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1ª Edição
Copyright @ André Bueno Corrêa Moura; Anna Carolina de Oliveira Azevedo; Bruno
Henrique Parreiras; Diogo Henrique Silva; Éric Andrade Rezende; Fabrício Alves
Farias; Geovano Moreira Chaves; Gladstone Leonel Júnior; Gustavo Bueno Corrêa
Moura; Gustavo Nolasco; Izabela Neves Xavier; Romero Marconi, 2021
Grafia não obedece ao acordo ortográfico da língua portuguesa de 1998, que vigora
desde 2009, pois defendemos a liberdade plena de escrita e encaramos as diferenças
linguísticas e ortográficas como uma riqueza cultural de cada lugar que não pode ser
suprimida por interesses comerciais e ditoriais.
O Time do povo mineiro : um olhar para os próximos 100 anos / Gladstone Leonel
Júnior (org.). -- 1. ed. -- Petrópolis, RJ : Editora Corner, 2021.
ISBN: 978-65-994119-1-5
21-62135 CDD-796.3340608151
APRESENTAÇÃO ....................................................... 15
Gladstone Leonel Júnior
PREFÁCIO .............................................................. 19
Luiz Antonio Simas
PARTE 01.
A história de um clube com os pés no barro preto:
as pedras no meio do caminho ........................23
PARTE 02.
A torcida com a cara do povo mineiro ......... 67
PARTE 03.
Jogadores marcantes: quando o manto azul se
torna a segunda pele .......................................135
PARTE 04.
Causos e cultura nas minas:
enredos em azul e branco ...............................159
PARTE 05.
Soy loco por ti America: La Bestia Negra .......191
11
Fabrício Alves Farias
Gustavo Nolasco
12
sala de troféus, Projeto Harpia 20 anos, Jardins da Arara de Lear
e Os Chicos (vencedor do Prêmio Jabuti na categoria Fotografia).
Fundou e foi editor do jornal A Sirene, veículo de comunicação
dos atingidos pelo rompimento da barragem da Samarco.
Romero Marconi
13
Coisas que a gente se esquece de dizer
Frases que o vento vem às vezes me lembrar
Coisas que ficaram muito tempo por dizer
Na canção do vento não se cansam de voar.
17
a sede do maior rival na capital. Enquanto isso, a mão-de-obra
decorrente do interior, seja de imigrantes ou de negros empo-
brecidos, atuava na construção civil para colocar Belo Hori-
zonte de pé e foi se situando em áreas mais afastadas. Com o
passar dos anos, e a não absorção dessa parcela da população
pelos espaços sociais já estabelecidos na capital, viu-se a ne-
cessidade de criar um clube, que recebesse a comunidade ita-
liana, majoritária na capital àquela época, na região do Barro
Preto, área um pouco mais afastada do centro administrativo.
18
to da torcida cruzeirense é proporcional ao interesse e participa-
ção das mulheres na própria esfera social e esse é um dos motivos
pelo qual a torcida se massificou enquanto China Azul.
Hoje, somos milhões que querem participar, cada vez mais, dos
rumos do próprio Cruzeiro, até porque ele não é mais aquela
pequena associação de imigrantes da capital em construção.
Hoje, ele é patrimônio material e imaterial do povo mineiro,
pois se manifesta desportivamente e, muito além disso, tem
forte papel cultural construtor de subjetividades no meio fa-
miliar e identidades populares que também devem influenciar
na própria transformação. O Cruzeiro do século XXI é negro,
é branco, é indígena, é católico, é do candomblé, é mulher, é
homem, é pobre, é rico, é gay, é hétero, é trans, é cantor e é ca-
melô, é da roça e da cidade, é de Belo Horizonte ou de Piumhi,
é de Minas Gerais, é do Brasil e é do mundo.
19
Prefácio
Ontem, Hoje e Amanhã
21
torno da paixão azul circulam modos de cantar, comer, beber,
vibrar, sofrer, chorar, fazer política, praticar a cidade, viver
em comunidade, interagir com o mundo na dimensão do en-
cantamento, feito o verso de “Sei lá, Mangueira”, uma parceria
entre Paulinho da Viola e Hermínio Bello de Carvalho: a vida
não é só isso que se vê; é um pouco mais.
22
PARTE 01.
A história de um
clube com os pés no
barro preto:
as pedras no meio do
caminho
1.1. Da imigração italiana à construção
de uma nova capital: as origens da
società sportiva palestra italia
Geovano Moreira Chaves
27
Na intenção de compreender como foi possível a fundação da
Società Sportiva Palestra Italia, faz-se fundamental analisar
o contexto que tornou plausível sua construção, de modo a
abranger o cenário social e geográfico em que se deu a fun-
dação do clube. A construção e a formação da cidade de Belo
Horizonte, em conjunto com o processo de imigração italiana
direcionada a habitar e trabalhar na construção da então nova
capital, de feições republicanas, são elementos fundamentais
para que se possa ter melhor dimensão do processo que cul-
minou nas origens do Cruzeiro Esporte Clube.
Romero Marconi 51
que se lê por aí, não mantinha relação alguma com o Palestra.
Foram adversários nas disputas das edições do Campeonato
Mineiro de 1921, 1922, 1923, 1924 e 1925, além de oponentes em
outros torneios iniciais.
Romero Marconi 53
O Grande Palestra
Um clube que não tinha a mesma força política dos seus dois
principais adversários, e tampouco a representatividade nas re-
dações de jornais, por ser pertencente a uma colônia estrangeira,
Romero Marconi 55
constituída em grande parte de analfabetos e trabalhadores da
construção civil.
O Pioneirismo
A Perseguição
A relação do Palestra com a Liga Mineira não foi das melhores des-
de então. Não por acaso, no ano de 1931, e na busca pelo tetra, os
Romero Marconi 57
periquitos chegaram à final contra o Atlético. Na segunda par-
tida, o clube de Lourdes descumpriu o combinado sobre a pre-
sença de um árbitro de fora. No jogo, foi escalado um árbitro
local e o Palestra, em protesto, saiu de campo, abandonando a
partida — aquela que seria a primeira final entre os dois clu-
bes na história. A Liga nem se prestou a ouvir o Palestra e deu
o título ao alvinegro (RIBEIRO, 2014).
1 - O Trio Maldito foi um trio de ataque formado pelos atacantes Mário de Cas-
tro, Jairo e Said, que atuaram no Atlético Mineiro entre os anos de 1927 e 1931.
Romero Marconi 59
Uma vontade latente, uma luta constante, um sentimento que
aquele seria o clube não só dos imigrantes e da cidade, mas o
clube de Minas, o clube do Fantoni, dos Falci, dos Lazarotti,
dos Souza, dos Pires, um clube de todos.
Referências Bibliográficas:
Periódicos:
Romero Marconi 61
1.3. Nascidos Palestra, forjados
Cruzeiro2
Romero Marconi
Romero Marconi 63
Conforme o jornal carioca “A Noite” em 1942:
Referências Bibliográficas:
Periódicos:
Romero Marconi 65
ESTADO DE MINAS. Padaria símbolo da Savassi resiste ao
tempo, 10/12/2011. Disponível em: https://www.em.com.br/
app/noticia/gerais/2011/12/10/interna_gerais,266632/pada-
ria-simbolo-da-savassi-resiste-ao-tempo.shtml. Acesso em:
16 ago. 2020.
Disponível em:
https://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2014/04/26/inter-
na_gerais,522833/justica-revela-historias-de-imigrantes-de-
mitidos-em-bh-na-segunda-guerra-mundial.shtml. Acesso
em: 16 ago. 2020.
71
da torcida ao longo das décadas e alguns dos seus principais
feitos em termos de presença nos estádios.
30
20
10,4
10 2,8 4,1
00
Atlético Palestra América Vila Nova Outros
Clubes
4 - Média calculada a partir das fichas dos quatro jogos do Cruzeiro como
mandante na competição, todas disponíveis no site do Mineirão: http://esta-
diomineirao.com.br/o-mineirao/jogos-e-eventos/.
30
20
9
10 5
1
00
Atlético Cruzeiro América Outros Nenhum
Clubes
39
40
30
20
10
10
5
00
Atlético Cruzeiro Outros Nenhum
Clubes
Figura 3 - Pesquisa realizada pelo Instituto Gallup em Minas Gerais com maio-
res de 18 anos. Números consideram apenas os entrevistados que se interessa-
vam por futebol. Margem de erro não informada.
Fonte: “Placar” (15 jul. 1983)
40 38,5 37,9
30
20
9,3
10
5,1 5,4
00
Atlético Cruzeiro Flamengo Outros Nenhum
Clubes
40 35
30 26
22
20 16
10
0,5
00
Cruzeiro Atlético América Outros Nenhum
40
32,8
30 25,5 23,6
20 16,9
10
1,2
00
Cruzeiro Atlético América Outros Nenhum
30
20
20
16
14
10 10
10
5
4
2 3 1 2 4 2 1
4
00
40
31,1
30
21,5
20
11,0 9,1
10 5,1
00
Cruzeiro Atlético Flamengo Corinthians São Paulo
Referências bibliográficas
As mulheres na torcida
As trabalhadoras do clube
“Ao aproximar atletas de seus fãs com ações que iam desde a
distribuição de brindes em escolas até mesmo à presença de
ídolos em diversas ações sociais, elas fortaleceram a iden-
tidade e orgulho celeste. Isso fez com que os limites de Belo
Horizonte fossem rompidos. Assim, torcedores de regiões
de Minas Gerais que outrora eram carentes da proximidade
com o futebol local, aos poucos deixassem a influência dos
veículos de comunicação do Rio de Janeiro e São Paulo e bus-
cassem no Cruzeiro um clube para vibrar a cada domingo.”
7-Cf. LEONEL JÚNIOR, Gladstone. Mais Marias, menos Arrascaeta. Brasil de Fato
MG. Belo Horizonte. Jan. 2019. Disponível em: https://www.brasildefatomg.com.
br/2019/01/18/mais-marias-menos-arrascaeta. Acesso em: 03 ago. 2020
Referências Bibliográficas:
Referências Bibliográficas:
139
Em 1932 foi contratado pela Lazio, seguindo o caminho de seu
irmão, Ninão, e de seu primo, Nininho, outros palestrinos da
família Fantoni que já haviam se transferido para o futebol ita-
liano. Na época, a equipe ficou conhecida como “Brasilazio” de-
vido à presença de vários jogadores brasileiros com ascendência
italiana (LIMA, 2016; HELAL FILHO, 2018). Cabe ressaltar que
os irmãos Fantoni, além de terem feito história nos gramados
brasileiros e italianos, foram os pioneiros na ideia de “abrasi-
leirar” o Palestra, ainda na década de 1920 (COUTO, 2003).
Foi no futebol de salão, aos 13 anos, que Tostão iniciou sua tra-
jetória no Cruzeiro. Aos 15 anos, chegou ao futebol de campo,
mas por ser pouco aproveitado, transferiu-se para o time ju-
venil do América, no qual teve uma breve passagem. Retornou
definitivamente ao Barro Preto em 1963, quando com apenas
16 anos já treinava entre os profissionais (BARRETO e BAR-
“Eu acho que é uma guerra realmente suja. Eu acho que nin-
guém é a favor da guerra do Vietnã. É uma guerra mais eco-
nômica. A América do Norte precisa sempre manter sua pro-
dução de aço em atividade, com isso eles estão lucrando. Eu
Referências Bibliográficas:
163
Há quem diga que a maior glória de Geraldo II foram as im-
pensáveis 34 defesas num jogo contra o Siderúrgica, em 1944.
Mas ele tornou-se muito mais do que isso. Foi um ídolo de jor-
nada dupla quando, do velho presidente Mário Grosso, ganhou
o contrato “450 cruzeiros para jogar e 350 para ser pedreiro”.
Essa frase poderia ter sido dita por um dos milhões de ilustres
torcedores, anônimos ou não, que orgulhosamente carregam
as cinco estrelas juntas ao peito. Ao longo de nossa centenária
história, quantas mulheres e homens já testemunharam das
arquibancadas as conquistas celestes nos gramados de Minas
Gerais? Quantos trabalhadores já vibraram agarrados ao radi-
nho de pilha e à TV, entoando, em uníssono, o grito de gol?
Encantadores de multidões
Uma moeda
Dificilmente vale algo
Sozinho
Coberto nas sombras
Até
Trem Azul
Referências Bibliográficas:
__________________________. Banda do
cruzeiro PART II - com Samuel Rosa, Lo Borges, Milton Nas-
cimento e cia. 2010. Disponível em: https://www.youtube.com/
watch?v=K56XVNtFhlU. Acesso em: 07 jul. 2020.
__________________________Banda do cru-
zeiro PART III - com Samuel Rosa, Lo Borges, Milton Nasci-
mento e cia. 2010. Disponível em: https://www.youtube.com/
watch?v=dMNN6Fq3heQ. Acesso em: 07 jul. 2020.
__________________________Banda do cru-
zeiro PART IV - com Samuel Rosa, Lo Borges, Milton Nasci-
18 - Dedico essa crônica aos dezenove mortos no primeiro dia do maior crime
socioambiental do país, seus familiares, aos cruzeirenses e atleticanos, a todos
os ex-moradores do Bento e aos não-covardes que lutam por justiça. #Pa-
raNãoEsquecer #NãoFoiAcidente.
Por isso tudo, é preciso escrever: Salomé não foi. Ela é, presen-
te! Assim como as cinco estrelas estarão sempre no céu e no
nosso peito. Salomé não será lembrança na arquibancada. Ela
será nosso grito, sorriso, vontade de ser Cruzeiro. Seja onde e
quando o clube jogar.
195
Dias depois, em Belo Horizonte, Hilma ajustou a roupa na bar-
riga de nove meses de gestação. Deixou sua casa e foi ao salão
para pintar as unhas. Foi lá que sentiu o estouro da bolsa e o
líquido a molhar seu vestido.
O apito do juiz cortou o ar, sufocando vozes reais. Nelinho foi logo
atingido covardemente. Com as mãos no tornozelo e com o corpo
encolhido, sua imagem de dor no chão lembrava a forma como
jovens eram torturados no pau de arara, na ditadura brasileira.
23 - Bolão se refere à família Masci, que teve três presidentes na história do Cruzei-
ro: Benito Masci (1984-1990), Salvador Masci (1990) e César Masci (1991-1994).
Referências Bibliográficas:
“Aí nesse jogo foi meio complicado porque a gente sabia que
ia dar muita gente, né? Aí ele falou comigo: eu não vou poder
voltar pra casa porque eu tô trabalhando. Você vai para lá e
eu vou te esperar no portão para gente entrar junto. A gente
vai comprar o ingresso e a gente entra junto!”
“Aquela final foi forte. Foi forte porque a gente já tava per-
dendo por 2 x 0 e o Mineirão tava lotado. Parecia que a gente
não ia conseguir, mas a coisa mudou no segundo tempo.”
Referências Bibliográficas:
@editorafootbooks