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Mídia, corpos e calçadas:


as ecologias da cidade

Wellington Pereira

As cidades antigas eram regidas pelos oráculos; as


modernas são por mídias.

Na similitude citadina, há sempre a conveniência dos


corpos e as analogias sobre como se vive numa cidade.

A vida mundana nas cidades adquire formas geométricas


ou aritméticas.

Às formas matemáticas de uma cidade correspondem


suas ecologias – que podem parecer distorcidas ou não de acordo
com as nuanças midiáticas.

Há cidades visíveis e invisíveis (bem ao gosto de Ítalo


Calvino) na pós-modernidade.
Toda cidade tem sua mídia, seu discurso político, sua
geografia. Mas, hoje, são para poucos humanos e mais para as
máquinas.
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Entender como vivem os homens em uma cidade se


torna cada vez mais complicado, sobretudo quando esta tem mais
de quatrocentos.

Uma das formas de reconhecimento das cidades é


verificar – na ecologia, a união entre ética e filosofia experimentada
nas relações estabelecidas entre os cidadãos.
A ecologia é um conceito que atravessou a modernidade
e chegou á vida contemporânea como um método de entendimento
da ocupação da Terra Pátria (conceito caro a Morin), da maneira
como os homens e mulheres exercitam a sinestesia em suas
comunidades.

Para quem vive em João Pessoa no pretérito dos anos,


deve ter percebido algumas mudanças ecológicas no tocante às
relações sociais, ao meio ambiente e à subjetividade de seus
habitantes. Essas ecologias – como no ensina Félix Guattari, em seu
livro, As três ecologias, se entrelaçam para construir a harmonização
entre a moral e a ética.

Um das funções da ecologia é apresentar a desarmonia


entre as formas do habitat humano. Por isso, podemos estabelecer
três “ecologias da injunção” que definem a João Pessoa
contemporânea.

A ecologia midiática é a primeira forma para


compreender – através de analogias – a imagem de João Pessoa –
de cidade jardim, pacata e ordeira (nos anos 90) a uma das capitais
mais violentas do Brasil.

Na ecologia midiática predomina a difusão de fatos


sociais violentos pelos veículos de comunicação de massa.

A retroalimentação constante da cultura informacional, a


partir da naturalização da violência, é a forma pela qual a ecologia
midiática transforma liberdade pública em medo mercantilizado.

A segunda ecologia imposta a João Pessoa se traduz na


perda de nossas calçadas – na transformação da rua em espaço
privado.
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As nossas calçadas estão poluídas e precisam de uma


nova ordem ecológica que valorize a rua como um campo de trocas
simbólicas – no qual os contratos sociais são recriados a cada
movimento dos transeuntes.

A terceira problemática ecológica está relacionada com


os corpos de homens e mulheres que habitam João Pessoa: corpos
em delito na ecologia midiática, trôpegos na falta de uma ecologia
para as nossas calçadas, rígidos na ecologia do corpo-máquina.

A ecologia do corpo não está dissociada da ecologia da


mídia, sequer da ecologia das calçadas. Ambas se completam.
A ecologia de uma cidade em harmonia forma a
Ecosofia: a nova ciência que une ética e filosofia.

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