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Assuntos tratados

1º horário
 Infração penal
 Conceito de crime: formal, material, analítico

2º Horário
 Estudo do conceito analítico de crime: Tipicidade, ilicitude, culpabilidade, punibilidade
 Conduta.
 Sujeito ativo
 Referência

1º HORÁRIO

TEORIA DO CRIME

1. Infração penal
No Brasil, adotamos uma classificação bipartida. Por força do Decreto-Lei 3.914/41 (Lei de
Introdução ao Código Penal), a infração penal seria o gênero do qual temos duas espécies: crime
(ou delito) e contravenção.

O art. 1º do LICP diferencia crime da contravenção no tocante à sanção. Enquanto crime pode ser
apenado com reclusão, detenção e/ou multa; a contravenção só poderá ser punida com prisão
simples e/ou multa. Assim, concluímos que crime é mais grave que contravenção penal.

Crime
Infração Penal
Contravenção Penal

Diferenças entre uma e outra: art.1º da lei de introdução ao Código Penal. Crime: a) Reclusão,
detenção e multa; b) Contravenção: prisão simples e/ou multa.

2. Conceito de crime
a) Conceito material de crime: considera-se o bem jurídico protegido, levando-se em conta o
princípio da insignificância (termo cunhado por Klaus Roxin, para quem o direito penal não se
preocupa com migalhas). Crime seria o comportamento humano que vem a ofender um bem
penalmente protegido.

b) Conceito formal de crime: considera-se a lei penal. Crime é o comportamento que viola a lei
penal. Aqui, reforça o princípio da reserva legal, princípio da intervenção mínima: garantismo
social; principio da irretroatividade, principio da fragmentariedade, analogia (para favorecer, sim;
para prejudicar, não), Princípio da ultima ratio.

Todo comportamento contrário à lei, que ofenda um bem jurídico. Pelo principio da insignificância
(ou crime de bagatela) não serão crimes os comportamentos insignificantes, que não ofendam
efetivamente o bem jurídico.

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O STF entende não ser possível aplicar o principio da insignificância à lei de drogas. Também não
se aplica o princípio da insignificância quando na prática do crime houver violência a pessoa.

No conceito forma, também temos a questão da analogia e da interpretação analógica:


- Analogia: comparam-se duas condutas e aplica em uma delas a norma referente à outra
conduta. Ou seja, há uma lei pra a situação A e temos uma situação B que se aproxima muito
da situação A. Nesse caso, utiliza-se a lei feita para A na situação B. Ela só pode ser utilizada
a favor do réu.
- Interpretação analógica: “a lei diz menos do que queria”. O legislador cria mecanismo genérico
e é feita a adequação da conduta a essa regra genérica. Esta sempre pode existir no direito
penal mesmo que venha a prejudicar o réu.

c) Conceito analítico ou estratificado:

- Conceito bipartido de crime: crime seria um fato típico e antijurídico. Obs.: aqui culpabilidade
seria pressuposto de pena.

- Conceito tripartite de crime: crime seria um fato típico, antijurídico e culpável (é o conceito
majoritariamente aceito).

- Conceito quadripartite de crime: crime seria um fato típico, antijurídico, culpável e punível.

Assim, majoritariamente entende-se como crime: crime = fato típico + ilícito + culpável.

c.1. Fato Típico:

O fato típico é composto por: 1) Conduta; 2) Resultado; 3) Nexo causal; 4) Tipicidade.

Assim, no fato típico encontramos esses quatro elementos, sendo que, faltando um deles, o fato
não será típico, a saber:

c.2. Antijuridicidade: revela que não basta que o fato seja típico, ele tem de ser também
antijurídico. A antijuridicidade é a ilicitude do fato. Fato antijurídico é aquele ilícito.

Excludentes de ilicitude (art. 23, CP): 1) Legítima Defesa; 2) Estado de Necessidade; 3) Exercício
Regular de um Direito.

A antijuridicidade é a conduta que vai de encontro ao ordenamento jurídico lesando-o. Podem ser
as causas de excludentes de ilicitude divididas em:
- Legais → são previstas na lei. Dividem-se em genéricas (art. 23 do CP) e específicas (art. 128
do CP como exemplo).
- Supralegais → Ex.: consentimento do ofendido. O professor observa que para tal causa ser
válida, deve haver os seguintes pressupostos: a) capacidade de consentimento; b) dever ser o
bem jurídico disponível (bens jurídicos que interessam exclusivamente ao indivíduo); c) o
consentimento deve ser anterior ou contemporâneo ao ato lesivo. Atenção: se o consentimento
da vítima não afetar o verbo do tipo, será considerado excludente supralegal de ilicitude, caso
contrário será uma causa de exclusão de tipicidade (ex.: caso de consentimento no caso do
art. 213 do CP).

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c.3. Culpabilidade: nada tem a ver com dolo e culpa. Trata-se de culpabilidade em sentido amplo,
no sentido de censura ou reprovação, são seus elementos:
- imputabilidade  possibilidade de imputar a alguém a prática de um crime. A alguns a lei
exclui de responderem pela prática do crime; são os inimputáveis, a saber: a) menores de 18
anos (art. 228, CF e art. 27, CP); b) doentes mentais (art. 26, caput, CP); c) embriaguez
completa, acidental proveniente de caso fortuito e força maior (art. 28, 1º, CP);
- potencial conhecimento da ilicitude  art. 21, CP. O artigo 3º da LICC e art. 21, CP dizem que
ninguém pode alegar desconhecer a lei. Obs.: Erro de Direito e Erro de Proibição é a forma de
descaracterizar a idéia de reprovação. O sujeito sabe o que está fazendo, mas não sabe que
aquilo que está fazendo é proibido por lei. Ex.: sujeito que achou uma carteira de dinheiro na
rua e se apoderou da mesma por pensar que “achado não é roubado”.
- Exigibilidade de conduta diversa  art. 22, CP, aquele que age sob coação moral irresistível
ou em obediência à ordem não manifestadamente ilegal (este caso é conhecido como
“obediência hierárquica”).

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3. Análise do conceito analítico de crime

Fato típico

Conduta
a) O que é? Conduta é o comportamento descrito no tipo penal.

b) Qual predicado mais importante? A conduta deve ser necessariamente voluntária.

c) A conduta não será voluntária quando decorrer de:

- Movimentos reflexos;
- Força irresistível;
- Estado de inconsciência (ex.: hipnose, sonambulismo);
- Coação física irresistível;
- Caso fortuito e força maior.

d) Formas de exteriorização da conduta: como o agente pode desenvolver a conduta? Pode ser
por ação (crimes comissivos), por omissão/inação (crimes omissivos) ou por ação e omissão
(crime misto. Ex.: art. 169, II, CP). Os crimes omissivos por sua vez podem ser próprios (ou
puros) e impróprios (ou comissivos por omissão). Naqueles, há uma tem tipologia própria, ou
seja, descrição na lei da forma de omissão, ex.: art. 135, art. 229 todos do CP. Na verdade,
são crimes de mera-conduta, pois o legislador apenas descreveu a conduta sem fazer alusão
ao resultado naturalístico. E sendo de mera conduta, não admitem tentativa. Esses crimes
representam uma quebra do dever geral de proteção.
Obs.: Mera conduta: só descreve a conduta. Formais ou de consumação antecipada: a lei
descreve um resultado, mas o crime se consuma exclusivamente com a conduta, se ocorrer o
resultado será ele mero exaurimento.

Já os crimes omissivos impróprios serão sempre crimes que exigem um resultado, admitindo
assim, a tentativa. Eles não têm tipologia própria, ou seja, devemos conjugar o crime com a
previsão de garantidor do art. 13, § 2º, CP. A expressão crime comissivo por omissão decorre do

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fato de que são idealizados para serem praticados por ação, mas que são, na realidade,
praticados por omissão. Esse crime representa a quebra do dever especial de proteção.

Para que tenhamos o dever especial de agir, há a exigência dos seguintes requisitos:
1. Dever de agir → garantidor;
2. Poder de agir → condição física que possibilita o agir;
3. Evitabilidade do resultado → o agente só responderá pelo resultado se for comprovado que
este não teria ocorrido se ele tivesse agido. Ou seja, o comportamento dele evitaria a
produção do resultado.

Crimes omissivos próprios ou puros Crimes omissivos impróprios ou impuros


tem tipologia própria não tem tipologia própria
crime de mera conduta crime de resultado
não admite tentativa admite tentativa
quebra do dever geral de cuidado quebra do dever especial de cuidado.

Art. 13 (...)
Relevância da omissão

§ 2º − A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir


para evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem:
a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância; [exemplo do
carcereiro que não presta socorro ao detento que clamava por ajuda]
b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado; [exemplo
daquele que se compromete a olhar a criança enquanto seu pai vai mergulhar no
mar]
c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado.
[exemplo do trote em calouros de medicina em SP]

A imputação pelo artigo 13 pode ser tanto dolosa como culposa dependendo do que o agente quis
ao se omitir. Se ele quis o resultado será doloso e, se não queria, será culposo.

- Crime culposo comissivo: o exemplo do servir água infectada sem saber. Qual a tipificação?
Nesse caso a doutrina manda tipificar conforme a conduta mais próxima. Como a conduta mais
próxima da vítima foi dar a água, logo, vai ser culposo comissivo
- Crime comissivo por omissão: exemplo do que coloca um remédio no meio de confetes e o vê
sendo servido a uma criança e se omite. Nesse caso a conduta mais próxima é a omissão.
- Art. 121, § 4: (exemplo de abrir a porta rápido atingindo quem estava do outro lado e vendo esta
agonizando vai embora) há duas condutas, a primeira, de abrir a porta (comissiva) e a segunda
(omissiva). Nesse caso, observa-se a questão da conduta mais próxima e por isso será homicídio
culposo com aumento de pena. Obs.: art. 121, § 4º, essa regra é especial e prevalece sobre o
geral. Da mesma forma, temos o art. 129, § 7º, CP.

4. Sujeito ativo e passivo

Sujeito ativo

Pessoa Jurídica:
Alguns, com base na Teoria da Ficção e com fundamento no art. 173, § 5º, CF, dizem que não é
possível punir criminalmente a pessoa jurídica. Outros, com base na Teoria da Realidade e com

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fundamento no art. 225, § 3º, CF, dizem que haveria previsão para punição de pessoa jurídica.
Obs.: a Lei 9.605 nos seus artigos 21 e ss. prevêem pena de multa e prestação de serviços.

Teorias da pessoa jurídica:

- Ficção - 80% da doutrina a aceita com fundamento no art. 173, § 5º, CF; dizem que não é
possível punir criminalmente a pessoa jurídica;
- Orgânica: as pessoas jurídicas têm vida própria independente dos seus quadros sociais.
Assim, poderia a PJ cometer crimes. Ex: art. 225, § 3º, CF;
- Teoria da realidade: adotada no Brasil, segundo o art. 173, § 5º, CR/88 (para os que a
admitem) e art. 226, § 3º, CR/88 (para os que não a admitem).

Em caso de banco é admitido que a pessoa jurídica pratica crime, em consonância com a Lei nº.
9.605/98. Não se pune a pessoa jurídica isoladamente, deve haver a punição dos agentes que
agem em nome daquela.

Direito de intervenção (por Hassamer) → Mescla entre direito penal e direito administrativo
Malgrado a resposta afirmativa sobre a responsabilidade penal da pessoa jurídica, ela só se
presta para os crimes previstos na CR/88.

Classificação dos crimes em razão da qualidade do sujeito ativo:


- Crimes comuns: qualquer pessoa pode praticá-lo. Ex.: art. 121, CP.
- Crimes próprios: apenas determinada categoria de pessoas podem praticá-lo, mas admitem a
co-autoria. Ex.: art. 312, CP, pode ser praticado apenas por funcionário público, que será o
“intrameio”, o eventual terceiro; co-autor será “extrameio”. São divididos em:
a) Puros: se houver a retirada da qualificação especial utilizada pelo legislador, a conduta se
transforma em conduta atípica. Art. 321 do CP.
b) Impuro: são delitos essenciais em sentido amplo. Art. 351 do CP.
- Crimes de mão própria: exige uma qualificação especial do agente, não se permitindo co-
autoria, apenas a participação. Ex.: art. 342, art. 124, CP.

Situações do SA frente às normas permissivas


- Art. 128, I e II – só beneficia o médico; assim, se a enfermeira fizer aborto, mesmo que seja
para salvar a gestante, ela não será beneficiada pelo art. 128, I.
- Art.142, I – só beneficia a parte e seus procuradores.
- Art. 181, I, III – Chamamos de excusas absolutórias que se aplica apenas aos cônjuges e
filhos.

Obs.: menor de 18 anos não é SA de crime e, sim, de ato infracional.

Normas penais permissivas → gerais: utilizada por qualquer indivíduo; especiais: utilizadas
apenas por determinados indivíduos previstos na própria norma.

Referência
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal.
NUCCI, Guilherme de Souza. Código de penal comentado.
TOLEDO, Francisco de Assis. Princípios básicos de direito penal.

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