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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA __ª VARA DE

FAMÍLIA E SUCESSÕES DA COMARCA DE GUARAPARI/ES

  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
 

                  REGINA XAVIER, brasileira, menor (04.07.1990), neste ato


representada por sua genitora GLAÚCIA XAVIER, brasileira, solteira,
doméstica, portadora da cédula de identidade RG nº. 0.845.694-1, expedida
pela SSP/MT, inscrita no CPF/MF sob o nº 569.788.471-00, residente e
domiciliada na Rua 12, quadra 06, casa 35, Bairro Castelo Branco, Cuiabá –
MT, Fones 642 4749 – 9985 1463, por conduto da Defensoria Pública do
Estado de Mato Grosso, vem, respeitosamente, à presença de Vossa
Excelência para, com fundamento na Lei n. 5.478/68, combinada com os
artigos 1.694 a 1.710, do Código Civil, artigo 852, do Código de Processo Civil
e artigo 229, da Constituição Federal, propor a presente 

AÇÃO DE ALIMENTOS C/C PROVIMENTO PROVISÓRIO 

                  em face de LEONARDO DE SOUZA, brasileiro, pintor, residente e


domiciliado na Rua Cáceres n. 384, bairro Renascimento, Cuiabá – MT, Fone
3628 0148, pelos motivos fáticos e jurídicos a seguir delineados: 

                  01 – DOS FATOS 

                  I. Um relacionamento afetivo entre o Requerido e a Srª Glaúcia


Xavier, teve como fruto o nascimento de Regina Xavier, ora Requerente, a
qual está devidamente reconhecida pelo pai. 
 

                  II. Ocorre que o Requerido, após ter separado da genitora da


Requerente, pôr incompatibilidade de gênio, não prestou a contento auxílio
material e financeiro à filha, o que impõe privações para a infante do ponto de
vista da necessidade da mesma e da possibilidade do Requerido, ficando,
desde então, os encargos de alimentação, educação, vestuário e higiene da
Requerente despendidos precariamente pela sua genitora, as duras penas.  

                  III. Em face da presente situação fática relatada, a Requerente vê-


se obrigada a promover o presente remédio legal, porque resta manifesto que
sua mãe não possui recursos suficientes para prover sozinha a devida
subsistência da filha, necessitando mais do que nunca de ajuda para o
pagamento das despesas da criança. 

                  IV. Assim, faz-se mister que se estabeleça alimentos para a


Requerente, pois demandam constantes gastos com alimentação, moradia,
vestuário, medicamentos, além de outras despesas.  

                  V. E, por terem os pais obrigação conjunta de assistir a prole,


mister se faz que contribuam de alguma forma para o sustento, especialmente,
o Requerido que possui renda mensal como pintor de parede. 

                  02 – DAS CONDIÇÕES ECONÔMICAS DOS PAIS 

                  A representante legal da menor tem como fonte de renda a


remuneração de um salário mínimo, visto que exerce a profissão de doméstica,
tendo que acudir as necessidades próprias e de mais dois filhos que estão sob
sua responsabilidade. 

                  Quanto ao Requerido, tem-se que o mesmo exerce atividade


remunerada, percebendo, como pintor de parede, quantia suficiente para
prover as necessidades da Requerente. 

 
                  Diante do exposto, torna-se necessário estabelecer, a título de
pensão alimentícia, a quantia equivalente a um (01) salário mínimo para a
Requerente ou um terço (1/3) dos vencimentos do Requerido, quando
neste último caso a quantia ultrapassar o valor de um salário mínimo,
a ser depositada em conta poupança a ser aberta no Banco do Brasil S/A. 

                  03 – DO DIREITO 

                  No caso em comento, comprovada está a paternidade do


Requerido, consoante atesta a certidão de nascimento anexa, cabendo-lhe
arcar com as responsabilidades pertinentes, porquanto não é outro o disposto
no artigo 229, da CARTA MAGNA, verbis: 

“Art. 229 - Os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos menores, e
os filhos maiores têm o dever de ajudar e amparar os pais na velhice, carência
ou enfermidade.” 

                  Referido preceptivo orienta a legislação infraconstitucional


pertinente, a exemplo dos artigos 1.694 e 1.696 do Código Civil, todos
consagrando e revestindo de imperatividade o dever de alimentar: 

Art. 1694. Podem os parentes, os cônjuges ou companheiros pedir uns aos


outros os alimentos de que necessitem para viver de modo compatível com a
sua condição social, inclusive para atender às necessidades de sua educação. 

Art. 1.696. O direito à prestação de alimentos é recíproco entre pais e filhos, e


extensivo a todos os ascendentes, recaindo a obrigação nos mais próximos,
uns em falta dos outros. 

                  É de se ressaltar, ainda, que o ESTATUTO DA CRIANÇA E DO


ADOLESCENTE (Lei nº 8.069/90) preceitua: 

 
Art. 22. Aos pais incumbe o dever de sustento, guarda e educação dos filhos
menores, cabendo-lhes, ainda, no interesse destes, a obrigação de cumprir e
fazer cumprir as determinações judiciais.  

                  Nesse sentido, eis a orientação da ilustre doutrinadora MARIA


HELENA DINIZ, em sua obra Direito Civil Brasileiro - Direito de Família, 5º
volume, 15ª edição, São Paulo, Editora Saraiva, 2000: 

“Compete aos pais quanto à pessoa dos filhos menores (CC, art. 384):
1) Dirigir-lhes a criação e educação (CF, art. 229; Lei n. 8.069/90, arts.
4º, 19, 53, 55), provendo-os de meios materiais para sua subsistência
e instrução de acordo com seus recursos e sua posição social,
preparando-os para a vida, tornando-os úteis à sociedade.” (p. 382) 

                  Neste contexto, quando se fala em alimentos, determina-se o


direito de exigi-los e a obrigação de prestá-los, demonstrando, assim, o
caráter assistencial do instituto. 

                  Na verdade a finalidade dos alimentos é assegurar tudo aquilo que


é necessário para propiciar a subsistência de quem não tem meios de obtê-los
ou se encontra impossibilitado de produzi-los. 

                  Nos ensina CLÓVIS BEVILÁQUA, em sua obra Direito de Família,


§ 78, p. 535, Editora Revista dos Tribunais, 3ª edição, ao dizer que: 

“... a palavra alimentos tem, em direito, uma acepção técnica de mais larga
extensão do que na linguagem comum pois compreende tudo o que é
necessário à vida: sustento, habitação, roupa e tratamento de moléstia”. 

                  O dever de sustento é vinculado ao poder familiar, tratado no


Código Civil de 1916 como pátrio poder, e só cessa com a maioridade, ainda
que pela sua idade, o filho já estivesse apto para o trabalho, portanto é dever
incontroverso dos pais prestar aos filhos menores tudo o que é necessário para
torná-los um ser em condições de viver e de se desenvolver. 
 

                  A obrigação de sustento não se altera diante da precariedade da


condição econômica do genitor. A impossibilidade material não pode constituir
motivo de isenção do dever do pai de contribuir para a manutenção do filho. 

                  É nesse sentido a opinião jurisprudencial: 

O pai, ainda que pobre, não se isenta, por esse motivo, da obrigação de
prestar alimentos ao filho menor, do pouco que ganhar, alguma coisa deverá
dar ao filho. (13.10.1994, JTJ 168/11)  

                  A obrigação alimentar é proporcional à capacidade econômica de


quem a deve e às necessidades de quem a reclama. É, portanto, uma
obrigação de caráter variável e contingente, conforme demonstra Yussef Said
Cahali, em seu livro Dos Alimentos § 2, p. 546. 

                  Assim, o artigo 1.694, do CÓDIGO CIVIL BRASILEIRO, em seu


parágrafo 1º, dispõe que: 

Art. 1694. ... 

§. 1º. Os alimentos devem ser fixados na proporção das necessidades do


reclamante e dos recursos da pessoa obrigada. 

                  Como relatado, o Requerido, ao negligenciar na subsistência de


sua filha, não lhe patrocinando a devida assistência material, incorre em
abandono material, eis que a menor não pode suportar a inércia do
alimentante por longo período, o que está a sugerir, se assim persistir, a
configuração do crime de abandono material, como dispõe o artigo 244 do
CÓDIGO PENAL: 

 
"Art. 244. Deixar, sem justa causa, de prover a subsistência do cônjuge, ou de
filho menor de 18 anos ou inapto para o trabalho ou de ascendente inválido ou
valetudinário, não lhes proporcionando os recursos necessários ou faltando ao
pagamento de pensão alimentícia judicialmente acordada, fixada ou majorada
(...). 

Pena - Detenção de 1 (um) ano a 4 (quatro) anos e multa. 

Parágrafo único. Nas mesmas penas incide quem, sendo solvente, frustra ou
ilide, de qualquer modo, inclusive por abandono injustificado de emprego ou
função, o pagamento de pensão alimentícia judicialmente acordada, fixada ou
majorada".  

                  De tal sorte, com base no dispositivo penal acima mencionado,


faz-se mister que, prosseguindo-se a inércia do Requerido quanto ao
pagamento de alimentos suficientes, seja comunicado ao Ministério Público,
para que tome as providências necessárias. 

                  04 – DO PEDIDO 

                  ISTO POSTO, REQUER: 

Sejam concedidos à Requerente, de plano, os Benefícios da Justiça Gratuita,


haja vista que não tem condições econômicas e/ou financeiras de arcar com as
custas processuais e demais despesas aplicáveis à espécie, honorários
advocatícios, sem prejuízo próprio ou de sua família, nos termos da inclusa
declaração de pobreza, na forma do artigo 4º, da Lei n. 1.060, de 05 de
fevereiro de 1950, e artigo 1º, da Lei n. 7.115, de 29 de agosto de 1983;

Seja, por força do artigo 4º da Lei nº 5.478/68, fixado alimentos provisórios,


na quantia equivalente a um (01) salário mínimo para a Requerente ou
um terço (1/3) dos vencimentos do Requerido, quando neste último
caso a quantia ultrapassar o valor de um salário mínimo, incidindo sobre
o 13º salário, férias, rescisão contratual, e outros, corrigido de acordo com os
aumentos de lei, a ser pago até o dia 10 (dez) de cada mês, mediante depósito
em conta poupança a ser aberta no Banco do Brasil S/A;

Seja o Requerido citado no endereço constante no preâmbulo da presente peça


inaugural, através de carta com aviso de recebimento (artigo 5º, da Lei nº
5.478/68) ou via mandado para, querendo, contestar a presente ação, sob
pena de revelia, confissão e demais cominações legais (CPC, art. 285 e art.
319);

Sejam deferidos, para o bom termo das diligências, os benefícios do artigo


172, § 2º, do Código de Processo Civil;

Seja intimado o douto representante do Ministério Público para, na condição de


"custos legis", intervir e acompanhar a presente demanda até o seu final, sob
pena de nulidade, ex vi dos artigos 82, incisos I e II, 84 e 246, todos do
Código de Processo Civil;

Sejam deferidos todos os meios de provas em direito admitidos, inclusive os


moralmente legítimos que não especificados no Código de Processo Civil, mas
hábeis a provar a verdade dos fatos em que se funda a presente demanda
(CPC, art. 332), mormente a prova testemunhal, cujo rol será apresentado em
momento oportuno;

 
Seja mantida a Guarda da Requerente em favor da sua genitora,
regulamentando o direito de visita do Requerido da seguinte forma, quando
possível:

a) as visitas do pai consubstanciarão na retirada da filha da


casa da mãe em finais de semanas alternados, sendo das
09:00 de sábado até as 18:00 horas de domingo; 

b) no período de férias escolares será dividido ao meio


entre os pais, onde a genitora ficará com metade (1/2) e o
pai com a outra metade (1/2); 

c) as festividades de carnaval, semana santa, bem como


natal e final de ano, serão divididos alternadamente entre
os pais; 

d) os aniversários da filha serão passados com a mãe,


sendo consentido ao pai visitá-la no dia da festividade, na
casa da mesma; 

e) as comemorações do dia das mães e do dia dos pais a


filha passará respectivamente com o genitor
homenageado. 

Ao final, seja julgada procedente a presente ação, condenando o Requerido no


pagamento de pensão alimentícia na importância equivalente a um (01)
salário mínimo para a Requerente ou um terço (1/3) dos vencimentos
do Requerido, quando neste último caso a quantia ultrapassar o valor
de um salário mínimo, incidindo sobre o 13º salário, férias, rescisão
contratual, e outros, corrigido de acordo com os aumentos de lei, a ser pago
até o dia 10 (dez) de cada mês;

 
 

Seja o Requerido condenado ao pagamento das custas e demais despesas


processuais aplicáveis à espécie, bem como os honorários advocatícios.

                  Protesta provar o alegado por todos os meios de provas em direito


admitido, sem exceção, em especial a documental inclusa e a apresentação de
demais documentos que forem ordenados, depoimento pessoal do Requerido e
testemunhas eventualmente arroladas, reservando-se o direito de usar os
demais recursos probatórios que se fizerem necessários ao deslinde da ação. 

                  Dá-se à causa o valor de R$ 4.200,00 (quatro mil seiscentos


reais). 

                  Termos com os quais pede e espera deferimento. 

                  Cuiabá – MT, 1º de maio de 2006. 

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