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cionada]. O que importa para o Robison mática, na qual um conhecimento privado po-
Crusoé não é se ele está concordando deria ser base para uma ciência do comporta-
consigo mesmo, mas se ele está chegan- mento, desde que gerasse previsão e controle.
do a algum lugar com seu controle sobre
a natureza”. (Skinner, 1945, p. 552) Dois Modos de Produção de
Conhecimento em Análise do
Adotando uma postura alternativa de ope- Comportamento (AC): Análise
racionismo, Skinner (1945) teria defendido um Experimental (AEC) e Interpretação
critério diferente de produção e validação do do Comportamento
conhecimento científico, desvinculado da possi- Donahoe (1993) retoma algumas obras de
bilidade de observação pública. A classificação Skinner para sugerir que uma ciência do com-
de Skinner e da própria análise do comportamen- portamento teria dois modos de produzir e vali-
to como pragmatista é ampla (e.g., Abib, 2001a; dar conhecimento:
Baum, 1999; Borba & Tourinho, 2009; Carrara,
1998; Delprato & Midgley, 1992; Lattal & Laipple, Para Skinner, ciência consiste em dois
2003; Lopes, 2007; Moxley, 2001; Tourinho, 1993, empreendimentos inter-relacionados. O
1996; Tourinho & Neno, 2003), mas não necessa- primeiro é a análise experimental do ob-
jeto de estudo da ciência. Para que sejam
completamente atingidas as exigências
Parece vigorar uma interpretação da análise experimental, todos antece-
de que o behaviorismo radical de dentes eficazes do evento em estudo
Skinner teria não só abdicado do devem ser independentemente manipu-
critério de observação pública, mas lados ou controlados (ou, tais condições
também demonstrado a fragilidade precisam ser aproximadas, como na me-
cânica celeste) e os eventos em si devem
e a ineficiência de tal critério,
ser diretamente observados e mensura-
tornando-o descartável, juntamente dos [ênfase adicionada]. O segundo as-
com o behaviorismo “meramente” pecto do empreendimento científico é
metodológico. a interpretação. Na interpretação, prin-
cípios induzidos da análise experimental
e circunscritos por considerações formais
riamente simples (Abib, 2001b; Leigland, 2004; (i.e., lógica/matemática) são utilizados
Malone, 2004; Micheletto, 1997, 1999). O pen- para fornecer uma perspectiva dos even-
samento Skinneriano é rico em adoções simultâ- tos que ocorrem sob condições que fo-
neas ou consecutivas de posições incompatíveis, gem à análise experimental. (p. 453)
o que acaba gerando uma grande dificuldade
de classificá-lo teórica e filosoficamente (Abib, O método experimental, instrumento básico
2001b; Martin, 1978; Moxley, 1998). Contudo, adotado no âmbito da AEC, exigiria a observa-
mesmo reconhecendo a complexidade de suas ção pública para que fosse possível a replicação
propostas, parece vigorar contemporaneamente dos resultados (Dinsmoor, 2003; Sidman, 1976;
uma interpretação de que o behaviorismo radical Skinner, 1938, 1966), colocando sob controle
de Skinner teria não só abdicado do critério de social a construção do conhecimento científico.
observação pública, mas teria também demons- A partir desse método e desses pressupostos
trado a fragilidade e a ineficiência de tal critério, filosóficos, edificaram-se, ainda nos anos 1930
tornando-o descartável, juntamente com o beha-
viorismo “meramente” metodológico.
Aparentemente, pelo menos no
O objetivo deste ensaio é refletir sobre essa
classificação maniqueísta entre um behavio- âmbito da AEC, o critério de verdade
rismo metodológico que teria a verdade por por consenso público, um dos pilares
consenso público como critério de verdade e do behaviorismo metodológico, foi
um behaviorismo radical que teria abandonado mantido intacto, a despeito da crítica
esse critério, adotando uma perspectiva prag- de Skinner ao seu uso.