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MACAÉ, 13 de abril de 2011.

DIREITO DAS OBRIGAÇÕES


JURISPRUDÊNCIA CORRELATA

CASO 1:

ENTENDIMENTO DOUTRINÁRIO NECESSÁRIO:

O que é adiantamento da legítima?


É a doação de pais a filhos, ou de um cônjuge a outro, que importa a antecipação da
legítima, ou seja, daquilo que por morte do doador o donatário iria receber. É, portanto,
uma entrega adiantada, por conta da herança, da legítima do herdeiro necessário, feita
mediante doação de ascendente a descendente. Essa doação deverá ser, por isso,
conferida no inventário do doador, por meio da colação, mas este poderá dispensar tal
verificação, determinando, em tal hipótese, que saiam os bens doados de sua metade
disponível, desde que não a excedam. Se nada prescrever, impor-se-á a colação.

O que é dação em pagamento?


É o acordo liberatório feito entre credor e devedor em que aquele consente na entrega de
uma coisa diversa da avençada. Por exemplo, se “Zequinha” deve a “Adauto” uma
quantia em dinheiro e propõe saldar seu débito mediante a entrega de um terreno, sendo
aceita sua proposta pelo credor, configurada estará a dação em pagamento, extinguindo-
se a relação obrigacional, por ter a mesma índole do pagamento, sendo porém, indireto.
A dação consiste no solvere aliud pro alio, ou seja, no prestar coisa diversa da devida.

JURISPRUDÊNCIA CASO 1:

Processo REsp 629117 / DF


RECURSO ESPECIAL
2004/0018949-5 Relator(a) Ministro HONILDO AMARAL DE MELLO CASTRO (DESEMBARGADOR CONVOCADO
DO TJ/AP) (8185) Órgão Julgador T4 - QUARTA TURMA Data do Julgamento 10/11/2009 Data da Publicação/Fonte DJe
23/11/2009 LEXSTJ vol. 245 p. 87RB vol. 554 p. 26RBDFS vol. 13 p. 125

DIREITO CIVIL. DIREITO DAS OBRIGAÇÕES, DE FAMÍLIA E DE


SUCESSÕES. DAÇÃO EM PAGAMENTO. COTA DE IMÓVEL. DÉBITO
ALIMENTAR. RECONHECIMENTO DE ADIANTAMENTO DE LEGÍTIMA.
PRETENDIDA ANULAÇÃO. IMPROCEDÊNCIA.
1. A transferência de cota de bem imóvel do alimentante para os alimentandos, com
vistas a saldar débito alimentar e evitar prisão civil, não pode ser encarada como
adiantamento da legítima, e sim, como dação em pagamento, não havendo, portanto,
preterição de outros filhos.
2. Recurso especial provido.

Acórdão
Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas, acordam os
Senhores Ministros da Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade,
conhecer do recurso especial e dar-lhe provimento, nos termos do voto do Sr. Ministro
Relator. Os Srs. Ministros Fernando Gonçalves, Aldir Passarinho Junior, João Otávio de
Noronha e Luis Felipe Salomão votaram com o Sr. Ministro Relator.

Outras Informações
     Não é cabível a anulação da transferência de parte de bem imóvel do pai a filhos do
primeiro casamento sob a alegação de adiantamento de legítima e preterição de filha do
segundo casamento, na hipótese de tal transferência ter sido feita para quitar obrigação
alimentícia, porque, não houve liberalidade do pai, e sim um ato de boa-fé,
correspondente a uma dação em pagamento.

CASO 2:

ENTENDIMENTO DOUTRINÁRIO NECESSÁRIO:

A boa-fé e a má-fé nas obrigações


A boa-fé objetiva afigura-se como um dever ético-jurídico de observância
obrigatória pelos indivíduos em todas as fases contratuais. Assim, ao longo das diversas
etapas do contrato, as partes devem adotar condutas pautadas pela probidade, lealdade e
cooperação.
Assim, a boa-fé objetiva é na obrigação o que permeia a conduta das partes a
exercer influência na maneira em que exercitam os seus direitos e no modo como
interagem entre si. Portanto, a relação obrigacional deve se desenvolver de modo a
permitir que se preservem os direitos dos contratantes na consecução dos fins
avençados, sem que o agir das partes infrinja os preceitos éticos prescritos no
ordenamento jurídico.
Na doutrina, o brocardo venire contra factum proprium nulli conceditur quer
dizer que não é lícito a ninguém se fazer valer um direito se for contrário a sua conduta
anterior. Sendo assim o participante da relação contratual tem o dever de não agir contra
o ato próprio, porque a ninguém é dado o direito de valer-se de um ato, e, após não
considerá-lo mais vantajoso ou conveniente para si, praticar outro ato contrário a sua
posição anterior.

JURISPRUDÊNCIA CASO 2:

TJ/RJ: 0006333-80.2011.8.19.0000 - AGRAVO DE INSTRUMENTO


DES. BERNARDO MOREIRA GARCEZ NETO - Julgamento: 16/02/2011 -
DECIMA CAMARA CIVEL

Família. Execução de alimentos. Questões impugnadas pelo executado. Temas


decididos que foram objeto de agravos retidos. Manifesta inadmissibilidade dessa
modalidade recursal em processo que não se julga mérito. Impossibilidade de reavivar
tais impugnações em agravo de instrumento. Violações cumulativas à
unirrecorribilidade e à preclusão consumativa. Excesso de penhora. Executado que
indica imóvel à penhora e, posteriormente, alega excesso, sob o fundamento de o bem
ser o mais valioso. Evidente comportamento contraditório. Violação à boa-fé objetiva,
que também é aplicável ao processo civil. Impossibilidade de a parte, após praticar ato
em determinado sentido, adotar comportamento contraditório posterior. Precedentes do
STJ. Multa aplicada no julgamento dos embargos declaratórios. Imperativo que o
recurso contra tal punição contenha os fundamentos fáticos e jurídicos do
comportamento. Manifesta inadmissibilidade do agravo. Seguimento negado ao recurso.

OUTRAS INFORMAÇÕES:

O STJ, em sede de Recurso Especial (3ª Turma, REsp 1003628, Rel. Nancy
Andrighi) prestigiou a teoria da vedação do comportamento contraditório ao decidir que
o indivíduo que tenha reconhecido voluntariamente a paternidade de uma criança, com a
qual sabia não possuir qualquer vínculo biológico, não detém o direito subjetivo de
ajuizar uma ação negatória de paternidade, exceto se houver hipóteses em que se tenha
caracterizado vício de consentimento, como erro ou coação. In verbis:

“O reconhecimento espontâneo da paternidade somente pode


ser desfeito quando demonstrado vício de consentimento, isto é,
para que haja possibilidade de anulação do registro de
nascimento de menor cuja paternidade foi reconhecida, é
necessária prova robusta no sentido de que o “pai registral” foi
de fato, por exemplo, induzido a erro, ou ainda, que tenha sido
coagido a tanto”.

Nesta mesma linha, já havia pontuado o TJ de São Paulo (AC 130.334-4 –


Marília – 1ª Câmara de Direito Privado – Rel. Des. Guimarães e Souza):

“Não pode o autor de a declaração falsa vindicar a invalidade do


registro do nascimento, conscientemente assumida, porque
violaria o princípio assentado em nosso sistema jurídico de
venire contra factum proprium nulli conceditur”.

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