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Os significados estão na cabeça?

 O argumento da terra gêmea de Putnam pretende mostrar que a referência de um


termo particular ou categoria natural não é fixada por um conjunto de descrições
associadas a esses termos.
 Durante muito tempo as teorias descritivistas (inspiradas em Russell e Frege) forneceram
um modelo de como funciona o mecanismo da referência. Nomes próprios e termos
para categorias naturais referem através de um conjunto de descrições associadas por
um falante a esse objeto.
 Uma ou muitas descrições determinaram que só existe um e apenas um objeto com
determinadas propriedades.
 Os argumentos fornecidos por Kripke e Putnam parecem refutar a as teorias
descritivistas: os de Kripke acerca dos nomes próprios e os de Putnam acerca dos termos
para categorias naturais. Examinaremos aqui apenas alguns argumentos de Putnam
acerca dos termos para categorias naturais.
 No geral, Putnam fornecerá dois argumentos contra o descritivismo: um i)negativo e o
outro ii)positivo. (i) mostrará porque a tese descritivista não funciona e (ii) mostrará
como os nomes referem.

Vejamos os termos centrais para entender a argumentação

 Intensão
o Conceitos ou descrições que os falantes associam aos termos
 Extensão
o A extensão de um conceito é a classe dos objetos aos quais um termo se refere
 Estado psicológico ou mental
o São estados intencionais, ou seja, são acerca de algo. (x deseja (sabe, detesta
etc.) que P). O conteúdo desse intencional desse estado mental é que é desejado
por P.
 Pode-se entender “estados mentais” em dois sentidos
o Estrito
 Não pressupõe nada mais do que a mente do sujeito que tem tais estados
o Lato

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 Necessita de algo externo à mente do sujeito
 Internalismo
o Nesse contexto ser internalista significa defender a posição de que a referência
dos termos é determinada ou fixada independente do mundo exterior. O que
determina a referência de um termo é o conteúdo de um estado mental –
apreensão da intensão de um termo – na cabeça do falante.
 Solipsismo Metodológico
o É o mesmo que internalismo

Doutrina semanticista tradicional

 A doutrina semanticista tradicional é internalista, ou seja, sustenta que a referência é


determinada por nossos estados mentais.
 É importante salientar que para os descritivistas a INTENSÃO determina a EXTENSÃO.
Isto é, os conceitos ou as descrições associadas a um termo determinam qual a classe de
objetos aos quais esse termo se referirá.
 Vejamos agora a posição dos descritivistas. Putnam diz que estão a defender a conjunção
das seguintes afirmações:
(I) Saber o significado de algo é estar em um estado mental – o de aprender a
intensão de um termo.
(II) A intensão de um termo determina sua extensão – isto é, se dois termos têm a
mesma intensão (sentido), então possuem a mesma extensão (referência).
 A posição geral dos descritivistas será, portanto, a de que em última análise o que
determina a referência dos termos são os nossos estados mentais; pois se a intensão
determina a extensão, e apreender a intensão de um termo é estar em um estado
mental particular, será esse estado mental precisamente que determinará a referência.
 Disso parece seguir-se que os significados estão em nossas cabeças.

O argumento da terra gêmea

 O argumento da terra gêmea (parte negativa) pretende mostrar que não podem ser os
estados mentais que determinam a referência. A maneira como isso será feito, será
através de um contra-exemplo.

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o Duas pessoas que partilham do mesmo estado mental e no entanto estão a se
referir a coisas diferentes.
 Da tese descritivista segue-se a seguinte condicional

Se duas pessoas partilham o mesmo estado mental, então estão a se referir a uma e mesma
coisa.

o O exemplo da terra gêmea ao mostrar que duas pessoas podem partilhar do


mesmo estado mental sem que com isso estejam referindo a mesma coisa é a
negação da condicional.

Vamos ao exemplo

 Há um planeta que é em quase tudo idêntico a terra, a não ser por um fato: o que há lá
nos rios e mares, na chuva e etc. não é H2O, mas antes XYZ.
 No entanto, tem as mesmas propriedades fenomenológicas de H 2O e também se chama
água.
 Chamemos esse planeta onde apenas há essa diferença nos líquidos chamados água de
Terra Gêmea (TG), já que em nada mais difere da Terra.
 Assim, os falantes da Terra e da Terra Gêmea ao falarem de água se encontraram no
mesmo estado mental
o Imagine que um visitante da Terra Gêmea vem morar no Brasil e vira deputado
no nordeste. Quando um falante da Terra for se queixar a ele que devido à falta
d’água no sertão as pessoas estão morrendo, os dois terão o mesmo estado
mental no que se refere à água.
 Ora, mas mesmo tendo sido o modo como ambos os falantes aprenderam as intensões
do termo “água”, é óbvio que não estão a referir a mesma coisa: o falante gêmeo está a
referir a XYZ quando profere “água”, enquanto que o falante da Terra está a se referir a
H2O quando profere o mesmo termo.
 Assim, embora os dois estejam no mesmo estado mental, não estão a se referir à mesma
coisa.
 Portanto, os estado mentais não podem determinar a referência.

De outro modo:

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(1) Se dois termos, A e B, têm a mesmo sentido (intensão), então têm a mesma
referência (extensão). (por II)
(2) A e B têm o mesmo sentido.
(3) Logo, A e B têm a mesma referência (extensão). (por I)
(4) Ora, A e B têm extensões diferentes (um é H2O e o outro é XYZ).
(5) Logo, I é falso. (por 3, 4).

Segue-se assim a primeira tese de Putnam

(TP1) A intensão (estados mentais), para categorias naturais, não pode determinar a
extensão desses termos.

Donde segue-se

(TP2) O conteúdo descritivo dos termos para categorias naturais não é suficiente para
determinar sua extensão.

E portanto, os significados não estão na cabeça.

Mas como, então, determinar a referência?

 Pela divisão do trabalho lingüístico. A determinação da referência é social.


 Os termos para categorias naturais possuem um elemento indexical escondido.
 Se aponto para um copo com H 2O e digo que o líquido dentro dele é água, então em
todos os mundos possíveis onde esse líquido exista, será sempre água. A isso podemos
chamar designador rígido. Um designador rígido é um termo que designa um e apenas
um objeto (no nosso caso uma categorial natural) nos mundos onde existem.

(TP3) Termos para categorias naturais têm um elemento indexical escondido, algo que
podemos ver pelo modo como a sua referência é fixada – por definição ostensiva.

(TP4) Termos para categorias naturais são designadores rígidos.

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