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SUSPENSÃO CONDICIONAL DA
PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE
(Sursis)
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A pena privativa de liberdade de curta duração, como não podia deixar de ser, é
aplicada aos condenados que cometeram crimes menos graves. Sua execução em
ambiente onde são cumpridas penas de prisão de condenados a penas maiores – que,
evidentemente, cometeram crimes mais graves – importa na imposição de convivência
com outros condenados, muitas vezes multi-reincidentes, proporcionando terreno fértil
para a germinação do fenômeno da contaminação carcerária, responsável pela
transformação dos presídios em verdadeiras e muito eficazes escolas de
aperfeiçoamento de práticas criminosas.
A Lei nº 7.210/84 – a Lei de Execução Penal – nos arts. 156 a 163 trata desse
importante instituto.
18.2 ESPÉCIES
O sursis etário, que pode ser simples ou especial, aplicar-se-á ao condenado com
mais de 70 anos de idade ou a condenado de qualquer idade acometido de enfermidade
que justifique a suspensão da execução da pena, por um período de quatro a seis anos.
Não será qualquer enfermidade que justificará a suspensão, mas aquela que, por sua
natureza, se agravaria com a presença do condenado no sistema prisional. Assim,
alcançará o maior de 70 anos e o enfermo.
18.3 REQUISITOS
18.3.1 Objetivos
a) para o sursis simples, só pode ser suspensa a pena privativa de liberdade (reclusão,
detenção ou prisão simples) não superior a dois anos;
b) para o sursis especial, além do requisito anterior, deve o condenado ter reparado o
dano, salvo impossibilidade de fazê-lo;
c) para o sursis etário, só pode ser suspensa a pena privativa de liberdade não superior
a quatro anos;
d) para todos os sursis, não pode caber a substituição da pena privativa de liberdade
por pena restritiva de direito, conforme preconiza o art. 44 do Código Penal.
Resulta, assim, a conclusão óbvia de que nem as penas de multa nem as penas
restritivas de direito podem ter sua execução suspensa (art. 80, CP). A suspensão
condicional da pena tem como uma de suas finalidades evitar o encarceramento, a
prisão, e outro de seus objetivos é a aplicação de medidas alternativas, entre elas as
penas restritivas de direito. Nenhum sentido teria substituir uma pena de multa ou
restritiva de direito por outra dessa natureza.
18.3.2 Subjetivos
A simples reincidência não obsta a suspensão condicional da pena, pois a lei exige
que o agente não seja reincidente em crime doloso. Vale dizer, se for reincidente em
delito culposo, poderá obter o sursis. Se tiver sido condenado por crime doloso, poderá
ser suspensa a execução da pena por crime posterior culposo.
O período de prova deve ser fixado pelo órgão julgador, na decisão condenatória
que conceder o sursis, fundamentadamente. Somente em situações excepcionais e
diante de absoluta necessidade é que o período de prova deverá ser fixado acima do
mínimo legal que é de dois anos, para os sursis simples e especial, e de quatro anos
para o sursis etário. É justo que seja assim, pois o juiz estará suspendendo a execução
de uma pena privativa de liberdade de, no máximo, dois anos, ou quatro anos, se o
condenado tiver mais de 70 anos. Não faria sentido e não seria justo que,
arbitrariamente, sem necessidade devidamente demonstrada, fosse estabelecido
período de prova superior ao tempo da pena suspensa.
Se simples, fixará o juiz uma das penas restritivas de direito, para ser cumprida
no primeiro ano de prova. Se especial, as condições do § 2º do art. 78.
Além das condições legais, é da maior importância que o juiz estabeleça outras,
consoante lhe faculta o art. 79, subordinando-se tão-somente a sua adequação ao fato
praticado e à situação pessoal do condenado.
É de todo claro, pois não cabe ao juiz cominar pena, tarefa reservada ao legislador.
Essas condições, como manda a norma, devem guardar alguma correlação com o
fato praticado, e com a situação pessoal do condenado
O mais importante para que o sursis cumpra seus objetivos é que o período de
prova seja, efetivamente, fiscalizado. Essa não é uma tarefa impossível, e não podemos
imaginar que para que ocorra seja necessária a criação de organismos estatais
incumbidos do mister. Aliás, bom é que a fiscalização não fique em poder do Estado,
mas que seja exercida pela sociedade, por meio de suas entidades e organismos
próprios, e do Conselho da Comunidade, de que trata o art. 80 da Lei de Execução
Penal, que deverá ser composto, em cada comarca, por, no mínimo, um representante
da associação comercial ou industrial, um advogado indicado pela OAB e um assistente
social. A instalação e o funcionamento desses conselhos são essenciais para toda a
execução penal, não só para a eficácia do sursis.
2 MIRABETE, Julio Fabbrini. Execução penal. 4. ed. São Paulo: Atlas, 1991. p. 400.
8 – Direito Penal – Ney Moura Teles
18.5 REVOGAÇÃO
Com a vigência da Lei nº 9.268, de 1º-4-1996, que deu nova redação ao art. 51 do
Código Penal, a pena de multa não mais poderá ser convertida em pena de detenção,
quando o condenado solvente não pagá-la ou frustrar-lhe a execução. Com a nova lei,
após o trânsito em julgado da sentença penal condenatória, a multa será considerada
dívida de valor, “aplicando-se-lhe as normas da legislação relativa à dívida ativa da
Suspensão Condicional da Pena Privativa de Liberdade (Sursis) - 9
Fazenda Pública”.
O § 1º do art. 81 dispõe:
Não se pode revogar o sursis em razão de uma condenação por delito culposo ou
por contravenção penal, ainda que definitivas, pelo simples fato da condenação. Às
10 – Direito Penal – Ney Moura Teles
Ora, se o período de prova fixado em dois anos pode ser prorrogado até quatro
anos, na presença de causas de revogação facultativa, nada pode impedir a alteração de
condições originalmente estabelecidas, nem mesmo a imposição de prestação de
serviços à comunidade, ou de limitação de fim de semana.
O juiz precisa de certa liberdade para impor restrições a fim de não decretar a
revogação, quando facultativa a causa autorizadora.