Você está na página 1de 5

AGRUPAMENTO de ESCOLAS JOSÉ CARDOSO PIRES

direccao@eb23-jose-cardoso-pires.rcts.pt

Rua António Nobre – Casal de S. Brás Telefone – 214 987 770 Fax – 214 987 775

CÓDIGO – 170719

EB1/JI A-da-Beja / EB1/JI Casal da Mira


 / EB1/JI José Garcês
 / EB1/JI Moinhos da Funcheira
 / EB23 José Cardoso Pires

Ficha de Avaliação Sumativa de Língua Portuguesa

7º ano Fevereiro
2010/2011

Texto

“- Perguntas-me o que é que me fizestes, velho Wang-Fô? - disse o Imperador.

A voz dele era tão doce que dava vontade de chorar. Ergueu a mão direita, que os reflexos
no pavimento de jade faziam parecer verde como uma planta submarina, e Wang-Fô,
maravilhado como tamanho daqueles dedos delicados, esquadrinhou a memória para ver se
não teria desenhado do Imperador, ou dos seus antepassados, retrato medíocre que o fizesse
merecer a morte. Mas não era provável, porque até aqui Wang-Fô pouco tinha frequentado a
corte dos imperadores, preferindo as cabanas dos rendeiros, ou, nas cidades, as tabernas
dos cais onde praguejam os carrejões.

- Perguntas-me o que é que me fizeste, velho Wang-Fô?, recomeçou o Imperador,


inclinando o pescoço encarquilhado para o velho que o ouvia. Vou dizer-to. O meu pai reuniu
uma colecção de pinturas tuas no fundo do palácio e foi nessas salas que eu fui criado, velho
Wang-Fô, porque não me deixavam sair, com medo de que visse os infelizes e me afligisse o
espírito ou agitasse o coração. Tirando um ou outro velho criado que aparecia o menos
possível, a ninguém mais era permitido entrar nos meus domínios, não fosse quem passasse
conspurcar-me com a sombra. De noite, quando não conseguia dormir, ficava a olhar os teus
quadros e, durante dez anos, não houve uma só noite em que eu os não tenha contemplado.
De dia, sentado num tapete de que já sabia de cor todos os desenhos, descansando as mãos
nos meus joelhos de seda amarela, eu imaginava o mundo - com o país de Han no meio -
semelhante à planície côncava e monótona da mão profundamente atravessada pelos Cinco
Rios. A toda a sua volta, o mar onde os monstros nascem e, mais longe ainda, as montanhas
onde assenta o céu. Tudo isto eu imaginava com a ajuda dos teus quadros. Aos dezasseis
anos reabriram-se as portas que me separavam do mundo; subi ao terraço do palácio para
ver as nuvens, mas elas não se comparavam com as dos teus crepúsculos. Mandei vir uma
liteira; sacudido através de estradas atulhadas de lama e de pedras com que eu não
contava, percorri as províncias do Império sem encontrar os teus jardins repletos de
mulheres parecidas com flores e as tuas florestas cheias de antílopes e de pássaros. Os
calhaus da beira-mar fizeram com que eu me enjoasse dos oceanos; a fealdade das aldeias
impede-me de ver a beleza dos arrozais e o riso áspero dos meus soldados dá-me vómitos.
Mentiste-me, Wang-Fô, velho aldrabão: o reino de Han não é o mais maravilhoso dos reinos e
não sou eu o Imperador. O único império onde vale a pena reinar é aquele onde tu entras,
velho Wang, pelo caminho das Mil Curvas e das Dez Mil Cores. Só tu reinas em paz sobre
planícies onde a neve não derrete e sobre campos de flores que nunca morrerão. E é por
isso, Wang-Fô, que eu encontrei o suplício que te estava reservado, a ti cujas pinturas me

1
fizeram detestar o que possuo e desejar o que jamais possuirei. E, para te fechar na única
prisão de onde não poderás sair, decidi queimar-te os olhos, já que os teus olhos são as tuas
portas mágicas por onde tu penetras no teu reino. E, já que as tuas mãos são as duas
estradas de dez ramificações, que vão até ao coração do teu império, também decidi
cortar-te as mãos. Percebes tu agora, velho Wang-Fô?”

Marguerite Yourcenar, “Comment Wang-Fô fut Sauvé”, Paris, Gallimard, 1979; A Fuga de Wang-Fô, trad.port. Luís Miguel Nava,
Lisboa, Contexto, 1983.

1. Diz se as seguintes afirmações são verdadeiras (V) ou falsas (F):

a) Wang- Fô ia, habitualmente, à corte dos imperadores.

b) O Imperador cresceu cercado de súbditos.

c) O Imperador olhava as pinturas de Wang-Fô desde manhã até à noite.

d) As pinturas de Wang-Fô despertavam doces sonhos no Imperador.

e) A primeira vez que o Imperador viu o mundo, tinha dezoito anos.

f) O Imperador não sabia da existência dos arrozais.

g) Quando saiu pela primeira vez, o Imperador constatou que a China era o mais belo dos
Impérios.

1.1. Corrige as falsas.

2. Responde, agora, às seguintes questões, utilizando palavras tuas:

a) Por que motivo foi o Imperador criado nas salas mais secretas do palácio?

b) De que cor era o vestuário do Imperador? Justifica a tua resposta com uma expressão
do texto?

c) A que compara o Imperador o Império da China?

d) A que compara o Imperador as mulheres?

e) Com que contrastam as aldeias?

f) Explica o sentido desta frase “… a ti cujas pinturas me fizeram detestar o que possuo e
desejar o que jamais possuirei.”

g) Descreve o mundo real com que o Imperador se deparou quando saiu pela primeira vez
do seu palácio.

3. Baseado na leitura do texto, dá um sinónimo para as seguintes palavras:

a) crepúsculo

b) atulhadas

c) fealdade

d) suplício

II

2
Funcionamento da Língua

Atenta nas seguintes frases:

1) Os soldados rugiram.

2) Ataram as mãos de Wang-Fô.

3) O sangue manchou a roupa do seu mestre.

4) Wang-Fô respondeu ao Imperador.

5) Wang-Fô limpou as lágrimas.

6) Durante o Inverno, nevou bastante no reino dos Han.

7) Wang-Fô sorriu.

8) Um criado mostrou os pincéis ao Wang-Fô.

9) Para agradar ao seu Mestre, Ling fazia o que era possível.

10) Wang –Fô acrescentou à superfície do mar uma pequena ondulação.

11) O silêncio era tão profundo.

12) O mar é belo.

13) A mão direita reflectida no pavimento de jade parecia verde.

1. Seguindo o exemplo dado, preenche o seguinte quadro com os verbos destacados no


texto segundo a subclasse a que pertencem:

Intransitiv Transitivo Transitivo Transitivo Copulativo Impessoal


o Directo Indirecto Directo e
Indirecto

2. Rescreve o seguinte texto, substituindo as expressões sublinhadas por pronomes:

“ O Imperador estava zangado com Wang-Fô porque Wang-Fô tinha mentido ao


Imperador. Assim, o Imperador decidiu mandar cortar as mãos e queimar os olhos a
Wang-Fô. Perante este castigo, o discípulo Ling interpôs-se entre os guardas imperiais
e o seu mestre, mas os guardas imperiais cortaram a cabeça a Ling.

3. Diz qual a função sintáctica da expressão sublinhada na seguinte frase: “Perguntas-me


o que foi que me fizeste, velho Wang-Fô?”

3
4. Refere a função sintáctica dos elementos que compõem a seguinte frase:

“Ling massajava os pés ao seu mestre.”

Ling;

Massajava os pés ao seu mestre;

Os pés;

Ao seu mestre.

4.1. Reescreve a frase substituindo os complementos que identificaste pelos


respectivos pronomes.

5. Refere a que classes pertencem as palavras destacadas na seguinte frase:

“- Perguntas-me o que é que me fizeste, velho Wang-Fô?, recomeçou o Imperador,


inclinando o pescoço encarquilhado para o velho que o ouvia. Vou dizer-to.”

III

Imagina que és Wang-Fô e que o imperador te dá a oportunidade de apresentares


argumentos para a tua defesa. Escreve um texto (entre 70 a 140 palavras) em que
apresentes esses argumentos (podes usar o conhecimento que tens de toda esta
história).

a) Começa por elogiar o Imperador;

b) Admite que criaste um outro reino diferente do real e porque o criaste assim;

c) Convence o Imperador de que ele também pode ver o mundo real desta forma.

4
Ana Ester Rodrigues

Você também pode gostar