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IVA VERSUS IMPOSTO DE CONSUMO

Participei na passada quinta-feira no programa VECTOR na Luanda Antena Comercial


sobre "A aberração do Imposto de Consumo e o IVA". Julgo que a palavra "aberração"
é dura de mais, mas foi para criar impacto jornalístico.

IMPOSTO S/ O VALOR ACRESCENTADO (IVA).

A sua introdução na União Europeia demorou sensivelmente 10 anos. Nós angolanos


queremos tê-lo quase de imediato! Fiz ver os prós e contras e julgo que não só para o
IVA como para todos os impostos tem de existir uma educação fiscal que não temos.
Tem de existir técnicos competentes na área contabilística e fiscal, que não temos.
Ainda não está a funcionar a Ordem dos Contabilistas e dos Peritos Contabilistas. O
IVA impõe que as facturas e documentos equivalentes sejam emitidos via informática
ou por tipografias licenciadas para o efeito. O Imposto de Consumo, refere o que deve
ter as facturas e documentos equivalentes, mas os que não são produzidos via
informática não são emitidos por tipografias licenciadas, como ainda há um grande
número de contribuintes cujas facturas ou documentos equivalentes a sua numeração é
colocada à mão e em auditorias que já realizei encontrei numeração não sequencial,
rasurada e repetida. Ora, o IVA não aceita aqueles documentos. Mas outro problema se
põe se as facturas ou documentos equivalentes não produzidos via informática como
resolve o problema o contribuinte da Matala, do Luau...Ou seja, temos de nos organizar
e criar estratégias antes de falarmos sobre várias temáticas neste caso o IVA.
Por outro lado Angola ainda é um país que importa muito que bens de investimento
quer bens transaccionáveis. Ora para o primeiro tipo de bens tudo indica que os
importadores vão ser credores de IVA de grandes montantes e como é óbvio irão pedir o
seu reembolso. Temos de ver o que está a acontecer na União Europeia com os pedidos
de reembolsos dos contribuintes. ou seja, muito para além do que está regulamentado
nos códigos do IVA.

O IVA, imposto indirecto, tem servido de almofada para os governos resolverem os


seus deficits orçamentais, daí a carga fiscal da União Europeia ser 2/3 superior à dos
EUA e do Japão.
Moçambique já tem o IVA a funcionar. Mas não se limitou a fazer um copy/paste da
legislação portuguesa. Adaptou e bem o IVA à sua realidade.

Nós devemos pegar no Imposto de Consumo estudá-lo bem e adaptá-lo para o IVA.

Magro, Dou-te toda a razão. O IVA é um imposto com princípios de gestão bastante
fáceis de entender. A sua aplicação real é que já não tem nada de fácil. Por isso, e em
minha opinião, vais bem quando pensas que há que criar o substrato fiscal, que vai do
quadro legislativo pensado para o território fiscal concreto, à máquina administrativa
fiscal que o vai gerir, quer no que toca a formação específica na perspectiva da gestão
estadual do imposto, quer na dos particulares que o vão aplicar no seu dia a dia, quer na
cultura geral dos que o vão suportar em último degrau, os consumidores que, afinal,
serão tendencialmente todos.

March 3, 2011 1:13 PM


Tenho dito por diversas vezes em reuniões que um dos nossos principais problemas é
pensarmos como se fossemos europeus ou americanos. Não somos africanos
independentemente de sermos brancos, mestiços ou negros.Muita gente fica aborrecida com
este meu reparo. Vejamos:

1. Temos uma cultura e tradições que são intrínsecas única e exclusivamente ao africano em
geral e em particular ao angolano. Como exemplo temos: o óbito em que a vizinha que cede o
espaço para os comes e bebes é considerada como família; o alabamento; o respeito pela
matriaca (mama); a poligamia pratica no norte de Angola (exemplo Sanza Pombo) - não
confundir ter cinco ou seis namoradas, porque a poligamia tem regras sociais...

2. Temos ainda as autoridades tradicionais - os sobas.

Ora tudo o que foi dito tem reflexos na vida dos angolanos nomeadamente nos que vivem fora
dos grandes centros. Muitos tem sido aculturados, o que é um verdadeiro erro.

Esse erro, ou seja, imporem-nos culturas que não são nossas reflecte-se no meu entender no
atraso que África em geral tem tido. Os que estudamos (meu caso) na Europa ou noutros
continentes não podem não devem impor conceitos e regras que colidem com a nossa cultura
e tradições. Temos sim, de adaptar o que aprendemos ao nosso povo. Como exemplo, não se
pode pegar em legislações estrangeiras e fazer um "copy" "paste" para o nosso ordenamento
jurídico. É necessário estudá-los e adaptá-los à nossa realidade. Têm de ser acima de tudo
simples e práticos tendo presente o analfabetismo e literacia que grassa no nosso continente.

Não podemos pensar nós que estudamos noutros continentes que somos os donos da verdade
os sábios cá do sítio. Temos de saber ouvir as autoridades tradicionais, os mais "velhos" que
em África têm muito saber.

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