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Capítulo 2

Estudo das Fundações


1. Definição de fundação

A estrutura de uma obra é constituída pelo esqueleto (figura 1) formado pelos


elementos estruturais, tais como: lajes (cinza), vigas (vermelho), pilares (verde) e fundações
(azul), etc. Fundação é o elemento estrutural que tem por finalidade transmitir as cargas de
uma edificação para uma camada resistente do solo. Existem vários tipos de fundações e a
escolha do tipo mais adequado é função das cargas da edificação e da profundidade da
camada resistente do solo. Com base na combinação destas duas análises optar-se-á pelo tipo
que tiver o menor custo e o menor prazo de execução.

Figura 1: Estrutura de uma edificação.


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2. As cargas da edificação

As cargas da edificação são obtidas por meio das plantas de arquitetura e estrutura,
onde são considerados os pesos próprios dos elementos constituintes e a sobrecarga ou carga
útil a ser considerada nas lajes que são normalizadas em função de sua finalidade.
Eventualmente, em função da altura da edificação deverá também ser considerada a ação do
vento sobre a edificação. A tabela 1 fornece o peso específico dos materiais mais utilizados
nos elementos constituintes de uma construção, enquanto a tabela 2 as sobrecargas ou cargas
úteis em lajes de piso ou de forro de acordo com a sua finalidade.

Tabela 1: Peso específico dos materiais mais empregados em uma construção.

Material Peso específico Unidade

Alvenaria de pedra 2200 a 2400 kgf/m3


Alvenaria de tijolo maciço revestido 1600 kgf/m3
Alvenaria de tijolo furado revestido 1300 kgf/m3
Concreto simples 2200 kgf/m3
Concreto armado 2500 kgf/m3
Revestimento com madeira (taco) 45 kgf/m2
Ladrilho e pedras de piso 50 kgf/m2
Mármore de 2 a 3 cm de espessura 80 a 90 kgf/m2
Revestimento de tetos e pisos de lajes com argamassa 25 kgf/m2
Telhado completo – telha francesa 125 kgf/m2
Telhado completo – telha canal 150 kgf/m2
Telhado completo – cimento amianto 90 kgf/m2
Madeira de lei 900 kgf/m3

Tabela 2: Sobrecargas ou carga úteis em lajes de piso e de forro.

Compartimento Sobrecarga – kgf/m2

Laje de forro 100


Laje de piso de residência 200
Laje de piso de escritório 200
Laje de piso de enfermarias e recepções 250
Salas de aula, assembléias 350
Biblioteca – sala de leitura 250
Biblioteca – sala de estante de livro a ser determinado em cada caso
Depósitos a ser determinado em cada caso
Arquibancadas 400
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3. Resistência ou capacidade de carga do solo

A determinação da tensão admissível, resistência ou capacidade de carga do solo fs


consiste no limite de carga que o solo pode suportar sem se romper ou sofrer deformação
exagerada. Para obras de vulto sujeitas à carga elevadas só pode ser realizada por empresas
especializadas, que além do estudo do subsolo, de um modo geral propõem sugestões para o
tipo de fundação mais adequado para que o binômio estabilidade-economia seja atendido
(veja item “2.2. Estudo do subsolo – Capítulo 1 - Planejamento das Construções”).
Para obras de pequeno vulto sujeitas a cargas relativamente pequenas, a resistência fs
do terreno poderá ser obtida por meio de tabelas práticas em função do tipo de solo (tabela 3).

Tabela 3: Tensão admissível no solo (fs) recomendada pela ABNT.

Tipo de solo Tensão admissível


(kgf/cm2)
a. Rocha viva, maciça sem laminação, fissuras ou sinal de
decomposição, tais como: gnaisse, granito, diábase e basalto. 100
b. Rochas laminadas com pequenas fissuras estratificadas, tais
como: xistos e ardósias. 35
c. Depósitos compactos e contínuos de matacões e pedras de
várias rochas. 10
d. Solo concrecionado. 8
e. Pedregulhos compactos e mistura de areia e pedregulho. 5
f. Pedregulhos soltos e mistura de areia e pedregulho. Areia
grossa compacta. 3
g. Areia grossa fofa e areia fina compacta. 2
h. Areia fina fofa. 1
i. Argila dura. 3
j. Argila rija. 2
k. Argila média. 1
l. Argila mole, argila muito mole, aterros. *
* são exigidos estudos especiais ou experiência local

4. Classificação das fundações

De acordo com a profundidade do solo resistente, onde está implantada a sua base, as
fundações podem se classificadas em:
• fundações superficiais (diretas): quando a camada resistente à carga da edificação
ou seja, onde a base da fundação está implantada, não excede a duas vezes a sua
menor dimensão ou se encontre a menos de 3 m de profundidade;
• fundações profundas (indiretas) são aquelas cujas bases estão implantadas a mais
de duas vezes a sua menor dimensão, e a mais de 3 m de profundidade.
O que caracteriza, principalmente uma fundação rasa ou direta é o fato da distribuição
de carga do pilar para o solo ocorrer pela base do elemento de fundação, sendo que, a carga
aproximadamente pontual que ocorre no pilar, é transformada em carga distribuída, num valor
tal, que o solo seja capaz de suportá-la (figura 2a). Outra característica da fundação direta é a
necessidade da abertura da cava de fundação para a construção do elemento de fundação no
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fundo da cava.
A fundação profunda, a qual possui grande comprimento em relação a sua base,
apresenta pouca capacidade de suporte pela base, porém grande capacidade de carga devido
ao atrito lateral do corpo do elemento de fundação com o solo (figura 2b). A fundação
profunda, normalmente, dispensa abertura da cava de fundação, constituindo-se, por exemplo,
em um elemento cravado por meio de um bate-estaca.

(a)

(b)

Figura 2: Fundação direta ou rasa (a) e indireta ou profunda (b).


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5. Fundações superficiais ou rasas ou diretas

Em projetos de construções rurais são usadas principalmente fundações diretas, tendo


em vista, que as cargas são relativamente pequenas, não exigindo da camada do solo de apoio
uma grande resistência.
As fundações diretas classificam-se em:

• blocos de fundações;
• baldrames;
• radier.

A seguir são apresentados os diferentes tipos de fundação direta para uma obra
simples composta de dois compartimentos (figura 3) e, em desenho tri-dimensional, as
possíveis soluções em fundação direta para um silo multicelular (figura 4).

¾ Fundação direta em blocos

O que caracteriza a fundação em blocos é o fato da distribuição de carga para o terreno ser
aproximadamente pontual, ou seja, onde houver pilar existirá um bloco de fundação
distribuindo a carga do pilar para o solo (figura 3a). Os blocos podem ser construídos de
pedra, tijolos maciços, concreto simples ou de concreto armado. Quando um bloco é
construído de concreto armado ele recebe o nome de sapata de fundação.

¾ Fundação direta em baldrame

A fundação em baldrame apresenta uma distribuição de carga para o terreno tipicamente


linear, por exemplo, uma parede que se apóia no baldrame, sendo este o elemento que
transmite a carga para o solo ao longo de todo o seu comprimento (figura 3b). Um baldrame
pode ser construído de pedra, tijolos maciços, concreto simples ou de concreto armado.
Quando o baldrame é construído de concreto armado ele recebe o nome de sapata corrida.

¾ Fundação direta em radier

A fundação em radier é constituída por um único elemento de fundação que distribui toda
a carga da edificação para o terreno, constituindo-se em uma distribuição de carga tipicamente
superficial (figura 3c). O radier é uma laje de concreto armado, que distribui a carga total da
edificação uniformemente pela área de contato. É usado de forma econômica quando as
cargas são pequenas e a resistência do terreno é baixa, sendo uma boa opção para que não seja
usada a solução de fundação profunda.
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Solução em Blocos
Forma da Fundação Forma Nível de Cobertura
B1−1,0x1,0 B2−1,0x1,0 B3−1,0x1,0
P1−0,2x0,2 P2−0,2x0,2 P3−0,2x0,2
P1−0,2x0,2 V1a−0,2x0,3 P2−0,2x0,2 V1b−0,2x0,3 P3−0,2x0,2

5,00m 5,00m

V4−0,2x0,3
V3−0,2x0,3

V5−0,2x0,3
5,20m

5,00m
L1 − D=0,1 L2 − D=0,1

B4−1,0x1,0 B5−1,0x1,0 B6−1,0x1,0


P4−0,2x0,2 P5−0,2x0,2 P6−0,2x0,2
V2a−0,2x0,3 V2b−0,2x0,3

P4−0,2x0,2 P5−0,2x0,2 P6−0,2x0,2

5,20m 5,20m

Forma Nível de Piso Corte Longitudinal

P1−0,2x0,2 C1a−0,2x0,3 P2−0,2x0,2 C1b−0,2x0,3 P3−0,2x0,2

0,10m
5,00m 5,00m

0,50m
2,90m
C4−0,2x0,3
C3−0,2x0,3

C5−0,2x0,3
5,00m

1,20m
2,00m
C2a−0,2x0,3 C2b−0,2x0,3

P4−0,2x0,2 P5−0,2x0,2 P6−0,2x0,2

0,50m
(a)

Solução em Baldrame
Forma da Fundação Forma Nível de Cobertura
0,60m
P1−0,2x0,2 V1a−0,2x0,3 P2−0,2x0,2 V1b−0,2x0,3 P3−0,2x0,2
Ba1−0,6x0,2

5,00m 5,00m
0,60m

V4−0,2x0,3
V3−0,2x0,3
Ba4−0,6x0,2
Ba3−0,6x0,2

Ba5−0,6x0,2

V5−0,2x0,3
5,20m

5,00m

L1 − D=0,1 L2 − D=0,1

V2a−0,2x0,3 V2b−0,2x0,3
Ba2−0,6x0,2
P4−0,2x0,2 P5−0,2x0,2 P6−0,2x0,2

5,20m 5,20m

Forma Nível de Piso Corte Longitudinal

P1−0,2x0,2 C1a−0,2x0,3 P2−0,2x0,2 C1b−0,2x0,3 P3−0,2x0,2


0,10m

5,00m 5,00m
0,50m
2,90m
C4−0,2x0,3
C3−0,2x0,3

C5−0,2x0,3
5,00m

0,20m

0,50m

C2a−0,2x0,3 C2b−0,2x0,3

P4−0,2x0,2 P5−0,2x0,2 P6−0,2x0,2

(b)
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Solução em Radier
Forma da Fundação Forma Nível de Cobertura

0,20m
11,00m
P1−0,2x0,2 V1a−0,2x0,3 P2−0,2x0,2 V1b−0,2x0,3 P3−0,2x0,2

0,20m 5,00m 5,00m

V4−0,2x0,3
V3−0,2x0,3

V5−0,2x0,3
5,20m

5,80m

5,00m
Ra1−11,0x5,8 L1 − D=0,1 L2 − D=0,1

V2a−0,2x0,3 V2b−0,2x0,3

P4−0,2x0,2 P5−0,2x0,2 P6−0,2x0,2

5,20m 5,20m

Forma Nível de Piso Corte Longitudinal

P1−0,2x0,2 C1a−0,2x0,3 P2−0,2x0,2 C1b−0,2x0,3 P3−0,2x0,2

0,10m
5,00m 5,00m

0,50m
2,90m
C4−0,2x0,3
C3−0,2x0,3

C5−0,2x0,3
5,00m

0,20m

0,50m
C2a−0,2x0,3 C2b−0,2x0,3

P4−0,2x0,2 P5−0,2x0,2 P6−0,2x0,2

Figura 3: Fundação em blocos (a), em baldrame (b) e em radier (c).

6. Dimensionamento de um bloco de fundação

Os blocos são fundações em concreto simples ou ciclópico e caracterizados por uma


altura relativamente grande em relação às dimensões da base, necessária para que trabalhem
essencialmente à compressão. Nas construções comuns os blocos são usados para cargas de
até 50000 kgf e, além disso, não é aconselhável o emprego de blocos em terrenos com
resistência inferior a 1 kgf/cm2 (0,1 MPa). Quando se deseja economizar material, pode-se
adotar o bloco com a forma escalonada.

Sendo fsolo a resistência do terreno (tensão admissível) e F a carga que chega ao bloco
pelo pilar, para que a tensão admissível não seja ultrapassada deve-se ter:

F
≤ fsolo
S
Portanto, a área da base pode ser calculada em uma primeira tentativa pela expressão:
F
S≥
fsolo
Como os blocos são geralmente quadrados, temos para o lado B do quadrado:
B= S
Quanto à altura dos blocos experiências recomendam adotar a expressão:
H = 0,85(B − b)
sendo: B = dimensão da base do bloco e b = dimensão do pilar.
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Figura 4: Silo multicelular com possíveis soluções de fundação direta.


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7. Fundações Profundas

Quando o solo compatível com a carga da edificação se encontra a mais de 3m de


profundidade é necessário recorrer às fundações profundas, sendo três os tipos principais:

• estacas
• tubulões
• caixões

¾ Estacas de fundação

São elementos alongados, cilíndricos ou prismáticos que se cravam (figuras 7 e 8),


com um equipamento, chamado bate-estaca (figuras 9 e 10), ou se confeccionam no solo de
modo a transmitir às cargas da edificação a camadas profundas do terreno (figura 6).
Estas cargas são transmitidas ao terreno através do atrito das paredes laterais da estaca
contra o terreno e/ou pela ponta (figura 5).
Existe hoje uma variedade muito grande de estacas para fundações. Com certa
freqüência, um novo tipo de estaca é introduzido no mercado e a técnica de execução de
estacas está em permanente evolução. A execução de estacas é uma especialidade da
engenharia.

Entre os principais materiais empregadas na confecção das estacas se pode citar:

• madeira;
• aço;
• concreto (pré-moldadas e moldadas “in situ”).

As estacas também são classificadas em estacas de deslocamento e estacas escavadas.


As estacas de deslocamento são aquelas introduzidas no terreno através de algum processo
que não promova a retirada do solo. Enquadram-se nessa categoria as estacas pré-moldadas de
concreto armado, as estacas de madeira, as estacas metálicas, as estacas apiloadas de concreto
e as estacas de concreto fundido no terreno dentro de um tubo de revestimento de aço cravado
com a ponta fechada, sendo as estacas tipo Franki o exemplo mais característico dessas
últimas.
As estacas escavadas são aquelas executadas “in situ” através da perfuração do terreno
por um processo qualquer, com remoção de material. Nessa categoria se enquadram entre
outras as estacas tipo broca, executada manual ou mecanicamente e as do tipo “Strauss”.
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Figura 6: Estaca de concreto moldada "in


situ”.
Figura 5: Mecanismo de resistência da
fundação profunda.

Figura 7: Estaca de madeira.


Figura 8: Estaca de concreto pré-moldado.

Figura 9: Bate-estaca de queda livre. Figura 10: Bate-estaca de martelo diesel.


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¾ Estacas de madeira

As estacas de madeira são empregadas nas edificações desde a antigüidade.


Atualmente, diante das dificuldades de se obter madeiras de boa qualidade, sua utilização é
bem mais reduzida.
As estacas de madeira nada mais são do que troncos de árvores, bem retos e regulares,
cravados normalmente por percussão, isto é golpeando-se o topo da estaca com pilões
geralmente de queda livre. No Brasil a madeira mais empregada é o eucalipto, principalmente
como fundação de obras provisórias. Para obras definitivas tem-se usado as denominadas
“madeiras de lei” como por exemplo a peroba, a aroeira, a maçaranduba e o ipê.
A duração da madeira é praticamente ilimitada, quando mantida permanentemente
submersa. No entanto, se estiverem sujeitas à variação do nível d’água apodrecem
rapidamente pela ação de fungos aeróbicos, o que deve ser evitado aplicando –se substâncias
protetoras como sais tóxicos à base de zinco, cobre ou mercúrio ou ainda pela aplicação do
creosoto. Neste tipo de tratamento recomenda-se o consumo de aproximadamente 15 kg de
creosoto por m3 de madeira tratada quando as estacas forem cravadas em terra.
Durante a cravação a cabeça da estaca deve ser munida de um anel de aço de modo a
evitar o seu rompimento sob os golpes do pilão. Também é recomendado o emprego de uma
ponteira metálica para facilitar a penetração da estaca e proteger a madeira.
Do ponto de vista estrutural, a carga admissível das estacas de madeira depende do
diâmetro e do tipo de madeira empregado na estaca. Pode-se no entanto, adotar como ordem
de grandeza, os valores apresentados na tabela 4.

Tabela 4: Cargas admissíveis usualmente adotadas em estacas de madeira.

Diâmetro (cm) Carga (kN)


20 150
25 200
30 300
35 400
40 500

¾ Estacas metálicas

As estacas metálicas são constituídas principalmente por peças de aço laminado ou


soldado tais como perfis de seção I e H, como também por trilhos, geralmente reaproveitados
após sua remoção de linhas férreas, quando perdem sua utilização por desgaste.
A principal vantagem das estacas de aço está no fato de se prestarem à cravação em
quase todos os tipos de terreno, permitindo fácil cravação e uma grande capacidade de carga.
Sua cravação é facilitada, porque, ao contrário dos outros tipos de estacas, em lugar de fazer
compressão lateral do terreno, se limita a cortar as diversas camadas do terreno.
Hoje em dia já não existe preocupação com o problema de corrosão das estacas
metálicas quando permanecem inteiramente enterradas em solo natural, porque a quantidade
de oxigênio que existe nos solos naturais é tão pequena que a reação química tão logo
começa, já acaba completamente com esse componente responsável pela corrosão. Entretanto,
de modo a garantir a segurança a NBR 6122 exige que nas estacas metálicas enterradas seja
descontada a espessura de 1,5 mm de toda sua superfície em contato com o solo, resultando
uma área útil menor que a área real do perfil. A carga máxima atuante sobre a estaca é obtida
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multiplicando-se a área útil pela tensão admissível do aço fc = fyk/2 onde fyk é tensão
característica à ruptura do aço da estaca.

Figura 11: Área útil de estaca metálica.

A tabela 5 apresenta a carga para alguns perfis e trilhos fabricados pela CSN
(Companhia Siderúrgica Nacional), calculada com σc = fyk/2 = 120 MPa. A utilização de
trilhos velhos como estacas só é possível quando a redução do peso não ultrapassar 20% do
teórico e nenhuma seção tenha área inferior a 40% da área do trilho novo.

Tabela 5: Cargas máximas em estacas metálicas completamente enterradas.

Tipo de perfil Denominação Área (cm2) Peso (N/m) Carga máxima (kN)
H 6”x 6” 47,3 371 400
Perfis laminados I 8”x 4” 34,8 273 300
ª 5
CSN (1 alma) I 10”x 4 /8” 48,1 377 400
I 12” x 51/4” 77,3 606 700
TR 25 31,4 246,5 250 (200)
Trilhos TR 32 40,9 320,5 350 (250)
(CSN) TR 37 47,3 371,1 400 (300)
TR 45 56,8 446,5 450 (350)
TR 50 64,2 503,5 550 (400)
TR 57 72,6 569,0 600 (450)
Nota: Os valores entre parênteses referem-se a trilhos velhos com redução máxima de peso de
20% e nenhuma seção com redução superior a 40%.

¾ Estaca de concreto

As estacas de concreto podem ser pré-moldadas ou concretadas no local.

a) Estacas pré-moldadas de concreto

São largamente usadas em todo o mundo possuindo como vantagens em relação as


concretadas no local um maior controle de qualidade tanto na concretagem, que é de fácil
fiscalização quanto na cravação, além de poderem atravessar correntes de águas subterrâneas
o que com as estacas moldadas no local exigiriam cuidados especiais.
Podem ser confeccionadas com concreto armado ou protendido adensado por
centrifugação ou por vibração, este de uso mais comum. Tanto nas estacas vibradas quanto
nas centrifugadas a cura do concreto é feita a vapor, de modo a permitir a desforma e o
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transporte da mesma no menor tempo possível. Tendo em vista que a cura a vapor só acelera
o ganho de resistência nas primeiras horas, mas não diminui o tempo total necessário para que
o concreto atinja a resistência final, as estacas devem permanecer no estoque pelo menos até
que o concreto atinja a resistência de projeto.
A seção transversal dessas estacas é geralmente quadrada, hexagonal, octogonal ou
circular, podendo ser vazadas ou não.
A carga máxima estrutural das estacas pré-moldadas é em geral indicada nos catálogos
técnicos das empresas fabricantes, no entanto a carga admissível só poderá ser fixada após a
análise do perfil geotécnico do terreno e sua cravabilidade.
Para não onerar o custo de transporte das estacas, desde a fabrica até a obra, o seu
comprimento é limitado a 12m. Por isso, quando se precisar de estacas com mais de 12m as
peças devem ser emendadas. Essas emendas podem ser constituídas por anéis metálicos ou
por luvas de encaixe tipo ”macho e fêmea” quando as estacas não estivem sujeitas a esforços
de tração tanto na cravação quanto na utilização (figura 12), ou em caso contrário, emenda do
tipo soldável, como indicada na figura 13, onde a altura h e a espessura e da chapa são função
do diâmetro da armadura longitudinal e do diâmetro da estaca.

Figura 12: (a) Emendas por anel metálico e (b) emendas por luvas.

Figura 13:Emenda tipo soldável em estaca pré-moldada.


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Existem vários processos para cravação das estacas pré-moldadas, no entanto qualquer
que seja o processo, utilizado em geral de modo a facilitar a passagem da estaca pelas diversas
camadas do terreno, no final a estaca será sempre cravada por percussão. Para tanto, utiliza-se
um tipo de guindaste especial chamado de bate-estaca que pode ser dotado de martelo
(também chamado de pilão) de queda livre ou automático também denominado martelo
diesel. Para amortecer os golpes do pilão e uniformizar as tensões por ele aplicadas à estaca,
instala-se no topo desta um capacete dotado de “cepo” e “coxim” conforme é mostrado na
figura 14.

Figura 14: Detalhe do capacete da estaca.

b) Estacas concretadas “in situ”

Existe uma grande variedade de tipos de estacas concretadas no local, diferenciadas


entre si, principalmente, pela forma que são escavadas e pela forma de colocação do concreto.
De um modo geral crava-se um tubo de aço até a profundidade prevista pela sondagem
geotécnica, enchendo–se com concreto que vai sendo apiloado até que se retire o tubo. Entre
os vários tipos existentes destacam-se as estacas tipo Franki e as estacas tipo Strauss.
A estaca tipo Franki usa um tubo de revestimento cravado dinamicamente com a
aponta fechada por meio de bucha e recuperado após a concretagem da estaca. O concreto
usado na execução da estaca é relativamente seco com baixo fator água-cimento, resultando
em um concreto de slump zero, de modo a permitir o forte apiloamento previsto no método
executivo. O concreto com estas características deve atingir fcc28 ≥ 20 MPa e o controle
tecnológico do concreto durante a execução da estaca deve prever retirada regular de corpos-
de-prova, para serem ensaiados a 3, 7 e 28 dias, iniciando-se ao se executar as primeiras
estacas, e continuar para cada grupo de 15 ou 20 estacas executadas. A armação da estaca é
constituída por barras longitudinais e estribos que devem ter dimensões compatíveis com o
diâmetro do tubo e do pilão. A execução de estacas tipo Franki, quando bem aplicada,
praticamente não sofre restrições de emprego diante das características do subsolo, salvo
casos particulares como aqueles constituídos por espessas camadas de solo muito mole. A
tabela 6 apresenta as cargas admissíveis usuais adotadas em projetos de rotina das estacas tipo
Franki executadas pelas empresas que atuam no mercado brasileiro. A adoção dessas cargas
depende da análise dos elementos do projeto, podendo ser diminuídas ou aumentadas em
projeto de condições especiais.
Técnica das Construções Edmundo Rodrigues 49
Tabela 6: Dados básicos para projeto das estacas tipo Franki.

φ 30 35 40 52 60
L 15 18 22 30 35
Qc (kN) 450 550 800 1300 1700
Qt (kN) 85 100 130 240 270
L – profundidade máxima recomendável
Qc – carga admissível de compressão
Qt – carga admissível de tração

A seguir são relacionados alguns aspectos da estaca tipo Franki, que fazem parte do
método de execução, e que a diferencia dos outros tipos de estacas concretadas no local
contribuindo para a elevada carga de trabalho da estaca:

• a cravação com ponta fechada isola o tubo de revestimento da água do subsolo, o


que não acontece com outros tipos de estaca executada com ponta aberta;
• a base alargada dá maior resistência de ponta que todos os outros tipos de estaca;
• o apiloamento da base compacta solos arenosos, bem como, aumenta o diâmetro
da estaca em todas as direções, aumentando sua a resistência de ponta. Em solos
argilosos o apiloamento da base expele a água da argila, que é absorvida pelo
concreto seco da mesma, consolidando e reforçando seu contorno;
• o apiloamento do concreto contra o solo para formar o fuste da estaca compacta o
solo e aumenta o atrito lateral;
• o comprimento da estaca pode ser facilmente ajustado durante a cravação.

Figura 15: Fases de execução da estaca tipo Franki.


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As estacas tipo Strauss foram projetadas, inicialmente, como alternativa às estacas
pré-moldadas cravadas por percussão devido ao desconforto causado pelo processo de
cravação, quer quanto à vibração ou quanto ao ruído. O processo é bastante simples,
consistindo na retirada de terra com sonda ou piteira e, simultaneamente, introduzir tubos
metálicos rosqueáveis entre si, até atingir a profundidade desejada e posterior concretagem
com apiloamento e retirada da tubulação. Por utilizar equipamento leve e econômico a estaca
tipo Strauss possui as seguintes vantagens:

• ausência de vibrações e trepidações em prédios vizinhos;


• possibilidade de execução da estaca com o comprimento projetado;
• possibilidade de verificar durante a perfuração, a presença de corpos estranhos no
solo, matacões, etc, permitindo a mudança de locação antes da concretagem;
• possibilidade da constatação das diversas camadas e natureza do solo, pois a
retirada de amostras permite comparação com a sondagem à percussão;
• possibilidade de montar o equipamento em terrenos de pequenas dimensões;
• autonomia, importante em regiões ou locais distantes.

Como principais desvantagens das estacas tipo Strauss podemos citar:

• quando a pressão da água for tal que impeça o esgotamento da água no furo com a
sonda, a adoção desse tipo de estaca não é recomendável;
• em argilas muito moles saturadas e em areias submersas, o risco de seccionamento
do fuste pela entrada de solo é muito grande, e nesses casos esta solução não é
indicada;
• é indispensável um controle rigoroso da concretagem da estaca de modo a não
ocorrer falhas, pois a maior ocorrência de acidentes com estas estacas devem-se a
deficiências de concretagem durante a retirada do tubo.

As estacas tipo Strauss podem ser armadas ou não. No caso das estacas não armadas, o
concreto utilizado deve ter um consumo mínimo de 300 kgf/m3, consistência plástica
(abatimento mínimo de 8 cm) e fcck de 15 MPa. Já o concreto das estacas armadas deve ter
um abatimento mínimo de 12 cm e fcck de 15 MPa. Não deverá ser utilizada a pedra 2,
mesmo se necessário executivamente. A tabela 7 apresenta as cargas admissíveis para estacas
tipo Strauss não armada de acordo com a NBR 6122 em função do diâmetro externo do tubo
de revestimento. A carga de trabalho será fixada após análise do perfil geotécnico do terreno.

Tabela 7: Cargas admissíveis em estacas tipo Strauss não armadas.

Diâmetro externo do revestimento (cm) 22 27 32 42 52


Carga admissível estruturalmente (kN) (NBR 6122) 200 300 400 700 1070

c) Tubulões de fundação

Os tubulões são elementos estruturais de fundação profunda, geralmente, dotados de


uma base alargada, construídos concretando-se um poço revestido ou não, aberto no terreno
com um tubo de aço de diâmetro mínimo de 70cm de modo a permitir a entrada e o trabalho
de um homem, pelo menos na sua etapa final, para completar a geometria da escavação e
Técnica das Construções Edmundo Rodrigues 51
fazer a limpeza do solo. Divide-se em dois tipos básicos: os tubulões a céu aberto,
normalmente, sem revestimento e não armados no caso de existir somente carga vertical e os
a ar comprimido ou pneumático. Os tubulões a ar comprimido são sempre revestidos,
podendo esse revestimento ser constituído de uma camisa de concreto armado ou por uma
camisa metálica. Neste caso a camisa metálica pode ser recuperada ou não. São utilizados em
solos onde haja a presença de água e que não seja possível esgotá-la. O fuste do tubulão é
sempre cilíndrico enquanto a base poderá ser circular ou em forma de falsa elipse. Deve-se
evitar trabalho simultâneo em bases alargadas de tubulões, cuja distância entre centros seja
inferior a duas vezes o diâmetro ou dimensão da maior base, especialmente quando se tratar
de tubulões a ar comprimido.

Figura 16: Geometria de um tubulão de fundação.

Quando comparados a outros tipos de fundações os tubulões apresentam as seguintes


vantagens:

• os custos de mobilização e de desmobilização são menores que os de bate-estacas


e outro equipamentos;
• as vibrações e ruídos provenientes do processo construtivo são de muito baixa
intensidade;
• pode-se observar e classificar o solo retirado durante a escavação e compará-lo às
condições do subsolo previstas no projeto;
• o diâmetro e o comprimento do tubulão pode ser modificado durante a escavação
para compensar condições do subsolo diferentes das previstas;
• as escavações podem atravessar solos com pedras e matacões, sendo possível
penetrar em vários tipos de rocha;
• é possível apoiar cada pilar em um único fuste, em lugar de diversas estacas,
eliminando a necessidade de bloco de coroamento.

Em tubulões ar comprimido (figura 17), seja de camisa de aço ou de camisa de


concreto, a pressão máxima de ar comprimido empregada é de 3,4 atm (340 kPa), razão pela
qual esses tubulões têm sua profundidade limitada a 34m abaixo do nível do mar. Em
qualquer etapa da execução deve-se observar que o equipamento deve permitir que se atenda,
rigorosamente, os tempos de compressão e descompressão previstos pela boa técnica e pela
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legislação em vigor, só se admitindo trabalhos sob pressões superiores a 150 kPa quando as
seguintes providências forem tomadas:

• estar à disposição da obra equipe permanente de socorro médico;


• estar disponível na obra câmara de descompressão equipada;
• existir na obra compressores e reservatórios de ar comprimido de reserva;
• que seja garantida a renovação do ar, sendo o ar injetado em condições
satisfatórias para o trabalho humano

Figura 17: Construção de um tubulão a ar comprimido.


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d) Caixões de fundação

Os caixões como o próprio nome sugere é um grande caixão impermeável à água, de


seção transversal quadrada ou retangular que tem as paredes laterais pré-moldadas. Este tipo
de fundação profunda é destinado a escorar as paredes da escavação e impedir a entrada de
água enquanto vai sendo cravado no solo. Terminada a operação o caixão passa a fazer parte
da infra-estrutura. São utilizados, por exemplo, como fundação de um pilar de ponte em que a
substituição de dois ou mais tubulões por um caixão que os envolva seja mais econômica.

Falta o desenho

Figura 18: Forma esquemática de um caixão de fundação.

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