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Ganapati

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

Ecologia - Vegetarianismo - Ética - Espiritualidade

JUNHO 2010 Nº09

Belo Monte. A volta triunfante da Ditadura Militar.


Leonardo Boff

almente levando a questão a foros interna- zônica cuja vocação não é produzir ener-
cionais, sofreu coação da Advocacia Geral gia elétrica mas bens e serviços naturais de
da União (AGU), com o apoio público do grande valor econômico; desrespeito aos
Presidente, de processar os procuradores e técnicos do IBAMA e a outras autoridades
promotores destas ações por abuso de po- científicas contrárias a esse empreendi-
der. mento; desrespeito à consciência ecológi-
Esse projeto vem da ditadura militar ca que devido às ameaças que pesam sobre
dos anos 70. Sob pressão dos indígenas o sistema da vida, pedem extremo cuidado
apoiados pelo cantor Sting em parceria com as florestas; desrespeito ao Bem Co-
com o cacique Raoni foi engavetado em mum da Terra e da Humanidade, a nova
1989. Agora, com a licença prévia conce- centralidade das políticas mundiais.

O
dida no dia 1º de fevereiro, o projeto da Se houvesse um Tribunal Mundial de
Governo Lula possui méritos ine-
ditadura pôde voltar triunfalmente, apre- Crimes contra a Terra, como está sendo
gáveis na questão social. Mas na
sentado pelo Governo como a maior obra projetado por um grupo altamente quali-
questão ambiental é de uma incons-
do PAC. ficado que estuda a reinvenção da ONU
ciência e de um atraso palmar. Ao analisar
Neste projeto tudo é megalômano: sob a coordenação de Miguel d’Escoto,
o Programa de Aceleração do Crescimento
inundação de 51.600 ha de floresta, com ex-Presidente da Assembléia (2008-2009)
(PAC) temos a impressão de sermos devol-
um espelho d’água de 516 km2, desvio seguramente os promotores da hidrelétrica
vidos ao século XIX. É a mesma mentali-
do rio com a construção de dois canais de Belo Monte estariam na mira deste tribu-
dade que vê a natureza como mera reserva
500m de largura e 30 km de comprimento, nal.
de recursos, base para alavancar projetos
deixando 100 km de leito seco, submer- Ainda há tempo de frear a construção
faraônicos, levados avante a ferro e fogo,
gindo a parte mais bela do Xingu, a Volta desta monstruosidade, porque há alterna-
dentro de um modelo de crescimento ul-
Grande e um terço de Altamira, com um tivas melhores. Não queremos que se re-
trapassado que favorece as grandes em-
custo entre 17 e 30 bilhões de reais, desa- alizem as palavras do bispo Dom Erwin
presas à custa da depredação da natureza e
lojando cerca de 20 mil pessoas e atraindo Kräutler, defensor dos indígenas e con-
da criação de muita pobreza. Este modelo
para as obras cerca de 80 mil trabalhado- tra Belo Monte: “Lula entrará na história
está sendo questionado no mundo inteiro
res para produzir 11.233 MW de energia como o grande depredador da Amazônia
por desestabilizar o planeta Terra como um
no tempo das cheias (4 meses) e somente e o coveiro dos povos indígenas e ribeiri-
todo e mesmo assim é assumido pelo PAC
4 mil MW no resto do ano, para por fim, nhos do Xingu”.
sem qualquer escrúpulo. A discussão com
as populações afetadas e com a sociedade transportá-la até 5 mil km de distância.
foi pífia. Impera a lógica autoritária; pri- Esse gigantismo, típico de mentes tec-
meiro decide-se depois se convoca a audi- nocráticas, beira a insensatez, pois, dada a
ência pública. Pois é exatamente isto que crise ambiental global, todos recomendam
está ocorrendo com o projeto da constru- obras menores, valorizando matrizes ener-
ção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte géticas alternativas, baseadas na água, no
no rio Xingu no Estado do Pará. vento, no sol e na biomassa. E tudo isso
Tudo está sendo levado aos trambo- nós temos em abundância. Consideran-
lhões, atropelando processos, ocultando o do as opiniões dos especialistas podemos
importante parecer 114/09 de dezembro dizer: a usina hidrelétrica de Belo Monte
de 2009, emitido pelo IBAMA (órgão que é tecnicamente desaconselhável, exagera-
cuida das questões ambientais) contrário à damente cara, ecologicamente desastrosa,
construção da usina, a opinião da maioria socialmente perversa, perturbadora da flo-
dos ambientalistas nacionais e internacio- resta amazônica e uma grave agressão ao
nais que dizem ser este projeto um grave sistema-Terra.
equívoco com consequências ambientais Este projeto se caracteriza pelo desres-
imprevisíveis. peito: às dezenas de etnias indígenas que
O Ministério Público Federal que en- lá vivem há milhares de anos e que sequer
caminhou processos de embargo, eventu- foram ouvidas; desrespeito à floresta ama-

01
A Pergunta do Fariseu Anderson Reichow

V
ez que outra, a gente fica divagando so-
bre alguns conceitos formais aos quais
as ciências chegaram. Uma dessas tais
formulações científicas me garantiu bons minu-
tos de reflexão: vem das ciências humanas (um
nome tão aberto) a sentença de que o homem é
um animal social, gregário. Vejamos bem. Ani-
mal. Que vive em comunidade.
Sabe quando uma coisa leva a outra? Acabei
me concentrando na expressão “comunidade”.
Afinal, quem compõe esse complexo de rela-
ções que nomeamos comunidade? Certa vez es-
crevi uma exortação que enfrentava esse enig-
ma. Parece-me, a gregariedade do ser humano
é expressada com plenitude no famoso rifão
“ama teu próximo”. O problema consistirá em
saber quem é, de fato, o próximo. A resposta a
essa pergunta, concluí, responde também àque-
la.
Honestamente, a inquietação não me é ori-
ginal. Há séculos que se travam colóquios a
Sebastião Salgado
respeito da condição do outro, do próximo. Na
história recente da Filosofia ocidental, esta in- de um querer despretensioso do garoto, o cachorrinho se revela
terrogação foi fundadora do complexo pensamento de Emmanuel ator. Protagoniza e bem no centro dos acontecimentos , um ins-
Lévinas, o filósofo da alteridade (“alter” vem de “outro”). Mas a tante da vida dura de um punhado de indigentes.
frase virou jargão entre nós por conta da moral cristã. Eis aqui um Despidas de quaisquer adornos, quase nuas, vivem aquelas
ponto para o qual chamo atenção. Um fariseu, conta a bíblia, quis crianças num reduto da sua própria animalidade. E na imagem,
saber “quem era o seu próximo”. canino e humano se afivelam ao mesmo cordão umbilical; por des-
Em setembro de 2008, tive o prazer de receber em Pelotas o graça, é na pobreza transbordante que entrevemos a proximidade
filósofo (e promotor de justiça) Sandro Ferreira. Não fazia mui- entre ambos, porque passam a mesma fome, lutam contra o mes-
to tempo que ele concluíra o mestrado, no qual, com exatidão, mo frio, disputam o mesmo ar, caminham nos mesmos trilhos e
pôs-se no deslinde do que seja, enfim, o próximo. Contou-me que irmanam-se na mesma dor.
sua investigação partia de uma imagem, uma fotografia capturada Retornemos ao fariseu e sua inquietação. Fosse assim, “intui-
pelo célebre Sebastião Salgado. Um menino pobre, junto de outras tiva”, a resposta, algum dia na história os animais teriam figurado
crianças igualmente miseráveis, brincando nos trilhos de um trem como destinatários da compaixão cristã. Como preocupação de
do outro lado do planeta. suas campanhas pela fraternidade. Se a resposta coubesse ao hu-
A primeira inquietação, com efeito, seria: este menino retrata- milde e inocente garoto dos trilhos, o seu cão também teria de ser
do pelo famoso fotógrafo seria um próximo meu? Ainda que fisi- resgatado do holocausto.
camente distante… e pesasse embora a sujeição às mazelas abis- Hoje eu pergunto aos que professam a fé do Livro de Deus:
sais de um sistema que gera pobreza sem fim ao redor do mundo, acaso é justo servir-se do sangue dos animais, à revelia de sua
e sem a minha culpa direta… o pequeno garoto, seria, ou não, meu evidente luta para continuar a viver? A despeito de sua angústia e
próximo? dor à beira da morte? E mesmo cientes tais homens e mulheres de
Se a dúvida se estancasse nesse aspecto da imagem, teríamos Deus que se tratam de dores que se podem evitar?
já um bom ponto de partida. Mas a sutileza capturada pela câmera A pobreza do menino dos trilhos não pode ser imputada à con-
de Salgado arrematava a confusão de nossos preceitos: o garoto duta isolada de alguém. É bem verdade, todos nós transitamos
da foto segurava no ar, com os braços erguidos, um cachorrinho. naquele trem que atravessa e marca a vida dos miseráveis, mas a
Quero imaginar que cena projetava afeto, cumplicidade. Ambos responsabilidade direta não compete a um só. Não desejamos mal
animais, humano e canino, dividindo as misérias de um mundo de ao menino, não lhe apontamos uma arma. E se, no infortúnio, a
sujeira. Rarefeito de consolação. Carente de alívio. De mãos da- apontarmos, não puxaremos o gatilho. Entretanto, ao pé dos mes-
das, sobre os mesmos trilhos, homem e animal dançavam a valsa mos vagões, encontra-se o outro animal, “alter”, a quem, sem acu-
imprecisa da compaixão, a musicalidade de sentir-se e saber-se sar de odioso, direcionamos as nossas lépidas facadas de morte.
próximo. A história do próximo, por ironia, confunde-se derradeiramen-
Resvalando entre as composições desta cena, e agora retomo te com a nossa. Seu sangue se aquece novamente nas nossas entra-
por conta própria o inquérito sobre a alteridade, arrisco a hipótese nhas, seu corpo apodrece no nosso estômago, e sua alma se vinga
de que a proximidade se encerra e se amplia no endereço de um com o remorso que cedo ou tarde , haveremos de sentir.
olhar. O menino pobre dos trilhos, certamente, é mais douto em
sentir do que em explicar. É mais instruído em perceber do que em Anderson de Mello Reichow, 22 anos, é estudante de Direito e servidor do Judi-
ciário. Vegano e ativista pelos Direitos Animais, é membro-fundador do DDA - Pe-
explanar. E justamente aí, do chão das suas humildes sabedorias, lotas. Coordena o blog do grupo (www.ddapelotas.blogspot.com), especialmente
não deixou de interagir ternamente com o cãozinho que havia de dedicado a reflexões sobre a condiçao animal.
meramente coadjuvar a brincadeira. Num passe de mágica, fruto Fonte: ANDA - Agência de Notícias de Direitos Animais

02
Zazen Monja Coen

Z
azen literalmente significa Sentar Zen. Zen é uma palavra que vem do Sâns-
crito Dhyana ou Jhana e significa um estado meditativo profundo. Geralmente
não chamamos o Zazen de meditação, pois o verbo meditar é transitivo direto,
ou seja, requer um objeto. Meditar sobre a vida, meditar algo. Enquanto que o Zen
é intransitivo. Não há objeto de meditação. Até o sujeito desaparece. E quando isso
acontece o Caminho se manifesta em sua plenitude.
Procure um local tranquilo, nem muito claro nem muito escuro, não muito quente
nem muito frio.
Há várias maneiras de sentar-se: posição das bermudas, meia lótus, lótus comple-
ta, banquinho, cadeira. Em qualquer uma delas é importante que a coluna vertebral
seja mantida erecta. O queixo um pouco para baixo, de forma que a região cervical
fica reta. Verifique se seu corpo está centrado, movendo da esquerda para a direita,
como um pêndulo de movimentos largos a movimentos menores e pare exatamente Pensando: Bertrand Russel
em seu próprio centro de equilíbrio.
Perceba se as orelhas ficam em linha com os ombros e o nariz em linha com o um- Assim escreveu Bertrand Russel, em: “The
bigo. Esvazie os pulmões, soltando todo o ar profundamente pela boca, umas três ve- Autobiography”: “Três paixões, simples, mas
zes. Relaxe qualquer parte do corpo onde sinta tensão. Em seguida coloque as mãos irresistivelmente fortes, tem governado a mi-
no mudra cósmico (mão direita embaixo, com a palma voltada para cima e a costa nha vida: a ânsia de amar, a busca do conhe-
dos dedos da mão esquerda repousando na palma dos dedos da direita,mantendo a cimento e uma insuportável compaixão pelo
mão esquerda com a palma para cima. Encoste levemente os dois polegares, como sofrimento da humanidade. Essas paixões,
se houvesse uma finíssima folha de seda entre eles). Perceba que suas mãos estarão como fortes ventos, têm me impelido de um
formando uma elipse, assim como os planetas em torno do Sol o comos em suas lado para o outro, num caminho caprichoso,
mãos. por sobre um profundo oceano de angústias,
Em seguida coloque a ponta da língua no palato superior, tocando de leve atrás que chega à beira do desespero./ Procurei o
dos dentes frontais. Isto cria um canal de comunicação de energia ao mesmo tempo amor, primeiro, porque ele trás êxtase êxtase
que evita muita salivação. tão imenso que eu ofereceria todo o resto da
Mantenha os olhos entreabertos, pousados cerca de um metro e meio de distância minha vida em troca de umas poucas horas
num ângulo de 45 graus. desse prazer. Eu o procurei, também, porque
Assim, sem pensar e sem não-pensar, sente-se calmamente por alguns minutos. ele ameniza a solidão aquela terrível solidão
Alguns ficam em zazen por 40 minutos, outros por 30 ou mesmo 20 minutos. De na qual uma consciência em pedaços se pa-
qualquer maneira adapte à sua realidade. Para quem nunca praticou nenhuma forma ralisa nas franjas do mundo num insondável
de meditação mesmo cinco minutos pode ser um bom tempo. Não tenha presssa em abismo frio e sem vida. Eu o busquei, final-
querer sentar por longos períodos. mente, porque na união do amor eu vislum-
Tendo assim assentado corpo e mente perceba sua respiração. Sinta se está sendo brei, em mística miniatura, a suposta visão
abdominal (ao inalar o abdomem se expande ao exalar se contrai) ou toráxica (a cai- do paraíso que santos e poetas imaginaram.
xa toráxica se expande e se contrái). Perceba seus batimentos cardíacos. Ouça todos Isto foi o que procurei, e embora possa pa-
os sons, próximos e distantes. Sinta as fragrâncias da sala, do local (pode ser ao ar recer demasiado bom para a vida humana,
livre). Perceba o ar, sua textura, sua temperatura. A luz e a sombra que se formam foi o que finalmente eu encontrei./ Com a
onde seus olhos estão pousados são também percebidas. Verifique sua postura, a mesma intensidade busquei o conhecimento.
posição das mãos, da coluna, da língua e oxigene áreas de tensão. Perceba seus pen- Desejei entender os corações dos homens.
samentos. Como se formam, como desaarecem. Veja se pensa em formas, palavras, Eu quis saber por que as estrelas brilham. E
música, cores, imagens. Qualquer emoção que surja deve ser notada. Assim como tentei apreender o poder pitagórico que faz
seu término. O mesmo para memórias. Entretanto não fique pensando apenas, nem com que um número flutue por sobre o flu-
apenas percebendo, pois isto ainda está no plano da dualidade. Torne-se um com o xo. Um pouco disso, não muito, eu consegui.
uno sendo a respiração, a postura correta e a vida do universo em constante fluir. Amor e conhecimento, tanto quanto foi pos-
Um momento de zazen é um momento de Buda. sível, elevaram-me em direção ao paraíso./
Entre tarefas, em momentos de stress no trabalho, nos estudos, entre amigos e Mas a compaixão sempre me trouxe de volta
desafetos, em casa, no trânsito, lembre-se apenas de endireitar a coluna e respirar à Terra. Ecos de gritos e de dor reverberam
conscientemente. Perceba suas emoções e batimentos cardíacos. Relaxe, sorria. Tudo no meu coração. Crianças famintas, vítimas
é passageiro. Aprenda a estar presente no instante e a agir da maneira correta a trans- torturadas por opressores, velhos desassisti-
formar o que náo for de seu agrado. Lembre-se: apenas reagir não transforma. dos como um odioso fardo para seus filhos,
Assim, use o Zazen para o seu bem e de todos os seres. Pois afinal, se se entregar e o mundo inteiro de solidão, miséria e sofri-
ao Zazen de corpo e mente verificará que é o Zazen que faz zazen… Zazen zazen mento, fazem um arremedo do que a vida hu-
zazen. mana deveria ser. Eu desejo minorar o mal,
mas não posso, e sofro também. Esta tem
““ Hoje eu sei que somos co-responsáveis pela realidade em que sido a minha vida. Eu a entendo como uma
vivemos, pelo mundo em que estamos e que não adianta reclamar, vida digna, e prazerosamente a viveria ou-
é preciso agir para transformar. “ Monja Coen tra vez se uma oportunidade me fosse dada”
(www.polemikos.com).
03
Junte-se aos bons: Escritores Vegetarianos
Ralph Waldo Emerson (1803-1882) fa- Jack Lindsay (1900-1990) Escritor
moso escritor, filósofo e poeta estado- marxista, australiano.
unidense. “O homem só será equilibrado quan-
“Acabas-te de jantar, e, por mais que do descartar a dieta baseada em cadá-
o matadouro esteja escrupulosamente veres e apodrecimento.”
escondido a uma agradável distância de
milhas, existe cumplicidade.”

Rachel Carson (1907 a 1964) zoóloga,


Anna Sewell (1820-1877) escritora in- bióloga e escritora estadosuniden-
glesa, autora de “Beleza Negra” se, cujo trabalho principal, Silent
“Nós entendemos os animais como mu- Spring, é geralmente reconhecido
dos e assim o são, pois não nos dizem como o principal impulsionador do
como se sentem, mais eles não sofrem movimento global sobre o Ambiente.
menos porque não têm palavras.” “Até que tenhamos coragem de reconhe-
cer crueldade pelo que ela é - seja a vítima
um animal humano ou não humano - não podemos
esperar que as coisas melhorem neste mundo...não
Leon Tolstoi (1828-1910) escritor russo podemos ter paz vivendo entre homens cujos co-
considerado um dos maiores escritores rações se deleitam em matar criaturas vivas. Para
de todos os tempos. Tornou-se vegeta- cada ato que glorifica o prazer de matar, estamos
riano em 1885 influenciado pelo filó- atrasando o progresso da humanidade”.
sofo William Frey.
“O comer carne é a sobrevivência da
maior brutalidade; a mudança para o ve-
getarianismo é a primeira conseqüência natu-
ral da iluminação.” Geoffrey. L. Rudd (1909-1995) jorna-
lista, artista e escritor vegetariano.
“Matar é negar o amor. Matar ou co-
mer o que um outro matou é regozijar-
Arthur Conan Doyle (1859–1930) escri- se com a crueldade. E a crueldade
tor e médico britânico, mundialmente endurece nossos corações e cega nos-
famoso por suas 60 histórias sobre o sa visão, e somos incapazes de ver que
detetive Sherlock Holmes. aqueles que matamos são nossos irmãos e ir-
“No momento, nosso mundo de hu- mãs companheiros na Família Una da Criação.”
manos é baseado no sofrimento e na
destruição de milhões de não-humanos.
Aperceber-se disso e fazer algo para mudar
essa situação por meios pessoais e públicos, requer
uma mudança de percepção, equivalente a uma conver- Milan Kundera, escritor tcheco nasci-
são religiosa. Nada poderá jamais ser visto da mesma do em 1929, autor d´ A Insustentável
maneira, pois uma vez reconhecido o terror e a dor de Leveza do Ser.
outras espécies, você irá, a menos que resista à con- “Esse direito - o de matar um veado
versão, ter consciência das permutações de sofrimento ou uma vaca - nos parece natural por-
interminável, em que se apóia a nossa sociedade.” que nós estamos no alto da hierarquia.
Mas bastaria que um terceiro entrasse
no jogo, por exemplo, um visitante de ou-
tro planeta a quem Deus tivesse dito: Tu reinarás
Franz Kafka (1883-1924) escritor che- sobre as criaturas de todas as outras estrelas, para
co, foi um dos maiores escritores de que toda a evidência do Gênese fosse posta em dú-
ficção da língua alemã do era vegeta- vida. O homem atrelado à carroça de um marciano
riano ético, ao contemplar os peixes - eventualmente grelhado no espeto por um visitante
num aquário em Viena disse: da Via-Láctea - talvez se lembrasse da costeleta de
“Agora já posso olhar-vos com sossego, vitela que tinha o hábito de cortar em seu prato. Pe-
já não vos como” diria (tarde demais), desculpas à vaca.”

04
Crianças... Conceição
ConceiçãoCavalcanti
Cavalcanti

Q
ue tipo de sociedade somos nós? Nossas crianças nada, apenas uma criança abandonada, “bichos” que com as
estão em completo abandono. Em recente matéria mãos pequenas e trêmulas de fome, frio, cansaço e desespero
transmitida na TV sobre as crianças que vivem nos procuram no lixo sua salvação. Quem nos salvará de tamanha
semáforos foi possível constatar como estamos adormecidos indiferença quando formos chamados a explicar sobre o que
diante da dor e do sofrimento do outro. Parece imperar o pen- aconteceu ao nosso olhar humano? Ao nosso coração? Será
samento individualista e excludente de que tudo que acon- que se transformou em pedra? De pedra não precisamos, pois,
tece no quintal do vizinho não nos diz respeito. São crian- hoje já enfrentamos o impiedoso Crack. Nossas crianças estão
ças exploradas de todos os jeitos, por todo tipo de gente. É morrendo. Morrem em todos os sentidos. Morrem pelo esque-
uma realidade crua e desumana. De que somos feitos? Qual cimento. Morrem porque não as consideramos nossas. Mor-
o sentido da vida? O que queremos de nós, dos outros e do rem porque não queremos olhar para elas. Elas nos mostram
mundo? É possível manter-se incólume diante da perda da nosso lado frio, indiferente, egoísta e neutro. Morrem, porque
sensibilidade que nos permite dizer: sou capaz de sentir e de preferem estar nas ruas, assim, não são espancadas em suas
amar aquele que não sou eu, mas que me confirma e afirma casas, tampouco violentadas. Morrem no plano do simbólico
em meu existir? Esse outro que não conheço e que é feito da quando na dura realidade perdem sua infância, esse lugar do
mesma matéria que eu. É disso que precisamos falar. É nisso devaneio, do sonho e do sagrado de onde nos fala Gaston Ba-
que temos que pensar, refletir, concluir e reconhecer. Como chelard. Dentre os muitos sonhos, existe um. O sonho de que
é possível ver e não enxergar corpos pequenos, magros, ma- parte desta sociedade que teve sua infância preservada possa
chucados. Almas perdidas que buscam nas drogas e nas ruas revisitá-la e a partir deste lugar mágico onde tudo é possível
consolo para o sentimento mais cruel, para a dor de não ser. ela possa devolver para essas crianças suas infâncias rouba-
Para a dor da rejeição. Consolo para esquecer que não se é das. Vamos começar.

A compaixão - uma grande virtude


Jeanine Japiassu

É
ao longo de muitas vidas e de um constante e persistente A ação resultante da compaixão é transformadora e vai
aprofundamento interior que vamos adquirindo uma cla- proporcionar um grande bem a nós e aos que nos cercam e
reza maior na compreensão do perdão, da compaixão e do é essencial que não sejamos tomados pela dor ou tristeza do
amor, na sua forma incondicional. Amo apesar de tudo, amo sem outro, mas, simplesmente, que o compreendamos.
esperar retorno... Impossível compreender do ponto de vista pura- Compreender significa entrar em sintonia com o sentimento
mente intelectual ou mental. Daí, a necessidade de retirar os véus do outro, mas não vivenciá-lo. Para que a compaixão verdadeira
que encobrem o coração para, ao longo da vida, ampliar a nossa ou genuína possa emergir é preciso ter a disposição condicionada
capacidade de amar e compartilhar o amor, de nos perdoar e aos do sofrimento e, então, sinceramente vivenciar o mundo que nos
outros com atitudes verdadeiramente compassivas; ao vislumbrar, cerca como seres humanos.
escutar, perceber e participar mais ativamente e tornar mais suave É bom lembrar que é através da compreensão dos nossos
o sofrimento do outro. Significa abandonar um modo de vida com sentimentos que vamos perceber o sentimento dos outros e
comportamentos egoístas e narcísicos, em que estamos centrados compreendê-los.
em torno exclusivamente de nós mesmos, para um modo de ser E, ao compreender o sofrimento, nos sentimos mais tranqüilos e
altruísta, pois as pessoas têm importância para nós e devemos ser em paz, e assim nos tornamos mais amorosos. Buscar o discer-
sensíveis aos seus sofrimentos. nimento e lucidez na observação do sofrimento torna-se um
Compaixão significa sair de si mesmo, do nosso movimen- ato de grande compaixão, já que vai fazer nascer em nós uma
to intenso de vida, da busca incessante de satisfação dos nossos maior compreensão em níveis mais profundos, das suas causas.
desejos para participar do sofrimento dos outros, além do nosso Essa compreensão desenvolve uma compaixão que não está li-
próprio sofrimento, não os camuflando. É uma forma mais eficaz mitada a algumas pessoas ou situações específicas e torna-se,
de nos libertarmos das nossas dores, encarando-as e não através da por conseguinte, uma resposta natural de um coração sincero
fuga. Ao ocultarmos nossos sofrimentos estamos fechando nossa e livre, com grande capacidade de amar.
própria fonte de compaixão. Com o exercício do discernimento A partir desse nosso comportamento mais sereno, tranqui-
e da vontade, nos comprometemos com um comportamento lo e em paz, poderemos começar a manifestar uma ação ver-
mais ético e mais humano, principalmente no respeito a tudo dadeiramente compassiva no mundo e, nos tornar um pouco
que tem vida. Compaixão não é um sofrimento pelas dores do ou- mais gentis e delicados.
tro - você não sofre pelo outro, mas simplesmente você demons- Citamos um pensamento do Thich Nhat Hanh: “Se temos
tra, no momento, o seu amor, quer seja ajudando-o diretamente, compaixão no coração, todo pensamento, palavra ou
ou não; enfim é promover o alívio da dor e do sofrimento dos
indivíduos. gesto é capaz de produzir um milagre.”

05
A Grande Alma
Paul Watson Luciana Asfora

A
Grande Alma deste mês é alguém que está bem vivo e Para responder a essa necessidade, naquele mesmo ano, Paul fun-
atuante, que colocou sua vida a serviço da natureza e dos dou a Sociedade Sea Shepherd Conservation, dedicada à inves-
animais. Uma pessoa que não costuma se preocupar com tigação, inquérito e de execução das leis, tratados, resoluções e
rótulos que lhe são atribuídos, mas fundamentalmente alguém regulamentos estabelecidos para proteger a fauna marinha mun-
que pensa e faz diferente. Com uma postura que desagrada a dial. Em dezembro de 1978, com o apoio do Fundo para Animais,
muitos, o Capitão Paul Watson foi reconhecido pela Revista Pla- Paul comprou na Grã-Bretanha um Arrastão (barco pesqueiro) do
neta como um dos grandes Heróis do Planeta. Atlântico Norte e o converteu no navio voltado à conservação Sea
Este é o nosso capitão, o fundador do Sea Shepherd Conser- Shepherd.
vation Society. Nascido em 1950, na cidade de Toronto, Canadá, Ao longo dos anos, Paul revelou uma notável diversidade em
Paul desde criança mantinha com a natureza uma relação diferen- seu ativismo. Além de co-fundador do Greenpeace, em 1972 e
ciada. Aos seis anos de idade morava com sua família na cidade do Greenpeace Internacional em 1979, é fundador da Sea She-
de St. Andrews-by-the-Sea. Enquanto a cidade sobrevivia basica- pherd em 1977, foi um correspondente de campo dos Defensores
mente da pesca de lagostas, Paul tinha duas lagostas de estimação da Vida Selvagem, entre 1976 e 1980, agente de campo repre-
Bug Eye (Olho de Inseto) e Flouderface (Cara de Farinha) e con- sentativo do Fundo de Animais entre 1978 e 1981, representante
siderava um castor da floresta, a quem denominou Bucky, o seu da Royal Society for the Protection of Animals em 1979, co-
melhor amigo. Um dia, ao chegar à mata, ele encontrou Bucky fundador do Friends of Wolf em 1984 e da Earthforce Ambiental
morto por caçadores, com a pata presa em uma armadilha, desde Society em 1977. Atualmente, Paul é um orador, e regularmente
então prometeu a si mesmo que destruiria as armadilhas que en- apresenta-se em faculdades e universidades nos Estados Unidos,
contrasse pela frente. Ainda garoto tornou-se conhecido no local e em eventos especiais em todo mundo. Paul recebeu muitos prê-
por perturbar caçadores, e evitar que garotos atirassem em aves. mios e comendas ao longo dos anos.
Paul cresceu, estudou comunicação e foi trabalhar na Guar- Hoje, aos 60 anos, Paul Watson continua desarmando armadi-
da Costeira Canadense, onde serviu por dois anos. Aos 18 anos lhas e ajudando os amigos do mar. Ele é considerado uma lenda
se engajou no movimento que lutava contra os testes nucleares do ambientalismo, o nome supremo na proteção dos oceanos, “o
nos oceanos. Tornando-se posteriormente um dos fundadores do último dos homens”, conforme declarou o ator Sean Penn. A atriz
Greenpeace. Seu envolvimento começou com um protesto do e amiga das focas Brigitte Bardot é sua fã. Entre os mais de 40 mil
Sierra Club, realizado na fronteira entre os E.U.A. e o Canadá em colaboradores e militantes voluntários da organização estão Ri-
outubro de 1969, contra os testes nucleares realizado pela Comis- chard Dean Anderson, o MacGyver, e os Red Hot Chilli Peppers.
são de Energia Atômica em Amchitka Island. No entanto O nosso herói Paul não é unanimidade e congrega
O grupo foi chamado de Comitê “Não Faça Onda” e era com- também uma legião de desafetos. Pessoas que não concordam
posto principalmente por membros do Sierra Club e da Sociedade com a postura enérgica do capitão ou que deixam o poder econô-
de Amigos (Quakers). Paul era membro do Sierra Club, e sua mo- mico das pescas predatórias falarem, mais alto. Os japoneses são
tivação para protestar contra a realização dos teste em Amchitka os maiores inimigos, para manter a tradição milenar em comer
foi a sua preocupação com a fauna marinha do local. Em outu- carne de baleia eles conseguiram uma brecha na lei que impe-
bro de 1971, o Comitê “Não Faça Onda” patrocinou a viagem do de a caça ao animal: alegam que todos os navios que seguem à
Greenpeace I, com um barco de pesca canadense o navio partiu Antártida trabalham em pesquisa científica. São navios imensos,
de Vancouver, com destino à Amchitka Island, com a intenção de verdadeiras fábricas de enlatar baleias.
navegar até a zona de testes. Havia treze voluntários a bordo, in- E Paul trabalha sob a alegação de que faz valer a lei com as
cluindo Robert Hunter, Rod Marining e Lyle Thurston. Os testes próprias mãos.
foram adiados e o Greenpeace I, depois de um mês no mar, voltou Enquanto não está derrubando um baleeiro o capitão, que é
para Vancouver. Daí por diante Paul não parou mais, confrontou vegetariano convicto, só fica em casa duas semanas por ano: o
com frotas baleeiras soviéticas, japonesas, e fez parte do primeiro endereço é sigiloso, devido às inúmeras ameaças de morte que
grupo de pessoas a colocar as suas vidas em risco para proteger recebe todos os dias. Em 2008, um crime covarde ocorreu contra
baleias.Várias vezes colocou seu bote inflável entre um arpão de Paul Watson e quase acabou com sua vida. A tripulação da Sea
um navio e um grupo indefeso de baleias, e, como orgulha- se em Shepherd, em meio a um conflito, lançava bombas de cheiro (áci-
dizer, jamais uma pessoa se feriu gravemente em suas operações. do butírico, ou manteiga podre) contra o baleeiro Nisshin Maru
Depois da campanha das baleias, veio a campanha do Greenpeace e a guarda costeira respondia com bombas de gás lacrimogêneo.
para proteger focas no Canadá. Nesse momento, declarou Watson, “senti o impacto no tórax. Se
Em junho de 1977, Paul Watson demitiu-se da Fundação não estivesse usando o colete teria sido atingido no coração“.
Greenpeace movido pelas discordâncias que tinha com a emer- Pois é, claro que era de se esperar uma ação dessas vinda dos
gente estrutura burocrática da organização. Patrick Moore tinha japoneses que, tenho orgulho em dizer, estão sofrendo prejuízos
substituído Robert Hunter, e opôs-se à campanhas de ação direta. devido a ação do Sea Sheroherd. Quem se vê perdendo uma guer-
Moore Watson havia informado a Watson que ele não teria mais ra, entra em desespero. Paul Watson permaneceu sem ferimentos
permissão para conduzir outra campanha sobre as focas. Paul dei- pelo fato de estar usando um colete à prova de balas no momento
xou o Greenpeace porque sentiu que os objetivos originais da or- do disparo.
ganização estavam começando a ficar comprometidos, e viu uma É possível se candidatar a tripulante de qualquer uma das em-
necessidade global de continuar a ação direta, voltada a ativida- barcações do Sea Sherperd. Para saber como, entre em contato
des de conservação no alto mar, por uma organização que faria através do site www.seashepherd.org.br.
com que fossem cumpridas as leis que protegem a fauna marinha.

06
“Eu me sinto honrado em servir às baleias, Campanha em defesa das baleias da Sea Shepherd salva 528 baleias
golfinhos e focas – e todas as outras criatu- Por Giovanna Chinellato da ANDA – Agência de Notícias de Direitos Animais
ras desse planeta. Sua beleza, inteligência,
força e espírito têm me inspirado. Esses A frota baleeira japonesa partiu
seres têm conversado comigo e me tocado para o Santuário de Baleias do Oceano
e eu fui recompensado com a amizade de Antártico com permissão do governo
muitos membros de diferentes espécies. Se para matar 935 baleias Minke prote-
as baleias sobreviverem e se desenvolverem,
gidas, 50 baleias fin em extinção e 50
se as focas continuarem vivas e dando à
baleias corcundas (jubartes) ameaça-
luz e se eu puder contribuir para garantir
sua prosperidade futura, serei eternamente das. O objetivo deles era matar 1.035
feliz.” (Paul Watson) Informações compiladas baleias no total. A intervenção feita por
do site: www.bravus.net/capitao-watson-da-sea- três navios da Sea Shepherd Conserva-
shepherd-e-baleado-por-baleeiro-japones/ tion Society evitou que eles alcanças-
- Informações retiradas da revista Revista Trip sem esse número. Os membros da Sea
novembro de 2007- Vol. 20, nº 161 - http:// Shepherd foram vitoriosos em diminuir
pt.wikipedia.org/wiki/Paul_Watson - http://www. tal quota pela metade. Seu sucesso em
ativismo.com/site/index.php?option=com_content& salvar baleias corcundas foi de 100% e de salvar baleias fin, de 98%. Das 50 baleias
task=view&id=418&Itemid=100 - corcundas (jubartes) marcadas, os japoneses não mataram nenhuma. Das 50 baleias fin,
eles mataram uma. Das 935 minke, eles mataram 506. No total, os baleeiros japoneses
Destaques de ações nas últimas mataram 507 baleias. A Sea Shepherd salvou 528 baleias – seu maior impacto na quota
três décadas incluem: de baleias até os dias de hoje. Os meses de esforço foram válidos. O custo valeu a pena.
A perda do Ady Gil valeu a pena. A prisão do capitão Pete Bethune valeu a pena. Graças
- Abalroando e incapacitando a notória baleei- às corajosas tripulações do Steve Irwin, Bob Baker e Ady Gil, graças às centenas de
ra pirata, o Sierra. voluntários em terra, graças aos milhares de colaboradores e graças a Bob Baker e Ady
- Fechando a metade da frota baleeira espa- Gil, a Sea Shepherd caçou matadores de baleias, confrontou-os e derrubou suas opera-
nhola. ções em um terço da temporada. O que isso custou à frota japonesa? Se o valor médio de
- Documentação de atividades baleeiras nas uma baleia é de US$ 250.000, então obtiveram sucesso em tirar dos japonês 132 milhões
Ilhas Faeroe em um documentário lendário da de dólares. É seguro dizer que a indústria baleeira japonesa não obteve lucros nessa
BBC de Londres, “A Colheita Negra” (Black temporada. A frota precisaria matar 700 baleias só para cobrir as despesas. E no topo de
Harvest). sua lista de perdas, está o desperdício de combustível, gasto enquanto perseguiam a Sea
- Afundando a metade da frota baleeira islan- Shepherd, o custo da segurança e sistemas de defesa, o custo dos aviões de monitora-
desa e destruindo a fabrica de processamento mento, os gastos com relações públicas, perda do custo da mão-de-obra (os trabalhadores
de carne de baleia. não faziam nada enquanto eram perseguidos). Sem baleias para fatiar, eles sentavam no
- Afundando as embarcações norueguesas Ny- refeitório e jogavam e bebiam saquê e chá.
braena e Senet. “A falta de espécimes pode afetar nos-
- Confrontando e se opondo a operação baleei- sas pesquisas”, disse a agência pesqueira
ra ilegal do Japão na Antártica. Takashi Mori sobre o baixo número. “Nós
esperamos que sim, mas o mais importante
Guardiões das Focas é que a falta de ‘espécimes’ vai afetar seus
lucros”, disse o capitão Paul Watson. “Nós
O capitão Paul Watson e a Sea Shepherd têm os acertamos bastante e com força esse ano
lutado contra a caça de focas desde 1976, e por e nossos esforços e riscos valeram a pena.
mais de um quarto de século têm salvo a vida Agora, 528 baleias que estariam mortas se
de centenas de milhares delas. A Sea Shepherd não tivéssemos feito nada, estão nadando
deu fim à caça de focas cinza nas ilhas esco- livres no Oceano Antártico. É um dia feliz
cesas de Orkney, e tem sido considerada pelo para minha tripulação e conservacionistas
governo canadense e pela Associação Cana- pelo mundo todo, um dia realmente feliz”.
dense de Caçadores de Focas a ameaça mais Escolhendo bancar a vítima de “ecoterroris-
agressiva à caça de focas no Canadá. Essa é tas”, Takashi Mori culpou a “interferência violenta” de ativistas da Sea Shepherd, que
uma luta que a Sea Shepherd não pretende disse serem responsáveis pela interrupção de seu trabalho por 31 dias. A Sea Shepherd
abandonar até que a irracional caça às focas Conservation Society está absolutamente orgulhosa por ter paralisado as ações japonesas
seja erradicada. O navio da Sea Shepherd Far- por 31 dias. “Não poderia escolher uma palavra melhor para descrever nossas ações”,
ley Mowat e uma equipe de voluntários foram disse o capitão do Bob Baker, Chuck Swift. “Nós realmente paralisamos suas ações
presos pelo governo canadense em março de desprezíveis por 31 dias, e estou extasiado por finalmente ter o reconhecimento oficial
2008, enquanto documentavam a caça às focas dos japoneses sobre nosso sucesso. Obrigada Sr. Mori por admitir.” A Sea Shepherd está
– o que é, ironicamente, conside)rado crime agora reparando os danos ao Bob Baker, buscando um possível substituto para o Ady
no Canadá. Os oficiais da Sea Shepherd Alex Gil, e trabalhando para ajudar o capitão Pete Bethune, que permanece prisioneiro dos
Cornelissen e Peter Hammarstedt aguardam baleeiros no Japão.
em liberdade pelo seu julgamento neste mês O capitão Paul Watson disse: “Navios são descartáveis, baleias em extinção não são.
de abril de 2009. Após ficar preso por um ano Nós perdemos um navio e temos um membro da equipe na prisão. Eu acho que fizemos
em Sydney, a embarcação foi recentemente muito bem esse ano. Agora precisamos nos reorganizar, juntar fundos, reparar e prepa-
colocada à venda pelo governo canadense. A rar os navios e voltar em dezembro para fazer um trabalho ainda melhor”.
Sea Shepherd pretende processar o governo A operação Waltzing Matilda foi a sexta viagem da Sea Shepherd ao Santuário de Baleias
por prejuízos após o julgamento de seus ofi- no Oceano do Sul e a mais vitoriosa até o momento.
ciais este ano. Informações: Sea Shepherd.

07
Olhar Literário: Augusto dos Anjos

A ÁRVORE DA SERRA

-- As árvores, meu filho, não têm alma!


E esta árvore me serve de empecilho...
É preciso cortá-la, pois, meu filho,
Para que eu tenha uma velhice calma!

-- Meu pai, por que sua ira não se


acalma?!
Não vê que em tudo existe o mesmo
brilho?!
Deus pôs almas nos cedros... no jun-
quilho...
A UM CARNEIRO MORTO
Esta árvore, meu pai, possui
minh’alma!...
Misericordiosíssimo carneiro
Esquartejado, a maldição de Pio O CORRUPIÃO
-- Disse -- e ajoelhou-se, numa roga-
Décimo caia em teu algoz sombrio
tiva:
E em todo aquele que for seu herdeiro! Escaveirado corrupião idiota,
“Não mate a árvore, pai, para que eu
viva!” Olha a atmosfera livre, o amplo éter
Maldito seja o mercador vadio belo,
E quando a árvore, olhando a pátria
Que te vender as carnes por dinheiro, E a alga criptógama e a úsnea e o
serra,
pois, tua lã aquece o mundo inteiro cogumelo,
E guarda as carnes dos que estão com Que do fundo do chão todo o ano
Caiu aos golpes do machado bronco,
frio! brota!
O moço triste se abraçou com o tronco
E nunca mais se levantou da terra!
Quando a faca rangeu no teu pescoço, Mas a ânsia de alto voar, de à antiga
Ao monstro que espremeu teu sangue rota
Oh! tu que no Perdão eu simbolizo,
grosso Voar, não tens mais! E pois, preto e
Se fosses Deus, no Dia de Juízo,
Teus olhos -- fontes de perdão -- per- amarelo,
Talvez perdoasses os que te mataram!
doaram! Pões-te a assobiar, bruto, sem cerebelo
A gargalhada da última derrota!

Você sabia? A gaiola aboliu tua vontade.


Tu nunca mais verás a liberdade!...
- Apenas uma pilha, pode ficar 100 anos a lançar contaminantes no meio ambiente? Ah! Tu somente ainda és igual a mim.
(http://patiolimpoesec.blogspot.com/2008/12/curiosidades-ambientais.html)
Continua a comer teu milho alpiste.
- 1 litro de óleo usado pode contaminar 1.000.000 l de água? Foi este mundo que me fez tão triste,
(http://patiolimpoesec.blogspot.com/2008/12/curiosidades-ambientais.html)
Foi a gaiola que te pôs assim!
-A reciclagem do material plástico utilizado em 5 garrafas de plástico PET, após
reciclagem, gera poliester suficiente para produzir uma T-Shirt do tamanho XL.
(http://webserver.cm-lisboa.pt/pmonsanto/NOT_gestaoemanut.htm)

- Reciclando uma lata de alumínio, economizamos energia para manter uma lâmpada
de 100 W acesa durante 3 horas e meia ou deixar a televisão ligada por três horas
(http://www.web-resol.org/curiosidades/curiosidades2.php?id=1670)

-É preciso cortar uma árvore com 15 a 20 anos de idade para produzir apenas 700
sacos de papel (http://www.centrovegetariano.org/literatura/Article-198-.html)

- Para produzir um quilo de carne é preciso cem vezes mais água do que para
produzir um quilo de trigo. Para produzir meia dose de frango são precisos
1550 litros de água.
(http://www.gentesaudavel.mls.pt/_Curiosidades.html)

08
Vestir-se com Ética Köhler Schulte

O
hábito de cobrir o corpo humano, vestir-se, está presente Tudo está interligado.
desde o princípio da humanidade. As razões para cobrir Assim, se as tendências de moda, por sua vez, indicarem o uso
o corpo não têm relação unicamente com a proteção (do de materiais orgânicos, reciclados, reaproveitados, menos poluen-
frio, do sol), mas também com a estética, o poder, a sedução entre tes, contrárias ao uso de peles de animais, entre outros, haverá
os gêneros, entre outras. uma contribuição significativa para reorientar a produção, os ser-
Os primeiros materiais utilizados eram de origem animal, pe- viços e o consumo de moda.
les, pelos e penas. Posteriormente o homem passou a utilizar fibras Esta tendência ecológica para a moda não é apenas uma supo-
de plantas, que aprendeu a tramar, desenvolvendo os tecidos. No sição. Ela já foi lançada e pode ser
século XIX, a indústria têxtil criou as fibras artificiais e sintéticas observada nas coleções de grandes estilistas internacionais que
para a produção de tecidos. Portanto, existem tecidos de origem influenciam a moda em todo o mundo. Roupas feitas com fibras
natural (animal e vegetal), artificial (viscose, modal, tencel etc.) e naturais e materiais reciclados ganham terreno na Itália. Gigantes
sintética (poliéster, poliamida etc.). da moda, como Giorgio Armani, se somam à tendência. O respeito
Atualmente existem diversas opções de materiais para o desen- pelo meio ambiente por meio da utilização de fibras e tintas natu-
volvimento de roupas, dispens,ando totalmente o uso de materiais rais, da reciclagem de resíduos, do reuso de roupas e do não uso
de origem animal. No entanto, o de peles de animais, são a base da
couro animal ainda é muito utili- moda ecológica que pouco a pou-
zado em roupas e principalmente co ganha terreno entre os consu-
em calçados, com o argumento midores e estilistas na Itália e em
de que é o aproveitamento das outros países.
peles dos animais que são usados A estilista inglesa Vivienne
para o consumo da carne. Westwood, considerada uma das
Além de todos os impactos precursoras do punk e uma das
ambientais do tratamento do designers mais influentes do sé-
couro, existe o impacto da cria- culo XX, fez um apelo para que
ção artificial de animais para o as pessoas consumam menos e
consumo da carne e das peles (o façam melhor suas escolhas de
desmatamento de extensas áreas, compra. A estilista de 67 anos,
o grande consumo de água, o gás que lançou em São Paulo, em
metano, entre outros). Ou seja, o janeiro de 2008 durante a SPFW,
uso de animais, seja para alimen- duas sandálias de plástico em
tação, vestuário, trabalho e ex- parceria com uma empresa brasi-
perimentação, não é sustentável leira, rebate as críticas de quem a
Estilista Vivienne Westwood
nem ético ambientalmente. chama de “hipócrita” por seu dis-
O fenômeno da moda para o curso anticonsumista, já que ela
vestuário surgiu no final da Idade Média com as grandes navega- mesma produz coleções veneradas pelo mundo fashion. Segundo
ções e a troca de produtos entre os diferentes povos. Atualmente, Westwood, hipócritas são as pessoas que têm dinheiro e se vestem
a moda está relacionada com o novo, com o efêmero, com mu- como pobres. Eles deveriam comprar roupas bacanas, mas não
danças cada vez mais rápidas nos produtos. Com o estímulo da muitas. Para ela, as pessoas devem selecionar mais e não serem
publicidade, há uma busca frenética pela novidade e, como con- engolidas por tudo o que se propõe. São privilegiadas porque po-
sequência, tem-se aumento do consumo. Esse sistema da moda dem escolher as roupas, mas devem escolhê-las melhor. Ela afir-
sem medir as consequências tem grandes impactos ambientais que mou ainda que gostaria de produzir menos. “Eu realmente estou
foram ignorados durante muito tempo. cansada de fazer tanto. Prefiro muito, muito fazer menos e fazê-lo
Entre os exemplos, pode-se citar o uso das penas púrpuras de muito bem. Só preciso descobrir como.”
reflexos ondulados da íbis, uma ave pernalta do vale do Nilo, para Descobrir como fazer uma moda “ética”, mais adequada ao
enfeitar os chapéus que estavam na moda, durante a Belle Époque, contexto do desenvolvimento ambientalmente sustentável é o
no final do século XIX. Naturalmente ignoraram que o pássaro grande desafio do design de moda na era pós-moderna. A reuti-
pertencia a uma cadeia alimentar que existe há muito tempo: a íbis lização de tecidos, a vintage, os tecidos reciclados e orgânicos, a
se alimenta de pequenos répteis, cuja alimentação é composta por troca de roupas e o aluguel, são opções na busca por uma moda
batráquios, que, por sua vez, comem gafanhotos. É possível que mais ética.
eles não imaginassem que, querendo satisfazer uma tendência da
Neide Köhler Schulte é doutoranda em Design, PUC-Rio, tem como tema de
moda da época, utilizando essas penas, provocariam a fome no pesquisa para tese o “consumo ético de roupas”; mestre em Engenharia de Pro-
Egito. Com a perseguição da íbis, cresceu a população de répteis. dução, UFSC; especialista em Moda, UDESC, e em Ensino da Arte, UNIVILLE;
Os répteis devoravam as rãs, deixando os gafanhotos sem pre- graduada em Desenho, UFSM. É professora de desenho de moda e desenho têxtil
dador: os insetos vão destruir as plantações de cereais e espalhar a no curso de Bacharelado em Moda, na UDESC, coordenadora do Programa de
miséria entre os camponeses.Esse exemplo ilustra a complexidade Extensão EcoModa-UDESC. Participa do “Projeto feminista ecoanimalista: con-
tribuições para a superação da violência e da discriminação” na UFSC, coorde-
das interações entre o homem, os objetos produzidos por ele e a nado pela filósofa Sônia T. Felipe. Apresenta conferências, palestras e desfiles em
natureza. É o que Capra define como uma teia interconexa de re- eventos mostrando roupas desenvolvidas a partir de tecidos orgânicos, reciclados
lações quando se refere ao modo como deve ser vista a natureza. e reutilizados para disseminar o consumo ético. (neideschulte@gmail.com)

09
Apropriação Indébita Paulo Klingelhoefer

A
percepção da ecologia, ou seja, de como os seres se rela- os animais caso contrário maltratarei. O mesmo para as plantas,
cionam, foi sendo substituída por um modelo cognitivo de as relações de vida, de amor, etc. A que ponto a nossa ignorância
entendimento do mundo e perda do valor da experiência chegou e dizem que estamos na era do conhecimento!
empírica de cada um. Como podemos resgatar o equilíbrio ecológico se abandona-
Os povos primitivos, menos distraídos pela hipertrofia do co- mos a nós mesmos e nos entregamos, subliminarmente, em uma
nhecimento intelectual e do materialismo perpetuam, de alguma direção conduzida pelos interesses individuais e econômicos de
maneira, a capacidade de ler a natureza e atuar sobre ela de forma alguns? Sem percebermos fomos sendo desapropriados da capaci-
mais equilibrada. Já a sociedade moderna abandonou a possibili- dade de cuidarmos de nós mesmos e passamos a ser manobrados
dade individual de leitura da natureza para entregar a outras pes- por interesses mesquinhos e escusos. Nos deixamos flutuar em um
soas a capacidade de leitura. Esta entrega de responsabilidade se rio cujas águas estão tremendamente poluídas e sem um destino
deu em vários momentos da história. Entregava-se aos sacerdotes adequado. Perdemos inclusive a capacidade de reagir a tal fato, na
o modelo de sociedade e suas regras, aos reis, ao clero, ao pai de crença de que a ciência e suas sucursais da economia e da ganân-
santo e finalmente à ciência. A visão dual do mundo moderno faz cia nos tirarão desta cilada.
com que o entendamos como composto de fenômenos internos Assim como o paciente deve se responsabilizar pela gestão de
e externos de forma separada. Assim, compreendemos que a do- sua própria saúde, cada indivíduo deve resgatar a sua noção de
ença é um fenômeno quase sempre externo ao organismo e o seu ecologia, não a partir de um processo cognitivo, mas sim, experi-
desenvolvimento se dá a partir de mental. Não há outra saída e teremos
condições externas. Ao contrário do que lançar mão daquilo que sempre
que muitos afirmam, considero a vi- foi o berço de nossa civilização,
são externa inclusive a da genética. a educação. Mas não aquela que
Recentemente o olhar sobre o fenô- surgiu com a escolástica, bancária
meno da doença vem alcançando conforme define Paulo Freire, mas
outras versões, muito influenciado a sócio-construtiva, valorizando as
pela visão oriental, onde o comple- descobertas pessoais, valorizando
xo interno-externo são espelhos de as diferenças e potencialidades in-
um mesmo fenômeno, a existência. dividuais em relação com a vida,
Sob a chancela da ciência, opta- com o mundo a sua volta. Temos
mos por manter o modelo de entre- que reconstruir os saberes e sabe-
ga da responsabilidade pelo nosso dorias perdidas, revalorizar a vida
cuidado, ao outro, seja quem for. comunitária, a cultura histórica dos
Na saúde, entregamos aos profissio- povos, as suas identidades, os espa-
nais de saúde a responsabilidade so- ços de convívio e experiências com
bre os nossos atos e hábitos de vida, a natureza. Chega de submissão à
perdendo a sabedoria milenar de religião econômica. Não vivemos
nosso corpo e de nossa capacidade Zoólogo Kevin Richardson para produzir, mas segundo Matu-
de observação. Não sabemos mais rana, para cooperar. E através da
comer, precisamos que uma nutricionista nos diga, quando as nos- cooperação evoluímos. Evoluímos para a vida e não para a morte
sas avós o faziam com sabedoria e propriedade. Precisamos que estéril da matéria inanimada. Nosso espírito alcança vôos inimagi-
alguém nos diga como realizar atividades físicas, pois agora só sa- náveis alcançando espaços que a nave espacial jamais conseguirá
bemos apertar teclas. Alguém deve nos orientar como conduzir as e a custos muitíssimo mais baixos.
minhas emoções, pois o que aprendo durante o meu crescimento Estamos observando o por do sol, mas ainda não sabemos
e desenvolvimento infantil não serve mais. Alguém deve me di- acender a luz. Como será o futuro? Nossos filhos aguardam a es-
zer o quanto devo dormir, o quanto devo trabalhar, o quanto devo curidão.
amar, o quanto devo tolerar, o quanto posso bater, o quanto posso
me divertir, o quanto devo meditar, orar, quanto, quanto, como, Paulo Klingelhoefer de Sá é médico, Especialista em Educação Médica, Mestre
como, como.... Entregamos toda a vida para outros nos dizerem o em Saúde Pública, Professor da Faculdade de Medicina de Petrópolis/FASE, Pro-
que fazer. É preciso que alguém me diga que não devo maltratar fessor da Pós-graduação em Educação Ambiental na PUC/RJ, ambientalista.

10
Radical, eu? Viviane Pereira

“Nossa, mas então você virou radical?” Agora, se você ainda acha que sou radical, veja só quantos
outros estão comigo:

I
nfelizmente esse “radical” vem em tom pejorativo, referindo- “Nada beneficiará tanto a saúde humana e aumentará as hipóte-
se a ser excessivo, a ser exagerado em algo. A primeira ques- ses de sobrevivência da vida na terra quanto a evolução para uma
tão que me vem à mente é “quem é radical?”. Uma vez, um dieta vegetariana. A ordem de vida vegetariana, pelos seus efeitos
colega de yoga que me conhecia há quase um ano e nem tinha físicos, influenciará o temperamento dos homens de uma tal ma-
ideia de que eu era vegetariana, apontou o dedo na minha direção neira que melhorará em muito o destino da humanidade.”(Albert
e disse a tal frase. Para combater minha indignação, escrevi-lhe Einstein)
uma carta, que reproduzo abaixo:
Amigo, “Entre a brutalidade para com o animal e a crueldade para com
Eu senti muito pela forma como você apontou o dedo e cha- o homem, há uma só diferença: a vítima.” (Lamartine)
mou de radical qualquer pessoa que tenha uma postura diferente
da sua. Veja bem que você me conhece há quase um ano e nem “Quanto mais o homem simplifica a sua alimentação e se afasta
sabia que sou vegetariana. E você só ficou sabendo porque amigos do regime carnívoro, mais sábia é a sua mente.”
em comum perguntaram por que eu não comia carne. (George Bernard Shaw)
Sabe o que é engraçado? Eu nunca te chamei de radical por
comer carne. Mas você chama de radical quem resolve não co- Há muitos mais radicais, como Buda, Lao Tsé, Leonardo da
mer… Vinci, Platão, Sócrates, Voltaire, Professor Hermógenes, Patrícia
Então, vamos ver alguns pontos sobre isso de ser radical, ok? Você Travassos, Éder Jofre, Paul McCartney, entre tantos outros.
acha que teria coragem de pegar um revólver e dar um tiro numa E, com certeza, o mais radical de todos Gandhi: “Sinto que o
vaca, numa galinha ou num porco, olhando nos olhos do animal, progresso espiritual requer, numa determinada etapa, que pare-
assim como eu olho no do meu cachorro? Eu acho que não… Acho mos de matar nossos companheiros, os animais, para a satisfa-
que não teria coragem… Então eu te pergunto: quem manda matar ção dos nossos desejos corpóreos.”
faz menos do que quem mata? E matar não te parece radical? Sabe, amigo, eu não fico te apontando, chamando de radical e di-
Eu não cheguei a falar ontem, mas as pessoas que param de zendo que minha opção é melhor ou pior que a sua.
comer carne normalmente param por três motivos: Você se pergunta: “Eu posso comer carne?” E a resposta é:
- Ambiental: a criação de carne devasta florestas, gastam-se tone- claro que sim!!!
ladas de soja para fazer 1 quilo de carne, os excrementos e gases Eu me pergunto: “Eu posso viver sem comer carne?” Minha
produzidos pelos animais poluem o ambiente. resposta: claro que sim!!!
- Saúde: há estudos ligando a ingestão de carne a muitas doenças, Simples assim. Cada um na sua. Perceba que, do meu ponto de
entre elas o câncer e o colesterol. Além disso, o hormônio que é vista, eu poderia dizer que quem come carne e precisa se alimen-
dado para que os animais cresçam mais rapidamente tem preju- tar de vidas é radical. Mas não o faço. Então pare e pense melhor
dicado os seres humanos. Os animais estão enfraquecendo com antes de apontar radicalismos.
a forma com que são criados e por isso cada vez recebem mais Será que pode ser chamado de radical quem venceu um hábito
antibióticos, que acabamos ingerindo por tabela, sem saber. Essa como o de fumar ou beber de comer carne e percebeu que não
atitude de nos encher de remédios sem sabermos não te parece precisa provocar a morte de animais para continuar vivendo bem
radical? e com saúde? É só uma opção. Será que podemos chamar de radi-
- Ética: os animais vivem em condições sub-humanas, são maltra- cal quem encara os animais como irmãos e não quer comer seus
tados, vivem doentes, sentem dores, sofrem quando são separados irmãos?
dos seus filhotes e quando sabem que vão morrer. Provocamos É radical querer saber de onde vem minha comida e não com-
sofrimento e dor só porque achamos gostoso comer carne e não pactuar com morte? Não sei por que, mas não me sinto assim tão
porque precisamos. Radical, não é? radical…
Você tem razão quando diz que é cultural. Como era cultural
considerarmos os negros menos que humanos e nos acharmos no Viviane Pereira é jornalista, escritora e dona da empresa Magia das Palavras,
direito de legislar sobre a vida e a morte desses, para os fins que que atua na área de produção de textos para publicações, roteiros e realização de
palestras. É também autora dos livros Heróis da Vida Real e Viver Bem – Casa,
bem entendêssemos. Saúde, Beleza & Cia, e co-autora de Memórias da Hotelaria Santista e Mulheres
que Fazem São Paulo – a Força Feminina na Construção da Metrópole. Escreve
para a Revista dos Vegetarianos e mantém o blog www.lapidandopalavras.com.br.
Fonte: ANDA - Agência de Notícias de Direitos Animais

Momento de Reflexão
“ Sem o cultivo da experiência do sagrado não conseguimos impor
limites à voracidade depredadora do tipo de desenvolvimento dominante,
nem salvar ecossistemas e espécies vivas ameaçadas de extinção.”
Leonardo Boff

11
Comunidade Moral Sônia T. Felipe

A
ética tradicional, na qual fomos todos educados, considera se pode mais, sem ferir a racionalidade, afirmar que certos seres
dignos de atenção, respeito e consideração moral apenas sencientes têm a capacidade de sofrer, e outros não.
os seres dotados de racionalidade. Por milênios pensou-se Por isso, o agente racional íntegro expande a aplicação dos con-
que o fato de ser capaz de raciocinar logicamente nos moldes do ceitos até onde eles permitem, sem medo de alcançar conclusões
raciocínio lógico típico dos humanos bastasse para definir quem que o levem a algum desconforto, por exemplo, ao desconforto de
merecia respeito moral. reconhecer que, por ser senciente, é um ser “dorente” e “sofrente”
Ao longo de mais de vinte séculos nenhum outro critério, além (Richard D. Ryder, Painism: A Modern Morality; e, The Political
da razão, foi estabelecido para definir quem pertence, ou não, à Animal), portanto, não aprova ações alheias que lhe causem dor
comunidade moral. Confundiu-se a posse da racionalidade huma- ou o façam sofrer. Tal conclusão, racional, compromete o agente
na com mérito moral. Ora, ser racional não é mérito de ninguém, moral a não causar dor e sofrimento a qualquer ser senciente, por
do mesmo modo que não ser capaz de fazer uso da razão não é uma questão de simples coerência. Que isso lhe causa desconfor-
demérito de ninguém. Em outras palavras, aprende-se, ou não se to, é quase certo. Mas, racionalidade moral não tem acordos com a
aprende, a pensar de modo lógico, a tirar conclusões de modo ló- comodidade. Maltratar seres sencientes, para tirar deles benefícios
gico, a agir de modo lógico. Se a razão fosse algo formatado em que só deveriam ser buscados com empenho próprio, é algo que a
nós geneticamente não haveria necessidade de tanto cuidado dos razão humana, quando não se encontra talhada para instrumentali-
adultos com as crianças e adolescentes, adultos que não tiveram zar os outros, reconhece como injustificável.
tal capacidade desenvolvida ou a perderam.
Do mesmo modo que se pensava que a racionalidade era a
única característica que distinguia humanos de não humanos, tam-
bém se concluiu que essa era a única distinção que deveria indicar
os seres dignos de respeito moral. Tal conclusão não serviu para
aprimorar a racionalidade humana, nem para estabelecer a mora-
lidade entre nós. Enquanto ficamos fazendo um esforço imenso
para arredar do âmbito da comunidade moral os seres que não
raciocinam logicamente nos termos considerados louváveis pelos
humanos, não apenas excluímos muitos humanos do círculo dos
seres dignos de respeito moral; também mantemos à força, fora
desse círculo, todos os seres vivos não humanos.

A história humana prova que não evoluímos moralmente a


não ser quando damos um passo no sentido de ampliar o círculo
da moralidade no qual admitimos que seres diferentes de nós são
dignos de nossa consideração e apreço morais. Foi assim com os
estrangeiros, as mulheres, os negros, as crianças, os deficientes.
O desafio, hoje, é ampliar o círculo para admitir o ingresso nele
de seres não humanos, animais e ecossistemas, que, embora não
sejam capazes de agir racionalmente, vivem à mercê das ações
de sujeitos capazes de agirem racionalmente. O que se espera de
quem é capaz de agir racionalmente é que amplie o horizonte de
seus fins, incluindo o bem próprio de outros seres vivos como alvo
Mas o que constitui a racionalidade em um humano? Talvez a das decisões e ações empreendidas. Racionalidade tem a ver com
história da filosofia ocidental, desde os gregos, não tenha feito ou- expansividade, não com enrugamento, dobras, pregas e peque-
tra coisa além de elaborar um discurso que sirva de evidência para nez.
quem queira demonstrar que humanos são capazes de raciocinar Sônia T. Felipe - é��������������������������������������������������������������
doutora em Teoria Política e Filosofia Moral, com pós-douto-
logicamente. Mas, ao contrário do que possa parecer, o raciocínio rado em Bioética-Ética Animal, co-fundadora do Núcleo de Estudos Interdiscipli-
lógico não implica apenas construir silogismos. Implica também nares sobre a Violência, ex-voluntária do Centro de Direitos Humanos da Gran-
analisar o alcance ou aplicação de cada premissa de um raciocínio, de Florianópolis, co-autora de “A violência das mortes por decreto” (Edufsc),
sem negar aos objetos aos quais as premissas se referem o direito “O corpo violentado” (Edufsc), “Justiça como Eqüidade” (Insular) e “Por uma
questão de princípios” (Boiteux), “Ética e experimentação animal: argumentos
de fazerem parte do conceito em apreço. Assim, por exemplo, se abolicionistas” (Edufsc), colaboradora nas coletâneas, “O utilitarismo em foco”
afirmamos que todos os seres dotados de sensibilidade e de cons- (Edufsc), “Éticas e políticas ambientais (Univ.Lisboa), “Filosofia e Direitos Hu-
ciência sentem dor e sofrem, não podemos em seguida construir manos” (Edufce), “Tendências da Ética Contemporânea” (Vozes), “Instrumento
uma barreira especista com o objetivo de discriminar certos seres, Animal” (Canal 6). É professora e pesquisadora dos Programas de graduação e
negando o reconhecimento de que são capazes de sentir dor e de pós-graduação em Filosofia, e do Doutorado Interdisciplinar em Ciências Huma-
nas, da UFSC. Investigadora Permanente do Centro de Filosofia da Universidade
sofrer, justificando tal discriminação pelo fato de que eles não têm de Lisboa e Membro do Bioethics Institute da Fundação Luso-americana para o
um formato semelhante ao dos humanos. Uma vez concluído que Desenvolvimento, Lisboa. Fonte: ANDA - Agência de Notícias de Direitos Ani-
sensibilidade presente à consciência forma a senciência, já não mais.

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Instituição do Mês O Jornal Também Canta
FUNDAÇÃO PERRONE
Entidade civil sem fins lucrativos que desenvolve uma obra
Caçador de Mim
Milton Nascimento
de grande valor moral, social e cristão voltada ao tratamento
Composição: Luís Carlos Sá e Sérgio Magrão
gratuito de crianças carentes de 0 a 12 anos com problemas
neurológicos e comprometimento neuropsicomotor. Por tanto amor
Por tanta emoção
As crianças precisam de nós. A vida me fez assim
E nós precisamos de você. Doce ou atroz
Manso ou feroz
Eu caçador de mim
Preso a canções
Entregue a paixões
Que nunca tiveram fim
Vou me encontrar
Longe do meu lugar
Eu, caçador de mim
Nada a temer senão o correr da luta
Faça sua doação: Nada a fazer senão esquecer o medo
Através do TELEMARKETING: 3231.7080, Abrir o peito a força, numa procura
Aderindo a Campanha AMIGO SOLIDÁRIO: 3462.4375 Fugir às armadilhas da mata escura
ou depositando no BANCO DO BRASIL Ag.: 2988-2 C.C.: 14.276-X Longe se vai
Sonhando demais
R. Osório Borba, 172 - Piedade Mas onde se chega assim
Jaboatão dos Guararapes Vou descobrir
www.fundacaoperrone.org O que me faz sentir
www.cabbrasil.it/video Eu, caçador de mim
81 3462.4375

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Mas que tal assistir à mesma cena sob outra perspectiva? No prato jaz um pedaço de mús-
culo, amputado da região pélvica de um animal bem maior que você. Com a faca, você
serra os feixes musculares. A seguir, coloca o tecido morto na boca e começa a dilacerá-lo
com os dentes. As fibras musculares, células compridas – de até 4 centímetros – e resisten-
tes, são picadas em pedaços. Na sua boca, a água (que ocupa até 75% da célula) se espalha,
carregando organelas celulares e todas as vitaminas, os minerais e a abundante gordura
que tornavam o músculo capaz de realizar suas funções, inclusive a de se contrair. Sim,
meu caro, por
mais que você odeie pensar que a comida no seu prato
tenha sido um animal um dia, você está comendo um cadáver.
http://super.abril.com.br/mundo-animal/deveriamos-parar-comer-carne-442851.shtml

Produzido e Publicado pelo Grupo Ganapati

Ganapati
E-mail: grupo.ganapati@gmail.com | Blog: http://grupoganapati.blogspot.com
João Asfora Neto (81) 9697.6629, Jorge Terto (81) 8639.0642, Simone Nassar, Sérgio
Pires, Cynthia Silveira, Mariana Hoblos, Paulo Lins, Pedro Santos, Liney Dias,Luciana
Asfora, Roberta Lima, Jeanine Japiassu, Isadora Dias e Conceição Cavalcanti.

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