As cidades antigas eram regidas pelos oráculos; as
modernas são por mídias.
Na similitude citadina, há sempre a conveniência dos
corpos e as analogias sobre como se vive numa cidade.
A vida mundana nas cidades adquire formas geométricas
ou aritméticas.
Às formas matemáticas de uma cidade correspondem
suas ecologias – que podem parecer distorcidas ou não de acordo com as nuanças midiáticas.
Há cidades visíveis e invisíveis (bem ao gosto de Ítalo
Calvino) na pós-modernidade. Toda cidade tem sua mídia, seu discurso político, sua geografia. Mas, hoje, são para poucos humanos e mais para as máquinas. 2
Entender como vivem os homens em uma cidade se
torna cada vez mais complicado, sobretudo quando esta tem mais de quatrocentos.
Uma das formas de reconhecimento das cidades é
verificar – na ecologia, a união entre ética e filosofia experimentada nas relações estabelecidas entre os cidadãos. A ecologia é um conceito que atravessou a modernidade e chegou á vida contemporânea como um método de entendimento da ocupação da Terra Pátria (conceito caro a Morin), da maneira como os homens e mulheres exercitam a sinestesia em suas comunidades.
Para quem vive em João Pessoa no pretérito dos anos,
deve ter percebido algumas mudanças ecológicas no tocante às relações sociais, ao meio ambiente e à subjetividade de seus habitantes. Essas ecologias – como no ensina Félix Guattari, em seu livro, As três ecologias, se entrelaçam para construir a harmonização entre a moral e a ética.
Um das funções da ecologia é apresentar a desarmonia
entre as formas do habitat humano. Por isso, podemos estabelecer três “ecologias da injunção” que definem a João Pessoa contemporânea.
A ecologia midiática é a primeira forma para
compreender – através de analogias – a imagem de João Pessoa – de cidade jardim, pacata e ordeira (nos anos 90) a uma das capitais mais violentas do Brasil.
Na ecologia midiática predomina a difusão de fatos
sociais violentos pelos veículos de comunicação de massa.
A retroalimentação constante da cultura informacional, a
partir da naturalização da violência, é a forma pela qual a ecologia midiática transforma liberdade pública em medo mercantilizado.
A segunda ecologia imposta a João Pessoa se traduz na
perda de nossas calçadas – na transformação da rua em espaço privado. 3
As nossas calçadas estão poluídas e precisam de uma
nova ordem ecológica que valorize a rua como um campo de trocas simbólicas – no qual os contratos sociais são recriados a cada movimento dos transeuntes.
A terceira problemática ecológica está relacionada com
os corpos de homens e mulheres que habitam João Pessoa: corpos em delito na ecologia midiática, trôpegos na falta de uma ecologia para as nossas calçadas, rígidos na ecologia do corpo-máquina.
A ecologia do corpo não está dissociada da ecologia da
mídia, sequer da ecologia das calçadas. Ambas se completam. A ecologia de uma cidade em harmonia forma a Ecosofia: a nova ciência que une ética e filosofia.