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Roberto Augusto DaMatta

Profissional de múltiplas atividades – conferencista, professor, consultor, colunista de


jornal, produtor de TV, acima de tudo antropólogo.
Estudioso do Brasil, de seus dilemas e de suas contradições, mas também de seu
potencial e de suas soluções, DaMatta não se afasta de seu país mesmo quando
desenvolve outros temas. A comparação com o Brasil é inevitável. DaMatta revela o
Brasil, os brasileiros e sua cultura através de suas festas populares, manifestações
religiosas, literatura e arte, desfiles carnavalescos e paradas militares, leis e regras
(quando respeitadas e quando desobedecidas), costumes e esportes. Daí surge um
Brasil complexo, que não se submete a uma fórmula ou esquema único. Para DaMatta,
o Brasil é tão diversificado como diversificados são os rituais, conjunto de práticas
consagradas pelo uso ou pelas normas, a que os brasileiros se entregam.
O livro A casa e a Rua

É a obra impar de Damatta, onde ele retrata a possibilidade de explorar todo o universo
antropológico brasileiro. É em A casa e a Rua que conhecemos o verdadeiro cidadão
que somos e o que imaginamos sobre nós e a sociedade e o Estado.

Esta na obra a separação do conceito de Casa, tanto na valoração como pedaço do que
é meu como também da valoração dos conceitos sociais, políticos e jurídicos. É a

Casa onde o indivíduo se suprir-se de energia para viver, para sobreviver e acima de
tudo como participante da sociedade.

Leva-nos ao conceito de Rua, buscando a colocação do homem e do cidadão no


relacionamento com este novo espaço. Interagindo com esta nova expectativa, sua
multiplicidade de conceitos, de valores e seres exploradores.
A Rua e Suas Significações

O estudo das ruas se apresenta com relevância em muitos aspectos, principalmente


porque não se pode conceber uma cidade sem as mesmas.
Local de trocas e que estabelecem as relações sociais.
O grande palco das sucessivas cenas e dramas, enfim, das representações da
sociedade.

Algumas abordagens teóricas

É mais que um simples passar de transeuntes, ela possui uma “alma encantadora”
Não é um simples alinhamento de fachadas, ela é agasalhadora da miséria, é o aplauso
dos medíocres, dos infelizes, dos miseráveis da arte.
É generosa, é transformadora de línguas, matando substantivos, transformando a
significação dos termos, impondo aos dicionários as palavras que inventa.
Arquitetos e urbanistas, as ruas ligam os múltiplos pontos de interesse particular ou
semi público.
A rua, então, se apresenta como o resultado da contradição entre o público e o privado
Para Damatta

A “casa” e “rua” são categorias sociológicas para os brasileiros, estou afirmando que,
entre nós estas palavras não designam simplesmente espaços geográficos ou coisas
físicas comensuráveis, mas acima de tudo entidades morais, esferas de ação social,
províncias éticas dotadas de possibilidade, domínios culturais institucionalizados e, por
causa disso, capazes de despertar emoções, reações, leis, orações, músicas e imagens
esteticamente emolduradas e inspiradas”

A casa e da rua gira em torno da concepção do “espaço moral”.

A moral e os bons costumes estavam associados ao espaço da casa, esta


representava e representa até hoje o espaço íntimo e privativo da sociedade brasileira
desde a época colonial.
Na casa se poderia ter opinião, chamar a atenção, ter expressão; atos que, na rua,
seriam condenados.
A rua possui representada pela fluidez e movimento, encontram os indivíduos anônimos,
o discurso da impessoalidade, o código da rua para produz a fala totalizada, impessoal,
simbolizado pelo modo de produção; luta de classe; subversão da ordem.
É possível sermos desrespeitados por aqueles que representam a “autoridade”, pois
somos vistos por eles como “subcidadãos”. Por não termos voz na condição de
“subcidadãos”, apresentamos um comportamento “dúbio” ao jogarmos o lixo e sujarmos
ruas e calçadas, sem cerimônia, e ao desobedecermos às regras de trânsito.
Não recriamos na rua o mesmo espaço caseiro e familiar, não vemos a rua como
espaço público, no sentido de: pertence a todos, espaço comum, de todos. A nossa
sociedade tem uma cidadania em casa, outra no centro religioso e outra na rua.
Determinadas expressões marcam a distinção entre casa e rua: “vá para a rua!”; “vá
para o olho da rua!”; “estou na rua da amargura!”, essas expressões, denotam
rompimento e solidão. Mandar alguém ir para “o olho da rua” significa rompimento e
deixar alguém “na rua da amargura” significa solidão, desproteção, estar sujeito às
normas vigentes da rua.
Sabemos que essa concepção da rua e da casa é herança da nossa origem colonial,
pois o que permeia hoje as duas concepções teve inicio com as regras (normas)
estabelecidas e legitimadas pela sociedade colonial, de base escravista. Normas estas
relacionadas a atitudes, gestos, roupas, enfim, papéis sociais aceitos pela sociedade da
época.

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