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Neste Artigo:

- Evolução da Medicina Fetal


- Exames e Tratamentos Feitos Ainda no Útero
- Diagnóstico Pré-Natal de Infecções Congênitas
- Quadro das Infecções que Podem Atingir o Feto

"Há alguns anos a medicina abriu as portas para a possibilidade de diagnosticar a saúde de
uma criança mesmo quando ela ainda está na barriga da mãe. Alguns exames são obrigatórios
para qualquer gestante e outros, recomendados apenas quando há antecedentes familiares de
doenças ou se a mulher tem mais de 35 anos".

Evolução da Medicina Fetal

A evolução da medicina fetal vem ocorrendo de forma muito rápida. Desde os anos 80, quando
foram feitos os primeiros relatos de médicos na França, sobre procedimentos do exame
denominado "cordocentese", novas técnicas surgiram. O exame consiste em, sob
monitorização do ultra-som, introduzir uma agulha no abdome materno para puncionar o
cordão umbilical, no intuito da coleta de sangue fetal. Através desta técnica os franceses
abriram as portas para verificar o grau de anemia fetal (causada pela incompatibilidade Rh) e
com isto poder realizar transfusões sangüíneas e salvar fetos, que sem a terapia não
sobreviveriam. Atualmente, é possível realizar exames muito mais sofisticados e precisos, tanto
na área de diagnose como, em alguns casos, cirurgias fetais intra-útero. E com o advento de
novas tecnologias, como o ultra-som tridimensional (3D), várias informações estão sendo
avaliadas no exame Morfológico Fetal.

"Apesar de ser quase uma novidade no Brasil, a Medicina Fetal, uma divisão da Obstetrícia, já
existe há décadas na Europa. Ela começou em 1974, depois em 1980 foi instituída a
fetoscopia, que é um ultra-som do bebê. Mas o grande marco surgiu em 1983 quando
descobriram que com uma agulha é possível retirar sangue do feto". De acordo com o
professor doutor José Carlos Gaspar Júnior, médico do Hospital Guilherme Álvaro, em Santos,
e proprietário da Clínica Profeto, a Medicina Fetal é recomendada para pacientes de risco. O
médico explica que a ciência atua em três frentes: prevenção, diagnóstico e tratamento. "Nós
fazemos um acompanhamento do feto, a pedido dos pais preocupados com o futuro filho. Mas
não cabe a nós decidir o futuro da criança. Eu sempre digo: essa é uma decisão do casal. Se o
filho tiver alguma anomalia nós contamos para o casal. A verdade é mais importante que a
desinformação", afirma.

O especialista expõe os grupos de gravidez considerados de risco: idade materna acima de 35


anos; consangüinidade (filho de primos, irmãos); doenças hereditárias; doença materna;
infecções maternas; exposição materna a medicamentos fortes; exposição excessiva a
radiação e ultra-som.

Exames e Tratamentos Feitos Ainda no Útero

Realizados sobretudo na primeira metade da gravidez, os exames pré-natais são a maneira


mais segura de diagnosticar doenças genéticas, congênitas e de má-formação do feto. Com as
novas tecnologias nesta área é possível detectar precocemente problemas que podem ser
corrigidos ainda no útero, a partir da vigésima semana de gestação, sem grandes riscos para a
mãe ou para o feto. "Outro ponto fundamental é que esses testes reduzem a tensão e a
angústia dos pais, geradas pelas incertezas em relação à saúde de seu filho", explica o médico
Thomas Gollop, professor de genética do Instituto de Biociências da Universidade de São
Paulo (USP). Conheça a seguir os exames mais modernos, saiba para que servem, como são
realizados, quem deve fazer, quando deve ser feito e quais são os tratamentos em caso de ser
detectado problemas.

- Exame - Sangue

Como é feito - Colhe-se o sangue em jejum para análise laboratorial.


O que detecta - Se a gestante tem ou já teve rubéola, toxoplasmose, HIV, citomegalovírus e
hepatite B.

Quem deve fazer - Todas as gestantes.

Quando - No primeiro trimestre. O resultado sai em um ou dois dias.

Tratamento - Usar medicamentos que evitem a transmissão do vírus para o feto.

- Exame - Translucência nucal

Como é feito - Por meio de ultra-som transvaginal ou abdominal mede-se a espessura da


região da nuca do feto.

O que detecta - Quando a medida superior a 2,5 milímetros, existe maior risco de haver
alterações cromossômicas, como a que caracteriza a síndrome de Down.

Quem deve fazer - Todas as grávidas antes dos 35 anos. Depois dessa idade, recomenda-se a
aminiocentese ou a biópsia de vilocorial.

Quando - Entre a décima e a 14ª semana. O resultado sai na hora.

Tratamento - Se a medida for superior a 2,5 milímetros, indicam-se os exames de


aminocentese ou a biópsia de vilocorial.

- Exame - Amniocentese e biópsia vilocorial.

Como é feito - No primeiro, o médico aspira, com uma agulha, parte do líquido amniótico. Na
biópsia, retiram-se fragmentos da placenta. Há, em média, 1% de risco de aborto, pois como
são invasivos, podem provocar contrações.

O que detecta - Alterações cromossômicas.

Quem deve fazer - Mulheres com menos de 35 anos com casos de doença cromossômica na
família ou que tenham tido exame positivo de translucência nucal, e todas as gestantes com
mais de 35 anos.

Quando - Entre a 14ª e a vigésima semana, para a aminiocentese, e, entre a décima e a 13ª
semana, para o vilocorial. O resultado sai no prazo de sete a quinze dias.

Tratamento - Não há nada a ser feito.

- Exame - Ultra-som morfológico.

Como é feito - Um exame de ultra-som demorado (de quarenta minutos a uma hora), realizado
apenas por especialista em medicina fetal.

O que detecta - Má-formação.

Quem deve fazer - Todas as gestantes.

Quando - Entre a 18ª e a 24ª semana. O resultado sai na hora.

Tratamento - Acompanhamento da gravidez para eventual antecipação do parto. Nesses


casos, o médico pode fazer cirurgias neonatais para correção da má-formação e até
transplantes de órgãos.

- Exame - Ecocardiografia fetal.

Como é feito - Por meio de ultrassom pélvico.


O que detecta - Má-formação cardíaca.

Quem deve fazer - Gestantes com histórico familiar de cardiopatia, portadoras de doenças
cardíacas congênitas ou que façam uso de antidepressivos.

Quando - A partir da vigésima semana. O resultado sai na hora.

Tratamento - No caso de arritmia do feto (doença mais comum), a mãe pode tomar remédios
ou até se submeter a cirurgias intra-uterinas.

- Exame - Ultra-som de terceira dimensão (3D)

Como é feito - Por meio de ultra-som pélvico que demora de cinqüenta minutos a uma hora.

O que detecta - Má-formação anatômica. Usa um programa de computador para dar volume à
imagem do feto.

Quem deve fazer - Gestantes com histórico familiar ou casais que tenham um filho com
problemas.

Quando - A partir da vigésima semana. O resultado sai na hora.

Tratamento - Dependendo do caso (obstrução de vias urinárias ou cistos no pulmão, por


exemplo) é possível operar o feto ainda no útero.

- Exame - Teste de sobrecarga

Como é feito - Exame de sangue realizado duas horas depois da ingestão de alta dose de
glicose.

O que detecta - Propensão para o diabetes.

Quem deve fazer - Obesas, mulheres com mais de 35 anos, quem já teve filhos que nasceram
com mais de 4 quilos, ou portadoras de candidíase crônica (o diabetes aumenta a incidência da
doença por deixar o meio vaginal mais ácido).

Quando - Entre a vigésima e a 24ª semanas. O resultado sai em um dia.

Tratamento - Submeter-se a uma dieta e tomar medicamentos.

Diagnóstico Pré-Natal de Infecções Congênitas

Toxoplasmose, rubéola e citomegalovirose são infecções transmitidas com maior freqüência ao


feto e o diagnóstico pré-natal pode ser realizado através de ultra-sonografia e análise de líquido
amniótico ou de sangue fetal. Durante o período de gestação, ocorre transmissão ao feto em
cerca de 40% dos casos de manifestação de toxoplasmose materna na forma aguda. Nesses
casos, o recém-nascido acabará manifestando a doença na forma clínica ou subclínica. Na
rubéola, o risco de acometimento fetal é controverso, mas superior a 50% no primeiro trimestre
da gestação. Na citomegalovirose, há risco de 30 a 40% do feto ser acometido durante a
gestação. "Atualmente, valoriza-se muito a coleta de líquido amniótico (amniocentese) nos
casos de suspeita de infecção fetal por citomegalovirose e toxoplasmose", diz o especialista
em medicina fetal Sang Choon Cha, coordenador do setor de exames fetais do Laboratório
Fleury, em São Paulo.

De acordo com o especialista, o líquido colhido serve para o isolamento do agente etiológico e
para detecção de DNA deste (PCR). A utilização simultânea do isolamento e da PCR aumenta
a confiabilidade dos resultados obtidos. Testes realizados no sangue fetal após a vigésima
segunda semana de gestação (hemograma, plaquetas, gama-GT, DHL, IGM total e específica
e isolamento do agente) podem também, diagnosticar infecção.
"O controle ultra-sonográfico deve ser rígido e realizado ao menos uma vez a cada trimestre da
gestação, quando há suspeita de infecção fetal", aconselha Sang Choon. O risco de
transmissão do Toxoplasma gondii, agente da Toxoplasmose, ao feto pode ser minimizado com
a administração de Espiramicina (Rovamicina, 3g ao dia), desde o momento da suspeita de
infecção.

Quadro das Infecções que Podem Atingir o Feto

Toxoplasmose Rubéola CMV


Agente Toxoplasma gondii Vírus (RNA) Vírus (DNA)
Risco de Maior no 3º. Trimestre Maior no 1º. Trimestre Toda a Gestação
Transmissão Fetal
Risco de Dano Fetal Maior no 1º. Trimestre Maior no 1º. Trimestre Toda a Gestação
Amniocentese PCR + Isolamento (Mais PCR + Isolamento (Menos PCR + Isolamento
(Após 15 Semanas) Utilizado) Utilizado) (Mais Utilizado)
Cordocentese (Após Hemograma, GGT, DHL, Hemograma, GGT, DHL, Hemograma, GGT, DHL,
22 Semanas) Plaquetas, IgM e Plaquetas, IgM e Isolamento Plaquetas, IgM e Isolamento
Isolamento (Menos (Mais Utilizado) (Menos Utilizado)
Utilizado)
Sinais Ultra- Hepatomegalia, Ascite, Microftalmia, Hidropisia, RCIU Hidrocefalia, Calcificações
sonográficos Hidrocefalia e Calcificações e Alterações Cardíacas Intra-cranianas, RCIU e
Intra-cranianas Hidropisia
Principais Seqüelas Hidrocefalia, Hepatoes- Catarata, Surdez e Lesão Lesão Ocular (uveíte),
plenomegalia e Lesão Cardíaca Micro/Hidrocefalia, Surdez
Ocular

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