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ASSÉDIO SEXUAL
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Mais uma vez o legislador brasileiro trabalhou mal. Buscando conferir proteção à
liberdade sexual das pessoas contra comportamentos indignos realizados no dia-a-dia, no
trabalho e em outras relações interpessoais, a norma não satisfaz aos interesses da
sociedade, dada sua imprecisão técnica, como adiante se demonstra.
5.2 TIPICIDADE
2 – Direito Penal III – Ney Moura Teles
5.2.1 Conduta
O tipo foi mal construído. Seu núcleo é o verbo constranger que, sabe-se, significa
obrigar, compelir, forçar, porém encontra-se desacompanhado de qualquer objeto indireto.
Quem obriga, quem força, quem compele outra pessoa, constrange-a a fazer ou a deixar de
fazer alguma coisa. O Código Penal, sempre emprega o verbo constranger (arts. 146, 158,
197, 198, 199, 213, 214) nesse sentido.
Trata-se aqui, portanto, de uma ação realizada por quaisquer outros meios que não
estes, porém, só haverá crime quando o agente importunar a vítima prevalecendo-se de
sua condição de “superior hierárquico” ou da “ascendência” que sobre ela exerce em
virtude do emprego, cargo ou função que exerce.
Assim, haverá crime quando o agente sugere à vítima que ela poderá ser
promovida, merecer um aumento de salário, obter algum benefício ou, ao contrário, ter
dificuldades em manter o emprego, ser transferida para outro lugar ou, até mesmo, ser
exonerada ou demitida se não for generosa, concedendo o proveito ou o favor sexual.
O assédio sexual é crime doloso. O agente deve ter consciência de que está
importunando, perturbando, incomodando ou constrangendo a vítima, com seu
comportamento. Por isso será muito difícil reconhecer, na prática, a ocorrência do crime,
pois na maioria das vezes o agente não está convicto de que não está agradando.
Por fim, para a realização do tipo é indispensável o fim de obter uma vantagem ou
um favor de natureza sexual. A importunação é realizada com o fim de quebrar a
resistência da vítima, para que ela preste o favor ou proporcione um proveito de natureza
sexual ao agente.
possível se o agente tiver realizado a conduta por meio de comunicação escrita que venha
ser interceptada por terceiros, não chegando ao conhecimento da vítima.
De notar que não se pode fazer incidir o aumento previsto na parte final do inciso II
do art. 226, contido na fórmula “empregador da vítima ou por qualquer outro título tem
autoridade sobre ela”, porque essas circunstâncias já constituem elementos integrantes do
tipo. Seria bis in idem.
Entretanto, quando a vítima ou seus pais não puderem arcar com os custos do
processo sem privar-se de recursos necessários para a manutenção própria ou da família, a
ação penal será de iniciativa pública, condicionada à representação.
Nada obstante, penso que é possível o pai, padrasto, tutor ou curador importunar,
no ambiente de trabalho onde o filho, enteado, tutelado ou curatelado lhe seja
subordinado, buscando a obtenção de proveito ou favorecimento sexual. Estará aí, a um só
tempo, realizando o tipo e abusando do pátrio poder ou da qualidade de padrasto, tutor ou
curador. Neste caso, a ação penal será de iniciativa pública.
6 – Direito Penal III – Ney Moura Teles