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Tendo em mente estes três aspectos, podemos caracterizar as espécies tributárias veiculadas

na CF/88 em:

1) Impostos: são tributos cujo antecedente na norma tributária não corresponde a uma
atividade específica do poder estatal, ou, dito de outra forma, a hipótese de incidência dos
impostos corresponde a um fato alheio a atuação estatal, um fato qualquer do mundo
fenomênico; fato qualquer que se preste a captar a capacidade contributiva do contribuinte;
além disso, para que o tributo seja caracterizado com imposto, o produto de sua arrecadação
não deve ter destinação específica, por expressa vedação constitucional;

2) Taxas: são tributos cujo aspecto material (antecedente da norma tributária) é uma atuação
estatal diretamente referida ao contribuinte, consistente no exercício do poder de polícia ou na
prestação de serviço público (específico e divisível) utilizado ou colocado à disposição do
contribuinte; também a destinação é fator relevante para caracterizar o tributo: o produto de sua
arrecadação deve custear a atividade estatal referida ao contribuinte;

3) Contribuições de melhoria: são tributos, assim como as taxas, cuja hipótese de incidência
refere-se a uma atuação estatal, neste caso indiretamente referida ao contribuinte, pois sua
instituição depende de fato intermediário (valorização de imóvel decorrente de obra pública);
não há, entretanto, qualquer previsão constitucional para o destino do produto arrecadado;

4) Empréstimos compulsórios: são tributos, criados por lei complementar, cuja instituição não
depende de qualquer atividade estatal específica referida ao contribuinte; a destinação do
produto da arrecadação está diretamente vinculada à despesa que autorizou sua instituição; e,
também, por expresso comando constitucional, deverá ser restituível aos contribuintes;

5) Contribuições: são tributos que também não dependem de qualquer prévia atividade estatal
para serem instituídos, cujo produto da arrecadação está vinculado a uma destinação
específica, quer seja para custear a seguridade social, quer seja para intervir no domínio
econômico, quer seja de interesse das categorias econômicas e profissionais; não há previsão
constitucional de restituição do tributo.

2. A classificação dos tributos em diretos e indiretos é jurídica? Dê sua definição do


termo “jurídico”. Justificar.

Não é jurídica. O interesse em classificar tributos em diretos e indiretos, reais e pessoais etc.
justifica-se nas análises das ciências econômica e financeira. Juridicamente, é irrelevante que
um tributo seja direto (o próprio contribuinte arca com o ônus financeiro) ou indireto (o ônus é
repassado a terceira pessoa).
Jurídico diz respeito ao mundo do dever-ser, do direito posto. As normas jurídicas, erigidas com
fundamento de validade (pessoa competente e procedimento previsto), determinam o
regramento intersubjetivo dos comportamentos. Jurídico traz em seu bojo o regime de Direito a
que as relações intersubjetivas estão submetidas. Uma classificação jurídica, por exemplo, leva
em conta a natureza das relações que se estabelecem entre os sujeitos de Direito. Jurídico é
vínculo legal, de Direito, de relação jurídica, de dever-ser.

3. A destinação do produto da arrecadação tributária é relevante para a classificação


jurídica dos tributos e conseqüente definição das espécies tributárias? Considerar na
análise da pergunta o art. 167, inciso IV, da CF/88 e o art. 4º do CTN.

Como visto na primeira pergunta, um dos critérios a ser utilizado conjuntamente com os demais
para se classificar juridicamente um tributo é a destinação do produto da arrecadação.
Se analisarmos apenas o o art. 4º do CTN, veremos que o destino do produto da arrecadação
é irrelevante para a determinação do regime jurídico das espécies tributárias elencadas por
aquele Código (impostos, taxas e contribuições de melhoria).
No entanto, a classificação jurídica dos tributos deve partir da análise das normas
constitucionais, que validam as demais.
No caso das contribuições, por exemplo, por expressa prescrição constitucional, a natureza
tributária desses tributos deve levar em conta a finalidade para a qual foram instituídos
(intervenção no domínio econômico, interesse de categorias econômicas ou profissionais e
seguridade social).
Em relação aos impostos, o art. 167, inciso IV, da CF/88, veda, exceto nas hipóteses que cita,
a vinculação dos impostos a qualquer destinação. No entanto, em relação às demais espécies
tributárias, não há qualquer vedação à destinação do produto da arrecadação. Ao contrário, em
algumas espécies de tributos há expressa determinação constitucional para o uso do produto
de sua arrecadação.

4. As contribuições sociais têm natureza tributária? Em caso afirmativo, a que espécie


do gênero tributo pertenceriam? A contribuição provisória sobre a movimentação
financeira (CPMF) e a contribuição previdenciária paga pelo trabalhador ao INSS
enquadram-se em qual espécie tributária?

As contribuições sociais são tributos qualificados pela finalidade que devem alcançar, e têm
natureza tributária própria, configurando-se como uma das espécies tributárias previstas na
Constituição. Consideramos, na nossa classificação, os três critérios descritos na questão 1.
Pela CF/88, a natureza tributária das contribuições sociais está indissoluvelmente associada a
uma finalidade específica (seguridade social).
A CPMF tinha natureza jurídica de contribuição social, uma vez que sua instituição não
dependia de qualquer atividade específica do Estado (o antecedente normativo era a
movimentação financeira, portanto atividade desvinculada de qualquer atuação estatal), e a
destinação do produto de sua arrecadação era custear o serviço público de saúde (portanto,
finalidade vinculada à seguridade social).
Analisando a hipótese de incidência da contribuição previdenciária paga pelo trabalhador,
verificamos que trata-se de fato desvinculado de qualquer atuação estatal, ou seja, receber
salário. Os recursos assim obtidos têm a finalidade de custear a previdência (vínculo, portanto,
com a seguridade social). Trata-se de tributo pago pelo trabalhador em consequência da
contraprestação estatal de oferecer os serviços previdenciários (auxílio-doença, auxílio-
maternidade, aposentadoria etc.). Portanto, pela nossa classificação, estamos diante de uma
contribuição social.

5. Pode o legislador, ao instituir imposto de sua competência, determinar que este será
restituído dentro de determinado prazo ou há alguma vedação constitucional acerca da
restituibilidade dessa espécie tributária?

Não há vedação constitucional para que os entes tributantes, no exercício de sua competência
tributária, institua imposto que poderá ser restituído decorrido determinado período.
Há previsão constitucional para que a União institua empréstimos compulsórios, por intermédio
de lei complementar, restituível e desde que atenda a pelo menos um dos pressupostos
constitucionais autorizadores de sua instituição, a saber:
- para atender a despesas extraordinárias, decorrentes de calamidade pública, de guerra
externa ou sua iminência;
- no caso de investimento público de caráter urgente e de relevante interesse nacional.
Para as demais espécies não há previsão de restituição. Há tributos em que há expressa
previsão de destinação do produto de sua arrecadação. As taxas, cujo produto destina-se a
custear o serviço público prestado ou poder de polícia exercido. As contribuições estão
vinculadas ou à intervenção no domínio econômico, ou ao interesse das categorias
profissionais e econômicas ou à seguridade social. Naturalmente, que restituir tais tributos
(taxas e contribuições) seria desqualificá-los constitucionalmente, pois não estariam sendo
cumpridas as finalidades para as quais foram instituídos.
No entanto, em relação aos impostos, espécie de tributo não vinculado a qualquer atividade
estatal referida ao contribuinte, e cujo produto de arrecadação não tem destinação específica,
não há vedação a que o ente tributante possa restituí-lo quando do exercício de sua
competência ordinária infraconstitucional.
A restituição de imposto é matéria de ordem infraconstitucional do legislador ordinário, não
influindo na natureza jurídica da exação instituída.

6. Quais os requisitos e limites à cobrança da contribuição de melhoria? Pode-se


instituir lei geral e abstrata para sua cobrança ou deve ser produzida uma lei para cada
obra em concreto? A lei que institui a contribuição de melhoria há de ser produzida
antes do início da obra ou pode ser feira posteriormente à conclusão da obra e da
valorização dos imóveis beneficiados? Esta última hipótese feriria o princípio da
irretroatividade?

Contribuição de melhoria pode ser instituída pelo ente tributante se o mesmo realizar obra
pública da qual decorra valorização imobiliária dos imóveis contíguos à obra.
Portanto, há dois requisitos básicos para a instituição da contribuição de melhoria: realização
de obra pública e valorização imobiliária decorrente da obra pública.
O limite individual para a cobrança é o quantum de valorização que o imóvel do contribuinte
experimentou com a construção da obra pública.
A contribuição de melhoria deve ser instituída para cada obra em concreto. Está vinculada à
obra pública e à valorização imobiliária decorrente. Na sequência lógica dos atos
administrativos, primeiramente há que se ter uma norma que autorize a construção da obra
pública. Após a obra pública realizada, e de acordo com a valorização imobiliária
experimentada pelos imóveis contíguos à obra, o ente político que realizou a obra poderá editar
uma lei instituindo contribuição de melhoria tendo como hipótese de incidência a valorização
imobiliária decorrente da construção da referida obra pública.
Não fere o princípio da irretroatividade porque, antes da instituição da contribuição de melhoria,
há que se avaliar se houve ou não valorização imobiliária. E isso somente pode ser feito após a
concretização da obra pública. Somente neste momento é que estarão preenchidos os
requisitos para instituição da contribuição de melhoria. A instituição de contribuição de melhoria
antes de apurado se houve valorização imobiliária estaria pressupondo uma valorização em
potencial do imóvel. Nenhum tributo pode ser instituído tendo como hipótese de incidência
uma suposição.

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