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Este documento encontra-se na seção de manuscritos da

Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro.1

“Requerimento dos negociantes desta praça a S.M.I para que declare apenas os traficantes
de escravos e não os negociantes de Grosso-trato, que sem serem especialistas recebem
escravos de outras províncias para vende-los aqui”

Os negociantes desta praça, abaixo assinados, submissamente trazer ao alto


conhecimento de V.M.I os vexames, que estão sofrendo pela má inteligência, eu se tem
dado a postura da Câmara, seção 2º (ilegível) fazendo-a extensiva aos suplicantes com
grave prejuízo da classe dos negociantes em geral, e dos súditos de V.M.I das províncias do
Norte em particular.
Aquela postura, imperial Senhor, sujeitou a todos, os que quisessem negociar em
escravos, a terem armazém público em casa térrea ou loja, a tirar fiança pelos prejuízos, que
ocasionarem, assinando além disso o termo na Câmara com cláusulas expressas na mesma
postura: bem visto é pos que ali se trata daqueles traficantes, que compram e vendem
escravos, e tem armazéns para os receber, e vender; mas não daqueles comerciantes de
Grosso-Trato, que relacionados, como estão os suplicantes com as províncias do Norte,
recebem d’ali casualmente alguns escravos por consignação para aqui os venderem por
conta de seus danos, e não por que se ocupem, e nem queiram ocupar-se em comprar e
vender escravos, ou negociar em semelhante tráfico. Conhecida por demais é de V.M.I a
infelicidade, e desventura eu tem oprimido algumas das províncias do Norte, por ocasião de
grandes secas; e deste infortúnio ali quase geral tem resultado que os possuidores de
escravos os tem vendido para acudir suas necessidades, e para isso os mandam os
suplicantes, e outros Negociantes desta Praça, em que depositam confiança, e com quem
estão relacionadas. Se pois os suplicantes os não puderem vender em primeira mão, e de
necessidade os tiverem de entregar a esses traficantes de escravos, que tem loja aberta para
esse fim, não só carregam esses infelizes committentes (sic) com multiplicadas comissões,
e duplicadas despezas (sic); más ainda o que é pior, não podem evitar as fraudes usadas por
tais traficantes, passando os papéis de venda por menos do que justamente venderão, no que
consentem os compradores em geral pelo interesse que tão bem percebem na defraudação
da siza. Se porém, os suplicantes, para evitar tais prejuízos a seus ditos commitentes (sic),
que sem executar o que esta decretado naquela postura, degradar-se-ão da classe nobre e
respeitável de Negociantes para aquela de traficantes de escravos, o que seria para eles uma
pena maior do que a perda da fazenda. Nestas circunstancias portanto e por motivos que
ficam expendidos, os abaixo assinados vem a Augusta presença de V.M.I suplicar a
P.A.V.M.I que se digne declarar que aquela postura só compreende os traficantes que se
ocupam em comprar e vender escravos, e não os Negociantes de Grosso-Trato, que não se
ocupam deste tráfico, todavia recebem escravos das províncias a consignação para os
vender por conta dos senhores remetentes.
R.J 13 de março de 1847.
Seguem 25 assinaturas”2

1
Foram mantidas a grafia e gramática presentes no documento.
2
Elas são mencionadas, mas não estão no documento.
Resposta ao requerimento dos traficantes de escravos3

Ilustríssimos senhores. Parece-me que os suplicantes não podem ser excetuados da


disposição do ¶ 16 Título 1º Seção 2ª das posturas.
Esta disposição é clara, geral e terminante, não faz distinção alguma a favor desta ou
daquela classe de negociantes, sejam de Grosso ou baixo Trato. A postura fala em geral +
ninguém poderá negociar4 em escravos sem ter para esse efeito Armazém público ou cassa
térrea = Geralmente deve ser obedecida. Acresce que a palavra =negociar= que usa a
postura, abrange necessariamente aqueles eu recebem por comissão escravos para vender;
porque em direito Mercantil a comissão é um ato de comércio e o comissário pois exerce
ato de comércio e negócio. Outra qualquer inteligência me parece forçada e abusiva. Direi
finalmente que a Ilustríssima Câmara nunca julgou necessário propor revogação ou
alteração desta postura nos termos do decreto de 25 de outubro de 1831, não só porque
nunca houve dúvida alguma sobre sua inteligência perante o Poder Judiciário como porque
são óbvias as razões de ordem e moralidades públicas, que serviram de fundamento a uma
tal disposição. Deus Guarde V. Sªs . R.J 4 de maio de 1847. Ilustríssimos senhores
Presidente e Vereadores da Câmara Municipal da Corte.

Francisco Inácio de Carvalho Moreira.


Conforme Luiz Jm de Gouveia.

3
Interessante que o requerimento era dos Negociantes e não dos traficantes, embora o teor seja justamente
para reafirmar que não haveria diferença entre eles, embora os Negociantes quisessem justamente não ser
igualados àqueles.
4
Os grifos são do documento N.A.

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