Você está na página 1de 2

Reflexões sobre a Nova Sistemática do Novo

CPC

Por Fabio Lindoso e Lima

A ideologia que permeia o novo código de processo é ousada: conciliar uma prestação
jurisdicional efetiva e, ao mesmo tempo, preservar o direito de defesa do jurisdicionado.

Um dos mecanismos para possibilitar isto é prestigiar a atuação do magistrado de 1ª


instância. A ele será dado maior poder na instrução processual e maior grau de autonomia
para dar às lides um tratamento diferenciado que torne possível dar às partes (e à sociedade)
uma resposta mais rápida. E tudo isto respeitando os dois pilares do processo: o contraditório
e a amplitude de defesa.

Este foi, aliás, um tema bastante abordado na audiência pública de Manaus. Como distribuir
justiça de maneira rápida e, ao mesmo tempo, preservar o princípio do devido processo legal?
Não era a tal da pressa a maior inimiga da perfeição?

Esta questão se assenta em um pseudo-antagonismo. Em primeiro lugar, não se almeja um


diploma processual perfeito, até porque o estreito contato da matéria com a prática forense e a
rapidez com que esta se altera já faz com que qualquer lei processual já nasça com algum
grau de defasagem.

Há de se considerar, também, que uma prestação jurisdicional lenta não é, necessariamente,


eficaz. Da mesma maneira, a distribuição de justiça rápida não é sinônimo de destempero ou
de pobre valoração dos meandros do caso concreto. Uma coisa não decorre, a rigor, da outra.
Este antagonismo é uma verdadeira lenda urbana alimentada pela ineficiência do nosso
sistema processual (e isto foi dito, salvo engano, por um dos membros da comissão).

O que ocorre é exatamente o oposto: quanto mais rápida for a prestação jurisdicional, mais
efetividade ela terá. Dando às partes uma resposta em tempo razoável, há maior
probabilidade de dirimir o conflito social que ensejou a busca pela ajuda do Poder Judiciário.

Para que isto seja possível, entretanto, é necessário fortalecer a atuação do magistrado de 1ª
instância. É ele quem está mais próximo das partes e do conjunto probatório que elas
produzem. É quem está inserto no contexto social em que se dá a lide e também é quem
conduz toda a instrução processual. Tudo isto justifica com folgas o claro propósito da
comissão de fortalecer sua atuação. A finalidade de propostas como a ampliação dos poderes
do magistrado na instrução e as mudanças no sistema recursal é fazer com que o provimento
jurisdicional de 1ª instância não seja apenas uma parada obrigatória no trajeto rumo às cortes
superiores.

A ideologia que dá lastro ao novo código é muito nobre. Há, todavia, uma ressalva: ao
mesmo tempo em que o novo código irá dar maior autonomia para o magistrado, este também
vai ser mais exigido. O novo diploma processual vai exigir um magistrado mais dinâmico e
atualizado, sensível às mudanças e disposto a fazer uso das ferramentas postas a sua
disposição para tornar a distribuição de justiça mais ágil.

Não que já não haja demanda para este tipo de profissional hoje. Ocorre que o novo código
irá evidenciar ainda mais a necessidade de maior dinamismo na operação do direito. E ainda:
irá nos fornecer a resposta para a pergunta que há muito permeia o subconsciente (e o
consciente) do operador do direito.

Afinal, o magistrado tem sua atuação prejudicada pelas falhas no sistema processual, ou é ele
a engrenagem que está emperrando a máquina?

O novo código de processo civil será uma bela oportunidade parar “apurar” a parcela de
responsabilidade que cada um destes fatores carrega na lentidão do Poder Judiciário.

Antes que alguém diga que eu estou imputando a culpa por todas as mazelas da justiça na
figura do magistrado, deve-se ter em mente que esta verdadeira peneira não se limita à figura
do julgador. Também o advogado será mais exigido.

Ocorre que há uma diferença crucial nestes dois ofícios. Por mais nobre que seja o mister da
advocacia, este é também um serviço mercantil, e como tal, sujeito às leis de mercado. Os
causídicos que não se adaptarem às mudanças serão gradativamente postos à margem do
mercado de trabalho.

Mas e o magistrado? Alguém tem notícia de um juiz que perdeu o cargo porque não fez
cursos de reciclagem, especialização e atualização?

É preocupante por um lado mas como toda mudança, esta também tem um viés positivo. O
lado bom desta reforma é que ela colocará na vitrine os bons profissionais. Seja com a
fixação ampliativa de honorários ou com as mudanças que possibilitam ao juiz (que assim
desejar) conferir maior celeridade aos feitos, o novo código de processo civil, ao colocar
como principal objetivo a celeridade processual, tropeçou em algo muito mais válido: o
apreço pelo trabalho.

Esta verdadeira meritocracia velada irá mostrar que temos, sim, bons promotores, juízes e
advogados e que a distribuição de justiça pode ser mais rápida e efetiva. Ou não. Estamos
aguardando cenas dos próximos capítulos.

Você também pode gostar