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RESUMO
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1. INTRODUÇÃO
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A firma, em tempos, tem sido objeto de estudo de diversos autores. Dentre eles, Alfred
Chandler – renomado estudioso da trajetória empresarial das firmas norte-americanas. Em seu
estudo: Os primórdios da “grande empresa” na indústria norte-americana (1959), Chandler
descreve que tipos de mudanças organizacionais ocorrem nesta indústria, bem como nos
métodos de vendas, compras e beneficiamento. Ao mesmo tempo, investiga porque estas
mudanças se deram em tal momento e de tal maneira e, qual a relação do crescimento do
mercado interno neste processo. Por fim, verifica qual a influência da expansão da rede
ferroviária ou o advento da eletricidade e do motor de explosão com as inovações e mudanças
ocorridas à época. Para tanto, o autor usa como objeto de análise as 50 maiores empresas
industriais do país em 1909, em patrimônio.
Para Chandler (1998), entre as mudanças importantes ocorridas na indústria norte-
americana (INA) no final do século XIX apresenta-se a migração do formato de firmas
pequenas – que faziam suas operações de aquisição e venda de produto acabado de forma
direta nos mercados locais e através de agentes comissionados em mercados não muito
distantes da fábrica – para grandes companhias industriais. Estas, por sua vez, não dependiam
mais de agentes para comprar e vender, pois se utilizavam de estrutura própria com atuação
nacional. Todavia, o autor destaca a importância da rede ferroviária no desenvolvimento do
mercado nacional, bem como na urbanização do mesmo.
Com isso, Chandler (1998, p.39) assevera: “a economia empresarial tornara-se
industrializada. As principais indústrias eram dominadas por umas poucas firmas que se
haviam tornado grandes empresas verticalmente integradas e centralizadas.”
Em se tratando das indústrias de bens de consumo, cabe ressaltar que este processo de
verticalização se deu em duas formas diferentes. Os determinantes desta diferença
relacionam-se com o produto. Ou seja, quando se tratava de algo novo no gênero e
direcionado ao mercado urbano, os fabricantes criavam suas empresas iniciando pela estrutura
de vendas e, somente depois, de compras. Entretanto, quando se tratava de produtos básicos
tradicionais, o processo era o inverso. (CHANDLER, 1998)
Já no caso das indústrias de bens de produção, este processo – centralização e
concentração – se deu tardiamente. Atribui-se o fato de a cidade ter demorado um pouco mais
a tornar-se um mercado importante para os bens de produção. Ao mesmo tempo, esta
indústria foi beneficiada pelas associações e consolidações nas indústrias de bens de consumo
que aumentaram a demanda de bens de produção nas áreas urbanas. (Ibid)
Como a integração dos processos industriais, a saber, compras e produção de matérias
primas e componentes, a manufatura, a comercialização e as finanças – na mesma estrutura
organizacional –, a partir daí, criam-se departamentos para administrar cada um desses
processos e, ao mesmo tempo, uma coordenação geral através do escritório central. Cabe
destacar a importância atribuída, em especial, ao departamento de vendas. Na medida em que
se criam organizações de distribuição e vendas em âmbito nacional, tem-se como o primeiro
passo na evolução e expansão das grandes empresas produtoras de bens de consumo. (Ibid)
Este novo formato das organizações industriais – verticalizada, integrada e
departamentalizada – modificou o processo de tomada de decisão. Uma vez que, com isso,
apresenta-se uma hierarquia maior na empresa, as decisões percorrem um caminho maior –
tanto para serem definidas; quanto para serem implementadas. (Ibid)
Outra consequência deste processo refere-se à especialização dos executivos de cada
departamento, pois os mesmos executavam a mesma função por muito tempo. Desta forma,
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dificilmente tinham uma visão integrada da empresa, a menos que chegassem ao topo da
hierarquia departamental.
Quanto ao mercado, o processo de integração vertical promovida por uma empresa
obrigava as demais a seguirem o mesmo exemplo. Isso acarretou no domínio de mercado por
poucas empresas de grande porte com atuação nacional, ficando as pequenas com as
atividades locais e/ou mais especializadas. (Ibid)
Neste formato, o que passa a determinar os preços não é mais a concorrência entre as
empresas, mas sim, os custos. Pois na medida em que se torna possível o seu controle, as
empresas puderam determinar com precisão os preços com base no retorno esperado do
investimento. Desta forma, liderança de preços, preços de referência, entre outros indícios de
concorrência oligopolista tornaram-se comuns em muitas INA´s. (Ibid)
Em se tratando de inovação, Chandler (1998) atribui à criação da grande empresa na
INA como a maior inovação na economia daquele país entre a década de 1880 e a virada do
século. Além disso, atribui a esta inovação uma resposta ao crescimento do mercado nacional
cada vez mais urbano.
Posteriormente, em sua obra: Desenvolvimento, diversificação e descentralização
(1959), Chandler atribui à eletricidade, o motor de explosão e a sistematização e
institucionalização das atividades de pesquisa e desenvolvimento – no século XX – como
substitutos do mercado urbano nacional no fator dinâmico da economia industrial norte-
americana. Neste estudo, Chandler procurou verificar a natureza da relação entre
descentralização, diversificação e pesquisa e desenvolvimento. Para tanto, o autor usa como
objeto de análise as 50 maiores empresas industriais do país em 1948, em patrimônio. Sendo
que as mesmas foram classificadas em três grandes grupos: indústrias metalúrgicas e de
beneficiamento de produtos agrícolas, indústrias de montagem e indústrias de transformação.
Sobre a indústria metalúrgica e de beneficiamento de produtos agrícolas, Chandler
(1998a) destaca que mesmo produzindo uma única linha de produtos, através dos subprodutos
gerados pela mesma, estas empresas estavam diversificando de forma inconsciente. Como
exemplo, as empresas frigoríficas fabricavam cola e fertilizantes e usavam sua equipe de
vendas para distribuir aves e ovos. Conforme afirma o autor, “para essas empresas, a
diversificação de produtos não era uma estratégia consciente”. (CHANDLER, 1998a, p.73).
Trata-se de um ramo que sofreu poucas pressões à mudança. Uma vez que seus
mercados básicos, as fontes de matéria prima, bem como a tecnologia de sua manufatura
permaneceram praticamente inalterados desde 1900 até a II Guerra Mundial.
(CHANDLER,1998a)
Já as indústrias de montagem e transformação sofreram de forma impactante as
inovações tecnológicas. Com destaque para os setores de energia elétrica, indústria
automobilística e de implementos e máquinas motrizes. Segundo Chandler (1998a, p.75),
“essas novas empresas em expansão e os produtos por elas fabricados provavelmente
representam o maior incentivo à mudança industrial – mudança no sentido de
desenvolvimento de novos produtos e processos de novas formas de estrutura e estratégia
empresariais.”
Neste setor, a experiência de duas grandes indústrias de equipamentos elétricos –
General Eletric e Westinghouse – são a clara evidência das constatações de Chandler quanto à
relação de estrutura com a estratégia da empresa. Ou seja, a mudança de estratégia de
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mercado reflete na estrutura de produção. Conforme Chandler (1998a, p.78), “quando, após a
I Guerra Mundial, as duas empresas começaram a ingressar em outros ramos além da
fabricação de máquinas motrizes, a antiga estrutura revelou-se incapaz de atender às novas
necessidades, de modo que foram surgindo unidades mais autônomas [...]”.
Esses casos, acima citados, demonstram o processo de migração de uma estrutura
centralizada e funcionalmente departamentalizada; para uma estrutura descentralizada,
constituída por unidades operacionais autônomas e com uma sede coordenadora com
executivos gerais e assessorias especializadas. E esta descentralização administrativa é uma
resposta à diversificação de produtos. (CHANDLER, 1998a)
3. METODOLOGIA
Segundo George e Joll (1983) em relação ao crescimento das empresas, bem como ao
método utilizado para tanto, pode-se considerar a expansão em linhas de produtos já
existentes – diferenciação –, ou em setor ainda não explorado pela empresa – diversificação.
Neste sentido, Guimarães (1982) distingue estas duas formas de modificações da linha
de produtos de uma firma. Para este autor, diferenciação trata-se da introdução de um novo
produto em sua linha de produção que é substituto de algum já existente, portanto será
comercializado no mercado em que a empresa já atua. Reforça ainda, pode-se tratar de um
produto novo na empresa, mas não necessariamente novo no mercado, na medida em que
pode estar sendo produzido por um de seus competidores. Aqui, o autor refere-se a mudanças
de especificação ou qualidade, por exemplo. Já a diversificação, trata-se da introdução de um
novo produto em sua linha de produção que será comercializado em uma indústria na qual a
empresa ainda não atua. Desta forma, Guimarães discorre:
O ponto a ser enfatizado em relação à diferenciação de produto é que ele abre a
possibilidade de uma nova forma de competição no interior da indústria,
correspondendo a um esforço das firmas para aumentar suas taxas de crescimento,
através da mais rápida expansão do mercado ou do incremento ou defesa de suas
participações nesse mercado. Também a diversificação das atividades da firma, tem
como objetivo básico superar o limite imposto ao seu crescimento pelo ritmo de
expansão de seu mercado corrente. (GUIMARÃES, 1982, p.37)
Em relação aos motivos que levam a diversificação, apoiado em Staudt (1954), Anssof
(1977, p.109), resume, segundo ele, em algumas razões básicas.
1. As empresas se diversificam quando seus objetivos não podem mais ser atingidos dentro
do conjunto de produtos e mercados definidos pela expansão.
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2. Mesmo que ainda haja oportunidades atraentes de expansão e os objetivos passados
estejam sendo alcançados, uma empresa poderá diversificar-se porque os fundos retidos
superam o volume exigido para fins de expansão. A taxa de retorno de ativos líquidos
(depósitos a prazo fixo, títulos de renda fixa etc.) geralmente é inferior à das operações. A
empresa pode ver-se pressionada a investir seus recursos em busca de maior
rentabilidade. Dizemos “pode” porque muitas administrações conservadoras preferem
não diversificar a empresa em tais circunstâncias. Isto é demonstrado pelo grande número
de empresas que atualmente se encontram em situação de liquidez. (SILBERMAN, 1963,
apud ANSOFF).
3. Mesmo que os objetivos correntes estejam sendo alcançados, uma empresa poderá
diversificar-se quando as oportunidades de diversificação prometem rentabilidade
superior à das oportunidades de expansão. Isto pode acontecer em diversos casos:
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caso de queda substancial da demanda de seus produtos, a uma queda diretamente
proporcional em seus lucros, a ponto de quebrar. Neste sentido, a diversificação poderá
ser uma alternativa para, se não evitar, minimizar o impacto gerado por uma baixa no
consumo. Entretanto, deve-se considerar, se todas as empresas se utilizassem desta
estratégia – diversificação –, correr-se-ia o risco de todas acabarem na mesma situação,
uma vez que as atividades secundárias de uma firma serão, obviamente, a principal
atividade da outra. (GEORGE E JOLL, 1983)
2. Crescimento: para às firmas que tem dificuldade em crescer de forma mais rápida que a
indústria que ela opera, mesmo que tenha aporte financeiro para tanto, a diversificação e
uma boa alternativa. Este determinante está intimamente ligado ao processo de expansão
da firma, uma vez o crescimento e um maior tamanho aumentam a segurança da mesma.
Há que se considerar outro fator que, normalmente, esta atrelado ao tamanho da firma.
Trata-se do departamento pesquisa e desenvolvimento que tem papel importante na
renovação dos produtos, evitando a obsolescência devido às mudanças técnicas.
(GEORGE E JOLL, 1983)
3. Poder de mercado: os autores chamam a atenção para o papel desempenhado pela
legislação sobre monopólios e fusões na promoção da diversificação. ”O temor das
consequências da legislação contra o monopólio pode, por exemplo, induzir uma firma a
diversificar-se, mesmo que seja mais rentável ampliar a sua participação no mercado nas
linhas já existentes” (GEORGE E JOLL, 1983, p.78)
Para Besanko (2004), as empresas podem optar por diversificar por uma de duas
razões. Primeiro, a diversificação pode beneficiar os proprietários da empresa aumentando sua
eficiência. Segundo, se os mesmos não estão envolvidos, ela pode refletir as preferências dos
gerentes da empresa. Em relação aos argumentos que justificam a diversificação, o autor
destaca a economia de escopo e redução nos custos de transação.
5. EVIDÊNCIAS EMPÍRICAS – CASOS BRASILEIROS
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Outro ponto que merece destaque, trata-se do processo de profissionalização da gestão
na empresa. Assim como no estudos de Chandler (1998a), as mudanças significativas na
empresa ocorreram após a substituição da gestão familiar pela gestão profissionalizada, ou
seja, executivos graduados com ampla experiência de mercado.
Após quatro anos de gestão profissionalizada, foi tomada uma decisão estratégica,
que mudou os rumos da empresa, passando de uma agroindústria para uma
produtora de alimentos congelados e industrializados de carnes, pratos prontos e
massas. Em apenas dois anos de atuação neste setor, os pratos prontos e massas,
passaram a mais de um terço do market-share da Perdigão no mercado nacional. A
inovação e o lançamento de novos produtos é indispensável para manter esta
performance. Em 2003, foram lançados 31 novos produtos, 18 com a marca
Perdigão e 13 com a marca Batavo (Perdigão. Relatório Anual, 2003, p. 3).
(COSTA, 2005, p.17)
Por fim, neste caso, cabe destacar que acompanhado o seu processo de expansão a
empresa instalou unidades industriais em outras regiões para diminuir as distâncias, rede de
filiais comerciais próprias, bem como organizações de venda exclusivas. Com isso, a Perdigão
possibilitou a chegada de seus produtos em todo o território nacional. (COSTA, 2005)
Saes (2007) realizou um estudo da relação entre produtores rurais de cafés especiais e
a indústria processadora. Segundo a autora, esta relação mostra-se bastante ilustrativa em
termos de estratégia de diferenciação.
Neste sentido, um dos seus objetos de estudo foi à fazenda Jacarandá situada em
Machado, no sul de Minas Gerais. Segundo a autora, esta foi uma das pioneiras na
comercialização de café orgânico no Brasil. Prosseguindo, Saes (2007, p.168) comenta: “há
mais de dez anos o Senhor Carlos Franco decidiu transformar os cafezais em lavouras
orgânicas por questões ideológicas”. Saes (2007, p.168), “Citando Nicolau (2004) “A
preocupação dele era com a natureza, com os trabalhadores, com o uso de agrotóxicos e não
com as vendas”, comenta seu neto Cássio Franco.”
Diante disso, é licito fazer uma analogia à referência de Chandler (1998a) à indústria
metalúrgica e de beneficiamento de produtos agrícolas. Conforme já mencionado, o autor
informa que através dos subprodutos gerados pela mesma, estas empresas estavam
diversificando de forma inconsciente. Assim, se pode afirmar que o caso aqui tratado – café
orgânico – enquadra-se no mesmo raciocínio, mas com foco na diferenciação e não na
diversificação.
Apropriando-se, de forma inconsciente ou não, da estratégia de diferenciação, este
produtor conseguiu estabelecer contrato de fornecimento com um torrefador japonês. Desta
forma, segundo Saes (2007), conseguiu negociar em condições muito favoráveis e
praticamente inéditas no Brasil.
Por fim, neste caso, observa-se que o produtor, além de conseguir estabelecer um
contrato formal com a torrefadora, consegue através de seu produto diferenciado – que
valoriza as questões ambientais – atingir o consumidor de países desenvolvidos que valorizam
estes produtos. Ao mesmo tempo, com isso, afasta-se das questões mercadológicas inerentes
aos produtos sem esta diferenciação, ou seja, commodity, que tem como características baixa
barreiras à entrada e forte concorrência de preço. (SAES, 2007)
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
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Ao longo do tempo às firmas vem se modificando. Tanto no que se refere à estrutura
de produção; quanto à estrutura de processos e pessoas. Tal modificações tornaram-se viáveis
em função das constantes inovações tecnológicas, dos investimentos e evolução das
pesquisas, bem como do processo de profissionalização da gestão nas empresas.
Juntamente com estas evoluções, vêm todas as situações inerentes ao mercado cada
vez mais competitivo, ou seja, mais players disputando o mesmo mercado, consumidores e
clientes mais exigentes, busca incessante por redução de custos e otimização de processos,
entre outros.
Assim, a crescente competitividade no mercado, em diferentes indústrias, apresenta
um desafio às empresas. Desta forma, os executivos se deparam com alguns questionamentos:
Qual a estratégia devo adotar, crescer horizontalmente ou verticalmente?; Como atingir as
metas propostas em longo prazo diante de tamanha incerteza?
Em busca dessas respostas, neste estudo, apresenta-se a diferenciação e diversificação
como alternativa às empresas. Cabe salientar que estas alternativas não são únicas e também
não respondem apenas a estas perguntas. Pelo contrário, são tomadas como estratégias por
organizações que buscam um crescimento acima do mercado que atuam, que tem em sua
operação uma taxa de retorno mais rentável que os ativos líquidos, quando à área de P&D
oferece importantes subprodutos de diversificação, entre outros.
Por fim, cabe salientar que não se trata de uma decisão simples. Faz-se necessário uma
avaliação criteriosa de qual seria a melhor estratégia – entre diferenciar ou diversificar. Ao
passo que normalmente as empresas possuem mais informações sobre as possibilidades de
expansão do que as possibilidades de diversificação (ANSSOF, 1977).
7. REFERÊNCIAS
BESANKO, David et al. A economia da estratégia. 3ed. Porto Alegre: Bookman, 2006.
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GIL, Antônio C. Como elaborar projetos de pesquisa/Antônio Carlos Gil. – 3. ed. – São
Paulo: Atlas, 1991.
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