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Rugas irretocáveis

Tenho cabelos brancos lindos,


reluzentes.

Não me lembro exatamente em que ano eles


começaram a branquear.

Tenho algumas rugas em volta dos olhos,


mas também não me recordo
quando elas começaram a aparecer.

Tento disfarçá-las,
tantas novidades no campo da dermatologia,
achei por bem aproveitá-las.

Clicar em cada slide para seguir.


Do corpo não cuido quase,
só recentemente entrei para uma academia por ordem médica.

Ele me disse que na minha idade preciso de exercícios.


Mas, falto mais do que vou, não gosto de fazer ginástica.

Das minhas unhas cuido semanalmente,


penso que elas são uma porta de visita.

Unhas maltratadas
causam uma péssima impressão.
De uns dois anos pra cá descobri os cremes,
ai compro um aqui outro ali e no
final não uso.

Porém, só de olhá-los na prateleira,


percebo que as rugas se retraem.

Mantenho a vaidade,
entretanto não em excesso,
penso que na medida certa para uma mulher.

Enfim os anos passam e as marcas que eles deixam em nós, não temos
como conter.
Nem pretendo isso.
Penso que cada marca que meu corpo carrega,
tem uma linda história.

Às vezes me pego na frente do espelho,


vejo uma nova pequena ruga
e já me coloco a calcular o que a causou.

Depois reencontro com outra


que já está lá vincada há anos
e me recordo quando ela apareceu.

Poderia enumerar também a história


de cada fio de cabelo branco.

Foram pais, filhos, marido, amigos... que


colocaram ali.

Não quero me desfazer de nenhuma dessas marcas, apenas


amenizá-las.

Mereço isso. A vida me deve isso.


Hoje a parte que merece mais a minha atenção, tem sido a
cabeça.

Tento, todos os dias, colocá-la no lugar,


equilibrá-la, alimentá-la com sonhos e alegrias.

Corpo e mente caminham juntos.

Se um estiver em estado lastimável,


o outro provavelmente vai se deteriorar.

Não escondo minha idade.


Não adiantaria falar que tenho trinta e cinco
e apresentar uma filha de vinte e cinco.

Portanto confesso:
Tenho sessenta anos, sou uma mulher “sex”.

Metade deles bem vividos,


a outra metade muito sofridos.
É aí que está o encanto da minha idade.
Conheci de tudo um pouco,
das lágrimas aos sorrisos e ambos me fizeram ser essa pessoa que sou agora.

Ficaram as rugas no rosto e na alma,


contudo ficaram sorrisos em ambos.

Minhas rugas mais bonitas


são aquelas marcas de expressão
que eu adquiri de tanto sorrir,
muitas vezes quando o coração chorava.

Autora: S. Duboc. Arte original:


Telmo Losquiavo.
Música: Outra Vez de Isolda por
Richard Clayderman.
L.H.K.

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