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ESTUDO DINAMOMÉTRICO DA PREENSÃO PALMAR EM PRÉ-

ESCOLARES

Zenite Machado1, Audrey Cristine Esteves1, Diogo Cunha dos Reis2, Jolmerson de Carvalho2, Noé
Gomes Borges Júnior1.
1
Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC – Florianópolis/SC;
2
Laboratório de Biomecânica – CDS – Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC – Florianópolis/SC.

RESUMO: Este trabalho propõe estudar a preensão manual em crianças pré-escolares utilizando um dinamômetro para
força isométrica, relacionando estes valores ao sexo, dominância e tamanho da mão. Participaram 93 crianças de 6 anos,
51 meninas e 42 meninos. Foram feitas três tomadas para cada mão com intervalo de 8s. Nas meninas, os valores da
força de preensão foram X = 89N (membro dominante) e X = 85N (membro contra-dominante) com diferença de p =
0,41. Nos meninos, foram X = 97N e X = 91N, respectivamente com p = 0,23. O comprimento das mãos em ambos os
sexos foram de X = 13 cm (direita) e X = 13,4 cm (esquerda). As correlações entre as médias do comprimento da mão
e pico de força das mãos direita e esquerda foram 0,51 e 0,39, respectivamente. Concluiu-se não haver diferenças
significativas entre força de preensão relacionada à dominância e sexo, havendo baixa correlação relacionada ao
comprimento da mão.
Palavras-chave: dinamômetro, força de preensão isométrica, mão, criança.

Abstract: This research has the intention of to study the manual grip force in preschool children using a dynamometer
for isometric force, relating these values to the sex, domination and size of the hand. 93 children of 6 years, 51 girls and
42 boys had participated. Three registers for each hand with interval of 8s were made. In the girls the values of the grip
force had been X= 89N (dominant member) e X = 85N (non-dominant) with difference of p = 0,41. In the boys the
values of the grip force were X = 97N e X = 91N respectively with difference of p = 0,23. The length of the hands in
both the sex were of X = 13 cm (right) e X = 13,4 cm (left). The correlations between the averages of the length of the
hand and peak of force of the right and left hands were 0.51 and 0,39, respectively
Keywords: dynamometer, isometric grip force, hand, children.

INTRODUÇÃO força da mão. Esses valores são utilizados para a


construção de escalas e testes de avaliação motora,
A mão humana é um instrumento complexo que são aplicados tanto no meio clínico quanto
que se destina à manipulação de objetos, sensações pedagógico [4].
e execuções de tarefas múltiplas [1]. Sua natureza Objetivou-se com este estudo determinar,
complexa está refletida na grande porção no através de um dinamômetro isométrico, a força de
cérebro destinada a direção e controle das funções preensão manual em crianças de 6 anos nas escolas
por ela executadas [2]. É através das mãos que se públicas de Florianópolis, comparar os valores em
podem adotar infinitos padrões adaptáveis às mais relação ao sexo e à dominância e correlacionar
diversas condições, que diferentes atividades dos com os valores de tamanho da mão.
membros superiores podem ser exercidas. Assim
podemos apreender, segurar, manter, soltar, entre MATERIAIS E MÉTODOS
outras ações, os objetos [3].
Um parâmetro que vem sendo estudado Participaram da pesquisa 93 crianças com 6
devido às variações nos valores encontrados entre anos de idade, ambos sexos, sendo 51 do sexo
pré-escolares e escolares das séries iniciais, é a feminino e 42 do sexo masculino, sem alterações
clínicas, da rede pública de ensino da cidade de feitas três tomadas diretas para cada mão, sem
Florianópolis/SC. feedback visual, com intervalo de 8s.
Para mensuração da força utilizou-se um
dinamômetro portátil construído com
extensômetros resistivos do tipo strain gages,
desenvolvido no Esteves et al. [5] acoplado a um
condicionador de sinais (Figura 1).

Figura 2 – protocolo de coleta.

O tratamento estatístico utilizado nos dados


da força de preensão foi estatística descritiva
através da média aritmética e desvio padrão. Para
comparação da força de preensão em relação à
Figura 1 – dinamômetro para preensão manual dominância e ao sexo foi aplicado o teste “t” de
infantil. Student (p ≤ 0,05). Nas medidas de comprimento e
largura da mão e comprimento do dedo médio foi
Para a aquisição dos dados utilizou-se uma utilizado a estatística descritiva através da média
carta de aquisição de 12bit’s, 8 canais (CIO-DAS aritmética e desvio padrão. Para correlação da
®
1600 da Computer Board™), o software SAD 32 força de preensão em relação ao tamanho da mão
e um microcomputador. Adotou-se uma taxa de utilizou-se a correlação de Pearson.
aquisição de 200Hz porque o crescimento da força
de preensão até o valor máximo ocorre de maneira RESULTADOS
lenta, sendo esta taxa compatível com o sinal
adquirido. A Tabela 1 apresenta os valores médios da

A mensuração do comprimento e largura da força de preensão em relação à lateralidade em

mão e comprimento do dedo médio foi feita com ambos os sexos.

uma trena, com resolução de 1mm.


Na coleta a criança foi instruída a ficar na Tabela 1: Valores médios da força de preensão em

posição sentada com o antebraço supinado e relação à lateralidade em ambos os sexos.

apoiado sobre uma superfície plana, com o


cotovelo em 90O, pressionar o instrumento três feminino masculino

vezes até o alcance da força máxima o mais Mão X σ X σ


brevemente possível, primeiro com a mão direita e dominante 89 N 9N 97 N 9N
em seguida com a esquerda (Figura 2). Foram contra-dominante 85 N 8N 91 N 7N
A tabela 2 apresenta os valores médios do Trivers et al. [6] realizaram um estudo com
comprimento de mão das crianças. 285 crianças, entre 5 e 11 anos de idade, de
comunidades rurais da Jamaica para verificar a
Tabela 2: Valores médios do comprimento de mão. simetria entre os segmentos corporais. Dos dados
analisados, apenas os referentes às medidas da mão
Mão X σ não apresentaram assimetria flutuante.
direita 13 cm 1,6 cm Nas medidas de tamanho da mão não houve
esquerda 13,4 cm 1,4 cm diferenças estatisticamente significativas,
concordando com os dados de Trivers et al. [6].
As medidas da força de preensão Link et al. [7] realizaram um estudo com 225
encontradas foram, respectivamente, X = 89N para pré-escolares para determinar a força de preensão
membro dominante e X = 85N para membro esférica utilizando o “Martin Vigorimeter”. Não
contra-dominante no sexo feminino, enquanto no houve diferença significativa entre mão direita e
sexo masculino os valores foram X = 97N e X = esquerda e nem entre meninos e meninas, havendo
91N. No sexo feminino entre membro dominante e alta correlação entre largura da mão e força de
contra-dominante foi encontrado p = 0,42 e no preensão.
sexo masculino p = 0,24. A diferença encontrada Blank et al. [8] estudaram o controle do
entre os sexos foi p = 0,19. As medidas de feedback visual nos níveis da força de preensão
comprimento da mão encontradas foram de X = 13 estática na pinça e na preensão manual em 69
cm para mão direita e X = 13,4 cm para mão crianças de 3 a 6 anos de idade e 17 adultos. Um
esquerda, em ambos sexos. A correlação dos resultados encontrados é que a diferença entre
encontrada entre a média do comprimento da mão gêneros é secundária a base neurobiológica. Já
direita e a média de pico de força respectiva foi de Murase et al. [9] investigaram a força de preensão
0,51 e entre a média do comprimento da mão em 30 pré-escolares de 5 e 6 anos de idade, onde
esquerda e a média de pico de força para a mão encontraram que não há diferenças significativas
esquerda foi de 0,39. na força de preensão entre os gêneros.
Dunn [10] verificou a força de preensão em
DISCUSSÃO dois grupos de crianças com idade entre 3 e 7 anos,
um grupo saudável e outro com doenças

Em nosso estudo, quanto à força de reumáticas, utilizando um esfignomanômetro

preensão, as diferenças encontradas entre o modificado. Como resultados obteve que a força

membro dominante e o contra-dominante, tanto aumenta com a idade, que não há diferença entre

para meninas quanto para meninos não foram os sexos e que as crianças que apresentavam

significativas, nível de significância de 95%, doença reumática tinham significativa perda da

provavelmente por não haver ainda uma força de preensão.

sobrecarga com atividades específicas nesta faixa Entre os sexos também não apresentou

etária. significância, possivelmente por se encontrarem


em uma fase do desenvolvimento onde ainda não
houve influência hormonal. Estes dados estão de
[2] Catovic E, Catovic A, Kraljevic K, Muftic O.
acordo com diversos estudos [7-10].
The influence of arm position on the pinch grip
Newman et al. [11] apresentaram as normas strength of female dentists in standing and sitting
positions. Appl Ergon 1991; 22(3): 163-166.
para a força de preensão manual em crianças
saudáveis, idades entre 5 e 18 anos, utilizando um [3] Sande LAP, Coury HJCG. Aspectos
biomecânicos e ergonômicos associados ao
dinamômetro portátil construído com strain
movimento de preensão: uma revisão. Rev Fisioter
gauges. A força de preensão comparada entre UNICID 1998; 5(2): 71-82.
meninas e meninos foi maior nos meninos do que
[4] Beenakker EAC, Van Der Hoeven JH, Fock
nas meninas e a correlação entre o tamanho da mão JM, Maurits NM. Reference value of maximum
isometric muscle force obtained in 270 children
e a força foi notada em crianças a partir de 10 anos.
aged 4-16 years by hand-held dynamometry.
Quanto à medida da mão e o pico de força, a Neuromuscul Disord 2001; 11: 441-446.
baixa correlação encontrada possivelmente tenha
[5] Esteves AC, Borges Jr NG, Leite RM, Stolt
sido pelo fato de que as maiores correlações entre LROG, Bertoni A. Protótipo para teste de preensão
da mão: desenvolvimento e calibração. Anais do X
força e tamanho da mão ocorram em
Congresso Brasileiro de Biomecânica 2005; 2:
empunhaduras médias, concordando com Newman 153-156.
et al. [11]. Os dados encontrados por Link et al. [7]
[6] Trivers RL, Manning JT, Thornhill R, Singh D,
diferem dos nossos, provavelmente por ter usado McGuire M. Jamaican symmetry project: long-
term study of fluctuating asymmetry in rural
na correlação medidas referentes a largura da mão.
Jamaican children. Hum Biol 1999; 71(3): 417-
430.
CONCLUSÃO
[7] Link L, Lukens S, Bush MA. Spherical grip
strength in children 3 to 6 years of age. Am J
Occup Ther 1995; 49(4): 318-326.
Em relação à dominância e ao sexo, para esta
faixa etária não houve diferenças significativas. [8] Blank R, Heizer W, Von Vo H. Externally
guided control of static grip forces by visual
Entretanto, percebeu-se que o membro dominante
feedback – age and task effects in 3-6 year old
apresentou um pico de força maior do que o children and in adults. Neurosci Lett 1999; 271:
41-44.
membro contra-dominante em meninos e meninas;
entre os sexos, os meninos apresentaram maior [9] Murase T, Kinoshita H, Ikuta K, Kawai S,
Asami T. Discrimination of grip force for
força de preensão do que meninas.
preschool children aged 5 to 6 years. Percep Motor
Também se constatou que há baixa Skills. 1996; 82(1): 255-263.
correlação entre força de preensão e comprimento
[10] Dunn W. Grip strength of children aged 3 to 7
da mão nesta faixa etária, sendo interessante que se years using a modified sphygnomanometer:
comparison of typical children and children with
realize mais estudos correlacionando o pico de
rheumatic disorders. Am J Occup Ther 1993;
força na preensão manual isométrica com outras 47(5): 421-428.
medidas da mão, como a largura.
[11] Newman DG, Pearn J, Barnes A, Young CM,
Kehoe M, Newman J. Norms for hand grip
strength. Arch Dis Child 1984; 59(5): 453-459.
REFERÊNCIAS
e-mail:
[1] Lehmkuhl L, Smith L. Cinesiologia clínica de audrey_cris@yahoo.com.br
Brunnstrom. São Paulo: Manole, 1989.

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