O documento discute o processo de desterritorialização em três perspectivas: 1) Como as redes globais conectam os centros capitalistas enquanto excluem as áreas periféricas; 2) Como a história mostra diferentes padrões de territorialização à medida que as sociedades evoluíram; 3) Como as redes podem apoiar tanto a territorialização quanto a desterritorialização ao se sobreporem aos territórios.
Descrição original:
R HAESBAERT · 2003
Título original
Desterritorialização entre as redes e os aglomerados de exclusão
O documento discute o processo de desterritorialização em três perspectivas: 1) Como as redes globais conectam os centros capitalistas enquanto excluem as áreas periféricas; 2) Como a história mostra diferentes padrões de territorialização à medida que as sociedades evoluíram; 3) Como as redes podem apoiar tanto a territorialização quanto a desterritorialização ao se sobreporem aos territórios.
O documento discute o processo de desterritorialização em três perspectivas: 1) Como as redes globais conectam os centros capitalistas enquanto excluem as áreas periféricas; 2) Como a história mostra diferentes padrões de territorialização à medida que as sociedades evoluíram; 3) Como as redes podem apoiar tanto a territorialização quanto a desterritorialização ao se sobreporem aos territórios.
Desterritorialização: entre as redes e os aglomerados de exclusão
A ocupação do território está cada vez mais atrelada à funcionalidade, em grande
parte graças ao capitalismo e a lucratividade, as paisagens se transformam rapidamente em escala muito maior do que a regional. Com todo o avanço tecnológico que se produz, os grandes núcleos capitalistas se conectam forte e amplamente por meio de redes, nos demais espaços, formam-se os aglomerados de exclusão, a massa da populção sem acesso às redes. Inúmeros autores apontam a tecnologia como causa da desterritorialização, atrelada aos choques de civilizações, a globalização econômica e a exclusão sócio- econômica. Neste cenário, podemos, ao mesmo tempo, observar uma unipolaridade, tripolaridade e apolaridade. Unipolaridade no que diz respeito ao capitalismo sendo o modelo hegemônico seguido, tripolaridade enquanto os três grandes centros do capitalismo são Japão, Estados Unidos e União Europeia e apolaridade no sentido ideológico-cultural. Haesbaert considera a desterritorialização o processo de superação das distâncias pela velocidade, aponta também como característica do território o controle da acessibilidade através de fronteiras. A desterritorialização não é apenas um rompimento físico, mas sim cultural e simbólico, nem sempre as fronteiras políticas coincidem com as fronteiras culturais e/ou ideológicas, e esta é a causa da grande maioria dos conflitos territoriais, a falta de conciliação entre a identidade das populações e seus territórios. O processo de mudança social, segundo Yves Barel, nada mais é do que a dinâmica de territorialização, desterritorialização e reterritorialização.
Desterritorialização em uma perspectiva diacrônica
Para compreender a desterritorialização na contemporaniedade é preciso analisá-la
também ao longo da história, nesta tarefa Raffestin diferenciou três tipos de sociedades: as civilizações tradicionais (subdivididas em nômades e produtoras) nas quais predomina a territorialização por malhas, no espaço percorrido horizontalmente pelas pessoas; as civilizações tradicionalistas e racionalistas em que as cidades representavam a grande mudança e inovação, cidades estas que atuavam como nós, hegemônicas sobre o território e como fonte de influência sobre este; as civilizações racionais, que privilegiam a informação (uma mercadoria, um recurso) formam redes de comunicação e circulação que regem politicamente a territorialização e a desterritorialização. Levy propõe o esquema de sociedade-mundo, no qual identifica quatro padrões: o mundo como conjunto de mundos, o mundo como campo de forças, o mundo como rede hierarquizada e o mundo como sociedade. Porém procura não denotar essas transições como um processo evolutivo. Diferencia também as noções de território e rede, sendo o território mais limitador e fronteiriço e a rede mais ampliada e exterior. A rede assim como pode apoiar a territorialização pode também apoiar a desterritorialização, uma vez que as redes se sobrepõem aos territórios. É necessário também ressaltar que desterritorialização não pode estar apenas associada a economia ou interacionalização, esta é apenas a dimensão predominante, e não única. A territorialização acaba mais atrelada às dimensões políticas e culturais do que às econômicas simplesmente pelo caráter global e “sem-pátria” do capital. Por isso as revoluções tecnológicas e científicas têm um papel tão forte na desterritorialização e, geralmente, a globalização está associada à desterritorialização. Neste contexto, os produtos, os objetos, as mercadorias também sofrem desterritorialização, uma vez que são fabricadas pedaço por pedaço em diferentes partes do mundo.
Redes e desterritorialização
As redes podem exercer papel na reterritorialização, porém seu maior potencial é o
de desterritorialização. A desterritorialização acompanha de perto o progresso, a mudança e a revolução, os quais têm como instrumento as redes, que ajudam a desconstruir as maiores marcas da territorialização: as fronteiras e a estabilidade. Redes são fortemente interligadas pelos nós, que por muitas vezes são cidades, assim, dentro do espaço (físico) de uma cidade, convivem inúmeros representantes (indivíduos) de infinitas redes, consequentemente, o mais próximo não necessariamente será o mais semelhante, e o mais distante não necessariamente o mais distinto. Ressalta-se também o papel das redes ilegais na desterritorialização, de modo a tentar substituir a força do Estado através da criminalidade, como fazem as redes do tráfico de drogas, crime organizado e tráfico humano.