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• Pós-Graduação em Direito Tributário

Prof. Mauro Silva

Conselheiro Representante da Fazenda Nacional no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (CARF)


Doutor em Direito Econômico, Financeiro e Tributário pela Universidade de São Paulo (USP)
Mestre em Direito Político e Econômico pela Universidade Presbiteriana Mackenzie
Bacharel em Direito pela Universidade de São Paulo

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Material para consulta posterior

• Slides da aula e referências bibliográficas:


http://justicafiscal.blogspot.com

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Competência Tributária
Roteiro:
 
1. Definição de competência tributária
2. Relação com o federalismo
3. Espécies de competência
1. Privativa
2. Comum
3. Residual
4. Extraordinária
5. Concorrente
4. Inventário dos tributos que competem privativamente a cada ente federativo
1. A Constituição enumera as competências por meio de conceitos?
5. Conflitos de competência e lei complementar
1. ITR x IPTU
2. ICMS x ISS
6. Bitributação e bis in idem
1. Bitributação jurídica e bitributação econômica
2. A bitributação e o bis in idem na CF
1. IPI e ICMS
2. PIS e COFINS sobre faturamento
3. IR e CSLL sobre o lucro
4. II, IPI, ICMS, PIS e COFINS na importação

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Vigência, Aplicação e Interpretação
da lei tributária
7. Características da competência tributária
1. Indelegalibilidade
2. Irrenunciabilidade
3. Incaducabilidade
4. Inalterabilidade
5. Facultatividade
6. Privatividade
8. Diferença entre competência e capacidade tributária ativa
9. Extrafiscalidade e parafiscalidade
10.  
11. Aplicação do art. 110 do CTN
1. Caso da definição de faturamento para o COFINS (Lei 9718/99)
1. Faturamento e total da receitas
2. Caso da definição de salário para a contribuição previdenciária
(art. 195, inciso I, “a”)
1. Mensalidade escolar paga ao empregado é salário?
1. e se for relativa a seus dependentes?

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Competência Tributária

• A constituição federal
nunca cria tributos.

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Competência Tributária

• A bitributação e o bis
in idem são
permitidos pela atual
constituição?
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Competência Tributária
• Definição
– Carrazza
• possibilidade de criar in abstracto
tributos, descrevendo,
legislativamente, suas hipóteses de
incidência, seus sujeitos ativos, seus
sujeitos passivos, suas bases de
cálculo e suas alíquotas.
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Competência Tributária
• Expressão equivalente a poder de
tributar

• Carrazza vê diferença
– Poder=absoluto; competência=regrada
• Decorrência do federalismo;

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Competência Tributária
• Espécies de competência tributária
– Privativa
• Regra geral: impostos
– Comum
• Taxas e contribuição de melhoria
– Residual
• União 
» Impostos :Art. 154, inciso I; tem limitações
» Contribuições para financiamento da seguridade social
• Art. 195, §4º
• Nas CFs 1934 , 1937 e 1946 era União e dos Estados

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Competência residual: impostos
Art. 154. A União poderá instituir:
I - mediante lei complementar, impostos não
previstos no artigo anterior, desde que sejam
não-cumulativos e não tenham fato gerador
ou base de cálculo próprios dos discriminados
nesta Constituição;

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Competência residual: contribuições para
financiamento da seguridade social
Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a
sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da lei,
mediante recursos provenientes dos orçamentos da União,
dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e das
seguintes contribuições sociais:
(...)

§ 4º - A lei poderá instituir outras fontes destinadas a garantir a


manutenção ou expansão da seguridade social, obedecido o
disposto no art. 154, I.

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Competência Tributária
• Espécies de competência tributária
– Privativa
– Comum
– Residual
– Extraordinária
• União para guerra ou sua iminência

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Competência extraordinária
Art. 154. A União poderá instituir:
(...)
II - na iminência ou no caso de guerra externa,
impostos extraordinários, compreendidos ou
não em sua competência tributária, os quais
serão suprimidos, gradativamente, cessadas
as causas de sua criação;

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Competência Tributária
• Espécies de competência tributária
– Privativa
– Comum
– Residual
– Extraordinária
– Concorrente
• Existia em 1934, 1937 e 1946
• Dois entes podem instituir, mas só prevalecerá um
deles.

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Inventário dos tributos que competem privativamente a
cada ente federativo

• Competência Privativa da União: art. 153 da CF.


• 153, I - II - Imposto sobre importação de produtos estrangeiros.
• 153, II - IE - Imposto sobre exportação de produtos nacionais ou
nacionalizados.
• 153, III - IR - Imposto sobre a renda e proventos de qualquer
natureza.
• 153, IV - IPI - Imposto sobre produtos industrializados.
• 153, V - IOF - Imposto sobre operações de crédito, câmbio e seguro,
ou relativas a títulos ou valores mobiliários.
• 153, VI - ITR - Imposto sobre a propriedade territorial rural.
• 153, VII - IGF - Imposto sobre grandes fortunas.

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Inventário dos tributos que competem privativamente a
cada ente federativo

• Competência Privativa dos Estados e do Distrito Federal União: art. 155 da


CF.
• Art. 155, I - ITCMD - Imposto de Transmissão Causa Mortis e
doações de quaisquer bens ou direitos.
• Art. 155, II - ICMS - Imposto sobre operações relativas à circulação
de mercadorias e sobre prestações de serviços de transporte interestadual
e intermunicipal e de comunicação.
• Art. 155, III - IPVA - Imposto sobre a propriedade de veículos
automotores. Art. 156, I - IPTU - Imposto sobre a propriedade
predial e territorial urbana.

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Inventário dos tributos que competem privativamente a
cada ente federativo

• Competência Privativa dos Municípios e do Distrito Federal União: art. 156


da CF.
• Art. 156, I - IPTU - Imposto sobre a propriedade predial e
territorial urbana.
• Art. 156, II - ITBI - Imposto sobre a transmissão inter vivos de bens
imóveis.
• Art. 156, III - ISS - Imposto sobre serviços de qualquer natureza.

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Competência comum
• Taxas
– Observar a competência geral do ente nos arts. 23
e 24 da CF
Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito
Federal legislar concorrentemente sobre:
(...)
III - juntas comerciais;
IV - custas dos serviços forenses;

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Competência Tributária

• A bitributação e o bis
in idem são
permitidos pela atual
constituição?
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Competência Tributária
• O teórico do mar.
• Diferença entre bitributação e bis in idem
• Bitributação jurídica
– Dois entes federativos cobrando tributo sobre o
mesmo fato gerador
• Bis in idem
– O mesmo ente federativo cobrando mais de um
tributo sobre o mesmo fato gerador

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Competência Tributária
• Diferença entre bitributação jurídica e
bitributação econômica

• Bitributação jurídica
– Dois entes federativos cobrando tributo sobre o mesmo
fato gerador
• Bitributação econômica
– Dois entes federativos cobrando tributo sobre o mesmo
sinal de riqueza ou sobre a mesma operação

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Competência Tributária
• A bitributação e o bis in idem são permitidos pela
atual constituição?

• Sim. A própria CF prevê casos de bitributação


e bis in idem.
• O que a CF veda é a invasão de competência
tributária e a bitributação na criação de
impostos na competência residual.

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Competência Tributária
• Casos de bitributação e bis in idem na CF

– Bitributação
• IPI x ICMS

– Bis in idem
• PIS e COFINS sobre faturamento
• II, IPI, PIS e COFINS sobre a importação
• IR e CSLL sobre o lucro

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Competência Tributária
• O que a Constituição Federal de 1988 veda é a
invasão de competência

• De onde veio essa confusão?


• Constituição de 1934 e de 1937 vedavam
expressamente a bitributação, pois havia
competência concorrente entre União e
Estados

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Bitributação
Constituição de 1934
        Art 10 - Compete concorrentemente à União e aos Estados:

( ...)    
VII - criar outros impostos, além dos que lhes são atribuídos privativamente.

        Art 11 - É vedada a bitributação, prevalecendo o imposto decretado pela


União quando a competência for concorrente. Sem prejuízo do recurso
judicial que couber, incumbe ao Senado Federal, ex officio ou mediante
provocação de qualquer contribuinte, declarar a existência da bitributação
e determinar a qual dos dois tributos cabe a prevalência.

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Bitributação e bis in idem
Resumo

• Vedados para a competência residual (sem


referência explícita ao termo ‘bitributação” ou
ao termo “bis in idem”)
• Permitidos para a competência extraordinária
e para a competência privativa.
• Esse mar serve sim!
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Competência Tributária
• Características da competência tributária
– Indelegalibilidade
– Irrenunciabilidade
– Incaducabilidade
– Inalterabilidade
– Facultatividade
– Privatividade

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Competência Tributária
• Características da competência tributária
– Indelegalibilidade
– Caso do ITR
• Art. 153, §4º, inciso III da CF
• 4º O imposto previsto no inciso VI do caput:
(...)
• III - será fiscalizado e cobrado pelos Municípios que
assim optarem, na forma da lei, desde que não
implique redução do imposto ou qualquer outra forma
de renúncia fiscal.(EC 42/2003)

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Competência Tributária
• Características da competência tributária

– Irrenunciabilidade
• ISS em alguns municípios

– Incaducabilidade
• IGF para a União(art. 153, inciso VII, CF)

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Competência Tributária
• Características da competência tributária

– Inalterabilidade
• O “S” do ICMS
• Serviço de comunicação provedor de internet
– Facultatividade
• IGF
– Privatividade
• Rígida discriminação de competências

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Competência Tributária
• Diferença entre competência tributária e
capacidade tributária ativa
• Extrafiscalidade
– legislação tributária persegue finalidade diversa da
arrecadação
• Parafiscalidade
– lei nomeia sujeito ativo que não coincide com o
ente federativo que tem a competência tributária
– Ex: OAB, ITR em alguns casos

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Aplicação do art. 110 do CTN
– Caso da definição de salário para a contribuição
previdenciária (art. 195, inciso I, “a”)
Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma
direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos
orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e
das seguintes contribuições sociais:
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998)

I - do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada na


forma da lei, incidentes sobre:
a) a folha de salários e demais rendimentos do trabalho pagos ou
creditados, a qualquer título, à pessoa física que lhe preste serviço,
mesmo sem vínculo empregatício; (Incluído pela Emenda Constitucional
nº 20, de 1998)

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Aplicação do art. 110 do CTN
– Caso da definição de salário para a contribuição
previdenciária (art. 195, inciso I, “a”)
– De onde tiro o conceito de salário?
– CLT, arts. 457 e 458
– Mensalidade escolar paga pelo empregador é
salário?

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Aplicação do art. 110 do CTN
CLT, Art 458...
§ 2o Para os efeitos previstos neste artigo, não serão consideradas como
salário as seguintes utilidades concedidas pelo empregador: (Redação
dada pela Lei nº 10.243, de 19.6.2001)
I – vestuários, equipamentos e outros acessórios fornecidos aos
empregados e utilizados no local de trabalho, para a prestação do
serviço; (Incluído pela Lei nº 10.243, de 19.6.2001)
II – educação, em estabelecimento de ensino próprio ou de
terceiros, compreendendo os valores relativos a matrícula,
mensalidade, anuidade, livros e material didático; (Incluído pela Lei nº
10.243, de
19.6.2001)

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Interpretação da lei tributária
• Importância do art. 110 do CTN

• Art. 110. A lei tributária não pode alterar a


definição, o conteúdo e o alcance de institutos,
conceitos e formas de direito privado, utilizados,
expressa ou implicitamente, pela Constituição
Federal, pelas Constituições dos Estados, ou pelas
Leis Orgânicas do Distrito Federal ou dos Municípios,
para definir ou limitar competências tributárias.

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Inconstitucionalidade da COFINS sobre receita
financeira

• Art. 195, I CF/88 (redação anterior à EC nº 20/98)

Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de


forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos
provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal
e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais:   
 
   I  -  dos empregadores, incidente sobre a folha de salários, o faturamento
e o lucro;     
Inconstitucionalidade da COFINS sobre receita financeira

• Lei nº 9.718/98
Art. 2°. As contribuições para o PIS/PASEP e a COFINS, devidas pelas pessoas
jurídicas de direito privado, serão calculadas com base no seu faturamento,
observadas a legislação vigente e as alterações introduzidas por esta Lei.

  Art. 3º. O faturamento a que se refere o artigo anterior corresponde à receita


bruta da pessoa jurídica.

§ 1º Entende-se por receita bruta a totalidade das receitas auferidas pela pessoa
jurídica, sendo irrelevantes o tipo de atividade por ela exercida e a classificação
contábil adotada para as receitas.
Leading Case – RE nº 346.084

• Voto Min. Marco Aurélio

• A ADC nº 1-1/DF explicitou o entendimento de que FATURAMENTO


envolve o conceito de receita bruta auferida pela venda de
mercadoria, de mercadorias e serviços e de serviços.

• O legislador ordinário através do § 1º do art. 3º da Lei nº 9.718/98


deu ao vocábulo FATURAMENTO o conceito de receita bruta de
qualquer natureza, pouco importando a se a origem está na venda
de mercadorias, de mercadorias e serviços ou de serviços,
conotação discrepante da consagrada por doutrina e
jurisprudência.

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Referências Bibliográficas:
• AMARO, Luciano. Direito tributário brasileiro. 10. ed. São Paulo:
Saraiva, 2004.
• CARRAZZA, Roque Antonio. Curso de direito constitucional tributário.
16ª ed., São Paulo: Malheiros, 2001.
• CARVALHO, Paulo de Barros. Direito tributário, linguagem e método.
3. ed., São Paulo: Noeses, 2009.
• SCHOUERI, Luís Eduardo. Discriminação de competências e
competência residual. In: SCHOUERI, Luís Eduardo; ZILVETI, Fernando
Aurélio(coords.). Direito tributário: estudos em homenagem a
Brandão Machado. São Paulo: Dialética, 2001, p. 82-115.
• _______. Normas tributárias indutoras e intervenção econômica. Rio
de Janeiro: Forense, 2005.

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• Pós-Graduação em Direito Tributário
Prof. Mauro Silva

Conselheiro Representante da Fazenda Nacional no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (CARF)


Doutor em Direito Econômico, Financeiro e Tributário pela Universidade de São Paulo (USP)
Mestre em Direito Político e Econômico pela Universidade Presbiteriana Mackenzie

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