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O PATOLÓGICO
O patolÓGICO
A CALOURADA 2010 p. 4 e 5
DEPOIMENTOS DA CALOURADA P. 4
Coluna Extensão
Leia texto de Frabício Costa (Bambu - XLV) so-
Confira o relato daqueles que organizaram as atividades bre sua visita às comunidades Quilombolas
da semana de Calourada do CAAL e também a opinião » leia mais, p. 2
SPASMO!
Henrique Sater (Abre Alas 45)
» leia mais, p. 5
SAIU NA MÍDIA
Leia texto sobre a Reforma da Saúde dos EUA.
» leia mais, p. 6
Coluna SAÚDE
Confira o texto “Trabalho médico e as tecnolo-
gias em saúde” que aborda a divisão do trabalho
manual e intelectual em saúde e analisa como o
desenvolvimento da tecnologia se relaciona com
a prática médica. Por Marília Felício - XLIV
» leia mais, p. 7
2 O patolÓGICO março de 2010
TRABALHOURADA por ter entrado na nossa UNICAMP e ter escolhido pude ir a todas as atividades (não fui ao Integra Saúde,
a nossa medicina, porque surgiu o sentimento de ao tour por Campinas de domingo, ao pedágio e nem
identificação com os nossos questionamentos, dá ao churrasco), mas apreciei imensamente aquelas
mais do que uma sensação de dever cumprido, traz das quais participei. Cheguei totalmente perdida,
Era uma vez a história de pessoas felizes que avidez por continuar lutando por um pensamento sem conhecer ninguém (se bem que calouro perdido
sonhavam... Sonhavam em trazer jovens para o crítico e por uma medicina diferente, porque não é pleonasmo...) e meio, bem, na verdade muito,
palco de ouro para que eles rissem, dançassem, estamos lutando sozinhos. assustada. Desde criança, ouvia histórias escabrosas
gritassem, pulassem, fizessem malabarismos e sobre agressões de veteranos a calouros, e a mídia não
o que mais quisessem, até que muitas barreiras me ajudava muito a superar o medo. Mas a atitude
vieram desses sonhos. Sarah Segalla-XLVI dos veteranos conosco foi beeem diferente do que
Primeiramente, o ouro não era suficiente para Gestão Rosa dos Ventos eu esperava: todos foram muito gentis e atenciosos
QUER ver
andavam como bichos agachados para que melhor nossos colegas de turma e nossos irmãos mais
nenhuma migalha de ouro fosse desperdiçada. velhos da família Med Unicamp.
Muito, mas muito distante mesmo de suas casas, Justamente pela integração, a parte da qual eu mais
essas duas pessoas sentiam-se solitárias. Não gostei da Semana da Calourada foi a festa do Caal, pois
havia amigos. A cidade estava vazia. Nada era tão Participar da Semana da Calourada e receber foi uma ótima maneira de integrar calouros e veteranos
importante quanto o sorriso nos rostos dos jovens o carinho de todos os funcionários, professores e, de forma descontraída. A vivência no assentamento do
do palco de ouro. Os seus familiares perguntavam: claro, de nossos veteranos foi muito gratificante. MTST não fica muito atrás, porém, já que foi uma forma
“Mas por que esse sorriso é tão importante?” Eles Desde o dia da lista estamos sendo paparicados de abrir nossos olhos à triste realidade social do país,
não sabiam responder, apenas sabiam que tinham com vídeos emocionantes, tinta, bateria, festas, quebrar preconceitos e lembrar-nos de nosso dever
que ir até o final. Talvez tivessem medo do tédio padrinhos e inúmeras atividades muito bem como profissionais: promover mudanças.
ou mesmo tinham medo de olhar para si e, para preparadas durante as férias!Com toda essa Por todo esse aprendizado e a oportunidade de conhe-
não pensarem, continuavam a trabalhar. dedicação devo primeiro agradecer a todos que cer melhor nossa família, agradeço a todos os veteranos
As duas pessoas que nunca tinham carregado participaram dos preparativos para nossa chegada, que participaram da Semana da Calourada pela aten-
ouro na vida continuavam a carregá-lo, até que ele a todos que se preocuparam em escrever desde um ção a nós proprocionada e desejo que nós, turma XLVIII,
fosse o suficiente. Qual não foi o espanto quando parabéns no Orkut até dicas de livros no manual possamos realizar algo tão divertido e construtivo para
elas descobriram que ele nunca seria suficiente. do calouro,enfim, a todos que nos acolheram nossos calouros no ano que vem.
Muitos as acusavam, afinal, “elas não sabem como novos membros da família Unicamp.
carregar ouro direito e carregar ouro agachado é Indubitavelmente, o período da Calourada Heloísa Takasu Peres - XLVIII
moleza, difícil era antigamente em que a gente foi muito marcante. Mas, como Drummond já
tinha que carregar ouro rastejando-se...” só que dizia “de tudo ficou um pouco” e elegi a Vivência
esses que as acusavam ou nunca tinham carregado
migalhas de ouro em suas vidas e não sabiam o
do CAAL como um momento inesquecível, de
muito aprendizado e reflexão, que gostaria de Aincrível!
Semana de Calourada foi
Vocês sabem que quando a gente passa
que era ficar pra lá e pra cá no sol de todo o verão registrar aqui. Fomos a uma fábrica ocupada pelos
ou não tinham consideração e eram destruidores funcionários, os quais não apenas reergueram a no vestibular além da extrema felicidade existe o
de sonhos. empresa, como criaram um centro esportivo no medo da recepção, o que é inevitável. Pelo menos
mesmo estabelecimento, oferecendo atividades para mim, esse medo se mostrou desnecessário
Aliás, era isso que os colhedores de migalhas logo no primeiro dia do tour. Foi visível o tempo
queriam: mostrar o quão difícil é pegar o ouro, a toda a comunidade. Fiquei encantada com a
iniciativa e observei que a própria sociedade pode que vocês, meus veteranos, “perderam” para
mas não impossível. Mostrar que os sonhos planejar a nossa recepção, antes mesmo de sair
são possíveis porque o ouro é maleável; pode se reconstruir independentemente da gestão
patronal e com dignidade. nomes em listas, antes mesmo de nós fazermos a
se quebrar, mas pode se reconstruir. Mostrar segunda fase do vestibular! A nossa presença era
que somos lapidados durante toda a vida e que Além desse projeto, conhecemos também querida, e isso era fácil de sentir.
podemos ajudar o outro a se lapidar. Mostrar que a ocupação do Movimento dos Trabalhadores
o ouro reluz para a direção mais adequada (qual é Sem Teto (MTST) em Sumaré. Vimos as precárias O tour foi muito divertido, muito bem pensado,
essa direção?). condições de moradia das pessoas que esperam gostei demais dos dois dias! Foi ótimo pela
receber sua casa própria em 2012: falta de oportunidade de conhecer alguns lugares da
O palco ficava pronto enquanto os jovens cidade e principalmente pela integração com
chegavam. E com muito esforço, ele se finalizou. abastecimento de água nos finais de semana,
veteranos e outros calouros. Quem foi certamente
Obviamente, alguns espaços tiveram que ser se sentiu “recebido” pela Medicina Unicamp e
reconstruídos pelos colhedores de migalhas pela cidade. É algo novo que deve ser mantido
durante as apresentações, mas o palco continuou
brilhando e emocionou muito os jovens, que nem “ de tudo ficou um pouco” nos próximos anos.
sequer sabiam dos colhedores de migalhas que O pedágio apesar de cansativo foi uma
tiveram e que um dia serão. experiência única! Pedir dinheiro na chuva,
locais de proliferação da dengue, dificuldade conversar com os veteranos quando o sinal
inicial de serem reconhecidos como moradores do estava aberto, jogar CURLING na faixa de
Thaïs Florence Duarte Nogueira - XLVII pedestres para o entretenimento dos motoristas,
bairro atendido pelo Centro de Saúde em frente à
Gestão Rosa dos Ventos ocupação. ganhar coisas inusitadas, vender essas coisas
Antes dessas visitas, tivemos um momento para inusitadas, ver os veteranos ajudarem a pedir
dinheiro quando os calouros não estavam mais
Vivendo...
ilustrar com desenhos e colagens o perfil do médico
que desejaríamos ser daqui a 10 anos. E, com agüentando, enfim, um dia longo, mas único!
chave de ouro, terminamos a vivência ouvindo as A festa do CAAL foi sinônimo de integração! Um
regras de uma sociedade utópica, onde a palavra clima ótimo, outra oportunidade para conhecer
liberdade estaria extinta dos dicionários, já que, as pessoas, salgadinhos, open bar, música e
“A partir deste instante muita, muita dança! Outro evento que deve ser
a liberdade será algo vivo e transparente como diria Cecília Meireles, em seu “Romanceiro
da Inconfidência”: “liberdade – essa palavra que repetido!
como um fogo ou um rio, o sonho humano alimenta: que não há ninguém A vivência do CAAL foi algo que me marcou,
e a sua morada será sempre que explique, ninguém que não entenda!”. O de forma intensa e positiva. O planejamento
o coração do homem.” detalhe é que esses artigos foram lidos pra gente, e a sensibilidade de vocês me deixaram
Thiago de Melo quando estávamos com os olhos vendados, sendo impressionada! Nesse dia eu senti que estou no
constantemente guiados até ficarmos parados e lugar certo, e com as pessoas certas, algo que
começarmos a ouvir : “eu vejo tudo!Você não quer nunca vou esquecer.
Não há como sentir verdadeiramente aquilo
que não se vive. Não se questiona aquilo que não se ver?Só não vê quem não quer ver!” A choppada, evento possível graças ao trabalho
vê. Viver para sentir, sentir para se indignar, indignar- Instigados com essas exclamações, cada um foi intenso da COXOXU, teve momentos muito bons
se para questionar, questionar para mudar. Viver para tirando a venda, no seu tempo, e descobrindo o também, como conhecer veteranos e ver a linda
mudar. país que se pode construir caso enxerguemos o Batucogu tocar!
A vivência foi incorporada ao calendário mundo como ele é na realidade. Todos esses eventos somados ao almoço
da calourada com objetivo de fomentar a indignação Parabéns a todos os organizadores dessa com o sexto ano, primeiro ensaio da bateria e
que sentimos ao observar tantas contradições na maravilhosa Semana da Calourada. Vocês, almoço com o CAAL fizeram da minha semana
graduação, na profissão, na nossa vida, antes mesmo certamente, conseguiram motivar seus calouros a de calourada algo muito especial, de fato
desta nova etapa começar. Mais do que isso, ela quer serem profissionais mais realistas e humanos. inesquecível.
mostrar aquilo que não nos é mostrado por 6 anos e
que é tão próximo da nossa realidade e tão presente Silvia de Oliveira Verisssimo Teixeira - XLVIII Mariana Abreu de Andrade - XLVIII
O patolÓGICO março de 2010 5
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Ativifdades que os Calouros mais gostaram: Ativifdades que os Calouros menos gostaram:
Tour por Campinas
2% Almoço com o 6º ano Apresentação CAAL
Tenda do CAAL Tour por Campinas
2% 3% Almoço com o CAAL
confirmação 3%
3%
2% Tenda do CAAL
Atividade da Liga do
Integra Saúde confirmação
Trauma 3% Almoço com o 6º ano
2% 27%
30% Apresentação
AAAAL
Ensaio da Batucogu
7%
5%
Integra Saúde
7%
Trote da Cidadania
Integrado
7%
Trote da Cidadania
Festa do CAAL Integrado
10%
20% Gincana do Integra
Saúde
Vivência do CAAL 20%
Pedágio da Atlética
30% 17%
SPASMO
Das novas idéias Espera-se da poesia que se limite ao registro
de sentimentos, espera-se do vento que se
à autocrítica por estarmos “sonhando de-
mais”. Quando insistimos em tê-las, somos
limite à brisa fresca. duramente inibidos pela mecanização e im-
“A dispersão não lhes tira a unidade, nem Esquecemos do poder de novas palavras, ou posição das idéias antigas.
a inquietude a constância.” Assim Machado ainda, do poder de velhas palavras em novos Mas de que adiantas as idéias, sem homens
de Assis descreveu o vento. Mário Quintana lugares. Mas novos lugares às vezes são ina- e mulheres para pô-las em prática? De que
aproveitou e aplicou-a aos poetas. tingíveis com brisas frescas, são inatingíveis adiantam a dispersão e a inquietude, sem a
Dispersão e inquietude são características com tanta concentração, tanta serenidade. unidade e a constância?
geralmente pejorativas. Principalmente, em Dispersos e inquietos, encontraremos as no- Exploremos a constância de nossa unidade,
dias que se espera concentração e serenida- vas palavras e os novos lugares. E novas pa- aproveitando novos ventos para conhecer e
de. Não concentração opcional, concentra- lavras em novos lugares, por mais desacos- por em práticas as novas palavras. As novas
ção apenas naquilo que é importante. Não tumados que estejamos, são NOVAS IDÉIAS. idéias.
serenidade atingida, serenidade apenas ne- Quem nos dá o direito de ter novas idéias?
cessária e involuntária. Nem nós mesmos, quando nos forçamos Henrique Sater - XLV
6 O patolÓGICO março de 2010
Saiu na
Os primeiros sinais de
mÍDIA (e mais progressista que o de Obama, diga-se de pas-
sagem), que acabou rejeitado. A tentativa de Bill Clin-
mente. Para Glenn Beck, astro da Fox News, “é o fim da
prosperidade nos EUA para sempre... o fim da América
ton, no início de seu governo, foi derrotada, a agenda como a conhecem. Obama controlará cada aspecto da
saúde
Trabalho médico e as vos aparelhos de imagem. Deve-se levar em con-
ta ainda que os novos conhecimentos podem
ser produzidos a partir de modelos tecnológicos
necessidades, o trabalho em saúde passa a ser
progressivamente organizado de forma muito
semelhante ao espaço de produção de qualquer
Patocultural
A juvetude que não foi É exatamente nesse contexto que se
passa Os Sonhadores; ao contar a história de
um norte americano (Michael Pitt) que vai
– importante acontecimento em que houve
confronto direto dos estudantes e operários
com a polícia – com um lirismo angustiante e
As manifestações no ano de 1968 atin- passar suas férias na França para estudar cine- muito belo.
giram diversos países ao longo do ano, com ma e conhece dois irmãos,
seus ideais “libertários” e anti-conservado- Isabelle (Eva Green) e Theo
res, com expressão maior na França; até hoje (Louis Garrel) numa sessão
despertam lembranças nos mais saudosistas, na cinemateca, começando
como “o ano que não terminou”. É preciso, en- um relacionamento bastante
tretanto, fazer uma análise mais concreta de intenso com os dois. Quando
toda a movimentação que aconteceu naquele a cinemateca é fechada pelo
ano, e dois filmes conseguem atingir esse ob- governo, os três decidem
jetivo de maneira bastante distinta. Analisam se juntar às manifestações,
a juventude francesa antes, durante e depois mas em nenhum momento
do maio de 68. tem clareza do que preten-
O primeiro deles é a obra-prima de dem com aquilo. A alienação
Bernardo Bertolucci, “Os Sonhadores” (The quanto ao processo que está
Dreamers), filme ítalo-franco-britânico realiza- ocorrendo na França e tama-
do em 2003. O segundo filme é a obra-prima nha e tão bem retratada, que
de Phillipe Garrel “Amantes Constantes” (Lês das duas horas de película,
amants reguliers), produção francesa, realiza- grande parte se passa dentro
da em 2005 e roteirizada pelo próprio Phillipe de um apartamento, onde
Garrel. os três realizam jogos, be-
bem vinho e ouvem mui-
ta música (e muito boa,
por sinal). A agitação é vista pela janela do Talvez, muito mais que Bertolucci,
apartamento, e a única coisa que importa Phillipe Garrel tenha feito o filme de sua ge-
é o sujeito em sua individualidade. A úni- ração; um compêndio de análise crítica sobre
ca questão que incomoda esses três jovens esse movimento tão aclamado mundialmente;
quanto às manifestações é se o confronto e isso porque, Garrel participou diretamen-
armado é válido, ou se é melhor a luta atra- te das manifestações, já que ele era uma das
vés das idéias e isso é citado em apenas um pessoas que estavam encabeçando o mundo
diálogo do filme. cinematográfico ao movimento de protestos.
Os Sonhadores se propõe a ser um fil- Felizmente, conseguiu enxergar as limitações
me de visual moderno, com fotografia es- do “maio de 1968” e sua crítica se torna muito
caldante, direção frenética e com milhares mais direta, crua e doída. Garrel conta a his-
de citações cinematográficas em cada uma tória da “juventude que não foi; da juventude
das falas do roteiro, que foi escrito por Gil- que acabou”.
bert Adair a partir de experiências vividas As análises sobre esse movimento se
por ele mesmo no mês de maio de 1968 na mostram claras no filme e a crítica ao proje-
França, mas nunca deixa de ser um filme to romântico e idealista, defendido na época
que faz uma análise crítica do momento pela maioria dos participantes desse movi-
histórico que perpassa. mento hoje, se torna concreta. Há aqueles que
Bertolucci sabe muito bem o quer con- dizem que o ano de 1968 foi o único momento
tar com sua história e sua crítica é estarre- em que a juventude se manifestou contra as
cedora: a partir do microcosmo do aparta- injustiças do mundo e que esse tempo aca-
É preciso, primeiro contextualizar a con- mento, ele mostra como estava a situação na bou. Parece-me que essa afirmação, agora, é
juntura francesa da época, para depois entrar França naquele período, onde o discurso liber- conservadora e acomodada com a situação.
na análise dos filmes. As políticas reformistas tário era tomado pelo romantismo e idealismo Afinal, os militantes de 1968, hoje são, em sua
extremamente conservadoras de Charles de de tempos diferentes, e não havia organização maioria, membros da classe dominante e da
Gaulle no setor educacional francês e no setor suficiente por parte da população revolta para classe média, que perpetuam os ideais que
industrial, fizeram com que houvesse diversas enfrentar a ordem dominante e conseguir a tanto criticavam antigamente.
greves estudantis e de operários. Isso fez com tão sonhada revolução. O filme é maravilho- Isso tem uma explicação bastante con-
que o governo reagisse de maneira extrema- so, desde as atuações, quanto à trilha sonora creta; o movimento de maio de 1968 foi um
mente autoritária, levando a conflitos diretos e principalmente às referências cinematográfi- movimento pluralista, que relevou a existência
entre os cidadãos e a policia, o que fez com cas, que prestam uma verdadeira homenagem de classes sociais distintas, para a luta contra
que setores da população que eram, até esse ao cinema. uma onda autoritária que vinha acometendo
momento, contrários às greves, se rebelassem Já o filme de Phillipe Garrel, Amantes a França naquele período; o movimento nun-
contra o governo e passassem a apoiar as mo- Constantes, mesmo abordando o mesmo pe- ca teve o caráter revolucionário; e, portanto,
vimentações. Além disso, o governo tomou ríodo histórico, foca seu roteiro na história de quando o governo retrocedeu, não havia o
outras atitudes bastante duvidosas, fechando um grupo de jovens, que se dedica ao ópio porquê de continuar lutando para muitas das
a cinemateca francesa e prendendo o criador após os confrontos com a polícia nas manifes- pessoas que tinham se juntado ao movimen-
da mesma, alegando que o espaço era um an- tações pelas ruas de Paris. Desse grupo conta- to, já que não era um movimento homogêneo,
tro subversivo, utilizado pelos partidos de es- se a história de François (o mesmo Louis Gar- com projeto político claro; se rebelavam, como
querda para fazer reuniões secretas. Isso fez rel, filho do diretor), que fuma ópio quase o dia dito, contra as repressões, que não construiu
com que o maior festival de cinema do mun- todo e enfrenta a policia nas manifestações uma proposta diferente.
do, o Festival de Cannes, não se concretizasse noturnas. Os dois filmes conseguem retratar toda
naquele ano, já que as maiores expressões do A película se propõe a ser mais retrô, essa conjuntura de maneira impressionante,
cinema (Jean Luc Godard, Phillipe Garrel, Fran- fotografada totalmente em preto e branco, cada um a sua maneira, e merecem ser vistos,
çois Trufaut, Claude Lelouch, Roman Polanski, com direção extremamente lenta e perfeccio- revistos e analisados diversas vezes, pois têm
Alain Resnais e o brasileiro Glauber Rocha) de- nista, sem trilha sonora e com mais de 3 horas muito a ensinar de uma época não que não
cidem boicotar a competição, não compare- de duração. Além disso, tecnicamente, propor- acabou; mas que nem começou.
cendo ao evento e aderindo ao movimento. ciona cenas impressionantes, como aquela em
que há a recriação da “Noite das Barricadas” Marcelo Gustavo Lopes - XLVI