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Matthieu de Maupeou
Por todas essas razões, e por causa do desenvolvimento dos « mass media », da
liberdade de palavra para todos, das enquêtes de opinião, se tornou cada vez mais
complicado para um político conseguir ter uma boa imagem na opinião publica. Desse
modo, a partir dos anos setenta principalmente, todos começaram se cercar com
especialistas de comunicação. Esses famosos « spin doctors » apareceram no governo de
Reagan no momento da crise do « Watergate », a fim de destruir a imagem publica de
Richard Nixon e se fosse possível, do Partido Democrata inteiro. Artigos de jornais,
entrevistas ou debates na Televisão, discursos, maneira de se vestir, viagens
internacionais : todos os aspectos da vida pública e privada dos políticos se tornou
observada, analisada e julgada pela mídia e então preparados por seus conselheiros.
3
benefícios. Após um anúncio de “tax relief”, que adversário vai poder, vai se atrever a
denunciá-lo? Seria como se opor às pessoas vítimas de impostos pesados.
Ashley’s story1
Segundo Susan Allen, da universidade de Maryland, “os defensores dos dois campos
reconheceram a eficiência desta campanha3”. “Foi um exemplo de comunicação realmente
muito eficiente, comentou John Green, professor de Ciências Políticas na Universidade de
Akron em Ohio, porque contava uma historia pessoal, tratava de um tema importante,
complicado, o terrorismo, e o situava num contexto que as pessoas podiam compreender.
[...] O clipe quebrava um tabu usando a filha de uma vitima do 11 de Setembro para
transmitir uma mensagem política, mas poucas pessoas criticaram esse aproveitamento».
O maior impacto emocional da história de Ashley tinha muito a ver com seu caráter
“memorável, motivador e positivo”4. O clipe dura só um minuto, mas é verdade que é muito
eficiente: a montagem rápida de tomadas curtas apresentando os diferentes testemunhos
deixa o relato bastante coerente e crível. O presidente, figura central da narração, não se
exprime. Não expõe idéias, nem apresenta um programa. So é serenidade e bondade. A
1
http://www.youtube.com/watch?v=LWA052-Bl48
2
Susan ALLEN, « Ad Analysis », Political Advertising Resource Center, 19 de Outubro de 2004,
www.umdparc.org/AdAnalysisAshleystory.htm.
3
Ibid
4
Eric BOELHERT, « The TV ad that put Bush over the top »
4
jovem Ashley primeiro aparece em foto mas é ela quem anuncia a mensagem chave do
relato : “E o homem mais poderoso do mundo e quer assegurar-se que estou bem.”
Lee Atwater era o perfeito exemplo dessos conselheiros na sombra que o jornalista
Jack Rosenthal chamou spin doctors6 o 21 de Outubro de 1984, o dia mesmo do debate,
num editorial do New York Times. Os spin doctors se definiam como agentes de influência
que podiam fornecer argumentos, imagens e uma postura para produzir um certo efeito
sobre a opinião pública. Depois da derrota democrata de 2004, James Carville, um dos spin
doctors responsáveis da vitória de Bill Clinton em 1992, declarou : “Acho que poderíamos
eleger qualquer ator desde que tenha uma história para contar7.” “Um relato é a chave de
tudo”, afirmou também Stanley Greenberg, especialista das pesquisas de opinião no partido
democrata. Alguns dias depois, James Carville foi ainda mais explícita : “Os republicanos
dizem : “Nós vamos proteger vocês dos terroristas de Teerã e dos homossexuais de
Holywood”. Nós dizemos : “Nós somos por ar puro, escolas melhores, mais curas de saúde.”
Eles contam uma historia, nós recitamos uma ladainha8.”
Mas, é um relato o fato de afirmar “Vou proteger vocês dos terroristas de Teerã e dos
homossexuais de Holywood”? Provavelmente não, em termos de categorias literais pelo
menos. No entanto, usar esta frase no contexto das eleições procurava contar uma historia.
Segundo Francesca Polletta, “James Carville queria dizer que os eleitores republicanos
deviam escolher heróis contra maus; novas personagens que representavam a ameaça.
Enquanto os eleitores democratas deviam optar por uma mera lista de temas da vida
cotidiana.” Para ele, os republicanos conseguiram apresentar as apostas da eleição com
5
Francesca POLLETTA, It Was Like a Fever
6 O termo se inspirava do efeito dado a uma bola de tênis.
7 Citado por Francesca POLLETTA
8 Citado por William SAFIRE, « The way we live now narrative », New York Times Magazine, 5 de Dezembro de
2004
5
uma intriga acessível e usando emoções simples como o medo, a solidão, a necessidade de
proteção. Colocavam na cena eleitoral heróis simpáticos (a classe media norte-americana) e
maus (os terroristas de Teerã e os homossexuais de Hollywood) para criar entre eles uma
tensão narrativa que a eleição do candidato devia resolver.
Paul Begala, outro spin doctor democrata, explica que uma das razões da derrota de
John Kerry em 2004 foi sua incapacidade a contar uma historia coerente. “Se você não
comunicar com historias, você não esta comunicando. Os homens tratam as informações
sob uma forma narrativa. E por isso que, desde os mitos gregos, a historia da humanidade
sempre foi contada com relatos9.” Entre os doze segredos que permitiriam ganhar uma
eleição segundo ele, tem a arte de contar historias. “Os fatos falam, mas as historias
vendem.”
Seth Godin, um dos expertos do marketing mais famosos, faz a mesma analisa : “
Porque, depois de ter gastado 100 milhões de dólares, John Kerry perdeu as eleições contra
um rival que tinha uma popularidade muito baixa? E simples : não contou uma historia
coerente. Não difundiu uma mentira que valia a pena lembrar, uma historia da qual as
pessoas poderiam falar. [...] Enquanto George W. Bush encarnou com talento a personagem
do dirigente forte, convencido e infalível. Kerry quis combater com sua inteligência, mas
falhou porque poucas pessoas decidiram achar uma historia que elas percebiam obscura e
incoerente10.”
Interrogado por Newsweek em Outubro de 2006, James Carville opôs outra vez o
relato republicano à ladainha democrata : “Por que os democratas têm tanta dificuldade para
ganhar as eleições ? Porque recitam uma ladainha previsível : “Creio no direito das
mulheres de escolher sua vida. Creio que um bom sistema escolar é essencial para que
sejamos o que somos. Estou a favor de um salário mínimo”. Bla bla bla. E como quando era
coroinha : “Creio na virgindade de Maria. Creio neste e nisso. John Kerry contou sua
ladainha durante a campanha [de 2004], enquanto Bush dizia : “era alcoólico e fui salvado
pelo poder de Jesus e fui salvado pelo 11 de Setembro e vou proteger vocês dos terroristas
de Teerã e dos gays de Hollywood.” Os democratas tendem a recitar uma ladainha, em vez
de desenvolver um relato coherente. Concordo com muitos elementos desta ladainha. Mas
assim não é como vamos ganhar11.”
Contudo, algumas semanas depois da eleição de 2004, William Safire, com sua
experiência da comunicação política, zombou as explicações dada pelos spin doctors
democratas, num artigo cujo sub-titulo resumia bem o assunto : “The new story of “story”
and make sure it’s coherent”. Se o resultado tivesse sido inverso, “provavelmente os
9 James CARVILLE a Paul BEGALA, Buck up, suck up ans come back when you Fool up. 12 secrets from the War
Room, 2002
10 Seth GODIN, All marketers are liars.
11 « James Carville dissecting the Dems », Newsweek, 30 de Outubro de 2006
6
democratas se teriam congratulado que a campanha de Kerry tenha conseguido construir
um “relato coerente”. Depois de um acontecimento, há pessoas que querem controlar a
percepção e é o que fazem intervindo com um relato12”.
Para James Carville, “Ronald Reagan foi o melhor narrador da historia política desde
J.F.Kennedy, ainda que a maioria das historias que contava eram falsas.”. Para aumentar o
ressentimento contra o welfare State, Ronald Regan inventou a historia da “reina-
assistencia” (queen welfare) quem comprara uma Cadillac graças às bondades do governo.
A historia evidentemente era inventada mas a lição era clara : “Os Norte-americanos que
trabalhavam duro eram os heróis, a reina-assistencia era a má e os pobres representantes
da classe media desempenhavam o papel das vítimas. Reagan podia ler simplesmente uma
lista interminável de estatísticas demonstrando a expansão das gastos públicos, mas sabia
que uma historia teria um impacto muito maior”. “Reagan entendeu que a dimensão muito
concreta do storytelling sempre seria mas vivida que uma compilação de fatos.” Sob a
presidência de Reagan, o discurso oficial apelou mais ao coração dos Norte-americanos do
que à sua ração, à suas emoções do que à suas opiniões.
Segundo Richard Rose, autor em 1988 do livro The Postmodern President, “a chave
de uma presidência pós-moderna é a capacidade de manipular (o de fabricar) a opinião. O
resultado é uma espécie de campanha eleitoral permanente.”
Conclusão
Hoje em dia, o storytelling tem um impacto considerável sobre a vida política das
democracias. As campanhas políticas parecem cada vez mais como festivais de narração
onde a imprensa é ao mesmo tempo o ator e o público. A imprensa interpreta a historia,
utiliza as historias interpretadas para ela pelos spin doctors e satisfaz (às vezes) o apetite do
público para novos relatos. Hoje, o candidato que ganha é o candidato capaz de
desenvolver mais historias em conexão com mais eleitores. A historia de Lula é contada
num filme, mesmo antes do final do seu mandato. Tel vez porque as próximas eleições
estão chegando ...
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Citado por Antony MALTESE, Spin Control
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