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Extraído de http://www.blogdojanguie.com.br/crescimento-so-com-reducao-de-gastos/ em
12 mar. 2011.
Os gastos do governo têm sido o maior fator de pressão sobre a inflação, depois dos preços
internacionais das commodities e dos alimentos, e os cortes anunciados não são suficientes
para reduzir essa pressão segundo economistas que participaram do seminário Cenários da
Economia Brasileira e Mundial em 2011, promovido pela Fundação Getulio Vargas (FGV)
e pelo Valor.
Alexandre Schwartsman, economista-chefe do Banco Santander, calculou que o corte de
gastos de R$ 50 bilhões anunciado pelo governopara o Orçamento de 2011 vai representar
apenas 0,2 ponto percentual de redução nos gastos como fatia do Produto Interno Bruto
(PIB). Para ampliar o efeito, a redução deveria ficar entre R$ 80 bilhões e R$ 100 bilhões,
disse Schwartsman, de forma que atingisse uma fatia entre 1 ponto percentual a 1,5 ponto
percentual do PIB, magnitude semelhante à média da expansão fiscal dos últimos anos.
Mesmo com o corte anunciado, o Orçamento de 2011 vai subir R$ 64 bilhões, de R$ 655
bilhões no ano passado para R$ 719 bilhões. Com isso, o gasto governamental vai passar de
17,9% do PIB em 2010 para 17,7%, o que segundo Schwartsman "é muito pouco
comparadocom o que a gente precisa".
O economista alertou para a piora das expectativas de inflação, a despeito do corte
anunciado, e ressaltou que, mesmo com a exclusãode alimentos e preços administrados, a
alta geral de preços é perceptível, o que faz com que apenas 40% dos analistas consultados
pela pesquisa semanal do Banco Central acreditem em uma inflação no centro da meta.
"Estamos permitindo um descolamento das expectativas", frisou Schwartsman,
"Há um consenso de que o ajuste fiscal tem que ser aprofundado, a dosagem tem que ser
maior, tem que ser implementado com eficiência", disse Carlos Geraldo Langoni, diretor do
Centro de Economia Mundial da FGV.
Langoni reiterou que o melhor momento para cortar despesas é agora. "É mais fácil cortar
gastos na bonança, quando a economia está crescendo e não esperar uma recessão". O
economista da FGV disse que entre 2003 e 2010, o Brasil construiu um "colchão de
liquidez internacional" e que agora o objetivo deveria ser construir um "colchão fiscal",
fazendo com que as despesas do governo crescessem a um ritmo bem mais lento,
reforçando o superávit primário dos cerca de 2,5% do PIB atuais para 3% a 3,5%, o que
permitiria zerar o déficit nominal.
"O ajuste fiscal é difícil em qualquer economia", afirmou Langoni, reiterando que a
diferença a favor do Brasil é que o país tem hoje uma "situação excepcional", com
expansão econômica que significa crescimento de receitas em termos reais em uma
velocidade maior que o aumento das despesas. "Então o governo pode sim dar uma freada
na despesa e acumular rapidamente essa gordura fiscal que é fundamental", afirmou.
Para o coordenador de análises econômicas da FGV, Salomão Quadros, o novo governo
poderia avançar ainda mais na discussão, não apenas cortando gastos para voltar ao centro
da meta de inflação de 4,5%, mas apontar para uma redução ainda maior da meta e da
banda de variação em um ou dois pontos nos próximos dois a três anos.
Também foi consenso entre os economistas no seminário de que o Brasil não pode fazer
muito para conter a pressão dos preços internacionais das commodities e dos alimentos.
"Os preços internacionais das commodities agrícolas estão em uma trajetória de forte
elevação, com variação de 45% nos últimos 6 meses", constatou Luiz Awazu Pereira,
diretor da Área Internacional do Banco Central (BC)