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Desterritorialização: entre as redes e os aglomerados de exclusão

A ocupação do território está cada vez mais atrelada à funcionalidade, em grande


parte graças ao capitalismo e a lucratividade, as paisagens se transformam rapidamente
em escala muito maior do que a regional. Com todo o avanço tecnológico que se produz,
os grandes núcleos capitalistas se conectam forte e amplamente por meio de redes, nos
demais espaços, formam-se os aglomerados de exclusão, a massa da populção sem acesso
às redes. Inúmeros autores apontam a tecnologia como causa da desterritorialização,
atrelada aos choques de civilizações, a globalização econômica e a exclusão sócio-
econômica. Neste cenário, podemos, ao mesmo tempo, observar uma unipolaridade,
tripolaridade e apolaridade. Unipolaridade no que diz respeito ao capitalismo sendo o
modelo hegemônico seguido, tripolaridade enquanto os três grandes centros do
capitalismo são Japão, Estados Unidos e União Europeia e apolaridade no sentido
ideológico-cultural.
Haesbaert considera a desterritorialização o processo de superação das distâncias
pela velocidade, aponta também como característica do território o controle da
acessibilidade através de fronteiras. A desterritorialização não é apenas um rompimento
físico, mas sim cultural e simbólico, nem sempre as fronteiras políticas coincidem com as
fronteiras culturais e/ou ideológicas, e esta é a causa da grande maioria dos conflitos
territoriais, a falta de conciliação entre a identidade das populações e seus territórios. O
processo de mudança social, segundo Yves Barel, nada mais é do que a dinâmica de
territorialização, desterritorialização e reterritorialização.

Desterritorialização em uma perspectiva diacrônica

Para compreender a desterritorialização na contemporaniedade é preciso analisá-la


também ao longo da história, nesta tarefa Raffestin diferenciou três tipos de sociedades: as
civilizações tradicionais (subdivididas em nômades e produtoras) nas quais predomina a
territorialização por malhas, no espaço percorrido horizontalmente pelas pessoas; as
civilizações tradicionalistas e racionalistas em que as cidades representavam a grande
mudança e inovação, cidades estas que atuavam como nós, hegemônicas sobre o território
e como fonte de influência sobre este; as civilizações racionais, que privilegiam a
informação (uma mercadoria, um recurso) formam redes de comunicação e circulação que
regem politicamente a territorialização e a desterritorialização.
Levy propõe o esquema de sociedade-mundo, no qual identifica quatro padrões: o
mundo como conjunto de mundos, o mundo como campo de forças, o mundo como rede
hierarquizada e o mundo como sociedade. Porém procura não denotar essas transições
como um processo evolutivo. Diferencia também as noções de território e rede, sendo o
território mais limitador e fronteiriço e a rede mais ampliada e exterior. A rede assim como
pode apoiar a territorialização pode também apoiar a desterritorialização, uma vez que as
redes se sobrepõem aos territórios.
É necessário também ressaltar que desterritorialização não pode estar apenas
associada a economia ou interacionalização, esta é apenas a dimensão predominante, e
não única. A territorialização acaba mais atrelada às dimensões políticas e culturais do que
às econômicas simplesmente pelo caráter global e “sem-pátria” do capital. Por isso as
revoluções tecnológicas e científicas têm um papel tão forte na desterritorialização e,
geralmente, a globalização está associada à desterritorialização. Neste contexto, os
produtos, os objetos, as mercadorias também sofrem desterritorialização, uma vez que são
fabricadas pedaço por pedaço em diferentes partes do mundo.

Redes e desterritorialização

As redes podem exercer papel na reterritorialização, porém seu maior potencial é o


de desterritorialização. A desterritorialização acompanha de perto o progresso, a mudança
e a revolução, os quais têm como instrumento as redes, que ajudam a desconstruir as
maiores marcas da territorialização: as fronteiras e a estabilidade. Redes são fortemente
interligadas pelos nós, que por muitas vezes são cidades, assim, dentro do espaço (físico)
de uma cidade, convivem inúmeros representantes (indivíduos) de infinitas redes,
consequentemente, o mais próximo não necessariamente será o mais semelhante, e o mais
distante não necessariamente o mais distinto. Ressalta-se também o papel das redes
ilegais na desterritorialização, de modo a tentar substituir a força do Estado através da
criminalidade, como fazem as redes do tráfico de drogas, crime organizado e tráfico
humano.

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