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CPC
A ideologia que permeia o novo código de processo é ousada: conciliar uma prestação
jurisdicional efetiva e, ao mesmo tempo, preservar o direito de defesa do jurisdicionado.
Este foi, aliás, um tema bastante abordado na audiência pública de Manaus. Como distribuir
justiça de maneira rápida e, ao mesmo tempo, preservar o princípio do devido processo legal?
Não era a tal da pressa a maior inimiga da perfeição?
O que ocorre é exatamente o oposto: quanto mais rápida for a prestação jurisdicional, mais
efetividade ela terá. Dando às partes uma resposta em tempo razoável, há maior
probabilidade de dirimir o conflito social que ensejou a busca pela ajuda do Poder Judiciário.
Para que isto seja possível, entretanto, é necessário fortalecer a atuação do magistrado de 1ª
instância. É ele quem está mais próximo das partes e do conjunto probatório que elas
produzem. É quem está inserto no contexto social em que se dá a lide e também é quem
conduz toda a instrução processual. Tudo isto justifica com folgas o claro propósito da
comissão de fortalecer sua atuação. A finalidade de propostas como a ampliação dos poderes
do magistrado na instrução e as mudanças no sistema recursal é fazer com que o provimento
jurisdicional de 1ª instância não seja apenas uma parada obrigatória no trajeto rumo às cortes
superiores.
A ideologia que dá lastro ao novo código é muito nobre. Há, todavia, uma ressalva: ao
mesmo tempo em que o novo código irá dar maior autonomia para o magistrado, este também
vai ser mais exigido. O novo diploma processual vai exigir um magistrado mais dinâmico e
atualizado, sensível às mudanças e disposto a fazer uso das ferramentas postas a sua
disposição para tornar a distribuição de justiça mais ágil.
Não que já não haja demanda para este tipo de profissional hoje. Ocorre que o novo código
irá evidenciar ainda mais a necessidade de maior dinamismo na operação do direito. E ainda:
irá nos fornecer a resposta para a pergunta que há muito permeia o subconsciente (e o
consciente) do operador do direito.
Afinal, o magistrado tem sua atuação prejudicada pelas falhas no sistema processual, ou é ele
a engrenagem que está emperrando a máquina?
O novo código de processo civil será uma bela oportunidade parar “apurar” a parcela de
responsabilidade que cada um destes fatores carrega na lentidão do Poder Judiciário.
Antes que alguém diga que eu estou imputando a culpa por todas as mazelas da justiça na
figura do magistrado, deve-se ter em mente que esta verdadeira peneira não se limita à figura
do julgador. Também o advogado será mais exigido.
Ocorre que há uma diferença crucial nestes dois ofícios. Por mais nobre que seja o mister da
advocacia, este é também um serviço mercantil, e como tal, sujeito às leis de mercado. Os
causídicos que não se adaptarem às mudanças serão gradativamente postos à margem do
mercado de trabalho.
Mas e o magistrado? Alguém tem notícia de um juiz que perdeu o cargo porque não fez
cursos de reciclagem, especialização e atualização?
É preocupante por um lado mas como toda mudança, esta também tem um viés positivo. O
lado bom desta reforma é que ela colocará na vitrine os bons profissionais. Seja com a
fixação ampliativa de honorários ou com as mudanças que possibilitam ao juiz (que assim
desejar) conferir maior celeridade aos feitos, o novo código de processo civil, ao colocar
como principal objetivo a celeridade processual, tropeçou em algo muito mais válido: o
apreço pelo trabalho.
Esta verdadeira meritocracia velada irá mostrar que temos, sim, bons promotores, juízes e
advogados e que a distribuição de justiça pode ser mais rápida e efetiva. Ou não. Estamos
aguardando cenas dos próximos capítulos.