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15/09/2008 – Matéria publicada no jornal Hoje em Dia

Edwaldo Cabidelli

O caminho para a Meta 2010


A dois anos do prazo estipulado pelo Governo de Minas para a conclusão do projeto, ritmo das
ações e integração dos setores responsáveis são as maiores dificuldades.

Navegar, nadar e pescar no rio das Velhas em seu trecho mais poluído,
a Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH). Este é o objetivo do
programa de “Revitalização da Bacia do Rio das Velhas – Meta 2010”, que, no
ano passado, tornou-se um dos 57 projetos estruturadores do Governo de
Minas Gerais. O trabalho de revitalização integra ações de prefeituras da
RMBH, sociedade civil organizada e poder público estadual, totalizando 38
órgãos participantes, sob coordenação da Comissão de Integração e
Acompanhamento da Meta 2010.

Para Apolo Heringer, coordenador do Projeto Manuelzão, vinculado à


Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e um dos idealizadores do
programa de revitalização, o ritmo das obras, apesar de acelerado, ainda está
aquém do necessário, tendo em vista o prazo estipulado. “Ações como as
Estações de Tratamento de Esgoto (ETEs) Arrudas e Onça desafogaram
bastante o volume de esgoto lançado no Velhas, mas a falta de sintonia entre
Governo do Estado e prefeituras municipais vem prejudicando o andamento
das ações. As coisas poderiam ser mais dinâmicas” diz Heringer.

O presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas (CBH-


Velhas), Rogério Sepúlveda, afirma que o elevado número de setores
envolvidos, apesar de demonstrar o alto grau de mobilização em torno do
alcance da meta, deve ser levado em consideração, também, como possível
fator prejudicial ao dinamismo das ações. Em 2004 o CBH-Velhas apresentou
ao Governo do Estado o Plano Diretor de Recursos Hídricos da bacia,
apontando o lançamento de lixo e esgoto não tratado como o principal
responsável pela poluição do rio.

Neste sentido são necessárias obras de saneamento direcionadas à


intercepção e coleta destes dejetos e sua posterior remoção às estações de
tratamento. Em muitos destes locais, para que as redes de esgoto sejam
implantadas, deve-se realizar, também, um trabalho de remoção das famílias
que ocupam, de forma desordenada, as margens do Rio das Velhas e de
muitos de seus córregos e ribeirões afluentes.

O esforço pela ampliação do sistema de esgotamento sanitário é


responsabilidade do Governo do Estado, por meio da Companhia de
Saneamento de Minas Gerais (Copasa), enquanto a remoção e
reassentamento das famílias fica a cargo das prefeituras municipais. Cada uma
das instituições possui um cronograma de obras específico, previamente
estipulado de acordo com suas possibilidades e prioridades.
Segundo a secretária municipal adjunta de Meio Ambiente de Belo
Horizonte, Flávia Mourão, na capital, existem duas alternativas para trabalhar
esta questão: o Programa de Desapropriação e Construção de Novas
Unidades Habitacionais e o Programa de Reassentamento em Função de
Risco ou Obras Públicas (Proas).

As obras relacionadas a estes programas integram ações de diversos


setores da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) e são extremamente complexas,
demandando um grande volume de investimentos, direcionados,
principalmente, às áreas onde a intervenção do poder público se faz mais
urgente.

“Programas como o Vila Viva ou a Revitalização do Córrego Isidoro, em


Venda Nova, dentre outras ações relacionadas à recuperação de áreas sócio-
ambientalmente degradas, contribuem diretamente para a Meta 2010, mesmo
que não sejam realizadas exclusivamente com essa finalidade”, ressaltou
Flávia Mourão.

Para Ronaldo Matias, superintendente de serviços e tratamento de


efluentes da Copasa e gerente do Projeto Estruturador da Meta 2010, o
ordenamento urbano é uma atribuição das prefeituras. Sendo a Copasa
responsável pela instalação de redes coletoras e interceptoras de esgoto, a
construção de estações de tratamento, além de toda infra-estrutura de
saneamento necessária para que a poluição não atinja os cursos d’água.

Com relação ao ritmo das ações, Ronaldo afirmou que, no caso de obras
públicas, existe todo um prazo legal que deve ser respeitado com licitações e
questões jurídicas. “Mas mesmo assim, nunca houve um ritmo tão acelerado e
um esforço tão intenso em termos de obras de saneamento em Minas”,
destacou o superintendente. Atualmente, existem 22 ETEs em funcionamento
na RMBH e mais 16 serão concluídas até 2010.

De acordo com o relatório do Instituto Mineiro de Gestão das Águas


(Igam), apresentado em 2008, o Índice de Qualidade da Água (IQA) do Rio das
Velhas, em seu trecho metropolitano, permanece classificado como ruim,
apesar de melhorias.

Segundo Myriam Mousinho, coordenadora da Meta 2010 pela Secretaria


de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), o ponto
crítico da bacia encontra-se logo após a entrada dos ribeirões da Mata, Arrudas
e Onça, principais afluentes poluidores do Velhas. “Este é o local onde se
concentram os maiores esforços de despoluição, pois sua recuperação
significa que grande parte do trabalho foi realizado”, comenta a coordenadora.

No total serão investidos R$ 1,2 bilhão no programa de revitalização até


2010. A Bacia do Rio das Velhas concentra 25% da população de Minas Gerais
e 1/3 de toda população da Bacia do Rio São Francisco, sendo o maior Produto
Interno Bruto (PIB) desta bacia e também seu maior afluente poluidor.
Sinal de Vida (intertítulo)

O Programa de Biomonitoramento das águas da Bacia do Rio das


Velhas, realizado pelo Projeto Manuelzão há oito anos em 37 pontos da bacia,
apontou a presença do Dourado, espécie de peixe bastante sensível à
poluição, na foz do rio, perto do município de Jaboticatubas. Este dado
representa uma aproximação em 585 Km do peixe em relação à RMBH, se
comparada às análises realizadas no início do programa.

A análise é feita a partir de dois tipos de bioindicadores. A primeira


analisa os peixes e a outra os bentos, organismos que vivem no fundo do rio e
servem como alimentos para os peixes. Com relação aos organismos
bentônicos, também foram diagnosticadas melhorias. Em 2003 foram
detectadas nove espécies do organismo, em 2005 este número subiu para 15 e
em 2008 estima-se que, até o final do ano, 20 espécies sejam catalogadas.

O Projeto Manuelzão, além do biomonitoramento das águas, realiza, no


âmbito da Meta 2010, um trabalho de mobilização social junto à comunidade
ribeirinha da Bacia do Rio das Velhas, formando uma ponte entre o poder
público e a sociedade.

Retranca (Box)

Comunidade ribeirinha – O olhar de quem está por perto

Alguns moradores da região de Santa Luzia, um dos 25 municípios da


RMBH por onde passa o Rio das Velhas, reclamam da falta de
comprometimento do poder público. Paulo Mendes, comerciante e morador de
Santa Luzia, próximo ao rio, diz até hoje nunca ter visto nenhum integrante do
governo, tanto em âmbito estadual como municipal, presente na região. Ele
ainda ressalta que o mau cheiro do rio continua o mesmo de anos atrás. “Para
mim, a Meta 2010 não chegou até aqui”, concluiu Paulo.

Ivani Rodrigues, voluntária do Projeto Manuelzão como fiscal do Rio das


Velhas, realiza coletas periódicas da água do rio e envia para a Universidade
Federal de Minas Gerais, onde o material é analisado pelo Programa de
Biomonitoramento. Para a voluntária, que mora a cerca de 500 metros do rio,
existe a necessidade de uma maior participação dos órgãos responsáveis pela
Meta 2010, junto à comunidade. “Deveriam ser instalados mais postos de
controle e monitoramento, além de não deixar a população se esquecer da
importância do projeto”.

Ronaldo Rodrigues, também morador ribeirinho de Santa Luzia,


considera visíveis as melhorias na situação do rio, desde o início do programa
de revitalização, principalmente com relação ao tratamento que esta sendo
feito do esgoto e a conscientização da comunidade em relação aos problemas
ambientais. “As aves e os peixes estão voltando a aparecer, coisa que já não
víamos há muito tempo aqui nesta região”.
Ronaldo comentou, ainda, sobre a possibilidade de ver seus filhos
nadando e pescando no rio, como seus pais faziam antigamente e como foi
prometido pelo Governo do Estado. “Seria um sonho não precisar se preocupar
mais se os nossos filhos vão pegar uma doença ao chegar perto do rio, e eu
acredito que o Governo vai conseguir esse objetivo, só não sei se já em 2010”.

De acordo com dados da Copasa, o volume de esgoto tratado na RMBH


aumentou cerca de 15 vezes, entre 2002 e 2008, passando de 5,2 milhões de
m³/ano para mais de 80 milhões . A previsão é tratar 110 milhões de m³/ano até
o final de 2010. O município de Santa Luzia trata atualmente cerca de 20% de
seu esgoto.

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