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Viianny 1

♥ Sólo déjate
déjate amar ♥
Teresina, apartamento de Dulce, 12/09/08, 18h11

Chris: me disseram na promotoria que já tinha ido embora…

Dulce — abobada com o enorme buquê de rosas que ele trazia na mão, após
abrir a porta: é… é que eu… eu não tava mais com vontade de ficar lá…

Chris: posso entrar?

Dulce: ah, sim… Claro! Desculpa…

Chris entrou, deixando atrás de si uma Dulce totalmente aérea com toda
a situação. Após a conversa com Lawyse, parece que a ruiva deixou seu lado
mais emocional tomar de conta de sua mente e seu corpo. Acreditava ser um
erro, mas nada se conquista fácil. Além disso, os grandes acertos são
precedidos por erros, sendo estes grandes ou não. Estar ali é uma prova viva
disso.

Chris: algum problema?

Dulce: não, não… Senta. — ele o fez, sendo seguido por ela

Chris: essas rosas são pra você… — lhas entregou

Dulce: obrigada… — ficou olhando fixamente pras flores

Chris: Anny e Poncho? Como estão?

Dulce: bem. — tocando delicadamente nas flores

Chris: e tu? O que tem feito de novo?

Dulce: nada. — acompanhando com o dedo os contornos dourados do


embrulho das rosas

Chris: dá pra parar de agir que nem uma débil mental? — explodiu — Eu tô
aqui disposto a recuperar a nossa relação e tu fica aí nessa frescura toda! —
ela o olhou confusa

Dulce: como?

Chris: me escuta! — agarrou-lhe os ombros — Eu sei que errei te tratando


daquele jeito pelo telefone… e tô aqui tentando consertar o que fiz… mas me
ajuda também, né?

Dulce: o que você quer que eu faça? — se levantou bruscamente e começou a


gritar — Que eu coloque as flores num vaso? Que eu conte como foi o meu
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déjate amar ♥
estressante dia naquele inferno de promotoria sem a Anny? Que eu prepare o
seu banho quentinho enquanto escuto como está seu maravilhoso mundo
cirúrgico? Que eu me derreta de emoção cada vez que você mendiga um
elogio? Que eu deixe que você me use como um objeto sexual pra depois me
largar numa cama vazia? — começou a chorar sem parar

Chris: mas o que você tá dizendo? Enlouqueceu, é isso? — sem entender

Dulce: deixa ver se eu entendi. Tu vem até minha casa pra me chamar de
louca? É isso?

Chris: claro que não! Eu tô aqui por nós dois!

Dulce: e desde quando vai resolver isso me chamando de louca?

Chris: (pensando) nisso que dá namorar promotora… (falando) Olha, esquece


isso…

Dulce: ah, sim, claro… A louca sou eu mesmo, né? Pode deixar que eu
esqueço… — irônica

Chris: o que aconteceu pra tá me tratando assim?

Dulce: aconteceu que não o que vai ser da gente…

Chris: fala como se a gente fosse uma coisa qualquer… — olhou pra ela com
remorso, que recomeçou a chorar baixinho

Dulce: se eu pensasse que a gente era uma coisa qualquer… — parou um


instante para não engasgar com as lágrimas — não estaríamos hoje, agora
aqui… Além disso, uma coisa qualquer não causa tanta dor quanto isso
causa… — ele a olhou sério

Chris: se me dissesse o que se passa, eu saberia de que dor está falando…

Dulce: não é fácil falar… — olhou pela janela o movimento dos carros

Chris: tu não confia em mim… não me conhece… não me entende…

Dulce: e tu, Chris? Me conhece? Me entende? Já olhou pro mundo além do


umbigo?

Chris: eu sei que posso estar sendo egoísta, mas é que não consigo evitar! Tá
me deixando de mãos atadas! Não sei o que tem… também não quer me
dizer… quer que eu faça o que?

Dulce: calar a boca é suficiente?


Viianny 3

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Chris: tá certo, eu calo… mas não saio daqui até isso tudo se resolver… — ela
se sentou no sofá à sua frente

Dulce: desculpa, eu não queria tá sendo grosseira… Acho que tô pressentindo


que vamos acabar separados e tô tentando mudar a causa…

Chris: por que ao invés de tentar adivinhar o que vai acontecer não abre o
jogo? — ele sentou ao lado dela — O que você tem, meu amor? — abraçou-a
bem forte

Dulce: ainda sou o seu amor?

Chris: claro que é! — riu — Anda, abre esse coração…

Dulce: sabe o quanto é difícil pra eu aceitar isso? Eu já sofri muito por nossa
causa, Chris! Não quero passar por isso tudo de novo, não!

Chris: e nem vai passar… Dulce, eu não sei do que você tá falando… não faço
nem idéia… mas eu to aqui, amor… Por que não me conta? Desabafa
comigo… — quase implorando

Dulce: tá certo… — limpou as lágrimas — Talvez me odeie depois de saber de


tudo… Mas não consigo esconder mais isso… ainda mais contigo tão perto
assim… Chris, na primeira vez que a gente namorou… — respirou fundo — eu
fiquei grávida…

Chris — ele a afastou um pouco de si para encará-la diretamente: grávida? E


cadê o meu filho? Cadê nosso filho? — ela começou a chorar
desesperadamente — Responde, Dul!

Dulce: eu fiz um aborto… — falou entre as lágrimas

Chris: você o que? — ele se levantou aos poucos, tentando digerir a


informação

Dulce: eu já sei que não tenho perdão… que não há desculpas para essa
crueldade que fiz… eu já me culpo todo dia da minha vida desde aquele dia…
não precisa gastar saliva com isso…

Chris: espera que eu acho que não ouvi direito… — confuso — Você matou
nosso filho?

Dulce: se prefere falar assim… sim…

Chris: que espécie de monstro tu é? — assombrado — Como teve coragem de


matar o meu filho? — começou a chorar — Tu não tinha esse direito! Não
tinha! — disse gritando — Como teve coragem de olhar na minha cara depois
disso?
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Dulce: eu não tive! Por isso terminei contigo! — gritou também

Chris: ah, agora tudo faz sentido… Tu não presta mesmo… Como fui me
envolver contigo? Quem tu é afinal? Quem tá escondido atrás desse rostinho
bonito?

Dulce: cala a boca! — gritou

Chris: não tem o direito de me mandar calar a boca depois te tudo que me fez!
— gritando

Dulce: eu me arrependi, poxa! — começou a chorar mais ainda, se encolhendo


num canto do sofá

Chris: ah, muito bem… Se arrependeu! A princesa se arrependeu! Mas


arrependimento não traz meu filho de volta!

Dulce: eu sei… eu sei… eu sei… Só que eu me arrependi enquanto tava lá,


esperando tirarem meu filho! Sabe como doeu? Tu sabe o quanto eu sofri
naquele dia? Fui eu, Chris, fui eu que encontrei um sapatinho caído no chão e
que guardei até hoje! Fui eu que entrei naquela sala sem nem saber direito
aonde tava! Fui eu que fiquei segurando a droga do sapatinho enquanto
recebia uma anestesia! Fui eu que comecei a lembrar da minha mãe! Fui eu
que me desisti de fazer tudo aquilo, mas não pude fazer nada, nem me mexer!
Fui eu que senti cada segundo em que perdia meu filho! Sou eu que convivo
até hoje com essa dor horrível! Sou eu que sonho todo dia com ele! Sou eu que
de noite tomo remédio pra dormir e não pensar mais nessa dor! Tu nem
imagina o quanto que eu já passei… E agora enche a boca pra falar do teu
filho…

Chris: tu não tinha o direito de tirar ele de mim…

Dulce: eu sei que não tinha! Quando vai entender que me arrependi? Pára aí
pra pensar! Eu era uma adolescente! Só entendia de shopping e festas!

Chris: e por que não me contou tudo?

Dulce: não sei! Quando dei por mim, já estava lá, na sala de espera…

Chris: eu tenho que pensar… Não sei o que fazer… — saiu, batendo forte a
porta

Num ataque de fúria, ela pegou as rosas e jogou pela janela,


exatamente bem na entrada, no intuito de serem vistas por Chris. Ainda teve
tempo de separar uma delas. Queria pelo menos ter algo em mãos que lhe
lembrasse o quanto um dia foi amada… e que, infelizmente, esse dia teimava
em não se repetir…
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Deixou-se escorregar pela parede rumo ao chão… A sensação de
angústia desaparecera, mas em seu lugar quedou um simples e sombrio
vazio… Chorar era o mínimo e o máximo que podia fazer… Acomodou-e então
rente à parede, como a um bebê que espera o acolhimento da mãe durante a
madrugada.

Estoy perdido en el pasado. Todo lo que pudo ser. Estoy buscando sin
sentido el recuerdo de tu piel. Estoy cansado de amarte tanto y estas ganas de
volver… Junto a ti… [Estoy perdido – Luis Fonsi]

Anahí — gritando: Dulce! — acordou aflita do nada nos braços de seu amado

Alfonso: calma! Calma! — abraçou-a

Anahí: Dul tá precisando de mim… — tentou se levantar, mas foi impedida por
Poncho

Alfonso: nada disso! Tu tá muito pálida… primeiro tem que se acalmar…

Anahí: mas ela tá precisando de mim! — choramingando

Alfonso: silêncio, Anahí Herrera! — acomodou-a mais forte em seus braços


fortes — Já tá na hora do jantar… Quer que eu prepare algo especial?

Anahí: uhum… — dengosa

Alfonso: então deixa eu me vestir… — se levantaram

Anahí: não! Vamos bancar os naturistas hoje!

Alfonso: tá certo! Então vai lá se aquietar no sofá enquanto eu me viro… —


ele começou a caminhar em direção à cozinha

Anahí: gostoso!

Alfonso: só na sobremesa… — falou sem olhar pra trás

Anahí: pensei que fosse o prato principal… — ele se virou

Alfonso: o que tá tentando fazer?

Anahí: tô acendendo o fogo… — com cara de travessa — Ajudar pelo menos


nisso…

Alfonso: sei… sei… Então apaga o fósforo porque senão vamos morrer de
fome…
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Anahí: (pensando) ai, gatito! Se você soubesse que esse fósforo não apaga
nunca…

Parnaíba, casa de Anny, 12/09/08, 18h15

Anahí — gritando: Poncho, eu vou morrer de fome!

Alfonso: tô quase terminando… Espera só mais um pouquinho…

Anahí: mas é muita fome, gatito!

Alfonso: tá é com verme é? — rindo

Anahí: muito engraçado… — irônica

Alfonso: pronto! Vem aqui na cozinha… — ela atendeu ao pedido

Anahí: que cheiro bom, gatito… — caminhou até ele e lhe deu um chupão no
pescoço — Muito gostoso mesmo… — molhou os lábios com a língua

Alfonso: acho que não tô entendendo…

Anahí: simples… eu quero você…

Alfonso: mas e a comida?

Anahí: a comida fica pra sobremesa…

Alfonso: vai esfriar…

Anahí: a gente esquenta… — agarrou o pescoço dele e lhe tascou um beijo


bem molhado

Poncho a segurou no colo, levando-a pra sala de jantar.

Alfonso: então hoje eu vou jantar você… — disse com a voz bem sedutora,
enquanto a colocava em cima da mesa da sala de jantar

Rapidamente ele se posicionou em cima dela. Não queria perder


tempo… Se ela mostrara tanta libido, iria satisfazer suas vontades, logicamente
as mesclando com as suas… Como já estavam completamente despidos, o
simples toque das intimidades já provocava turbilhões de sentimentos dos mais
obscenos pensáveis… Anny começou a lhe traçar caminhos nas costas,
enquanto Poncho se deliciava em seus delicados seios. Todos os movimentos
que ele executava, ela passava a imitá-lo usando as mãos. Era como se ela lhe
aplicasse a mesma dose de veneno, sem nem considerar que o simples fato de
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provocar prazer um no outro em si já acarretava uma sensação descomunal.
Ficaram por tempos nessa simples, mas demasiada provocação. Fazendo uma
casual comparação, se sentiam como numa arena dos antigos circos romanos,
nos quais homem e fera lutavam com as armas que detinham, sendo estas
naturais ou não. A luta aqui não era pra descobrir quem era o animal e o
gladiador dentre os dois, mas para saber qual seria o final dessa história…
Descobrir se a fera ganharia, se satisfazendo por completo com cada gota de
sangue que sua presa última derramasse ou se a vitória seria do humano, que
se contentava apenas em saber que seu objetivo enfim se realizara… Foi
nessa batalha de cargos em que um singelo barulho de apagão os encontrou.
Falando mais claramente, era assim que se encontravam quando o serviço de
luz elétrica de aparentemente toda a região foi interrompido. Nem ligaram para
a situação inicialmente. Só depois que a luz da lua profundamente clara
adentrou os aposentos que idéias foram surgindo nas mentes brilhantes dos
amantes. Olharam-se fixamente, como que tentando estabelecer alguma
conexão de pensamentos.

Instantaneamente, ele a agarrou pela mão em direção à porta.

Mesmo com alto grau de excitação, Poncho conseguiu guiar o carro até
Luis Correia, a pedido de Anny. A falta de energia também ocorrera nesta outra
cidade, facilitando o trajeto dos amantes pela diminuição do tráfego, apesar da
hora. Dirigiu então até o quebra-mar em uma das extremidades da praia de
Atalaia. Estacionou o carro na areia mesmo, somente suficientemente afastado
do mar.

A lua incrivelmente brilhante parecia crescer a cada segundo —


igualmente aos instintos dentro dos dois corpos ainda insaciados, criando certo
espectro de sedução e mistério. O homem sempre lutou contra o
desconhecido. O sabor do enigma se tornava cada vez mais concentrado e
viciador. Como uma rosa que vai expandindo os limites de sua formosura em
cada milímetro de raio que desabrocha. Só que, da mesma forma que a rosa,
o obscuro vai sendo aos poucos iluminado pela inquietude da mente humana.
Em um só instante, tudo se torna tão maleável que chega a ofender todos os
mecanismos que o alcançaram. E todo o desconhecido passa então a ser…
conhecido…

Com um orgasmo, no entanto, tudo isso parece se dissolver


instantaneamente. O encontro de duas fontes de prazer aflora inquietações
latentes, que se renovam a cada toque mais íntimo e desinteressado. Os
corpos encontram determinado ajuste num enlace espontâneo de membros e
lábios. Sensações celestiais delineiam as ações e omissões em cada estocada.
Uma energia descomunal e de origem incerta submerge em cada porção já
tocada. As línguas se exploram mutuamente numa dança indecifrável,
resultando em gemidos dos mais provocantes e arranhões dolorosos,
marcantes, extasiados… Sentir qualquer carícia lhe envolvendo enquanto a
cada segundo sua intimidade é mais ainda violada instiga uma sede por
liberdade… Mas não uma liberdade, e sim a liberdade mais tênue entre quatro
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paredes! Aquela na qual instantaneamente o domínio do ato é usurpado. Por
uma simples distração e através de um movimento brusco, os golpes passam a
ser comandados por outra fonte, de forma violenta e ultrajante em relação à
anterior. Como se toda uma disposição antes encarcerada fosse submetida à
prova por si mesma… Só que essa liberdade é tênue. Numa autêntica luta
corporal (sem interrupção das estocadas), o reinado pode entrar em crise ou
até só se soerguer. A batalha é então iniciada. Os pontos fracos são
claramente visados, causando espirais nos encontros dos dois órgãos sexuais.
O tesão vai se tornando mais tenso inclusive. Em várias tentativas, cavalgadas
resultantes elevam os ânimos ao extremo até agora alcançado. Os corpos
suados vão dando sinais de cansaço, todavia não agüentam parar com esse
duelo. Não é somente uma questão de supremacia. Trata-se também de uma
necessidade — surgida em meio à situação — de se esbaldar nessa agitação
agoniadora e se satisfazer até o limite, se ele existir… Por entre esses agitos
os dois caem inertes sobre os lençóis, inebriados de gozos furiosos e
relaxantes. E após tudo isso fica uma única certeza: mesmo depois de terem
descoberto mais essa forma de prazer, querem redescobri-la cada vez mais…

Exatamente isso estava acontecendo com Anny e Poncho. Estavam


deitados na areia, somente com os pés sendo banhados pelas ondas fracas
que vinham do mar. O solo gelado aumentava o fervor interno dos dois. Aquela
velha história de que os opostos se atraem, em relação ao sexo, perecia
funcionar… Os grãos de areia se agregavam aos corpos e causavam um atrito
prazeroso, provocante e desinibido. Ele, a cada beijo, suspirava palavras
ousadas no ouvido dela, arrancando-lhe sempre mais gemidos agudos. Sem
nem perceber já estão unidos e ofegantes pelas já estocadas bem freqüentes e
fortes. Mas mesmo assim continuavam a explorar o corpo um do outro, seja
com as mãos ou com a boca. Poncho lhe sugava os seios de forma
descompassada, talvez por um orgasmo recém atingido. Anny brincava
sensualmente com os mamilos dele, mordiscando-os lentamente. As pernas de
ambos vão executando movimentos quase involuntários, levando-os a
aumentar a intensidade das penetrações. Alguns dos gemidos são abafados
por beijos, ou até mesmo por novos gemidos…

Poncho levanta-se e a puxa rumo a uma das enormes pedras do


quebra-mar. Ele se senta e a faz se sentar em seu membro, continuando o
ciclo de golpes. Só que desta vez ela que assume o posto. Sentia a brisa
congelante em suas costas, enquanto se entregava ao mais primitivo dos
prazeres. Rapidamente alcançaram outro clímax. Porém prosseguiram com os
movimentos. O mar avançava lentamente, chegando a cobrir metade das
pernas de Poncho na areia. Essa sensação nova de desespero, como se
estivesse à beira de um naufrágio, o fez suspender o corpo de sua amada para
poder seguir com a tarefa ali em diante. Anny se sentia uma boneca de pano
ao ser arremessada contra a cintura dele, num gesto brusco e selvagem. Seus
seios se remexiam, tocando forçosamente a pele do busto de Poncho. Ela se
lhe agarrou ao pescoço, como uma forma de manter o equilíbrio. Em mais
alguns instantes, lá estavam os dois novamente, enlouquecidos por um novo
orgasmo.
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Teresina, apartamento de Dulce, 12/09/08, 22h13

Desde a saída de Chris, Dulce se recolhera ao chão. Chorara por horas,


até não ter mais vontade em momento algum de derramar uma lágrima sequer
por esse assunto e, principalmente, por ele. Pensar era o de menos agora. Até
porque já tinha tudo esclarecido em sua mente há tempos. Sabia muito
nitidamente o que queria pra sua vida a partir do dia seguinte à conversa
reveladora. Como se toda a estrada já estivesse demarcada, restando apenas
descobrir o marco zero.

A ruiva foi desperta pelo estrondeante videofone. Deveria ser sua mãe e
mais uma de suas crises de esquecimento. Já até se acostumara. Só que hoje
não estava a fim de agüentar mais uma daquelas entradas glamourosas
sucedidas de inúmeras desculpas. Sentia-se péssima ao ponto de não se
importar mais se soubessem ou não do ocorrido horas antes. Apenas arranjou
umas poucas forças para gritar o mínimo que fosse necessário.

Dulce: a porta tá aberta… — berrou com a voz fraca

Lawyse — entrando: com licença… — parou no meio da sala para olhar Dulce
dispersa no chão

Dulce: (pensando) não, não, não… Sério, meu bom Deus! Eu não mereço
isso…

Lawyse: Chris me contou tudo…

Dulce — se levantou sem coragem, se posicionando frente à ex-cunhada, já se


preparando para o bombardeio de insultos: faça o que quiser… agora nada
mais importa…

Lawyse: posso mesmo? — insegura

Dulce: vai fundo…

Dulce estava mesmo esperando levar no mínimo um soco inglês de


Lawyse. Sabia que um dia tudo seria descoberto e daria pelo menos uma
chance de satisfação com todos os envolvidos. É certo que deveriam somente
ela e Chris estar envolvidos, mas não há como separar indivíduo de família
numa situação dessas. Na verdade, o indivíduo só é ele em si mesmo quanto
está no ambiente familiar. O indivíduo, em situações de depressão emocional,
recorre ao seio familiar. Então, como determinar que ele se exile desse alento?

Estava lá, à espera de uma resposta ao acontecimento, com os olhos


fechados no intuito de segurar as lágrimas que por resistência se lançavam,
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quando sentiu os braços de Lawyse se fecharem ao encontro de seu corpo. Até
imaginava ser uma forma diferente de golpe ou outra coisa do tipo, mas foi
acordada de sua fantasia fatalista através do choro sentido da amida de Anny.

Lawyse a levou até o sofá, acomodando-a em seu colo, como fazia com
seus irmãos. Dulce não entendia nada, mas o sentimento de proteção de que
necessitava e sentia falta só lhe inundava mais e mais…

Lawyse: não me pergunte como, mas finalmente eu consegui te entender…

Dulce: sério? — enxugando as lágrimas

Lawyse: sim… completamente… E é por isso que vim aqui… pra trazer de
volta aquela ruiva divertida, zombeteira, alegre, forte… aquela ruiva de
sempre…

Dulce: brigada…

Lawyse: vai lá tomar um banho e tirar esses olhos inchados horríveis! Se Anny
tivesse aqui ia te obrigar a fazer um transplante de olhos… — rindo — Eu vou
pedir algo pra gente comer…

Parnaíba, casa de Anny, 13/09/08, 08h13

Apesar da noite árdua, Anny e Poncho acordaram cedo. Estavam


vestidos de marido e mulher na sala de jantar: ele lendo jornal e ela mexendo
no notebook.

Alfonso: vou dar uma volta por aí… — se levantou

Anahí: volta inteiro… — rindo

Alfonso: tá certo. — rindo também enquanto lhe beijava a boca — Te cuida! —


saiu

Anahí: vamos ver… Quem será que tá no MSN essa hora?… Mas quem deu
meu e-mail pessoal pro Rivanildo? Ah, Mai! Vai me ouvir… — Dulce convidou
Anny pra uma conversa na webcam — Dulcita!

Dulce: oi, minha Barbie!

Anahí: nossa! Tá tão arrumada hoje… Tô sentindo o perfume daqui… E tinha


que ser logo esse, flor?! Daqui a pouco vai juntar abelha aí…

Dulce: como é que sabe que tô com aquele perfume doce que tu não gosta? —
surpresa
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Anahí: simples… Tu só usa ele com terninho vinho… Não sei por que mas é a
verdade.

Dulce: ah é? Não tinha reparado… — pensativa

Anahí: amorzinho, ontem tava louca pra falar contigo não sei o porquê…
Digamos que tive urgências técnicas… por isso não pude ligar…

Dulce: ou seja, não me ligou porque tava dando pro gostosão… Mas eu sei por
que queria falar comigo. Acho que ontem paguei boa parte dos meus
pecados…

Anahí: tá falando de que?

Dulce: Chris já sabe de tudo… — falou calmamente

Anahí: Deus! — assustada — E como reagiu?

Dulce: me xingou à vontade e foi embora…

Anahí: e tu? Como ficou?

Dulce: chorei muito, muito mesmo… mas hoje tô super bem… Se ele não
quiser mais me ver, problema dele… Vai ficar sofrendo porque não se esquece
um amor assim… mesmo que se esfregue em qualquer rego…

Anahí: e tu, Chuck? Vai ficar sofrendo também? — preocupada

Dulce: vou sim… mas nada que meus contatos não resolvam… — as duas
riram

#Anny convidou Lawyse pra conversa

Anahí: oi, amorzinho! — feliz

Lawyse: oi, maninha! Oi, quase maninha!

Dulce: baixa a bola, Lala! Tu ainda tá na minha lista negra…

Lawyse: tá certo… Então da próxima vez eu boto veneno no teu café…

Dulce: se tirar aquele amargo horrível… — fez careta

Anahí: eu tô boiando!

Dulce: então sai da piscina!


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Anahí: cala a aboca, sua bandida!

Lawyse: me conta da viagem, Anny…

Anahí: tá maravilhosa! Tu tem que conhecer o Poncho, Lala…

Dulce: tá botando o coelho na boca do lobo…

Lawyse: vai te catar, Dulce! E cadê ele, Anny?

Anahí: saiu pra dar uma volta.

Dulce: ah, agora tô entendendo…

Anahí: o que?

Dulce: os galhos que tô vendo na tua cabeça… — rindo

Lawyse: muito engraçadinha… — irônica

#Dulce convidou Melanie pra conversa

Melanie: e aí, perdidas?

Dulce: fala, boneca de vudu! Como tá tudo?

Melanie: muito bom! — animada — Ontem eu peguei o Edu!

Anahí: o Edu? — surpresa — Não vale!

Dulce: olha só quem fala! A noiva…

Melanie: deixa a wera, Dul! Pelo menos já sabemos quem tem que tá na
despedida de solteira…

Lawyse: não dê ouvidos pra ela, Anny…

Melanie: fica esperta, Lalazinha… ainda vou descobrir teus podres…

Dulce — rindo muito: essa eu faço questão de saber…

Anahí: como vocês são maldosas…

Dulce: maldosas? E quem foi que trepou na sala de arquivo?

Melanie: como é que é? Conta aí!

Anahí: nem pensar!


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Dulce: Mel, ela marcou com ele lá…

Anahí: deixa de mentira, brasa do Paraguai!

Dulce: fizeram maior orgia lá…

Melanie: minha nossa! Que mais? — toda alegre

Lawyse: vamos mudar de assunto?

Anahí: isso!

Melanie: nem pensar! Continua, Dul!

Dulce: até o vigia tava lá no meio…

Melanie: aquele velho? — indignada — E por que não me convidaram?

Anahí: ela tá mentindo, Mel…

Dulce: não tô não… É tudo verdade!

Lawyse: quando volta, Anny? — querendo mudar de assunto

Anahí: domingo de tarde.

Lawyse: eu posso organizar uma festinha pra receber vocês? — já quase


implorando

Melanie: festa? Tô dentro!

Dulce: também tô…

Anahí: olha, pode até ser, mas nada exagerado porque segunda tô com o dia
cheio.

Lawyse: deixa comigo! Vou chamar a Mai pra me ajudar também…

Anahí: mas nem pense em pedir ajuda pra ela na hora de convidar o povo…
Acredita que ela deu esse meu MSN pro Rivanildo?

Melanie: o poodle rosa da TV?

Anahí: ele mesmo…

Melanie: tá ferrada! — rindo bastante


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Dulce: ela ainda tá casada, Anny?

Anahí: se tá falando da Mai a resposta é sim, e muito bem por sinal. Por isso
pode tirar o olho do Filipe…

Melanie: Dulcita, meu amor, sou tua fã… sério… deu maior chute na bunda do
Chris e horas depois já tá planejando a próxima vítima… — ela e a ruiva
começaram a rir

Lawyse: sem comentários, gente…

Melanie: ah, Lawyse! Tira essa filosofia de banheiro da cara e se une à gangue
das super poderosas aqui! Nós ainda vamos dominar o mundo dos homens
com nossos chicotes de couro e anéis GG…

Anahí: mas os anéis não podem ser muito grandes, pelo contrário… — se
tocou que tava falando besteira e parou na mesma hora, mas não adiantou,
todas caíram no riso

Dulce: falou e disse! Gente, acho que encontramos nossa líder…

Melanie: um viva para Führer!

Dulce/ Lawyse/ Melanie: Heil, Anny!

Anahí: parem com isso, suas doidas… — rindo

Melanie: voltando aqui o assunto, qual é esse Filipe, Dul?

Dulce: o loirinho que te mostrei naquele dia no shopping…

Melanie: ah, meus amores! Ali eu pego até casado! — ela e Dul riram

Lawyse: mas não pega mesmo! Onde já se viu…

Dulce: estraga prazer! Quero só ver quando tu botar os olhos no Poncho…

Lawyse: por que?

Melanie: é muito gato é?

Anahí: modéstia à parte, gato é pouco… Ali é um deus grego reencarnado…


— disse se abanando

Melanie: tô louca pra conhecer já!

Anahí: mudando de assunto… Cláudia apareceu?


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Melanie: ela sumiu foi? Devia tá era feliz…

Dulce: voltou não, Anny… nem deu sinal de vida…

Lawyse: tá desconfiando de algo, mana?

Anahí: sim… acho que sei com quem ela tá caçando conversa… só que vai se
dar muito mal…

Dulce: e quem é?

Anahí: digamos que é a rainha das bandidas… — as quatro riram

Melanie: essa eu tinha que ver…

Anahí: eu também… Se pudesse pegava um avião agora mesmo…

Dulce: tem notícia da tia, Anny?

Anahí: falei com ela ontem… Mas fora esse assunto, não tem nada de novo…

Melanie: gente, é sério! Eu tô me cortando de curiosidade! Vocês me fazem


um favor? Quando a esqueleto de camelo chegar, vocês me ligam pra eu ir lá?
Por favor?

Lawyse: quanto drama!

Anahí: ei, a promotoria não é a vila do Chaves não, viu?

Dulce: claro que não! Ali tá mais pra residência dos Kyle… — ela riu sozinha
— Qual é gente?

Anahí: piada inteligente uma hora dessas, Dul? — com cara de tédio

Melanie: essa nem eu entendi…

Dulce: vocês tão burras mesmo… Gente, é simples! Lá tem uma que tenta ser
inteligente, mas só sabe cair…

Lawyse: Cláudia?

Dulce: muito bem, estagiária de maninha! Uma com uma bunda enorme e que
não suporta o autoritarismo divertido da chefona aí…

Anahí: Fabíola…

Dulce: ah, tem uma ditadora que só quer as coisas do jeito dela…
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Anahí: pode parar, Dul… Já entendemos a piada…

Dulce: ah, nem deixaram eu dizer quem eu sou… — fazendo bico

Lawyse: quem? — com cara de poucos amigos

Dulce: Junior Jr.!

Anahí: quê?!

Dulce: a única inocente na história, ora!

Lawyse: conta outra… Gente, vou ter que ir…

Dulce: eu também… — triste — Tô cheia de coisa pra fazer…

Melanie: e eu vou dormir… Cheguei agora há pouco… Só matei a fome e vim


pra cá… — as quatro se despedem, depois de muita conversa

Cidade do México, parquinho, 13/09/08, 07h04

Fernanda: Mari, eu não sei se consigo fazer isso!

Marichelo: deixa de ser mole, mulher! Aonde tá teu lado selvagem? Vai dizer
que esqueceu na cama do Pepe?

Fernanda: dá pra esquecer esse velho? E não, meu lado selvagem tá bem
aqui e louco pra te dar uns tapas…

Marichelo — com voz dengosa: vai bater numa anciã?

Fernanda: sem encenação, ok? E vamos antes que eu me arrependa… —


saíram do carro

O parque como sempre estava calmo. Crianças correndo… Mulheres


socializando vivências… Homens fazendo alongamento… Enfim, o mesmo ar
agradável que encantava todos os que ali freqüentavam. Os rostos já eram até
familiares, apesar do aglomerado notório que circulava por entre as árvores.
Talvez se identificassem pelo objetivo mor que compartilhavam a ponto de
estarem nessa mesma circunstância: paz!

Marichelo e Fernanda se aproximaram de um dos bancos, depositaram


ali alguns pertences (toalhas, garrafas d água, barras de cereais etc), se
posicionaram uma de frente pra outra em pé, ajustaram seus fones de ouvido e
finalmente começaram uma sessão de ginástica ao ar livre. Fizeram exercícios
dos mais variados tipos, sempre os combinando a passos de dança.
Viianny 17

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déjate amar ♥
Reggaeton. Precisa dizer mais algo? Talvez que o ritmo alucinante se
dispersava por todos os presentes só mesmo vendo a cena. Estavam como as
próprias Las solteras de Mach & Daddy.

Enquanto isso, X lutava pra correr contra o tempo. Foi pega de surpresa
por seu espião contratado ao ser avisada que Marichelo e sua fiel escudeira
mudaram de horário. Como sempre, chegou de mansinho no parque e
começou a fazer sua encenação. Ficou um bom tempo olhando pro nada, até
que deixou derramar as primeiras lágrimas, sendo estas menos sacrificantes
por conta do efeito do colírio anteriormente usado. Aos poucos foi aumentando
a intensidade do choro. Não era algo estridente, pelo contrário, era um choro
com classe, mas suficientemente alto para chamar a atenção. Só que o tempo
foi passando e X só se desidratava… Nada de Marichelo lhe dar atenção… A
mãe de Anny a cada minuto só aumentava o rebolado, principalmente no pam
pam de Wisin y Yandel e no tra de Tito, el bambino. Numa tentativa frustada de
forçar uma emergência, X se levantou cambaleando e caiu desmaiada no
gramado. Marichelo, que a vigiara a todo instante, correu junto com Fernanda
até lá.

Marichelo: chame uma ambulância, Fernanda! — disse após se abaixar junto


ao corpo de X

Fernanda: sim, Marichelo… — fez a ligação — Já estão vindo… E quem vai


com ela?

Marichelo: tu vai junto e eu vou atrás de carro… Não tenho compromisso


mesmo…

Alguns minutos depois, chegou uma ambulância. Os paramédicos


checaram os sinais vitais de X e a colocaram numa maca, seguindo para o
interior do veículo. Uma arrancada do carro quase fez X abrir os olhos,
comprometendo seu plano recém reformulado. Teve que se esforçar ao
máximo pra ficar imóvel. O carro se movimentava muito, talvez pela alta
velocidade. E isso a ajudava, porque permitia que não fosse tão rija com o
corpo. Será que finalmente estava conseguindo o que queria? É… talvez uma
dose extra de ousadia fosse o que estava faltando… De repente sentiu uma
brisa suave e aconchegante. Devem ser os novos e avançados sistemas de
refrigeração dessas clínicas chiques e caras. Marichelo não era mulher de
acompanhar uma desconhecida ao proto-socorro público. Não mesmo… Já
estava até pronta pra despertar sob os olhares atentos de algum médico jovem
e lindo de morrer, estilo galã de cinema, daqueles que respira cifras e reaviva
qualquer mulher em estado terminal. Seria o parceiro perfeito pra sua noite de
despedida na capital mexicana…

Acordou de seus sonhos com uma fisgada na barriga. Parecia algo meio
pontiagudo, remexendo em seu dorso.
Viianny 18

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déjate amar ♥
Marichelo: acorda, bela adormecida! Ou prefere que eu chame por Cláudia?
Mas eu prefiro bela adormecida…

Cláudia arregalou os olhos de uma vez. Assustada, deu uma breve


olhada ao seu redor. Estava em um enorme campo de puro mato, no meio do
nada, em algum lugar que não conhecia, cercado de seguranças muito bem
armados e posicionados e com o pé de Marichelo apoiado sobre seu corpo,
numa performance mais que mafiosa. E isso se notava logo pela roupa
elegante, sexy e desafiadora. Vestia um blazer Dolce & Gabbana preto
acinturado, manga ¾ e decote um pouco revelador; uma saia Dolce & Gabbana
preta na altura dos joelhos com uma lasca até acima da metade superior da
coxa; e um Prada de couro bronze com detalhes pretos salto 12 agulha e
biqueira fina.

Marichelo: e levanta daí que eu tenho coisas mais importantes pra fazer
ainda… — disse enquanto se posicionava em pé normalmente

Cláudia: que lugar é esse? — se levantou rápido, assustada

Marichelo: digamos que é meu escritório particular… Gostou da decoração


foi? — mudou para um tom mais sério — Mas chega de perder tempo! Acha
que eu sou alguma idiota é?

Cláudia: eu? Não! Não! — respondeu gaguejando

Marichelo: achava que eu ia cair nesses truques baratos de novela de quinta?


— ficou andando de um lado pro outro, calmamente, na frente de Cláudia

Cláudia: acho que tá havendo algum engano aqui… Eu… — foi interrompida

Marichelo: você é Cláudia Schmidt Rezende?

Cláudia: sim, mas… — foi interrompida de novo

Marichelo: nascida em 5 de novembro de 1982 às 22h14 na cidade de


Teresina, maternidade Evangelina Rosa; reside na Rua das Orquídeas, Jóquei,
nº 795; trabalha há quase um ano na promotoria; ganhou o cargo de presente
no natal, ou será ano novo? Que tal me tirar essa dúvida?

Cláudia: o que quer de mim?

Marichelo: de você? Hum… me deixa pensar… O máximo que conseguiria de


você é um molde para manequins de camelô, tirando o rosto, é claro… A não
ser que fosse usado para vender fantasias de Halloween…

Cláudia: eu tô falando sério… — bem fria


Viianny 19

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Marichelo: eu também, querida! Sabe, eu tinha certeza que tu ia cair direitinho
na armadilha… — deu uma gargalhada bem alta — Gostou do passeio de
ambulância?

Cláudia: eu quero que você e esse seu joguinho se explodam! — gritou

Marichelo: joguinho? Gosta de jogar? Só que estamos em desvantagem. São


trinta contra uma. E só lembrando… Você tá descalça… — Cláudia olhou pros
pés — Nesse mato não ia conseguir muita coisa… Ah, e esse esmalte não
combina contigo…

Cláudia: vamos ser diretas, sim? — começou a andar de um lado pro outro —
O que vai fazer comigo?

Marichelo: proposta nada tentadora… — disse com nojo — Não sou sapata,
viu? Mas eu quero algo de ti sim… — andou ao redor de Cláudia, parou bem
atrás dela e se aproximou — Só uma coisinha… — agarrou parte dos cabelos
dela com força pra trás — Quero que deixe minha filha em paz, entendeu? Não
sei e não quero saber o que tá armando, mas seja o que for, se mexer com
minha bonequinha, vai passar do escritório pro necrotério particular, entendeu?

Cláudia: sim… — disse quase sem forças

Marichelo: acho que nos entendemos então. — folgou um pouco a pressão


sobre o cabelo, pegou sutilmente uma tesoura num bolso camuflado e cortou a
mecha em suas mãos, soltando Cláudia

Cláudia: o que você fez? — apavorada pelo corte enorme e horrível em seu
cabelo

Marichelo: só uma lembrancinha… — começou a caminhar em direção a seu


carro, deixando Cláudia chorosa ao tocar suas madeixas destroçadas — Ah, já
ia esquecendo… — se virou e jogou um celular no chão — Liga pra alguém vim
te pegar… Aqui às vezes falta sinal, é bom não contar com a sorte… —
continuou a caminhar, entrou no carro e saiu

Teresina, restaurante Manhattan, 13/09/08, 14h03

Vagner: até que enfim, né? — impaciente

Mayté: eu estou muito bem, obrigada, Vagner! — falou irônica ao se sentar —


Agora me diga por que me convidou em cima da hora pra almoçar…

Vagner: porque eu tinha que vim pra cá! Olha ali meu príncipe! — disse todo
emocionado, olhando rumo a uma das mesas
Viianny 20

♥ Sólo déjate
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Mayté: pera aí! Tu me chamou aqui só pra me mostrar teu amor impossível?

Vagner: ele não é meu amor impossível! E sim e não… É que eu não podia
ficar aqui sozinho… Na verdade, não era nem pra tá aqui…

Mayté: era só o que me faltava… Virar vela de múmia…

Vagner: não entendi. — pensativo

Mayté: esquece. — começou a folhear o cardápio

Vagner: tá ficando muito perto da Anny e da Dul… Quero minha May de


volta…

Mayté: aquela May ficou em casa aproveitando o maridinho lindo dela…


Satisfeito?

Vagner: tá, desculpa! Come alguma coisa aí e vai se quiser…

Mayté: vou aproveitar que amo as sobremesas daqui! — animada

Vagner: isso…

Mayté: e tu?

Vagner: já almocei…

Mayté: (pensando) respira, Mayzinha… 10… 9… 8… 7… 6… 5 … 4 … 3… 2…


1… Isso… (falando) Já provou essa pastiera napolitana?

Vagner: não… — de olho em Cristian

Mayté: é servida com vinho branco. Deve ser boa… Vou pedir…

Vagner: pede pra mim então torta de kinkan com amêndoas…

Mayté: muito engraçado! — irônica — Mas tudo bem, é tu que vai pagar
mesmo…

Vagner: pois então troque os pedidos pra pão e água… Não ganho essas
fortunas não…

Mayté: eu sei muito bem que Anny te paga por uns servicinhos aí… — um
garçom se aproximou e ela fez os pedidos

Vagner: do que tu tava falando? — um pouco nervoso

Mayté: dos pedidos ora!


Viianny 21

♥ Sólo déjate
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Vagner: eu digo antes disso…

Mayté: ah sim! Um dia eu fui ao apartamento da Anny e vi uns papéis lá…


(pensando) Agora ele me paga!

Vagner: o que exatamente tu viu?

Mayté: informações mais que secretas…

Vagner: sério? — nervoso

Mayté: seríssimo, meu caro!

Vagner — falando baixinho: tá pensando em pedir uma parte no próximo


assalto é?

Mayté: assalto? — assustada

Vagner: é! O do BB! — ainda falando baixo

Mayté — aflita: vocês tão assaltando bancos?

Vagner — sorrindo muito: mente muito mal, Mayté!

Mayté: tá! Confesso! Não sei de nada! Mas que vocês escondem algo eu tenho
certeza…

Vagner: ai, May! O pessoal com ele tá indo embora! O que eu faço? — aflito

Mayté: primeiro, te calma. Segundo, nasce de novo, mas como mulher… e se


der também dá uns ajustes no teu rosto, que é muito sem graça… Aí sim ele
vai olhar pra ti…

Vagner: grande amiga tu hein…

Mayté: obrigada!

Vagner: ele tá vindo aí! Minha gravata tá no lugar certo? Meu cabelo tá
bagunçado? Esses óculos combinam comigo?… — foi interrompido

Mayté: cala a boca! — disse pausadamente

Cristian: olá, gente! — May e Vagner se levantaram

Mayté: oi, tudo bem?

Cristian: tudo sim…


Viianny 22

♥ Sólo déjate
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Vagner: e… e aí?

Cristian: tô indo… — riu

Mayté: quer se sentar com a gente?

Cristian: não quero atrapalhar…

Vagner: que nada! Vai! Senta aí! — os três se sentaram

Cristian: cadê Anny?

Vagner: em Luís Correia.

Mayté: ela volta amanhã… Vai ter inclusive uma festa de recepção na casa da
Lala.

Cristian: Lala ?…

Mayté: Lawyse… irmã do Christopher…

Cristian: algum motivo especial?

Mayté: não… só mesmo desculpa esfarrapada pra ter festa…

Vagner: (pensando) fala alguma coisa, sua anta! Pior que eu não consigo…

Chegou Rivanildo, que avistou Vagner e May e correu pra mesa deles.

Rivanildo: atrapalho?

Mayté: claro que não! Senta aqui também!

Depois de algum tempo, May teve que ir embora, deixando os três


conversando.

Vagner: e por que voltou logo, Riva?

Rivanildo: já tenho notas quentinhas… E aquilo tava um saco… E olha que


acabei de gravar falando exatamente o contrário… Por que também não ficou
lá?

Vagner: Anny não ia precisar mais de mim… Deixei ela lá com o bonitão…

Cristian: é verdade mesmo que ela tá noiva?

Rivanildo: claro, homem! Tá por fora, viu?


Viianny 23

♥ Sólo déjate
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Cristian: é que nesses dias tava só viajando… Sem tempo mesmo…

Vagner: a trabalho? (pensando) Já tô com ciúmes? Droga!

Cristian: sim… Fui acertar um contrato por tempo indeterminado nos Estados
Unidos…

Vagner: vai morar lá? — decepcionado

Cristian: por enquanto não… ainda não fechei 100%…

Rivanildo: me fala do seu trabalho! Sei que viaja muito pelo mundo…

Cristian Chaves é um conceituado fotógrafo teresinense. Cresceu


rapidamente na profissão, tanto que já detém sua própria agência de fotografia.
Ele mesmo só se encarregava de trabalhos grandiosos e internacionais.
Gostava do que fazia… Talvez por isso, aliado ao seu talento nato, o fizeram
chegar tão longe. Conheceu Anny e Dulce numa pequena confusão banhada a
drogas e muito rap causada por seu irmão Santiago e Melanie (irmã de
Christopher), num passado (não muito longínquo) obscuro que todos preferiram
apagar de vez da memória.

Os três ficaram um bom tempo jogando conversa fora. Como boa fonte
de informações que era, Rivanildo tratou de contar para Cristian tudo o que
havia sucedido com as pessoas que ele queria saber. Vagner, inibido pela
emoção e satisfação por estar tão próximo de sua paixão platônica, estava
como mero espectador na mesa. Não que os dois o tivessem excluído. Ele
mesmo é que se deixou ignorar… sua participação se resumia a sons de
admiração e confirmação sobre determinados assuntos… Muitos deles até
imperceptíveis… No início, a glória pelo momento cegou Vagner. Só aos
poucos é que ele vai clareando suas impressões. Não pôde deixar de sentir
raiva e mágoa do amigo. Isso mesmo, só do amigo. Christian residia em um
pedestal… perfeito, intacto e… no fundo… inalcançável!

Teresina, hospital São Marcos, 13/09/08, 18h32

Christopher: que barulho infernal!

Christopher estava estudando um caso possivelmente cirúrgico de um


de seus pacientes. Era um cardiologista com poucos anos de experiência, mas
já muito destacado. Precisamente este caso era bem especial porque por ser
seu primeiro paciente desde que voltou de sua residência médica nos Estados
Unidos.
Viianny 24

♥ Sólo déjate
déjate amar ♥
Levantou-se para ir atrás do barulho bem familiar. Algum médico deixou
o notebook na sala de reuniões (local onde Chris estava estudando). Os sons
eram de mensagens do MSN. Deduziu então que se tratava de alguma
emergência. Estava tão concentrado que talvez algum movimento passara
despercebido. O médico, Rafael — identificado na janela no programa,
provavelmente recebera algum chamado e, por questão de urgência, saiu
imediatamente.

Christopher: (pensando) então o estimado Dr. Rafael anda de papo no MSN…


E quem será essa Cindy? Não sei de namorada nenhuma depois que se
divorciou… Vamos conferir… — começou a responder as mensagens do MSN

Rafael Mendes “decepção não mata, mas ensina a não ter outra” diz:
voltei!

♥ ☺ Cindy ♥ ☺ “tá com medo de pisar em espinhos? então coloque


um salto alto e só ande na pose...” diz: que bom! Já tava me
sentindo abandonada… 

Rafael Mendes “decepção não mata, mas ensina a não ter outra” diz: pois
ñ se sinta! Tive uma emergência… Do que a gnt falava msm?

♥ ☺ Cindy ♥ ☺ “tá com medo de pisar em espinhos? então coloque


um salto alto e só ande na pose...” diz: sobre tua ex…

Rafael Mendes “decepção não mata, mas ensina a não ter outra” diz: tava
chato ñ?

#Christopher: (pensando) não acredito que ele perde tempo falando da


ex, enquanto pode levar a gatinha na conversa…

♥ ☺ Cindy ♥ ☺ “tá com medo de pisar em espinhos? então coloque


um salto alto e só ande na pose...” diz: que nada! Vai… continua me
contando…

#Christopher: (pensando) e agora? Ah, mas com uma frase dessas, ele
deve tá com raiva dela… nem duvido se levou chifre…

Rafael Mendes “decepção não mata, mas ensina a não ter outra” diz: ok,
mas só pq tá m pedindo…

♥ ☺ Cindy ♥ ☺ “tá com medo de pisar em espinhos? então coloque


um salto alto e só ande na pose...” diz: vou ficar devendo…

#Christopher: (pensando) muito idiota mesmo! A gata tá dando maior


mole! — em tom de revolta
Viianny 25

♥ Sólo déjate
déjate amar ♥
Rafael Mendes “decepção não mata, mas ensina a não ter outra” diz: nós
nos divorciamos faz poko tmp… ñ sei se m entende, mas foi
uma decepção MT grande!

♥ ☺ Cindy ♥ ☺ “tá com medo de pisar em espinhos? então coloque


um salto alto e só ande na pose...” diz: imagino…  e sinto muito…
nunca passei
passei por isso… mas deve ser difícil…

#Christopher: (pensando) foi chifre!

Rafael Mendes “decepção não mata, mas ensina a não ter outra” diz:
ainda mais q é com alguém q a gnt tnt ama…

♥ ☺ Cindy ♥ ☺ “tá com medo de pisar em espinhos? então coloque


um salto alto e só ande na pose...” diz: vou chorar assim… 

Rafael Mendes “decepção não mata, mas ensina a não ter outra” diz:
desculpa t fazer passar por isso… é q é difícil esquecer…

#Christopher: (pensando) que meloso! — se segurando pra não rir

Rafael Mendes “decepção não mata, mas ensina a não ter outra” diz:
ainda mais sabendo q eu dei td pra ela, nunk faltei em
situação alguma… e é isso o q eu recebo…

♥ ☺ Cindy ♥ ☺ “tá com medo de pisar em espinhos? então coloque


um salto alto e só ande na pose...” diz: como? Tem alguma coisa
errada aqui! Tu não é Rafael!

Rafael Mendes “decepção não mata, mas ensina a não ter outra” diz: q?
do que tá falando?

#Christopher: (pensando) será que me pegaram? O que eu faço agora?

♥ ☺ Cindy ♥ ☺ “tá com medo de pisar em espinhos? então coloque


um salto alto e só ande na pose...” diz: Tu não é o Rafael!

Rafael Mendes “decepção não mata, mas ensina a não ter outra” diz: e pq
isso agora?

♥ ☺ Cindy ♥ ☺ “tá com medo de pisar em espinhos? então coloque


um salto alto e só ande na pose...” diz: Rafael não foi tão presente
assim como tu disse… e foi exatamente isso que levou ao
divórcio…
Viianny 26

♥ Sólo déjate
déjate amar ♥
Rafael Mendes “decepção não mata, mas ensina a não ter outra” diz: tem
certeza? acho q se enganou…

♥ ☺ Cindy ♥ ☺ “tá com medo de pisar em espinhos? então coloque


um salto alto e só ande na pose...” diz: absoluta! A gente tava
falando sobre isso agora… Se não quiser admitir a verdade, só vai
deixar de ganhar uma amiga…

#Christopher: (pensando) essa mulher é sem noção! Eu a engano e ela


ainda quer ser minha amiga! Vamos ver como isso vai rolar…

Rafael Mendes “decepção não mata, mas ensina a não ter outra” diz: tá
certo! m add então... chris_ucker@hotmail.com.

***

Uma estrutura de aproximadamente 400m2. Paredes em cristal muito


refinado. Teto com projeção digital de um magnífico céu estrelado e bem
aberto. Carpete em tom de areia como um toque especial que ampliava ainda
mais a área. Muitas rosas vermelhas por toda parte. Eram elas o contraste
entre a celeste calmaria da decoração e a profana natureza humana. Tudo isso
montado à beira-mar.

Fora que também havia uma passarela de uns 100m de comprimento


separando o estacionamento privativo e o local da festa. O motivo? Para que
as damas e os lordes da high society não estragassem seus caríssimos trajes
com a maresia. O local todo estava cercado por seguranças por proteção
contra sociopatas e fotógrafos. A cada instante chegavam autoridades do mais
alto escalão. Não era uma festa do governo, mas para o governo, pensava
Anny. Falando nela, aonde andaria vossa protagonista? Estava na maior pose
ao lado de Poncho, numa roda de amigos ocasionais… Estavam no centro do
local, tanto geométrico quanto em relação ao destaque entre os demais
presentes.

E não era pra menos… Anny vestia um tomara-que-caia perolado em


seda pura, que acompanhava de leve suas curvas e findava abaixo dos joelhos
com arranjos em fios de ouro bem delicados; o cabelo foi minuciosamente
arrumado num coque alto, do qual sobressaíam alguns cachos volumosos e
bem dourados, combinando com a franja trabalhada em desalinho para cima,
tendendo mais a um dos lados; no pescoço uma linda e refinada gargantilha
em duas facetas do ouro, o amarelo e o branco, fazendo conjunto com o par de
brincos; por fim, pra dar um ar moderno ao visual, um par de sandálias
vermelhas, salto 15 agulha todo trabalhado em listras em tons de vermelho,
roxo e preto, fora os detalhes em dourado — todo esse jogo de cores em
sintonia com a maquiagem forte e provocante. Já Poncho usava um galante
Viianny 27

♥ Sólo déjate
déjate amar ♥
smoking Versace em preto clássico; deixou a barba um pouco crescida,
ganhando assim um toque a mais de maturidade e elegância; cabelos
impecavelmente brilhosos, banhados em gel, deixando somente sobressair
alguns fiozinhos na frente — um retoque de Anny; sapatos pretos polidos e
muito requintados, combinando com o traje sem nenhum rastro de amasso.

A festa toda foi marcada por detalhes dos mais clássicos e elegantes
possíveis. Dos delicados camarões rosados servidos às gravatas borboletas
dos garçons… A toda hora circulavam nas bandejas novas iguarias dos mais
distintos tipos. Isso sem se esquecer de que para cada uma havia uma bebida
específica, que variavam do espumante branco demi-sec ao moscatel francês.
As melodias que inundavam o local convidavam os presentes à conversação.
Aos poucos, as notas tão conhecidas contrastavam com o tempo frio da noite
luíscorreiense, seduzindo os comparecentes a demonstrações de dotes para
dança…

Dança… esse foi o prato principal da festa organizada por Lawyse.


Beirando às quatro horas da manhã, Anny e Poncho se retiraram da
comemoração no litoral, desmaiaram na cama e cerca de duas da tarde já
estavam prontos pra voltar pra casa, ou melhor, prontos pra outra reunião. Só
levaram algum tempo no apartamento de Poncho e partiram pra casa da
amiga.

Na chegada, Anny já avistou sua amiga anfitriã. Tratou logo de lhe


apresentar seu noivo. Realmente, diante de Poncho, Lawyse se lembrou das
palavras de sua irmã depravada… até casado… Afastou tais pensamentos com
outro abraço na amiga. Em seguida, levou-os até os outros. Muitos amigos
queriam matar as saudades também… Praticamente todos os amigos já
estavam lá. Gente da promotoria, amigos de adolescência, amigos de
amigos… Até Julieta e Fabíola. Lawyse não as queria ali, mas Melanie fez
questão de chamar pra esfregar-lhes na cara a felicidade dos noivos. E Dulce
logicamente aprovou a idéia…

Era um clima totalmente diferente da festa anterior. Aqui era tudo


informal. Comidas de todos os gostos. Pizza e outras massas… salgadinhos e
doces… churrasco… sushi, sashimi e agemono… tacos, guacamole, burritos e
tortillas… Mas a música era única. Reggaeton! E não tinha como não ser… Os
homenageados eram amantes do ritmo! Assim, movidos pelo embalo dos
arranjos, todos se esbaldaram numa pista de dança!

Já eram quase doze da noite quando Anny e Poncho se jogaram


cansados num sofá na varanda da casa, de frente pro local da festa.

Alfonso: acho que nunca fiquei tão cansado numa festa…

Anahí: verdade! Mas eu amei tudo! Vou passar uma semana sem querer ver
carne… — rindo
Viianny 28

♥ Sólo déjate
déjate amar ♥
Alfonso: nisso eu não acredito…

Anahí: nem eu… Deita aqui comigo? — voz dengosa

Alfonso: claro, princesa! — eles deitaram de lado, um atrás do outro, mas


virados pra festa

Anahí: assim tá bom… — sentindo os braços dele apertando-a forte

Alfonso: quero que a gente viaje pra conhecer nossos pais logo…

Anahí: se for agora não posso me ausentar mais que uma semana. Mas por
que essa pressa toda? Algum problema?

Alfonso: não… é que me deu uma saudade… e também porque seria um


passo a mais na nossa relação. Onde já se viu dois noivos que não conhecem
os sogros?

Anahí: Mai casou sem conhecer os sogros…

Alfonso: como? — surpreso

Anahí: eles morreram faz tempo…

Alfonso: se era pra ser uma piada, sinta-se ouvindo um riso…

Anahí — virou o rosto, olhando profundamente nos olhos dele, que já ia se


aproximando pra lhe dar um beijo: se era pra ser um beijo, sinta-se beijado…
— virou o rosto de novo, segurando o riso

Alfonso: vai me deixar no vácuo mesmo? — indignado — Não, senhora!

Ele a agarrou e se posicionou em cima dela. Começaram a se beijar


loucamente. Como estavam na presença de amigos (e fofoqueiras bizarras),
não se sentiram nada intimidados. O beijo foi rolando e esquentando os corpos.
As línguas dançavam, seguindo o ritmo da música que ainda corria solta pela
casa. Poncho usava os braços pra se apoiar no sofá e não a machucar (apesar
de que para Anahí Giovanna isso seria só uma tentação a mais), enquanto ela
tocava-lhe o rosto com muita ternura usando as mãos. Gastava a energia que
vinha surgindo em seu corpo através de movimentos ousados e carinhosos nos
cabelos dele. Como um tique nervoso. São interrompidos pelos gritos nada
discretos de Dulce.

Dulce: olha a pornografia ali, gente!

Melanie: voyeurismo free! — gritou de longe, já vencida pelo álcool


Viianny 29

♥ Sólo déjate
déjate amar ♥
Anahí — rindo: tô me sentindo a mocinha que mata a vilã no último dia da
novela…

Alfonso: e eu a arma que ela usou… — também rindo

Anahí: espera aí! Não vai me dizer que… — parou de falar por estar abismada

Alfonso: por que a surpresa? — sem entender — Sou fraco no quesito Anahí
Giovanna…

Anahí: disso eu discordo! Tá sendo o único que tá conseguindo agüentar o


rojão… Aliás, pelo jeito, eu é que tenho que segurar firme!

Alfonso: não tenho culpa se tu é a tentação em pessoa… — na defensiva —


Só que agora eu é que vou te tentar… — abraçou-a por trás mais uma vez e
posicionou a boca bem no pescoço dela, deixando de início só sentir sua
respiração

Anahí: cuidado pra não se queimar… — já um pouco excitada

Alfonso: não se preocupe com isso… só sinta tudo o que vou fazer… garanto
que não vai conseguir contar até dez!

Anahí: consigo sim… — suspirou profundamente

Poncho então começou a roçar seu nariz pela nuca dela, dando umas
fungadas bem provocantes perto do ouvido. Anny fechava os olhos se
deliciando com toda a situação. E os outros? Ah! Os outros que aproveitem
também! Não tava nem aí! Ele lambia o pescoço dela, dava algumas mordidas
— nada forte pra não deixar a marca, chupava de leve também… No
pensamento de Anny, tudo aquilo estava sendo feito não no seu pescoço, mas
na sua intimidade… Era assim como ela se sentia… A respiração quente dele
só aumentava a excitação. E pra piorar a situação, ele ainda a prendia com um
abraço apertado, não a deixando se movimentar de maneira alguma. Anny
chegava a se debater involuntariamente.

Alfonso: pronta pra contar?

Anahí: sim… — disse na maior dificuldade, enquanto ele não parava de lhe
excitar sem nem mesmo ir a fundo

Alfonso: começa!

Anahí: pode ser a reta numérica da Anny? — disse bem baixinho, quase sem
forças

Alfonso: pode… — respondeu de forma bem suave e sedutora


Viianny 30

♥ Sólo déjate
déjate amar ♥
Anahí: 1 beijo na tua boca… e 2 carícias te daria…

Alfonso: tô gostando disso… Continua! — em tom de ordem

Anahí: mais 3 abraços que demonstrem… — sem fôlego

Alfonso: que demonstrem… — incentivando-a a continuar

Anahí: 4 vezes minha alegria! — feliz por ter conseguido continuar a


seqüência; deu uma pequena pausa pra seguir sem ter que parar, olhando bem
no fundo dos olhos dele — E no meu 5º pensamento… — pegou ar mais uma
vez — 6 vezes te daria as 7 letras de um “eu te amo” ou as 8 de um ''te
quiero''… por que se 9 vezes vivo por ti, em outras 10 vezes por ti eu morro...

No instante em que ela terminou a mensagem, ambos atingiram um


orgasmo inesperado. Assim como no mesmo segundo lágrimas brotaram dos
olhos dos dois… Curtiram a sensação de alívio encarando um ao outro…
Como que tentando ver o que havia por trás daquelas lágrimas. Amor!

Teresina, promotoria, 15/09/08, 07h02

Anahí: bom dia, pessoal! — animada

Janete: tá atrasada… — rindo

Anahí: pode deixar que vou ficar dois minutos a mais, Jay! — irônica

Ada: e como foi tudo?

Anahí: muito bem! Bem até demais…

Janete: tem uma surpresa pra ti na tua sala…

Anahí: sério? Vou lá ver então… depois venho contar mais da viagem…

Janete: quero saber mesmo!

Anny, muito curiosa, entrou logo em sua sala. Não conteve o grito
quando encontrou sua mãe toda à vontade em sua poltrona aparentemente
jogando em seu computador. Marichelo levou um susto tão grande que quase
caiu ao se levantar da cadeira. A loira correu pra dar logo um abraço bem forte
na sua amada mammy. Ficaram maior tempão só matando a saudade, sem
nem pronunciar uma palavra sequer… Até porque não precisaria. As lágrimas
já diziam por si só a emoção que sentiam.

Marichelo: como tá a minha bonequinha?


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♥ Sólo déjate
déjate amar ♥
Anahí: tá muito bem…

Marichelo: que história é essa de matar sua mãe de susto, hein? — começou
a dar palmada de leve no bumbum da filha

Anahí: até onde eu sei não se abraça fantasma…

Marichelo: é que aqui é tudo artificial já! — as duas riram

Anahí: vamos lá pra fora conversar com a Jay e a Adinha?

Marichelo: vamos sim… tenho que ficar lá fora mesmo…

Anahí: por que?

Marichelo: já vai saber… — elas saíram da sala e se sentaram abraçadas no


sofá da recepção

Anahí: tava com muita saudade! — toda dengosa, se aninhando nos braços da
mãe

Marichelo: vocês tão cuidando bem da minha menina?

Janete: com certeza! E tem gente que cuida mais que ainda vai chegar…

Anahí: ah é… meu gatinho… Deve tá morto de cansado… e olha que eu dei


folga pra ele ontem…

Marichelo: que história de folga o que! Homem tem que tratar é na exploração!
— as três se acabaram de rir

Anahí: coitado do daddy! Como ele tá?

Marichelo: tá bem… só não larga daquelas benditas ações… Já sabe, né?

Anahí: da próxima vez a senhora arrasta ele…

Marichelo: sim, senhora!

Dulce: alguém sabe me dizer se hoje é a parada gay? — viu Marichelo — Tia!
— gritou

Marichelo: Dulcita! — se levantou e foi abraçar a ruiva — Como estamos de


gatos?

Dulce: fraco… — desanimada


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♥ Sólo déjate
déjate amar ♥
Marichelo: ih! Tô vendo que vamos ter que organizar uma festinha do
lingerie…

Anahí: devolve minha mãe, Dul? — dengosa

Marichelo: que ciumenta! — voltou a ficar abraçada com a filha

Alfonso: bom dia, gente… — entrou receoso, ao ver o tanto de mulheres


reunidas ali

Anahí: gatinho! — se soltou da mãe e correu de encontro ao noivo, lhe


tascando um beijo

Marichelo: (pensando) minha princesa tá amando de verdade! Que emoção!


(falando) Ei, tem maiores de cinqüenta aqui! A não ser que queiram causar um
coma orgástico, é bom parar com a pegação aí!

Dulce: isso mesmo, tia! Bota moral nesses dois pervertidos! Isso aqui é um
local público… Onde já se viu?

Marichelo: os públicos são os melhores, querida… Não se faça de inocente…

Anahí: Poncho, deixa eu te apresentar minha mãe.

Alfonso: sua mãe? — surpreso

Marichelo: digamos que vim conferir uns lances por aqui. Muito prazer,
Poncho!

Alfonso: igualmente… — se cumprimentaram com um abraço bem sincero;


Marichelo ficou se abanando e fazendo cara de quem tava gostando até
demais de tudo aquilo, arrancando boas risadas

Então os quatro se sentaram ali mesmo nos sofás da recepção. Ficaram


conversando sobre as novidades, se conhecendo melhor (no caso, Marichelo e
Poncho), sobre a viagem… As secretárias logicamente também estavam na
conversa, só que não podiam deixar seus postos.

Anahí: ah, lembrei de uma coisa! Por que chegou perguntando sobre a parada
gay, Dul?

Dulce: porque tinha um traveco loiro lá no térreo…

Alfonso: não vi ninguém assim não… — rindo

Anahí: e a Hilda, Jay?

Janete: já chegou. Só que recebeu uma ligação muito da misteriosa e desceu.


Viianny 33

♥ Sólo déjate
déjate amar ♥
Dulce: será que era a Cláudia?

Marichelo: pode ser, né… — sorrindo pro nada

Anahí: e esse sorriso aí? — olhando desconfiada pra mãe

Marichelo: que sorriso? Não tá vendo minha cara de malvada, não? —


começou a fazer caretas e cócegas em Anny, que odiava isso, fazendo Dulce e
Poncho caírem na risada

Eles escutaram o elevador chegando ao andar. Rapidamente voltaram


para suas posturas formais típicas e encararam as portas do ascensor. Como
já eram quase oito horas, Anny fez menção em puxar Marichelo pra um canto,
a fim de saber o que a mãe faria durante o dia. Mas nem deu tempo. Logo as
portas se abriram, dando passagem a uma figura conhecida, fazendo todos
indiscretamente arregalarem os olhos, exceto Marichelo. Sim, era Cláudia. Ela
exibia uma fúria incontrolável nos olhos, e ainda fazia questão de divulgá-la,
reservando alguns segundos de olhar a cada um. Quando se tocou da
presença da mãe de Anny ali, o medo é que passou a vigorar… Ficou com as
mãos trêmulas e o rosto bem pálido. Marichelo lhe lançou rapidamente uma
mirada gélida e sombria, fazendo-a caminhar velozmente ruma à sua sala,
sendo seguida por Hilda. Ao fechar a porta, todos se olharam entre si e se
esbaldaram de tanto rir. Não precisava ser um expert em beleza pra ver o quão
ridículo estava aquele visual.

Anahí: resolveu bancar a cabeleireira, mammy?

Marichelo: é um hobby novo que eu tenho… Cortar cabelo de cachorras… É


bom pra aliviar o estresse. — deu de ombros — Eu gostei! E vocês?

Dulce: aprovadérrimo, tia! — ainda se recuperando da crise de riso

Anahí: rolou suborno dessa vez?

Marichelo: tô profissa, filhinha da mamãe! Preciso mais disso não!

* 1 MÊS DEPOIS... *

Los Angeles, casa dos Herrera, 16/10/08, 10h12

Linda Addison Castillo Rodríguez de Herrera sempre foi uma mulher


forte e determinada. O trágico assassinato de seus pais quando ainda tinha
sete anos só contribuiu para essa marca característica. Fora criada e educada
por sua avó materna (com a qual aprendeu conceitos rígidos de classe e
sofisticação), mas sob a tutela legal dos tios Matíaz e Vívian. Sua única meio
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♥ Sólo déjate
déjate amar ♥
irmã se chamava Alicia. Cresceram juntas desde então. Eram muito amigas…
eram as verdadeiras melhores amigas… daquelas que um dia se tornam
irmãs… Casaram inclusive na mesma manhã primaveril sob os olhares da alta
sociedade californiana. Linda com Alexander e Alicia com George. A vida
parecia perfeita demais para reles humanos. Cada casal com seu único
herdeiro: Alfonso e Oscar, respectivamente. Foram criados como irmãos, igual
a suas mães. Eram decididos e centrados em seus objetivos. O sucesso no
futuro era praticamente certo. A vida parecia perfeita demais para reles
humanos… Mas o destino tratou de repetir sua façanha. Sob as circunstâncias
de um fatal acidente de carro, os primos se tornaram irmãos… Não era uma
situação que exigia tal atitude do casal Herrera, afinal Oscar já era um homem
de 25 anos. Foi algo ritualístico, como se a senhora Linda estivesse retribuindo
tudo o que a pequena Li recebera.

Mesmo para os mais calculistas, o peso de toda uma vida algum dia há
de chegar. A fortaleza em pessoa da família Herrera se encontrava atualmente
em sérios riscos. A perda da irmã trouxe caducas mágoas talvez nem sentidas
pela inocente criança órfã. Excessos de euforia intercalavam crises
depressivas. Linda vivia uma revolução emocional para a qual não se
descobria alguma solução duradoura. Passando os anos, a freqüência dos
eventos só aumentava. Muito preocupado, Poncho resolveu viajar para visitar
os pais. Já presenciara algumas das crises de depressão. Em boa parte delas
ele foi o responsável pela melhora da mãe. Por solidariedade e aflição, Anny se
propôs a acompanhar o noivo. Ela só se ausentaria por uma semana, ele por
duas ou três.

Como já era de se esperar, ver o filho foi o melhor remédio para Linda.
Ainda mais com a presença da sua nora. Elas se identificaram à primeira vista.
Fizeram programas típicos de mãe e filha pela cidade. Chegaram a ficar o dia
todo fora, preocupando e chateando os homens da família. Nem parecia mais
aquela desanimada plantada na cama.

Oscar, que morava em Nova York, também chegou para visitar a mãe,
assim a considerava desde criança. Ter a família reunida por completo foi uma
sensação de plena realização. Isso a fez encontrar então uma solução para
suas crises que sempre esteve diante de seus olhos. A partir de agora, iria lutar
com todas suas forças para seguir bem… porque queria viver muito mais por
essa família… pela sua família…

Nessa manhã de quinta-feira, Poncho e Oscar estavam jogando o bom e


velho futebol com o pai. Era cada um por si. Anny remexia seu notebook numa
varanda de frente pra área do campo de futebol. Alternava pensamentos
extremamente concentrados com suspiros pelo peitoral torneado do noivo.

Linda: Anny, vem aqui! Quero te mostrar umas coisas…

Anny parou pra refletir. Intercalava olhares entre a sogra e Poncho. Era
só um instante. Além disso, ele estava na maior felicidade por se sentir entre
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déjate amar ♥
toda sua família novamente. Qualquer emergência bastava alguma desculpa
pra se afastar de Linda e desligar ou somente vigiar seu notebook. Mas o que é
isso? — pensou, dando um tapa em todo o raciocínio formulado. Ela não podia
dar um voto de confiança pro próprio futuro marido? Logo sendo ele o Poncho,
que já lhe demonstrara tanta lealdade e amor… Precisava aprender a separar
o olhar familiar do outro, empestado de imundície e cortado por barras de ferro
sacudidas entre assobios e palavrões.

Abaixou a tela do notebook e entrou na casa, seguindo a voz de Linda.


Vendo a situação, Poncho pediu um intervalo e saiu do campo, sendo seguido
por Oscar.

Oscar: tá maluco? — deduzindo o que o irmão ia fazer

Alfonso: antes isso… Me dá cobertura.

Oscar: não demora!

Alfonso: não vou…

Poncho entrou na sala e pegou um pen drive numa gaveta. Foi até o
notebook. Levantou a tela. Foi verificar a última pasta aberta no histórico. Só
que não havia registros.

Alfonso: droga!

Oscar: que foi? — vigiando as entradas da varanda

Alfonso: nada…

Então ele foi verificar os últimos arquivos e programas usados no menu


Iniciar. A maioria eram jogos. Anny era viciada em Super Mario e GTA,
deduziu. Foi caçar mesmo nos documentos. Só havia um usuário por sorte.
Verificou todas as pastas. Vídeos, imagens, músicas… normal… Algumas com
mais jogos… Pelo jeito, ela tinha uma coleção de todas as versões do herói
pequenino. Em uma dessas pastas, encontrou uma entrada nomeada
“Confidencial”.

Oscar: vai, Poncho! Elas tão se aproximando da escada!

Por pressa, ele resolveu copiar essa pasta suspeita. Sem querer até
selecionou um dos jogos. Era uma versão 3.0 com Bart Simpson. Como era um
arquivo pequeno, nem se deu ao trabalho cancelar a transferência e iniciar uma
nova. Em segundos, já estava se encontrando com as duas no trajeto da
escada. Iria guardar o dispositivo no quarto do irmão por segurança. Essa
dúvida tinha que acabar!
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♥ Sólo déjate
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Los Angeles, quarto de Oscar na mansão dos Herrera, 16/10/08, 15h21

Oscar: Poncho, eu realmente não queria me envolver nisso…

Alfonso: mas tu só vai fazer um favorzinho pra mim! É só dar uma vasculhada
nesses arquivos e pronto!

Oscar: só que o que eu entendo é de softs específicos pra Playstation! Do


resto só sei o básico mesmo…

Alfonso: já é alguma coisa. Anda antes que elas voltem da praia… Como eu
queria ter ido também… — contrariado

Oscar: ah é… Esqueci que tava amarrado e acorrentado quando elas te


saíram… — irônico

Alfonso: sabe muito bem que eu tinha que aproveitar essa oportunidade pra
checar esse pen drive. Agora anda!

Oscar: tá bom! — com raiva — Mas vai ficar me devendo uma gatinha lá do
Brasil…

Alfonso: tá, pode ficar com todas! Só quero minha loirinha…

Oscar começou a analisar os documentos transferidos do pen drive pro


notebook de Poncho. Primeiro foi trabalhar na tal pasta “Confidencial”. Parecia
mais um labirinto. Ela Ava acesso a pastas, que davam acesso a outras, que
chegavam em terceiras e assim por diante. Outras eram meros atalhos pro
início de todo o processo. Os nomes das pastas eram muito esquisitos e
duvidosos. Variavam de Chapeuzinho Sangrento, passando por Silêncio faz
bem, a Xadrez com Presunto. O irmão de Poncho continuava seguindo a trilha.

Alfonso: pára de entrar em pastas! Não tá vendo que é só uma armadilha?!

Oscar: calma aí ora! Quem entende de investigação aqui é tu! Eu só sei de


games…

Alfonso: tá… Desculpa…

Oscar: no problem! Só que tem que manter a calma, senão não chega a nada
e ainda faz ela desconfiar de alguma coisa…

Alfonso: volta pra aquela primeira página…

Oscar: vou ter que reiniciar então…

Alfonso: quê?!
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Oscar: sua princesa é uma hacker, meu caro… Ela travou todo o dispositivo de
voltar nessas páginas…

Alfonso: tá… Reinicia então… — Oscar o fez

Oscar: o que eu faço agora?

Alfonso: deixa eu pensar… — começou a andar de um lado pro outro do


quarto

Oscar: só tem mais uma hora…

Alfonso: elas chegam em uma hora?

Oscar: não… eu que vou sair…

Alfonso: vai pra onde?

Oscar: encontrar com a Jenna… — sorrindo

Alfonso: pensei que tivessem terminado… — sem entender

Oscar: terminamos o namoro, não de namorar…

Alfonso: ah sim… — irônico

Oscar: mas e aí? Me diz o que eu faço agora.

Alfonso: tem como descobrir quantas pastas são até o fim?

Oscar: quer dizer quantas entradas?

Alfonso: isso!

Oscar: tem sim… Um simples cálculo de matemática… Só preciso de uma


calculadora no mínimo científica.

Alfonso: eu não tenho.

Oscar: eu tenho. Passa aí minha pasta de trabalho… — recebeu e fez a conta


— Meu caro, a gente ia passar o dia aqui… São no mínimo 700 entradas,
aproximadamente.

Alfonso: então é uma armadilha!

Oscar: se ela não tiver algum aplicativo que leve direto pra entrada certa, é
sim…
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♥ Sólo déjate
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Alfonso: droga! — irritado

Oscar: enquanto tu pensa aí, eu vou testando esse jogo aqui dela…

Ele iniciou o programa. Abriu-se uma janela com fundo preto, na qual
rolavam textos e códigos. De repente, apareceu um aviso do antivírus sobre
possível malware.

Oscar: é né? O notebook é teu mesmo…

Alfonso: que foi?

Oscar: minha cunhada é chegada em vírus… — rindo — Pronto! Sistema


novinho de novo… Só que agora eu fiquei sem meu joguinho… Se ela desistir
de ser promotora, diz que ela tem vaga garantida na minha equipe de games…

Alfonso: como? — perdido

Oscar: ela manda bem… Se não fosse pelo vírus, eu estaria agora apreciando
um trabalho dela… É só hobby é?

Alfonso: tá falando de que? — perdido mais ainda

Oscar: desses joguinhos… Vi o nome dela na janela de entrada do aplicativo.

Alfonso: como assim?

Oscar: naquela tela preta! No meio daquele monte de palavras tinha o nome
dela.

Alfonso: só que a Anny não desenvolve emuladores e nem jogos… Então… —


começando a sorrir

Oscar: então o que?

Alfonso: cadê o tal jogo?

Oscar: apaguei do notebook, mas ainda tá no pen drive.

Alfonso: copia de novo!

Oscar: mas e o vírus?

Alfonso: que se dane!

Oscar abriu novamente o jogo. Dessa vez, Poncho viu os textos que
apareceram. Por cima, já viu nomes que deduziam informações suspeitas.
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♥ Sólo déjate
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Oscar: então a chave são os jogos?

Alfonso: isso mesmo! Tem como jogar esses dados em algum formato melhor
de ler?

Oscar: tem, mas vou precisar do meu notebook.

Alfonso: cadê ele?

Anahí: ele quem?

Oscar: cunhada! — com um sorriso amarelo — Já chegaram?

Anahí: uhum… Bati na porta, mas ninguém respondeu…

Alfonso: tem nada não, princesa…

Anahí: o que vocês tão aprontando aqui?

Oscar: aprontando? — desconfiado

Anahí: é!

Alfonso: impressão sua…

Anahí: não é não! Vocês tão parecendo dois adolescentes tarados escondendo
algum video pornô da mãe… — rindo

Alfonso: só se for o Oscar, porque eu não preciso de video nenhum… Tenho a


criadora do Kama Sutra na minha cama! — caminhando até ela, enlaçando-a
com os braços

Anahí: e como não a vejo quando a gente tá na tua cama?

Alfonso: porque perto da minha cama não tem espelho… — beijou-a


lentamente, deixando as línguas se sentirem milimetricamente

Malibu, Getty Villa, 18/10/08, 19h09

Anahí: linda essa exposição né? — animada diante de um artefato da


civilização grega

Alfonso: lindo mesmo… mas podemos ir embora?


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♥ Sólo déjate
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Anahí: mal chegamos, amor! E isso aqui tá o máximo! Amo história clássica! —
muito feliz

Alfonso: tô vendo… Por isso escolheu esse museu em Malibu?

Anahí: exatamente…

Anny começou a passear nas salas com esculturas e estátuas. Muitos


dos compartimentos eram agrupados, dando até um ar místico pra exposição.
Poncho ia a tiracolo. Parecia uma criança birrenta. Ela flutuava maravilhada
entre as obras dispostas aleatoriamente pelos salões. Fez questão de
conhecer primeiro todos os espaços pra depois mergulhar nos selecionados.
Nas produções que mais gostava, não tinha nenhuma cerimônia, mesmo com
os pedidos insistentes do noivo… Plantava-se diante de cada uma das
favoritas, como que tentando descobrir todos os pensamentos do artista no
momento de criá-la.

Alfonso: Anny, eu não vou ficar aqui vendo um monte de homem nu não! —
contrariado

Anahí: por que não tenta incorporar o espírito da arte? — falou olhando-o de
lado

Alfonso — devolvendo com um olhar desafiador: quer ver minha obra-prima?

Anahí: como boa apreciadora, preciso analisar por completo…

Alfonso: e aonde podemos testar suas habilidades de pesquisadora?

Anahí: vem comigo!

Caminharam até um quarto ainda fechado para o público. Fechado no


sentido de estar com aviso de proibido, com faixas de proteção e tudo mais. As
câmeras de segurança eram móveis. Assim, esperaram o foco desviar da
entrada e passaram cuidadosamente pela estrutura de segurança. Na sala em
questão, estava preparada uma ala especial sobre o culto aos cadáveres dos
gregos. Havia até um exemplar de corpo da época do apogeu de Atenas.
Estava exposto com muita elegância sobre uma bancada trabalhada em ouro.
Fazia o estilo das múmias egípcias, mas num estilo mais clássico,
historicamente falando.

Alfonso: como achou esse lugar?

Anahí: sonho com ele desde que me convidou pra vir pra Los Angeles… —
disse com a voz sedutora, enquanto o enlaçava pelo pescoço, surpreendendo-
o com um beijo bem selvagem
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♥ Sólo déjate
déjate amar ♥
Anny tomou a iniciativa e foi deitando seu corpo por cima do de Poncho
no chão, ao lado da bancada do cadáver grego. O beijo seguia sem sequer
perder intensidade. Os lábios eram sugados cada vez com mais força. As
línguas travavam verdadeiras lutas dentro das bocas sedentas de prazer.
Assim é que a pressão entre os corpos ficava cada vez maior. Poncho então
virou o jogo e ficou por cima.

Anahí: tem que ser bem rápido… — soltava as palavras durante o beijo

Alfonso: e nada de gemidos…

Ainda a beijando, ele foi abrindo-lhe os botões do vestido, ao mesmo


tempo em que ela tratava de tirar-lhe a camisa. A sensação dos corpos
quentes quando entraram em contato quase os levou a um orgasmo. Substituiu
então a boca pela nuca em seus beijos molhados. Queria sentir aquela pele
que tanto o fazia arder de paixão. Foi descendo os beijos para os ombros,
enquanto lutava contra o fecho do sutiã que teimava em piorar a situação. Até
que não agüentou mais e usou mesmo do mecanismo primitivo da força física
para abri-lo. O brilho em seus olhos ficou mais intenso ao dar de cara com
aqueles delicados e sensuais seios. Começou a massageá-los ora com as
mãos ora com a boca. Mordia e apertava os mamilos, enrijecendo-os
completamente.

Só que Anny não é de se deixar dominar totalmente. Ainda mais agora


que tinha de segurar seus provocantes gemidos de êxtase. Com o que lhe
restava de forças, abriu a calça de Poncho, afastou a cueca e segurou
firmemente seu membro ereto. Na mesma hora, ele ergueu a cabeça em sinal
de alerta. Sabia muito bem o que viria pela frente. Ela lhe sorriu ironicamente
na iminência da sessão de massagens eróticas que executaria. Com uma mão
brincava aleatoriamente com os testículos e com a outra dava suaves toques
ao redor do membro. Pressionava sem medidas a extremidade, causando uma
mescla de dor e prazer e evidenciando a proximidade do clímax pelo início de
uma ejaculação. Ele calava possíveis urros com mordidas nos ombros de
Anny. Curvava-se o máximo que podia pra ter contato direto com sua tez sem
prejudicar o trabalho que ela realizava e com certeza não abdicaria.

Alfonso: não podemos demorar muito… — pronunciou com muita dificuldade

Anahí: então vai fundo! — em tom de desafio, pousando suas mãos no peitoral
de Poncho

Sem mais demora, ele lhe arrancou a calcinha e a penetrou.


Posicionaram suas testas de forma colada. Queriam se encontrar pelo olhar
nesse momento. Aos poucos, viram que não agüentaria segurar as vozes do
prazer nessa posição. Abraçaram-se então bem forte. Poncho mordia a orelha
de Anny, enquanto ela fincava as unhas nas costas dele. Tentaram conter os
gemidos e suspiros ao máximo. E até que conseguiram. O único que escapou
ao controle de ambos foi o sussurro de alívio pela chegada do orgasmo.
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♥ Sólo déjate
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Ficaram ali, quase que imóveis, só curtindo o desafogo dos gozos inundando
seus corpos…

#Instantes depois…

Alfonso: sabe que agora vou andar mais vezes em museus… — disse
enquanto caminhavam pelo estacionamento do museu

Anahí: espero que sempre comigo!

Alfonso: não tenha nem dúvida! Quem mais toparia transar ao lado de um
defunto milenar?

Anahí: nem é tão estranho… Que horas são?

Alfonso: quase nove. Que tal esticar a noite? Vamos a um restaurante?

Anahí: ótima idéia…

Alfonso: tem um muito bom aqui do lado… — mudaram de direção

Anahí: o que é aquilo? — apontando pra um lugar meio escuro

Alfonso: parece ser um parquinho ou uma pracinha…

Anahí: vamos conferir! — puxou-o

Realmente era um parquinho com playground infantil. Ficava em uma


pequena praça dentre vários estabelecimentos mercantis. Os arredores eram
formados por arbustos e árvores bem ornamentados, numa espécie de parece,
daí a meia escuridão. No centro, no qual ficavam os brinquedos, a luz da lua
era bem mais presente. Era a sombra das árvores, que se remexiam pela forte
brisa, que davam movimentação ao ambiente. Folhas caídas corriam pela
grama, evidenciando a quietude singular daquela área.

Anny soltou sua mão da de Poncho e correu por entre os brinquedos.


Nem parecia a mesma que minutos antes se invadia de tesão… Avistou uma
casinha de madeira suspensa por pilotis cilíndricos em concreto (por proteção).
Subiu lá por uma escada também de madeira na lateral. Era uma distância de
quase dois metros do solo. De lá, avistou Poncho a admirando sob o plano do
luar. Sorrisos e olhares apaixonados então se cruzaram…

Anahí: por que não sobe aqui?

Alfonso: quer bancar a Rapunzel?

Anahí: só se for a Rapunzel na noite de núpcias…


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A paixão nos olhos deu lugar novamente ao desejo. Rapidamente, ele
atendeu ao chamado dela. Tempos depois já estavam com as bocas coladas,
os corpos prensados e as mãos tocando cada parte um do outro. De forma
bem sutil, Poncho só levantou o vestido de Anny e tirou sua calcinha.
Encostou-a sob atos ferozes em uma das pilastras da estrutura. Afastou-se
para admirá-la um pouco… Mas não agüentou muito… Mirou-a como um
predador a sua caça. Foi se aproximando milímetro por milímetro, enquanto
abria sua calça com cara de cafajeste… Um lindo e sensual cafajeste…

No tocar dos corpos já estava penetrando-a. Anny sentia bem a fundo


sua excitação. Gemia compulsoriamente a cada estocada. Ele então a ergueu,
segurando-a pelas pernas. As costas de Anny serviam como recheio entre a
frieza da casinha e o fogo do corpo de Poncho, que atravessava até suas
vestimentas. Ela se sustentava com as mãos agarradas e envoltas dos braços
fortes dele. Tinha que se manter equilibrada, até porque ele ousava nas
reboladas sem medida…

O que o outro clímax teve de discreto, esse teve de obsceno. Primeiro


foi Poncho, que explodiu de vez em um grito abafado pelos beijos urgentes de
sua amada. Ao sentir ser invadida pelo gozo dele, Anny sentiu seu corpo
estremecer e suas pernas ficarem sem ação… Sentiu a maravilha magia da
vida lhe empestando por completo. Sentiu que era amada…

***

Alfonso: me concede essa dança, l’amour?

Anahí: essa e todas as outras…

Por simples coincidência, essa noite no Getty Center estava destinada


aos casais genuinamente apaixonados da cidade praiana. As mesas,
impecavelmente postas para dois, ficavam espalhadas e isoladas em um
enorme salão todo decorado com rosas vermelhas e lírios alvos. Em cada uma
delas, arranjos florais sofisticados que se desmembravam em pétalas caídas
na superfície, além de suculentos bombons de chocolate com morango e os
próprios morangos — notadamente frescos e de qualidade inquestionável.
Cada casal tinha seu palco particular para dançar, equipado com jogos de
luzes que bloqueavam olhares alheios e dava um toque extra de romantismo.

As declarações melosas em cada interpretação do cover do Malcolm


Roberts só reforçavam os sentimentos que cada um ali afirmava somente com
seus olhares tolos cheios das mais antigas sensações… Every night, I long to
hold you tight until the morning light. Shines into your eyes… Love me now!
We'll get along somehow… Won't you please, take my hand? And together
forever we'll stand? (Toda noite, eu te abraço longa e fortemente até o
amanhecer. E vejo o brilho do sol em seus olhos… Ama-me agora! Nós
seguiremos de algum jeito… Não quer segurar minha mão? E juntos pra
sempre ficarmos?) [Love is all - Malcolm Roberts]
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♥ Sólo déjate
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Já era quase meia noite quando os dois saíram do restaurante, após um
jantar regado a amor e delicadeza.

Anahí: pra onde estamos indo, Poncho?

Alfonso: pra um lugar que vai adorar com certeza… — disse enquanto
acariciava sua bochecha carinhosamente

Minutos depois, estavam no saguão do Malibu’s Carbon Beach, um


luxuoso hotel à beira-mar de Malibu.

Anahí: e não vamos pra casa?! — surpresa

Alfonso: não! Já está muito tarde… — disse enquanto assinava a papelada do


hotel

Anahí: ah, sim… Então é vidente agora?

Alfonso: por que? — distraído

Anahí: talvez porque eu esteja vendo o nome reserva bem aí nesse papel que
tá assinando…

Alfonso — rindo: faz parte do pacote de romantismo da noite.

Anahí: o que? O nome reserva?

Alfonso: não. O fato de ser vidente… — rindo docemente, enquanto ela


aparentava estar brava — Ah, não vai ficar zangada agora?! — acariciando o
braço dela

Anahí: meu nome é Anahí e eu não estou nem aí… — pronunciou de forma
musical a la Jay Kyle, enquanto cruzava as pernas em sinal de revolta

Alfonso: sabe que brava fica ainda mais sexy?

Anahí: que bom… Assim faz o serviço todo só olhando pra mim…

Alfonso — segurando o riso: só me explica por que tá assim então.

Anahí: pensa que não saquei que trouxe todas as tuas mocréias pra cá?

Alfonso: isso aqui não é motel, meu amor…

Anahí: a diferença de motel pra hotel aqui é só a beira da estrada, então dá no


mesmo… — cruzou os braços
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♥ Sólo déjate
déjate amar ♥
Alfonso: e por que eu traria essas mocréias se eu nunca amei ninguém na
minha vida além de você?

Anahí — começando a chorar: verdade?

Alfonso: claro, minha vida… — enxugando as lágrimas dela — E vamos que


nossa noite ainda não terminou… — saíram caminhando rumo ao elevador —
Acha mesmo que depois de múmias e parques eu vou abrir mão de uma boa
cama?

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