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Trabalho de processamento de sinais biológicos

Mestrado em Bioengenharia
Prof. Alderico Rodrigues de Paula Jr.
Mestrando: Rafael Molina Góis

THE USE OF SURFACE ELECCTROMYOGRAPHY IN BIOMECHANICS


DE LUCA,C.J.
JOURNAL OF APPLIED BIOMECHANICS, 13(2):135-163, 1997

Este artigo explora os vários usos da Eletromiografia de superfície (EMGs) no campo da


biomecânica. Três grupos de aplicações são considerados:
1. Tempo de ativação muscular;
2. A relação Força/EMG;
3. O uso do sinal EMG como índice de fadiga.
O trabalho começa apresentando uma revisão de considerações técnicas para a coleta
EMG com máxima fidelidade e demonstrando os fatores que afetam a informação do
sinal obtido.

Introdução

“A EMG é uma musa sedutora porque provê fácil acesso aos processos fisiológicos que
levam o músculo a gerar força, produzir movimento e realizar as funções incontáveis que
permitem interagir com o mundo ao nosso redor.”

Atualmente a EMGs ainda é enigmática em diversos fatores, ela possui diversos usos e
aplicações, mas muitas limitações devem ser entendidas. Pelo fato da EMG ser tão
facilmente usada, muitos abusos são cometidos.
Quando é feita medidas EMG e de força algumas 5 questões (e subquestões) devem ser
realizadas:
1) O sinal EMG foi coletado e gravado com máxima fidelidade?
a) Qual a configuração, dimensão e características elétricas do eletrodo?
2) Como o sinal EMG deve ser analisado?
a) Qual o início e fim da coleta?
b) Qual são os parâmetros preferenciais para mensuração da amplitude do sinal?
c) Qual são os parâmetros preferenciais para mensuração da freqüência do sinal?
3) De onde se origina o sinal coletado?
a) Existe sinal oriundo de alguma musculatura vizinha?
b) O local de colocação do eletrodo na superfície corresponde ao músculo a ser
analisado?
c) Qual a quantidade de gordura entre o eletrodo e a superfície muscular?
4) O sinal coletado corresponde sempre ao mesmo ponto?
a) O comprimento do músculo é o mesmo durante todo o teste?
b) O padrão de recrutamento da unidade motora é constante ou varia entre
recrutamento e não recrutamento?
5) De onde a medida de força se origina?
a) Qual o estado de sinergismo e antagonismo muscular durante a tarefa?
b) As características do controle motor é a planejada durante a contração? Existe
mudança da força relativa entre os músculos durante a tarefa?
c) A força gerada pelo músculo é homogênea do inicio ao fim?

Fatores que afetam o sinal EMG e a força produzida pelo músculo

O autor descreve tais fatores agrupando-os nas seguintes categorias: causativo,


intermediário e determinístico.

Fatores causativos são aqueles que têm um efeito básico no sinal. São divididos em dois
grupos: extrínsecos e intrínsecos.
Os fatores causativos extrínsecos são aqueles associados com o eletrodo e seu
posicionamento na pele. Eles incluem:
1) Configuração do eletrodo
a) O tamanho da área do eletrodo determina o número de unidades motoras (UM)
ativas, detectadas em virtude do número de fibras musculares no local.
b) Distância entre os eletrodos.
2) Localização do eletrodo, no ponto motor ou na junção miotendínea, pois influencia a
característica da amplitude e freqüência do sinal.
3) Localização do eletrodo em relação a borda do músculo devido ao sinal proveniente da
musculatura vizinha.
4) Orientação dos eletrodos, já que isto altera a mensuração da velocidade de condução
do potencial de ação e consequentemente a freqüência e a amplitude do sinal.

Já os fatores causativos intrínsecos estão relacionados com características fisiológicas,


anatômica e biomecânica dos músculos. Diferentemente dos fatores causativos
extrínsecos, não há como serem controlados, devido á limitações de conhecimento e
tecnologia. Eles incluem:
1) O número de unidades motoras ativas, em particular no momento da contração, que
contribuem para a amplitude do sinal detectado.
2) A composição do tipo de fibra do músculo analisado, já que determina mudanças no
ph do fluido intersticial durante a contração.
3) A aporte sanguíneo do músculo, pois determina a taxa de remoção de metabólitos
durante a contração.
4) Diâmetro da fibra, que influencia a amplitude e a velocidade de condução do potencial
de ação que constitui o sinal.
5) A profundidade e localização das fibras ativas durante a contração.
6) Quantidade de tecido entre o eletrodo e o músculo analisado.
7) Outros fatores.

Os fatores intermediários representam fenômenos físicos e fisiológicos que são


influenciados por um ou mais fatores causativos e tornam a influenciar os fatores
determinísticos. São eles:
1) Aspectos do filtro passa-banda do eletrodo.
2) Volume do eletrodo, determina o tamanho e número de potenciais de ação de UM que
compõem o sinal.
3) Superposição de potenciais de ação no sinal detectado, já que influencia a
característica da amplitude e freqüência do sinal.
4) Contaminação do sinal por sinal oriundo de musculatura vizinha.
5) Velocidade de condução do potencial de ação pela membrana da fibra muscular.
6) Relação espacial entre a fibra ativa e o eletrodo.

Os fatores determinísticos são aqueles que têm uma influência direta sobre a informação
no sinal EMG e na força analisada. Eles incluem:
1) Número de UM ativas.
2) Contração reflexa rápida da UM.
3) Interação mecânica entre as fibras musculares.
4) Taxa de disparo da UM.
5) Número de unidades motoras detectadas
6) Amplitude, duração e formato do potencial de ação da UM.
7) Estabilidade do recrutamento das UMs.

Detecção e processamento do sinal eletromiográfico

O sinal detectado e gravado tem máxima fidelidade? Como deve ser analisado o sinal?
Para sinal eletromiografico detectado durante contração voluntária o valor root-mean-
squareed (rms) (média das raízes quadradas) é o mais apropriado porque representa a
força do sinal e demonstra com clareza aspectos físicos.

Recomendações:
1) Configuração do eletrodo
• Superfície de detecção com duas barras paralelas: cada uma com 1cm de
comprimento, 1-2 mm de largura, 1 cm de espaço entre elas.
• Entre outras configurações técnicas.

2) Localização do eletrodo na linha média do comprimento do músculo, entre a junção


miotendínea e a região da zona de inervação, com a zona de detecção orientada
perpendicularmente à fibra do músculo. Usar mapas de zonas de inervação ou
estimulação elétrica para verificação.
3) Uso do valor rms do sinal para mensuração da amplitude do sinal.

Tempo de contração
4) Medir o tempo de ativação em todos os tipos de contrações
5) Limitar a resolução do tempo ON-OFF em 10 ms quando fizer comparações entre
indivíduos e entre músculo (devido ao tempo do pontecial de ação do ponto motor chegar
ao eletrodo).
6) Estar certo de que o sinal é proveniente do músculo que se deseja analisar e não do
visinho, usar técnicas diferenciais.

Relação força/sinal EMG


7) Usar contração isométrica
8) Quando tiver que usar contração anisométrica, faça em baixa velocidade e interprete os
resultados com cautela.
9) Se houver repetitivas contrações anisometricas, escolha porções específicas do ciclo
(ADM) para se comparar.
10) Para normalisar os resultados da EMG com torque usar valores menores que 80% da
contração voluntária máxima (CVM) acima disso os dados da EMG são muito instáveis.
11) Ao mensurar a contração voluntária máxima, faça 3 repetições de 5 segundos com
intervalo de 2m, assumindo o maior valor

Índice de fadiga
12) É preferível usar a freqüência mediana como índice de fadiga calculada a partir do
sinal EMG no domínio da freqüência. Mas a média também pode ser usada.
13) Para calcular as variáveis utilizar contrações isométricas, força constante e maior que
30% da CVM.
14) Quando fizer comparações entre sujeitos, usar eletrodos semelhantes e ficar atento
para colocá-los em posicionamentos equivalentes.

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