30 de agosto de 2000
Quarta-feira
Crescem denúncias de abuso policial
▼
Ouvidoria registra um aumento de 35% no número de casos, de janeiro até hoje, em relação a 99
NEWTON CUNHA
E
m menos de 24 horas,
duas graves denúncias
colocam em xeque a
atuação dos militares do
13º Batalhão de Polícia
Militar, sediado no bairro Planalto,
e com atuação na Zona Norte e
Região de Venda Nova. Ontem de
manhã, os promotores de venda
Vinícios Santos Damasceno, 20
anos, e Ânderson Siqueira Couto,
Rapazes reclamam
de ameaças
O drama dos dois rapazes
começou no domingo, por volta
de 23h. Eles saíram do bar Re-
dondo, na orla da Lagoa da
Pampulha e pegaram o táxi
Uno placa GTI-5134, dirigido
por Alvimar Eustáquio Quirino,
44. Eles seguiram para o bairro
São João Batista, onde moram,
e pagaram a corrida de R$
7,00. Ao descerem do táxi, Alvi-
mar os abordou, alegando que
eles haviam roubado R$ 35,00
que estavam no carro. Ambos
negaram a acusação e propuse-
ram que ele chamasse a polícia
para esclarecer a questão.
Minutos depois, três viatu-
ras e duas motocicletas do 13º
Batalhão, chegaram ao local.
Segundo Vinícios e Ânderson,
eles não tiveram nenhuma
oportunidade para apresenta-
rem suas versões.
Somente ao taxista Alvimar
Eustáquio, cujo nome consta na
Colisão de van com caminhão
mata quatro pessoas na 381
Quatro passageiros da Besta
placa MQQ-3007, de Anchieta,
Espírito Santo, morreram tragica-
mente ontem de manhã, no km
348 da BR 381, que liga Belo Ho-
rizonte a Vitória, altura de João
Monlevade em mais um grave
acidente registrado nas rodovias
federais. O veículo, dirigido por
Geovani Pereira Oliveira, 29 anos,
derrapou na pista molhada e ba-
teu lateralmente contra o cami-
nhão baú Mercedes Benz placa
GKO-5341, de Belo Horizonte, di-
rigido por Wilson Augusto Siquei-
ra. Além dos quatro mortos, ou-
tras oito pessoas ficaram feridas.
Todos foram atendidos no Hospi-
tal Margarida, em João Monleva-
de, e não correm riscos de vida.
O acidente ocorreu por volta
das 7h. A Besta havia saído de
Anchieta no início da madruga-
da, levando pacientes com pro-
blemas ortopédicos para trata-
mento no Hospital São Bento
em Belo Horizonte. No km 348,
o motorista derrapou em uma
curva, entrou na contra-mão e
bateu na carreta que seguia no
sentido Belo Horizonte-Vitória.
Morreram na hora os passa-
geiros Leandro Santos Amaral,
21, Admilson Almeida, 64, e Ca-
tarina Guarnielli, 43, além do
motorista, Geovani. Todos se-
guiam no lado esquerdo do veí-
culo e tiveram seus corpos muti-
lados entre as ferragens. O mo-
torista da carreta nada sofreu.
Os demais passageiros foram
resgatados por ambulâncias de
João Monlevade e motoristas
que passavam casualmente pelo
Um juizado só para acidentes
GUSTAVO WERNECK
Mais um serviço para descompli-
car a vida do cidadão de Belo Ho-
rizonte, tornando a Justiça mais
ágil. E com a característica de jul-
gar apenas ações de ressarcimen-
to por danos causados em aciden-
te de veículo em vias públicas.
A partir dessa segunda-feira,
começa a funcionar o Juizado
Especial Cível de Acidente de
Trânsito, um instrumento total-
mente inédito em Minas e até
mesmo em outros Estados, co-
mo São Paulo. A exemplo do Jui-
zado das Relações de Consumo,
23, compareceram à Ouvidoria
Geral de Polícia para relatar agres-
sões e abusos de autoridade co-
mandados pelo sargento Márcio
Lúcio de Miranda, que no domin-
go à noite comandava uma guar-
nição do 13º Batalhão no bairro
São João Batista. Socos, “grava-
tas”, e até cusparadas foram algu-
mas das armas utilizadas pelos
militares para intimidar os pro-
motores de vendas, acusados de
roubar R$ 35,00 de um taxista.
Outra grave denúncia foi enca-
ocorrência como sendo policial
militar, foi dada oportunidade pa-
ra falar. “Ele dizia que roubamos
o dinheiro. Não havia nada com
a gente mas continuamos a ser
agredidos”, lamenta Ânderson.
Segundo o promotor de ven-
das, ele foi dominado e alge-
mado pelos militares, além re-
ceber socos e cusparadas no
rosto. “Fomos levados para a
7ªSeccional em Venda Nova no
camburão da PM, onde ficamos
até 4h de segunda-feira. Como
nada foi provado, eles nos libe-
raram”, acrescentou Ânderson.
Antes da liberação, eles afir-
mam que foram ameaçados de
morte pelo próprio sargento
Márcio, se o caso fosse denun-
ciado aos órgãos competentes.
Além do sargento Márcio, que
comandava a operação, eles
também denunciam o cabo
Sérgio Frade de ter participado
das agressões. (NC)
A VAN conduzia pacientes, de Anchieta para Belo Horizonte, e ficou totalmente destruída
local, e levados ao Hospital San-
ta Margarida. São eles: Edson
Barcelos, 21, Rosano Mengiotti
Souza, 21, Sandro Augusto, 23,
Luís César Cardoso, 19, Gildete
Tompson Machado, 44, Tiago
Gomes Lima, 15, Pablo Henri-
que Lara Lau, quatro anos, e sua
mãe, Rossana Ramos Lara Lau.
Segundo os policiais rodoviá-
rios federais, o acidente poderia
ter sido ainda mais grave, se a
van tivesse batido de frente con-
tra a carreta. “Percebi a van se
aproximando e inesperadamente
ela atravessou a pista e bateu
contra meu caminhão. Foi inevi-
tável”, lamentou o mortorista
Wilson Augusto.
Os passageiros da van constan-
trata-se de um desmembramen-
to dos juizados cíveis da capital
mineira. Atualmente, a deman-
da de ações relacionadas ao
trânsito representa 15% dos
processos em esfera cível.
Segundo Evandro Lopes da
Costa Teixeira, diretor dos juiza-
dos especiais cíveis, as causas
não poderão ultrapassar o valor
de 40 salários mínimos, sendo
que fica dispensada a presença
de advogado em causas de até
20 salários mínimos.
A novidade é uma resposta ao
crescente volume de serviços, de
ano para ano. Em 1998, por
GERAIS/POLÍCIA
minhada para a Promotoria da
Infância e Juventude. A menor
RGM, 15 anos, foi espancada na
madrugada de domingo por poli-
ciais do 13º Batalhão, por ter par-
ticipado de um assalto contra um
motel em Venda Nova. RGM re-
cebeu vários golpes de cassetete
na região das nádegas, o que pro-
vocou vários hematomas.
Os dois casos engrossam as es-
tatísticas de denúncias de abusos
policiais este ano. Segundo o dele-
gado Antônio Gama Filho, que
VINÍCIOS E ÂNDERSON se queixam, ao ouvidor, de prisão arbitrária e maus tratos por parte de policiais do 13º BPM
OS FERIDOS foram atendidos no Hospital Margarida em Monlevade
temente vinham a Belo Horizonte
para tratamento ortopédico, finan-
ciado pela prefeitura de Anchieta.
exemplo, os juizados especiais
eram responsáveis por 50% das
demandas de Belo Horizonte,
em comparação com o Fórum
Lafaiete. Já no ano seguinte, es-
se percentual passou para 74%.
Só no primeiro semestre deste
ano, o número de ações propos-
tas nos juizados cíveis de Belo
Horizonte – que recebem men-
salmente 2,8 mil novas ações,
com média de decisão de quatro
meses – chegou a ultrapassar
em 22% o número de processos
das 33 varas cíveis de Belo Hori-
zonte, diz Evandro.
A despeito de ser cível – o Jui-
responde interinamente pela Ou-
vidoria Geral de Polícia, o órgão
registrou um aumento de 35,53%
nas denúncias contra policiais em
geral, no período de janeiro a
agosto de 2000, com relação ao
mesmo período do ano passado.
Este ano o órgão recebeu 639 de-
núncias, contra 412 no ano pas-
sado. Só no mês de agosto foram
registradas 64 denúncias.
Segundo Gama Filho, o au-
mento das denúncias mostra que
a violência policial em Minas Ge-
RENATO WEIL
RENATO WEIL
Os corpos foram necropsiados e le-
vados para o Espírito Santo, onde
serão seputados ainda hoje. (NC)
zado de Trânsito, cujo titular se-
rá o juiz Herbert Almeida Car-
neiro, funcionará no prédio do
Juizado Especial Criminal, que
fica na Via Expressa, nº 3.250.
O diretor informa ainda que o
aperfeiçoamento do trabalho
dos juizados especiais deve-se à
implementação do Projeto “-
Mais”, uma sigla para “melhor
atendimento, integração e servi-
ços”. “Isso significou uma inte-
gração das equipes, propiciando
um ambiente mais humano e
também melhorando a qualida-
de dos serviços prestados à co-
munidade”.
rais tem aumentado, mas em con-
trapartida, deixa evidente que as
vítimas estão mais conscientes e
com menos medo de procurarem
a Ouvidoria de Polícia.
O ouvidor interino ainda res-
salta que várias denúncias con-
tra policiais muitas vezes sequer
passam pela Ouvidoria, pois são
registradas em outros órgãos co-
mo Promotoria de Direitos Hu-
manos, Disque Direitos Huma-
nos, Coordenadoria de Direitos
Humanos da Câmara, Correge-
Detenta luta pelo
direito de amamentar
JUIZ DE
FORA
VERA HOTZ
SUCURSAL MATA
Condenada a oito anos de pri-
são por tráfico de drogas e for-
mação de quadrilha, Eusa Mar-
ques dos Santos, 31 anos, está
vivendo mais um drama. No úl-
timo dia 23, nasceu seu tercei-
ro filho, Artur. Pesando 3 quilos
400 gramas e medindo 47 cen-
tímetros, ele está tendo pouca
chance de ser amamentado pe-
la mãe, que cumpre pena no
Centro de Remanejamento de
Segurança Pública (Ceresp),
junto com o marido, Tony Ri-
cardo Aragon. Os dois foram
presos em dezembro do ano
passado, quando a Polícia Fe-
deral estourou um laboratório
para refino de cocaína, no sítio
onde moravam, no bairro Gra-
minha.
Na época da prisão, Eusa
Marques ainda não sabia que
estava grávida. A gestação, re-
conhece, foi conturbada e mes-
mo tendo ido ao médico uma
única vez, teve o bebê por parto
normal. Para fazer o enxoval,
Eusa Marques vendeu salgados,
doces e artesanato, além de ter
contado com a doação de enti-
dades e pessoas. De volta ao Ce-
resp, ela levou o bebê e soube
que ele não poderia ficar no lo-
cal, devido à falta de um espaço
EUSA GUARDA as roupinhas do recém-nascido e
quer ficar com ele
ESTADO DE MINAS
Página 27
doria de Polícia, Disque Cidadão,
Comissão de Direitos Humanos
da Assembléia Legislativa, Co-
missão de Direitos Humanos da
OAB e até pela Comissão de Di-
reitos Humanos da Câmara Fe-
deral, representada pelo deputa-
do Nilmário Miranda (PT). “Mas
infelizmente muitas vítimas ain-
da têm medo de denunciar”, la-
menta o delegado Gama Filho. O
comando do batalhão já abriu
sindicância para apurar os dois
casos.
VERA GODOY
adequado e o risco de contami-
nação para o recém-nascido.
O desespero aumentou
quando soube que, além de
não poder ficar com o ne-
ném, ele seria encaminhado
para uma instituição. Para
evitar que isso acontecesse, o
advogado do casal, Fernando
Sérgio, se responsabilizou
pela criança e a levou para
sua casa. Na medida do pos-
sível, tem levado o bebê até o
Ceresp para que possa ser
amamentado e, quando isso
não se torna possível, o pe-
queno Artur toma uma ma-
madeira.
Como foi abandonada pelos
pais aos nove anos e convive
na prisão com vários detentos
que também passaram pela
mesma situação, Eusa Mar-
ques quer estar ao lado do fi-
lho para lhe dar carinho e
atenção. Diante da negativa
do juiz Márcio Welson, que de-
terminou a transferência da
criança para a Casa do Acon-
chego, Eusa Marques contou
com a solidariedade da sogra,
Luzia Martins Aragão, 41 que
vai morar em Juiz de Fora,
com um filho, de 10 anos, pa-
ra cuidar do bebê. No Ceresp,
onde mantém roupas e fraldas
para o bebê, Eusa Marques la-
menta a impossibilidade de
não só amamentar mas tam-
bém de assumir os outros cui-
dados básicos, como levar o fi-
lho ao médico para fazer o tes-
te do pezinho.
VANESKA DIAS