi
eleito presidente da comunidade.
Em 1921, foi construído o prédio de alvenaria.
Para a construção, Eduardo Schünemann doou a madeira
necessária e dinheiro para a obra. Porém instituiu uma re-
gra: aquele membro da comunidade que não colaborou e
que futuramente viesse a precisar da escola, acabaria ten-
do que pagar a contribuição com juros. No mesmo ano,
organizou uma biblioteca e sonhava em erradicar o analfa-
betismo na comunidade. Eduardo ajudou ainda na compra
de cinco hectares pela comunidade. Mais uma vez doando
parte do valor, no ano de 1925 e foi um dos mais benemé-
ritos no ano seguinte para aquisição dos sinos. Lora Kunde

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Documento de repatriação de Pedro Nogara, filho de Antônio Nogara.
ANTÔNIO NOGARA
Em janeiro de 1891, Antônio Nogara adquiriu um lote de terras de 250 mil m², na Linha 8, an-
tiga Linha 12 leste, no valor total de 150.000 réis. Este registro se encontra no Museu Antropológico Dr.
Pestana de Ijuí (Arquivo MADP), no livro de assentamento inicial de lotes rurais, na página 19. Nos livros “A
Presença Italiana em Ijuí e História de Ijuí” de Danilo Lazarotto registram-se que o primeiro italiano que
chegou a região foi Antônio Nogara.
No Registro Civil de Augusto Pestana, está registrado o óbito de Antônio Nogara, ocorrido no
dia 5 de janeiro de 1928, natural da Itália com 82 anos de idade, viúvo, porém não consta o nome da
esposa. Também que é filho de Jacob Nogara e Maria Nogara, e que o sepultamento aconteceu no cemi-
tério de São Miguel. Deixou um filho com 40 anos de idade de nome Pedro Nogara.
Também está registrado o óbito de Pedro Nogara, ocorrido em 13 de fevereiro de 1956, com 67
anos, filho de Antônio Nogara e Luiza Nogara, natural da Itália, casado com Carmelina Nogara, e que o
sepultamento ocorreu no cemitério de São Miguel, deixando 14 filhos.
Em conversa com Ângelo Nogara, que hoje já é falecido, conseguimos o nome dos 14 filhos:
Antoninho, José, Luisa, Aniseto, João, Maria, Victório, Ancelmo, Anna, Adélia, Vergilino, Rosa, Ângelo e
Guilherme.
Também localizamos a filha Rosa que reside em Catuípe. Ela falou que não lembra de muita
coisa de Formigueiro, onde se criou, porque era ainda muito jovem quando casou e foi morar em Catuí-
pe. Porém encontrou uma Certidão de Registro de Estrangeiro, fornecido pela Delegacia de Polícia de Ijuí,
Livro nº 8 Fls.2, onde nas observações consta que chegou ao Brasil no mês de novembro de 1892, não
podendo precisar o dia, nem o vapor em que veio, desembarcou no porto de Santos, não se retirando
mais do país.
Analisando todas as informações obtidas e olhando principalmente para o Registro de assen-
tamento de lotes rurais, pode-se concluir que o Antônio de fato chegou na data do Registro do lote rural.

Nota: Durante a pesquisa não foram localizadas/identificadas imagens ou fotografia de Antônio Nogara e Pedro
Nogara.

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José Lange ocupou uma cadeira no legislativo municipal de Ijuí,
como representante do Distrito Vila Dr. Pestana
JOSÉ LANGE
José Lange chegou ao Cadeado em 1907. A localização da atual sede do município de Augusto
Pestana, ou o Centro da cidade, como se diz hoje, deve muito a ele. Foi um cidadão importante, cuja
história se confunde com a própria história de Augusto Pestana. Nascido no município de Santa Cruz
do Sul, em 1883. Aos 23 anos de idade, depois de ter aprendido a profissão de serralheiro com o seu pai,
resolveu trabalhar por conta própria. Recebeu a proposta de acompanhar o pai a Ijuí, que lá haveria uma
colonização nova e, certamente, bom futuro.
Concordou com a ideia do pai e subiu a serra em sua primeira viagem a Ijuí. Os imigrantes das
colônias velhas sempre se referiram às novas colônias do Noroeste gaúcho como serranas. Tanto que o
jornal que era publicado em Ijuí, inicialmente em alemão, chamava-se Die Serra-Post e era distribuído na
região norte do Rio Grande do Sul. Circulou de 1911 até 1917. Quando iniciou a Primeira Grande Guerra
Mundial e o Brasil ficou ao lado dos Aliados contra a Alemanha, foi proibida a edição de jornais em ale-
mão. Assim foi criado o Correio Serrano. Circulou de 5 de novembro de 1917 até 31 de dezembro de 1988.
Após circular pela Colônia Ijuí, José Lange chegou ao Cadeado, onde encontrou o lugar ideal
para o seu empreendimento, avistou uma mata bonita e a estrada principal já aberta. “Quando vi os lindos
louros, cedros, grápias, cabriúvas, então eu disse: este é o lugar que procurei! ”, revelou em entrevista, o
pioneiro. A riqueza da mata nativa era o grande atrativo. José Lange instalou a sua serraria e prosperou
graças a mata formidável que cobria toda a região. Ele contou ao jornal que obteve o lote colonial em
fins de fevereiro, com a ajuda de um conhecido, chamado João Heberle, mas que existia um caboclo que
já havia requerido o mesmo lote, tendo ele que comprar-lhe os direitos. O acerto da negociação ocorreu
na Comissão das Terras, com o chefe da colonização, o Dr. Augusto Pestana. Com terra, fez uma roça.
Foi a primeira clareira, cercada por pura mata virgem, na área em que se localizaria nos anos seguintes
a Vila Dr. Pestana.

Lange conheceu em Ijuí Emilia Schabach,


natural do município de Lajeado,
José Lange, nascido no município de Santa Cruz do Sul, com quem casou e teve oito filhos/Arquivo MADP
em 1883, aos 23 anos de idade, aprendeu a profissão de
serralheiro com o seu pai/Arquivo MADP

43
Caminhos da História - Augusto Pestana em 145 anos de imigração

Após a compra, voltou


a Santa Cruz. Em maio, após mais
uma longa viagem. Os imigran-
tes sempre relatavam essa “longa
viagem”, impressão causada pela
distância, mas também pelo meio
de transporte usado à época, já
que o trajeto era feito a cavalo.
No caso de José Lange, em uma
carroça puxada por duas mu-
las. Quando chegou ao destino,
como não havia nada, procurou a
casa de um amigo para se abrigar,
Residência da família José Lange/Arquivo MADP onde construiu uma choupana
temporária de pau-a-pique, com
tabuinhas de grápia e as paredes
tapadas de barro. Já no dia seguinte abriu um caminho através do mato até a sua roça. Não tendo mais
tanta pressa, limpou um lugar para a construção da casa. Rachou algumas corticeiras das quais fez por-
tas, janelas, mesa, bancos e camas. Em poucos dias estava terminada a segunda casa de moradia, a pri-
meira casa da futura Vila Dr. Pestana.
Também não foi fácil a estruturação da serraria, o material férreo foi despachado pelo trem até
Cruz Alta, de onde foi buscado aos poucos. Naquele ano ainda não existia a estrada de ferro ligando a
então Colônia de Ijuhy e Cruz Alta. A estrada já estava sendo construída desde 1906, graças à iniciativa
de alguns colonizadores, que preocupados com a falta de transportes, resolveram reivindicar o ramal,
que seria mais tarde a ligação entre os municípios de Cruz Alta e Santa Rosa. A ligação até Ijuí somente
foi inaugurada no dia 11 de outubro de 1911. Além do transporte do maquinário usando uma charrete,
foi necessário fazer a mão dois mil tijolos para os alicerces do grande caldeirão. Com a serraria pronta a
expansão da colonização foi facilitada e mais e mais moradores escolhiam a área nova para se radicar.
Esse crescimento, motivou o espírito empreendedor de José Lange, que viu a oportunidade para novos
negócios. Instalou uma carpintaria e uma marcenaria, com luz e força próprias, plantou eucaliptos e erva
-mate em grande escala, fundou a Caixa Econômica, da qual foi presidente por muitos anos, tornando-se
uma das personalidades mais ativas na vida pública e social do novo lugarejo.
Foi na serraria de José Lange, por exemplo, o local onde foi realizada uma reunião de todos
os pais de família da localidade que decidiram
pela construção urgente de uma escola e fi-
cou a cargo de José Lange fornecer as tábuas
e os caibros a preços menores. O terreno para
a escola foi doado por Carlos Kruger, sob a
única condição de que a escola servisse tam-
bém para os cultos religiosos dos evangélicos.
Quando construída, os primeiros professores
foram José Norbert e Carlos Haack. A essa altu-
ra, conheceu em Ijuí Emilia Schabach, natural
do município de Lajeado, com quem casou e
teve oito filhos.
Seu próximo passo foi lotear e organi-
Confraternização de familiares e amigos na residência de José Lange/
Arquivo MADP

44
Após circular pela colônia Ijuí, José Lange chegou ao Cadeado, onde encontrou o lugar ideal para o seu empreendimento, avistou
uma mata bonita e a estrada principal já aberta/Arquivo MADP

zar a zona urbana de Dr. Pestana. Comprou as terras de Carlos Kruger, três colônias e um quarto. Quando
já havia mato derrubado suficiente e com a devida licença do Coronel Barros, mandou medir e parcelar
as terras adquiridas, doou os terrenos para a igreja e para a metade da praça pública e mais tarde, outro
terreno para a sub-prefeitura. Mandou abrir as ruas, por conta própria e vendeu os lotes urbanos por
cento e cinquenta mil réis cada um. Coronel Barros frequentava a casa de José Lange. Em suas excursões
dominicais nas redondezas, como intendente de Ijuí, quando usava a charrete do Hotel Ijuí, passava o
dia na residência de José Lange em companhia de sua família. Aliás, Lange era um homem admirador da
administração pública do Coronel Dico, que caracterizava como habilíssima, honestíssima e desinteres-
sada. Para ele, foram vinte e cinco anos em que tudo se passou muito bem em Ijuí.
Com o lote doado, foi definida a planta e com a concordância da comunidade foi planejada
a construção da igreja, toda de madeira e com três naves e uma torre. Lange tomou a frente, pediu aos
moradores a madeira necessária, transportou as toras e serrou-as entregando toda a madeira no local
da construção. Com o auxílio de todos, sete semanas mais tarde foi possível celebrar a festa de Natal na
igreja.
Logo, os moradores busca-
ram elevar a igreja à paróquia e com
isso ter um padre para atender os
moradores. Lange conta que se di-
rigiu ao Bispo de Santa Maria e que
a primeira pergunta do Bispo foi se
havia uma casa de moradia para o
pároco. Como a resposta era não, o
bispo retrucou: “então quereis pri-
meiro pegar a pomba e depois fazer
a gaiola? É necessário primeiro fa-
zer a gaiola e depois pegar a pom-
ba”. Voltou decidido, convocou uma
reunião, resolveu por conta própria
Dia de trabalho pesado na serraria de José Lange/Arquivo MADP
construir uma casa de alvenaria, que

45
Caminhos da História - Augusto Pestana em 145 anos de imigração

seria comprada mais tarde pela comunidade se a proposta da paróquia se concretizasse e assim foi feito.
Alguns anos depois, o Cadeado foi elevado a categoria de paróquia e ganhou o próprio vigário na pessoa
do Padre Burmann. Após 32 anos, em 1939 vendeu a serraria e as terras a Guilherme Klamt e mudou-se
para Ijuí.
Mais tarde passou a ocupar uma cadeira no legislativo municipal de Ijuí, como representante
do Distrito Vila Dr. Pestana. Com o passamento da primeira esposa, uniu-se em segundas núpcias com
Leonilda Kirst no ano de 1943. José Lange viveu 32 anos em Augusto Pestana, tendo transferido a resi-
dência para Ijuí em 1939, onde veio a falecer em 14 de setembro de 1967.
No dia 27 de junho de 1938, pelo decreto nº 7.334, o interventor federal Osvaldo Cordeiro de
Farias instituiu um grupo escolar em Dr. Pestana, 2º distrito do município de Ijuí. Em 1939 iniciou o fun-
cionamento da escola com a matrícula de 135 alunos e com apenas duas professoras para atendê-los.
Situada nas proximidades do atual cruzamento das ruas José Norbert e Edvino Schroer. Anos
após, a escola passou a funcionar num prédio onde se localiza atualmente o Posto Charrua. Como este
prédio era alugado e se encontrava em más condições, o prefeito Joaquim Porto Villa Nova, e a caixa
rural União Popular de Serra Cadeado, doaram terreno, situado à Rua da República, onde foi construído
novo prédio cuja planta foi fornecida pela Secretaria de Educação do Estado. A pedra fundamental foi
lançada em 30 de setembro de 1951. No ano de 1954, a escola instala-se em prédio próprio, construído e
mantido pelo Governo do Estado, onde funcionou até 1979.
Com o aumento do número de alunos o prédio se tornou insuficiente para o atendimento
dos mesmos e estudou-se a construção de um amplo conjunto de prédios construidos pelo governo do
Estado. A escola tem como patrono José Lange, que na inauguração se fez representar pelo jornalista
Ulrich Löw, por delegação da filha do homenageado Amalia Lange Löw, residente em São Paulo. Com a
finalidade de homenagear José Lange, ilustre e benemérito, colonizador e líder comunitário, foi enca-
minhado processo à Secretaria de Educação, através de uma comissão representativa, a fim de alterar
a denominação do então grupo escolar da sede de Augusto Pestana para Escola de 1º e 2º graus José
Lange, que foi aprovado por decreto oficial nº 25827, de 13 de abril de 1977.
No ano de 1977 a Escola de 1º grau passa a denominar-se Escola Estadual José Lange. No dia
16 de maio de 1979, pelo decreto nº 28.809, a escola é organizada e unificada, passando a denominar-se,
Escola Estadual de 1º e 2º Graus José Lange, vindo a mudar-se para as atuais instalações, à rua Albino
Mattes Filho, nº 242, em 1980.
Na história da José Lange já passaram centenas de professores, dentre os quais estão em des-
taque aqueles que, ao longo destes anos, assumiram a direção da mesma: Lea Russovshy, Maria Siqueira,
Dalva Telles Holmer, Maria de Lurdes Saraiva, Leopoldina Krueel, Elyria Bernardi Eichmberg (18 anos de
direção), Carmem Antônia Tamiozzo, Liane Heinen, Maria de Lurdes Rohenkohl, Luci Garzella, Sueli Bur-
mann Terra, Júlia Inês Bernardi, Nair Agnoleto Berwanger, Liane Kluge, Luis Tamiozzo, Miguel Wildner,
Sidéria Maria Lauxen, José Teixeira Pereira, Renildes de Lima Zucolloto, Nilvia Maria Mattioni, Rosalva
Teresinha Luchesse Guerreiro, Sônia Teresinha Müller, Ido Goergen, atualmente a escola conta com a
direção da professora Márcia Loraine Ewerling Rohenkohl.
Ainda merece destaque a professora Verônica Kipper que em 1917, tendo transferido residência
para então Serra Cadeado, atuou como única professora na educação do povo desta terra, ministrando
suas aulas em sua própria residência até 1939. No ano seguinte ingressou no corpo docente da Escola
Reunida Dr. Pestana, trabalhando até 1941, quando se aposentou, com 61 anos de idade por ter perdido
a visão. Por esta sua dedicação ela é hoje patrona da nossa Biblioteca Escolar.
No ano de 2000 a escola sofre mais uma alteração de designação e pela portaria 94 de 07 de
abril, passa a denominar-se Colégio Estadual José Lange. A partir de 2005 o Colégio passou a contar

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com um diferencial no que se re-
fere a uma proposta de trabalho
que esteja alicerçada no respeito
às diferenças individuais e no di-
reito a oportunidades iguais de
aprendizagem, a sala de recursos
com atendimento aos educan-
dos portadores de necessidades
especiais que frequentam classe
comum e recebem atendimento
complementar em local especial,
com professor especializado.
Registro dos alunos da escola pioneira de Serra Cadeado. Foi José Lange que
A partir do ano de 2007, forneceu as tabuas para construção da primeira escola/Arquivo MADP
iniciou-se a implantação progres-
siva do Ensino Fundamental de
nove anos, pela inclusão de crianças de seis anos de idade. A partir de 1980 até 2000 o Colégio possuía
mais de mil alunos cujo nº foi diminuído em função da criação de duas escolas no município que aten-
dem alunos de educação infantil e de 1º ao 9° ano do ensino fundamental.
Hoje o Colégio José Lange conta com uma equipe de 41 professores, 14 funcionários e 420 alu-
nos, o Colégio prima pela educação integral do aluno, por sua formação intelectual, moral e afetiva, ob-
jetivando abertura de caminhos profissionais aos jovens, que os levem a uma melhor qualidade de vida.
O Colégio dá ênfase a formação qualitativa, pois seu corpo docente acredita, ser a educação
um direito e à Escola cabe oferecer qualidade antes da quantidade, que o resgate de valores torna possí-
vel o exercício consciente da cidadania. Desde 1992 já é de praxe no Colégio José Lange, a realização da
Semana da Escola, evento que reúne professores, alunos, funcionários, pais e comunidade em geral, com
objetivo de integrar a comunidade Escolar.
A Escola é um espaço de construção de saberes, mas também de criar laços, estabelecer valo-
res e definir ideias, onde todos visam a educação.

A partir do ano 2000 a escola passa a demoninar-se Colégio Estadual José Lange 47
Dr. Orlando Dias Athayde nasceu em 23 de novembro de 1914, em Santa Maria.
Em 1932, ingressou na Faculdade de Medicina na recém-surgida UFRGS, cursada por Orlando até 1937/Arquivo MADP
ORLANDO DIAS ATHAYDE
O Dr. Orlando Dias Athayde era Filho de Mário Alves de Athayde, alfaiate e Abrelina Dias Athay-
de. Nasceu em 23 de novembro de 1914, na cidade de Santa Maria. Estudou até o ginásio no Colégio
Marista da cidade e, em seguida, em 1932, ingressou na recém-surgida UFRGS, na cidade de Porto Alegre,
com a união de várias escolas e faculdades livres, como a de Medicina, cursada por Orlando até 1937.
Ali, especializou-se em oftalmologia, ginecologia e obstetrícia, e pediatria, mas também atendia como
clínico geral e cirurgião.
Trabalhou, por anos, como um dos tradicionais médicos familiares, atendendo em qualquer
lugar e em qualquer horário. Estabelecia, assim, uma relação pessoal com os pacientes, tornando-se,
além de médico, psicólogo, conselheiro e, praticamente, parte da família de muitos, já que acabava sendo
convidado para ser padrinho de casamento e dos filhos de pacientes.
Mudou-se para Ijuí após o casamento com Dinah Ribeiro Athayde, em 1939, e começou a
trabalhar com os médicos Osório Campos da Trindade e Amadeu Weinmann, em um hospital, que foi
improvisado em uma casa, próxima à antiga fábrica de balas Soberana.
Começou a atender também na Vila de Dr. Pestana, na então Colônia Serra do Cadeado, em
1941, com o médico Dr. Otto Rüdel, que iniciou a obra do Hospital São Francisco. Três anos depois,
quando o Dr. Orozimbo Corrêa Sampaio faleceu, mantendo também um consultório na cidade de Ijuí,
começou a clinicar sozinho no 2º distrito de Ijuí.
Apesar da grande demanda de atividades, não abandonou a obra do hospital, projeto que
abraçou e ao qual muitas vezes aplicou recursos próprios. Empenhou-se, também, criando campanhas
de arrecadação de verbas e materiais de construção para a obra, além de realizar eventos com o mesmo
objetivo.
Foi vereador em Ijuí por quatro legislaturas. Mais tarde, foi vice-prefeito da cidade, de 1951 a
1955, pelo PL (Partido Liberal), na chapa de Ruben Kessler da Silva. Anos depois, se estabeleceu de manei-
ra definitiva no 2º distrito da cidade. Participou, como presidente e secretário da “Comissão Pró-Eman-
cipação” da Vila Dr. Pestana. Foi, uma das lideranças mais atuantes e articulador da Lei Estadual nº 5030
de 17 de setembro de 1965. Assim que foi criado e instalado o município de Augusto Pestana em 14 de
maio de 1966, foi nomeado pelo então presidente da República, Marechal Humberto de Alencar Castelo
Branco, período do governo militar, interventor federal, de 20 de abril de 1966 até 28 de fevereiro de 1968.
Dr. Athayde exonerou-se, por ter-se decepcionado com a política. Foi então nomeado como interventor
Cel. Vitor Hugo Martins.
Nesta mesma época, já estava separado da primeira esposa e, então, casou-se com Mirian
Pellenz Athayde. Do casamento com Dinah, teve duas filhas, Maria Elizabeth Ribeiro Athayde e Maria do
Carmo Athayde Fernandes. Com Miriam, outras três: Isabel Cristina, Maria Cristina e Maria Isabel. A se-
gunda esposa trabalhou ao seu lado, como secretária. A filha, Maria Isabel, segue a profissão de seu pai,
na cidade de Porto Alegre. Mirian, apesar de ser muito mais jovem do que ele, acaba por falecer antes do
esposo.
Sua carreira como médico foi marcada por histórias peculiares, proporcionadas pela falta de
infraestrutura local, entre outros fatores. Diz-se que o Dr. Athayde era um grande contador de histórias
e, entre os episódios narrados, esteve a realização de uma cirurgia de “elefantíase no escroto de um pa-
ciente, para extirpar-lhe um tumor”, pesando 20,2 kg. O registro fotográfico do procedimento estava no
museu que leva o nome do médico, na cidade de Augusto Pestana, mas acabou sendo extraviado.

49
Caminhos da História - Augusto Pestana em 145 anos de imigração

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O Dr. Orlando gostava de festas e do tradicionalismo. Foi patrão do Centro de Tradições Gaúchas Álvaro Carvalho de Nicofé.

O Dr. Orlando gostava de festas e do tradicionalismo. Foi patrão do Centro de Tradições Gaú-
chas Álvaro Carvalho de Nicofé. O CTG teve o nome escolhido em homenagem a um jovem tradiciona-
lista natural de Lagoa Vermelha que se mudou para Ijuí e desempenhou grande papel na comunidade
ijuiense, chegando a assumir a prefeitura municipal. Reconhecido como homem capaz de frequentar
todas as rodas sociais, das mais requintadas aos fandangos e carreiradas. Incentivou muito a cultura
gauchesca na cidade.
Seu carisma, aliado à sua postura profissional e pessoal lhe trouxeram respeito e reconheci-
mento na região. O médico recebeu diversas homenagens ao longo da vida. Em especial, a que come-
morou seus 50 anos de exercício da profissão, quando recebeu uma festa surpresa da comunidade. No
Jornal da Manhã, ficou o registro do momento: “Líder nato, faz com que suas histórias se confundam
com a própria história de toda a comunidade”.
O Dr. Athayde dedicou-se à medicina, atendendo os desavisados, que batiam a sua porta. Nes-
se período, fez mais de 35 mil cirurgias. E muitos continuaram lhe procurando, mesmo depois de seu
falecimento, em 14 de novembro de 2000, faltando nove dias para completar 86 anos. Como líder da co-
munidade, esteve sempre presente, participou de todos os acontecimentos e atos que fizeram a história
do município.
Bem antes do Dr. Athayde, conforme relata a historiadora Marilda Silva, no livro Medicina em
Ijuí, em 1905, a esposa do professor Karl Haake foi a primeira pessoa a dedicar-se à “arte de curar”, na

51
Caminhos da História - Augusto Pestana em 145 anos de imigração

Vila Dr.
Pestana. Ela receitava ervas medicinais e remédios
homeopáticos, e cuidava dos doentes a domicílio. Além
dela, Augusto Mechow também residiu no local, de 1905
a 1920, receitando homeopatia e cura pela água (syste-
ma de Bilz e Priesnitz), em sua própria casa. Otti Simm,
mudou-se para Dr. Pestana em 1912, e além de clinicar,
praticava pequenas intervenções e internava pacientes
no Hotel de Christian Walter.
Já Daniel Rutter, que se dedicava somente à
clínica médica, foi para o distrito em 1915. Daniel tratava
pacientes no Hotel de Henrique Schabbach. O primeiro
médico formado mudou-se para Dr. Pestana em 1920.
Dr. Hermann Ringsdorf, que se dedicava tanto à clínica
e às cirurgias, diplomou-se em uma universidade alemã.
Ele realizava as intervenções hospitalizando pacientes
nos hotéis de H. Schabbach e Wilhelm Mensch. Já o Dr.
Deutsch, que era também farmacêutico, exerceu medi-
cina no distrito a partir de 1924, mas por pouco tempo.
O Dr. Otto Rüdel abriu seu consultório em 1930. Ele tam-
bém se graduou em uma universidade alemã e se dedi-
Começou a atender também na Vila de Dr. Pestana, em
cava a cirurgia e clínica. Seus pacientes eram internados 1941, com o médico Dr. Otto Rüdel. Três anos depois,
nos hotéis de Wilhelm Mensch e Alberto Schünemann. quando o Dr. Orozimbo Corrêa Sampaio faleceu,
começou a clinicar sozinho no 2º distrito de Ijuí/
Outro nome importante para Medicina de Au- Arquivo MADP
gusto Pestana, Dr. Orozimbo Corrêa Sampaio foi o pri-
meiro médico graduado em universidade brasileira a
montar consultório no distrito. Ele formou-se em 1934,
na Faculdade de Porto Alegre, e clinicou na Vila até 1940,
dedicando-se seis anos à cirurgia e clínica. Orozimbo
montou e dirigiu no local um hospital de emergência,
atendido por Augusta e Renato Kronbauer e foi, também,
quem idealizou o Hospital São Francisco. Depois de seu
falecimento, o Dr. Athayde contou com o apoio dos agri-
cultores locais para terminar a construção do hospital.
O Instituto de Medicina e Cirurgia Dr. Athayde
foi inaugurado, na Vila Dr. Pestana, em 26 de julho de
1949, contando com a presença de pessoas de destaque
do município de Ijuí, classe médica e autoridades. O local
contabilizou, em dois anos de existência, mais de 14 mil
consultas e 600 radiografias.
Entre os aparelhos disponíveis para exames,
haviam os de ondas curtas, ultravioleta, eletrocoagula-
ção e um aparelho de Raio X, que era tido como mo-
derno na época, e ficava em uma construção separada.
A estrutura física, contava com 6 salas: de espera, para
Foi vereador em Ijuí por quatro legislaturas. Mais tarde,
exames clínicos, fisioterapia, curativos, olhos e refração e vice-prefeito da cidade. Participou, como presidente da
ouvidos, garganta e nariz. “Comissão Pró-Emancipação” da Vila Dr. Pestana, tendo
sido nomeado seu primeiro interventor/Arquivo MADP

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Antes de inaugurar o Hospital São Francisco na Vila Dr. Pestana, existiam na localidade, hospi-
tais de emergência que eram, em grande maioria, particulares, dos médicos locais. Estes, funcionavam
com precariedade, mas buscavam oferecer recursos à colônia. Em casas próprias dos médicos, casas
alugadas ou dependências de hotéis, estes hospitais eram adaptados para atender a população. E foi
com sacrifício, que os médicos que clinicavam no distrito operavam os pacientes, que também eram
atendidos pela enfermagem emergencial, aos quais muitas vezes faltavam conhecimentos técnicos, mas
sobravam outras qualidades, como boa vontade e abnegação.
A Associação Comercial e Industrial de Augusto Pestana foi articulada pelo senhor Orlando
Dias Athayde, sendo fundada em dia 21 de outubro de 1968, sendo ele o primeiro secretário da associa-
ção. Mais um fato que comprova o envolvimento de Athayde nas atividades da comunidade. O primeiro
presidente foi o senhor José Deboni. A Associação Comercial e Industrial de Augusto Pestana é uma
entidade civil com personalidade jurídica, que tem por finalidade congregar a atividade comercial e
industrial do município, sendo um órgão representativo da classe perante aos poderes municipais, esta-
duais e federais. Alguns pontos e fatos da história da Aciap se perderam no tempo e por um longo tempo
a associação ficou desativada.
No ano de 1993 um grupo de empresários começou a fazer articulações para a sua reativação,
e foi neste mesmo ano que a Aciap abriu novamente as portas como sua presidente Craudi Maria Pizzuti,
que ficou no cargo até 1996. Desde então, a Aciap vem fazendo um trabalho voltado ao comércio local,
sempre estimulando e ajudando. No ano de 1997 a 2000, foi empossado como presidente da associação
José Carlos Severo, que deu continuidade aos trabalhos e eventos realizados pela mesma entidade. Foi
no ano de 1997 que também foi lançado a primeira campanha do Natal Premiado em nosso município.
Sendo que nessa campanha foi sorteada na época uma Moto Honda, um climatizador e um vale-compras
no valor de R$ 300,00. A campanha Natal Premiado já está em veiculação há mais de 15 anos consecu-
tivos e representa um grande estímulo para o comércio local, fortalecendo as compras no município.
Já no ano de 2001 a 2005 o Senhor Ademar Lampert tomou posse como o novo presidente
da Aciap, sendo nestes quatro anos disponibilizados várias parcerias com o comércio e com a Prefeitura
Municipal de Augusto Pestana, desde palestras e eventos em geral.
De 2006 a 2012, Solange Ayres se tornou a presidente da associação, com ela muitas inova-
ções, a Associação Comercial e Industrial de Augusto Pestana começou a realizar parcerias com empre-
sas de telefonia e com isso disponibilizar linhas telefônicas e internet móvel aos seus associados com
menores custos e maiores benefícios.
De 2012 a 2014, presidiu
a Associação Sergio Neuberguer,
dando continuidade nos trabalhos
com os empresários de Augusto
Pestana.
Atualmente está no co-
mando da presidência da entidade
Gilberto Zarth, com o compromis-
so de lutar pelos empresários de
Augusto Pestana, auxiliando em
seu desenvolvimento e cresci-
mento gerando trabalho, emprego
e renda. A Aciap conta atualmente
com aproximadamente 110 em-
presas associadas. Dr. Orlando Dias Athayde é fotografado ao lado de veículo da época

53
JOSÉ NORBERT
JOSÉ NORBERT
Hoje é relativamente fácil conseguir dinheiro para investimento através de financiamento con-
tratado em um banco, existe inclusive concorrência na oferta de serviços e os clientes buscam facilidades
para operar com a instituição bancária que preferir, mas nem sempre foi assim. Conseguir atender as
necessidades dos moradores com recursos para a manutenção das atividades produtivas e para inves-
timentos em melhorias na comunidade era uma lacuna que foi preenchida em Augusto Pestana, não
pela mão de um sistema bancário organizado ou por uma política orientada pelo governo, mas sim pelo
esforço de organização dos primeiros moradores que ocuparam Augusto Pestana.
Esses imigrantes vindos da Europa, grande parte com passagem ou nascidos nas colônias ve-
lhas, em sua maioria alemães e italianos, além das dificuldades enfrentadas com as condições precárias
do trabalho em meio ao mato, precisaram superar a impossibilidade para obtenção de crédito que ia se
tornando cada vez mais perceptível com a chegada de cada vez mais imigrantes, que foram aos poucos
instalando casas de negócios, armazéns de secos e molhados e pequenas indústrias.
Foi neste momento da história que chega à localidade Padre Johannes Rick, que trouxe na
bagagem a experiência obtida com as dezenas de caixas de crédito fundadas em toda a região de colo-
nização do Estado do Rio Grande do Sul. Com o seu carisma convenceu também a comunidade de Serra
do Cadeado à execução da ideia cooperativa.
Foi na residência de José Norbert, numa chuvosa tarde de quinta-feira, que foi fundada a Caixa
Rural União Popular de Serra Cadeado, após dias de reuniões com Padre Rick. José Norbert era um dos
moradores da comunidade presente nessa grande empreitada. No dia 21 de maio de 1925, 23 pessoas
formaram a Caixa Rural nos moldes das já existentes no Estado.
A grande maioria dos primeiros associados eram agricultores, líderes comunitários, todos bas-
tante influentes, pessoas sérias e comprometidas com o crescimento local, trabalho que necessitava da
soma de esforços em prol do bem comum. Os 23 sócios-fundadores foram o empresário José Lange,
agricultor e professor José Norbert, professor Theobaldo Weiler, agricultor Guilherme Boehm, industrial
(cervejeiro) Pedro Weinmann, agricultor Guilherme Feyh, professor João Kipper Filho, seleiro e sapateiro
João Haas Neto, ferreiro Bertholdo Kronbauer, agricultor Luiz F. Kronbauer, empresário Francisco Lan-
ge, agricultor Ferdinando Goergen, agricultor Reinoldo Goergen, agricultor Alberto Arenhardt, constru-
tor Alberto Van der Sand, agricultor
Sebastião Bieger, agricultor Nicolau
Watthier, agricultor Otto Goergen,
empresário Christovão Lange, ferrei-
ro Affonso Bohn, agricultor Jacó Bru-
no Arenhardt, agricultor Jacó Wat-
thier e agricultor Henrique Overgoor.
Os estatutos da Caixa Rural
de Serra Cadeado foram transcritos
no ato de sua fundação, num total
de 10 capítulos. Definiam normas da
cooperativa para admissão e demis-
são de sócios, empréstimos, direitos
e deveres e previa também um fun-
Foi na presidência de Germano Hickmann que se comemorou os 25 anos da
do de reserva para reparar eventuais
Caixa Rural

55
Caminhos da História - Augusto Pestana em 145 anos de imigração

prejuízos.
Os objetivos bem como os estatutos que no geral eram baseados nos estatutos da caixa de
Nova Petrópolis, foram aprovados por unanimidade e foi eleita a primeira diretoria com José Lange como
presidente, José Norbert como gerente, Theobaldo Weiler como secretário.
José Norbert acabou centralizando as atividades, pois no grupo era um dos que detinha mais
estudo. Os primeiros anos foram difíceis, a sede era na própria residência de José Norbert. A Caixa Rural
só era aberta quando chegava algum associado para ser atendido, isto porque o gerente atendia o ser-
viço da caixa e o da lavoura situado nos arredores da casa. Quando aparecia um colono, o gerente era
chamado com um assovio de chifre de boi.
Além de Norbert, Theobaldo Weiler e João Kipper Filho eram professores e integravam o grupo
de associados. João Kipper Filho veio para Serra do Cadeado em outubro de 1917, casado com a profes-
sora Verônica Kipper, sendo que faleceu em 7 de agosto de 1928, deixando a esposa com 48 anos e seus
11 filhos. Em janeiro de 1930 aos 50 anos de idade Verônica associou-se a Caixa Rural sendo assim a
primeira mulher a integrar o quadro associativo da entidade.
Norbert tinha conhecimento e era uma pessoa de grande credibilidade. Os associados compre-
endiam o funcionamento da caixa e a segurança era devido à confiança que tinham em Norbert, pessoa
séria e competente. Por isso em vez de guardar o dinheiro em casa, quando vendiam sua produção le-
vavam o dinheiro na caixa. Além do controle nos livros de contas-correntes, cada depositante tinha uma
caderneta com os registros de depósitos e retiradas.
Não somente moradores de Serra Cadeado usufruíam dos benefícios da caixa, mas também
imigrantes instalados fora do distrito sede
fizeram empréstimos para adquirir lotes de
terra e durante a primeira década de exis-
tência da caixa 447 pessoas se associaram
sendo 85% agricultores e 15% da área urba-
na (médico, marceneiros, alfaiates, barbei-
ros, oleiros, sacerdote, professores, hote-
leiros entre muitos outros). Também nesta
época 10% dos associados eram da sede do
município de Ijuhy.
A cada nova eleição de diretoria,
novos presidentes eram eleitos, mas José
Norbert continuava como gerente. Foi as-
sim em 5 de março de 1950, quando Germa-
no Hickmann foi eleito presidente e como
secretário Lourenço Winkelmann. Naquele
ano, foi organizada a festa dos 25 anos de
existência da caixa que foi comemorado em
21 de maio com um grande churrasco com
a presença de cerca de 500 pessoas e convi-
dados especiais.
Em 1955, José Norbert com proble-
mas de saúde foi substituído por seu filho
Henrique Norbert. José Norbert faleceu em
1956 e seu filho acometido de uma grave
Germano Hickmann um dos presidentes da Caixa Rural, futura
Sicredi Augusto Pestana

56
doença faleceu dois anos mais tarde. Em 28 de agosto de 1957, quando Henrique Norbert já manifestava
os primeiros sintomas da doença, em reunião da diretoria, a gerência passou a ser de Lourenço Winkel-
mann e a secretaria ficou a cargo de Benno Van Der Sand. Germano Hickmann promoveu a primeira
reforma estatutária da Caixa, adequando o estatuto a novas regulamentações federais.
Na época, o quadro social da caixa já contava com aproximadamente mil matrículas e a resi-
dência da família Norbert ficou pequena. Em 1958, Germano Hickmann e Lourenço Winkelmann apre-
sentaram o projeto e no ano seguinte, foi aprovada a aquisição do terreno em frente a praça onde existia
uma casa de madeira que havia sido a residência do Dr. Sampaio. A antiga casa da família de José Norbert
ainda existe e encontra-se habitada pela família do Sr. Levinus Goergen.
Apesar da crise na economia gaúcha entre os anos 1950 e 1960, a caixa seguia direcionando
recursos para a construção de sua sede. O golpe militar de 1964 traz um novo modelo econômico nacio-
nal baseado na intervenção oficial no controle da economia. O Banco Central fechou a Central das Caixas
Rurais do RS em Porto Alegre e das mais de 60 existentes no estado sobraram umas 10.
Em 1966, devido a mudanças na legislação, é alterado o estatuto e o nome para “Cooperativa
de Crédito Raiffeisen de Augusto Pestana”. Foi incluído no nome, além do termo cooperativa, Augusto
Pestana, porque nesta data o município já estava emancipado. Neste ano ainda é inaugurada a nova sede
administrativa, que atualmente é ocupado pela Câmara Municipal de Vereadores e Emater/Ascar RS.
Ao longo do tempo, ocorreram diversas mudanças estatutárias que foram exigidas das coo-
perativas de crédito. Importante destacar que em julho de 1992 a Central de Cooperativas de Crédito
do Rio Grande do Sul (Cocecrer), em assembleia decidiu utilizar um sistema de compensação própria,
por intermédio da empresa Redesys Informática e ainda decidiu padronizar a denominação da Cocecrer
para Sistema de Crédito Cooperativo (Sicredi), e todas as filiadas à Sicredi central passam a denominar-se
Sicredi, com o nome do município de origem. Assim a cooperativa de Augusto Pestana que havia sido
denominada Cooperativa de Crédito Rural Pestanense LTDA (Credipel), passa denominar-se Sicredi Au-
gusto Pestana.
A partir de 1993 a Sicredi começa a se expandir para Ijuí, com postos ou caixas avançados. Pri-
meiramente, junto ao Sindicato dos Trabalhadores Rurais no centro de Ijuí. Depois na Ceriluz e Cotrijui
em Ijuí e em Bozano. Em 2006 é inaugurada a atual sede do Sicredi no centro de Augusto Pestana.

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Caminhos da História - Augusto Pestana em 145 anos de imigração

58 Alberto Van Der Sand


ALBERTO VAN DER SAND
Alberto Van der Sand nasceu em 12 de fevereiro de 1895 na Holanda. Com onze anos saiu
do interior e foi morar em Rotherdam com seu pai, sua mãe e seus irmãos. Lá estudou, fez o primário,
o horário da escola era das 8h ao meio-dia e à tarde das 13h30 até ás 18h. Estudou por quatro anos e
depois foi trabalhar. Seu pai era um comerciante que trabalhava no porto e fiscalizava as especiarias
que chegavam da Índia, empacotava e comercializava.
Começou a faltar dinheiro, e surgiram as propagandas sobre a “terra do leite e do mel”, no
Brasil. A promessa era vinte e cinco hectares de terra quando na Holanda quem tinha um hectare era
da alta sociedade.
Assim resolveram vir para o Brasil. Embarcaram em outubro de 1909, quando tinha 16 anos,
levaram três semanas para chegar, na ilha das flores no Rio de Janeiro. Estavam no navio 20 famílias
da Holanda e também da Alemanha, Polônia e Turquia. Ficaram oito dias na ilha onde foram inspecio-
nados e medicados.
Segundo Alberto Van Der Sand, depois partiram para Porto Alegre e de lá para Cruz Alta. Não
havia trem e tiveram que ir a pé até Ijuí. Quando chegaram, as autoridades e chefes da colônia estavam
os esperando e foram encaminhados para o Buracão dos Imigrantes, onde ficaram catorze dias. Depois
um nos levou para conhecer a colônia.
Ficaram na colônia até o ano de 1912, quando foram morar na cidade de Ijuí, trabalhando
como operários, Alberto trabalhou de pedreiro. Assim compraram duas colônias de terra onde foi mo-
rar até o ano de 1917, quando se deu conta que era mais lucrativo ser pedreiro. Foi construir a Igreja de
Santo Cristo, depois de Cerro Largo.
Pessoas de Augusto Pestana em visita a Cerro Largo, se interessaram em construir a Igreja
aqui. É a Igreja que hoje está em frente à praça e para construí-la, ele e a comunidade tiveram que pedir
esmolas para arrecadar fundos. As famílias auxiliaram, sendo que cada semana tinha mais ou menos 7
famílias envolvidas.
Depois construiu também a Igreja Evangélica, o clube, o seminário, o hospital, a cooperativa
de crédito rural entre outros.
Foi assim que viveu em Augusto Pestana, casou-se e teve filhos e netos. Foi em homenagem
aos trabalhos prestados em Augusto Pestana que o auditório do Sicredi recebeu o nome de Alberto
Van Der Sand.

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Caminhos da História - Augusto Pestana em 145 anos de imigração

Pe. Francisco Burmann, nasceu em Valmede,


60 na Westfália - Alemanha, em 20 de julho de 1868
PADRE FRANCISCO
BURMANN
A Paróquia São José, de Augusto
Pestana, foi criada por decreto de S. Excia.
Revma. Dom Miguel de Lima Valverde, pri-
meiro bispo de Santa Maria, em 09 de março
de 1922, desmembrada da Paróquia da Nati-
vidade de Ijuí e Divino Espírito Santo de Cruz
Alta, abrangendo o território compreendido
entre os rios Ijuizinho e Conceição e dos li-
mites civis entre os municípios de Ijuí, Cruz
Alta e Santo Ângelo. Antes desta data a cura
das almas estava a cargo dos Padres de Cruz
Alta, que de tempos em tempos, em longas e Terreno da Igreja Matriz, foi doado pela família José Lange à Mitra
penosas viagens a cavalo visitavam seus fiéis. Diocesana, onde foi construída uma Igreja de tábuas/Arquivo MADP

Naquela época Augusto Pestana era conhecida como Cadeado, em alusão aos primeiros imi-
grantes que quando aqui chegaram encontraram um portão com um cadeado que tiveram que quebrar
para tomar posse das terras.
Em 10 de março de 1922 foi nomeado o Padre Francisco Burmann, como vigário. O terreno da
Igreja Matriz, foi doado pela família José Lange à Mitra Diocesana, com uma superfície de 6500 m², tendo
100m de frente e 65m de fundo.
Sobre este terreno havia, na data da fundação da paróquia, uma Igreja de tábuas, erguida em
1916; uma casa canônica de alvenaria, construída em 1921 e uma casa escolar. Em 1926 foi substituí-
da a igreja de madeira pela atual e imponente matriz com uma
majestosa torre, construída pelo próprio povo sob a competente
direção do Pe. Burmann e do Sr. Alberto Van Der Sand. A casa ca-
nônica foi também demolida e no mesmo local, construída uma
de dois pavimentos, mais condizente com suas finalidades. Foi
diretor da construção o Sr. André Tábile. Em 1928 Pe. Burmann foi
chamado para exercer suas funções na Alemanha e foi substitu-
ído pelo Pe. Germano Schröer. Em 1930 o Pe. Burmann volta da
Alemanha e reassume suas funções de vigário.
Em 1932 o Padre Burmann iniciou uma campanha para
construção do Colégio Santo Alberto e a primeira ala foi inaugu-
rada em 27 de novembro deste mesmo ano. Permaneceu como
vigário até 1942 quando assume a direção espiritual da Paróquia,
o clero secular na pessoa do Revmo Pe. Carlos Arnaldo Schulze,
substituído pelo Pe. José Borgert em agosto de 1943.
Em 1945 a paróquia foi restituída aos Padres Palotinos, e
é reassumida pela terceira vez pelo Pe. Burmann, que pediu um Em 10 de março de 1922 foi nomeado o
Padre Francisco Burmann, como vigário da
auxiliar e foi designado o Pe. Euclides Guarienti. Além dos Párocos Paróquia São José, de Augusto Pestana

61
Caminhos da História - Augusto Pestana em 145 anos de imigração

já citados também exerceram suas fun-


ções na Paróquia e deixaram seus nomes
gravados na história, pela sua dedicação à
causa religiosa:

• Pe. Agostinho Michelotti - 1946


• Pe. José Stefanelo 1946 - 1947
• Pe. Vendelino Bender 1947 - 1949
• Pe. Antonio Michels 1949 - 1955
• Pe. Aquiles Rossato 1955 - 1959
• Pe. José Cancian 1959 - 1967
• Pe. Belino Costa Beber 1967 - 1972
• Pe. Vicente Pillon 1972 - 1974
• Pe. Valentin Zamberlan 1974 - 1983
• Pe. Hugo Antes 1983 - 1990
• Pe. Eraldo Paulus 1991 - 1992
• Pe. João Alberto Bagolin 1992 - 1996
• Pe. Hilário Dewes 1996 - 1998
• Pe. Wunibaldo Rieckziegel 1999 - 2005
• Pe. Silveste Ottonelli 2006 - 2014
• Pe. João Sênio Wickert 2014 atualmente
Em 1926 foi substituída a igreja de madeira pela atual e imponente matriz,
construída sob a direção do Pe. Burmann e do Sr. Alberto Van Der Sand

O Padre Dorvalino Rubin, atuou no Colégio Santo Alberto e teve um trabalho destacado na
comunidade, ele foi o secretário da comissão pró-emancipação.
O lançamento da pedra fundamental para construção do Centro Comunitário - Salão Paro-
quial - aconteceu em 01/12/1968, e foi dirigida pelo Pe. Belino Costa Beber, onde funcionou o Ginásio
Duque de Caxias, Escola Técnica de Comércio, agência do Banrisul, Biblioteca Municipal, entre outros. O
prédio foi ampliado posteriormente sendo anexado um pavilhão para salão de festas.
Atualmente está sendo o térreo ocupado por lojas e o restante do prédio usado para as pasto-
rais e eventos da comunidade. Também está em construção uma ampliação com mais quatro lojas no
térreo e o pavilhão de festas.
Pe. Francisco Burmann, nasceu em Valmede, na Westfália - Alemanha, em 20 de julho de 1868,
no seio de uma família profundamente cristã e de muita disciplina. Entrou no Seminário de Másio, com
26 anos como postulante a irmão leigo com a intenção de trabalhar nas missões em Camarões, na África.
Por opção ocupou-se inicialmente com trabalhos de jardim, horta, serviços da casa e sacristão.
Em 1897 foi apresentado ao Noviciado e sentiu-se chamado ao sacerdócio, sendo ordenado
sacerdote em 17 de julho de 1905. Tudo indicava que iria para a África, mas em agosto recebeu a ordem
para preparar-se para viajar para o Brasil. No dia 15 de setembro embarcou para o Brasil, no transatlântico
chamado “Rio Grande” e chegou ao Rio Grande do Sul no dia 31 de outubro, depois de 40 dias de viagem.
Grande foi sua alegria ao ser recebido pelo Pe. C. Giessler, Superior da Missão, e Pe. V. Rumpel, que sem-
pre esparramava alegria e otimismo, em Porto Alegre.
Depois de quatro meses, deixou a capital e veio para as colônias dos imigrantes italianos, em-
barcando pela primeira vez em trem brasileiro. Iniciou as atividades em Vale Vêneto, e como não sabia
cavalgar fez o percurso Arroio Grande-Silveira Martins-Vale Vêneto, mais de 30 km a pé.

62
Em fins de 1921 veio para a Capela São José de Cadeado, onde foi o primeiro pároco, a partir de
09 de março de 1922, quando foi criada a Paróquia. Ausentou-se da paróquia por dois anos para ir à Europa.
No dia 02 de fevereiro de 1938, fundou a congregação da doutrina cristã na Paróquia São José
do Cadeado, em uma assembléia com a presença de professores e professoras, quando o vigário Francis-
co Burmann leu e explicou os estatutos da Congregação e “mostrou que todo o mal que presentemente
está no mundo tem a sua raiz na ignorância religiosa”. Todos os presentes foram de acordo em fundar a
congregação para combater a ignorância religiosa.
Sua morte fora predita por ele 15 dias antes e se recomendava à orações dos paroquianos. Nos
últimos dias tinha muito trabalho e estava com uma perna enferma. Deu um período de 15 dias de pre-
paração intensa de catequese às crianças para a Primeira Eucaristia, a realizar-se no dia 08 de dezembro.
No dia 08 fez a Primeira Eucaristia das crianças. No domingo seguinte fez um sermão de agra-
decimento ao povo por ter sido tão generoso para com ele. Tudo indicava ser um sermão de despedida.
De fato, aos 10 de dezembro de 1945, com 77 anos e 40 de sacerdócio, depois de 18 anos e 9 meses em-
pregando suas melhores energias para o desenvolvimento espiritual do povo de Cadeado, após a missa,
à mesa do café, foi surpreendido por um ataque cardíaco e morreu. Foi sepultado no cemitério local.
No livro tombo da paróquia o Pe. Agostinho Michelottti descreveu a morte do Pe. Burmann:
“Repentinamente, aos 10 de dezembro de 1945 faleceu o sectuagenário Pe. Francisco Burmann, em con-
seqüência de uma angina pectoris, pelas 9:15 da manhã, após haver celebrado missa na Matriz. O povo
de Cadeado, em peso compareceu à cerimônia de sepultamento, reconhecendo nele, o seu primeiro
vigário e apóstolo incansável que dera a vida pelo seu rebanho. A cerimônia foi presidida pelo Vigário
Forâneo e Pároco de Ijuí Padre Francisco Pio Busanello, como representante do Exmo Sr. Bispo Dioce-
sano D. Antonio Reis. No cemitério, o Pe. Angel Bisognin, coadjutor de Cruz Alta, fez a oração fúnebre,
ressaltando, no extinto, as qualidades de bom Pastor que dá a vida por suas ovelhas. O Dr. Orlando Dias
Athayde tomou a palavra para dizer das grandes obras realizadas pelo finado sacerdote, dentro da paró-
quia e para a paróquia.
Com seu Espírito culto e compreensivo, coração generoso, caráter reto e justo, soube por sua
conduta e por suas maneiras, captar a simpatia, sem distinção, de todas as pessoas, por isso seu faleci-
mento foi uma perda imensa para o então 2º distrito de Ijuí.
O Pe. Burmann distinguiu-se entre todos os sacerdotes que assumiram os destinos espirituais
da paróquia, pelo tempo e pela bondade e dedicação com que a governou, sendo que até hoje o povo
guarda na memória sua recordação contada por seus antepassados.
Para externar sua gratidão para com este grande apóstolo, o povo de Dr. Pestana construiu na
praça em frente à Matriz, um monumento preparado pelo escultor Sr. Ricardo Bazzan, com o busto do
padre e a inscrição:

HOMENAGEM DO POVO DE VILA DR.PESTANA


A SEU GRANDE AMIGO E BEMFEITOR
P. FRANCISCO BURMANN S.A.C.

Sacerdote exemplar dedicou toda a vida sacerdotal ao bem do povo e cuidou com zelo das voca-
ções sacerdotais. Era também cheio de saúde e clarividência. Quando na Europa expirava sua mãe, esta-
va a falar no púlpito e disse aos fiéis: “acaba de falecer minha mãe”. Certa vez, em Nova Palma, Júlio de
Castilhos, após rezar a missa, convidou os fiéis a rezarem pela alma de um doente que ele havia visitado,
há alguns dias, e qual não foi a surpresa geral, quando chega um mensageiro da família, comunicando
o falecimento desta pessoa, fato este ainda não sabido pelo Pe. Burmann. Ele previu também com an-

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Caminhos da História - Augusto Pestana em 145 anos de imigração

Padre Burmann cumprindo suas funções promovendo a primeira comunhão dos jovens da Paróquia São José

tecedência de uma semana, sua morte, a qual se verificou tal e qual ele havia previsto. Existem muitas
histórias que são contadas por pessoas da comunidade que ainda hoje são preservadas.
Segundo a Sra. Olga Scarton, na comunidade de Rosário teve uma época em que havia tanto
mosquito borrachudo, que as mulheres, que na época só usavam saia, não aguentavam mais. Chamaram
então o Pe. Burmann, que rezou uma missa e fez uma procissão para acabar com os mosquitos, insti-
tuindo o dia 17 de novembro como um feriado religioso na comunidade. Conta que a partir desta data
sumiram os borrachudos.
A irmã da Sra. Olga, Sueli Wildner conta que ela também participou muitas vezes da procissão
que iam até Esquina Gaúcha rezando, mas aos poucos a comunidade esqueceu do acontecido. Outro
fato muito lembrado e preservado até hoje é a bênção da cidade: Segundo a Sra. Maria Dalila Finckler
o fato aconteceu quando ela tinha 9 anos e tinha vindo para a catequese a cavalo. Uma pessoa da co-
munidade queria que o padre celebrasse o casamento de sua filha que já era casada na Igreja e estava
separada. Como ele disse que não podia fazer isso, que não era permitido, o pai da moça veio a cavalo
com um laço e chamava o padre para fora da casa que queria laçá-lo e arrastá-lo até morrer. Alguns mo-
radores conseguiram convencer o homem a não fazer isso e o levaram embora. Ela contou que todas as
crianças choravam muito. Foi quando o Padre Burmann saiu da casa paroquial, levantou as mãos para o
céu, rezou e abençoou a cidade dizendo: Hoje uma tormenta e pedras aconteceram aqui, enquanto eu
estiver vivo vou rezar um Pai Nosso, para que nenhum temporal destrua Cadeado e quando eu morrer,
enquanto um estiver rezando um Pai Nosso para o pai do céu e lembrando de mim também não vai
acontecer. Disse também que ele benzia as casas e cantava a Ave Maria. O senhor Oldemar Schneider
contou a história do seu pai: o padre vinha de rezar missa numa capela, de aranha, quando levantou um
temporal em Esquina Gaúcha, onde seu pai trabalhava na cooperativa de banha. Ele viu que estava aber-
ta a chincha do cavalo, foi correndo atrás e conseguiu fazer o padre parar. Ele então chinchou o cavalo,
rezou, benzeu a tormenta e esta se desviou. Como recompensa o padre foi até a casa do pai de Oldemar
alguns dias depois e deu-lhe uma fotografia dele.
Também o senhor Beno Veit conta a história da grande seca que aconteceu em Cadeado no

64
ano de 1944. Ele era sacristão (ajudante
do padre). Estava secando tudo e havia
a preocupação de falta de água. O Padre
Burmann chamou os quatro sacristãos
e mais algumas pessoas da comunidade
para fazerem uma procissão pedindo a
chuva.
Foram quatro dias de cami-
nhada, no primeiro dia foram cami-
nhando até o Marmeleiro e voltaram
rezando com a cruz à frente. No segun-
do dia foram até a Sede Velha e volta-
ram. No terceiro dia foram até a Esquina
Igreja Católica, Casa Paroquial Pe. Burmann/Arquivo MADP
Gaúcha e voltaram e no quarto dia até
a Ponte Branca. Dizem que a poeira era tanta que afundava os pés e a caminhada não foi fácil. Cada dia
quando chegavam à sede o padre rezava e dava a bênção. Disse que em 10 dias iria chover. Quando pas-
saram em frente à Igreja evangélica um senhor da comunidade que morava na frente, na casa da esquina
que até hoje existe, falou que se chovesse ele iria fazer uma doação pros católicos. Passados apenas cinco
dias a chuva já começou e choveu muito, e acabou a seca. E a doação foi feita.
Outro fato contado pelo senhor Beno aconteceu num dia de muita chuva em que o Padre o
chamou para ir a Coronel Barros onde iria rezar missa. Foram de aranha, uma espécie de charrete, puxada
a cavalo, e quando chegaram no rio, nos Franco, este estava transbordando. Não tinha ponte e a travessia
era impossível. Mas o Padre pegou o seu terço, começou a rezar e disse que atravessariam. Ele ficou com
muito medo, mas quando ele comandou o cavalo ele nadou e a aranha nadou atrás e não afundou. Este
fato diz que até hoje não dá para entender como não afundaram.

Procissão em Augusto Pestana/Arquivo MADP

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Caminhos da História - Augusto Pestana em 145 anos de imigração

SANTO ALBERTO

O prédio do antigo Santo Alberto

O Colégio Católico Santo Alberto existia perto da Igreja Matriz, sendo que foi fundado em 15 de
abril de 1932, pelo Padre Burmann, devido à necessidade de um estabelecimento de ensino para a mocidade
masculina. O nome do colégio é em homenagem a Santo Alberto Magno.
Foram comprados o terreno e a moradia do Sr. Benjamin Schwerz, sendo que a casa foi o primeiro
espaço utilizado como colégio. Com uma campanha do então padre Burmann em 27 de novembro de 1932,
iniciou a construção de um prédio destinado a colégio e internato. Todo de alvenaria, com dois pisos, sendo
o primeiro destinado a salas de estudos, secretaria, capela, refeitório e cozinha e o segundo para dormitório.
O colégio foi totalmente construído pelo povo de Augusto Pestana, que abandonando suas obriga-
ções particulares dedicava-se a edificação do prédio. Os tijolos, madeira e outros materias eram transportados
com carroças de bois, o trabalho era todo manual, podendo-se avaliar o tempo que essa boa gente levou para
concluir uma obra de tal envergadura.
Juntamente com o colégio foi adquirida pela comunidade e doada a Congregação Palotina uma
colônia de terra. Em 01 de março de 1933 a escola passou a funcionar parcialmente no novo prédio com 20
alunos internos e 8 externos. Servia de pré seminário e de colégio de irmãs. Os estudantes que ali se dedica-
vam à formação religiosa, provinham dos mais variados pontos do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná
e das vizinhas repúblicas da Argentina, Chile e Uruguai. Entre os alunos ilustres está o ex-senador e ministro
do Tribunal de Contas da União, Alberto Hoffman.
Em 01 de março de 1936, com a inauguração de uma nova ala, começou a funcionar uma escola
apostólica, para formar futuros missionários Palotinos, que durou até março de 1938, quando foi fechada.
Em 1940 chegaram as Irmãs Ursulinas oportunizando cursos diversos como: Piano, Violino, Dati-
lografia, Bordados e Costura, além da instituição do internato para meninos. Permaneceram em Augusto
Pestana até 1945, sendo que em junho deste ano foi fundado pelos Palotinos o noviciado dos Padres e Irmãos

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Colégio Santo Alberto foi inaugurado em 27 de novembro de 1932 a partir de uma campanha liderada pelo Padre Burmann

Palotinos da Província de Nossa Senhora Conquistadora de Santa Maria/RS. O Noviciado é o período em que
os seminaristas se aprofundam na espiritualidade e no carisma do Fundador, no caso São Vicente Pallotti.
Também estuda a história do fundador, suas obras, a Lei Fundamental da Sociedade do Apostolado Católico.
Houve também estudos voltados a área de filosofia durante esse tempo de noviciado, não propria-
mente a faculdade de Filosofia. O noviciado funcionou até o início da década de 70. Ao lado do colégio foi
também construído em 1949 um pequeno santuário da Mãe e Rainha Três Vezes Admirável de Schoenstatt,
que era muito visitada pelos fiéis que a veneravam, onde procuravam bênçãos de paz, alegria e felicidade.
Era neste minúsculo santuário onde aconteciam no dia 18 de cada mês romarias, sendo o maior tesouro da
paróquia, pois era o refúgio para todos os habitantes do distrito, no qual encontravam a paz o bem espiritual.
No ano de 1973, o Pe. José Joaquim Pillon, Reitor Provincial da época, autorizou a venda do terreno
e do prédio do Colégio Santo Alberto por um valor simbólico, sem a preocupação de obter grandes ganhos
com a venda.
Também o santuário foi demolido em 1974 e o altar ficou no fundo da Igreja matriz até a cons-
trução da Capela Mãe e rainha Três Vezes Admirável de Schoenstatt no Bairro Esperança. O terreno para a
construção da capela foi doado em 1987 pelo Sr. Arlindo Finckler e logo em seguida foi iniciada a construção
com a ajuda de voluntários e doação de muito material, que tem uma área de 109,6m². Foi inaugurada em 18
de outubro de 1989 já com o altar na capela onde os fiéis rezam o terço todas as segundas-feiras e no dia 18
de cada mês é celebrada a santa missa.
No dia 18 de outubro de 2014, para marcar os 100 anos da aliança de amor da Mãe e Rainha e os
25 anos da Capela, foi realizada uma procissão saindo da Casa Recanto da Produção e após foi celebrada uma
missa festiva para marcar a data.

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O professor Guilherme Clemente Köhler nasceu em 7 de abril de 1901,
na cidade de Santa Cruz do Sul. Ele iniciou a carreira de educador ainda jovem/Arquivo MADP
GUILHERME CLEMENTE
KÖHLER
Pioneiro da educação em Augusto Pestana e Ijuí, o professor Guilherme Clemente Köhler
nasceu em 7 de abril de 1901, na cidade de Santa Cruz do Sul. Ele iniciou a carreira de educador ainda
jovem, pouco depois de se casar com Alvina Vieira, aos 16 anos, na cidade de Santa Maria, em 1937.
Mudou-se para Ijuí com o intuito de criar uma escola. E assim o fez. Ele foi o fundador do Instituto
Comercial de Ijuí, em 15 de março de 1938. Esse é um marco da educação do município.
A iniciativa de Guilherme abriu caminho para que se implementasse o curso propedêutico,
3 anos mais tarde, em 1941. Este, foi transformado em um curso técnico, da área de contabilidade e
o instituto, então passou a ser chamado de Ginásio Duque de Caxias e Escola Técnica de Comércio
Ijuí, que formou centenas de alunos durante seus anos de exercício.
A escola criada pelo professor Guilherme começou com apenas 7 alunos e funcionou no
mesmo prédio que anos mais tarde pertenceu à loja Willy Rieger & Cia. Ltda. Ao fim do primeiro ano
letivo, já eram mais de 100 estudantes no local. Ele criou, com o apoio de lideranças locais - incluin-
do o prefeito da época, Emílio Martins Bührer, uma campanha para que a sede própria da escola fosse
construída. O prédio, localizado onde se estabeleceu mais tarde a Escola Estadual de Ensino Médio
Ruy Barbosa (comumente chamada de Ruyzão), bem mais amplo do que o utilizado inicialmente, foi
inaugurado em 18 de março de 1941.

Inicialmente o Ginásio funcionava no salão da Comunidade Evangélica Santo André, posteriormente foi transferido para o centro
Comunitário da Paróquia São José até sua extinção/Arquivo MADP

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Caminhos da História - Augusto Pestana em 145 anos de imigração

Na década de 60, o Ginásio


Duque de Caxias foi transferido de Ijuí
para Augusto Pestana, ainda com a dire-
ção do professor Guilherme e, depois, de
seu filho, João Leonardo Vieira Köhler.
O curso esteve ativo até 31 de maio de
1973. Guilherme era casado com Alvina
Vieira Köhler, de cujo casamento nas-
ceram: João Leonardo, José Cláudio e
Luiz Carlos. O casal também criou dois
filhos adotivos, os gêmeos José Geraldo
e José Geraldino da Cruz.
Clovis Vogt, aluno da 1ª tur-
ma do Curso Ginasial Duque de Caxias,
conta que o colégio era particular, ini-
ciou suas atividades no Município em
1967 com um exame de Admissão rea-
lizado nas dependências da Sociedade
Cantora e Ginástica, mais de 50 alunos
realizaram o exame de Admissão para
50 vagas, mas nem todos concluíram a
4ª série.
Inicialmente o Ginásio fun-
cionava no salão da Comunidade Evan- Ele foi o fundador do Instituto Comercial de Ijuí,em 15 de março de
1938. Esse é um marco da educação do município/Arquivo MADP
gélica Santo André, posteriormente foi
transferido para o centro Comunitário
da Paróquia São José até sua extinção.
O ginásio em Ijuí foi extinto, funcionava somente o 2º grau no curso de Contabilidade no turno da
noite, e durante o dia o ginásio no Município de Augusto Pestana e posteriormente o ginásio na Vila
Jóia. Mais tarde terminaram o 2º grau em Ijuí e abriram o 2º grau Noturno em Augusto Pestana. Em
1970, Guilherme Clemente Köhler falecia no Muncípio de Ijuí, onde morou desde que criou a Escola
Particular no Município, que foi pioneiro. Posteriormente passou a Direção para seu filho, o Advoga-
do e Professor João L. Vieira Köhler.
Posteriormente a Escola foi extinta, porque o 2º grau não tinha Registro no MEC, depois
foi regularizado entre a 9ª CRE de Cruz Alta e o Colégio Particular Duque de Caxias, sendo que a 1ª
turma que concluiu o curso em 1974, só recebeu o certificado de conclusão em 1976.
Naquela época ensinavam muito a Ética e a Moral, pois todos tinham que usar uniforme,
caso contrário não podiam frequentar as aulas. Todas as quartas-feiras os alunos teriam que usar o
traje de Gala, ou seja, camisa branca, calça preta, sapato e gravata. Antes de ingressar na sala todos
os alunos formavam uma fila em frente ao prédio e cantavam o Hino Nacional Brasileiro e todos
na posição de sentido, quem não se adequava às normas tinha um castigo, copiar o Hino Nacional
umas dez vezes e entregar no dia seguinte antes de ingressar. Depois que faleceu Guilherme, seu
filho João, não se mostrava muito interessado em continuar com o Magistério, pois sua profissão de
Advogado era mais rentável, e optou por fechar a escola.

70
Na década de 60, o Ginásio Duque de Caxias foi transferido de Ijuí para Augusto Pestana, ainda com a direção do professor
Guilherme e, depois, de seu filho, João Leonardo Vieira Köhler. O curso esteve ativo até 31 de maio de 1973/Arquivo MADP

Kohler conduzia as cerimônias


de formatura dos alunos, que
eram solenidades importantes
e prestigiadas na região

71
Alfredo Pellenz.
Arquivo Museu Dr. Orlando Dias Athayde.
ALFREDO PELLENZ
Nascido em 17 de outubro de 1908, na cidade de Montenegro, Alfredo Pellenz era filho de Fe-
lippe Pellenz e Helena Pellenz, ele natural da Alemanha. A família mudou-se para Santo Cristo, na época
pertencente a Santo Ângelo, onde fixou residência. Em 1º de maio de 1929, foi incluído como voluntário
no serviço militar, junto ao quartel em Santo Ângelo e em 20 de outubro daquele ano apresentou-se em
Ijuí, época em que conheceu quem seria sua futura esposa, Elma Zimmermann, tendo baixa do serviço
militar em 1º de junho de 1930, passando então a residir na Vila Dr. Pestana.
Desta forma Alfredo Pellenz mudou-se para Augusto Pestana em meados do ano de 1930,
com 21 anos de idade, adquirindo uma fração de terras da família Zimmermann, na localidade de Ponte
Branca, na época Vila Dr. Pestana, distrito do município de Ijuí, onde exercia a atividade profissional de
seleiro e agricultor. Como curiosidade, consta em sua caderneta militar: “A 3-3-1930, foi dispensado por 6
dias, como recompensa aos bons serviços prestados ao seu esquadrão, compondo, como correeiro todo
o arreamento que de conserto carecia”.
Assim, em 1º de junho de 1930, desde a baixa do serviço militar, passou a residir definitiva-
mente em Augusto Pestana, na localidade de Ponte Branca. Era proprietário de uma fábrica de arreios
e selas para cavalos, curtimento de couro, fabricando inclusive calçados e outras utilidades em couro,
atendendo a comunidade do município e região. Devido ao volume de serviço, era auxiliado por alguns
empregados, já que na época, o cavalo era um dos principais meios de transporte.
Em 25 de junho de 1934, casou-se com Elma Pellenz, natural do Distrito Dr. Pestana, filha de
Reinholdo Zimmermann e de Emma Zimmermann, com quem teve nove filhos: Audilo José Pellenz, Her-
medo Pellenz, Hardi Valdir Pellenz, Ary Helio Pellenz, Orlando Mirton Pellenz, Rui Willimar Pellenz, Normy
Marli de Moura, Mirian Athayde e Nelcy Therezinha Pellenz.
Alfredo faleceu em 11 de maio de 1987, deixando filhos, netos e bisnetos. A família sempre teve
participação política no município. A filha Mirian era casada com Orlando Dias Athayde, médico e pri-
meiro interventor de Augusto Pestana. O filho Orlando Mirton Pellenz foi vereador por duas legislaturas
e prefeito no mandato de 1983 a 1988. O ginásio de esportes foi construído durante o mandato de 1983
a 1988, tendo sido concluído depois da morte de Alfredo. Foi uma obra muito desejada pela população,
que carecia de um local coberto para a prática esportiva e que demandou empenho e trabalho da equipe
e do prefeito Orlando que, orgulhoso pela conquista da obra, mas abalado pela morte de seu pai, ocorrida
em 1987, o qual sempre lhe apoiou e aconselhou durante a trajetória política, decidiu por homenageá-lo,
denominando então de “Ginásio de Esportes Alfredo Pellenz”.

Placa que registra


a homenagem
ao ex-prefeito
Alfredo Pellenz
que denomina o
Ginásio Municipal.

Fachada do Ginásio Municipal de Augusto Pestana

73
João Batista Deboni teve forte vínculo com o legislativo,
sendo eleito vereador mais votado em 1976
JOÃO BAPTISTA DEBONI
João Baptista Deboni nasceu no dia 5 de fevereiro de 1922, na localidade denominada Arroio Bo-
nito, no município de Augusto Pestana, outrora Ijuí. Era um dos onze filhos de Francisco Deboni e de Joana
Deboni. Frequentou a escola primária no colégio Silveira Martins de Arroio Bonito, Augusto Pestana, e mais
tarde o curso ginasial no colégio Rainha dos Apóstolos, localizado em Vale Vêneto, hoje pertencente ao
município de São João do Polêsine.
Foi incorporado ao Exército Nacional em 02/05/1939, sendo licenciado das fileiras do Exército em
03/01/1945, quando tinha a patente de 3º Sargento, tendo sido convocado para a 2ª Guerra Mundial. Foram
quase seis anos de Exército, onde acumulou prêmios, distinções, honrarias, com uma extensa ficha de servi-
ços - mais de 30 elogios públicos lançados na sua ficha. No Exército destacou-se também nas competições
esportivas, tendo sido campeão em esgrima e arremesso de peso. Em 9 de novembro de 1946, casou com
Olinda Luiza Deboni, com quem teve três filhos, Francisco Deboni, Alberi Deboni e Maria Beatriz Deuts-
chmann. Sua descendência, hoje, inclui além do genro e duas noras, sete netos e seis bisnetos.
Após o exército, voltou a trabalhar na agricultura e viticultura por alguns anos, em Arroio Bonito.
Na mesma localidade constituiu uma empresa em sociedade com os irmãos José Deboni e Waldomiro De-
boni, e ainda com Francisco Bazana, uma sociedade que pendurou por 35 anos. A empresa era especializada
na compra e transportes de suínos, cereais e outros produtos e mercadorias dos agricultores. Mantinham
ainda, uma casa de comércio, que, como todas da época, supriam todas as necessidades da comunidade,
tais como alimentos, roupas, tecidos, ferramentas.
João Baptista Deboni teve ligações com a política local, tendo forte vínculo com o legislativo. Em
15/11/1976 foi eleito Vereador com uma expressiva votação. Na época, num universo de 4.760 eleitores e 27
candidatos à vereança, recebeu 421 votos, ou seja, 11,1968% dos votos válidos, tendo sido o mais votado.
Foi vereador de 1977 à 1983, exercendo a presidência pelo período de dois anos. Assumiu, também, o exe-
cutivo municipal nas férias do então prefeito Alfredo Schmidt. A votação alcançada nas eleições somente
foi superada pela votação de seu filho Francisco Deboni, que foi vereador da primeira Sessão Legislativa do
município, quando exerceu o cargo de presidente nos quatro anos de mandato. Na ocasião foi o mais vota-
do, recebendo 584 votos, o que chega a aproximadamente 23% dos eleitores da época.
As atividades profissionais, a vida pública, e as atividades em benefício da comunidade lhe rende-
ram o reconhecimento público. Através da Lei Municipal nº 863, de 7 de dezembro de 2004, a primeira rua
paralela à RS 522, lado sul, iniciando junto a rua José Norbert, seguindo no sentido leste, foi denominada
Rua João Baptista Deboni. E, através de Resolução 1 de 2008, da Câmara Municipal de Vereadores, a sala de
Sessões da Câmara foi denominada Plenário João Baptista Deboni.
João Baptista Deboni dedicou sua vida à família. No seio da família, e na comunidade em geral,
ele distinguia-se pelo seu bom humor, espírito de solidariedade humana e principalmente pelo respeito ao
ser humano.

75
Alfredo Schmidt.
Arquivo Museu Dr. Orlando Dias Athayde.
ALFREDO SCHMIDT
Natural de Augusto Pestana, Alfredo Schmidt nasceu em 01 de maio de 1923, sendo filho de
Otto e Luise Schmidt. Casou com Elfrida e teve três filhas: Asta Palmira, Lair Loiva e Sonia Teresinha.
Iniciou a sua carreira na vida pública em 1950, quando concorreu ao Legislativo de Ijuí pelo
então PRP, ao qual pertencia o Distrito de Dr. Pestana. Não conseguiu eleger-se, ficando como suplente.
Em 1955, elegeu-se vereador pelo então distrito. No ano de 1959, foi presidente do Sindicato dos Traba-
lhadores Rurais de Ijuí. Foi eleito novamente vereador em 1963. Durante o mandato, foram extintos todos
os partidos políticos. O bipartidarismo foi instituído. Entre o MDB e a Arena, optou pela Arena.
Em 1966, ocorreu a instalação do município de Augusto Pestana, tendo sido nomeado inter-
ventor federal Orlando Dias Athayde, seguido do Cel. Victor Hugo Martins, até que fosse eleito o primeiro
prefeito. Alfredo Schmidt assumiu como chefe do Executivo em 31 de janeiro de 1969.
Iniciando a administração, voltou-se prioritariamente para o fortalecimento da infraestrutura
socioeconômica e administrativa, tais como a implantação dos serviços telefônicos, da rede de distri-
buição de água, calçamento das principais ruas, construção de prédios escolares e aquisição de equi-
pamentos para o parque de máquinas. Nesse período foi construída a ponte sobre o Rio Conceição. Ao
final do mandato, ao transmitir o cargo ao seu sucessor Ari Hintz, em 31 de janeiro de 1973, foi convidado
a permanecer como secretário municipal de obras, função que exerceu por três anos. Assumiu pela se-
gunda vez a chefia do Executivo em 1977 e ficou até 1983. Neste mandato, foi escolhido através de con-
curso aberto às pessoas da comunidade o cognome do município. A comissão julgadora apontou como
vencedora do concurso Lydia Emília Heinen, com a escolha do título Recanto da Produção. Outro fato
interessante de impacto cultural foi a gravação do LP da Banda Municipal Jorge Antônio Müller.
Além das atividades político-partidárias, teve importante atuação comunitária, em diretorias
de entidades como a Associação Protetora Hospital São Francisco, Cotrijui, Sindicato dos Trabalhadores
Rurais, Cooperativa de Banha de Cruz Alta e Comunidade Evangélica da IECLB.

Alfredo Schmidt ao lado de Ari Hintz e do Coronel


Vitor Hugo, todos exerceram a chefia do Executivo
do Município de Augusto Pestana

Alfredo Schmidt dá os primeiros passos como líder dos


trabalhadores rurais.

77
Caminhos da História - Augusto Pestana em 145 anos de imigração

O Parque de exposições sedia a Associação dos Funcionários Municipais.

Faleceu em 10 de novembro de 1990, Pestana para Ijuí semanalmente.


tendo sido decretado luto oficial de três dias e Quando assumiu o primeiro mandato de
tendo recebido reconhecimento e várias homena- prefeito, fazia papel de conselheiro em desavenças
gens póstumas, entre as quais a denominação do com divisas de propriedades, animais invadindo as
Parque Municipal de Exposições e Eventos Alfredo propriedades, fechamento das estradas. Era procu-
Schmidt, através de Lei municipal no 76/1992 de rado muito para resolver não só questões públicas,
17 de novembro de 1992. Foi em 1990 que a admi- mas também as viagens para a Capital eram parti-
nistração municipal adquiriu uma fração de terras culares, sempre de ônibus. Os meios de comunica-
para futuras instalações do Parque de Exposições. ção eram precários. O ideal era o agendamento de
O prefeito era Darci Sallet. O projeto foi aprovado audiências e todas as necessidades do município,
em 12 de março daquele ano. Foram adquiridos que não eram poucas, documentadas e apresenta-
169.105 metros quadrados de área com a finalidade das para solicitar recursos e serviços públicos.
sócio-folclore-cultural, localizado, às margens da Como a infraestrutura e a aquisição das
ERS 522. máquinas rodoviárias ocorria gradativamente,
Segundo relato da filha Sonia, seu pai Alfre- cada conquista era muito comemorada e sociali-
do Schmidt, era um apaixonado pela política, tendo zada com os munícipes. As inaugurações de obras
exercido três mandatos de vereador no município eram acompanhadas e abrilhantadas pela Banda
de Ijuí, sem remuneração, nem ajuda de custos das Municipal “Jorge Antônio Müller”.
despesas, deslocando-se do interior de Augusto

Placa em que registra


a data de inauguração
do Parque de Exposições
que leva o nome do ex-prefeito
Alfredo Schmidt

78
O pórtico de acesso ao Parque de Exposições

Parque de Exposições Alfredo Schmidt

Vista aérea do Parque de Exposições Alfredo Schmidt

79
Felipe Fredolino Sost
FELIPE FREDOLINO SOST
Felipe Fredolino Sost, natural de Montenegro, filho de Johanes Sost e Guilhermina Kerber, nas-
ceu no dia 20 de novembro de 1895. Fixou residência com os pais na localidade de Fundo Alegre, já ca-
sado com Dona Otília Barbara Scherer. Eles exerciam a profissão de agricultores.
Tiveram cinco filhos, Selma, casada
com Ivan Kronbauer. Osvino, casado com Olívia
Hermann. Hedi, casada com Erich Kronbauer.
Herta, casada com Ilmo Klamt e Silda, que perma-
neceu solteira.
Foram casados mais de 60 anos, feste-
jaram suas bodas de ouro e diamante na cidade
de Augusto Pestana. Dona Otília faleceu no ano
de 1980 e seu Felipe no ano de 1982. Estão sepul-
tados no Cemitério Comunitário, bem como seus
pais falecidos, Johanes em 1948 e Dona Guilher-
mina no ano de 1951.
A família Sost denomina um dos bair-
ros de Augusto Pestana. O município recebeu um
grande impulso e a sua infraestrutura passou a
ser estendida em todos os aspectos, de acordo
com as necessidades.
A cidade cresceu. Aquele sítio urbano ori-
ginal foi ampliado. Foram criados bairros ainda
não oficializados: bairro Esperança, bairro Sost e
bairro Sol Nascente. O bairro Sost é o que mais se
desenvolveu. As terras num total de 13 hectares,
de propriedade do seu Felipe Sost, foram loteadas
há 25 anos atrás, num total de 150 terrenos, sen-
do 25 recebidos pelo Município para construção Otília Sost, esposa de Felipe Fredolino Sost

Felipe Fredolino Sost


e Otilia Sost
em comemoração
as suas Bodas de Ouro
com familiares.

81
de casas populares e a Escola de Educação Especial Arco Íris -Apae, também possui um Centro Comunitário.

Guilherme Klamt na inauguração da sede o Avante Futebol Clube,


cujo terreno foi doado por ele à entidade
GUILHERME KLAMT
Na década de 1940 o senhor Ernesto Goelzer adquiriu uma área de terras em frente a Comu-
nidade Evangélica Santo André para instalar o seu estabelecimento comercial, dando parte da mesma
ao Avante Futebol Clube para ser usada para campo de futebol e que ficou conhecido como “Estádio dos
Cinamomos”.
Esta área nunca foi legalizada pelo Avante Futebol Clube e, posteriormente, foi doada para a
Sociedade Cantora e Ginástica - Socagi, que loteou a área e promoveu a venda dos terrenos, cujo valor
arrecadado reverteu em melhorias na infraestrutura da sociedade.
Com a venda dos terrenos, na década de 1970, surgiu a necessidade de um novo espaço para
que os dois clubes existentes na época: Avante Futebol Clube e Esporte Clube Progresso tivessem o seu
estádio.
Os dirigentes dos dois clubes começaram a exigir da Administração Municipal um estádio.
Surgiu uma área ao lado da ERS/522, de propriedade do sr. Guilherme Klamt, e este doou a área ao mu-
nicípio. Também fez a doação de um terreno ao Avante Futebol Clube. Neste local existia um salão de
baile e a sede do clube.
Através da Lei Municipal nº 27 de 23 de novembro 1977, o local foi denominado Centro Esportivo
Municipal Guilherme Klamt em reconhecimento ao grande colaborador e desportista da comunidade pes-
tanense, o qual foi inaugurado em 1978.
O Centro Esportivo Guilherme Klamt contempla o campo de futebol, os vestiários, com túnel
de acesso ao campo, a pista de atletismo e o Ginásio Municipal de Esportes Alfredo Pellenz. Hoje, na área
doada por Guilherme Klamt foi construída também a Escola de Educação Infantil Estrelinha Dourada.
Guilherme Klamt era agricultor e tinha um soque de erva-mate, que se localizava nas imedia-
ções do Centro Esportivo. Posteriormente, transferiu a residência para a cidade de Ijuí, onde residiu até
o seu falecimento.

Inauguração do alambrado e vestiário do Centro Esportivo


Municipal Guilherme Klamt

O Centro Esportivo Municipal inaugurado em 1978 recebeu


o nome de Guilherme Klamt em reconhecimento ao grande
colaborador e desportista da comunidade pestanense.

83
Maestro Antonio Avelino Heinen
ANTONIO AVELINO
HEINEN
No dia 14 de janeiro de 1903, na Linha Travessa, município de Venâncio Ayres, nasceu Antônio
Avelino Heinen, o qual desde os 14 anos escolheu a música como profissão, sendo no início o violino seu
instrumento predileto, acompanhando seu pai que tocava gaita, animando festinhas familiares. Em 1918
apresentaram-se durante o carnaval no salão João Sausen. Durante três meses recebeu instruções sobre
“notas musicais” do professor Maestro Oscar Dreher.
Em 1919, mudou-se com seus pais à Serra Cadeado, onde em 1920 ingressou no “Jaz Müller”,
dirigido por Jorge Antônio Müller. Mais tarde, em 1926, fundou o Jaz Heinen, com oito integrantes o
qual tinha por maestro Avelino Heinen e em 1938 o Jaz era composto só pelos irmãos Heinen. Em 1948,
fundou-se o Jaz Heinen e Sausen e em 1951 a Banda Cinquentenário do Cadeado. Em 1952, Jaz Heinen
e Kunzler.
Em 1965, Avelino mudou-se para Três Passos onde assumiu a direção do Jaz Renz e da Bandi-
nha da Saudade, a qual participou de um concurso de bandas de Cruz Alta, tirando o 2º lugar, e a mesma
também gravou em disco. Em 1968, lá mesmo, também dirigiu o Jaz Copacabana.
Em 1970, regressou a Augusto Pestana onde assumiu o Jaz Maracanã. Em 7 de dezembro de
1970, participou da fundação da Banda Municipal de Augusto Pestana, sob o título “Jorge Antônio Müller”,
com 15 integrantes.
Em 1972, participando do concurso de bandas promovido em Ijuí, classificou-se em 2º lugar,
igualmente participando em 1973 de outro concurso na cidade de Cruz Alta, onde obteve o 3º lugar, tra-
zendo como prêmio dois belíssimos troféus. O registro musical foi gravado em disco.
O maestro dedicou a
sua vida inteiramente a músi-
ca, ocupando-se diariamente de
composições de mais e mais músi-
cas, além de cânticos para o coral,
sempre preocupado em aumentar
o repertório.
Como dirigente de corais,
Avelino se destacou. Durante cin-
co anos, desde 1922 a 1927, Ave-
lino dirigiu quatro corais e um
conjunto musical. Em primeiro
de janeiro de 1922, foi fundada a
Sociedade Cantora Lira. No mes-
mo ano, assumiu a direção do
Hulaner Sängerbund Fröhlich na
Esquina Gaúcha. No ano seguinte,
comandou mais o Gesangverien
Frohsinn da Sede de Cadeado. Por
volta de 1924, dirigiu o Gesanver- Conjunto Heinen da localidade do Cadeado hoje Augusto Pestana/Arquivo MADP

85
Caminhos da História - Augusto Pestana em 145 anos de imigração

A sociedade Gesangverein Frohsinn foi fundada em 1908. Maestro Heinen assumiu a direção do grupo pioneiro em 1923/Arquivo MADP

rein liederkranz de Arroio Bonito. Em 1948, mudou-se para Bom Princípio, onde fundou a Sociedade
Cantora Unida.
Quando se mudou para a localidade de Ijuizinho em 1975, assumiu a direção do já existente
Coral Evangélico - Rincão dos Müller, o qual mais tarde se integrou no Coro Lyra, que se denominou Coro
Misto da Sociedade Cantora Lyra. Aos fins de semana, tocava em festas e bailes.
Com a participação de Heinen entre outros impulsionadores da cultura, no dia 18 de maio de
1933, foi fundada na sede de Dr. Pestana, no 2º Distrito de Ijuí, a Sociedade Cantora e Ginástica. A mesma,
criada com a fusão de três outras sociedades que já existiam no Distrito: Gesangverein Frohsinn, Turnve-
rein Gut Heil e Kegelklub Progresso.
A primeira sociedade, a Gesangverein Frohsinn foi fundada no ano de 1908 pelos senhores
José Norbert e Julio Schneider, que tiveram a ideia de criar a sociedade com o intuito de fundar um coro,
mas o senhor Alois Tschiedel, sendo na época diretor de um coro, deu a ideia de fundarem uma socie-
dade cantora independente, onde esta seria destinada a participar de eventos que aconteciam na locali-
dade. A primeira reunião foi feita na casa de Alois no dia 8 de junho de 1908. Assim nasceu a Sociedade
Frohsinn, nome escolhido pelos 58 sócios que começaram a participar desta sociedade.
No dia 2 de abril de 1916, Julio Keller, Paulo Netz e Raimundo Petter fundaram a Sociedade Gut
Heil. Esta veio com o objetivo de educar fisicamente e moralmente a juventude do distrito, fazendo com
que a mesma estivesse preparada para enfrentar a luta pela existência. A sociedade realizava reuniões
regularmente e no ano de 1924 contava com mais ou menos 120 sócios.
A Sociedade Kegelklub Progresso, ou também chamada de Sociedade de Bolão Progresso, teve
sua fundação no dia 20 de outubro de 1926 e possuía como sede o bar do senhor Julio Keller. Lá eram

86
realizados com regularidade os exercícios bolonísticos e vários torneios, sendo que com estes eventos a
vida social da localidade era alavancada.
Foi no dia 18 de maio de 1933, que as três sociedades realizaram a fusão e assim nasceu a
Sociedade Cantora e Ginástica (Socagi). Na primeira diretoria Alexandre Cardinal ficou como presiden-
te, Julio Keller (vice-presidente), Luiz Kronbauer (1º tesoureiro), Herbert Ekherdt (2º tesoureiro), Willy
Reverey (1º secretário), Guilherme Vöhringer (2º secretário), J.A. Mensch (diretor de canto), Guilherme
Doering (diretor de ginástica), Eduardo Kirchner (diretor de bolão), Guilherme Frantz (fiscal), Teobaldo
Weiler (diretor de teatro), Ernesto Goelzer, João Heinen, Reinoldo Schünemann e Reinoldo Zimermann
(conselho fiscal).
A Socagi desenvolveu-se rapidamente e para poder ter uma sede própria comprou na época o
salão e moradia de Carlos Fischer, localizada na vila Dr. Pestana. Com esta compra foram transferidas as
pranchas de bolão para a nova sede e a parte do canto e da ginástica continuaram sendo difundidas com
grande êxito na sociedade. Os estatutos da Sociedade Cantora e Ginástica foram escritos e registrados
na Língua Portuguesa, com isso quando houve a 2ª Guerra Mundial, muitas entidades foram fechadas,
enquanto a Socagi manteve-se em pleno funcionamento, sendo nesta época o presidente Orlando Dias
Athayde.
Com o tempo, a Socagi não correspondia mais com as necessidades, desde tamanho e local.
Assim, com determinadas condições, a sede foi vendida e o extinto Tiro de Guerra de Dr. Pestana doou
em um grandioso gesto de solidariedade um terreno para que nesse fosse erguido um novo prédio para
a sede da Sociedade Cantora e Ginástica. A planta foi confeccionada pelo engenheiro Arno Glites.
Uma comissão composta na época angariou fundos com a comunidade para poder realizar a
construção do prédio, que ficou situada em local central da Vila Dr. Pestana, e com a arrecadação dos
recursos dava-se início a uma nova era e junto com a nova infraestrutura um intenso movimento no
sentido de ampliar as atividades que eram realizadas na sociedade.
No ano de 2010, a Socagi, sob a presidência de Edi Schmaltz, contava com 250 sócios pagantes
e 300 sócios honorários. A partir desta data foi administrada pelo presidente do conselho Elzevir Scherer,
por dois anos. Após esta data sem diretoria, o ecônomo Paulo Schneider, mantém a infraestrutura e a
utiliza como estabelecimento comercial.

Banda Municipal Jorge Antonio Müller e Coral Lira animam festa na localidade de Esquina Gaúcha

87
Dedicada ao Magistério, Verônica Kipper era natural da Rússia,
filha de Lorenço Shrspsck e Juliana Lenel.
VERÔNICA KIPPER
Patrona da Biblioteca Verônica Kipper, do Colégio Estadual José Lange, nasceu na Rússia, no
dia 2 de janeiro de 1880, filha de Lorenço Shrspsck e Juliana Lenel. Veio para o Brasil com um ano e meio
de idade fixando moradia em Estrela, onde residiu juntamente com seus pais, sendo que aos quatro anos
de idade ficou órfã. Já com sete anos foi para o colégio das Irmãs Franciscanas em Santa Cruz do Sul
onde estudou música e foi professora.
Casou-se aos 21 anos com João Kipper Filho, tendo deste casamento onze filhos, sete filhas
mulheres, quatro filhos homens, dos quais dois são religiosos, irmãos maristas. Dedicou sua vida dos 15
aos 61 anos de idade ao magistério. Faz o concurso para o magistério estadual em Rio Pardo, e logo após
foi nomeada professora estadual. Ainda foi professora em escola particular, ensinando a língua Alemã.
Em outubro de 1917, Verônica, juntamente com seu esposo, vieram para a Serra do Cadeado, então mu-
nicípio de Ijuí e atualmente município de Augusto Pestana, sendo uma das primeiras moradoras desta
cidade, fixou residência na Rua Guilherme Hasse.
Continuou exercendo sua profissão no quadro do magistério estadual, no então grupo escolar.
Aos 48 anos de idade ficou viúva. Era extremamente religiosa, dedicando-se à Igreja. Também dirigiu o
coral da igreja católica. Aos 61 anos de idade perdeu a visão, com o que sempre se conformou não dei-
xando médico algum tocar em seus olhos, tendo a esperança de recuperá-la. Durante todo este tempo,
dedicou-se à oração. Sua esperança não foi perdida, pois foi exatamente no dia 24 de janeiro de 1970 que
repentinamente Verônica enxergou novamente tudo a sua volta, aos 90 anos. Estava assim recuperada a
sua visão para sua alegria total. Veio a falecer no dia 14 de setembro de 1978, com 98 anos incompletos.
Em sua homenagem a Biblioteca da Escola José Lange tem como patrona, a professora, Verônica Kipper.

Reconhecida, Verônica Kipper foi homenageada tornando-se patrona da biblioteca da Escola José Lange

89
Caminhos da História - Augusto Pestana em 145 anos de imigração

ROSÁRIO
Em 1900 chegavam os primeiros imigrantes vindos da Itália e de Caxias do Sul, e começaram
a desbravar a terra fértil que aqui encontraram. Em 1908 começou a nascer à comunidade de Rosário.
História contada pelos moradores Augusto Callai, Avelino Scarton e documentação de membros da co-
munidade. A comunidade começou com a construção de uma pequena Capela, em um terreno doado
por Eduardo Callai, onde foi colocada uma imagem de Nossa Senhora do Rosário de Pompéia, trazida de
Caxias do Sul pela família de Augustinho Callai, segundo contam antepassados o significado do nome
de Nossa Senhora do Rosário de Pompéia, originou-se por ela ter sido trazida da Itália, de um lugarejo
chamado Pompéia, ao Sul de Nápoles, de onde vem a devoção do Santo Rosário. Pompéia foi destruída
por um Vulcão, mas o santuário de Pompéia foi restaurado e a devoção do Rosário naquele lugar propa-
gou-se pelo mundo e também em nossa comunidade, conservando até os dias de hoje.
Por volta dos anos de 1907 a 1920, incentivados por pessoas da região, que as terras aqui eram
muito férteis, com uma mata virgem, cheia de madeiras de lei de todas as espécies, chegavam mais co-
lonizadores à localidade. Chegaram de trem até a estação mais próxima, fazendo o restante do trajeto
em carroções, cavalos ou burros. Por ser a maioria imigrantes italianos e devotos de Nossa Senhora, o
primeiro nome da localidade foi Nossa Senhora do Rosário da Pompéia, segundo registros encontrados
em arquivos da Escola Miguel Couto. A comunidade mudou várias vezes de nome. Em 1931 passou a cha-
mar-se Arroio Paulo Domingos, em 1932, Lajeado Paulo Domingos, em 1938, Paulo Domingos, em 1941,
Nossa Senhora do Rosário, em 1949, Rincão Nossa Senhora do Rosário e em 1968, com a emancipação
do Município de Augusto Pestana, a localidade passou a ser o 1º distrito do Município com o nome de

90
Rincão Nossa Senhora do Rosário em 1959

Rosário, nome este que se conserva até os dias de hoje.


Por volta dos anos de 1935 a 1949 continuavam chegando imigrantes e a comunidade foi cres-
cendo. Houve a necessidade de construir outra Capela que foi próximo a antiga com o nome de Nossa
Senhora do Rosário. Com o aumento da localidade e da população a Capela novamente tornou-se pe-
quena, então mais uma vez a comunidade mobilizou-se para construir uma nova Capela mais no centro
da Vila.
No dia 11 de fevereiro de 1968 houve uma grande cele-
bração campal pelo padre Dorvalino Rubin dando a bênção à Pedra
Fundamental, num terreno doado pelo Sr. Giovane Stragliotto, e já
nesta época acontecia a 2ª Festa Regional da Uva, tradição esta que
se mantém até os dias de hoje. Hoje a Comunidade de Vila Rosá-
rio conta com uma infraestrutura ampla e arborizada onde acontece
anualmente a Festa da Uva e outros eventos da comunidade. Vila
Rosário é o 1º Distrito de Augusto Pestana e fica à 9 km da cidade.

Em 1900, Hermínio Mainardi E para resgatar a história deste povo, e a sua devoção à Nossa
e Sybila Gaboardi chegam ao Senhora do Rosário, no dia 04 de outubro de 2015, foi realizada a
local vindos de Encantado, de
naturalidade italiana, sendo a primeira caminhada “Caminhando com Nossa Senhora do Rosário”
escritura de propriedade datada saindo em frente à Igreja Matriz São José, junto ao monumento do
de 1903. Passa a produzir cachaça,
conforme anúncio registra. Padre Burmann, até a comunidade do Rosário, meditando e rezando

91
Caminhos da História - Augusto Pestana em 145 anos de imigração

onde já existe o projeto para constru-


o terço,

ção de um Santuário de Nossa Senhora do


Rosário, incentivando além da fé o turismo
religioso.
Para entender a devoção local é
importante conhecer um pouco da Histó-
ria do Santo Rosário à Nossa Senhora. No
ano de 79 d.C. ocorreu a famosa erupção do
Vulcão Vesúvio, que sepultou a cidade pagã
de Pompéia (Sul da Itália). Ali a aristocracia
romana gostava de passar o tempo com en-
tretenimentos e foi surpreendida pela súbita
Os primeiros imigrantes que começaram a colonização no Rosário,
destruição. No início do Século IX instala- serrando para construção de uma residência
ram-se nas proximidades famílias de campe-
sinos que construíram uma humilde capela.
Em 1872 chegou o advogado Bartolo Longo
(beatificado em 26 de outubro de 1980), que
trabalhava para a Condessa de Fusco, dona
dessas terras. Logo descobriu que, depois da
morte do sacerdote, já não haviam missas
na capela e poucos seguiam firmes na fé.
Uma noite, o advogado Bartolo
Longo viu em sonhos um amigo morto anos
atrás, que lhe disse: “Salva a esta gente Bar-
tolo! Propaga o Rosário. Estimula-os para
que o rezem. Maria prometeu a salvação
para aqueles que o fizerem”. Assim, Lon-
go trouxe de Nápoles muitos Rosários para 1ª igreja Nossa Senhora do Rosário em 1908.
distribuir e encorajou também a vários vizi-
nhos que o ajudassem a reformar a capela. A
população começou a rezar o Rosário, cada
vez em maior número.
Em 1878, Longo obteve de um
convento de Nápoles um quadro de Nos-
sa Senhora entregando o Santo Rosário a
São Domingos e Santa Rosa de Lima. Esta-
va deteriorado, mas um pintor o restaurou.
Este mudou a figura de Santa Rosa pela de
Santa Catarina de Siena. Posta sobre o altar
do Templo, ainda que inacabada, a Virgem
Santíssima começou a operar milagres. Em
08 de maio de 1887, o cardeal Mônaco de
Valleta, colocou na venerada imagem um
diadema de brilhantes bento pelo Papa Leão Festa dos primeiros imigrantes encontro dos moradores do Rosário e
do Rincão Seco
XII e em 08 de maio de 1891, deu-se a solene
consagração do novo Santuário de Pompéia,
que existe atualmente.

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Mutirão colheita da uva na propriedade de Erasmo Scarton

Família de pioneiro já promovendo a cultura da uva na comunidade

Em 1935, a 2ª Igreja Nossa Senhora do Rosário, junção Igreja Nossa Senhora Rosário, Santo Antonio e São Paulo
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Caminhos da História - Augusto Pestana em 145 anos de imigração

Expedicionários
na 2º Guerra Mundial

Eram os expedicionários: Eugenio Fernando Ladwig, Osvino Wunder, Alípio Schmidt, Benno Müller, Arnoldo Gustavo Frantz, João
Arthur Goergen, Emilio Papke, Valdemar Sehn, naturais de Pestana. E Helmuth Matter, mais Adelino Mathias Dambroz, Alfonso
Steiernagel, Albino Wilhens, Cebaldo Goergen, Osvino Henrique Geiss

Desde 1939, início do conflito, o Brasil assumiu uma posição neutra na Segunda Guerra Mun-
dial. O presidente do Brasil na época era Getúlio Vargas. Porém, esta posição de neutralidade acabou em
1942 quando algumas embarcações brasileiras foram atingidas e afundadas por submarinos alemães no
Oceano Atlântico. A partir deste momento, Vargas fez um acordo com Roosevelt (presidente dos Estados
Unidos) e o Brasil entrou na guerra ao lado dos Aliados (Estados Unidos, Inglaterra, França, União Soviéti-
ca, entre outros). Era importante para os Aliados que o Brasil ficasse ao lado deles, em função da posição
geográfica estratégica de nosso país e de seu vasto litoral.
A Força Expedicionária Brasileira, conhecida pela sigla FEB foi a força militar brasileira que par-
ticipou daquela campanha, constituída principalmente por uma divisão de infantaria. Adotou como lema
“A cobra está fumando”, em alusão ao que se dizia à época: “Mais fácil uma cobra fumar cachimbo do que
o Brasil participar da guerra na Europa”.
A participação militar brasileira foi importante na Segunda Guerra Mundial, pois somou forças
na luta contra os países do Eixo (Alemanha, Japão e Itália). O Brasil enviou para a Itália (ocupada pelas

94
forças nazistas), em julho de 1944, 25 mil 384
militares da FEB (Força Expedicionária Brasi-
leira), entre eles 42 pilotos e 400 homens de
apoio da FAB (Força Aérea Brasileira). A força
expedicionária brasileira foi incorporada ao
IV corpo do V exército americano. Mesmo
com problemas na preparação e no envio, já
na Itália, treinada e equipada pelos america-
nos, a FEB cumpriu as principais missões que
lhe foram atribuídas pelo comando aliado.
Os pracinhas brasileiros começa-
ram a participar dos combates em meados
de setembro de 1944. As dificuldades foram
muitas, pois o clima era muito frio na região
dos Montes Apeninos, além do que os solda-
dos brasileiros não eram acostumados com
relevo montanhoso.
Militares brasileiros da FEB (tam-
bém conhecidos como pracinhas) consegui-
ram, ao lado de soldados aliados, importan-
tes vitórias. Após duras batalhas, os militares
brasileiros ajudaram na tomada de Monte
Castelo, Turim, Montese, Zocca, Camaiore,
Petra Colora, Soprassasso, Fornovo, Monte
Prano, Barga, La Serra, Castenuovo, Marano
Su Parano, Collecchio e Camaiore.
Apesar das vitórias, em torno de
470 militares brasileiros morreram em com-
bate, em terras italianas. A Força Expedicio-
nária Brasileira (FEB) ajudou os países aliados
a derrotarem os alemães. Durante as batalhas,
que os militares brasileiros participaram na
Segunda Guerra Mundial, cerca de 14 mil sol-
dados alemães se renderam aos brasileiros.
Entre os 25.384 soldados enviados
para a guerra nove eram de Dr. Pestana, hoje
município de Augusto Pestana. Estes foram
os senhores: Eugenio Fernando Ladwig, Os-
vino Wunder, Alípio Schmidt, Benno Müller,
Arnoldo Gustavo Frantz, João Arthur Goer-
gen, Emilio Papke, Valdemar Sehn e Helmuth
Matter. Após a guerra, vieram residir em Au-
gusto Pestana, os soldados Adelino Mathias
Dambroz, Alfonso Steiernagel, Albino Wi-
lhens, Cebaldo Goergen e Osvino Henrique
Geiss. Homenagem aos soldados de Augusto Pestana que
participaram da 2ª Grande Guerra Mundial.

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Agora escreva aqui a sua parte nessa história de Augusto Pestana.
Conte um pouco das origens da tua família no munícipio.
Pesquisadores

Leonair de Barros Sost Janis Loureiro Betina Maria Silva Adriano Guiotto Daniel de Almeida
Produtora Cultural/ Pesquisa/Redação/Edição Gestora do Blog do Pesquisa/Redação Pesquisa/Registro
Coordenadora do Projeto dos Textos e Imagens Projeto/Redação e Universitário do Curso Fotográfico
É Secretária de Gosta de ler e escrever. É Imagens de Administração pela Fotógrafo. Proprietário
Desenvolvimento jornalista, formada pela Acadêmica do Curso de UNOPAR. Dedica-se ao da empresa Daniel de
Econômico e Turismo. UFRGS. Trabalhou no Jornal Design na Unijuí de Ijuí. resgate da história em Almeida Fotografias, onde
Formada em Pedagogia da Manhã de Ijuí. Cursa pós- Diretora e Proprietária da seu trabalho na Biblioteca atua por 16 anos. Gosta do
com pós-graduação em graduação em Formação Agência de Design: BMS Municipal e no Museu estilo de fotojornalismo
Saúde Pública e Gestão de Pedagógica. É professora de Design Gráfico. Municipal do Município de em fotografias.
Turismo. marketing. Escreveu o livro Augusto Pestana.
A Força da Comunidade,
sobre o Hospital de
Caridade de Ijuí.

Fabiana Sá Gilberto João Zardin Oldemar Schneider Lirdi Nogara Salete Vogt
Pesquisa/Redação Corretor Ortográfico Pesquisa/Redação Pesquisa/Redação Professora/Pesquisa
Formada em Jornalismo Professor, formação letras Nascido na localidade Funcionária Pública Professora de Estudos
pela Unijuí e em Gestão com pós-graduação em de Rincão dos Müller em Municipal aposentada. Sociais, História e
de Empresas pela Fagep. ensino aprendizagem Augusto Pestana. Sempre Professora de História, Geografia da Unijuí. Natural
Trabalha atualmente na de línguas. Habilitação participou em diretorias de formada pela Unopar em de Tucunduva. Professora
Associação Comercial português. Exerce entidades da comunidade. 2014. Gosta de pesquisar a aposentada da Escola
e Industrial de Augusto docência na rede Participa do Coral 25 história e resgatar fatos do José Lange de Augusto
Pestana. Natural de municipal e estadual de de Julho e também é passado. Pestana. Gosta de ler
Curitiba, mas faz 17 anos ensino. integrante do Quarteto histórias e fazer trabalhos
que adotou a cidade de Adotivo da Paz fundado comunitários.
Augusto Pestana como sua em 2005.
cidade do coração.

Sonia Teresinha Zenaide Simon Nilvia Maria Mattioni Iclê Rhoden Adir Milton Kunz
Müller Hüller Pós-Graduada em Professora aposentada Secretário da Agricultura
Presidente da ACADESCA Pesquisa/Redação Geografia. Gosta de cantar, com graduação em e Meio Ambiente na
rezar e ajudar pessoas que Pedagogia, Pós-Graduada Prefeitura Municipal de
Professora aposentada com É Diretora de Cultura
formação em Química. necessitam. em Supervisão Escolar. Augusto Pestana. Gosta de
na Prefeitura Municipal
Foi diretora da Escola José Gosta de estar sempre em trabalhar na Zona Rural.
de Augusto Pestana. Foi
Lange de 1995 à 2000. Foi atividade.
comerciária 28 anos na
vereadora de 2000 à 2008. Cotrijui Augusto Pestana.
Foi coordenadora de RH da Tem curso incompleto de
36ª CRE de 2007 a 2010. É Letras na Unijuí. Sempre
Secretária de Administração e
gostou de ler e escrever.
atual presidente da Acadesca.

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Caminhos da História - Augusto Pestana em 145 anos de imigração

Bibliografia Consultada
MATHIONI, Nilvia. O Município de Augusto Pestana: A Ocupação do Espaço. Trabalho de Conclusão do Curso de Pós-Graduação em
Geografia. Unijuí, Ijuí, 1987.
ATHAYDE, Orlando. Cinqüentenário de Dr. Pestana. 2º Distrito de Ijuí, Ijuí, Ed. Gráfica Michaelsen, 1951.
LAUXEN, Sidéria. O Caminhar de um Povo. Rev. 10 e 16 anos. Impressão GESA, 1976 e 1982.
PESAVENTO, Sandra. História do Rio Grande do Sul. 3 ed. Porto Alegre. Mercado Aberto, 1984.
DREWS, Gustavo Arno e SCHOSSLER, Alexandre. 100 Anos. Uma Caminhada na Fé Cristã. Comunidade Evangélica Santíssima Trindade.
Augusto Pestana. Gráfica Kunde, 2003.
KLEIN, Edith. Comunidade Evangélica Santo André Augusto Pestana 100 anos. Ijuí. Gráfica GD, 2008.
CORREIO SERRANO. IJUÍ 83 ANOS. Ijuí. Gráfica Correio Serrano, 1973.
BRANDÃO, Neolange Culau. Fundação de Erico Verissimo e o Solar. Cruz Alta, 2013.
FACCO, Casimiro. Nossos antepassados palotinos. Cascavel
Para a história da Província Nossa Senhora Conquistadora (confrades falecidos)
Informações Palotinas - Informativo da Província Nossa Senhora Conquistadora-
Santa Maria/RS. (abril 1943).
Ata da benção e lançamento da pedra simbólica do edifício paroquial “Centro Comunitário São José”.
Livro A diocese de Santa Maria, 10 de maio de 1957.
Livros e atas da Associação Comercial de Augusto Pestana.
Documentos do Museu Municipal Dr. Orlando Dias Athayde, Histórico Municipal, 2014.
PEREIRA, Cláudio Nunes. Genealogia Tropeira. Rio Grande do Sul dos Séculos XIX E XX. Volume II. 2004
ZAMBERLAN, Jurandir. Boa Vista do Cadeado - suas origens missioneiras à município do século. Porto Alegre: Palotti, 2002.
SILVA, Nery Luiz Auler da. Arquitetura Rural do Planalto Médio Sec. XIX. Porto Alegre: Editora Imprensa Livre, 2004.
COSTA, Firmino. Terra de Vila rica: Contribuição ao Estudo da História do Município de Júlio de Castilhos. Publicação do Centro Cultural
Francisco Salles. Prefeitura Municipal de Julio de Castilhos, 1991.
GARCIA, Elisa Fruhauf. As Diversas Formas de Ser Índio. Editora Arquivo Nacional. 2015.
SILVA, Marilda de Almeida. Medicina em Ijuí. Editoraw Pacartes. 2012.
A Visita do Dr. Lindmann à Colônia Ijuhy. Janis Loureiro. Jornal da Manhã de Ijuí. 22 de novembro de 2008.
HAMMES, Hugo. Hoffmann - êxito e coerência/ Hugo Hammes. Editora Publicatto. Porto Alegre, 2006.
Correio Serrano. A História de Cadeado contada por um pioneiro. 23 de julho de 1966.
História da Caixa Rural União Popular de Serra cadeado - Hoje Sicredi das culturas RS. www.sidredi.com.br
Arquivo MADP - Museu Antropológico Diretor Pestana.
Livro de Ata da fundação da doutrina cristã da paróquia São José de Augusto Pestana.

Lista de logradouros existentes em Augusto Pestana


Guilherme Hasse: pioneiro da comunidade de Rincão Seco, foi funcionário municipal ocupando diversas funções como inspetor de quarteirão,
sub-delegado, sub-prefeito e prefeito substituto.
Eduardo Schünemann: pioneiro no desbravamento das matas nativas e do cultivo das primeiras sementes plantadas em solo pestanense.
Guilherme Ritcher: um dos primeiros colonizadores de Serra Cadeado.
Cel Antônio Soares de Barros: intendente de Ijuí e da sub-prefeitura de Dr. Pestana, distrito de Ijuí.
Guilherme Muxfeld: foi um dos intendentes da subprefeitura de Augusto Pestana.
João Batista Bernardi: agricultor. Foi intendente da sub-prefeitura de Dr. Pestana, tendo contribuído para o desenvolvimento e bem estar social.
José Norbert: fundador e gerente da caixa Rural Serra Cadeado.
Germano Hickmann: membro da primeira diretoria do Hospital São Francisco e comerciante.
São Francisco; homenagem ao Padre Francisco Burmann que foi um dos propulsores do município.
Dr. Orozimbo Sampaio: idealizador do Hospital São Francisco. primeiro médico formado por universidade brasileira com consultório neste
distrito.
Dr. Otto Rüdel: médico formado por universidade alemã.
Alexandre Cardinal: correspondente do Banco Industrial e Comercial Sul S.A, com notável atuação comunitária. Antigo morador e comerciante.
Luis Krombauer: membro da primeira diretoria da Sociedade e Ginástiva de Vila Dr. Pestana.
Humberto Cerezer: proprietário da fábrica de álcool desnaturado (Lustrador) e álcool retificado (Soberano) com engarrafamento próprio.
Albino Matte Filho: agricultor de renome, proprietário de grandes animais de raça e reprodução.
Aloys Tschiedel: fez parte dos primeiros moradores da sede Dr. Pestana, diretor de coro, sociedade cantante.
João Batista Deboni: primeiro funcionário municipal como inspetor de quarteirão de Dr. Pestana.
Alberto Van der Sand: importante idealizador na construção da nova Matriz Paróquia São José.
Ricardo Bazzan: renomado escultor o qual colaborou na criação dos monumentos na Praça Farroupilha.
Edwino Schröer: foi presidente da Associação Rural.
Otto Goergem: foi representante do conselho fiscal do Hospital São Francisco.

Depoimentos:
Padre Clesio Facco, Casa Provin- Otto Borgmann, Paulo Werno Lora Kunde. Maria Dalila Fincker.
cial de Santa Maria. Vogt, Ademar Krombauer. Oldemar Schneider. Beno Veit.
Bruno Van Der Sand. Neolange Toffoli Culau Brandão. Claudio da Silva Rufino. Olga Scarton.
Adriana P. Van Der Sand. Elsa Müller. Maria Guimarães da Silva Rufino. Sueli Maria Wildner.
Clovis Vogt, Dorvalino Deboni, Emílio Hasse. Roseli Müller. Sandra Köhler Müller.

98
Branco

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