Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
MÉTODOS FRONTEIRIÇOS:
IMAGINÁRIO, NATUREZA
E MEMÓRIA
IMAGINÁRIO, NATUREZA
O II Congresso Métodos Fronteiriços: imaginário, natureza e memória,
ocorrido de 28 de agosto a 1 de setembro de 2017, assume a perspectiva
E MEMÓRIA
de desdobramento do encontro de partida, o I Congresso Métodos Heloísa Helena Siqueira Correia
Fronteiriços: objetos míticos, insólitos e imaginários, realizado Laíssa Pereira de Almeida (Orgs)
em 2015. Ao início da discussão acerca dos objetos e
relações míticas na Amazônia, soma-se a aprendizagem
dos saberes tradicionais das comunidades ribeirinha,
indígena e quilombola do Estado de Rondônia.
Agregam-se aí as relações entre humanos
e não humanos, que cotidianamente nos
são apresentadas em meio social, e sua
marcante e decisiva presença subjacente aos
fundamentos da racionalidade, da técnica e da
política ocidental. A mesma que estipula quem
são os animais humanos que importam, reservando
uma vasta borda deserta para os considerados não
humanos, oriundos de variadas dimensões: do
silêncio midiático, da invisibilidade e das minorias
sociais, das matas e rios, das migrações e dos
seringais, entre outros.
MÉTODOS FRONTEIRIÇOS:
IMAGINÁRIO, NATUREZA
E MEMÓRIA
2007 - 2017
Heloisa Helen a Siquei ra Correi a
L a ís s a Pereira de Almei da (Orgs)
MÉTODOS FRONTEIRIÇOS:
IMAGINÁRIO, NATUREZA
E MEMÓRIA
1ª Edição
São Carlos / S P
ED ITOR A DE CA S TRO
2019
Copyright © 2019 dos autores.
Inclui bibliografia.
ISBN 978-85-92788-10-0
CDD 305.800981
APRESENTAÇÃO ............................................................................................. 9
PRIMEIRA PARTE
CONFERÊNCIAS E MESAS-REDONDAS
8 “De dia, com a manhã, sumia”: o mito indígena enquanto narrativa pluris-
significativa
Luana Jessica Gomes Pagung ....................................................................... 155
71
Heloisa Helena Siqueira Correia e Laíssa Pereira de Almeida (Orgs)
72
Amazônias inscritas em letras e beiras
[...] toda obra que não tem nem uma relação direta, nem a
possibilidade de um efeito direto sobre o real, só poderá
ser recebida como de ordem mimética, seja por represen-
tar um Ser previamente configurado – mímesis da represen-
tação – seja por produzir uma dimensão do Ser – mímesis
da produção. [...] Convém ainda esclarecer: para que uma
obra da segunda espécie possa ser acolhida pelo leitor é
preciso que contenha indicadores do referente que desfaz.
(LIMA, 2003, p. 182)
73
Heloisa Helena Siqueira Correia e Laíssa Pereira de Almeida (Orgs)
1 Analogias
74
Amazônias inscritas em letras e beiras
75
Heloisa Helena Siqueira Correia e Laíssa Pereira de Almeida (Orgs)
76
Amazônias inscritas em letras e beiras
no, Sinhá Vitória, o menino mais velho e o menino mais novo vivem um
processo de desumanização, o que inclui o empobrecimento da lingua-
gem e do sonho, a cachorra Baleia é humanizada. Percebe-se facilmente,
no romance, os sentimentos e o raciocínio de Baleia. E não à toa, ela é
protagonista do momento mais dramático do romance, quando Fabiano
precisa matá-la.
Até aqui está claro que, inúmeras vezes, o texto literário é possui-
dor de uma concepção humana da realidade e depositário de uma re-
presentação predominantemente antropocêntrica e humanista. Afinal,
são inúmeras as narrativas em que a busca dos animais é considerada
metáfora da busca humana. E sua condição sobre a terra é símbolo da
condição da vida humana sobre a Terra. Na medida em que faz com que
o animal se assemelhe a ele mesmo, o homem se conforta na sensação de
que estaria domesticando esse outro que lhe é desconhecido.
Se os animais representam o homem, seus estados de espírito, sua
coragem, seus subterfúgios, sua ferocidade e irracionalidade, ao mesmo
tempo são instrumentos para a confirmação do homem em sua humani-
dade por meio da exclusão. O humanismo, na medida em que fortalece
a fronteira entre o humano e o animal, ameaça a possibilidade de algo
visceral e comum entre coabitantes do mesmo planeta.
2 Comunidades
77
Heloisa Helena Siqueira Correia e Laíssa Pereira de Almeida (Orgs)
contram, a não ser em raros momentos; que os animais ainda são as coi-
sas dos homens, objetos manipulados, destruídos, descartados, embora
também se possa perceber que a convivência entre os animais humanos
e não-humanos e o cuidado que se lhe dedica tem aumentado em muitos
países nos últimos anos.
O que se percebe na atualidade, segundo Florencia Garramuño
(2011) e Domique Lestel (2011), respectivamente, é a “descrição de uma
região comum e compartilhada” por animais humanos e não humanos, e
o aparecimento de “comunidades híbridas” em que compartilham “sen-
tidos e interesses”. Segundo Garramuño, vários textos contemporâneos:
78
Amazônias inscritas em letras e beiras
e personagem barata, em suas palavras: “Era isso – era isso então. É que
eu olhava a barata viva e nela descobria a identidade de minha vida mais
profunda. Em derrocada difícil, abriam-se dentro de mim passagens du-
ras e estreitas” (LISPECTOR, 1998, p. 57). É conhecido o processo de
epifanias contíguas da personagem narradora ao longo do romance. E
o ponto alto estaria na descoberta de que a massa branca da barata é
também a massa da vida, essa que está em todos nós, que há em tudo que
existe. Também o encontro, no conto O búfalo (2009, p. 126-135), da per-
sonagem com o animal, resultado de uma procura da personagem pelo
ódio ao longo do jardim zoológico, é intenso: “Lá estavam o búfalo e a
mulher, frente a frente. Ela não olhou a cara, nem a boca, nem os cornos.
Olhou seus olhos. E os olhos do búfalo, os olhos olharam seus olhos. E
uma palidez tão funda foi trocada que a mulher se entorpeceu dormen-
te.” (LISPECTOR, 2009, p. 135). O ódio que, desesperadamente procura
no jardim zoológico, leva a personagem ao encontro insuspeitado com
um ódio calmo. Ainda nas palavras do narrador: “O búfalo calmo. Len-
tamente a mulher meneava a cabeça, espantada com o ódio com que o
búfalo, tranquilo de ódio, a olhava.” (LISPECTOR, 2009, p. 135).
O filósofo Jacques Derrida comenta sobre os escritores que, diver-
samente dos que foram aqui retomados, veem o animal, sim, mas pas-
sam por alto o fato de serem vistos também. Trata-se de uma situação
anterior à configuração de uma ou várias perspectivas. Ele se refere aos
escritores que veem e os que não veem (ou não querem ver). Retomando
suas considerações lemos:
79
Heloisa Helena Siqueira Correia e Laíssa Pereira de Almeida (Orgs)
[...]
Toda a expressão deles mora nos olhos - e perde-se
a um simples baixar de cílios, a uma sombra.
Nada nos pelos, nos extremos de inconcebível fragilidade,
e como neles há pouca montanha,
80
Amazônias inscritas em letras e beiras
3 Outridades
81
Heloisa Helena Siqueira Correia e Laíssa Pereira de Almeida (Orgs)
82
Amazônias inscritas em letras e beiras
83
Heloisa Helena Siqueira Correia e Laíssa Pereira de Almeida (Orgs)
Referências
DERRIDA, Jacques. O animal que logo sou. Tradução Fábio Landa. São
Paulo: Editora UNESP, 2002.
84
Amazônias inscritas em letras e beiras
______. Meu tio o Iauaretê. In: ______. Estas Estórias. 5. ed. Rio de Ja-
neiro: Nova Fronteira, 2001a. p. 191-235.
85
Heloisa Helena Siqueira Correia e Laíssa Pereira de Almeida (Orgs)
86