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Viianny 1

♥ Sólo déjate amar ♥


2ª FASE
DÉJAME TAN SÓLO AMAR
♫ DÉJAME TAN SÓLO AMAR (SIN BANDERA) ♫
23.02.09

Ele aumentava mais e mais a velocidade das estocadas. Fazia-a senti-lo


bem fundo, em lugares que nem imaginava que existiam. Roçava os dois
corpos de forma suave e bruta. O suor dificultava, mas só aumentava a
excitação dos dois. A pressão entre ambos crescia a cada segundo. Começava
em determinados pontos estimulados e se convergia no lugar de encontro das
sexualidades. Afastavam-se a uma distância maior a cada vez, só pra depois
sentirem mais forte a resposta da volta. Mãos sedentas percorriam a silhueta
um do outro. Queriam se sentir totalmente um no outro, queriam sentir um ao
outro!

Beijos molhados no pescoço… Sussurros de declarações de amor,


paixão e entrega… Pernas se esfregando descompassadamente enquanto
reboladas precisas reviravam os olhos e as sensações. Foi aí que ele se
afastou. Saiu de dentro dela e ficou sentado na beira da cama. No mesmo
instante, ela gemeu de insatisfação. Queria-o lhe amando sem cessar. Ele
sorriu satisfeito a ver a reação dela. Uma mistura de excitação e revolta
naqueles lindos olhos azuis brilhantes. Estava deitada apoiada pelos cotovelos
na cama, com o rosto esboçando alguma preocupação em relação a ele.
Perdido em seus pensamentos, ouviu algo como um “Algum problema?” ou “O
que houve?”. Sorriu docemente como retorno. Ela então se levantou, sentou de
frente pra ele, com os rostos quase na mesma altura. Estendeu-lhe os braços,
que foram recebidos de forma calorosa em torno do pescoço.

Por alguns instantes, se sentiram sem nenhuma malícia. Toda a imagem


que tinham do outro se dissipara ali, naquele simples afago. Num ato ligeiro,
ela o abraçou com mais força e o jogou de volta deitado na cama, ficando por
cima, sentada em volta a suas pernas. Pensava que ia me deixar com um
orgasmo por terminar? Nem pensar… Os dois deram umas boas gargalhadas.
Já tinham conhecimento do quanto eram insaciáveis. Precisavam apenas se
testar mais algumas vezes, só pra ter certeza… E enquanto isso, se
esbaldavam de paixão.

Ela começou a lhe dar chupões por todo o corpo. Já deu pra perceber os
pontos fracos dele neste mesmo dia. Algumas vezes já tinha parado pra pensar
sobre quais seriam. Chegou inclusive a se imaginar em seus braços um dia
após se conhecerem. Talvez fosse a abstinência de quase duas semanas pelo
excessivo trabalho. Ou então que estivesse louca, mas apaixonada…? Isso
não imaginava…
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♥ Sólo déjate amar ♥


Uma súbita vontade de lhe beijar a boca veio. Segurou seu rosto com as
duas mãos, remexendo de leve em seus cabelos e na sua rala barba sexy.
Uniu os lábios de forma bem lenta. Sentiam a respiração novamente alterada,
deixando as bocas se tocarem e afastarem alternadamente. Enquanto isso, ela
arqueou o quadril e deixou as intimidades se esfregando. Não sabia por que,
mas, com ele, sutis carícias eram como o despertar de um vulcão.

Conforme o beijo ganhava maiores proporções, a fricção entre os sexos


também se agitava. De vez em quando palavras desconexas, gemidos
prolongados ou sussurros involuntários escapavam por entre o movimento dos
lábios. Ela apertava forte os braços dele, não só por estar se segurando neles,
mas também por desejo… Algumas marcas com certeza ficariam ali como
recordação dessa noite.

Ele passeava as mãos por todo o corpo dela. Segurava seus seios.
Apertava seu bumbum. Massageava suas coxas. Bagunçava seus cabelos.
Descia ao longo das costas. Segurava seus seios de novo… Até que numa
dessas seqüências, sem mais conseguir se segurar, apoiou as mãos com
segurança no bumbum e enterrou seu membro com força e de uma só vez na
intimidade dela. Na mesma hora, soltaram urros de satisfação. Ela pendeu a
cabeça pra trás gemendo como um animal selvagem desesperado. Começou a
galopar rápido em cima do membro dele. Reter as emoções do quase orgasmo
anterior só aumentou as do que viria pela frente.

Os corpos já estavam esgotados, banhados pelo suor e inundados pelo


desejo. Mas continuavam firme, sob o comando do instinto sexual. Ela se
socava bem forte pra dentro dele repetidas vezes seguidas e sem cessar. Às
vezes, se soltava dele, ficando presa apenas pelos sexos conexos. Rebolava
com mais vontade ainda, enquanto ela mesma acariciava seu clitóris com as
mãos. Só que ele não agüentava, e acabava por lhe agarrar com firmeza os
seios, cada um em uma mão. Quando ficava mais exausta, se colava nele,
esfregando seus seios no busto dele, entrelaçando os braços nos dele,
beijando seu pescoço, sua boca, seu ombro… Faziam declarações de extrema
atração física e paixão no ouvido um o outro, a maioria de baixo escalão.
Sentiam-se dois pervertidos ao extremo. Queriam e não queriam ao mesmo
tempo chegar logo ao ápice. Por isso que aceleravam e retardavam os
movimentos. Foi assim que, ao se abraçarem mais uma vez, finalmente se
deliciaram com mais um orgasmo. E esse foi bem prolongado porque
continuaram com estocadas leves. Ela, quando sentiu os jatos quentes lhe
inundando por dentro, chegou a embaçar a vista de tanto tesão e acabou por
gozar também.

Ficaram assim por mais alguns minutos, até as respirações se


acalmarem. Ela então caiu pro lado, deixando ainda as pernas enroscadas e as
mãos unidas.

Eu ainda não acabei com você…

Nem eu…
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Houston, casa dos Puente, 01/03/09, 08h11

Marichelo: acorda, Anny! Bom dia! — abriu de uma vez as cortinas do quarto
da filha

Anahí: tá cedo, mãe… Não tenho nada pra fazer hoje… — bocejou ainda com
os olhos fechados

Marichelo: como que não tem? Tem yoga hoje, dona preguiça!

Anahí: ah é… — sorriu docemente enquanto sentava na cama encostada na


cabeceira

Marichelo: tá com uma cara ótima… Espera aí! Tá com sono, tá com preguiça,
tá feliz… Não me diga que…?

Anahí: isso mesmo… Tive outro sonho… — deu uma gargalhada

Marichelo: conta! Conta! Conta! — animada, se jogou com tudo na cama,


deitando de frente pra filha

Anahí: te conto na hora do café…

Marichelo: nada disso! Sonhos eróticos dão indigestão…

Anahí: quê?! — segurando o riso

Marichelo: ordem de mãe! Conta! E nos mínimos detalhes…

Anahí: pervertida! Cadê o daddy?

Marichelo: malhando… Conta!

Anahí: o sol tá forte hoje?

Marichelo: do mesmo jeito de ontem… Agora conta!

Anahí: mas eu… — foi interrompida

Marichelo: Anahí Giovanna! Se você abrir essa boca mais uma vez pra falar
algo que não seja esse maravilhoso sonho, saiba logo de uma coisinha. Fui eu
que fiz, e muito bem feito, essa sua boquinha linda em um lugar que não vem
ao caso. Então eu posso muito bem desfazê-la! Do tipo que nem em sonhos
vai beijar algum Herrera… — calma, mas extremamente curiosa
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Anahí: vovó malvada, né, princesinha? — acariciou a barriga — Acha que eu
devo contar pra ela? — ficou um tempo calada, como se escutasse a filha
respondendo e depois olhou pra mãe — Ela disse que só é pra contar se ela
ganhar um beijo da vovó com a cara mais esticada do mundo…

Marichelo: trato feito! — se aproximou da barriga e começou a falar bem


baixinho, enquanto dava beijos estalados por cima da camisola

Anahí: o que tá falando aí?

Marichelo: papo de neta e avó… Não se meta, intrometida… — rindo — Estou


pronta… — continuou deitada com a mão na barriga da filha — Desembucha!

Anahí: sabe que não são sonhos, né? São na verdade lembranças das nossas
transas… Essa de ontem foi no dia em que a gente transou pela primeira vez…

Marichelo: foi a primeira vez? — empolgada

Anahí: não… Foi no mesmo dia, mas não a primeira…

Marichelo: e foram quantas nesse dia?

Anahí: umas cinco…

Marichelo: como? — se levantou de uma vez, surpresa, encarando Anny

Anahí: foram umas cinco vezes… A que sonhei foi a terceira… Foi no quarto
dele no hotel…

Marichelo: maravilha! Essa vai dar para experimentar com teu pai… —
batendo palmas — Continua!

Anahí: coitado do daddy… — rindo

Marichelo: coitado? Tá por fora do teu pai! Acha que tem sangue pervo só da
minha parte é? Vou te contar um segredinho…

Anahí: fala…

Marichelo: essa história de academia é só fachada… A gente malha mesmo é


na cama! — as duas começaram a gargalhar muito

Anahí: mãe, eu tô com fome! Deixa eu contar enquanto tomo café? — fazendo
manha

Marichelo: tá… Mas só pela minha bonequinha… Vai te banhar que eu trago o
teu café aqui…

Anahí: e tu?
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Marichelo: já tomei… E muito bem tomado por sinal… — pensativa

Anahí: se continuar falando assim, vou ter que contratar uns stripers pra me
tirar da seca…

Marichelo: teve uma noite mais que quente e ainda reclama?

Anahí: essas noites só servem pra Sophie ficar mais próxima do pai…

Marichelo: ah tá… São pela Sophie… Com certeza… — levemente irônica

Teresina, hospital São Marcos, 02/03/09, 16h

Alfonso: Oscar, onde é que você tá? — preocupado, falando ao celular com o
irmão

Oscar: chegando no São Marcos… E nem me venha com aquela ladainha


repetida…

Alfonso: venho sim! Cara, faz só quinze dias que tu recebeu alta! Tem que se
cuidar!

Oscar: eu tô me cuidando… Olha só. Peguei um táxi, não vim a pé… — com ar
divertido — Quando terminar o horário de visitas, não vou ficar passeando
pelos corredores, volto direto pro teu apê…

Alfonso: muito engraçado… — irônico — Mamãe devia ter ficado aqui… Tu só


obedece ela…

Oscar: e você nem comece a fazer fofoca só pra ela ficar preocupada…

Alfonso: tu é que tem que ficar preocupado… Sabia que uma cirurgia na
cabeça é muito séria?

Oscar: o médico me explicou tudo, pode deixar… Mas ele também disse que
não era por isso que eu tinha que ficar mofando em casa.

Alfonso: é, realmente ele disse isso… Só que tu tá indo nesse hospital quase
todo dia! E só não vai todos porque eu consigo impedir! Quer voltar pra aí é? —
alterado — Se quiser, me diz que eu mesmo dou um jeito…

Oscar: cara, mas tu tá o puro estresse hoje… Tu é que tá precisando operar a


cabeça agora! Ainda bem que saí daí… Isso tudo é falta da Anny é? —
desligou sem esperar Poncho responder e se encaminhou para a ala dos
apartamentos do hospital, parando na recepção de lá — Boa tarde! Queria
saber qual o quarto de Lawyse Uckermann…
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Recepcionista: um instante, por favor… — ficou mexendo num computador —


Pronto. Achei. Mas preciso da sua identidade pra liberar a entrada.

Oscar: minha identidade…? — ficou alguns instantes pensativo, tentando se


lembrar de algo que não sabia exatamente o que ou por que

Recepcionista: algum problema, senhor?

Oscar: o que? Ah sim… — pegou o documento e o entregou

Recepcionista: vejo que o senhor esteve internado aqui semanas atrás… Já


se recuperou totalmente?

Oscar: totalmente não… Mas estou bem… — tranqüilo, enquanto recebia a


identidade de volta

Recepcionista: a senhorita Uckermann está no apartamento 291. Carla,


acompanhe o senhor Herrera até lá…

Oscar: por aqui, senhor… — guiou Oscar até a porta certa — É esta. Com
licença. — saiu

Oscar foi entrando devagar. Não se sentia à vontade, já que nem ao


mesmo conhecia Lala. Não sabia como a encontraria, aliás, não sabia nem
quem ela era, mas fez questão de acompanhar toda sua melhora desde
quando ainda era paciente no hospital. Na sala do apartamento tinha algumas
pessoas, algumas lhe pareceram familiar, outras não…

Melanie: ah não, cara! Tu aqui outra vez?

Oscar: cala a boca, sua metida! — Dulce segurou o riso — Como vai, Dulce?

Dulce: eu vou muito bem… E você? Tá indo tudo bem?

Oscar: tá sim! Soube que Lawyse tinha acordado… Vim conversar com ela…

Dulce: ela tá descansando no quarto, jogando conversa fora com May… Pode
entrar lá se quiser.

Oscar: não vou atrapalhar?

Melanie: cara, tu tá parecendo um matuto falando assim…

Oscar ia responder o comentário de Mel, mas Dulce foi mais rápida e


conseguiu cortar o assunto, interrompendo-o.

Dulce: claro que não!


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Melanie: entra logo de uma vez, mané… — impaciente

Ele fez uma cara de desgosto e seguiu por um corredor que dava direto
ao quarto. Caminhava um pouco devagar pra evitar tonturas ou enxaquecas,
sintomas certos que apareciam quando se excedia.

Dulce: por que tanto implica com ele? — falando baixo

Melanie: criei birra com os Herrera, depois que aquele fez aquilo com Anny…
— cochichando — Como é que pode? O casal mais mel que eu conhecia
terminar daquele jeito?

Dulce: pensei que eu e Chris é que fôssemos o casal mais mel que conhecia…

Melanie: não, vocês são o casal lua…

Dulce: lua? — sem entender

Melanie: é! Cada dia vocês tão de um jeito. Tem hora que vocês aparecem,
tem hora que somem… Mas todo mundo sabem que estão bem ali…

Dulce: e isso é bom ou ruim? — receosa

Melanie: depende do que fazem escondido… — as duas começaram a rir


muito, mas logo se deram conta de onde estavam e se calaram

Dentro do quarto, Oscar tentava se manter calmo, apesar de estar


nervoso sem explicação. Criou certo laço com Lala enquanto ela não acordava
do coma. Quando ficava a sós com ela, começava a conversar, como se
fossem amigos de muito tempo. May resolveu deixá-los sozinhos, pra que se
conhecessem realmente.

Lawyse: senta aqui do meu lado… — indicando a poltrona

Oscar: ok! — sentou — Poncho me disse que havia acordado, aí vim te ver…

Lawyse: ah, que bom! Queria até agradecer por ter ficado do meu lado
naquele dia horrível…

Oscar: eu poderia dizer que não me custou nada… Mas não posso… — ela
mostrou um semblante pensativo — Eu não me lembro do que aconteceu
naquele dia…

Lawyse: como? — assustada

Oscar: eu bati a cabeça em algum lugar. Tive que tirar um coágulo no cérebro.
Graças a Deus não foi mais grave! Só que, como seqüela, perdi parte da minha
memória recente…
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Lawyse: nossa! — surpresa — Que chato! E o que lembra exatamente? O que
não se perdeu aí na tua cabecinha? — riu docemente

Oscar: pra resumir a história, acordei falando inglês… — os dois riram

Lawyse: mesmo assim, quero agradecer… E também pelas visitas… Soube


que veio várias vezes…

Oscar: fiquei preocupado contigo… Sabia que ia conseguir sair do coma,


alguma coisa me dizia isso…

Lawyse: quando me disseram que tinha vindo me visitar quase todo dia, fiquei
toda emocionada… Nem me conhece direito e ficou todo prestativo. Mas se
não se lembra de nada daquele dia, como se lembrou de mim?

Oscar: na verdade, foi Poncho que me contou de ti. Eu quis saber exatamente
tudo o que tinha acontecido. Inclusive, quero que me conte o que aconteceu lá
dentro do prédio.

Lawyse: me responde uma coisa. O que aconteceu com o resto do povo que
tava com a gente?

Oscar: Ada foi baleada e infelizmente não resistiu. Teve uma infecção
generalizada e acabou não sobrevivendo.

Lawyse: ai, meu Deus! Adinha… — visivelmente triste

Oscar: calma, você não pode se alterar… Tem que ficar boa pra sair daqui
logo! Estavam todos apreensivos pela sua melhora… Até aquela sua irmã mala
chorou… — rindo

Lawyse: mentira?! — incrédula

Oscar: chorou que eu vi!

Lawyse: essa ela não me contou… Minha maninha braba e festeira…

Oscar: garanto que ela não foi a nenhuma festa nesses três meses…

Lawyse: e quanto aos outros? Tinha mais gente na recepção com a gente.

Oscar: na recepção? Mas nós fomos encontrados numa salinha de


almoxarifado…

Lawyse: dessa parte eu não sei… E quem tanto tava lá?

Oscar: nós, Ada e Julieta…

Lawyse: Julieta… E como ela tá?


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Oscar: tá na UTI. Parece que tá em estado de choque… Não fala com


ninguém. Tá melhorando aos poucos…

Lawyse — falando baixo: bem que podia ter ido no lugar da Adinha…

Oscar: como?

Lawyse: nada! E o que tu foi fazer lá na promotoria?

Oscar: Poncho me disse que eu tinha descoberto não sei o que e que o tinha
chamado pra conversar com Anny lá…

Lawyse: mas Anny não tá… — parou de falar de uma vez

Oscar: o que tem Anny?

Lawyse: desculpa, mas é assunto de amigas. Só posso te contar se decidir


mudar de lado… — rindo

Oscar: que lado? — sem entender

Lawyse: sabe… Se decidir vestir saia e passar batom…

Oscar ficou todo o horário de visitas conversando com Lala. Já estavam


bem íntimos. Combinaram inclusive passeios pra depois que estivessem
completamente recuperados. May voltou pra se despedir da amiga, ficando
impressionada com a forma como eles se davam bem. Fez até questão de
comentar tal fato com Dulce e Mel. Esta revirou os olhos de raiva só de ouvir o
nome Oscar. A ruiva há certo tempo queria ir atrás do namorado pelos
consultórios do hospital, mas Mel não permitiu. Ela não queria em hipótese
alguma ficar sozinha naquela sala do apartamento ou, em situação pior por seu
ponto de vista, ter que agüentar Oscar. Estava assumidamente chateada com
Poncho, e esse sentimento agregou também o irmão dele. Nem a própria Mel
sabia o porquê, mas tinha momentos em que sentia mais raiva de Oscar do
que de Poncho. Achava tudo irritante nele. O jeito como caminhava, no qual
exibia sem cerimônia seu corpo escultural… O modo jogado e impecavelmente
arrumado de seus cabelos… As roupas super elegantes, mas totalmente
despojadas… A forma como encarava as pessoas de frente, sem receio de
repulsa… Aquelas mãos macias e selvagens… Até o piercing quase
imperceptível que usava incomodava Mel… Chegou ao ponto de tirar todos os
que ela mesma tinha.

O irmão de Poncho se despediu de Lala, saiu do quarto e logo se


deparou com Mel e Dul vegetando nos sofás. A ruiva até ensaiava cochilos,
enquanto a outra parecia perdida entre infinitos pensamentos. Ele, pela
primeira vez, ficou com vontade de saber o que se passava na sua cabeça.
Seria algum amor não correspondido? Uma desilusão? Não! Na certa estava
tentando lembrar com quem transou na última festa…
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Melanie: dá pra parar de olhar pra mim? — falou sem mudar a direção perdida
do olhar

Oscar: não tava olhando pra ti…

Melanie: ah tá, desculpa… Oh, fulano?! — ficou fingindo que falava com
alguém na sua frente — Dá pra sair de perto de mim? Porque tem gente aqui
que fica olhando pra cá sem querer… — irônica

Dulce: se vocês vão começar a brigar, me avisem que eu saio na mesma


hora…

Oscar: eu não vou brigar com ninguém…

Melanie: imagina se fosse… — distraída

Oscar: sabe qual o seu problema, garota?

Melanie: tá, me fala! Qual é o meu problema? — se levantou de uma vez e o


encarou bem séria, pronta pra próxima briga

Oscar: é que você tá precisando de um homem que te ponha na linha…

Melanie: e eu lá sou mulher de obedecer a homem?! Inventa outra, meu caro!

Oscar: é isso sim! Você tem cara de ser daquelas que bota os homens na
palma da mão… que só ama a si mesma… que só quer tirar dos homens o que
precisa e depois joga fora… Tá precisando sim saber o que é amar alguém!

Melanie: e quem você pensa que é pra ter tanta certeza disso?

Oscar: qualquer um pode dizer a verdade quando esta parece tão evidente…
— sério

Dulce: vão brigar, né? — calma — Pois tchau! — saiu do apartamento

Melanie: pois deixa eu te dizer uma verdade então! Se eu só me amo, você


nunca encontrou alguém pra amar de verdade!

Oscar: isso não é verdade! Não sabe nada sobre mim…

Melanie: sei o suficiente pra afirmar que vive indo e voltando com as mesmas
mulheres… Porque elas são perfeitas, são ideais em todos os sentidos, mas
mesmo assim o amor não veio…

Oscar: fala da boca pra fora! — tentou não se mostrar abalado — Ou então,
mostrou que entende tanto do assunto que aposto como isso é o que acontece
contigo!
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Melanie: é, pode ser… Mas porque eu quero que seja assim!

Oscar: não… Pelo amor se faz tudo… Não sabe mesmo o que é amar!

Melanie: e tu sabe? — com ar desafiador

Oscar: não sei, mas vou descobrir…

Os dois ficaram se encarando com uma fúria estampada no rosto.


Estava declarada a guerra. A frieza do olhar mostrava a grandiosidade do
exército. A proximidade dos corpos realçava a coragem e a força necessárias
no campo de batalha. O silêncio permitia que ambos conhecessem seus
inimigos. Suas fraquezas ficavam mais nítidas a cada respiração ofegante que
era sentida. E as aspirações logo seriam desvendadas, depois que finalmente
unissem seus lábios. Um beijo rápido e profundo. Bastante molhado e estalado.
O suficiente pra sentirem o gosto um do outro. Oscar parou de uma vez de
beijá-la e saiu apressado, levando consigo munição alheia para o próximo
combate.

Sólo una vez he vencido la distancia entre tus labios y yo. Sólo una vez
he sentido el incendio de tu piel. Sólo una vez he tenido tu calor entre mis
manos y te besé, te besé, te besé… Sólo una vez y ya no puedo respirar
porque no hay nadie en tu lugar… Sólo una vez y el miedo me quiere matar. No
sé si volverá a pasar. Y te besé, te besé, te besé… [Te besé – MDO]

***

Dulce saiu à procura do namorado. Sabia que naquele horário


costumava visitar e avaliar seus pacientes, mas por alguma razão resolveu ir
primeiro ao consultório principal dele. Não seria uma ida à toa, já que mesmo
ele não estando lá, a secretária o localizaria em questão de segundos.

Ao sair do elevador, de longe avistou aquela comissão traseira


conhecida. Chegou a sorrir sozinha por pensar assim, com essas mesmas
palavras. Só que logo o sorriso se desfez ao ver a situação à sua frente
enquanto caminhava. Chris estava aparentemente explicando algo a uma
mulher bem jovem. Até aí tudo bem. O problema estava nela nem prestar
atenção e ainda fingir que brincava com o crachá dele, quando na verdade
queria era tocar no peitoral malhado do médico. Aquilo deixou a ruiva
extremamente enfurecida. Como é que ele não notava aquele atrevimento? Ou
pior, como permitia aquele atrevimento?

Aproximou-se dos dois já decidida a armar o escândalo que o ambiente


de um hospital permitia, mas se deteve ao ver quem era a tal mulher. Congelou
por dentro e a fúria passou a contaminar somente seu olhar e suas palavras.

Dulce: Chris… — seca


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Christopher: oi, Dul! — percebendo o tom dela

Dulce: tô atrapalhando? — olhando de lado pra mulher

Ele ia responder. Já até remexia a cabeça negativamente. Mas a mulher


lhe tomou a frente da conversa e falou:

Mulher — grosseira: sim! Ele tava me explicando sobre o problema de um


parente meu…

Dulce: ah, com certeza! Ele explicando como se faz uma massagem cardíaca
e você experimentando… — se alterando

Chris abraçou a ruiva de lado na intenção de contê-la. Ela tentava se


desvencilhar, mas ele só a segurava com mais força como resposta.

Christopher: calma, Dul… Não tá acontecendo nada de mais aqui…

Mulher: e você é o que mesmo pra vir aqui reclamar?

Dulce: sou a futura ex-namorada dele!

Mulher — sorrindo descaradamente: vão terminar?

Christopher: não! — se apressou em responder — Ela falou assim porque


vamos passar de namorados a casados em breve… — a mulher ficou séria na
mesma hora — Acho que não apresentei vocês ainda.

Dulce: não precisa!

Christopher: precisa sim…

Dulce: é melhor não… Depois a gente se fala… — ia saindo, mas ele a


segurou e trouxe de volta

Christopher: Dulce, essa é Clarisse. Clarisse, essa é Dulce.

Mulher: Clarisse Claudino. — arrogante

Dulce: posso ir agora? — tentando ficar calma

Christopher: nada disso… Vai pro meu consultório e me espera lá. — Dulce
saiu se remoendo de raiva

Clarisse: sua namoradinha não gostou de mim…

Christopher: mais respeito, por favor!


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Clarisse: tá, desculpa! Mas foi só ouvir meu sobrenome que ficou
domadinha… — riu debochada — Ela sabe se colocar no devido lugar, ainda
bem…

Christopher: tem mais alguma dúvida?

Clarisse: tenho várias! — pegou na mão dele animada

Christopher: então fica pra outro dia… Com licença! — entrou no próprio
consultório

Clarisse: essa idiota tinha que atrapalhar tudo! Vou ter que voltar outra vez pra
bancar a netinha preocupada! Droga!

#Dentro do consultório…

Christopher: Dul, não te entendo… Sabe muito bem que eu tenho que tratar o
melhor possível as pessoas…

Dulce: e tratar o melhor possível significa se esfregar com ela?

Christopher: assim tá me ofendendo! E naquela hora? Parece que queria era


fugir!

Dulce: isso mesmo… Era isso o que eu fazia durante toda minha vida! Mas
agora talvez seja impossível!

Christopher: o que quer dizer com isso?

Dulce: Clarisse… Eu já sabia quem ela era…

Christopher: já? — surpreso

Dulce: ela é minha sobrinha…

Christopher: quê?!

Dulce: acredite, eu sou a principal interessada que isso fosse mentira.

Christopher: é que não dá pra acreditar… — abismado — Já tinha me


explicado parte dessa história, mas isso? Espera… então ele é…?

Dulce: é! Aquele velho é meu pai. — ressentida — Me custa muito falar isso…

Christopher: então acho que deva saber que ele tá internado aqui há três
dias…

Dulce: é muito grave?


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Christopher: tive que fazer mais uma safena… Ele vai ficar bom. É duro na
queda! — riu — Acho que puxou a ele nisso…

Dulce — rindo: não brinca com isso… Ah, que história é essa de casados?

Christopher: você foi oficialmente pedida em casamento, meu amor…

Dulce: ai, Chris… Já sabe que eu… — foi interrompida

Christopher: que não pode se casar sem Anny estar aqui… Já sei disso. Mas
eu não falei que seria amanhã ou depois…

Dulce: quando então?

Christopher: em uns seis meses… Por aí… Tá bom pra ti?

Dulce: tá! Mas isso fica só entre a gente por enquanto!

Christopher: OK! Mas tem uma coisa que tá me irritando agora! — fingindo
estar bravo

Dulce: o que? — preocupada

Christopher: como é que nesses minutos com a gente sozinho aqui e eu não
ganho nem um beijo?

Dulce: ah, é isso? Deixa que eu medico isso!

Ela o puxou com força pela gravata e uniu os lábios num beijo com ritmo
intenso. Ficaram totalmente envolvidos, esquecendo até onde estavam. Foi
com o chamado do bip de Chris que se desgrudaram e ele saiu correndo,
sorrindo de felicidade, apesar do olhar apreensivo de médico. Dulce acordou
do transe em que estava e discou um número no celular.

Dulce: Anny! Adivinha! Chris me pediu em casamento! — quase pulando de


alegria

Houston, Au Petit Paris, 06/03/09, 12h31

Juliana: tá, entendi… — respirou fundo, exausta, enquanto conversava na


webcam

X: espero mesmo… Ei, como foi a conversa lá com o contato do hospital?


Como é o nome dele mesmo?

Juliana: Juan… Ele impôs algumas condições… Acho que não vai rolar…
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X: minha fonte foi bem clara com relação ao perfil dele… Mas por que não vai
rolar? Tá tudo dando certo!

Juliana: as condições dele são impossíveis…

X: nada é impossível, meu bem… O que ele pediu?

Juliana: ele quer sair comigo…

X: e…?

Juliana: como ‘e’? Conheço esse tipo de gente! Vai querer acabar a noite em
um motel e isso antes de fazer a parte dele…

X: tá… Olha, não sei se é porque acabei de sair de um dia exausto de trabalho,
mas até agora não entendi o problema…

Juliana: como não entendeu? — irritada

X: a única coisa que vi aí foi uma bela noitada como parte do pagamento. Qual
o problema nisso? Tá é no lucro, querida!

Juliana: eu vou fingir que não ouvi isso… Assim como também não vou fazer
isso…

X: é uma condição, não é?

Juliana: é.

X: então vai fazer sim! E espero que seja muito bem feito!

Juliana: mas não vou mesmo!

X: tá bom… Então amanhã vou ter uma conversa séria com tua irmã…

Juliana: não faça nada com Julieta! — séria

X: já sabe das minhas condições… Sabia que todo dia vou lá ver como ela tá?
Hoje eu disse que ia falar contigo e ela mandou um beijo! — deu uma
gargalhada bem alta, chamando a atenção de alguns presentes no restaurante
— Não sei por que de vez em quando te dá esses ataques de moralidade. Pelo
que me lembro, não demorou quase nada pra abrir as pernas pra aquele cara
da boate…

Juliana: porque eu não sabia que seria dopada enquanto dormia e que
acordaria numa cidade entre o nada e a baixa da égua!
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X: mas olha só aonde tá agora… Foi só seguir as minhas instruções e agora tá
na maior mordomia… Mais alguns meses e pode voltar pra sua casinha
medíocre…

Juliana: te odeio, Cláudia! — furiosa

Cláudia: já disse pra não falar meu nome! — zangada — Não contrataria uma
pessoa burra pra fazer meus servicinhos… Não me decepcione!

Juliana: obrigada pelo elogio! — sarcástica — Mas por que tem tanta certeza
de que eu não vou desobedecer? Posso muito bem desistir e que morra minha
irmã, que você se lixe e o mundo se dane!

Cláudia: é uma opção que você tem… Só que não combina com seu estilo
romântico mexicano de ver a vida… E também porque tenho uns amigos com o
dedo coçando no gatilho pra te enfeitar de chumbo… Como eu disse, é uma
opção!

Juliana: você não presta…

Cláudia: ai, muito obrigada! — fingiu que estava emocionada — Nunca me


senti tão vangloriada… Quer um autógrafo?

Juliana: vai te catar!

Cláudia: mais respeito, mocinha! Tem vigiado aquela loira aguada?

Juliana: sim… E ela não tá mais loira…

Cláudia: como que não?! Mas ela tá grávida! Como pintou o cabelo?

Juliana: pintando ora! Deve haver alguma tinta especial, não sei…

Cláudia: ah, isso não interessa! Tem certeza que é ela, né?

Juliana: tenho sim… — entediada — Quando é que eu vou poder almoçar em


paz? Me responde.

Cláudia: almoçar?! Ah, é… Sempre me esqueço da diferença de horário…


Pois vai, Juju…

Juliana: já falei para não me chamar assim!

Cláudia: tá, simples camponesa de nobre coração que vai todos os dias ao
bosque recolher lenha… Depois entro em contato de novo. Tenha um bom
almoço! — saiu da conversa pela webcam

Juliana: idiota! — desligou o notebook


Viianny 17

♥ Sólo déjate amar ♥

Teresina, apartamento de Poncho, 07/03/09, 19h12

Poncho passou o dia agitado. A cada dia sentia mais saudade de Anny.
Principalmente nos finais de semana, quando costumavam passar o dia juntos
somente se curtindo. Mas não era puramente uma questão de costume.
Porque o vazio que sentia só ela poderia preencher.

Descobriu por alto que Anny havia viajado. Compreendia perfeitamente


o ato. Não sabia como ela estava. Ele, no entanto, sabia que se afogava cada
dia a mais no trabalho. E nem tinha interesse em se salvar. Até porque não
dependia dele a própria cura, mas do seu amor. Resolveu agir. Não agüentava
ter que se omitir. Não lutar. Pegou o celular e discou o número de Anny. Do
celular dela antes de viajar. Era o único número que tinha. A única opção que
tinha. A cada vez que caía a ligação na caixa de mensagens, as vozes de
desespero em sua alma gritavam. Garra ia e voltava a cada chamada.
Precisava se esvaziar daquela angústia.

Do outro lado da linha, Anny olhava chorosa pro celular deitado em sua
cama. Ela e Fernanda estavam conversando animadamente no quarto quando
o celular começou a tocar. Só pelo toque, já sabia que era Poncho. Cada
amanecer siempre termino consolando el corazón, porque despertar es una
batalla, siempre perdida, noche tras noche por tu ausencia. Sólo Dios sabe,
cuanto sueño con tenerte… ¡Sólo Dios sabe, que me calmo solo al verte! Não
queria atender. Não sabia como iria reagir. As forças que criara nesses últimos
meses eram voltadas tão e somente pra sua filha. Sua vida se resumia a ela
agora. A outra parte de si ficou perdida entre um choro e outro, num dia
qualquer de inverno. Fernanda a abraçou. Sabia que ali estava a face mais
frágil da então amiga. Juntam só observavam o celular dançar e cantar sobre
as cobertas arrumadas, até cessar.

Anahí: ainda bem que parou… — enxugou as lágrimas

Fernanda: vocês se amam ainda, Anny! Não tem como fugir disso…

Anahí: por enquanto eu tenho, pela minha filha… Depois vejo o que faço
comigo, com esse amor…

Fernanda: ainda bem que não é daquelas mulheres que vão correndo atrás de
homem pra esquecer o ex…

Anahí: ex… Não tinha parado para pensar nisso… Nunca pensei que fosse
chamá-lo de ex…

Fernanda: chato isso…


Viianny 18

♥ Sólo déjate amar ♥


Anahí: e outra coisa. Não tem nem como eu ir atrás de outro homem, até
porque de noite é com ele que eu sonho…

Fernanda: Mari falta me matar de curiosidade contando esses teus sonhos…


Eu fico toda arrepiada!

Anahí: já tô imaginando aqui minha mãe lançando um livro sobre isso… Os


sonhos eróticos de minha filha! Ou então… O que os lençóis não contam sobre
meu ex… — as duas riram

Fernanda: tá aí uma boa idéia… Se ela não escrever, eu escrevo! Pode deixar!

Anahí: mas tem que botar meu nome como colaboradora!

Fernanda: meu amor, seu nome vai estar em todas as páginas! Depois de
cada gemido!

Anahí: não! Assim não! — rindo muito — O que vão pensar de mim?

Fernanda: não vão pensar, vão ter inveja!

Anny ia revidar o que Fernanda disse, mas o som de uma mensagem no


celular a calou. Foi conferir. Era um aviso de uma mensagem no correio de
voz. Logo ficou apreensiva, mas resolveu escutar no viva-voz. Era de Poncho.

Minha loirinha, minha eterna loirinha, não sei se você está aí, ou se outra
pessoa é quem vai escutar essa mensagem… Na verdade, eu sinto que de
uma forma ou outra você vai saber dessa mensagem, se é que seu coração já
não lhe falou. — depois de uma pausa, voltou a falar — Eu te amo. A cada dia
que passa, só te vejo mais presente em mim… De manhã, quando tô me
arrumando pra trabalhar, me lembro das nossas compras juntos… Se lembra
daquela regata Pink que eu não comprei, mas você comprou? Pois então,
comprei uma parecida… — riu — Queria me sentir mais perto de ti… Quando
saio de casa pro trabalho, não tenho mais a alegria de quem acabou de
acordar com um orgasmo… No meu escritório, tem uma foto enorme de nós
dois na praia. É aquela em que teus olhos ficaram bem mais azuis, que parece
até efeito de computador… Toda manhã me perco nesse mar que é o teu
olhar… Relembro cada vez que te vi sorrir… Aquela gargalhada gostosa que
só você sabe dar… Ou pelo menos, é a única que me encanta… Quando volto
pra casa de noite, é tudo tão escuro… E não é porque não paguei a conta de
luz! É você que não está lá… Era seu coração batendo junto ao meu que me
dava forças, que me alimentava… Tenho até vergonha que veja em que me
transformei hoje… Confesso que ainda vejo e fico todo envaidecido com os
olhares admirados das mulheres. Mas nenhuma me interessa… A partir de
hoje, vou ter mais vida. Sabe por que? Porque vou estar te esperando… Não
sei quando vai ser isso, mas leve o tempo que for, te ver sorrindo pra mim de
novo vai valer por uma eternidade! Quero te pedir perdão… Confesso que
tentei te esquecer. Não saí com ninguém mais… Só que tentei te arrancar
daqui de dentro… E isso é pior! Só hoje, agora, que eu resolvi não me omitir
Viianny 19

♥ Sólo déjate amar ♥


mais diante do que eu sinto… Eu te quero perto de mim… Sabe onde me
encontrar… Vou te esperar sempre! Todo dia uma nova rosa ficará te
esperando em cima da minha cama… da nossa cama… Te amo!

***

Após desligar o celular, Poncho se mostrou bem mais aliviado com tudo
o que escondia sobre seus sentimentos. Não estava feliz, ainda, mas muito
orgulhoso de si mesmo por ter dado primeiro passo. Não esperava um retorno
de Anny sobre sua mensagem. Muitas pedras no meio do caminho tinham que
ser removidas. Aos seus olhos, o futuro era bem claro, no entanto, o presente é
que se tornava cada vez mais obscuro. Só tinha que seguir em frente. E o fará.

A chegada de Oscar ao apartamento interrompeu suas reflexões. Ato


que nem o noticiário da televisão conseguiu. O irmão estava se recuperando
muito bem, mas mesmo assim Poncho sentia que devia continuar fazendo o
papel de pai durão. Até porque prometeu a sua mãe que cuidaria dele como a
situação delicada do pós-operatório exigia.

Alfonso: tá contente ou é impressão minha?

Oscar: verdade… Estou muito… Lala sai essa semana do hospital…

Alfonso: ah, que bom… Nunca te perguntei isso, mas… por que tanto
interesse assim nela?

Oscar: não sei… Acho que me senti responsável por ela por alguma razão…
Ela mesma me contou que eu a protegi lá na hora daquele episódio na
promotoria…

Alfonso: sabe que sou direto, então vou perguntar logo… Tá a fim dela?

Oscar — rindo: só pensa em um casal como apaixonados ou irmãos… Mas


respondendo a tua pergunta, não sei… Só sei que a gente se dá super bem e
somos muito amigos já… Ah, não era pra te contar, mas todos ali tão querendo
te pegar pelo que fez a Anny…

Alfonso: entendo… — melancólico

Oscar: até eu a Mel falta me pegar só com os olhos…

Alfonso: ah ela quer te pegar? — zoando com o irmão

Oscar: pára de onda! — rindo muito — Só foi um beijo e… — foi interrompido

Alfonso: como é que é? Vocês se beijaram?

Oscar: uma coisinha de nada… — disfarçando


Viianny 20

♥ Sólo déjate amar ♥


Alfonso: levando uma irmã no papo e a outra pegando de jeito… Cuidado,
irmãozinho…

Oscar: não tá acontecendo nada…

Alfonso: claro! — irônico — Inclusive, nem me disse nada porque sabia que eu
ia meio que criticar…

Oscar: não foi por isso!

Alfonso: e foi pelo que então?

Oscar: ora… porque… porque não teve importância!

Alfonso: é exatamente ao contrário… Se não tivesse importância, teria me


contado numa boa…

Oscar: pense o que quiser…

Alfonso: já disse pras suas conquistas quando volta pros Estados Unidos?

Oscar: primeiro que não tô conquistando ninguém…

Alfonso: ah é… Desculpa… Elas se encantam por vontade própria…

Oscar: cala a boca! Segundo… mudei o dia da minha viagem…

Alfonso: aposto como tô sendo o último a saber…

Oscar: não, cara! Que é isso?! Ainda não contei pro vendedor de bombom lá
da esquina… — riu muito, mas não do comentário, e sim da cara de tédio de
Poncho

Alfonso: agradeço a consideração… Quando viaja então?

Oscar: não decidi ainda… Quem sabe até vire cidadão teresinense, quem
sabe…

Alfonso: falei! Isso só comprova que tá interessado em uma das irmãs! Senão
nas duas…

Oscar: não desiste, né?

Alfonso: por que acha que amo minha carreira?

Oscar: pois eu desisto!

Alfonso: devia desistir também era de uma das… — algo o impediu de


continuar a argumentar
Viianny 21

♥ Sólo déjate amar ♥

No telejornal local, a âncora começou a relatar sobre Tony Monford, que


fora encontrado morto às margens do rio Parnaíba esta manhã.

Âncora: o corpo foi encontrado por pescadores, que logo acionaram a polícia.
O laudo preliminar não foi liberado, mas alguns dos moradores da região
afirmam não terem visto nenhuma marca de arma de fogo. A repórter da
emissora, Cindy Siqueira, esteve no local e foi impedida pelo comandante da
Polícia Federal, assim como outros repórteres, de gravar áudio ou video da
cena. Segundo o relato de Cindy, o corpo todo apresentava marcas roxas e
tanto pulsos como calcanhares estavam cortados.

Oscar: minha nossa! — apavorado

Âncora: a morte de Tony Monford quebra a situação de sigilo sobre uma


investigação que envolvia a promotoria do estado, na figura da promotora
Anahí Puente, e alguns órgãos internacionais, como o FBI, a Interpol e a
Europol.

Alfonso: quê?! — impressionado

Oscar: a coisa é mais séria do que tu imaginava…

Âncora: a vítima, que deveria estar cumprindo pena em uma penitenciária do


interior de São Paulo por tráfico de armamento e munição ou então sido
extraditada, obteve uma autorização especial e secreta de liberdade para estar
à disposição do governo na posição de informante extra-oficialmente. A
quadrilha considerada como principal suspeita da morte de Tony é a mesma
que há quase três meses invadiu a promotoria na intenção de seqüestrar ou
assassinar a promotora Anahí. Como todos os responsáveis pelo atentado
foram presos ou morreram no confronto com a polícia, a suspeita é de que o
mandante ainda está solto. Talvez por isso a promotora Anahí esteja em férias
por tempo indeterminado em local desconhecido e sob proteção reforçada,
conforme divulgou sua substituta temporária, a promotora Dulce María
Saviñón.

Alfonso: então ela tá é escondida? Ai, meu Deus! — preocupado

Oscar: que coisa! — assustado — Por isso todo mundo se calava quando iam
falar dela na minha frente… É pra proteção dela…

Âncora: o secretário de segurança da cidade afirmou que algumas imagens da


invasão na promotoria serão liberadas essa semana… Todas elas foram
recolhidas da população, dos jornalistas e das câmeras de segurança do local.
As primeiras divulgadas serão de gravações na área externa do prédio. A
intenção do governo era divulgar o mínimo possível pra não comprometer as
investigações, mas, diante dos acontecimentos e depois de uma
teleconferência entre o presidente Lula, o presidente do Supremo Tribunal
Viianny 22

♥ Sólo déjate amar ♥


Federal, Gilmar Mendes, e representantes do FBI, ficou decidido liberar
informações aos poucos para preservar a população.

Alfonso: pronto! Agora tô lascado mesmo! Anny passando por um sufoco


desse e eu a acusando… Eu mesmo teria ficado com raiva de mim…

Oscar: pensando aqui, não foi de todo ruim não…

Alfonso: tá falando de que?

Oscar: pensa comigo… Anny, sabendo do que se passava com os amigos na


promotoria, teria viajado?

Alfonso: em hipótese alguma…

Oscar: então ela viajou sem saber, ou seja, ela viajou por tua causa mesmo…
A mulher do jornal falou que ela prolongou as férias por segurança, não que
viajou por isso…

Alfonso: faz sentido!

Oscar: deixa eu terminar! Até aí concorda comigo?

Alfonso: concordo…

Oscar: certo. Se tu não tivesse brigado com ela, naquela hora da invasão,
onde ela estaria?

Alfonso: na promotoria…

Oscar: então, meu caro, tu salvou a vida dela! — convicto

Alfonso: pode ser… Isso a gente não tem como afirmar…

Oscar: resumindo, ter brigado com ela foi até melhor… Ou preferiria chorar
diante de um túmulo a passar horas diante do telefone?

Alfonso: queria que ela pensasse assim também…

Oscar: ela te ama, isso vale mais do que um raciocínio lógico…

Houston, casa dos Puente, 16/03/09, 11h23

Anahí: já tem alguma noção de como vai ser a cerimônia? — falava ao celular
com a amiga

Dulce: sei não… Mas nada de exageros…


Viianny 23

♥ Sólo déjate amar ♥

Anahí: como assim? A rainha das extravagâncias não quer um casamento


extravagante?

Dulce: isso aí! Então já sabe… Tô te deixando à frente de tudo só porque me


pediu muito e porque não quero que minha sobrinha linda nasça com cara de
bolo de casamento…

Anahí: mas ela vai ter cara de bolo de casamento!

Dulce: como assim?

Anahí: porque eu suponho que ela vai ser branquinha e com certeza que vai
ser toda enfeitada! Tem que ver o tanto de coisinhas que eu já comprei mais a
mammy…

Dulce: tu é sem noção mesmo! Eu não ouvi isso!

Anahí: mudando de assunto, me conta tudo o que tá rolando por aí…

Dulce: tá me chamando de fofoqueira?

Anahí: fofoqueira não, informada… Tô te achando muito estressadinha,


ruivinha… Devia fazer yoga. Depois que eu comecei, só ando nas nuvens…

Dulce: eu pensei que ficasse nas nuvens quando sonhava com Poncho… —
rindo

Anahí: não! Quando sonho com ele, me sinto no próprio inferno… — suspirou
profundamente

Dulce: porque ainda tá muito chateada com ele é?

Anahí: não, não é por isso… É que, quando tenho aquelas lembranças, fica
tudo tão mais quente… — se abanou sem nem perceber, rindo muito

Dulce — rindo também: devia imaginar que tinha perversão nisso…

Anahí: mas me fala daí, Dul! Please!

Dulce: começando das notícias boas ou más?

Anahí: ai, agora deu medo… Começa pelas boas… Má a gente nunca esquece
mesmo…

Dulce: pior que agora pensando, não sei se vai concordar com a minha
classificação de boas ou ruins…

Anahí: Dulce María, fala de uma vez! Mistura isso e pronto!


Viianny 24

♥ Sólo déjate amar ♥

Dulce: tá… Tony morreu…

Anahí: quê?! — assustada

Dulce: pois é… Mataram o desgraçado…

Anahí: e o que vão fazer com tudo agora? Não tem como fingir que nada
aconteceu!

Dulce: agora a mídia vai divulgar o que rolava nas investigações… A gente
lógico que vai controlar tudo o que sair por aí, mas nada vai ser igual…

Anahí: até depois que morre esse idiota vai atrapalhar tudo… Droga! O que já
divulgaram?

Dulce: contaram da investigação por cima, de quem tava envolvido, do papel


do Tony nisso tudo… Basicamente isso…

Anahí: falaram no meu nome?

Dulce: o que acha, garota?

Anahí: porra! — revoltada, quase jogando o celular no chão

Dulce: não sei como, mas descobriram que tu tá meio que escondida por
segurança…

Anahí: cuidado, Dul! Ninguém pode saber aonde eu tô!

Dulce: não vão descobrir! Fica tranqüila! E se desconfiarem vai ser de que está
na Espanha…

Anahí: é… pode ser… Boa idéia essa de reforçar a proteção da minha casa na
Espanha e vim morar nessa comprada agora…

Dulce: é sim…

Anahí: mas tu também tem que ter cuidado! Eu tava a frente das
investigações, mas tu se envolveu muito assim como eu…

Dulce: eu sei… pode deixar… Até minha mãe tá cercada de seguranças… Tá


se achando a madame, imagina aí! — rindo muito

Anahí — rindo: tia Blanca é uma graça…

Dulce: ela disse que tá mais protegida que a Madonna quando sai com seu
namoradinho brasileiro…
Viianny 25

♥ Sólo déjate amar ♥


Anahí: falando nisso, ela continua com aquela idéia de arrumar um garotão?

Dulce: Madonna?

Anahí: não! A tia!

Dulce: continua sim… Ela disse que tá virando moda e vai aproveitar…

Anahí: quero só ver!

Dulce: pois eu não quero ver não! Imagina só eu ter que cuidar da minha mãe
pra ela não se envolver com qualquer um aí…?

Anahí: ela sabe se cuidar, Dul…

Dulce: eu sei que sim… Ela é muito forte, determinada, me educou sozinha…
— foi interrompida

Anahí: ih, então é bom não confiar muito nela… — começou a rir muito

Dulce: cala a boca, loira de farmácia de manipulação!

Anahí: tá atrasada! Não tô mais loira…

Dulce: ah, não vale! Nem me falou…

Anahí: mandei uma foto minha pra ti ontem…

Dulce: faz dias que não vejo meus e-mails…

Anahí: isso já não é comigo…

Dulce: faz dias que não tenho notícias de Poncho…

Anahí: não perguntei nada sobre ele. Não sei por que começou a falar… Mas
já que falou, vou te contar… Eu tenho notícia dele todos os dias…

Dulce: como assim?

Anahí: há quase uma semana que todo dia ele me liga. Eu não atendo, mas
ele deixa sempre uma mensagem de voz.

Dulce: e o que ele diz nessas mensagens?

Anahí: dentre outras coisas, que me ama e tá me esperando…

Dulce: Anny, ainda bem que o período de risco da gravidez já passou, porque
senão não sei como seria…
Viianny 26

♥ Sólo déjate amar ♥


Anahí: pois é… Falando nisso, celular acabou de vibrar, deve ser uma nova
mensagem dele, depois escuto… Mas me conta mais das novidades! Sabe de
May?

Dulce: eu não! Faz dias que não sei dela…

Anahí: que será que ela anda aprontando…? — pensativa

Dulce: aprontando? Ali é uma flor!

Anahí: verdade… Mas será que ela tá com problemas?

Dulce: ela deu a entender isso?

Anahí: não!

Dulce: então não tem por que pensar assim… Se quiser, vou atrás dela e
descubro o que tá rolando…

Anahí: faria isso por mim?

Dulce: claro, até porque ela também é minha amiga…

Anahí: mas cuidado com o que vai falar, Dul! May é mais sensível, pode não
entender bem o que tu fizer… Não quer perder o contato com ela, né?

Dulce: pode deixar… Vou ser um doce com ela… Agora tenho que desligar…
Te amo! Muitos beijos pra minha sobrinha linda…

Anahí: e pra mim?

Dulce: pra você? Deixa eu pensar…

Anahí: vai te catar, Dul!

Dulce: olha como me trata e ainda quer beijo…

Anahí: também te amo, Chuck! Bye…

Dulce: bye, ex-loira… — desligaram — Como será que tá a Anny agora? —


abriu sua caixa de e-mails, que estava lotada por sinal, e encontrou a
mensagem da amiga — Tá linda!

***

Ao desligar o celular da conversa com a amiga, Anny relutou em verificar


suas mensagens. Já sabia em parte e de forma geral o conteúdo de todas elas,
mas Poncho conseguia usar as palavras que, para ela, chegavam a seu mais
íntimo. Outra pessoa talvez conseguisse imaginar o que ela sentia, mas só
Viianny 27

♥ Sólo déjate amar ♥


isso… imaginar… Só Anny sabia o valor de cada expressão e, inclusive, o
momento em que cada lágrima era derramada. Quiçá seja por isso que ela não
atendia aos telefonemas. Não queria que ele também sentisse suas lágrimas.
Mantê-lo distante e perto só pela linha de celular era um alívio. Apesar do
sofrimento. Lembrava a cada choro o dia em que o fim do relacionamento foi
divulgado. Dar uma entrevista sem mostrar nenhuma marca de dor ou mágoa
lhe reservou um desespero quase depressivo. Até porque sabia que essa seria
também a reação de Poncho no outro hemisfério.

Depois de muito pensar, Anny resolveu encarar seus medos e ir em


frente. Entrou no correio de voz e mais uma vez se deliciou com as palavras de
Poncho entre lágrimas de amor e sorrisos de pura saudade.

Oi, meu amor. Hoje cheguei mais cedo em casa só pra te ligar. Não me
agüentava de saudade. Sei que está bem. Eu sinto isso. Pena eu também não
estar bem… Preciso de ti! Tinha dito que ficaria bem por estar te esperando,
mas hoje não consegui… Me senti sozinho, sem saída… Meu único momento
feliz do dia é quando te deixo essa mensagem. Na minha cabeça eu te imagino
escutando cada palavra, sorrindo, suspirando, chorando… Sei que ainda chora
por mim. Muitos poderiam me chamar de louco, de idiota ou sei lá mais o que
por pensar que ouve cada recado meu ou que ainda se importa comigo… Mas
me renegar esse direito seria como ir contra o que eu sou, porque em cada
parte minha, até na minha respiração, está você… Sempre fui independente,
mas o que me direciona hoje e me ergue a cada dia é o meu amor por ti…
Desculpa te deixar com esse peso, tem muito com que se preocupar, né?
Recebi em meu escritório pela manhã alguns amigos advogados cariocas.
Vieram a trabalho, mas acabaram me fazendo uma visitinha. Sabe o que mais
gostaram da minha sala? Fiz um cantinho na minha sala só pra nós dois.
Naquela parede com aquele quadro que tu achava esquisito. Tirei o quadro e
mandei botar umas prateleiras transparentes. Enchi de fotos tuas e nossas.
Não sei se rasgou as minhas fotos. Acho que não. De onde quer que esteja,
sinto que reluta pra ignorar minhas mensagens e não voltar. Mas meu coração
continua te chamando… E vai te chamar eternamente… Tava pensando hoje à
tarde naquela tua entrevista falando que a gente tinha acabado. Deve ter doído
muito. Vi o quanto se esforçou pra se mostrar forte. Fiquei muito triste quando
vi na internet pela primeira vez. Repeti o video várias vezes. Tentei me
convencer de que era uma sósia, uma impostora, uma atriz… — ela derramou
uma lágrima, limpando-a logo em seguida — Sabe o que me deixou feliz
depois de muitas repetições? Quando a câmera fez uma imagem aproximada
rapidamente, eu vi aquela ruguinha de aflição em cima da sobrancelha. Só eu a
conheço. Eu a via cada vez que a gente se amava. Deve tá pensando que
passo o dia só relembrando nós dois… E é isso mesmo… Pra mim não tem
sentido morar num apartamento de luxo, ter milhares de regalias, poder viajar,
me divertir, curtir se você não tá aqui pra dividir tudo isso comigo… Esse é meu
maior desejo! Dividir minha vida contigo… O que vai me fazer levantar da cama
amanhã é a esperança de te encontrar batendo na minha porta com os braços
abertos. Porque é assim que eu tô agora. Com os braços abertos te
esperando… As rosas tô guardando uma em cada página de um álbum
nosso… Elas também tão te esperando… Te amo!
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♥ Sólo déjate amar ♥

Teresina, casa de Cláudia, 21/03/09, 10h56

Cláudia: e aí, coisinha… — ao telefone com a comparsa

Juliana: fala… — bocejou

Cláudia: quanto ânimo! — irônica

Juliana: acabei de ser acordada com um telefone tocando… Nem sabe o


quanto tá meu ânimo! — mal humorada

Cláudia: ai, amiga! Também acabei de acordar! Tá vendo… Estamos em


conexão uma com a outra…

Juliana: só que aqui são quatro da manhã! — furiosa — Sendo que eu fui
dormir ontem, ou melhor, hoje às três horas!

Cláudia: foi na farra? Deu nisso…

Juliana: não fui à farra alguma! Tô fazendo teus servicinhos…

Cláudia: ah, muito bem! Pense nisso como uma questão de vida ou morte. Até
porque é isso mesmo… Vem cá, vai nem perguntar como eu tô? — se fingindo
de ofendida

Juliana: até parece que isso me interessa…

Cláudia: e devia interessar sim! Nunca ouviu falar daqueles casos em que o
mandante deixa ordens secretas do que deve acontecer caso aconteça algo
com ele? Meus seguranças, ou melhor, teus seguranças podem brincar de
cabo de guerra com teu pescoço amarrado na corda… Ou também… — foi
interrompida

Juliana: tudo bem, Cláudia? Como tem passado? — impaciente

Cláudia: eu vou muito bem… E você?

Juliana: o que acha?

Cláudia: acho que está melhor do que deveria ou merecia… Recebeu o carro
novo?

Juliana: peguei hoje.

Cláudia: gostou da cor? Escolhi pessoalmente! — animada — Adoro amarelo!


Viianny 29

♥ Sólo déjate amar ♥


Juliana: mas precisava ser amarelo catarro?

Cláudia: tá reclamando demais, nobre camponesa… Não resisti quando vi


esse tom… Fiz até questão de ver tua cara de chocada ao ver o carro… Quer o
video?

Juliana: não, não quero! — zangada

Cláudia: que pena! — decepcionada

Juliana: vai querer que eu faça mesmo aquilo?

Cláudia: se “aquilo” for o que te contei ontem, vou sim. Mais algum tempo e o
sinal vai ficar verde… Olho no tempo!

Juliana: já decidiu o dia exato?

Cláudia: mais ou menos… E também já dei uma conferida nos documentos


que me mandou por fax. Gostei muito do perfil de Diane Summerset.
Alcoólatra, mora em abrigos… uma maconheira de primeira! — riu muito

Juliana: ai, que horror!

Cláudia: quando chegar mais perto do dia, quero atualizações dos dados.

Juliana: vou ter que dormir com aquele cara de novo? — assustada

Cláudia: não, claro que não!

Juliana: que bom! — aliviada

Cláudia: agora é com um superior dele…

Juliana: quê?! — apavorada

Cláudia: isso aí, queridinha! Pensa assim… Se desistir agora, tudo o que já fez
foi em vão. Além disso, tu vira poeira em questão de segundos! Posso levar
uma coroa pra Julieta também… Quer? — Juliana se calou — Muito bem…

Juliana: vai querer mais alguma coisa, vossa majestade? — irônica

Cláudia: vou sim! Me conte do encontro.

Juliana: prefiro não lembrar esse dia…

Cláudia: não perguntei se pode me contar… Mandei me contar!

Juliana: e se eu não quiser? — com ar desafiador


Viianny 30

♥ Sólo déjate amar ♥


Cláudia: aí seria “Don’t cry for me”, meu anjo…

Juliana: ele me pegou no hotel. Fomos pra um boteco numa lata em forma de
carro. A comida era horrível… A bebida tinha gosto de urina com álcool… Até
os ratos eram fregueses lá! Acho que tinham melhor atendimento que as
pessoas mesmo. Depois fomos pra um motel imundo! Era uma espelunca
vizinha a um cabaré de quinta… Me senti transando com vários de tão usada
que era a cama. — fez cara de nojo — Fora os buracos na parede que ficaram
direto tampados por olhos curiosos.

Cláudia: pareceu tão emocionante! — empolgada — Mas pode deixar que já te


arrumei outro pretendente… Só que esse é mais bem de vida, talvez te leve
pra algo diferente…

Juliana: não, esse não era lascado não… Ele próprio me falou que ia ser
assim porque não tinha por que me levar pra algo melhor já que eu ia de
qualquer jeito e que não queria gastar o dinheirinho dele comigo…

Cláudia: que romântico! Rolou sentimento com ele?

Juliana: vai te catar!

Cláudia: qual o problema? E fique você sabendo que eu dou as cartas aqui! Se
eu mandar casar com algum deles, você só vai lá e assina tudo… Até parece…
Esses subordinados de hoje… — balançou a cabeça negativamente — São tão
trabalhosos… Precisa ter um gatilho preso na cabeça pra obedecer…

Juliana: posso voltar a dormir, queridinha?

Cláudia: vai lá… Depois entro em contato contigo de novo… — desligou

Juliana: vai pro inferno! — deitou de novo na cama pra dormir

Teresina, Riverside Shopping, 21/03/09, 15h53

Christopher: Dulcita, meu amorzinho, eu cansei de andar… Vamos parar um


pouquinho? — quase implorando

Dulce: mas tu é fraco, hein?! Não agüenta nem um dia de shopping… — rindo
— Até parece que não passa o dia andando naquele hospital…

Christopher: e não passo mesmo… Na maior parte do tempo fico sentadinho


no meu consultório… Mas vamos sentar, sim?

Dulce: tá bom! — levantando as mãos pro céu


Viianny 31

♥ Sólo déjate amar ♥


Encaminharam-se então pra praça de alimentação. Lá escolheram
lanches e continuaram conversando. Na verdade, quem recomeçou o papo foi
Chris. Dul, depois de se acomodar na cadeira, pareceu meio distante e até
melancólica.

Christopher: por que tá assim agora?

Dulce: assim como?

Christopher: triste…

Dulce: lembrei de Anny… A gente passava dias e mais dias no shopping e


nenhuma reclamava de cansaço…

Christopher: bateu a saudade então?

Dulce: foi… Queria tá perto dela… Logo agora que ela deve tá precisando…

Christopher: falei com ela um dia desses e me pareceu bem. Não tem por que
se preocupar…

Dulce: isso é por hora. E também Anny sabe mentir e fingir como ninguém!
Comigo ela tenta, mas não consegue… Eu faço de tudo pra ela não chorar,
mas quem sabe quando não tô falando com ela…

Christopher: ela tá bem, Dul… Se não tivesse teria te dito! Ou não?

Dulce: teria…

Christopher: e então?

Dulce: sei lá! Anny é bastante responsável, mas às vezes não passa de uma
menina inocente e carente… E tem Sophie que está… — foi interrompida

Alfonso: o que tem Sophie, Dul? Aliás, de quem vocês tão falando?

Poncho havia chegado há pouco. Avistou os amigos de longe e foi se


aproximando. Ouviu algumas falas, mas não as entendeu. Somente nesta
última de Dulce que percebeu que estavam falando de Anny e prestou mais
atenção. A ruiva, por sua vez, gelou ao ouvir a voz de Poncho. Chris percebeu
a situação e tratou logo de cumprimentar o amigo, pra cortar a conversa.
Ofereceu até assento, que prontamente foi aceito.

Alfonso: e então?

Dulce: então o que? — tentando disfarçar

Alfonso: o que tá acontecendo com Sophie? É a irmã da Anny?


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♥ Sólo déjate amar ♥


Dulce: não tá acontecendo nada, ela tá morta… — engoliu em seco

Alfonso: e por que tão falando dela?

Dulce: até onde sei a boca é minha… — tentando se manter calma

Christopher: Dul! — a repreendendo

Alfonso: vou direto ao ponto. Quero saber onde está Anny.

Dulce: pra que? Pra comprovar se ela continua sendo uma puta? — furiosa

Alfonso: claro que não! Dul, eu a amo! Quero pedir perdão pessoalmente e
trazê-la pro meu lado!

Christopher: olha, Poncho… — foi interrompido

Dulce: Anny respondeu a algum dos teus recados?

Alfonso: não. Como sabe que… — foi interrompido também

Dulce: então, meu caro, ela não quer falar contigo!

Alfonso: não acredito… Sei que ainda sou correspondido! Quero minha
loirinha de volta!

Dulce: sinto muito, mas é bom tirar o pangaré da chuva porque não vai ter não!
— séria

Alfonso: com licença… — saiu apressado

Christopher: espera, Poncho! — não adiantou — Olha só o que você fez!

Dulce: não fiz nada… Ela nem tá loira mesmo… — deu de ombros

Christopher: não percebe que ele também sofre?

Dulce: tem que sofrer mesmo! Não foi justo o que ele fez com Anny… Não sou
uma santinha pra achar que merece o perdão por se arrepender! Comigo é no
olho por olho e dente por dente!

Christopher: tá doida! — segurando o riso

Dulce: doida pode ser, mas besta não! — praguejando


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Teresina, boate Super 8, 21/03/09, 21h43

Lawyse: faz tempo que não ia a uma boate…

Oscar: eu adoro essa! — sentou numa mesa com ela — É só você não
exagerar já que faz pouco tempo que saiu do hospital…

Lawyse: e você também… — rindo

Oscar: até Poncho já parou de me atazanar… Estou livre! — rindo muito —


Com certeza que falou com o médico…

Lawyse: ah tá… Se não se incomoda, prefiro não dançar…

Oscar: tá se sentindo bem?

Lawyse: tô, mas é que não curto muito agito e também não me sinto segura…

Oscar: tudo bem… Então só conversamos…

Lawyse: por mim tá ótimo! Mas se quiser ir pra pista…

Oscar: não… Eu te faço companhia aqui… Vou pegar uma bebida pra mim…
Quer?

Lawyse: algo sem muito álcool, por favor!

Oscar: ok!

Oscar saiu em direção ao bar. Pediu drinques pros dois. Nada muito
carregado. Enquanto o barman preparava os pedidos, ficou passando o olhar
pelo ambiente. Estava tudo muito animado. Ele mesmo tava se segurando pra
não se esbaldar com os ritmos eletrônicos que se sucediam. Adorava multidões
hipnotizadas por batidas de som, nem que fosse mecânico. Sempre ia a festas
em Nova York. Até porque seu trabalho exigia estar sempre antenado com as
novas tendências. Fora que era o lugar perfeito pra namorar. Mas nessa noite
não faria nada disso. Iria com calma com Lawyse. Estavam apenas se
conhecendo e ela parecia ser uma pessoa sensível, daquelas que se trata
como a uma pétala de rosa. Nunca teve alguma namorada assim. Tinha certo
receio por isso. O que o confortava era o carinho enorme que sentia por ela.
Adorava seu jeito delicado, sua doçura, sua simplicidade, seu sorriso sincero…
Seguir com calma era a maneira que mais combinava com o estilo dela. E
assim seria…

Numa dessas miradas enquanto pensava incessantemente, Oscar


avistou Mel agitando na pista de dança. Não estava no centro, mas numa das
laterais, perto das mesas, mais precisamente próxima à mesa de May e
(provavelmente) seu marido — ele não os tinha visto antes. Tinha a mesma
noção de praticidade de Mel: não ficar muito longe da mesa pra se manter
Viianny 34

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direto hidratado e não abusar da saúde, principalmente agora em Teresina que
ainda estava muito quente, apesar das chuvas.

Recebeu os drinques e voltou pra junto de Lala. Não falou nada sobre a
presença de May e dos outros lá porque queria que os dois passassem um
tempo a sós pra se conhecerem mais.

Lawyse: podemos ir embora, Oscar?

Oscar: tá se sentindo mal? — preocupado

Lawyse: não, é que não tô me sentindo à vontade aqui… Não curto muita
agitação… Quem gosta disso é Mel. Aliás, ela pode até tá no meio daquela
gente toda…

Oscar: quem sabe… — sem graça — Então vamos? — se levantou

Lawyse: vamos…

Eles se encaminharam em direção à saída. No meio do caminho


encontraram Dulce e Christopher que acabaram de chegar. Cumprimentaram-
se normalmente e seguiram por sentidos opostos. Oscar deixou Lala em casa e
preferiu não entrar pra deixá-la descansar. Talvez tivesse exagerado em levá-la
a uma boate logo. Durante o percurso de volta ao apartamento de Poncho, a
parada em um semáforo com sinal vermelho o fez se lembrar de Mel dançando
livremente. Ficou com uma vontade súbita de colar o corpo no dela e sentir
suas vibrações em um ousado passe de dança. Sem nem mais pensar,
revolveu voltar pra aquela boate. Ao menos que fosse pra vê-la outra vez…

Oscar: oi, pessoal! — sentou numa mesa em que estavam Dulce, Christopher,
Mayté e Filipe

Dulce: ué?! Voltou?

Dulce: tenho assuntos pendentes aqui… — disse olhando fixamente para Mel
dançando

Dulce acompanhou o olhar, ficou analisando melhor a situação e por fim


resolveu interferir no caso.

Dulce: cuidado, cara!

Oscar: com que? — distraído procurando Mel que desaparecera entre os


diversos dançantes

Dulce: não quero que brinque com as duas. Os três podem sair machucados…

Oscar: deixa pra lá, Dul…


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Dulce: vem cá! — ela o puxou pro balcão do bar — Pronto. Fala aqui pra mim
o que tá acontecendo. Há pouco te vi com Lala. Agora falta comer Mel com os
olhos… Não queria me meter nisso, mas onde tão minhas amigas eu tô! —
decidida

Oscar: nem eu sei o que tá se passando! — virou pro barman — Um duplo, por
favor! — voltou a olhar pra Dulce — Eu cresci com uma idéia na minha cabeça.
Que eu iria curtir feito doido minha juventude, mas que chegaria uma hora em
que teria que formar uma família.

Dulce: uma família… Que brega!

Oscar: cala a boca! — pegou o copo de Whisky recém servido e degustou um


gole de imediato

Dulce: continue…

Oscar: o modelo de família que tenho é o dos meus pais biológicos e adotivos.
E a imagem de esposa que criei encaixa perfeitamente em Lala…

Dulce: então a ama?

Oscar: não sei! Todas as mulheres com quem já saí são do perfil de Mel…

Dulce: quer sair com ela então?

Oscar: será que dá pra deixar eu terminar? — impaciente

Dulce: tá bom! Vou me calar…

Oscar: continuando… Eu não sei se gosto de verdade de Lala ou se apenas


identifiquei nela meu perfil criado de esposa… Do mesmo modo, não sei se
gosto pra valer de Mel ou se apenas encontrei nela o tipo de mulher com quem
normalmente saio, com ou sem compromisso.

Dulce: posso falar agora?

Oscar: não! Então, eu sinto que preciso de alguém pra algo sério. Não
casamento, mas algo mais compromissado. Tô saindo com Lala pra tentar ver
o que eu realmente sinto. Nós não somos muito parecidos nos gostos, mas ela
traz a paz que talvez eu precise… Eu sinto que ficando com Lala vou alcançar
esse meu objetivo, enquanto que com Mel vou continuar sendo o que sempre
fui até agora, que não vou dar um rumo mais fixo pra minha vida… — respirou
fundo — Agora pode falar.

Dulce: aleluia! Já parou pra pensar que a vida não é um videogame desses
que tu projeta?

Oscar: eu… — foi interrompido


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♥ Sólo déjate amar ♥

Dulce: agora eu vou falar, portanto cale sua boca! Seguinte. Na minha opinião,
com esse pensamento tu não vai casar é nunca! — deu uma gargalhada —
Mas analisa comigo a situação. Tu fica com Mel pra continuar a curtição da
vida. Já que curtição é com ela mesma… — esboçou um riso — Só que um dia
a vida de playboy cansa e tu não vai agüentar mais… Por outro lado, tu fica
com Lala pensando que ela é a esposa ideal. Só que e se não a ama? Acha
que uma relação dessas vai durar muito? Nem ouse me responder! A saída,
meu caro, é ficar com quem realmente gosta, sendo o que tu imaginava ou
não. Não se escreve a vida e depois vive. Ela é escrita enquanto vivida… Há
quem pense que ela já tá escrita, mas que não por nós, ou seja, dá no
mesmo… O importante mesmo é descobrir de quem gosta afinal… Já ficou
com Lala?

Oscar: não.

Dulce: então arrocha a bichinha, velho!

Oscar: ela não é disso… Também não me sentiria à vontade usando ela como
teste.

Dulce: usou a palavra certa: teste! E eu conheço uma pessoa que adora isso,
ao contrário de Lala… — pegou o celular e enviou um torpedo — Ela vai já
aparecer… — se acomodou num banco e ficou olhando pra multidão — E lá
vem ela! — rindo

Quando Oscar virou, Mel estava se aproximando toda agitada ainda


dançando sem cerimônia. Incrível como ela parecia e não parecia ao mesmo
tempo com todas as mulheres com quem já saíra. Assim como também era de
se admirar o abismo entre ela e sua irmã. Com Lala ele se sentia à vontade,
mas não ousava demonstrar isso. Com Mel não se sentia à vontade, mas era
extremamente ousado. Por mais esquisito que seja, nunca fantasiou nenhuma
situação com as duas. Talvez em respeito à Lala e porque já tinha noção de
como era Mel. Ou então porque preferiria viver isso pessoalmente.

Melanie: disse que tinha uma missão pra mim… Tô pronta pra ação! —
animada

Dulce: ele é minha missão…

Oscar: eu?! — surpreso

Melanie: e o que eu tenho que fazer?

Dulce: apresentar ele pra galera e mostrar pra ele como é de fato uma festa
em Teresina! — riu calmamente

Melanie: com maior prazer! Vem, gato! — puxou ele pela mão, conduzindo-o
pra pista
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♥ Sólo déjate amar ♥

Oscar: espera aí! — parou de andar — Sabe quem eu sou?

Melanie: tá me chamando de lesada ou idiota? — calma — Lógico que sei


quem tu é! A não ser que tenha trocado de corpo…

Oscar: não quis te ofender, só que estranhei já que a gente sempre briga…

Melanie: aprende uma coisa, meu caro… Aqui não tem Oscar ou Melanie,
somos somente homem gostoso e mulher descarada… Lá naquela pista
ninguém é de ninguém… E vem logo que a gente só tá perdendo tempo!

Oscar ficou todo o tempo só absorvendo as palavras de Mel em silêncio.


Como resposta, esboçou um sorriso com segundas intenções e logo a puxou
pra um beijo. Foi um encontro de lábios rápido e molhado, só pra ambos
avaliarem as dimensões de seus limites. Novamente unidos só pela mão,
chegaram à pista lotada já no ritmo da dança. Dulce só observava de longe o
que se passava. Chris estava inconformado por ver suas duas irmãs envolvidas
com o mesmo homem. A ruiva o distraía com propostas indecentes ao pé do
ouvido. May e Filipe só namoravam indiferentes à situação.

Depois de muitas músicas, incontáveis doses e bastantes beijos os três


casais saíram da boate. Eram por volta das 3h30. Considerável número de
gente ainda ficava pra trás e talvez só pretendessem sair ao aparecerem os
primeiros raios do sol. Os seis se reuniram na frente da saída, se
cumprimentaram e assumiram direções distintas separados por casais. Oscar
levaria Mel (que viera com Karen, uma amiga) e Dulce iria com Chris, assim
como May e Filipe.

A boate era vizinha a um cruzamento. Os carros de Chris e de Filipe


estavam na rua que passava em frente à casa noturna, só que em sentidos
opostos. Um antes da entrada e o outro já bem depois. Uns duzentos metros
de distância entre eles. Já o carro de Oscar estava na rua perpendicular a esta
em questão. Seria como se os três casais saíssem caminhando em direções
nas quais, por fim, a trajetória toda formasse um “T”.

Dos seis, nenhum estava em perfeitas condições para dirigir,


principalmente com a nova legislação. Os mais alcoolizados cambaleavam
literalmente pelas calçadas. Oscar e Mel ainda pararam pra namorar um pouco
mais encostados no carro, já que nenhum sabia o que viria pela frente. Dul e
Chris rumo ao automóvel discutiam sobre quem iria dirigir. May e Felipe
seguiam abraçados, felizes como sempre.

Luzes amareladas iluminavam precariamente o ambiente da rua. Para


alguns só deixava tudo com um ar mais romântico. Para outros, dificultava pra
identificar aonde pisavam. Uma brisa mais fria exigia agasalhos extras
compensados pelo calor dos corpos unidos com abraços.
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♥ Sólo déjate amar ♥


Um vulto então se acercou mais do casal. Com um golpe certeiro, a
lâmina fina atravessou o coração das costas pra frente. O sangue começou a
cobrir toda a área nas proximidades. A cena transcorria em câmera lenta,
sendo esta desativada pelo grito fino de uma mulher.

Nãoooooooooooooooooooooooooo!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

De repente todos os outros se viraram pra verificar o que aconteceu. As


marcas amargas e inconfundíveis de sangue fresco atraíram olhares diversos
ainda presentes no local. Mas nada mais adiantava. O ambiente agora foi
tomado pelo choro angustiado que rompia as barreiras do vento cada vez mais
imperante. Todos aparentavam choque e desespero. A única movimentação no
ambiente era dada pelo balançar de um papel preso ao instrumento pérfuro-
cortante contendo uma inscrição clara, mas enigmática:

“Os meus homens na rua ou os seus fora dela.”

Teresina, apartamento de Dulce, 23/03/09, 10h14

Dulce: mãe, tô morta! — disse se jogando no sofá

Blanca: é… É sempre muito triste pensar que, a partir de um dia, não vamos
mais ver um ente querido… Ou que não vamos mais ser vistos… Mas a vida é
assim. Uns sorriem enquanto outros choram…

Dulce: May não conseguiu pregar o olho um segundo sequer… Passou o


domingo todo olhando pro Filipe…

Blanca: que Deus o tenha!

Dulce: todos estavam lá… Ele era muito querido! Lindo o casal que eles
formavam… Por que tinha que acabar assim? — derramou uma lágrima

Blanca: uma forma muito cruel de deixar esse mundo…

Dulce: e agora prometi a Anny que contaria tudo sobre o enterro. Olha pra
minha cara pra ver se eu tenho condição! Não consigo me conformar, mãe!

Blanca: vai ajudar mais se guardar toda essa raiva pra pegar esse assassino.
E sobre Anny, ela quer se sentir lá no funeral. Ela queria tá aqui pra apoiar
todos os amigos e se despedir de Filipe. Talvez ela não tenha conseguido
desabafar e liberar essa tristeza… Tem que a ajudar, Dul…

Dulce: eu sei… Ela gostava muito de Filipe… Acho que no fundo se sente
culpada porque foi quem apresentou May a ele.

Blanca: e daí? — sem entender


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♥ Sólo déjate amar ♥

Dulce: mãe, tá na cara que foi uma morte encomendada.

Blanca: por quem? — assustada

Dulce: pela mesma pessoa que tentou pegar Anny naquela invasão.

Blanca: então tem a ver com esse caso que vocês tavam envolvidas? —
surpresa

Dulce: tudo indica que sim… Querem atrair Anny…

Blanca: mas o bilhete dizia outra coisa.

Dulce: só uma referência a liberar os idiotas que foram presos, mas conheço
esse tipo de gente.

Blanca: não seria muita paranóia?

Dulce: lá dizia claramente: “Meus homens na rua ou os seus fora dela.” Quem
tá por trás disso tudo quer atingir Anny. Os seus… Foi assim que se referiu…
Quer chegar até Anny através dos amigos dela. Nunca que iam liberar
bandidos de forma fácil por esse tipo de ameaça. E ele sabe disso… Ou ela…
— falou meio pensativa

Blanca: impressão minha ou você sabe de quem estamos falando? —


desconfiada

Dulce: pode ser… — séria

Blanca: e Anny provavelmente também sabe… Cruzes! — fez o sinal da cruz


rápido, demonstrando claramente estar apavorada com tudo isso — Senti até
um frio subindo pela espinha agora… Mas tem certeza, Dul? Não seria pura
coincidência?

Dulce: sem chance! Não tenho absoluta certeza, mas acho que o que antes foi
por dinheiro com o tráfico, agora virou pessoal…

Blanca: e isso significa exatamente o que?

Dulce: que estamos diante de uma mente poderosa, sem limites e,


sobretudo… — respirou fundo — doentia…

Houston, Hermann Park, 29/03/09, 08h12

Marichelo: como é bom caminhar cedinho! — alegre


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♥ Sólo déjate amar ♥


Anahí: diz isso porque não tá com um barrigão igual ao meu…

Fernanda: não vejo a hora de ver minha sobrinha linda! — animada

Anahí: outra coisa não, mas tia Sophie tem aos montes! — rindo

Fernanda: não fala assim porque ainda não viu as compras da tua mãe de
ontem…

Anahí: comprou mais ontem? — incrédula

Marichelo: lógico! Sophie disse que tava precisando de roupas novas. Não
posso atender a um pedido da minha neta?

Anahí: e por que não me convidou pra ir junto?

Marichelo: Sophie prefere as roupas que eu compro, então fui sozinha…

Anahí: só me faltava essa! Vou ter que cuidar de um bebê e uma mãe louca…

Marichelo: que culpa eu tenho se tu não sabe cuidar da minha neta?

Anahí: que vê diz que é normal… — balançou a cabeça rindo — Mas vamos
começar logo enquanto tá cedo.

As três se sentaram sobre seus tatames no gramado e logo começaram


a sessão de yoga. Algumas pessoas paravam pra observar, outras só olhavam
rapidamente enquanto caminhavam, umas se atreviam a se unir ao grupo…
Assim, ficaram cerca de sete mulheres executando a seqüência de exercícios
por mais ou menos quarenta minutos. Aos poucos foram se retirando uma a
uma, pra finalmente restarem apenas Anny, Mari e Fernanda descansando em
seus lugares.

Anahí: gente, vocês viram a roupa daquela loira?

Fernanda: a baixa ou a alta?

Marichelo: lógico que a alta, Nanda! Eu vi sim…

Anahí: que roupinha mais sem gosto! Combinar legging e camiseta com a
mesma estampa florida… Ela queria o que? Atrair homens ou pássaros?

Marichelo: e a de cabelo castanho que tava do meu lado? Por falar nisso,
aquilo era cabelo? Parecia que uma vaca tinha mastigado todinho e depois
botaram pra secar no varal… E as luzes?

Anahí: acho que era pra ser luz de vela… — as três riram

Fernanda: mas vocês gostam de falar da vida alheia, hein?!


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♥ Sólo déjate amar ♥

Anahí: se a vida dessa mulher se resume àquele cabelo, meu amor, é bom
tirar ela de perto dos precipícios…

Marichelo: será que ela tem silicone?

Anahí: sei lá…

Fernanda: e por que isso agora?

Marichelo: ora! Vai que ela pula do precipício e o negócio estoura?

Anahí: e daí?

Marichelo: daí que teriam que trocar pro velório! E esperar semanas pra eles
ficarem normais… Até lá ela já vira múmia…

Anahí: eu não ouvi isso… — pasma — Fê, vamos embora? Acho que o lugar
que tá mexendo com a cabeça dela…

Fernanda: é, né? Vamos então… — ela se levanta e ajuda Anny a fazer o


mesmo… — Vem não, Mari?

Marichelo: pensei que fossem me deixar aqui…

Anahí: claro que não, mamita! — abraçou a mãe carinhosamente — O carro


que a gente veio é teu… Se a gente te deixar, como que vamos voltar?

Marichelo: eu já devia imaginar… Vamos, filhinha linda do meu coração! —


disse apertando as bochechas de Anny

No caminho pro estacionamento, Mari resolve comprar água pra todas.


Anny, já cansada, se sentou num banco enquanto as outras duas seguiam até
um vendedor ali perto. Quando se deslocavam, Fernanda e Marichelo eram
bastante assediadas por alguns homens que estavam caminhando também.
Elas só sorriam cúmplices. Em pouco tempo já estavam de volta ao encontro
de Anny.

Anahí: eu vi, hein, dona Marichelo! Meu daddy vai adorar saber o que você faz
nas ruas…

Marichelo: eles que assobiaram pra mim, não eu… Além disso, tava só dando
uma forcinha pra Nanda… Ela tá precisando…

Fernanda: quem disse que eu tô precisando?

Marichelo: precisa nem dizer. Faz dias que tu não pega ninguém…

Anahí: eu também quero psiu… — fez bico, dengosa


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♥ Sólo déjate amar ♥


Marichelo: Sophie quer que você fique com Poncho, então não precisa de
nada disso…

Anahí: Sophie disse isso? — impaciente

Marichelo: e mais… Mandou tu parar de bancar a difícil ou de se fingir de


burra e correr atrás do amor da tua vida…

Anahí: e desde quando eu sou fácil?

Marichelo: desde que passou a amar alguém… Podemos ir agora?

Anahí: vamos…

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