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Dados de Catalogação (C1P) Internacional

(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)


Godói, Romildo de.
Criação racional de abelhas jataí / Romildo de Godói. —
São Paulo : ícone, 1989. — (Coleção Brasil agrícola)

ISBN 85-274-0087-1

1. Abelhas 2, Apicultura - Brasil I. Título. II. Série.

CDD-638.10981
89-0607 -638.1

Índices para catálogo sistemático:


1.Abelhas jataí: Cultura 638.1
2.Brasil: Apicultura 638.10981
Romildo de Godói

CRIAÇÃO RACIONAL
DE ABELHAS JATAÍ

ícone
editora
Copyright 1989 ícone Editora Ltda.

Coleção: Brasil Agrícola


Produção: José Carlos Santa Luzia
Capa: SantaLuzia /Anízio Arte-final: Anízio de Oliveira
Revisão: Rosa Maria Cury

Todos os direitos reservados.


Proibida a reprodução total ou parcial desta obra.

ÍCONE EDITORA LTDA.


Rua Anhagüera, 56/66 - Barra Funda
01135-São Paulo - SP.
Tels. (011) 826-7074/826-9510
Dedico este livro à minha amada Denise
e a meus filhos: Robinson e Juliane
e a todos que amam a Natureza
Meus agradecimentos

Aos amigos que tanto me incentivaram, dando-me


forças para concluir este livro:

José Roberto Locatelli Fonseca

Dalziso dos Santos Filho e


Lúcia Elena Pavão dos Santos

e ao saudoso Francisco Ferreira de Almeida que me ensinou o canto dos


pássaros, o nome dos bichos e deu-me, pela primeira vez, o mel de jataí,
abrindo uma caixinha, despertando assim minha curiosidade de menino e o
meu amor por estas abelhinhas e por toda a natureza.
APRESENTAÇÃO

Entre uma teoria e outra, as realizações de um administrador


dependem da constante busca do prático e funcional através da observação.
Foi assim que conheci Romildo de Godói, observador, prático e funcional
em suas realizações.
A observação é a característica do pesquisador.
A praticidade, bem como a funcionalidade são propriedades comuns
aos homens de ação e realização, sem rodeios que os tornem enfadonhos.
Com essas características, Godói produziu o livro Criação Racional
de Abelha Jataí, com a simplicidade que são realizadas as coisas da
natureza, ressaltando o útil, o prático, o funcional, tal qual revelam as
personagens principais do presente trabalho, as jataís.
A originalidade do trabalho contribui para complementar as
inúmeras publicações sobre outras espécies cultivadas no Brasil,
proporcionando excelente fonte de consulta para os pesquisadores, além de
possibilitar um tratamento mais científico às colméias conduzidas com fins
domésticos e também comerciais.
vel, de fácil compreensão, o autor aborda, com riqueza de detalhes, a vida e
o manejo dessas nossas tão conhecidas (e também desconhecidas)
abelhinhas.
Além da parte técnica, de grande competência, sentimos ainda
passar, nas entrelinhas, um grande respeito pela natureza e por tudo que dela
vem, pois seu autor tem profunda formação humanística e sensitiva.
Que este livro possa, guardadas as devidas distâncias, incentivar a
colméia humana a trabalhar mais ao seu respeito às vidas que a cercam e
que dela, de algum modo, dependem.
Está de parabéns o autor deste trabalho, que muito me honrou com o
pedido de seu prefácio.

Gláucia Elisabete Duarte de Oliveira


Prof de Ciências e Biologia por profissão e
naturalista por opção
PREFÁCIO

Pequena bolha alada vem. Fábrica de mel e cera, chega a sua colméia
e mergulha em seu mundo sempre escuro, cheio de trabalho e segredos.
Dentro, em permanente azáfaraa, uma quantidade de pequeninos
seres se agita, construindo e mantendo sua harmonia quase perfeita.
Não há individualidade a zelar lá dentro. Tudo é pelo todo e para o
todo. Para que a colônia dure e se expanda. Para que a espécie se perpetue.
De fora, na luz, outro ser as observa. Um homem. Com carinho e
infinita paciência vai coletando seus dados, pouco a pouco, como uma
operária ao seu pólen. E como esse homem tem muito da índole dos seres
que está a estudar, divide o que observou com os outros, que também o
passarão adiante, numa bela seqüência de ensinamentos.
Antes todos os homens assim o fossem!
Neste livro, sobre as nossas tão amáveis abelhas jataís, os leitores
irão encontrar ensinamentos ei orientações seguras de quem conhece, estuda
e ama o que faz. Em linguagem acessí-
A abrangência do presente trabalho permite recomendá-lo, à guisa
de apresentação, a todos os naturalistas, leigos e pesquisadores, iniciantes e
veteranos da apicultura, técnicos em geral, agrônomos e zootecnistas."
Enfim, presta-se àqueles que desejam informações precisas e
objetivas acerca do assunto.

Sebastião Orlando da Silva


Mestre em Administração Rural e
Prof. assistente de Teoria Geral de Administração da
Academia da Força Aérea.
ÍNDICE

I - A CADEIA ECOLÓGICA
1 - Trabalho para uma conscientização .................17

II - CRIAÇÃO SEM GRANDES INTERESSES


1 - As abelhas jataís ...............................................27
2-O melhor lugar para instalar um apiário .............29
3- Como instalar um apiário na área urbana ..........30
4 - Normas a seguir pelos criadores sem grandes
interesses .........................................................................32

III - CRIAÇÃO RACIONAL DE ABELHAS JATAÍS


1 – Introdução .............................................................37
2 - Características das jataís ........................................38
3 - Outros detalhes da colônia ....................................38
4 - Característica do ninho ..........................................39
5 - Importância do canudo de entrada .........................43
6- O batume ................................................................44
7 - Os favos de cria .....................................................45
8 - Os inimigos das jataís ............................................46
9 - Doenças e medidas preventivas .............................49
10 - O manejo da colméia ...........................................50
11 - O fenômeno do alvoroço de centenas
de abelhinhas ..............................................................50
12 - O preparo da colméia i para as floradas ..............51
13- O xarope de reforço ..............................................51
14- O alimentador .......................................................51
15 - A enxameação ......................................................52
16 - As caixas-isca .....................................................53
17 - Transferência da colméia selvagem para
a caixa-padrão .............................................................54
18 - Como proceder com jataís alojadas
em árvores frondosas ..................................................57
19 - Multiplicação de colméias por processo artificial
- primeiro processo e segundo processo .....................60
20 - Instalação do apiário na zona rural ......................61
21 - Hora apícola para abelhas jataís ...........................63
22 - O transporte para as grandes floradas ..................64
23 - Colméia-padrão ....................................................65
24 - Descrição da colméia-padrão ...............................66
25 - Descrição das gavetas ..........................................66
26 - Cera moldada para jataís ......................................77
27 - Extração do mel ...................................................79
28 - Exploração comercial ..........................................79
29 - Comparação do custo de instalação
da Apis mellifera e das jataís ......................................80
30 – BIBLIOGRAFIA ................................................83
I. A CADEIA ECOLÓGICA

Trabalho para uma Conscientização

A vida, em qualquer ponto da Terra, é uma só. Por mais simples que
se nos apresente, sempre cumpre o seu papel biológico.
Como exemplo, cito as algas, esses seres simples, formados de uma
única célula. Elas são responsáveis por boa parte da oxigenação do ar.
As bactérias, chamadas de rizóbio, fixam o nitrogênio da atmosfera
no solo, vivendo em simbiose com as leguminosas e muitas outras plantas
que se beneficiam do nitrogênio para o seu crescimento.
Certo fungo, chamado de micorriza, além de conviver com as
orquídeas, é responsável pela germinação de suas sementes.
À minhoca drena a água da chuva para o subsolo, com seus túneis
faz com que o oxigênio chegue até as raízes das plantas. Traz para a
superfície os sais minerais, ou seja, os mi-

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cronutrientes através de seus excrementos. Transforma a matéria orgânica
em húmus, adubando a terra.
Os cupins alados, popularmente conhecidos como aleluia, siri, arará,
saem aos milhões em revoadas, logo nas primeiras chuvas de setembro para
cumprirem seu ciclo de vida. Servem para alimentar outros seres, já que são
ricos em proteínas e hormônios, fortificando e induzindo o desenvolvimento
do ovário e esperma das fêmeas e machos de muitos répteis, batráquios,
peixes, aves e alguns mamíferos, bem como para alimentar suas crias. Os
criadores de pássaros também usam para induzi-los à reprodução em
cativeiro.
As vespinhas, cujo ninho parece uma bola de papelão pendurada nos
beirais das casas, armazenam, em cada alvéolo de cria, uma aleluia para
alimentar suas larvas. Por curiosidade, certa vez, colhi num único vespeiro
mais de um copo de aleluia.
Tudo vive em perfeita harmonia e equilíbrio, cada ser cumprindo
uma função específica.
Os mosquitos, cujas larvas ajudam a apressar a decomposição da
matéria, servem de alimento para os girinos, alevinos, alguns tipos de
vespas e marimbondos-caçadores.
O pernilongo tem a mesma função, suas larvas alimentam uma
grande gama de seres aquáticos: girinos, alevinos, larvas de libélulas,
baratas d'água, aranhas, larvas de crustáceos etc.
As sanguessugas já eram conhecidas dos médicos do Império
Romano, que as usavam em seus soldados. Não muito longe, na época dos
boticários, eram guardadas em vidros e usadas quando necessário nas
sangrias dos seus pacientes. Na natureza, este processo se efetua quando os
animais vão saciar a sede. Elas gradam em seus focinhos, efetuando a
sangria. Deste modo, acreditamos que a sanguessuga é um instrumento
natural de sangria que provoca a renovação do sangue para o equilíbrio da
saúde dos animais silvestres.
A barata, destas que vivem atrás dos armários, nos dá uma lição.
Este inseto horrendo, desprezível, mesmo depois de esfacelado, arrastando
parte do abdômen pelas vísceras, tenta

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sobreviver. E pensar que há pessoas que se sentem menos que uma barata,
tentando contra a sua própria vida.
Não compreendo como há homens, sentindo-se orgulhosos e felizes,
perseguindo e prendendo os animais, as aves, derrubando florestas,
envenenando os rios, simplesmente para atender aos seus anseios
mesquinhos e egoísticos. Pensam, talvez, que prendendo os animais,
atirando nas aves, ficam mais homens, que transformando as florestas em
dinheiro, serão os donos do mundo!
A natureza é patrimônio de todos. Aquilo que o homem cria deve
alimentá-lo, porém, o que a natureza cria pertence a ela. Dentro do racional,
do bom senso, sim, o homem pode tirar proveito. Não aprovo as aberrações
e os exageros inconseqüentes e destruidores.
Outros esterilizam a terra com agrotóxicos, venenos que perduram
sem se decomporem até por trinta anos, atingindo os mananciais, dizimando
milhares de seres de vida aquática, tanto da fauna como da flora, que
demoraram séculos e séculos para formarem um ecossistema, quando não,
atingindo os lençóis freáticos, contaminando as fontes.
Na década de 50, tínhamos abundância de peixes em quaisquer rios
do país, suprindo, as necessidades protéicas das populações ribeirinhas;
hoje, colhemos os frutos da inconscientização e muitas vezes da
irresponsabilidade de muitos empresários e latifundiários.
Assistimos em 1985 à triste reportagem da mortandade de paturis,
marrecos e outras aves na região de Ribeirão Preto, dizimadas por
agrotóxicos nos arrozais, ao inconcebível envenenamento de peixes,
causado por lavagem de bomba pulverizadora de inseticidas na cabeceira de
um açude, no bairro do Ramalho, na região de Piraçununga.
Atualmente, há estudos de âmbito internacional, comprovando a
eficiência do controle biológico. Nossos técnicos e engenheiros agrônomos
vêm publicando com freqüência fórmulas simples de inseticidas, repelentes
naturais, lista de plan-

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tas amigas que auxiliam o desenvolvimento de outras plantas e até mesmo
simples fertilizantes que funcionam melhor que os adubos químicos.
A Bíblia nos dá um exemplo significativo. Quando José no Egito
desvendou o sonho do faraó, das sete vacas gordas e sete espigas cheias e as
sete vacas magras e sete espigas finas, que significavam sete anos de fartura
e sete anos de miséria, o faraó nomeou-o para administrar suas terras;
durante os sete anos de fartara, a terra produzia de mãos cheias, durante sete
anos de miséria, vieram pessoas de todas as terras e o Egito alimentou a
todas. José não usou de produtos químicos para ter abundância de colheita.
Gênesis 41:1-57.
Não somos contra a modernização e o progresso. Penso que
quaisquer projetos, que usem os recursos naturais como instrumento, devem
ser pesquisados, estudados e analisados, enfim, deve-se ver os prós e os
contras antes que sejam concretizados, a fim de que não venham afetar o
equilíbrio da natureza e o bem-estar das gerações futuras.
O mercúrio, já foi comprovado, causa deformação genética; caindo
na cadeia ecológica, vai sendo passado de ser para ser, uma vez que não se
decompõe. As partículas deste metal líquido escorrem com as águas da
garimpagem. Vão para os rios, aderem-se às algas que alimentarão os peixes
onívoros e herbívoros e que servirão de alimento aos homens, que, por sua
vez, terão filhos com defeitos congênitos.
A monocultura é outro exemplo. Nos solos onde são feitas as
grandes culturas de algodão e soja por vários anos, podemos afirmar,
categoricamente, que estas terras estão, cada vez mais, morrendo e os rios
que as contornam contaminados, praticamente sem vida.
Ah! meu pantanal matogrossense, ah! minha amazônia, pulmão
verde do mundo, meus filhos não te verão.
Ah! meus bandos de coleirinhas, bigodinhos, patativas, caboclinhos,
azulões, tietês, puvins, pintassilgos e pássaros-pretos mortos pelas nuvens
de agrotóxicos pulverizados sobre

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as lavouras e pomares, ninguém mais ouvirá vossas sinfonias de saudação
nos crepúsculos do dia.
Minha terra tem palmeiras, onde não canta o sabiá. Sabe, meu
cancioneiro Gonçalves Dias, tua Canção do Exílio hoje é utopia.
Matam-se os tatus, os tamanduás, as emas, as seriemas, os inhambus,
as codornas, as perdizes, aumentam os cupinzeiros, os formigueiros, as
cigarrinhas nas pastagens, os gafanhotos, os grilos e há proliferação
incontrolável dos insetos, principalmente de cupins, formigas quenquém e
saúvas.
Matam-se as cobras, as raposas e os gambás, aumentam os ratos,
ratazanas e camundongos.
Matam-se os gaviões, carcará, caruncho, pato, aumentam as cobras,
raposas, gambás, ratos etc.
Matam-se as corujas, aumentam os besouros, as mariposas e
mandruvás. A coruja sondaia é a maior predadora dos ratos.
Matam-se as gralhas, diminui a disseminação de sementes de
araucária, reduzindo as florestas das mesmas, cujos frutos alimentaram
muitos índios e imigrantes italianos na época de escassez da colonização do
estado do Paraná.
A extinção do jacu e da jacutinga de determinadas regiões do estado
de São Paulo reduziu também a disseminação das sementes de inúmeras
palmeiras, que fornecem coquinhos de polpa adocicada, muito apreciados
pelas crianças, além de um palmito de boa qualidade.
A perseguição e matança de certas aves aumenta, consideravelmente,
o número de pragas prejudiciais à lavoura e ao gado. Um bem-te-vi ou um
siriri podem ingerir cerca de 300 insetos diariamente, e uma andorinha,
nada menos que 1.000. Uma garça-carrapateira ou um anum são vorazes
comedores de grilos, gafanhotos e todo tipo de inseto que puderem caçar;
beneficiam também o gado, catando-lhe os carrapatos, razão destas aves
sempre estarem por perto.
Ateia-se fogo nos marimbondos e vespinhas, aumentam os
curuquerês, aranhas, grilos e cupins. Matam-se as mamangavas, diminui a
produção dos maracujazeiros.
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Destroem-se as abelhas, diminui a polinização das floradas, como
conseqüência abaixa a produção nos pomares, nas lavouras e nas hortas.
Observem a contribuição da apis-mellifera no aumento da produção das
frutas e grãos:

sem polinização com polinização


abóbora - 5% de aumento
arroz - 176% de aumento
café 10,63 kg 19,11 kg
cebola 177 sementes por 1.660 sementes por
inflorescência inflorescência
chuchu 10% de frutificação 47% de frutificação
feijão - 176% de aumento
guaraná - 58% na produção
de amêndoa seca
laranja: hamlim 37,95 de frutificação
natal 15,5% de
frutificação
manga 4,7 frutos p/ cacho 9,8 frutos p/ cacho
pera 1% de frutificação 4,8% de frutificação
pêssego 9 frutos p/ galho 15 frutos por galho
soja variedade 37,95% de vagens e
Santa Rosa 40% de aumento de
peso das vagens

Como puderam observar, a presença das abelhas é indispensável.


Aumenta, não somente a produção, como também a qualidade das frutas e
grãos.
Em minhas observações, concluí que as abelhas jataís são ótimas
polinizadoras, portanto, recomendo-as na produção de sementes de
hortaliças, condimentos, ervas medicinais e flores. São excelentes, de fácil
manejo e isentas de agressividade, podendo ser criadas, realmente, por
quaisquer pessoas, principalmente por aqueles que são alérgicos à ferroada
da Apis mellifera.
Quando a cadeia ecológica é ceifada, há a superpopulação de um ou
outro ser, daí o surgimento das pragas. Centenas de cupinzeiros pelas
pastagens, sauveiros por toda parte, enfim, proliferação descontrolada de
toda sorte de insetos.

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A formiga lava-pé é a grande faxineira do solo, come grande
quantidade de insetos; as formigas pixixica do nordeste são as faxineiras dos
cacaueiros, como nos conta Jorge Amado em um de seus romances.
Os pernilongos, que tinham seu predador natural nos peixinhos
larvófagos, nos guarus, nos lambaris, nos piquiras e nos canivetes,
encontram-se à vontade para proliferarem aos milhões e se espalharem pela
cidade, já que os córregos são verdadeiros depósitos de lixo, de água em
putrefação.
Empresários, filtrai o ar que escapa pelas chaminés das fábricas,
tratai os esgotos antes de encaminhá-los para os riachos, pois ali, bem perto,
estão vossos filhos, precisando de água potável e ar puro para terem uma
vida sadia e viverem com dignidade.
Latifundiários, a monocultura desencadeia as pragas, fazei a rotação
das culturas e deixai alguns hectares de matas, onde elas se abrigarão,
juntamente com os predadores naturais.
Muitas vezes, o homem, por ignorar as leis da natureza, põe em risco
a vida das gerações futuras. Foi pensando nisto e em muito mais que iniciei
este ensaio ecológico. Espero que os indiferentes à natureza, de certa forma,
possam tirar algum proveito desta introdução.
Ainda menino, por mera coincidência, encontrei no alicerce da velha
casa do seu Chiquinho, um canudinho de cera por onde entravam e saíam
umas abelhinhas.
Era bonito vê-las. E na claridade da manhã brilhavam como ouro,
num vaivém sem parar. Num vôo lento chegavam bundudinhas, pesadinhas
de mel, outras pareciam usar botinhas amarelas, chegavam com as patinhas
cheias de pólen, ou bolotinhas de visgo, fato que me custou muito para
entender.
Foi justamente lá que comecei, há 35 anos, a gravar em minha
memória as primeiras páginas deste livro.

Espero que meu modesto trabalho possa acrescentar alguma coisa a


mais em favor da natureza, e sirva de estímulo para que o homem pare por
um instante a fim de observar uma flor se abrindo, uma borboleta recém-
nascida secando suas
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asas ao sol, uma ave tratando de seus filhotes com o mesmo carinho que os
seres humanos têm por sua prole, porque foi com todas as vibrações de meu
ser que principiei a escrever.
"O vento sopra em agosto para que as folhas caiam e as árvores se
rejuvenesçam verdejantes, anunciando a força enigmática da primavera."
"A mãe natureza me ensina a simplicidade de sua sabedoria e
fortalece minha fé em Deus."
"O homem não pode viver divorciado da natureza, pois perde a
sensibilidade de amar a Deus e ao seu semelhante."
"A vida é uma essência maravilhosa e divina. O homem faz toda
sorte de engenhos, os mais sofisticados possíveis, menos construir um
grãozinho de milho e fazê-lo nascer; sendo assim, somente o Criador tem o
direito sobre as vidas."

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Colméia alojada em gomo de bambu.

Potinhos de mel.

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II. CRIAÇÃO SEM GRANDES INTERESSES

As Abelhas Jataís

A maioria das colméias de jataís se encontra em mãos de pessoas


simples, sem grandes interesses. Permanecem esquecidas, penduradas num
canto de rancho com canudos de entrada que chegam a ter mais de 30 cm de
comprimento, colméias com mais de 20 anos, como já pude observar.
Encontramos jataís sendo criadas nos mais diversos tipos de ninhos,
caixinhas de tábuas finas empenadas com fendas até de 1 cm de abertura,
em caixas de papelão, gomos de bambu, cabaças e até mesmo em velhas
latas. Esquecidas, tomando sol e chuva, penduradas sem o mínimo de
capricho ou de segurança nos mais diversos lugares.
Alguns criadores têm-nas por tradição que passa de geração para
geração. Quando um interessado tenta adquiri-las, o jataí é valorizado de
uma maneira até cômica.
- Ah! não posso vender. É do tempo do vovô!
Há colméias que nunca foram abertas, nem para tirar o mel, por
desconhecimento do manejo, ou mesmo por medo das abelhinhas
abandonarem a caixa.

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Certa vez perguntei a um senhor se ele já havia tirado o mel de seu
jataí, ao que ele me respondeu:
— Nunca, mas deve ter mais de 8 litros, porque faz vários
anos que ninguém mexe.
Há aqueles que, estando com tosse, usam o mel como xarope. Ainda
aqueles que o usam como colírio, misturam, meio a meio, água destilada
com mel e pingam nos olhos para amenizar conjuntivite ou cataratas.
As jataís permanecem esquecidas pelos seus donos, que se lembram
apenas quando um curioso ou interessado quer saber que abelhinhas são
aquelas. Então, entusiasmados, fazem um relatório completo, onde
conseguiu, como capturou o enxame, ou de quem ganhou.
Não faz muito tempo, quis comprar de um vizinho uma colméia que
estava numa caixa, corroída por cupins - praticamente era o batume
ressecado suspenso por dois fios de arame - simplesmente me respondeu:
— Não dou, não vendo e não troco.
Há 20 anos tive a infelicidade de presenciar o enfincamento de um
tronco de copaíba para servir de mourão. Nele havia um belo jataí. Tentei
dialogar com o sitiante, queria até mesmo comprar o mourão. Contudo, o
homem seriamente me respondeu:
— O senhor vai me desculpar, não vou estragar um mourão desses,
não tenho tempo nem para cuspir, muito menos para andar atrás de abelha.
Saí indignado com a grosseria, não tive chance de explicar-lhe que
as sementes de almeirão, de mostarda, de rabanete, de cebola e outras
hortaliças, bem como dos condimentos, alfavaca, manjericão, salsa e
algumas plantas medicinais tais como erva-doce, menta, melissa e orégano
que ele tinha plantado na horta, em grande parte, eram obra da polinização
das jataís, uma vez que as abelhas Apis mellifera pouco procuram estas
plantinhas.
Felizmente, nem todos são assim. Há os que amam a natureza e
procuram preservar as velhas figueiras, ipês, paineiras,

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jequitibás, jacarandás, guarantãs, maçarandubas, copaíbas,
angiqueiros e muitas outras árvores, principalmente se nelas houver um
abelheiro, alguma orquídea ou mesmo uma casinha de joão-de-barro.
Interessam-se em aprender e se aprimorar. Escrevem para os mais diversos
setores, lêem revistas, jornais, enfim, buscam se conscientizar sobre tudo
que possa se relacionar com o meio ambiente.

O Melhor Lugar para Instalar um Apiário

Após anos de estudos e observações, cheguei à conclusão de que o


melhor lugar para instalar a criação de jataís é na periferia, onde temos um
campo nectarífero e polinífero abundante durante todo o ano.
Fiz o levantamento do campo apícola por vários lugares e encontrei
fruteiras, arbustos, plantas rasteiras, trepadeiras, hortaliças em abundância,
cada espécie obedecendo à sua época de floração.
As plantas que seguem na listagem seguinte estão divididas por
local, todas dão sua contribuição às jataís. Algumas fornecendo pólen,
outras néctar, muitas os dois elementos indispensáveis, além de uma
minoria que fornece resina.
Na horta: as hortaliças podem variar sua época de floração de
acordo com o plantio, podendo assim florescer praticamente o ano todo.
Almeirão, cebola, mostarda, rabanete, salsa (muito procurada, fornece em
abundância pólen e néctar), boldo-do-chile, erva-doce, alfavaca, fumo,
melissa, manjericão, sabugueiro...
Nos terrenos baldios: unha-de-gato, assa-peixe, guanxuma, gerbão,
maria-pretinha, dormideira, caruru, malva-branca, picão...
Nas cercas e caramanchões: amor-agarradinho (abundância de
néctar e pólen, floração em diversas épocas), jasmim-estrela, maracujazeiro,
primavera, viuvinha, madressilva...

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Nos parques e ruas: astrapéia-rosa (abundância de néctar e pólen),
chapéu-de-sol, eucalipto, grevillea, giesta, ipê-do-rio, lantana, quaresmeira,
sibipiruna, unha-de-vaca, violeteiras...
Nos jardins: alecrim, bela-emília (arbusto de florzinhas azuis que
fornece resina, floresce em diversas épocas), calêndulas, camaradinha,
chagas-de-cristo, coroa-de-cristo (fornece néctar, pólen e resina durante o
ano todo), coléus (folhagem de diversas cores), cosmos, girassol, incenso,
margaridas, onze-horas, roseiras...
Nos quintais: uma diversidade grande de árvores frutíferas:
amoreira, abacateiro, cerejeira, cajuzeiros, caramboleiras, goiabeiras,
jambeiros, joão-bolão, laranjeiras, limoeiros, mar-meleiros, macieiras,
mangueiras, nectarineiras, nespereiras, pereiras, pessegueiros, tamarineiras,
uvaieiras, uva-japonesa, videiras...
O pasto apícola na área urbana é realmente vasto e abundante, como
pude observar.
As abelhas jataís em caixas simples podem fornecer no máximo um
copo de mel por ano, portanto, aqueles que moram na cidade e as têm sem
grandes interesses, aconselho-os a pensar numa criação racional, aproveitar
esta disponibilidade abundante das floradas que ocorrem durante os 360 dias
do ano, aumentando a produção das plantas e a produção de mel.
Nossas jataís não têm fronteiras, voam por todos os lados em busca
do precioso néctar, não incomodam ninguém. Que tal, leitor, pensar numa
criação funcional, que exige tão pouco e traz tanta satisfação interior, além
de aumentar o ciclo de amizade e o conhecimento a respeito da natureza?

Como Instalar um Apiário na Área Urbana

Fale com os parentes, amigos, conhecidos. Faça que eles entendam


seus objetivos, conscientizando-os da importância das abelhas jataís. Peça-
lhes autorização para colocar algumas
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colméias no fundo do quintal, ou mesmo pendurá-las no beirai dos ranchos.
Em se conseguindo o local, instale no máximo 8 colméias. A cada
1.000m de distância, repita mais 8 colméias e assim sucessivamente.
Evite a área central da cidade, pois o fluxo constante de veículos,
além de matar um bom número de abelhinhas que se chocam contra os pára-
brisas, afeta-lhes a linha de vôo com o deslocamento brusco da massa de ar.
Se houver critério, seriedade e perseverança, em menos de 3 anos
você estará, no mínimo, com 40 colméias. Se seus recursos financeiros
forem precários, coloque-as em caixas simples de 15 x 15 x 20 cm de altura
e tábuas de 3/4" de espessura. Vá fazendo as caixas-padrão à medida do
possível, que em pouco tempo estará com um apiário bem montado.
Use caixas-isca de 12 x 12 x 20 cm de altura o tanto quanto possível,
coloque-as nos pontos estratégicos onde receba o sol da manhã e da tarde,
para que a cera, com o calor, exale o odor peculiar a elas, atraindo-as.
Havendo possibilidade e disponibilidade, tente comprar algumas colméias
ao iniciar a criação.

31
Normas a Seguir pelos Criadores sem Grandes Interesses

1 - Retire as colméias de gomos de bambu, cabaças e outros tipos de


ninho. Coloque-as em caixas de 15 x 15 x 20 cm de altura, feitas com tábuas
de 3/4" Os favos de cria, de tempos em tempos, sofrem movimento de
subida e descida, razão da caixa ter mais altura que comprimento.
2 - Evite instalar as colméias em lugares sombrios e úmidos, onde há
correntes de ar, isto é, corredores entre paredes e muros.
3 - Na época da extração do mel, retire um dos lados da caixa e vá
cuidadosamente retirando a cera do batume com um garfo untado em óleo
comestível e colocando-a de lado, até avistar os potinhos de mel. Proceda
desta maneira com quais quer tipos de ninho, sempre com o máximo de
paciência e cautela.
4 - Certifique-se de que os potinhos são de mel ou de pólen. Para
tanto, use um palito comprido com ponta e fure a parte superior dos
potinhos. Caso seja mel, logo você notará. Se aparecer uma substância
amarelada, são potinhos de pólen, que não devem ser retirados, pois as jataís
usam para tratar das crias. O pólen tem aparência de gema de ovo cozida; é
conhecido, conforme a região, por samora, borá, saburá. É retirado
pelas abelhinhas da antera que se acha no ápice do estame das flores,
enquanto o mel é retirado do nectário que se localiza um pouco acima do
ovário das flores. O pólen é transportado pelas patinhas traseiras, enquanto o
mel é transportado pela vesícula melífera das jataís.
5 - Com os potinhos de mel à vista, usar uma seringa de 10 ml com
agulha de 40 x 16 para a extração do mel. Este processo é racional e
higiênico, demorado, porém seguro. Temos também um outro processo mais
rápido, contudo mais primitivo, como segue: coloque a caixa na posição
inclinada, apoian-

32
do um dos cantos sobre uma mesa ou banco, conforme o desenho. Segure-a
firmemente com a mão esquerda, com a mão direita apanhe um garfo. Após,
assopre as abelhinhas a fim de afastá-las dos potinhos e vá cautelosamente
pressionando com o garfo sobre os mesmos. O mel escorrerá no canto da
caixa que está sobre a mesa, deixe o garfo e escorra o mel numa vasilha.
Retire somente o mel que está acessível. O que se encontra atrás dos
favos de cria é praticamente impossível extraí-lo, sem perder um grande
número de abelhas que morrerão esmagadas ou afogadas nele.
6 - Efetuada a operação, devolva toda a cera retirada à caixa. Feche-
a, certificando se não ficou nenhuma aresta. Se houver, vede-a com fita
crepe, argila, ou use a própria cera delas para a vedação. Coloque a caixa no
mesmo lugar, mantendo a altura e posição. Imediatamente, elas começarão a
entrar e iniciarão a tarefa de calafetagem e arrumação de todo o ninho.
O mel deve ser extraído sempre por volta das 10:00 h da manhã, em
dias ensolarados e sem vento, pois que grande parte das operárias estarão
fora, coletando pólen, resina e néctar, o que facilitará em muito o trabalho
de extração, isto porque teremos menos abelhas na colméia.
33
Extração do mel
Método rústico

34
Favos de cria com pupas e realeira.

Rainha sobre um favo de cria.


35
III. CRIAÇÃO RACIONAL DE ABELHAS JATAÍS

Introdução

As abelhas jataís, também chamadas de abelhas indígenas, são


nativas do Brasil. Pertencem à espécie dos meliponídeos, cientificamente
conhecidas por Tetragonisca angustula.
A palavra "jataí" é de origem indígena e vem da língua tupi "yata' i".
Melipona é palavra de origem grega, méli = mel, pónos = trabalho.
As jataís são abelhas pequeninas, sem ferrão e muito cobiçadas pelos
apicultores. Encontradas, com freqüência, nas altitudes acima de 500
metros.
Produzem mel de excepcionais qualidades: fino, suave, levemente
azedinho, que o difere dos outros méis. Por suas propriedades medicinais, é
indicado no tratamento de resfriado, bronquite, glaucoma e catarata, além de
ser bactericida e atuar na cicatrização de feridas.
Como todos os apídeos, as jataís possuem uma sociedade organizada
dividida em: operárias, zangões e rainha.

37
Características das Jataís

1- Operárias: medem aproximadamente 5 mm de comprimento.


Têm abdômen dourado, cabeça e tórax de um preto opaco. Não possuem
ferrão, todavia têm mandíbulas que usam contra os insetos invasores de suas
colônias. Voam em média até mil metros para coletarem néctar, pólen e
resina. O número de operárias pode variar desde algumas centenas até 5.000
porcolméia.
As operárias exercem várias funções:

a) faxineiras: mantêm a limpeza, a ventilação do ninho, a


alimentação das crias e uma diversidade de tarefas internas.
b) damas de companhia: cortejam a rainha pelo interior do ninho.
c) sentinelas: fiscalizam a calafetagem de todo o ninho e vigiam o
canudo de entrada.
d) coletoras: voam para os campos, na coleta de pólen, néctar e
resina.

2 - Zangões: são em número reduzido, em torno de quatro, e são


procriados somente na época de soltar nova família. Assemelham-se às
operárias, porém de porte maior e abdômen longo; sua função é de fecundar
a rainha virgem, depois da fecundação desaparecem.

3 - Rainha: mede 10 mm de comprimento, possui abdômen tão


desproporcional que causa pena Quando fecundada, o abdômen dobra de
volume e ela perde a capacidade de voar. Na época do fluxo nectarífero, sua
postura pode chegar a 50 óvulos por dia.
A rainha virgem é arisca e voa somente para ser fecundada e formar
a nova colônia.

Outros Detalhes da Colônia

As abelhinhas recém-nascidas são amarelo-pálidas, muito lentas e


não voam. São encontradas durante todo o ano, em

38
maior número na entrada da primavera, pouco mais de 80 abelhinhas.
As sentinelas que ficam em redor do canudo de entrada podem variar
desde algumas até mais de trinta.
Nossas abelhinhas possuem extraordinária capacidade de se
adaptarem para nidificar nos locais mais inimagináveis, desde que haja
espaço suficiente.
No início da primavera, chegam a fazer até três realeiras (alvéolo
maior na lateral dos favinhos de cria, onde se desenvolverá nova rainha) e
soltam famílias, geralmente no início do verão, perpetuando assim a
espécie.
São extremamente asseadas, não pousando sobre quaisquer dejetos,
como fazem as abelhas arapuá, que retiram material para construir seu
ninho até de estrume de cachorro. Raramente coletam água, pois tiram-na
do próprio néctar, que é aquoso.
A cera é produzida através de glândulas localizadas no dorso do
abdômen. Para elas produzirem 100 g de cera, precisam ingerir mais ou
menos 400 g de mel.
As jataís encontradas na natureza, ou em simples caixinhas,
produzem muito pouco, a média por ano é de um copo de mel. Criadas
racionalmente, podem atingir uma produção anual de até cinco copos de
mel, portanto, conhecendo seus hábitos, comportamentos e preferências,
podemos atingir ótima produção.

Característica do Ninho

Possui uma única entrada e raramente aparece mais de uma. É um


canudinho de cera com 5 mm de diâmetro e comprimento variável na parte
externa que pode chegar a mais de 30 cm. Na parte interna tem
aproximadamente 20 cm e, na maioria das vezes, termina com vários
orifícios que se comunicam com a parte central do ninho. O canudo de
entrada situa-se na posição inclinada; às vezes, quando o enxame fica por

39
muitos anos num mesmo local, o canudo toma a forma de um gancho,
porém sempre com o orifício de entrada voltado para cima.
Ao redor da base do canudo, elas depositam uma resina viscosa e
pegajosa, onde ficam detidas formigas e outros insetos intrusos. A mesma
resina é usada também para a calafetagem do ninho.

Esquema do interior da colméia

Ninho
40
Duas camadas de favos de cria, os da parte inferior formarão
nova colméia.

41
Túnel interno que sai do ninho.

42
À noite, nos dias de temperaturas baixas, ou muita umidade na
atmosfera, costumam fechar a entrada do canudo com uma película de cera,
repleta de furinhos por onde passa o ar que chega ao interior do ninho,
através do bater de asas constante das abelhinhas que, assim fazendo,
provocam a circulação do ar.
O trabalho externo das abelhinhas somente acontece com
temperaturas acima de 22 graus, umidade relativa do ar em tor no de 25% e
muita luminosidade. Há dias, portanto, que a entrada dificilmente será
aberta, principalmente no inverno oudias chuvosos.
Temperatura, umidade e luminosidade são três fatores primordiais na
criação desta abelhinha.
Fato interessante acontece no verão: quando uma chuva repentina se
aproxima, elas voltam rapidamente e formam um fluxo na entrada do
canudo, num verdadeiro e maravilhoso espetáculo.
As jataís nos trazem satisfação. São carismáticas, atraem nossa
atenção e nos fazem deleitar por alguns instantes, quem sabe, às vezes, em
busca da razão da nossa existência.

Importância do Canudo de Entrada

Por ele, conhecemos o desenvolvimento da colônia, sua população e


idade.
1 - Se o fluxo de entrada e saída for abundante e constante, num dia
de temperatura elevada e muita luminosidade, a colônia é forte.
2 - Se a quantidade de abelhinhas nas mesmas condições climáticas,
em torno do canudo de entrada for mais de vinte, a colônia também é forte,
podendo ter uma população acima de 5.000 operárias; caso contrário, é
fraca, com menos de 2.000 operárias, principalmente se o número em torno
do canudo for inferior a dez.

43
3 - Quanto mais longo for o canudo mais velha será a colméia,
porém isto não significa que a colônia seja forte. Há, pois, colônias alojadas
há anos, em locais tão reduzidos que delimitam o crescimento da população.
Estas colônias costumam enxamear mais do que outras devido às condições
ambientais.
O canudo é aumentado, à medida que a cera e a resina vão ficando
ressecadas, fato que ocorre em virtude da aderência de poeiras e insetos.
Outro fato observável é que da base do canudo até os favos de cria
há aproximadamente 20 cm, que são percorridos pelas abelhinhas através de
um túnel feito de resina e cera, assim elas não expõem suas crias logo na
entrada do ninho.

O Batume

É a parte que envolve favos de cria, potes de mel e pólen, enfim,


protege toda a colônia. É constituído de cera e resina, formando um
invólucro com dezenas de lâminas, distribuídas nos mais diversos sentidos,
paralelas, superpostas, com inúmeras cavidades e galerias, por onde elas
circulam, cuidando de toda tarefa, confecção de potinhos para néctar e
pólen, lâminas para confecção dos favinhos, trato das crias, limpeza etc.
As inúmeras cavidades do batume têm a função térmica de manter a
temperatura a 36°C para o perfeito desenvolvimento do choco dos ovos e
larvinhas. Serve também de proteção contra a invasão de insetos intrusos até
o interior do ninho.
Quanto mais finas forem as paredes das caixas, mais batume elas
usarão, portanto, o ideal é usarmos tábuas de 3/4" de espessura para sua
confecção, que mantém a temperatura constante e veda melhor a infiltração
de excesso de umidade.

44
Os Favos de Cria

No interior do batume, na parte superior ou na parte inferior,


encontramos os favos de cria. São em média dez, construídos
horizontalmente, superpostos, ligados por finas coluninhas de cera e
separados entre si por um espaço de 1,5 mm.
O favinho central tem aproximadamente 60 mm de diâmetro e em
torno de 500 alvéolos. Os da parte superior e inferior vão reduzindo de
tamanho até que o último favo (superior ou inferior) tenha pouco mais de 20
mm de diâmetro e nada mais que 50 alvéolos.
Os favinhos são de formato arredondado e todos levemente côncavos
e muito delicados. Nos favos de cor escura, encontramos as pupas prestes a
nascerem; nos favos claros de um amarelo esmaecido estão os óvulos, ou
larvinhas que flutuam numa papa leitosa que as alimenta.
Ao manusearmos estes favinhos claros, devemos tomar cuidado, a
fim de não afogarmos as larvinhas nesta papa, colocando-os na posição
encontrada, ou seja, horizontal e sempre num recipiente coberto com pano
para evitarmos o ataque de certos mosquitinhos que estudaremos adiante.
As jataís fabricam os favos até o teto; quando não há espaço
superior, voltam a fabricá-los embaixo. Primeiramente fazem uma lâmina
circular de cera e sobre a mesma vão puxando os alvéolos que são pequenas
cápsulas esféricas de 1,5 mm de diâmetro e 3 mm de profundidade, onde
ficam os óvulos, larvas, pupas, ou abelhinhas prestes a nascer.
Às vezes encontramos duas camadas de favos de cria, cada uma com
oito ou dez favinhos separados por uma distância de mais ou menos 3 cm;
temos então duas famílias. Uma delas logo partirá para formar nova colônia.
Os favinhos são circundados e sustentados pelo batume. Há colônias
com até doze favos de crias; são consideradas populosíssimas.
Nas laterais e a alguns centímetros dos favinhos, ficam os potinhos
de mel e pólen, fabricados de forma que fiquem su-

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perpostos, dificultando o trabalho de extração de mel pelo apicultor.
Na parte externa do batume, porém dentro da caixa, encontramos as
bolotinhas de resina viscosa que servem para a calafetagem e como arma
contra os invasores da colônia. As jataís contornam a base do canudo de
entrada com esta resina e os insetos que se atreverem a atravessá-la, ali,
ficarão presos.

Os Inimigos das Jataís

Embora miudinhas e sem ferrão, as jataís se defendem e combatem


seus inimigos até a morte. Quando a colméia é atacada por quaisquer
insetos, travam suas insignificantes mandíbulas nas asas ou pernas dos
mesmos e juntam várias. Nem fogo ou água consegue fazê-las soltar.

Principais inimigos:

1 - As formigas: encontrando frestas, entram e matam as jataís,


principalmente as doceiras. A colméia deve ficar, pois, sobre suportes
adequados, como mostra o desenho da página 62 , bem como as imediações
devem ser capinadas.

2 - As libélulas: este inseto é conhecido por aviãozinho d'água, pitu,


lava-bunda etc.
Na primeira fase de vida, habita as águas, devorando centenas de
alevinos (filhotes de peixes); na fase alada, permanece revoando, devorando
os insetos de vôo lento. As jataís constituem-se num prato predileto;
apanha-as em pleno vôo, suga-lhes todo o líquido do corpo, soltando-as já
mortas.
As libélulas podem ser evitadas, instalando-se o apiário distante dos
charcos, lagos e córregos, que elas freqüentam para desovar.

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3 - As abelhas-limão: em certas regiões são conhecidas por iraxim.
São preto-brilhante, assemelham-se à arapuá, todavia têm o corpo mais
afilado e alongado. Quando macetadas, exalam forte cheiro, idêntico ao do
limão, daí o seu nome popular.
Atacam ferozmente as jataís. Apesar das nossas abelhinhas serem
realmente valentes, acabam sendo massacradas por um verdadeiro exército
dessas predadoras, que invadem a colméia pelo canudo adentro,
apoderando-se do interior do ninho.
Percebendo a tempo, podemos evitar o ataque das abelhas-limão,
transferindo a colméia das jataís a 100 metros de distância.
O apicultor deve impreterivelmente localizar o ninho delas; para isso
tem de ter paciência e persistência e seguir a linha de vôo das predadoras.
Achando o ninho, deve destruí-lo; não existe outra maneira, quando se
pretende criar as abelhas jataís.

4 - A arapuá: conhecida também como irapuá, palha-de-mé, é


comum no território brasileiro.
Seu ninho tem o formato de uma bola de barro, que pode variar
desde 20 cm até mais de 50 cm de diâmetro, ultrapassado pelos galhos das
árvores que o sustentam, encontrado comumente nos capões de faveiro
(sucupira).
Costuma atacar a parte externa das colméias de jataís, a fim de
roubar-lhes resina e cera. Quando muitas, são prejudiciais à criação de
abelhas jataís, portanto, devemos reduzir o número de ninhos, deixando
apenas um por quilômetro quadrado.
A arapuá é excelente polinizadora das flores de bananeira e das
cucurbitáceas: abobreiras, chuchuzeiros, meloeiros, melancieiras,
morangueiras e pepineiros. Outro fato interessante, observado por mim, é
que há uma espécie de periquito que costuma furar a base do ninho da
arapuá para ali procriar.

6* - Os forídeos: mosquitinhos pretos, facilmente reconhecíveis,


porque andam às carreiras, são ligeiros e persistentes.

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* nota do digitalizador: há um erro na contagem do livro, não existe o item n° 5


Atacam a colméia, quando o apicultor, descuidado e sem higiene no
manejo das jataís, deixa expostos favinhos de crias amassados ou potes de
pólen danificados. Os mosquitinhos, atraídos pelo odor, vão depositando
centenas de ovinhos sobre os mesmos. Logo nascerão as larvinhas, que,
famintas, provocam um verdadeiro desastre, devorando pólen e matando as
larvinhas das jataís, causando putrefação e dizimando a colméia. Evitamos
isto manejando adequadamente os favos de cria e potes de pólen, colocando-
os sempre na posição horizontal em vasilhas com tampa ou na própria caixa-
padrão, sempre recobrindo-as com um pano, até o término do manejo ou da
transferência.
Podemos também evitar, em grande parte, a presença dos
mosquitinhos, usando um fumigador pequeno, carregado com maravalhas e
folhas verdes de eucalipto, dando baforadas pelas imediações da colméia.
A maior incidência dos forídeos ocorre no inverno e entrada do
verão.

7 - Os pássaros: por mera coincidência, comem uma ou outra


abelhinha, sem maiores conseqüências. Acredito que elas não têm sabor
agradável aos pássaros e, pelo que observei, a Apis mellifera é o prato
predileto dos bem-te-vis, siriris e joões-bobos.

8 - As aranhas e lagartixas: devem ser retiradas, pois costumam se


alojar no teto e por baixo das caixas. Comem diariamente nada menos que
dez abelhinhas. Portanto, uma vistoria quinzenal é sempre benéfica.

9 - O enxame invasor: são os enxames de jataís, oriundos de outras


paragens, que tentam desalojar a colônia já instalada. A luta é terrível,
centenas delas de ambas as partes caem atracadas, cobrindo o chão. O
enxame mais forte sai vitorioso, porém a mortandade é grande e seriamente
prejudicial ao apicultor. Acontece muito quando o enxame invasor não
encontra lugar para nidificar. O enxame selvagem solta nova família e ela
não tem condições de nidificação, então a solução é desalojar outra colméia.
É a lei da sobrevivência.

48
Quando percebemos a tempo, transferimos a colméia doméstica à
distância de 20 metros, no mínimo, e no lugar desta, colocamos uma caixa-
isca, capturando o enxame invasor, ganhamos, então, um novo enxame e
evitamos o massacre.
A maior incidência ocorre no início da primavera e se estende pelo
verão.

Doenças e Medidas Preventivas

As jataís são muito resistentes, uma vez que são nativas adaptadas ao
nosso clima, portanto, dificilmente contraem doenças. Contudo, algumas
medidas preventivas são benéficas.

1 - Abrigar as colméias sob cobertura de telha ou sapé, evitando


assim a insolação. Usar tábuas de 3/4" de espessura na confecção das caixas
e pintá-las com tinta a óleo de cor clara: branco, azul ou amarelo. Esta
medida evita a possibilidade de instalação de fungos e o aquecimento
demasiado das caixas, por causa da reflexão dos raios solares ao incidirem
sobre as cores claras.

2 - O alimentador tem de ser devidamente retirado e lavado, pois há a


possibilidade de desenvolvimento do fungo (monilíase-lingual), que aparece
com freqüência nos alimentadores ornamentais para pássaros, levando à
morte nossos beija-flores e, logicamente, nossas abelhinhas. O xarope de
açúcar é o mais propenso aos fungos, principalmente se estiver com mais de
três dias.

3 - Nunca abrir a caixa com temperatura inferior a 24 graus. O


choque térmico pode afetar e levar à morte larvinhas e gorar os ovinhos.
Portanto, abrir a caixa somente quando se fizer realmente necessário, em
dias claros, quentes, sem ventos e de preferência na sombra. Abri-la por
curiosidade reverte em prejuízo; as jataís terão que consertar aqui, ali, por
conseguinte gastarão tempo, material e consumirão mais mel.

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O Manejo da Colméia

Pouco exige do apicultor. Se o fluxo de entrada e saída da colméia


for constante e abundante nas horas mais quentes do dia, não há necessidade
de vistorias, a não ser que haja alvoroço.

O Fenômeno do Alvoroço de Centenas de Abelhinhas

Pode ocorrer devido a quatro fatores:

1 - Quando, repentinamente, uma chuva de verão se aproxima, há o


retorno imediato das operárias campeiras e forma um alvoroço na entrada da
caixa de centenas delas, sem nenhuma conseqüência para o apicultor.

2 - Quando indicar excesso de calor (acontece muito com colméias


fortes), elas saem, descongestionando o ninho para melhor ventilação. Neste
caso, esborrifar água sobre elas e proteger a colméia com cobertura
adequada. Este fato acontece freqüentemente com colméias expostas longas
horas ao sol. O bom seria instalar o apiário sob rancho, caramanchões ou
mesmo sob árvores.

3 - Alvoroço e morte de dezenas delas. É sinal de que um enxame


selvagem está tentando apoderar-se da colméia. Transfere-se, então, a
colméia para longe, ou seja, 20 metros, no mínimo, e instala-se no lugar
desta a caixa-isca, bem untada de cera das jataís, a fim de capturar o enxame
invasor.

4 - Havendo alvoroço sem morte por mais de um dia, indica


enxameação, isto é, a colméia está se preparando para soltar nova família,
portanto, instalar caixas-iscas nas imediações. Se a colméia alvoroçada
estiver na sombra, é mais do que certo que, brevemente, sairá nova família.
Outra medida, também segura, é fazer a divisão da colméia, como veremos
posteriormente.

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O Preparo da Colméia para as Floradas

Um mês antes das floradas, devemos fazer uma vistoria, a fim de nos
certificarmos se elas estão fabricando os potes de mel nas gavetas; caso
contrário, providenciamos alguns potes de mel em colônias vizinhas para
servirem de guia, ou usamos a cera moldada.
É bom reforçarmos os enxames mais fracos, fornecendo-lhes xarope
nos alimentadores; isto induz a postura da rainha, conseqüentemente mais
operárias e assim mais produtividade durante a nova estação.

O Xarope de Reforço

1/2 xícara de mel puro de Apis mellifera, de preferência mel de


laranjeira.
1 xícara de água fervida ou destilada.
0,25 gramas de farinha de soja.
Misturamos os ingredientes com rigorosa medida de higiene e
colocamos nos alimentadores uma quantidade que dê para três dias. O
restante pode ser guardado na geladeira. Repetir o reforço até uma semana
antes do início das floradas.

O Alimentador

Consiste num pedaço de mangueira de 5 mm de diâmetro por 10 cm


de comprimento, tapado com rolha nas duas extremidades. Cortamos a
mangueira no sentido longitudinal, 1 cm à frente de cada rolha, formando
um cochinho.
Devemos preenchê-lo com algodão, umedecido no xarope, e
introduzi-lo na gaveta superior da caixa. Temos de lavar

51
muito bem o cochinho, quando formos colocar mais xarope, isto depois de
três dias.

Colocar o alimentador sempre na gaveta superior.


O xarope de reforço deve ser dado às colméias mais fracas, pelo
menos um mês antes de ocorrerem as grandes floradas, pois induzirá a
postura da rainha, aumentando a população da colméia.

A Enxameação

Soltam em média duas famílias por ano no início da primavera e no


verão, geralmente na primeira quinzena de novembro. Neste período, as
caixas-iscas deverão já estar preparadas e instaladas.

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A enxameação acontece da seguinte maneira: algumas dezenas de
abelhinhas, ao encontrarem um novo local para nidificar, primeiramente
começam transportando cera e resina da colméia-mãe para a nova morada.
Iniciam vedando todas as frestas. Depois trabalham na construção do túnel
interno e por fim trabalham na construção da parte superior do batume, onde
irão alojar a nova família. No interior do batume, fabricam as lâminas
circulares de cera, na posição horizontal, para confecção dos alvéolos de
cria.
Esta operação dura alguns dias. Somente depois de preparada a nova
moradia é que se mudam em definitivo, juntamente com a rainha já
fecundada.
Portanto, observe que, pelo menos alguns dias, a nova morada
permanece ligada à colméia-mãe. Às vezes, deparamos com algumas
dezenas de abelhinhas esvoaçando em torno de um mourão, alicerces ou
outros lugares quaisquer, procurando um buraco ou fresta para entrar e não
vemos nenhum canudinho de cera. É mais que certo que estão procurando
um novo local, portanto devemos instalar as caixas-isca.

As Caixas-Isca

São caixinhas de madeira de 12 x 12 x 20 cm de altura com furo na


parte inferior. Esfrega-se cera e resina das jataís por toda a parte interna da
caixinha. A cera e a resina esfregadas na caixinha exalam um odor peculiar,
que as atrai de longe. No furo que é o orifício de entrada, fixamos um
canudinho de cera, ou lambuzamos com cera, isto facilitará a descoberta da
entrada da caixinha por elas.
Quanto mais caixas-isca melhor, aumentam as probabilidades de
captura. Devem ser espalhadas na orla das matas, nos cantos de parede, na
base dos mourões e nos troncos de árvores. O apicultor deve, a cada quinze
dias, fazer uma visita, a fim de certificar-se da captura de algum enxame.

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Verificando-se que o enxame foi capturado, esperar até a noite e
trazê-lo para o apiário.
A transferência para a caixa definitiva deverá ser efetuada um mês
após, visto que neste período as abelhinhas terão reservas de cera, pólen e
néctar e não sofrerão tanto.
Este processo de captura é o mais cômodo e natural para ampliação
do apiário.

Transferência da Colméia Selvagem para a Caixa-Padrão

Material necessário:
1 facão
1 machado
1 formão (bem afiados)
1 garfo de cozinha
1 faca
1 frasco de óleo comestível
2 vasilhas com tampa, uma para mel, outra para pólen e
cera
1 caixa de fósforo 1 caixa-padrão

1- etapa: em se localizando a colméia, primeiramente, limpar o


local, cortando galhos, cipós, os quais poderão dificultar a operação. Em
seguida, retirar o canudinho de cera da seguinte maneira:
Aquecer levemente a lâmina da faca, após assoprar o canudinho, a
fim de afastar as abelhinhas que ali se encontram. Introduzir uma varinha
(fiapo de mato ou capim) no canudo, com a outra mão apanhar a faca
previamente aquecida e cortar o canudo rente à madeira. O canudinho sairá
intacto e devemos colocá-lo no furo da caixa-padrão, mediante leve
aquecimento da borda do mesmo.

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2° etapa: averiguar, com algumas batidas leves, onde as paredes dos
mourões e das árvores secas fazem barulho chocho; as batidas devem ser
dadas nas imediações do canudo. Em se achando o local, abrir duas fendas,
uma a 20 cm acima, outra a 20 cm abaixo, usar o formão se possível, caso
contrário o machado. Ir lascando o tronco cuidadosamente até avistar o
ninho.

3° etapa: com o ninho já à vista, untar levemente o garfo com óleo e


iniciar a retirada de todo o batume que envolve os favinhos de cria, potes de
mel e pólen. Após, retirar os favos de cria com delicadeza e paciência para
não amassá-los, ir depositando-os na câmara do ninho. Potes de mel, pólen e
a cera do batume serão colocados nos espaços laterais, perto dos favos de
cria. Os favos de cria devem ser colocados na posição encontrada, ou seja,
na horizontal. Todo material: cera, resina, potes de mel e pólen, deve ser
devidamente retirado do ninho e recolocado na caixa-padrão.
Averiguar se a rainha foi transferida, ela é tímida e costuma
esconder-se pelas frestas e cantos do ninho.
Usar um fumigador pequeno, porém com o máximo de cautela e o
mínimo de fumaça, para desalojar as abelhas que ainda persistirem em ficar
pelos cantinhos e frestas do velho ninho.
As abelhinhas recém-nascidas precisam ser capturadas e colocadas
na nova caixa; para isso usar uma folha de mato na frente delas e quando
subirem, ir colocando-as na caixa.

4° etapa: finalizando a operação, tapar o oco da antiga colméia com


folhas de papel, capim ou mesmo terra. Fechar a caixa-padrão e colocá-la no
mesmo lugar, altura e posição da ex-colméia. As abelhinhas que estão
esvoaçando logo encontrarão o canudo da nova caixa e começarão a entrar.

55
56
Transferir a colméia do lugar de origem para o apiário a partir do
terceiro dia, sempre à noite - este tempo é suficiente para que elas fixem
favos de crias, potes de pólen e mel - vedando toda a caixa.
Observação: havendo mel em abundância, a metade dos potinhos de
mel deverá ser distribuída pelas gavetas, a fim de servirem de guia para que
as abelhas depositem o mel ali. A outra metade pode ser guardada para
posterior consumo.

Como Proceder com Jataís Alojadas em Árvores Frondosas

Derrubar uma árvore frondosa que demorou dezenas de anos para


atingir este porte, apenas para capturar uma jataí, é realmente inconcebível.
A jataí que ali se encontra, fornecer-lhe-á muitos enxames e até
mesmo mel.

Procedemos da seguinte maneira: usamos uma caixa de 13 x 16 x 14


cm de altura, faltando a parte posterior. Usamos duas gavetas iguais às da
caixa-padrão. Retiramos de uma outra colméia alguns potinhos de mel e
colocamos nas gavetas para servirem de guia.
Em seguida retiramos o canudo de cera da árvore e o grudamos no
orifício de entrada da caixa. Após, fixamos a caixa com arame e com a parte
posterior que está faltando voltada para árvore, logicamente na mesma
direção, posição e altura da entrada do ninho das jataís na árvore. Veja o
desenho da página 59 . As frestas deverão ser vedadas com barro argiloso,
ou mesmo massa de cimento.
As jataís demorarão dois ou três meses, depois passarão a depositar o
néctar nesta caixa. Geralmente, o oco das árvores, mesmo de paredes
espessas, são ambientes pequenos; nossas

57
58
Aproveitando o Jataí de uma árvore

59
abelhinhas têm pouco espaço para armazenar o néctar, quando encontram
espaço sobressalente, passam a ocupá-lo.
Esta experiência,eu a fiz com uma jataí que se encontrava no tronco
de um jacarandá, depois repeti-a numa colméia que se encontrava num
alicerce e os resultados foram positivos.
Quanto a novos enxames, devemos instalar as caixas-isca, pois as
colméias em ambientes pequenos costumam enxamear mais. Instale nas
imediações desta colméia três ou quatro caixas-isca num raio de até 10 cm
que será o suficiente para a captura.

Multiplicação de Colméias por Processo Artificial

1° Processo
Abrimos uma colméia forte, escolhendo um dia claro, com
temperatura elevada e sem vento, durante o mês de outubro ou novembro, e
inicia-se a verificação do ninho.
Retiramos a cera que circunda os favos de cria, observando se há
realeiras ou mais de uma rainha.
A realeira fica nas laterais dos favos centrais e tem aproximadamente
5 mm de comprimento e 4 mm de diâmetro. Com um pouco de prática e
paciência, podemos facilmente encontrá-la.
Se houver realeira, ela deverá ser retirada juntamente com o favo
onde ela se encontra. Retiramos mais 4 favinhos de cria e colocamos todos
na caixa definitiva. Não devemos esquecer ainda de acrescentar alguns potes
de pólen e mel, bem como parte do batume. Temos de retirar o canudo de
cera da colméia-mãe e colocá-lo na entrada da nova caixa. Transferimos,
então, a colméia-mãe a 50 m de distância. A nova família se formará com as
abelhinhas que estão esvoaçando.
Dentro de poucos dias, nascerá a nova rainha e teremos,
forçosamente, uma outra colméia.

60
2° Processo
Diferencia pouca coisa do primeiro. Se a colméia tiver mais de uma
rainha, capturamos uma delas, prendemo-la numa caixa de fósforo vazia.
Após, transferimos alguns potes de mel e pólen, bem como 4 favinhos de
cria e parte da cera do batume para a nova caixa. Em seguida, soltamos a
rainha na caixa e transferimos a colméia-mãe a 50 m de distância. As
abelhinhas que estão esvoaçando, entrarão, na nova caixa e formarão uma
nova família.
Tanto num como noutro processo, a nova caixa tem de ser mantida
na mesma altura, direção e posição do local da colméia-mãe.

Instalação do Apiário na Zona Rural

Aconselhamos a construção de suportes individuais de madeira ou de


ferro com proteção contra formigas.
O desenho na página 62 nos ilustra melhor. As colméias são
colocadas sobre estes suportes a 80 cm de altura com o canudo de entrada
voltado para leste.
Evitamos as baixadas que são propensas a muita umidade no ar e a
luz solar demora mais para chegar.
Fazemos, então, uma cerca quebra-vento contornando todo o apiário
a cinco metros de distância. Plantamos amor-agarradinho (trepadeira que
fornece abundância de néctar e pólen, cujas florzinhas são rosadas,
apresentam-se em cachos e desabrocham em várias épocas do ano), ou
simplesmente plantamos coroa-de-cristo (cactácea boa fornecedora de
resina, pólen e néctar que floresce o ano todo). A coroa-de-cristo, conhecida
cientificamente por Euphorbia milii, ajuda no controle biológico das pragas,
prendendo na viscosidade do pedúnculo floral as mais diversas espécies de
insetos: mosquitos, formigas etc.

61
A quantidade de colméias no apiário vai depender do pasto apícola,
podendo comportar desde algumas até mais de 50 colméias, colocadas a 2 m
uma da outra.
As jataís, quando bem manejadas, fornecem pouco mais de 1 litro de
mel por ano, sua extração segue sempre duas etapas cíclicas. A primeira em
fins de setembro e a segunda, em fins de janeiro.
A baixa produção de mel tem como causa principal o restrito pasto
apícola, principalmente nas épocas mais secas do ano. Seguem-se outros
fatores, tais como: falta de padronização das caixas, manejo inadequado e
competição de outros insetos nas floradas.

O Suporte

Os suportes poderão ser feitos em madeira ou ferro

62
A seguir colocamos uma lista de plantas que contribuem para a
formação do campo apícola necessário às abelhas jataís.

Flora Apícola para Abelhas Jataís

Plantio Tipo Nome vulgar Florescimento Produz


semente árvore algarobeira set/out PN
semente verdura almeirão várias épocas N
semente trepadeira amor-agarradinho várias épocas PN
estaca árvore astrapéia-rosa jun/jul/ago PN
estaca arbusto boldo jun/jul PN
estaca arbusto coroa-de-cristo o ano todo PNR
semente arbusto erva-doce nov/dez/jan PNR
(funcho)
semente rasteira esporinha set/out/dez P
semente arbusto alfavaca set/out PN
semente arbusto fumo (tabaco) jan/fev/mar PNR
estaca arbusto incenso jun/jul PN
estaca trepadeira jasmim-estrela nov/dez NR
mudas árvore citros (todos) ago/dez N
estaca trepadeira madressilva set/out N
estaca arbusto margaridão abr/mai P
estaca arbusto melissa jun/jul PN
semente arbusto manjericão várias épocas PN
semente árvore pitangueira set/out PN
estaca árvore sabugueiro nov/dez PN
semente arbusto salsa várias épocas PN
semente árvore sibipiruna out PN
semente árvore uvaieira jun/jul PN
semente arbusto violeteira várias épocas N
Legenda: P = pólen, N = néctar, R = resina

Nota: conforme a região e o clima as plantas poderão oscilar suas épocas de


floração.

Estas plantas foram escolhidas por terem crescimento rápido, serem


rústicas, adaptáveis aos mais variados tipos de solo é serem muito
procuradas pelas jataís. Além destas, temos ainda as plantas já citadas no II
capítulo do livro, item "O Melhor Lugar para instalar um Apiário''.

63
Destacamos a algarobeira que fornece abundância de néctar,
justamente na época do estio, quando poucas plantas estão produzindo. Tem
ainda inúmeras utilidades: das folhagens e semente fazemos ótima ração
para os bovinos, caprinos, ovinos, suínos e aves. Na alimentação humana as
sementes dão ótima farinha para a confecção de bolo, biscoito, geléia, pão,
licor, melaço e papa. Assim, o uso industrial da algarobeira também pode
ser para a fabricação de álcool, aguardente, farinha, goma, tanino,
dormentes, estacas, tacos, móveis, lenha, carvão.
A coroa-de-cristo (Euphorbia milii var. milii) que fornece os três
elementos: pólen, néctar e resina, durante todo o ano, além de formar
intransponível cerca viva, altamente ornamental pela abundância de flores,
de uma rusticidade incrível, e ajudar intensamente no controle biológico.
A astrapéia-rosa (Dombeya wallichii) também floresce no período
mais crítico do ano, junho, julho e agosto, dá abundância de néctar, apesar
do baixo teor de açúcar, é muito procurada pelas abelhas em geral. A
floração é de inúmeros buquês de florzinhas com o formato de uma bola.
Cada buquê tem em média 120 florzinhas. Certa vez, por curiosidade, contei
mais de 800 buquês somente de um lado da árvore e concluí que numa única
florada há, em média, 32.000 florzinhas. A astrapéia-rosa fornece no
período da manhã farta quantidade de néctar; se chacoalharmos um buquê
sobre um prato, verificaremos a presença de inúmeras gotículas de néctar.

O Transporte para as Grandes Floradas

O apicultor deve aproveitar as grandes floradas dos pomares, bem


como dos eucaliptais, não só para a colheita do néctar, bem como para
aumentar a polinização e, conseqüentemente, a produção; para isso, deve
levar as colméias até os locais.

64
O transporte tem de ser à noite e com muita cautela, evitando os
solavancos. Devemos primeiramente assoprar o canudo de entrada, para que
as abelhinhas deixem-no livre, depois apertá-lo na extremidade de entrada a
fim de que as abelhinhas permaneçam na caixa até o final do transporte. No
outro dia, já estará aberto o canudo, e elas trabalhando.
Uma outra observação sobre as jataís é quanto à coleta do néctar,
pois não são como as apis-mellifera que dão preferência a um tipo de
florada. Isto é, se abre a florada dos laranjais, ou dos eucaliptais, vão todas
para estes tipos de floradas. As jataís coletam néctar ou pólen de diversas
flores ao mesmo tempo. De uma mesma colméia temos abelhinhas
coletando néctar de flores de laranjeira, de manjericão, de gerbão, de
mangueiras etc.
Aconselhamos a instalar o apiário, portanto, no centro das floradas,
isto se quisermos mel de um tipo de florada.
Outro detalhe é colocarmos as colméias sempre sobre suportes, ou
banquetas, a fim de evitarmos os predadores, principalmente as formigas.

Colméia-Padrão

Temos vários tipos de colméias para jataís, algumas muito


funcionais. Pensamos numa que atendesse, não só as necessidades das
abelhinhas, como também do apicultor," facilitando principalmente a
extração do mel. Depois de vários ensaios, graças a Deus, consegui criar a
colméia-juliane.

A colméia-juliane tem as seguintes vantagens:

1 - A câmara de cria é eficiente em tamanho e o túnel interno possui


o comprimento aproximado da colméia sel-

65
vagem, ou seja, do canudo de entrada até os favos de cria, tem 20
cm.
2 - Ao abrirmos a caixa, a câmara de cria permanece praticamente
lacrada, mantendo assim a temperatura interna.
3 - Fácil manejo na extração do mel, pois as gavetas são
móveis.
4 - Devido ao uso da cera moldada na gaveta a produção
aumenta, uma vez que, extraído o mel, elas voltam para a caixa
com a cera praticamente intacta.

Descrição da Colméia-Padrão

Consiste numa caixa de 24 cm de comprimento x 15 cm de largura x


18 cm de altura (medida interna da caixa) feita de preferência com tábuas de
3/4', podendo ser de quaisquer madeiras desde que bem secas e bem lixadas.
A montagem da caixa deve ser com parafusos que dão maior resistência e
evitam o empenamento das tábuas. O parafuso sai facilmente, sendo, pois,
um meio menos violento de se fazer as vistorias. O espaço pontilhado no
desenho da página 68 é duas tábuas pregadas, resultando numa caixinha de
8 x 8 x 18 cm de altura, o espaço, entretanto, deve ser preenchido com pó de
serra ou isopor. A câmara do ninho fica encostada a esta caixinha, no
espaço maior são colocadas as gavetas afastadas cada uma 4 mm das
paredes da caixa.

Descrição das Gavetas

São ao todo 5 gavetas medindo 14 cm de largura x 15 cm de


comprimento x 3,2 cm de altura; estas medidas são externas.

66
Corte Lateral da Caixa-Padrão

67
Corte da Caixa-Padrão

Medidas internas da caixa


24 x 15 x 18 cm de altura

Medidas internas do espaço ocioso


8 x 8x 18 cm de altura

Medidas internas do ninho


7 x 7 x 18 cm de altura

Observação: usar tábuas de 3/4" para confecção da caixa

68
Espaço ocioso, ao lado câmara do ninho. Caixa-padrão vista por cima
com prateleira superior.

69
Prateleiras com sarrafinhos.
Os sarrafinhos são os pontos de apoio para os potes de mel e servem
para as jataís não grudarem os mesmos no fundo da prateleira
superior.

70
Vista frontal, com unia prateleira com sarrafinhos, observem a
prateleira sem sarrafinhos não funcionam, pois as jataís grudam por
todos os cantos cera, dificultam sua extração.

71
Observar como ficam prateleiras sem sarrafinhos. É anti-funcional.

72
Caixa simples, rústica e anti-funcional.

73
Os preguinhos servem de apoio para as prateleiras se apoiarem sobre
eles. No fundo vemos ao alto potes de mel e pólen. Abaixo favos de
cera, onde as prateleiras irão encostar.

74
As gavetas não possuem nem a parte anterior, nem a parte posterior,
isto é, nem têm a frente, nem o fundo, ficam formando uma calha. Sobre a
borda das laterais da gaveta são pregados 8 sarrafinhos no sentido
transversal, ver desenho na página
Estes sarrafinhos servirão de suporte para as jataís fixarem os
potinhos de mel, e ficam 1 cm afastados um do outro.
As gavetas ficam 4 mm afastadas das laterais da caixa e entram na
mesma, correndo sobre dois sarrafinhos-guias de 160 mm de comprimento x
10 mm de largura x 4 mm de altura. O sarrafinho-guia tem de ser pregado
com a parte mais fina, ou seja, a altura no sentido horizontal da caixa, para
que sobrem espaços entre uma gaveta e outra, a fim das gavetas poderem
correr com facilidade.
As gavetas podem ser confeccionadas com chapas de duratex ou
eucatex. Os sarrafinhos poderão ser de pinho ou cedro.
No fundo das gavetas irá a cera moldada ou alguns potinhos de mel
para servirem de guia.
O orifício de entrada das abelhinhas é feito na base da lateral da
câmara do ninho. É um furo de 10 mm de diâmetro, pois se for menor
dificulta a passagem das abelhinhas. Há casos interessantes de se observar,
quando encontramos colméias selvagens com mais de um canudo de
entrada, é que os orifícios de entrada são pequenos demais, dando passagem
para duas ou três abelhinhas de cada vez, razão de serem chamadas de
abelhas das três portas ou das sete portas.

75
As Gavetas e os Sarrafinhos-Suportes

Medidas externas das gavetas

São 5 gavetas de 15 cm de compr.


14 cm de larg.
3,2 cm de alt.

São 8 sarrafinhos de:


1 cm de larg.
0,5 cm de alt.
compr. igual à
larg, das gavetas

São pregados a 1 cm um do outro

76
Cera Moldada para Jataís

Material necessário:
- 250 g de cera de jataí
- 300 g de cera de apis-mellifera
- 6 tubos de ensaio de 10 mm de diâmetro

Modo de fazer. Juntamos os dois tipos de cera para ferver em banho-


maria. Enquanto a cera derrete, aproveitamos para amarrar juntos os 6 tubos
de ensaio.
Estando a cera derretida, molhamos a base dos tubos de ensaio nela.
Em seguida, colocaremos os tubos em água fria; a cera sairá facilmente,
formando assim os semipotinhos. Colocamos a cera moldada nas gavetas e
com um conta-gotas pingamos mel de jataí ou laranjeira (da apis-mellifera),
uma gota em cada semipotinho.
As jataís passarão a trabalhar neles e depositarão o néctar ali. Às
vezes acontecerá que desmancharão toda a cera moldada. Não desanime,
pois a finalidade desta cera é facilitar a fabricação da mesma, uma vez que
as jataís gastam muito mel para produzi-la, cerca de 400 g de mel para cada
100 g de cera.
Quando as jataís desmancham a cera moldada, elas usam esta mesma
cera noutros lugares, confeccionando o batume ou mesmo potinhos para
pólen ou néctar. De qualquer forma, as abelhinhas terão que depositar o
néctar nas gavetas, pois a câmara do ninho tem espaço reduzido.
Passados 4 meses, abra a caixa e observe se elas encheram as gavetas
superiores de potinho de mel; se realmente estiverem cheias, troque-as de
lugar, passando para o lugar das gavetas inferiores e as inferiores para o
lugar das superiores.
Observação: ao espremer os favos novos de mel das apis-mellifera,
este bagaço poderá ser colocado à distância de 30 m

77
das colméias de jataís para elas aproveitarem a cera e a sobra do mel. Logo
que elas perceberem, começarão o transporte do mel e da cera para a
colméia. Esta é uma maneira simples de auxiliá-las na penosa e dispendiosa
tarefa da produção de cera.

Gaveta com Cera Moldada

Com um conta-gotas, pingar mel em alguns semipotinhos para


induzir as jataís a depositar o néctar neles.
A finalidade da cera moldada é reduzir o consumo de mel ingerido
pelas abelhinhas na fabricação de cera.

78
Extração do Mel

Observe primeiramente as gavetas, se elas estiverem cheias,


devemos extrair o mel.
O processo é simples. Com uma faca, untada em óleo, vá
desprendendo os filamentos e a cera que prendem as gavetas. Retire as
gavetas, uma por vez, e assopre as abelhinhas que ali se encontram. Após,
com um bastãozinho de madeira (palito de dente) fure os potinhos de mel na
parte superior, deixando o mel escorrer sobre uma vasilha. O mel é bastante
aquoso e escorrerá com facilidade. Em seguida, devolva as gavetas à caixa.
Não se preocupe em deixar mel nas gavetas, pois em torno dos favos de cria,
na câmara do ninho, há uma reserva suficiente de mel para elas.
Deste modo teremos uma produção elevada, pois será poupado o
trabalho delas nas próximas safras fabricarem novos potinhos para mel.
O mel deve ser guardado em vidros escuros com tampa e em lugar
fresco, a fim de conservar suas propriedades nutritivas e medicinais.
Devemos consumi-lo como qualquer xarope, é ótimo calmante para a tosse e
resfriado, muito empregado no meio rural. Seu preço chega a ser dez vezes
maior que o mel da apis-mellifera, isto, quando se encontra à venda.
Caso sua produção seja grande, que se consegue com mais de 50
colméias, a comercialização do mel poderá ocorrer através das lojas de
produtos naturais, farmácias homeopáticas, laboratórios de pesquisa e
produção de medicamentos ou pessoas que fazem macrobiótica.

Exploração Comercial

Comparando-se a produtividade de mel entre Tetragonisca angustula


(jataí) e Apis mellifera (européia), observa-se que

79
esta última tem um rendimento financeiro 12 vezes superior à Tetragonisca
angustula, como podemos verificar pelo quadro abaixo:

Espécie Produção Preço Relação


média/ano médio/litro comparativa
em litros NCz$(OTN)
Tetragonisca 01 8,00(1,29) 3:1
angustula
Apis mellifera 40 3,00 (0,48)
Fonte: Dados coletados no comércio apícola de Piraçununga - SP, em 17/mar/88.

Considerando-se os custos de produção relacionados para ambas as


espécies, conclui-se que a exploração comercial das abelhas jataís é viável,
uma vez que as instalações para essa exploração têm custo
(comparativamente) muito inferior àquele estimado para a espécie Apis
mellifera, conforme quadro que segue:

Comparação de Custo de Instalação da Apis Mellifera e da


Tetragonisca Angustula (Jataí)

Utilização Custo estimado em NCz$


Instalações Apis Jataí Apis Jataí
Ninho completo X X 18.00 15,00
Melgueira X 15,00
Tela excluidora X 4,00
Cera moldada 1 kg X 6,00
Aparelho p/ fixar cera X 15,00
Fumigador X 18,00
Centrífuga X 160,00
Vestimenta completa X 43,00
Ferramentas diversas X 7,00
Arame p/ os quadros 1 kg X 1,00
Diversos* X 5,00 2,00
Total 292,00 17,00

* Refere-se à cobertura, cavaletes, vasilhas para armazenagem de mel. Fonte: dados


coletados junto ao comércio apícola de Piraçununga-SP, em 17/mar/88.

80
Como puderam observar, os custos com as instalações entre uma e outra
espécie, têm uma diferença de NCz$ 275,00, ou seja, de 44,57 OTN.

81
BIBLIOGRAFIA

Revista "VIDA" n° 31 - AS ABELHAS JATAÍS -Editora Três -1986.

Revista "APICULTURA NO BRASIL" N° 12 - Ano 2 -jan/mar/86 - Padilla


Editorial S.A.

Revista "APICULTURA NO BRASIL" N° 13 - Ano 3 -mar/abr/86 - Padilla


Editora S.A.

Revista "APICULTURA NO BRASIL" N° 14 - Ano 3 -mai/jun/86 - Padilla


Editora S.A.

GUIA RURAL ABRIL - Ano 86 - Editora Abril.

GLOBO RURAL N° 12 - Ano 1 - set/86 - Editora Rio Gráfica.

"A CRIAÇÃO DE ABELHAS INDÍGENAS SEM FERRÃO" - 2° ed. SP -


Nogueira Neto, P. - Editora Chácaras e Quintais.

1° CONGRESSO BRASILEIRO DE APICULTURA -"Genética, Seleção e


Melhoramento" - Lionel Segui Gonçalves - Warwick Estevam Kerr -
Florianópolis - SC.

83
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