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O texto abaixo foi escrito pelo pastor Elienai Junior, líder da igreja Betesda no
Ceará, sobre diversas perguntas que surgem a partir de rumores que espalham dentro
e fora de nossa comunidade sobre posicionamentos teológicos e doutrinários que
assumimos.
ALGUMAS CLAREIRAS.
Afinal de contas, do que estamos falando? Quando participo de conversas, com poucos
ou muitos, e sou ‘condenado’ por falar coisas às quais jamais fiz referência: ‘quer dizer
que agora temos que jogar fora tudo o que aprendemos desde o início?
E tudo o que aprendemos de todos os pastores da nossa igreja?’ ‘Quer dizer que Deus
não é mais onisciente?’ ‘Não podemos mais orar?’ ‘Deus é como qualquer homem, não
pode conhecer todas as coisas?’ E outras generalizações desse tipo... O que se fala nos
corredores convence mais que o que se prega no púlpito. Meu pedido é, por favor, se
sua crise é gerada por zelo, desista das (des) informações dos corredores. Ouça-me uma
vez mais.
Não estamos jogando fora uma teologia e trazendo outra para o seu lugar. Nosso esforço
é por aprofundar antigas verdades, por terminar a obra que começamos. Às vezes, para
se terminar uma construção se paga um preço mais caro que o imaginado no início do
projeto. Às vezes, é mais difícil e exige mais firmeza e coragem concluir um edifício
que começá-lo. Acredito que é o que está acontecendo neste momento em nossa
Betesda.
Não estamos desistindo de uma teologia, estamos avançando no projeto. Nossa teologia
sempre se caracterizou por alguns compromissos, sentimentos e percepções que
fundaram a Betesda, permitam-me sugerir alguns:
Pensando assim, oração não é uma forma de conseguir coisas, mas uma disciplina
espiritual que busca intimidade, santidade, confissão, verdade, a glória de Cristo e não a
realização de meus desejos, mas dos desejos de Deus.
2. Denunciamos qualquer expressão de espiritualidade em nossa prática que produza
engano. (Gl 1.6-7) Abominamos qualquer esperança que se baseie na ilusão. A fé não
ilude, não coloca vendas. Antes, acorda, abre os olhos para a verdade (2Tm 4.2-4). O
evangelho é luz que revela a verdade e não uma maquiagem na realidade da vida.
Negamos qualquer fé que se comporte como uma barganha com Deus (1Tm 6.3-6).
Razão porque cedo denunciamos a teologia da prosperidade e os chamados movimentos
da fé. Por essas denúncias já fomos chamados de pouco espirituais, ou mesmo
incrédulos. Já fomos acusados de tirar a esperança das pessoas. No entanto, o que
cremos é que a verdadeira esperança nunca ilude, nunca cria falsas expectativas.
Só há uma esperança que vale a pena, a que não engana com fantasias. A esperança do
cristão não é a de uma vida facilitada e intocável, mas da presença incondicional do Pai
que nos sustenta em seu amor. Aconteça o que acontecer, ouviremos a voz do Amado:
“Minha graça é suficiente para você, pois o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza”.
Diante do que, cada um de nós poderá sempre responder: Portanto, eu me gloriarei
ainda mais alegremente em minhas fraquezas, para que o poder de Cristo repouse em
mim.” (2Co 12.9)
3. Acreditamos que a única forma de nossa relação com Deus ser de verdadeiro amor é
termos sido criados com verdadeiro livre-arbítrio. Qualquer coação, determinismo,
predestinação implica em negação da liberdade humana, tanto quanto, de um possível
amor genuíno a Deus. Servimos a Deus porque o amamos e não porque fomos
obrigados a isso. Por isso sempre afirmamos que o ditado popular ‘quem não vem pelo
amor vem pela dor’ é uma inverdade. A Bíblia diz que Deus rejeita qualquer fé que não
seja por amor verdadeiro. E amor verdadeiro é sempre livre, espontâneo e decidido.
“Assim conhecemos o amor que Deus tem por nós e confiamos nesse amor. Deus é
amor. Todo aquele que permanece no amor permanece em Deus, e Deus nele. Dessa
forma o amor está aperfeiçoado entre nós, para que no dia do juízo tenhamos confiança,
porque neste mundo somos como ele. No amor não há medo; ao contrário o perfeito
amor expulsa o medo, porque o medo supõe castigo. Aquele que tem medo não está
aperfeiçoado no amor. Nós amamos porque ele nos amou primeiro.” (1Jo 4.16-19).
6. Sempre nos recusamos a trocar as pessoas por programas ou razões teológicas. Mais
importante que um programa ou organização são as pessoas que queremos amar e nelas
promover o caráter de Cristo. Mais importante que manter um dogma, ou sustentar uma
ortodoxia é acolher as pessoas em seus dramas pessoais. Nossa teologia procurou
sempre ser uma resposta bíblica às verdadeiras questões da vida humana. Não
defendemos conceitos, defendemos a dignidade humana devolvida pelo sacrifício de
Cristo na cruz. Uma doutrina que não se sustenta na vida, que destrói, que afasta de
Deus, que camufla fatos ruins não serve à vida e nem ao Reino de Deus. Não estamos
preocupados em defender um conceito sobre Deus que, na vida comum, destoa da
prática. Um amigo meu, pastor agora, reencontrou uma amiga da família de longa data,
que logo lhe lembrou do pai, já falecido. Inevitavelmente fez referência à perda e
emendou para consolar: - ‘Deus levou seu pai, mas teve um bom propósito para isso!’
Meu amigo, agradeceu com um sorriso amarelo. Passou pela sua cabeça todos os
transtornos que enfrentou na vida. As dores que ainda carrega, suas fraquezas e medos.
Pensou: que propósito é esse que Deus teve? Matou meu pai para me ensinar alguma
coisa?
Não podemos lutar por conceitos que matam as pessoas e que nada produzem que faça
sentido na vida comum.
Teologia na Betesda não se faz a partir de conceitos, mas a partir das pessoas. Nossa
teologia tem que ser pastoral antes de ser conceitual. É para os dilemas e tragédias das
pessoas pastoreadas por nós que buscamos respostas em Deus.
Por essas razões, temos pregado uma mensagem que inspire as pessoas a levarem a
sério sua liberdade (Tg 2.12-13). A não se esconderem por trás de desculpas ou ritos (Gl
6.7-10).
Não cremos em um Deus que escolhe alguns para a salvação e outros para o
condenação. Cremos em um Deus que a todos ama e a todos quer salvar (Tt 2.11-14).
Por isso afirmamos que não podemos crer em um futuro que já esteja pronto. E que
afirmar que Deus conhece o futuro é o mesmo que afirmar que já está pronto. O que
anula nossa liberdade e faz de Deus mentiroso, já que na verdade ele se relaciona
conosco num tipo de ‘faz-de-conta’, em que ele já sabe o fim da história, mas finge que
não. Deus conhece tudo. Mas o futuro não existe, por isso não pode ser conhecido,
porque não há nada para conhecer. O que Deus sabe do futuro não são os fatos, pois eles
não existem. O que Deus sabe do futuro é o que Ele soberanamente afirmou que pode
ou que vai fazer.
Não acreditamos em uma espiritualidade preventiva. Do tipo ‘se eu fizer tudo certinho
nenhum mal me atingirá!’ A Bíblia não promete uma humanidade isenta de acidentes,
dores, injustiças, doenças e transtornos pertencentes a um mundo desajustado e inseguro
como o nosso. O mundo não é um lugar seguro para todos. (Ec 9.1-3; Rm 8.18-23) Se
Jesus veio entre nós e enfrentou todas as nossas dores, por que nós seríamos maiores
que ele para sermos exceções? Se ele aceitou não fugir das horas mais difíceis, por que
nós acreditamos que nossa oração nos poupará delas? E lhes disse: “A minha alma está
profundamente triste, numa tristeza mortal. Fiquem aqui e vigiem”. Indo um pouco mais
adiante, prostrou-se e orava para que, se possível, fosse afastada dele aquela hora. E
dizia: “Aba, Pai, tudo te é possível. Afasta de mim este cálice; contudo, não seja o que
eu quero, mas sim o que tu queres”. (Mc 14.34-36)
Há muito que conversar. Não há pressa, o que há é a decisão de não deixar para depois.
Um abração,
Elienai