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JUSTIÇA

“Bem-aventurados os que tem fome e sede de justiça, porque serão saciados”


(Mt.5,6)

A justiça é a única das quatro virtudes cardeais (Sab. 8,7) que tem valor
absoluto.
“Virtude completa” (Aristóteles).
“Porque se a justiça desaparece é coisa sem valor o fato de os homens viverem na
terra”
(Kant).
A justiça não é uma virtude como as outras. Ela é o horizonte de todas e a lei de
sua coexistência.
Todo valor a supõe; toda a humanidade a requer. É aquela virtude que
contém ou supõe todas
as outras.
A palavra “justiça” evoca em 1º lugar uma ordem jurídica (“jus”, em latim), ou
seja, o respeito à lei.
A noção moral é mais ampla: a justiça dá a cada um o que lhe é devido, ou seja,
refere-se a uma igualda-
de entre as pessoas.
Na Bíblia, a justiça é um dos conceitos centrais, embora um conceito de muitos
sentidos e, por isso, difícil de ser definido. Em todo caso, trata-se de um conceito
que inclui “relação”.
A justiça entra em cena nas relações entre Deus e seu povo e entre os homens. Ela está presente nos
campos jurídico, social, ético e religioso.
É um conceito dinâmico, que significa mais agir do que ser. De Deus e dos homens se diz frequente-
mente que fazem a justiça, praticam a justiça...
A justiça divina é vista como “a mais sublime bondade” ou uma “força que salva”.
Como graciosa ajuda, a justiça de Deus é também objeto de gratidão e ação de graças. Esta justiça é
concedida como dom ao povo ou aos indivíduos ou é ensinada; é recebida como salvação ou como
capacitação para a vida reta.
Portanto, “justo” é aquele que, perante Deus e os homens, assume a atitude correta, vive e age
correspondentemente (Gen. 6,9; Ez. 14,14...)
A justiça pertence aos atributos mais essenciais do rei messiânico (Is. 9,6; 11,3-5; Jer. 23,5).

No sentido bíblico, a justiça adquire, então, um sentido mais profundo ainda: a


integridade do ser humano é o eco e o fruto da justiça soberana de Deus, da
maravilhosa delicadeza com que Ele conduz o universo e cumula de dons as suas
criaturas.
Esta justiça de Deus coincide com sua misericórdia, sua bondade, sua
santidade...
Segundo os livros Sapienciais, a justiça é a sabedoria posta em prática (Sab. 1,1-
15; 8,7). É a sabedoria que ensina a temperança, a prudência, a justiça e a
coragem, as quatro virtudes cardeais.
Para os judeus, a justiça não é tanto uma atitude passiva de imparcialidade, mas um empenho apaixona-
do em favor do direito das pessoas.

No N.T., manifesta-se a consciência de que o ser humano não pode conquistar a


justiça por suas próprias obras, mas que a recebe como dom da graça.
Em suma, a “justiça de Deus” não pode reduzir-se ao exercício de um juízo,
senão que, antes de tudo é misericórdia e fidelidade a uma vontade de salvação.
Visto que justiça designa o comportamento do ser humano de conformidade
com a Vontade de Deus, pode-se falar de “praticar a justiça” (Mt. 6,11; 22,11)
ou de “cumprir toda a justiça” (Mt. 3,5).
Em S. Paulo, a expressão “justiça de Deus” (Rom. 1,17; 3,5.21.22.25.26)
significa uma propriedade de Deus, não como algo estático, mas como uma
propriedade dinâmica, uma ação de Deus, e ao mesmo tempo o efeito dessa
ação, isto é, o novo ser dado por Deus ao ser humano.
Portanto, a expressão “justiça de Deus” não tem nenhuma relação com o julgamento de Deus; só se
pode entendê-la como uma propriedade interior ao próprio Deus: o conceito descreve uma maneira de
ser ou de agir de Deus. Por isso, também do lado humano a justiça deve significar uma maneira de ser
ou de agir do ser humano.
O único fundamento de qualquer justiça é Cristo.
N’Ele nós nos tornamos justiça de Deus (2Cor 5,21).
Texto bíblico: Mt. 20,1-20

O combate pela justiça não terá fim. Numa re-leitura


da 4ª bem-aventurança podemos afirmar:
“Felizes os famintos de justiça, que nunca serão saciados”.

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