Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
(Organizadoras)
A produção literária de
Rogério Andrade Barbosa
da temática africana e
afro-brasileira a outros temas
1º Edição
Tubarão – 2018
www.graficacopiart.com.br
copiart@graficacopiart.com.br
Tel.: 48 3626.4481
ISBN: 978-85-8388-102-5
Inclui referências
Um retrato do folclore..............................................................153
Viviane de Carvalho
Irmãos Zulus..................................................................................165
Aline Effting
O anel de Tutancâmon.............................................................169
Arlyse Silva Ditter
Em busca da felicidade..............................................................185
Tatiana Valentin Mina Bernardes
A esperteza do saltão..................................................................191
Waleska Regina Becker Coelho de Franceschi
Um sonho de liberdade.............................................................193
Waleska Regina Becker Coelho de Franceschi
Para conhecer a poesia na áfrica.......................................195
Maria Laura Pozzobon Spengler
Outros Temas
O menino revolucionário.......................................................202
Elika da Silva
Um misterioso carnaval..........................................................204
Cristina Cardoso Rodrigues
Clonagens e tradição................................................................209
Marinaldo de Silva e Silva
O primeiro amor..........................................................................213
Luana de Araújo Carvalho
Eliane Debus1
Tatiana Valentin Mina Bernardes2
Rosilene Koscianski da Silveira3
Arlete de Costa Pereira4
1
Doutora em Letras – Professora UFSC
2
Mestranda em Educação – PPGE-UFSC
3
Doutora em Educação – PPGE-UFSC
4
Doutoranda em Educação – PPGE-UFSC
A presente publicação resulta de uma pesquisa sobre
a produção literária para infância e juventude do escritor
carioca Rogério Andrade Barbosa, realizada pelos membros
do Grupo de Pesquisa em Literatura Infantil e Juvenil e
Práticas de Mediação Literária (Literalise), do Centro de
Ciências da Educação (CED), da Universidade Federal de
Santa Catarina (UFSC) durante o período de 2015 a 2017.
A pesquisa objetivou o mapeamento, a leitura e a resenha
do conjunto da obra do escritor cuja ênfase recai sobre a
temática africana e a afro-brasileira.
Os primeiros livros de Rogério Andrade Barbosa
A produção literária de Rogério Andrade Barbosa
Apresentação
Gotlib (1994). Estaria nesses grupos emergentes a literatura
15
feita por mulheres, a literatura popular (oral e de cordel), a
literatura africana e a literatura infanto-juvenil.
Essa constatação acentuou-se nos últimos anos e,
no caso específico de nosso estudo, podemos dizer que
a literatura infantil e a temática africana entrelaçam-se e
tornam-se uma tendência na escrita dos livros e nos estudos
e pesquisas sobre eles. E, por certo, a Lei n. 10.639 contribui
para essa disseminação, quando exige a obrigatoriedade
do ensino da cultura africana e afro-brasileira nas escolas.
A lei ainda destaca, no artigo 26-A, parágrafo primeiro, que
o conteúdo programático incluirá o “[...] estudo da História
da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a
cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade
nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas
áreas social, econômica e política pertinente à História
do Brasil” (BRASIL, 2003) e no artigo 26-A, parágrafo
segundo, que esse conteúdo deverá ser trabalhado “[...] em
especial nas áreas de Educação Artística e de Literatura
e História Brasileira.” (BRASIL, 2003). Posteriormente, a
Lei n. 11.645, de 10 de março de 2008, vem reafirmar
a obrigatoriedade do estudo da história e cultura afro-
brasileira nos currículos dos ensinos fundamental e médio
e inclui as mesmas orientações para a temática indígena.
Em 2004, o Conselho Nacional de Educação (CNE)
instituiu as Diretrizes Curriculares Nacionais para a
Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de
História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, que devem
ser observadas pelas instituições de ensino que atuam nos
A produção literária de Rogério Andrade Barbosa
Apresentação
de participação social; 5) avaliação e monitoramento; e
17
6) condições institucionais. Também destaca as atribuições
e responsabilidades entre os diferentes atores da educação
brasileira, desde o Governo Federal, Estadual, Municipal
até os conselhos e fóruns. Orienta um conjunto de ações
específicas a cada nível de ensino ou modalidade, no
sentido de garantir e efetivação das legislações que tratam
da temática.
No âmbito das produções acadêmicas, destacam-se
no cenário atual vários estudos e pesquisas, principalmente
nas áreas de Letras e Educação, que buscam refletir e
problematizar as narrativas que trazem como temática a
cultura africana e afro-brasileira. Segundo Debus (2007),
podemos destacar o artigo de cunho historiográfico de
Gouvêa (2005), com análise sobre as representações
sociais do negro na literatura de recepção infantil no Brasil,
nos 30 primeiros anos do século XX. Diante do mito da
democracia racial e da visão etnocêntrica, os personagens
são marcados pelo desejo de embranquecimento. Abarca
ainda os estudos de Sousa (2003), voltados aos títulos
produzidos em meados da década de 1980, marcados por
representações afirmativas da identidade negra. E, ainda,
a pesquisa de Oliveira (2003), que dedicou os estudos
sobre as personagens negras na literatura infanto-juvenil
brasileira nas publicações entre 1979 e 1989 e evidenciou
três aspectos: a denúncia sobre a situação social, a denúncia
da existência do preconceito racial e a descrição da beleza
“marrom” e “pretinha” dos protagonistas com a intenção
de propagar o mito da democracia racial, segundo a autora.
A produção literária de Rogério Andrade Barbosa
Apresentação
Conforme enunciamos, o trabalho de pesquisa e
19
produção desta publicação foi realizado pelos membros
do Grupo Literalise, entre 2015 e 2017. Nessa trajetória,
uma das oportunidades mais relevantes consubstanciou-
se no encontro entre o autor e o grupo, um espaço-tempo
privilegiado de formação que, por sua vez, possibilitou
uma entrevista, oficinas de contação de história e o
compartilhamento de suas viagens e vivências.
Os membros do grupo dedicaram-se a analisar os
títulos do escritor, tarefa que se iniciou com o levantamento
de sua produção literária para, em seguida, realizar uma
busca em bibliotecas públicas e privadas. Os livros não
localizados nesses espaços foram adquiridos, contemplando
todos os 85 títulos do autor. De posse do acervo, realizamos
a distribuição dos livros entre os membros do grupo, para a
realização da leitura, análise e elaboração das resenhas. Na
ocasião, também foram planejados os critérios de análise
para resenhar os livros, considerando-se as contribuições
que os títulos proporcionam à formação literária do leitor,
as abordagens presentes nas narrativas, a valorização e o
respeito acerca das diferenças entre as pessoas e grupos
culturais, e a diversidade étnico-racial, social e cultural
presentes nas sociedades. Procedemos à leitura, apreciação
e à resenha dos títulos organizando o material em duas
partes diferenciadas: a primeira parte reúne “Os livros
de temática africana e afro-brasileira para a infância”; e
a segunda parte reúne resenhas relacionadas a “Outros
temas”. Antes de apresentar os dois capítulos, trazemos
ao público a resenha de La-Le-Li-Lo – Luta: um professor
A produção literária de Rogério Andrade Barbosa
Referências
BRASIL. Presidência da República. Parecer CNE/CEB
n. 07/2010, que define as Diretrizes Curriculares Nacionais
Gerais para Educação Básica. Disponível em: <http://portal.
mec.gov.br/dmdocuments/rceb007_10.pdf>. Acesso em:
4 out. 2007.
______. Ministério da Educação. Plano Nacional de
Implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais
para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para
o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e
Apresentação
Africana. Brasília: MEC/SECAD/SEPPIR, 2009. Disponível
21
em: <http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_
docman&view=download&alias=10098-diretrizes-
curriculares&Itemid=30192>. Acesso em: 8 dez. 2017.
______. Presidência da República. Lei Federal n. 11.645, de 10
de março de 2008, que altera a Lei n. 9.394, de 20 de dezembro
de 1996, modificada pela Lei n. 10.639, de 9 de janeiro
de 2003, que estabelece as diretrizes e bases da educação
nacional, para incluir no currículo oficial da rede de ensino a
obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira
e Indígena”. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11645.htm>. Acesso em:
4 out. 2017.
______. Presidência da República. Parecer CNE n. 02/2007,
quanto à abrangência das Diretrizes Curriculares Nacionais
para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino
de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana. Disponível em:
<http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/pceb002_07.pdf>.
Acesso em: 4 out. 2017.
______. Ministério da Educação. Diretrizes Curriculares
Nacionais para a Educação das Relações Étnico-raciais
e para o Ensino de História e Cultura Afro-brasileira e
Africana. Brasília: MEC/Secad, 2004. Disponível em: <http://
www.acaoeducativa.org.br/fdh/wp-content/uploads/2012/10/
DCN-s-Educacao-das-Relacoes-Etnico-Raciais.pdf>. Acesso
em: 29 set. 2017.
______. Ministério da Educação. Parecer homologado. Parecer
CNE/CP n. 003/2004 e Resolução n. 01/2004, que instituem
A produção literária de Rogério Andrade Barbosa
Apresentação
Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo.
23
Um professor
brasileiro na
Guiné-Bissau: entre o
ensinar e o aprender
Chirley Domingues5
Eliane Debus6
5
Doutora em Educação – PPGE-UFSC
6
Doutora em Letras – Professora UFSC
voluntários, sua relação com o espaço e tempo daquele
país, que se reconstruía após um longo período, em que os
direitos e as lutas pela independência foram violentados.
Com pouco conhecimento sobre o país, o jovem
recém-formado partiu com a certeza de que viveria uma
experiência “[...] enriquecedora em termos existenciais,
políticos e profissionais” (BARBOSA, 1984, p. 13). Tal
certeza se confirmou já nos primeiros meses, quando
Rogério deparou-se com uma nação que ainda se
organizava após anos de uma árdua e resistente luta pela
independência, conquista que deixou para o povo uma
A produção literária de Rogério Andrade Barbosa
Referência
BARBOSA, Rogério Andrade. La-Le-Li-Lo-Luta: um
27
professor brasileiro na Guiné-Bissau. Rio de Janeiro: Achiamé,
1984.
Entrevista com
Rogério Andrade
Barbosa7
Eliane Debus8
Tatiana Valentin Mina Bernardes9
7
Entrevista publicada em Abiodum. Vol. 9, n. 1, 2017.
8
Doutora em Letras – Professora UFSC
9
Mestranda em Educação – PPGE – UFSC
Eliane e Tatiana: Você foi voluntário das Nações Unida
em Guiné-Bissau na década de 1980. Essa experiência
favoreceu a sua produção escrita? Como?
31
Em sua opinião, como a literatura pode colaborar para a
formação leitora crítica e antirracista?
33
Os livros de
temática africana
e afro-brasileira
para a infância
e juventude
Bichos da áfrica:
vovô Ussumane
e suas histórias
Fernanda Gonçalves10
10
Doutoranda em Educação – PPGE – UFSC
intituladas: “A Mosca Trapalhona” e “A Tartaruga e o
Leopardo”. Nelas, os animais assumem centralidade nos
papéis, comparados a defeitos e virtudes humanas, o que
é próprio do gênero, que se define justamente como uma
narrativa curta cujos protagonistas costumam ser animais,
apresentando uma moral e ensinamentos (VALE, 2001).
O título conta ainda com as ilustrações de Ciça Fittipaldi,
que colorem as histórias com traços bastante peculiares,
ligados à cultura africana.
A primeira fábula intitulada “A Mosca Trapalhona”
narra a história de uma mosca que, com boa intenção,
A produção literária de Rogério Andrade Barbosa
39
vovô Ussumane e envolver-se no mundo fantástico das
serpentes, dos macacos, leões e de tantos outros animais.
Referências
BARBOSA, Rogério Andrade. Bichos da África: lendas
e fábulas. Ilustrações de Ciça Fittipaldi. São Paulo:
Melhoramentos, 2001.
BENJAMIN, Walter. Magia e técnica, arte e política: ensaios
sobre a literatura e história da cultural. Tradução de Sérgio
Paulo Rouanet. São Paulo: Brasiliense, 2012. (Obras
escolhidas, v. I).
VALE, Luiza Vilma Pires. Narrativas infantis. In: SARAIVA,
Juracy Assmann (Org.). Literatura e alfabetização: do plano
do choro ao plano da ação. Porto Alegre: Artmed, 2001.
A produção literária de Rogério Andrade Barbosa
40
Os animais da áfrica:
histórias contadas
por um griot
Fernanda Gonçalves11
11
Doutoranda em Educação – PPGE-UFSC
Na primeira fábula, chamada “A moça e a serpente”,
vovô Ussumane contou sobre o caso de uma jovem moça,
que desafiou os antigos costumes e casou-se com um
rapaz, que ela mesma escolheu e não o seu pai. Contudo,
esse rapaz era, na verdade, uma serpente, que ouviu a
jovem conversar com suas amigas sobre seu desejo de
casar-se somente com alguém do seu gosto. Então, a
serpente transformou-se em humano para enganá-la.
Os dois se casaram, mas a moça era infeliz, pois passava
o dia trancada, limpando a habitação do esposo. Ela tinha
quatro irmãos, um deles era adivinho, e pressentiu o
A produção literária de Rogério Andrade Barbosa
43
Bichos da África 3:
a história dos cães
e da tartaruga
Fernanda Gonçalves12
12
Doutoranda em Educação – PPGE-UFSC
mas seu rival negou. Com raiva, o todo poderoso pediu
que um de seus servos levasse um recado para o seu
adversário, ele declararia guerra contra ele. O mensageiro
teve que se preparar como de costume: foi perfumado
com a melhor das fragrâncias, sobretudo em sua cauda.
Contudo, o cheiro era tão agradável, que o mensageiro
resolveu procurar uma esposa para si, deixando de
entregar o recado. Por esse motivo, os cães cheiram
uns aos outros até os dias atuais, é para encontrar o
mensageiro perdido.
No segundo conto, chamado “O julgamento da
45
tantas delícias que avistou. A tartaruga, sem sair do buraco,
engrossou a voz e gritou bem alto um alerta, avisando que
o caçador estava chegando. Os animais ouviram a voz e
fugiram todos. A velha tartaruga aproveitou o momento e
escolheu tudo o que quis. Ela repetiu isso diversas vezes,
até que os animais, desconfiados, formaram uma comissão
e foram queixar-se com o leão. Ficou combinado, então,
que o macaco vigiaria a feira. Foi quando a bicharada
descobriu o truque da tartaruga e ela foi a julgamento,
mas começou a tocar uma canção tão linda, que deixou
o leão encantado. A majestade pediu à anciã que fizesse
um instrumento como aquele e a sabichona disse ao
leão que precisaria das tripas de um macaco para poder
fazer. O macaco que ouviu tudo fugiu para bem longe
e a tartaruga não pôde ser condenada, pois sua única
testemunha havia fugido.
Finalista Prêmio Jabuti (texto) – 1988
Prêmio Jabuti (melhor ilustração) – 1988
Altamente recomendável – crianças – FNLIJ – 1988
White Ravens (acervo da Biblioteca Infantil de
Munique)
Traduzido para o inglês, espanhol e alemão.
Referência
BARBOSA, Rogério Andrade. Bichos da África: lendas
e fábulas. Ilustrações de Ciça Fittipaldi. São Paulo:
A produção literária de Rogério Andrade Barbosa
Melhoramentos, 2001.
46
Bichos da áfrica 4:
mais histórias
de um griot
Fernanda Gonçalves13
13
Doutoranda em Educação – PPGE-UFSC
mais quente. No dia seguinte, todos da aldeia aguardavam
desde cedo para acompanhar o grande desafio. O rei
perguntou aos dois participantes qual deles gostaria de ser
o primeiro; o jabuti prontamente se candidatou, deixando
o chacal aliviado, já que ele estava muito nervoso. O jabuti
pegou o recipiente com muito cuidado e, para provar a sua
bravura, mostrou a papa para todos que estavam presentes,
um a um. Quando terminou de mostrar, a comida já estava
morna e ele conseguiu tomar tudo sem dificuldades.
O rival estava tão trêmulo que, na sua vez, deixou o pote
cair, queimando seus pés. Ele não suportou a dor e saiu
A produção literária de Rogério Andrade Barbosa
49
na embarcação, que afundou. Eles estavam próximos à
margem e, por sorte, conseguiram salvar-se, mas é por esse
motivo que o gato e o rato não se dão bem até hoje.
Referência
BARBOSA, Rogério Andrade. Bichos da África: lendas
e fábulas. Ilustrações de Ciça Fittipaldi. São Paulo:
Melhoramentos, 2001.
Aventuras de Askar e
Mayran no deserto
14
Doutoranda em Educação – PPGE-UFSC
avermelhados e seus dentes cresceram como presas, de
roer ossos humanos. Todos temiam Duula e evitavam
passar por aquela região. Até que um dia uma família de
pastores desavisados acampou ali para passar a noite. Askar
e Mayran, seus dois filhos, saíram em busca de lenhas
e gravetos para a fogueira, mas perderam-se no deserto.
Cansados, tiveram que parar, dormir e, no dia seguinte,
seguiram à procura do caminho de casa, mas encontraram
três cabanas, uma delas com marcas de sangue, a segunda
com dez jarros de barro na parede e a terceira estava Duula,
que os deixou imobilizados de medo.
51
João e Maria. As crianças foram obrigadas a realizar os
trabalhos domésticos até que um dia elas conseguiram
enganar Duula e fugir; foram perseguidas, mas uma
tempestade de areia encheu os olhos da mulher-canibal
e, sem conseguir enxergar, ela não teve como detê-los.
Askar e Mayran correram até chegar à praia, onde pediram
ajuda ao majestoso e poderoso mar, que, com pena das
crianças, abriu um leito repleto de algas e conchas para
que elas pudessem descansar. O mar orientou para que
elas tivessem cuidado e não sujassem o caminho. Duula
também chegou e pediu ajuda ao mar, mas ignorou as
recomendações dele, deixando um rastro de lixo para trás.
O mar, enfurecido, fechou suas ondas e a mulher-canibal
afogou-se nelas e foi devorada por tubarões famintos. Askar
e Mayran reencontraram seus pais, as chuvas voltaram a
cair e os pastores regressaram às suas terras.
Altamente recomendável – crianças – FNLIJ – 2000
Catálogo da Feira de Bolonha – 2001
Lista de Honra do IBBY, Suíça – 2002
White Ravens – Acervo da Biblioteca Infantil de
Munique – 2001
Referência
BARBOSA, Rogério Andrade. Duula a mulher canibal – Um
conto africano. Ilustrações de Graça Lima. São Paulo: DCL,
A produção literária de Rogério Andrade Barbosa
1999.
52
Brincadeiras de
diferentes lugares
15
Doutoranda em Educação – PPGE-UFSC
descobrindo muitas brincadeiras interessantes, algumas
novas e outras já conhecidas, mas com nomes diferentes.
Na África do Sul, uma das brincadeiras apreciadas pelas
crianças é a Mamba, “[...] nome de uma cobra venenosa,
de corpo comprido e muito veloz”. (BARBOSA, 2011,
p. 4). É a brincadeira da serpente, que vai pegando cada
uma das crianças e formando uma longa cauda. Na
República Democrática do Congo, tem uma brincadeira
que se parece muito com a do gato e rato, mas lá se chama
kameshi ne mpuku. Já as crianças da Nigéria, reunidas em
grupos, brincam de ambutan, em que, sentadas no chão, elas
A produção literária de Rogério Andrade Barbosa
Referência
BARBOSA, Rogério Andrade. Ndule Ndule: assim brincam
as crianças africanas. Ilustrações de Edu Engel. São Paulo:
Melhoramentos, 2011.
55
Para conhecer a lenda
da Serpente Píton
16
Professora de Educação Infantil da Prefeitura de Florianópolis – PMF/SC
buscar água, como era de costume na região. Contudo, a
garota era considerada um tanto preguiçosa e, certo dia, ao
demorar para levantar, atrasou-se para uma saída com as
amigas, ficando para traz.
As moças tinham como costume exibir muitas
tatuagens sob a pele, isso as tornava mais atraentes
perante os jovens da aldeia. O maior desejo de Duany era
ter a tatuagem mais bonita que alguém já vira e, assim,
conseguir um bom pretendente para casar.
Naquele dia, as amigas saíram em direção a uma
encruzilhada distante da aldeia, onde se encontrava,
57
para a sua toca, repetindo a sentença nyndo nyamin tho, que
significa “o sono é o irmão da morte”.
Duany foi, então, enganada pela serpente, que se
enroscou em seu corpo e tatuou as marcas de suas escamas
na pele da garota. As marcas eram a tatuagem mais linda
já vista, contudo, a jovem passou a ser submissa à serpente
e, quando a píton a chamava, Duany precisava voltar e
trabalhar para ela.
Na aldeia, todos admiraram as tatuagens no corpo
negro e esguio da garota, mas ela, triste, não podia contar
a ninguém seu segredo, caso contrário, morreria. A jovem
arrependida passou a fazer todos os trabalhos domésticos
com grande dedicação.
Rumbe, um dos rapazes mais fortes da região,
pensava em casar-se com a moça que tivesse a mais bela
tatuagem no corpo, mas, como todos os outros membros
da aldeia, queria saber como Duany conseguira aquela
tatuagem. A moça resolveu fazer um pedido aos rapazes,
que construíssem uma cabana bem resistente em torno
dela, sem qualquer abertura e, então, revelou seu segredo.
A enorme serpente píton, zangada com a traição,
veio atrás da garota para matá-la. O povo da aldeia fugiu
e apenas Rumbe ficou para guerrear com a malvada,
conseguindo derrotá-la. Duany, agora livre da maldição,
casou-se com Rumbe logo após os festejos celebrados no
final da colheita.
A narrativa, cheia de emoção e suspense, envolve o
leitor a conhecer o conto e compreender os ensinamentos
A produção literária de Rogério Andrade Barbosa
Referência
BARBOSA, Rogério Andrade. A tatuagem – Reconto do povo
Luo. Ilustrações de Maurício Negro. São Paulo: Gaivota, 2012.
A tradição oral,
memórias de uma
história ancestral
17
Mestranda em Educação – PPGE-UFSC
países, remetendo-nos ao cotidiano, às tradições e
manifestações culturais que compõem suas histórias.
O paratexto escrito nas primeiras páginas do
livro pela autora Rita Chaves, professora de Literatura
Africana de Língua Portuguesa da Universidade de São
Paulo, apresenta os contos, as características próprias
e as semelhanças advindas da sabedoria transmitida
pela tradição oral, que vence o tempo e aproxima as
gerações. Além dessas semelhanças, ressalta a exploração
e discriminação sofrida por esses povos durante séculos.
No início de cada conto, estão introduzidos
A produção literária de Rogério Andrade Barbosa
61
escravista dos países e da exposição das características
geográficas, históricas e culturais das regiões.
Referência
BARBOSA, Rogério Andrade. O segredo das tranças e outras
histórias africanas. Ilustrações de Thaís Linhares. São Paulo:
Scipione, 2007.
Fuuuuuuu
shuiiiii, o segredo
da natureza
18
Mestranda em Educação – PPGE-UFSC
lenda do filho do vento, um menino solitário que não pode
ter a sua identidade revelada e o seu nome, “FUUUUUUU
SHUIIIII”, deve ser mantido em segredo e jamais ser
pronunciado. Mas, um dia, o filho do vento encontrou
Nakati, um menino de sua idade que decide desafiá-lo e
enfrentar o grande vendaval. E, assim, a aventura começa
e o leitor é convidado a percorrer as tradições e os costumes
dos povos bosquímanos.
Os bosquímanos são povos nômades, caçadores-
coletores e possuem uma história ancestral estimada
em dezenas de milhares de anos, conforme afirmam os
63
parte sul e banhada pelo Oceano Índico, na costa oriental,
e pelo Atlântico, na costa ocidental.
Os bosquímanos são excelentes contadores de
histórias, e as lendas, os provérbios e cantos são recheados
de poesia e integram elementos da natureza, como a lua,
as estrelas, o sol e o vento. As danças são utilizadas em
rituais e para diversão; as danças do fogo e do antílope são
as mais tradicionais.
Referência
BARBOSA, Rogério Andrade. O filho do vento. Ilustrações de
Graça Lima. 2. ed. São Paulo: DCL, 2013.
O gato amigo do
rato e o jabuti voador:
contos de Uganda
19
Mestre em Educação – PPGE-UFSC
assinalada dentro da literatura infanto-juvenil e folclórica,
além de outras categorias, estando o livro em sua quarta
edição; na terceira e quarta páginas, há uma nota do autor
introduzindo os contos com um pequeno resumo de cada
um e falando do trabalho dele acerca da coleta desses
contos. Rogério mostra ao leitor por onde ele passou e
apresenta semelhanças e diferenças entre os contos nas
diversas culturas.
O primeiro conto inicia na página cinco e é intitulado
“Amigos, mas não para sempre”. Traz a história da amizade
entre o gato e o rato, que, juntos, plantavam e armazenavam
65
O segundo conto inicia na página 16 e recebe o
título de “O jabuti de asas”. Nesse conto, o autor fala
que os jabutis eram sábios e prudentes, mas um jabuti,
assim que soube de uma festa que ocorreria no céu, quis
logo participar. Porém, ficou muito triste por não ter asas.
Dizem que os passarinhos todos emprestaram algumas de
suas penas e amarraram-nas às patas do jabuti, que voou.
A ganância do jabuti durante a festa rendeu a todos os
descendentes da espécie a herança de ter o casco rachado.
O livro, com páginas todas coloridas, destaca as
particularidades do lugar por onde o autor passou e
permite uma aproximação do leitor com uma história
conhecida por aqui, mas que é tratada com outros aspectos.
Um conto conhecido que surpreende com as inovações
apresentadas pelo autor na sua busca por novas/outras/
mesmas histórias. Percebe-se, no decorrer do conto, a
aproximação com a cultura africana e a proximidade com
lugares e fatos desse continente.
Referência
BARBOSA, Rogério Andrade. Contos africanos para crianças
brasileiras. Ilustrações de Maurício Veneza. São Paulo:
Paulinas, 2008.
A produção literária de Rogério Andrade Barbosa
66
Contos para
crianças brasileiras
20
Doutoranda em Educação – PPGE-UFSC
penas pretas), ficou indignada e resolveu correr horas e
horas atrás da nuvem, suplicando para que ela voltasse.
Nesse caminho, passou por muitos espinhos, rasgou suas
penas, sofreu dores. Por sua persistência, preocupação
com os outros e seu jeito respeitoso, a nuvem aceitou
regressar e ainda recompensou a galinha d’Angola com o
brilho das gotas de chuva em suas penas, fazendo dela uma
das aves mais bonitas da África. Em respeito à canseira da
galinha d’Angola, suas descendentes até hoje expressam
ao cacarejar: tô fraca, tô fraca, tô fraca...
O segundo conto traz a história do tamanho do
A produção literária de Rogério Andrade Barbosa
Referência
BARBOSA, Rogério Andrade. Outros contos africanos: para
crianças brasileiras. Ilustrações de Maurício Veneza. São Paulo:
Paulinas, 2006.
69
Kumbu e Buanga:
contos para além do
“Ao redor da fogueira”
21
Mestre em Educação – PPGE-UFOP
recém-nascido que, pela tradição africana, deveria ser
abandonado por ser o segundo dos gêmeos a nascer, pois
ter mais de um filho de uma mesma gestação era sinal de
desgraça. Porém, como em todo conto exotérico, apareceu
uma moça que, pelo fato de não conseguir ter filhos,
adotou o gêmeo abandonado. O menino cresceu e tornou-
se um grande homem que, no desenrolar da narrativa,
confrontará os costumes, tabus e as lendas locais.
O segundo conto, “Buanga, a noiva da chuva”, narra
mais um conto africano, mas, dessa vez, há uma menina
como protagonista. Essa história desenvolve-se assim: há
71
contexto, a história se desenrola.
Um conto de temática africana para deliciar-se e
refletir sobre nossas construções históricas, culturais e
sociais. Contos não só para contar ao redor da fogueira,
mas também em diversos momentos, como na leitura
antes de dormir, em uma sala de espera ou em uma viagem
a trabalho ou lazer.
Referência
BARBOSA, Rogério Andrade. Contos ao redor da fogueira.
Ilustrações de Rui Barbosa: Agir, 1990.
Descobrindo
o passado
22
Mestre em Educação – PPGE – UFSC
Barbosa nos apresenta um desses homens que tinha
duas mulheres. Uma que estava em sua quarta gravidez e
outra que não conseguia engravidar. Em meio a rituais e
costumes revelados no decorrer do enredo, a mulher dá à
luz dois meninos. Por inveja, um crime é cometido e uma
injustiça efetiva-se. Dois bebês são colocados num tambor
e jogados no rio. Uma mãe é expulsa de casa e condenada
a cuidar dos burros até sua morte.
Mas os dois bebês foram tirados do rio, cresceram
num outro povoado e tornaram-se bravos guerreiros.
Os meninos eram conhecidos como gêmeos do tambor,
73
pedaço da família que estavam buscando.
No decorrer do reconto, o autor consegue introduzir
falas e hábitos da cultura massai sem perder o foco do que
está contando. Ele prende-nos com a história e agracia-nos
com o conhecimento. Traz adivinhas, lendas e superstições
que se entrelaçam e compõem o vasto repertório da
literatura oral desse povo. As ilustrações realçam a cor e a
cultura dos massai e revelam costumes, paisagens, hábitos,
adornos, vestimentas e animais do continente africano.
Referência
BARBOSA, Rogério Andrade. Os gêmeos do tambor.
Ilustrações de Ciça Fittipaldi. São Paulo: DCL, 2006.
Guiados pela
serpente
23
Mestrando em Educação – PPGE – UFSC
pitu com dez metros de comprimento que, além de viver
isolada numa caverna num eterno sono, tem poderes
curandeiros e milagrosos, que podem ser acessados por
meio de um canto mágico que a desperta. E aí é que entra
o ponto crucial dessa bela lenda: ela fala de coragem!
A história permeia a grave doença que está
acometendo o chefe de uma tribo local, um ancião “[...]
tão velho como uma árvore centenária” (BARBOSA, 2006,
p. 10) que, à beira da morte, clama ao seu povo para irem
até às montanhas despertar nyangara, pois ela e somente
ela é que poderá livrá-lo da morte.
75
com a descoberta de como os animais que conhecemos
são nomeados no Zimbábue.
Por fim, o leitor descobrirá que a criança é que
realmente tem o poder de mudar as coisas, que só ela pode
enfrentar o absurdo, que só ela é superior.
Referência
BARBOSA, Rogério Andrade. Nyangara Chena: a cobra
curandeira. Ilustrações de Salmo Dansa. São Paulo: Scipione,
2006.
Lendas e fábulas
narradas em Luanda
Fernanda Gonçalves24
24
Doutoranda em Educação – PPGE-UFSC
Dikish, para que ele lhe ajudasse a carregar os potes de
água. O tratado era de que a jovem desse seu filho a Dikish
com sete anos de idade. A criança, Domikalinga, nome que
intitula o conto, foi levada por Dikish como prometido
pela mãe, contudo, uma senhora que o encontrou no
caminho ensinou-lhe uma forma de fugir do mostro. Era
preciso arrancar um pano vermelho do teto da habitação
de Dikish. Assim ele fez, libertando-se do monstro, que
desapareceu na escuridão.
O segundo conto, “O grande desafio”, narra
a história de um senhor dono de muitas terras, que
77
Todos eles falharam devido ao excesso de confiança ou
exibicionismo, menos o cágado, que conseguiu vencer o
desafio graças à sua calma e paciência.
Por fim, a terceira narrativa intitulada “O leão, a
ovelha e o macaco” conta a história de um leão que usava
diversas artimanhas para enganar seus amigos. Primeiro,
ele enganou a ovelha, que acabou levando a culpa por
matar todos os bichos que estavam na festa chamada
quizomba. No ano seguinte, o leão tentou fazer o mesmo
com o macaco, que foi mais esperto e fez com que o leão
levasse toda a culpa de seus atos.
Nas narrativas, os animais adquirem centralidade
nos papéis, o que é próprio das fábulas, que são textos em
que os personagens assumem características comparadas
às virtudes e aos defeitos humanos, com cunho educativo
e cujo enredo busca um discurso sobre a moral, ligado à
realidade social (VALE, 2001). A obra conta com paratextos,
que situam o leitor acerca da sua conjuntura. Nas páginas
iniciais, encontra-se uma breve apresentação que explicita
alguns detalhes do livro e da sua elaboração. Já nas páginas
finais é possível encontrar informações sobre os autores
Rogério Andrade Barbosa e Jô Oliveira cuja obra assinam
em parceria.
Referências
BARBOSA, Rogério Andrade. Histórias que nos contaram
em Luanda. Ilustrações de Jô Oliveira. São Paulo: FTD, 2009.
A produção literária de Rogério Andrade Barbosa
25
Graduada em Pedagogia – UFSC
de sua família, da sua tradição, de seus costumes e sua
cultura. As belas ilustrações de Renato Alarcão remetem-
nos às cores vibrantes e calorosas da África e enriquecem
ainda mais a narrativa.
Ao lermos a história, podemos reconhecer a luta de
um homem negro em busca pelo direito de liberdade do
povo africano, o que lhe ocasionou 27 anos de prisão.
Mandela não está mais presente entre nós, mas esse
título colabora para mantermos sua história presente na
memória das gerações futuras.
A produção literária de Rogério Andrade Barbosa
Referência
BARBOSA, Rogério Andrade. Madiba, o menino africano.
Ilustrações de Renato Alarcão. São Paulo: Cortez, 2011.
80
Memórias da
Vila do Curiaú
26
Mestranda em Educação – PPGE – UFSC
ao Brasil na condição de escravizados, para garantir a
manutenção das suas identidades, a memória de suas
tradições e a preservação de elementos culturas, aliaram às
suas festividades aspectos da cultura europeia, em especial
os religiosos.
No livro Rio acima Mar abaixo, as tradições populares,
que acontecem durante a festa de mar abaixo, são narradas
pelo personagem Julião, o preto velho de um antigo
quilombo, a um grupo de crianças da Vila do Curiaú.
Julião apresenta às crianças histórias sobre o quilombo,
os negros escravizados, o surgimento da lua, a origem
A produção literária de Rogério Andrade Barbosa
Referência
BARBOSA, Rogério Andrade. Rio acima Mar abaixo.
Ilustrações de Nelson Cruz. São Paulo: Melhoramentos, 2010.
Viajando por
Galápolis
27
Mestre em Educação – PPGE – UFOP
ilustrador da obra, que alimenta a imaginação do leitor.
A capa do livro é marcada pela ilustração com animais,
pincéis e, no fundo, uma carta cartográfica. Nesse momento,
o leitor já pressupõe que o livro tratará de uma viagem.
Na parte superior, há o registro “Narrativa ficcional”.
Ao virar a página, encontramos a mesma ave da capa
banhada pela página vermelha, e na página seguinte há os
pincéis (que também estavam na capa).
A narrativa ficcional inicia com o subtítulo “O moço
que veio de longe”, contando a chegada do viajante às
terras brasileiras, mais especificamente à cidade do Rio de
A produção literária de Rogério Andrade Barbosa
africana.
“Descoberta” é o segundo subtítulo do livro que
relata descobertas feitas pelas florestas da cidade e
apresenta a reprodução de espécies encontradas durante
a caminhada por meio de desenhos. Durante os trajetos,
dentre os nativos que acompanhavam, estava Beto, um
jovem negro que revela sua habilidade em desenhar. Em
seguida, na seção “o pequeno desenhista”, Beto, escravo
que fugiu do seu sinhô, revela para Darwin a sua história,
que se prolonga na seção denominada “livre”, parte do
livro em que Darwin negocia a alforria do escravo fugitivo.
O moleque, durante a viagem, aperfeiçoou a técnica do
desenho, assim como aprendeu a língua predominante no
navio, a inglesa.
Em “Nas asas do vento”, Rogério narra por onde
Beagle (nome do navio) passou. São terras que Beto
e os demais tripulantes conheceram e desbravaram,
como Chile e Nova Zelândia. As ilustrações aguçam a
imaginação do leitor, que se depara, em seguida, com as
“Histórias de marinheiro”, que é como Beto e nós, leitores,
associamos as histórias (com gotas a mais de imaginação),
que deixam os ouvintes atentos, com receios e dúvidas,
como a caraterização de personagens como “Gigantes do
tamanho de uma árvore, de força descomunal, capazes de
carregar um navio nas costas” (BARBOSA, 2013, p. 27),
assim como “[...] pigmeus de orelhas longas, tão compridas
que se arrastavam pelo chão [...] usavam uma das orelhas
como cama e se cobriam com a outra para se proteger do
85
Beagle. O jovem se tornou estudante de Belas Artes na
Europa, e Darwin publicou o livro A origem das espécies.
A narrativa ainda tem paratextos informativos como
a biografia de Charles Darwin enfatizando a importância
que a viagem no Beagle, fato real, teve para a carreira
dele; o desenho da estrutura interna e externa do navio,
demarcando as peculiaridades; o percurso da viagem do
navio; um breve relato da viagem do Rogério Barbosa a
Galápago e a bibliografia consultada pelo autor para
escrever seu livro.
28
Mestre em Educação – PPGE – UFOP
Abaixo dos pássaros, encontramos algo semelhante (e que
remete) a uma pedra. No decorrer da leitura do conto oral
(agora transcrito), compreenderemos a escolha e o motivo
pelo qual o ilustrador desenhou os diferentes pássaros
nas diferentes posições em cima de uma pedra. Na página
seguinte, encontramos um pássaro, até então, diferente
das demais aves apresentadas na capa, que transmite uma
ideia de mistura de todos os apresentados anteriormente.
Antes de iniciar o conto, há o seguinte provérbio africano:
“Entre todos os seres da natureza, os pássaros são os mais
maravilhosos, pois podem voar” (BARBOSA, 2006).
A produção literária de Rogério Andrade Barbosa
Referência
BARBOSA, Rogério Andrade. O senhor dos pássaros.
Ilustrações de Salmo Dansa. São Paulo: Melhoramentos, 2006.
89
O passeio no Parque
Nacional de Tsavo
29
Mestranda em Educação – PPGE – UFSC
babuínos. No fim da divertida manhã, agradeceram ao pai
dizendo: Asante sana, baba, que significa “obrigado, papai’’.
No fim de semana, os pais foram convidados para
ir à escola. Na entrada, havia um painel com desenhos
de muitos bichos e os nomes dos países da África em
que vivem. O diretor parabenizou o trabalho realizado e
enfatizou a diversidade do continente africano, rico em
história, literatura, arte, dança, geografia, entre outros
aspectos.
Penso que a narrativa é encantadora para crianças de
todas as idades e apresenta não só a diversidade de animais
91
livro e abrilhantam a história.
Referência
BARBOSA, Rogério Andrade. Jambo! Uma manhã com
os bichos da África. Ilustrações de Edu Engel. São Paulo:
Melhoramentos, 2011.
Três adivinhas,
pra além do
“o que é o que é”
30
Mestre em Educação – PPGE – UFSC
o leitor a adivinhar o que acontece nas histórias do povo
hauçá, da Nigéria.
O primeiro conto, “Os três gravetos”, inicia na página
quatro e diz que um monarca chamou o adivinho da
corte para saber quem havia roubado o anel que ele dera
à filha. Com três gravetos dados aos guardas suspeitos,
o monarca avisou que “[...] o ladrão será aquele cujo
graveto tiver crescido, até o cantar do galo, dois dedos
de cumprimento” (BARBOSA, 2009, p. 6). O adivinho
apontou o culpado e a joia foi encontrada. Na página
nove, o autor faz a pergunta ao leitor para adivinhar o
93
e ele só poderia levar uma mercadoria de cada vez, mas o
camponês não queria perder nenhuma. Na página 15, o
autor pede uma solução ao leitor e avisa que, ao virar a
página, ele encontrará a resposta. Na página seguinte está
a resposta, apoiada num ditado africano.
O terceiro conto, “As três moedas de ouro”, tem seu
começo na página 18 e retrata a história de um mercador
que teve três moedas de ouro roubadas numa pousada.
O dono da pousada descobriu o ladrão com a ajuda de
um frasco de perfume e um burro. Ele disse que o burro
zurraria ao ser tocado pelo ladrão, mas o burro ficou
calado. E o dono descobriu o ladrão. O leitor é convidado,
na página 23, a adivinhar o truque usado pelo dono da
pousada. Na página seguinte, o autor conta com detalhes
o que aconteceu.
O livro, como os outros da mesma coleção, apresenta
em suas ilustrações e na história escrita referência a locais,
objetos e costumes do país por onde o autor viajou.
Um pouco da Nigéria acompanha essas histórias, que
mostram um pedaço da cultura desse país que está tão
longe e tão perto, ao mesmo tempo.
Referência
BARBOSA, Rogério Andrade. Três contos africanos de
adivinhação. Ilustrações de Maurício Veneza. São Paulo:
Paulinas, 2009.
A produção literária de Rogério Andrade Barbosa
94
O continente
africano de A a Z
31
Mestranda em Educação – PPGE – UFSC
O ABC do continente africano apresenta um continente
constituído por 54 países, com diferentes histórias,
pluralidade cultural e diversas características geográficas.
A obra mostra que a história da África não começou com
a chegada dos europeus, mas destaca a antiguidade da
civilização africana e a teoria científica que evidencia a
origem da humanidade na África.
O livro descreve costumes, tradições, características
geográficas das diversas regiões, diferentes religiões, as
grandes cidades, a beleza da natureza, os grandes líderes,
os mitos, os contadores de histórias – griot, o valor do
A produção literária de Rogério Andrade Barbosa
Referência
BARBOSA, Rogério Andrade. ABC do continente africano.
Ilustrações de Luciana Justiniani Hees. São Paulo: SM Editora,
2007.
O guardião das
festas populares
32
Doutoranda em Educação – PPGE – UFSC
de presente uma viagem para a sua cidade natal. Ao voltar
para Itapecerica, acompanhado de sua neta, no mês de
celebração do Reinado do Rosário, inúmeras recordações
foram surgindo do seu tempo de menino com histórias de
sua mãe e avó.
O livro nos convida a conhecer um pouco mais
sobre as festas populares e manifestações culturais
afro-brasileiras. Ao final dele, o autor faz uma breve
apresentação sobre os participantes da obra, destacando
as festas populares, como reflexos da fé, e o sincretismo
religioso do povo. Por fim, o livro destaca a bibliografia
A produção literária de Rogério Andrade Barbosa
Referência
BARBOSA, Rogério Andrade. O guardião da folia. Ilustrações
98
33
Doutoranda em Educação – PPGE – UFSC
Como eles se ajudavam, conseguiram concluir as
tarefas antes do prazo e, então, foram soltos, recebendo
presentes mágicos como prêmios pelo trabalho realizado.
O irmão mais velho ganhou um espelho, através do qual
poderia ver tudo o que acontecia; o irmão do meio recebeu
um tapete voador que poderia levá-lo aos lugares mais
distantes e o mais novo recebeu uma rede de malhas feita
de aço, com a qual poderia capturar qualquer coisa que
quisesse. Com o espelho mágico, viram que a princesa se
casaria com um monstro, disfarçado de humano. Então,
subiram em um tapete mágico, voaram rápido, chegaram
A produção literária de Rogério Andrade Barbosa
Referência
BARBOSA, Rogério Andrade. Os três presentes mágicos.
Ilustrações de Salmo Dansa. Rio de Janeiro: Record, 2007.
Os animais e suas
características
Viviane de Carvalho34
34
Graduação em Pedagogia e Letras Espanhol
maior parte do tempo nas cavernas, savanas e montanhas
africanas.
“Porque o porco vive no chiqueiro” narra a história
de um porco e um javali, que viviam juntos na floresta, até
o dia em que o porco decidiu ir à aldeia dos homens para
conhecê-la. Lá, o porco chamou a atenção dos homens,
que o pegaram e colocaram-no dentro de um cercado.
Desde esse dia, o porco vive no chiqueiro comendo restos
de comida e lamentando pela sua sorte.
“O porquê de o camaleão mudar de cor” traz a
história do camaleão e da lebre que acompanham humanos
A produção literária de Rogério Andrade Barbosa
103
das árvores da floresta.
Cabe destacar que o autor convida os leitores a
recontarem as histórias após lerem seus contos, atitude
que faz alimentar a imaginação, enriquecendo cada vez
mais a cultura de todos os povos envolvidos em suas belas
histórias.
Referência
BARBOSA, Rogério Andrade. Histórias africanas para
contar e recontar. Ilustração de Graça Lima. São Paulo:
Editora do Brasil, 2001.
Os animais têm
muito a ensinar-nos
35
Mestranda em Educação – PPGE-UFSC.
dos pombos”; Estados Unidos, “O castor, o porco espinho e
a canção do vento”; Guatemala, “Porque os ratos têm medo
das mulheres”; México, “Xdzunuum, o colibri” (o nome
xdzunuum é de origem maya e é como chamam o colibri);
Peru, “A menina que se transformou em uma garça”.
Essas são as fábulas presentes no livro e, como toda
fábula, trazem uma lição moral ao final e dão vozes aos
animais, buscando uma personificação de características
humanas. O autor buscou inspiração nos relatos
pertencentes à tradição oral de contar histórias.
Referência
105
BARBOSA, Rogério Andrade. Lendas e fábulas dos bichos
de nossa América. Ilustrações de Lima, Graça. São Paulo:
Melhoramentos, 2003.
O povo dita
a história
36
Mestrando em Educação – PPGE – UFSC
entre o esperto e o enrolado, entre o bem e o mal, numa
narrativa que nos premia com uma história curta e
cativante sobre uma enganação. “A comadre e a raposa e a
comadre onça” parece trafegar pelo que entendemos como
o jeitinho brasileiro, pela malandragem que se apresenta, e
pode servir de alerta para o politicamente correto ou para
o que se deve evitar.
“O coelho e a paca” também segue esse percurso:
o da esperteza. Apelidando-se de gente de casa – a paca,
e gente de fora – o coelho, o segundo se aproveita do
apelido dialético para tirar vantagens da coitada paca.
107
confusão já quase em seu desfecho.
“Por que a cutia tem o rabo bem curtinho?” também
é uma fábula, porém, a mensagem que ela passa pode ser
utilizada para fazer-nos pensar em um problema social
pertinente: o alcoolismo, ou, antes ainda, na inconsequência
do envolvimento em brincadeiras perigosas. Essa é a
narrativa mais curta da antologia “Três contos da sabedoria
popular”, que diverte ao mesmo tempo em que ensina.
Referência
BARBOSA, Rogério Andrade. Três contos da sabedoria
popular. Ilustrações de Rui de Oliveira. São Paulo: Scipione,
2005.
Os bravos pigmeus
Vinícius Pereira37
37
Ator e Mestre em Literatura Infantil e Juvenil.
maioria das ilustrações são aquarelas com temas étnicos
africanos, além de figuras em argila e cascas de árvore.
A narrativa segue a voz, os olhos e os ouvidos desse menino
pigmeu, que nos conta suas vivências e descobertas sobre
a vida que o cerca.
Classificado como literatura infantil e infantojuvenil,
o livro tem 40 páginas e considerável extensão de texto
escrito. Todas as páginas são ilustradas, sendo que as
imagens compõem parte importante da narrativa. Dessa
forma, o momento da leitura é permeado pela atmosfera e
ambientação de onde e como vivem os pigmeus, tingindo
Referência
BARBOSA, Rogério Andrade. Pigmeus: os defensores da
floresta. Ilustrações de Maurício Negro. São Paulo: DCL, 2009.
109
Uma história
que minha avó
me segredou!
Ingobert Vargas38
38
Mestre em Educação – PPGE – UFSC
história que ouviu de sua avó sobre os poderes mágicos de
uma serpente píton.
A segunda história, que dá o título ao livro, narra
as aventuras de um jovem e seu cachorro, que recebem a
ajuda de uma feiticeira-serpente para conseguir a mão de
uma jovem em casamento. Inspirado em diferentes versões
de um conto guinense, o texto é entremeado por palavras
do vocabulário de Guiné-Bissau.
As ilustrações de Ciça Fittipaldi são bastante
femininas, abusando das linhas sinuosas nas folhas dos
coqueiros, nos corpos das mulheres e nos cestos e vasos.
111
Na capa, o título do livro e a ilustração potencializam
a beleza da mulher negra. O projeto gráfico peca na
contracapa e em algumas páginas, onde o texto desaparece
entre as ilustrações escuras. A paginação acompanha
a tipografia do texto. O autor assina a apresentação do
livro. Ao final, há um glossário das palavras guinenses e a
apresentação do autor e da ilustradora. A ficha catalográfica
classifica o livro como literatura infantojuvenil e, mesmo
sendo um livro com referências culturais bastante
demarcadas, proporcionando um texto pedagógico e
instrucional, é também um livro com forte presença de
literariedade e, bem por isso, contribui significativamente
para a formação de leitores literários.
Nesse conto de fadas africano, é a figura feminina
que materializa a sabedoria, o acolhimento, a altivez, o
poder e o encantamento, a partir de um registro poético
que demonstra os costumes de um povo além-mar.
Catálogo da Feira de Bolonha – 2014
Referência
BARBOSA, Rogério Andrade. Naninquiá: a moça bonita.
Ilustrações de Ciça Fittipaldi. São Paulo: DCL, 2013.
A produção literária de Rogério Andrade Barbosa
112
O ratinho que
tecia histórias
Vinícius Pereira39
39
Ator e Mestre em Literatura Infantil e Juvenil.
de fotos, com ilustrações de Graça Lima, representando
as viagens do rato pelo mundo. Texto escrito e imagem
descrevem cenas características das paisagens africanas e
sua pluralidade cultural.
O livro está classificado como literatura infantil e
infantojuvenil na ficha catalográfica. Vem acompanhado de
um suplemento de leitura paradidático, sendo um material
de apoio para o trabalho com a obra em sala de aula, seus
possíveis temas transversais e projetos interdisciplinares.
Referência
114
Elika da Silva40
40
Mestre em Educação – PPGE – UFSC
pois não dava para viver do mamulengo” (BARBOSA,
2003, p. 15), por isso, os pais de Manu não queriam que o
menino seguisse a mesma profissão.
Referência
BARBOSA, Rogério Andrade. O rei do mamulengo.
Ilustrações de André Neves. São Paulo: FTD, 2003.
117
Países irmãos
41
Mestranda em Educação – PPGE – UFSC
entre muitas outras. Durante os meses de troca de cartas, e
com a ajuda dos pais e professores, eles foram conhecendo
o porquê de tantas semelhanças.
Penso que é um livro recheado de conhecimento
entrelaçado com muita ludicidade. A narrativa traz os laços
históricos, que fazem esses dois países serem irmãos, sendo
essa uma história desconhecida por muitos e ignorada por
tantos, como destaca o autor nas primeiras páginas do
livro. Ele também traz um suplemento de leitura, no qual
os estudantes realizam atividades referentes à narrativa.
É importante ressaltar as ilustrações de Jô Oliveira, que
Referência
BARBOSA, Rogério Andrade. Em Angola tem? No Brasil
também! Ilustrações de Jô Oliveira. São Paulo: FTD, 2010.
119
Uma ideia
cheia de luz
Daniela Martins42
42
Graduada em Pedagogia – UFSC
O filho mais velho, aborrecido, comprou de um
vizinho um saco cheio de grama. O filho do meio, por sua
vez, pegou uma estrada e, ao avistar o primeiro vendedor,
comprou uma sacola com penas de galinha. Já o filho mais
jovem pegou o seu burrico e cavalgou longe, passando por
trilhas, ladeiras, atravessando rios encachoeirados até chegar
a um lugarejo, onde se dirigiu a um templo. Ali, em silêncio,
orou e depois seguiu o seu caminho em busca de algo que
lhe interessasse. Percorreu, sem pressa, todas as tendas
que via. Ao cair da noite, uma ideia luminosa lhe surgiu.
Finalmente, ele havia encontrado o que tanto queria.
Já na penumbra do quatro do velho pai, com a lareira
121
luz da vela enche todo o quarto.
Com ilustrações coloridas de Thais Linhares, o leitor
é convidado a entrar no mundo imaginário e, é claro, no
mundo africano, por meio de imagens que remetem a
simbolismos desse povo. O livro traz ainda mapas para
melhor compreender a localização das cidades africanas
citadas e glossário para o conhecimento do significado de
algumas palavras da Eritréia, que também são abordadas
ao longo da história.
Referência
BARBOSA, Rogério Andrade. Uma ideia luminosa. Ilustrações
de Thais Linhares. 2. ed. Rio de Janeiro: Pallas, 2007.
Um coelho esperto
e outro nem tanto!
43
Mestranda em Educação – PPGE – UFSC
na sua tradução: “história, história” – era o modo como
iniciavam e terminavam as contações.
A primeira história tem seu início na página seis
e recebe o título de “O coelho sem coração”. O autor
apresenta o coelho como um animal que fazia amizade
com muitos outros bichos. Ele costumava conversar com
um crocodilo. Dizem que por vários dias os pássaros da
floresta viram o coelho navegando nas costas do crocodilo
e acreditavam que aquilo não ia terminar bem. O
crocodilo queria comer o coelho e o coelho passear no rio.
O crocodilo paciente e o coelho atento em cada passeio.
Até que, num belo dia o coelho enganou o crocodilo.
123
como socavam o milho. O coelho, porém, não entendia
como o galo conseguia, ao dormir, ficar sem pé ou sem
cabeça e permanecer vivo. O coelho queria saber o segredo
do galo e acabou ele mesmo ficando sem a cabeça.
No livro, as histórias são iniciadas e terminadas como
o costume do povo de Moçambique. Com páginas bem
coloridas e ilustrações que remetem a dados da cultura do
povo moçambicano, no livro, há falas e comentários escritos
na língua africana e, logo na sequência, aparece a tradução
delas, aproximando o leitor de outra língua que existe,
mesmo num país de língua portuguesa como o nosso.
Referência
BARBOSA, Rogério Andrade. Karingana wa Karingana:
histórias que me contaram em Moçambique. Ilustrações de
Maurício Veneza. São Paulo: Paulinas, 2012.
A saga do
grande imperador
mandinga do Mali
Vinícius Pereira44
44
Ator e Mestre em Literatura Infantil e Juvenil,
invalidez ou deformação era impossibilitado de assumir
qualquer cargo de chefia. Longe de sua terra, Sundjata
cresce vendo as atrocidades de Sumanguru, rei intocável
do povo susu, que conquistava cruelmente outros reinos,
decapitando seus soberanos e herdeiros. Ao fugirem dos
exércitos de Sumanguru, Sundjata e sua mãe chegaram
ao reino de Mema cujo rei, Mussa Tunkam, acolheu o
garoto como se fosse seu filho e o transformou no grande
guerreiro e imperador que acabou com as atrocidades de
Sumanguru.
O livro, em suas 63 páginas, não é cansativo, pois
125
histórias da África ocidental. Ao final, além de um texto
sobre o autor e o ilustrador, o livro também traz um breve
texto informativo sobre o imperador Sundjata Keita e um
pouco da história da África.
Referência
BARBOSA, Rogério Andrade. Sundjata: o príncipe Leão.
Ilustrações de Roger Mello. São Paulo: Melhoramentos, 2014.
63 p.
Que sobrinho esperto!
– disse o lobo
45
Meste em Educação – PPGE – UFSC
O livro traz duas histórias. A primeira, “Com a tia
Ganga não se brinca”, diz que o lobo Ti Lobu estava muito
magro e seu sobrinho Xibinhu estava gordinho. Como era
época de seca e Ti Lobu não encontrava comida, ele quis
saber o que o sobrinho andava comendo e onde achava
comida. O sobrinho, pressionado pelo tio, disse estar
comendo na casa da tia Ganga, uma galinha temida por
todos, até pelos lobos. O sobrinho levou o tio até a casa dela
e ensinou-lhe as palavras que abriam e fechavam as portas.
Quando a tia Ganga saiu, o lobo entrou e comeu alguns
ovos. Xibinhu cantou uma canção e a tia Ganga voltou
127
descobre que Xibinhu foi convidado para um casamento e
quer ir junto. Xibinhu diz que só poderia levar o tio se ele
lhe servisse de montaria. Para não perder a comida da festa,
Ti Lobu aceita a proposta e Xibinhu prepara sua montaria
com sela e rédeas, arruma suas botas com esporas e arranja
um chicote. Um lobo montado no outro, é uma cena que
deixa todos espantados. Xibinhu ganha a aposta que era
chegar na festa montado num lobo.
Nas histórias, o autor traz palavras que são do
vocábulo dos cabo-verdianos, explica a composição de
pratos típicos, traz ditados populares e apresenta costumes
da comunidade por onde andou. Desse modo, traz um
pouco da cultura desse povo às crianças brasileiras que,
de modo divertido, leem uma história diferente sobre os
lobos, personagem tão comum nas histórias contadas
pelos mais velhos aos mais novos, tanto lá como aqui.
Catálogo da Feira de Bolonha – 2014
Referência
BARBOSA, Rogério Andrade. O Lobo Ku Xibinhu: histórias
que as crianças me contaram em Cabo Verde. Ilustrações de Jô
Oliveira. São Paulo: Cortez, 2013.
A produção literária de Rogério Andrade Barbosa
128
Tributo ao
velho Chico
Silvana Gili46
46
Doutoranda em Literatura – PPGLit – UFSC
O livro conta a história de uma velha carranca
encontrada às margens do rio São Francisco por Mestre
Belo, antigo remeiro que sobrevive graças às miniaturas
de carrancas que faz em argila para vender. O encontro
da carranca perturba a paz rotineira de Mestre Belo,
pois da estátua entalhada em madeira rolam lágrimas.
O milagre atrai romeiros de todas as partes, assim como um
oportunista interessado em ganhar dinheiro às custas da
obra. Por trás desse enredo aparentemente simples, o leitor
tem a oportunidade de encontrar-se com a rica cultura dos
povos que habitam as margens do Rio São Francisco.
A produção literária de Rogério Andrade Barbosa
Referência
BARBOSA, Rogério Andrade. O velho, a carranca e o rio.
Ilustrações de Ana Raquel. São Paulo: Melhoramentos, 2000.
Romãozinho:
o menino arteiro
47
Doutora em Educação – PPGE – UFSC
da escravidão, mentiu para o pai e fugiu de casa com
medo de levar uma surra, e até hoje vive vagando pelo
mundo, aprontando das suas. Não perde um “arrasta-
pé” com cantoria, momento em que levanta as saias das
moças. Mas, além disso, o menino arteiro também ajuda
as pessoas a encontrar objetos perdidos. E somente as
crianças podiam vê-lo.
Assim como Romãozinho, era Bentinho quem levava
almoço ao pai todos dias. O pai era canoeiro passador,
levava as coisas de uma margem à outra do Rio Francisco.
Certo dia, tomado por uma tristeza, o pai conta ao menino
A produção literária de Rogério Andrade Barbosa
Referência
133
Promessa para
caboclo-d’água
é dívida!
49
Doutoranda em Educação – PPGE – UFSC
Josino planejou capturá-lo e, para isso, saiu com a canoa
do pai levando consigo uma rede, um arpão, uma garrafa
de pinga e um rolo de fumo. Jogou as oferendas na água
e ficou com a rede e a arma nas mãos aguardando que
o mostro aparecesse, mas foi surpreendido pelo senhor
das profundezas e puxado para dentro do rio. Josino só foi
solto depois de prometer trazer semanalmente um rolo de
fumo e uma garrafa de pinga da boa. Mas o menino não
cumpriu a promessa e a vingança do caboclo-d’água atingiu
toda a comunidade, derrubando barreiras, virando canoas,
furando redes e ainda interferindo na pesca. Apavorado,
135
sempre cumprir suas promessas, principalmente se forem
para o caboclo-d’água.
Referência
BARBOSA, Rogério Andrade. O menino e o caboclo-d’água.
Ilustrações de Ana Raquel. São Paulo: FTD, 2002.
O pescador
e o seu amor
50
Doutoranda em Educação – PPGE – UFSC
contam as avós das avós das avós, a história de uma sereia
que tinha cabelo de ouro, tão bonita que enfeitiçou um
jovem pescador. Seu cabelo deixaria qualquer um rico e,
certo dia, o pescador avistou a sereia e conseguiu retirar
do seu pente de esmeraldas alguns fios de cabelo, que
o deixariam rico. Acontece que Marinho, o pescador,
apaixonou-se por Serena, a linda sereia, e ia visitá-la todas
as noites. Com o tempo, Marinho percebeu que ter toda
a riqueza e não ter seu amor por perto não o deixava
contente, então, decidiu que faria de tudo para transformar
o fantástico ser metade mulher, metade peixe numa moça
137
pelos nossos avós, aquelas que ninguém sabe se realmente
aconteceram ou não. É uma leitura gostosa de uma obra
feita com e para as crianças.
Referência
BARBOSA, Rogério Andrade. A sereia dos cabelos de ouro.
Ilustrações de Ana Raquel. São Paulo: FDT, 2002.
Uma bordadeira
e muitas histórias
interessantes
para contar!
51
Graduada em Pedagogia – UFSC
preferidas; as de origem africana e indígena, então, nem se
fala! Quem aproveitava era a sua netinha sortuda, Rosinha.
O livro traz ilustrações lindas que fazem o leitor
imaginar como eram os bordados.
A história escolhida para o trabalho de escola da
Rosinha foi a lenda da serpente emplumada, que resultou
em um bordado lindo que fez o maior sucesso na escola
da menina.
Logo após a narrativa, o livro tem algumas
informações sobre como desenvolveu-se a construção
dessa e de outras histórias que constituem a Coleção Ciranda
139
autor Rogério Andrade Barbosa e a ilustradora Ana Raquel.
Referência
BARBOSA, Rogério Andrade. A bordadeira de histórias.
Ilustrações de Ana Raquel. São Paulo: FTD, 2002.
Bem-vindo
a Ruanda
52
Mestrando em Educação – PPGE – UFSC
ano de 1989, é Nas Montanhas dos Gorilas), de um concurso
de redação no qual, em 30 linhas, deveria escrever suas
impressões sobre o que viu. A motivação para ela escrever?
Um prêmio em livros, uma viagem para a sede das
Organizações das Nações Unidas (ONU) e uma passagem
por Ruanda, para conhecer as famosas montanhas onde
vivem os gorilas da história, além daquilo que seria o
diferencial para o ganhador: só seriam escolhidas cinco
redações vencedoras! Uma para cada região do mundo!
E nossa heroína foi para o exterior representando a
América do Sul.
141
costumes tradicionais de um povo que vive de forma
totalmente diferente das comunidades brasileiras, além de
gorilas e caçadores!
Ao fim da história, o leitor terá aprendido, e
apreendido, um pouco mais sobre a África, sobre o medo,
sobre os perigos do desconhecido e sobre o triunfo do
bem sobre o mal. Ah, e ainda por cima vai caminhar, junto
com Helena, pelas ruas de Genebra. Bom passeio ao leitor
que com ela fizer essa viagem.
Referência
BARBOSA, Rogério Andrade. Na terra dos Gorilas.
Ilustrações de Roberto Caldas. 3. ed. São Paulo:
Melhoramentos, 2009.
Um conto um
tanto estranho
Aline Effting53
53
Graduada em Pedagogia – UFSC
de tão pesado que estava, não conseguiu correr e acabou
abrindo o seu bocão devolvendo a mulher.
Já no conto “Ana e o cego”, a personagem principal,
Ana, é uma tímida lavadeira. Ao lavar as roupas, a jovem
contava com a ajuda de uma vaca, que engolia as roupas
e vomitava-as depois, uma por uma, bem limpinhas. As
demais lavadeiras não conseguiam entender como Ana
conseguia deixar as roupas tão limpas. Porém, certo dia, a
vaca não apareceu e as roupas não ficaram mais daquele
jeito. A patroa de Ana logo reclamou e, muito zangada,
expulsou Ana de sua casa, falando para um jovem
que cantava muito bonito que levasse a moça consigo.
143
a narrativa perpassa a casa da mulher, a roça de mandioca e
a colina de um cemitério. Os personagens que compõem o
conto são: a mulher, o marido, as duas crianças e o Guerê.
Já no conto “Ana e o cego”, os espaços percorridos são
a beira do rio, a casa da patroa e o caminho onde a Ana
seguiu com o outro jovem. Os personagens que compõem
esse conto são: Ana, a patroa, a vaca e o jovem de canto
bonito. De forma geral, os dois contos trazem cantigas e
mistérios acerca dos animais.
Referência
BARBOSA, Rogério Andrade. Contos de Itaparica. Ilustrações
de Hannah Morris. São Paulo: Comboio de Corda, 2010.
Dingono: um pigmeu
que sabe quem é
54
Doutora em Educação – PPGE – UFSC
vivem em comunhão com a natureza, conversam com as
árvores e entendem a linguagem dos animais.
As reflexões de Dingono começam no momento em
que seu estado febril impede-o de acompanhar o grupo
em busca da subsistência. Homens, mulheres e crianças se
embrenham na mata em busca de alimentos todos os dias.
O jovem pigmeu espera o grupo afastar-se e posiciona-se
no centro do acampamento, na “[...] arena mágica, onde
todo pigmeu pode falar em nome do grupo” (BARBOSA,
1994, p. 9), e, com atitude de reverência à floresta, como
quem fala com os próprios pais, ele canta com voz doce e
145
É ao redor da fogueira que ouvimos histórias, dançamos e
cantamos” (Ibidem, p. 16).
Desse modo, o jovem pigmeu vai narrando os
aprendizados repassados de geração em geração, falando
sobre a cerimônia do Elima para as meninas que chegam
à idade do casamento e dos papeis desempenhados pelas
mulheres que precisam trabalhar muito, pois a elas cabe,
entre outras tarefas, cozinhar, colher raízes comestíveis,
construir cabanas, e levar toda a mudança nas costas
cada vez que o grupo põe-se em marcha. Aos homens é
reservada a caça. Carregam apenas as armas. Eles precisam
estar com as mãos livres para defender a família. As
crianças acompanham os adultos. Elas brincam livremente
na aldeia e praticamente nada lhes é proibido, mesmo as
menorzinhas podem mexer em lanças ou facas afiadas,
sem sofrer advertência ou castigo.
No décimo capítulo, Dingono evoca o mito da criação
para construir um orgulho acerca da própria identidade.
Dos tantos bonecos de barros criados, o pigmeu provém
do menor que, por sua vez, será “[...] o mais hábil e ágil
dos seres humanos. Conhecerá e dominará os segredos da
floresta. As enormes árvores o ocultarão e lhes servirão
de abrigo [...]. Será eternamente pequeno, mas viverá em
liberdade, como guardião e mestre da mata” (BARBOSA,
1994, p. 53).
Assim, Dingono, o pigmeu é uma história africana que
mistura ficção e realidade, mostrando alguns elementos da
A produção literária de Rogério Andrade Barbosa
Referência
BARBOSA, Rogério Andrade. Dingono, o pigmeu. Ilustrações
de São Paulo: Melhoramentos, 1994.
Kalahari: a morte
em iminência
55
Doutora em Educação – PPGE – UFSC
viagem a oportunidade de conviver mais com o filho e
ensiná-lo a manejar as câmeras de vídeo.
Narrada sem pressa, seus subtítulos anunciam que A
morte ronda o Kalahari é uma aventura de tirar o fôlego. Os
protagonistas estão em risco eminente e o conflito inter-
racial é a trama que anima essa história desde o primeiro
conflito instaurado em “Encrenca a bordo”, ainda no
voo de ida, até o momento em que fica muito evidente
a segregação racial em “Areia movediça”, quando Duda e
o pai resolvem poupar a vida do loirinho inimigo. Com o
homem branco, a versão sobre a história de colonização
A produção literária de Rogério Andrade Barbosa
149
Referência
BARBOSA, Rogério Andrade. A morte ronda o Kalahari.
3. ed. São Paulo: Moderna, 1992.
O deserto
de Kalahari
Elika da Silva56
56
Mestre em Educação – PPGE – UFSC
como infantojuvenil, conta com ilustrações de Lais Dias,
algumas em preto e branco, mas muito significativas. Está
dividido em 44 partes que se complementam no decorrer
da história.
No início, encontra-se uma nota do autor, na
qual ele explica que o texto foi publicado pela primeira
vez em 1992, sob o título A morte ronda Kalahari. O livro
foi reescrito após o seu retorno, em 2005, da Cidade do
Cabo na África do Sul. De acordo com Rogério Andrade
Barbosa, durante a viagem, ele pôde observar “[...] aspectos
da complexa sociedade sul-africana e as transformações
151
situando geograficamente o Deserto de Kalahari.
A história é narrada pelo Eduardo (Dudu), um
jovem de 15 anos que está de férias e é convidado pelo seu
pai, um documentarista internacional, para uma viagem a
Botsuana, na África. Logo no início da história, em uma
conversa entre o pai de Dudu, sua mãe e a tia dele, o leitor
é levado a conhecer um pouco sobre a história da questão
racial na África do Sul. Durante a viagem, o pai de Dudu
vai contando detalhes sobre os povos bosquímanos e a
história da segregação racial na África do Sul.
Ainda durante a viagem, Dudu conhece a jovem
australiana Karin, com quem o pai organizava safaris
ecológicos no deserto de Kalahari. Os dois se apaixonam,
seguem caminhos diferentes, mas se encontram no
decorrer da história.
Outro personagem interessante é o John Paul Jones,
um bosquímano que será o guia dos dois aventureiros,
mas que acaba virando amigo e dando uma ajuda muito
importante para salvá-los dos perigos do deserto.
Enfim, pai e filho chegam ao deserto de Kalahari
e, em meio a perseguições armadas, animais selvagens e
o romance de Dudu e Karin, o leitor pode conhecer um
pouco sobre a cultura do país, assim como os hábitos no
deserto do Kalahari. O leitor também pode perceber como
a segregação racial do Sul da África ainda atormenta os
africanos. A leitura é cheia de emoções e provoca-nos
uma reflexão sobre a dura realidade em que ainda vivem
alguns povos africanos. A obra é uma excelente sugestão
A produção literária de Rogério Andrade Barbosa
Referência
152
Viviane de Carvalho57
57
Graduada em Pedagogia e Letras (Espanhol)
contar a história do boi-bumbá e ela destaca a “morte do
boi”, parte da encenação mais empolgante da festa. Nesse
momento, o leitor encontra uma narrativa dentro de outra,
em que são apresentados os elementos que fazem parte
dessa expressão popular.
Na narrativa da lenda ao garoto, a mãe conta a
história da senhora grávida e seu desejo de comer língua
de boi e de como convenceu o seu marido, mesmo
contrariado, a fazer sua vontade, a de cortar a língua de um
boi para sua refeição. Comenta também sobre a punição
do patrão ao marido por ter cortado a língua e o boi ter
A produção literária de Rogério Andrade Barbosa
Referência
BARBOSA, Rogério Andrade. Viva o boi-bumbá. Ilustrações
de Graça Lima. Rio de Janeiro: Agir, 1999.
Danite e o leão: um
conto das montanhas
da Etiópia
Caroline Carvalho58
58
Mestre em Educação – Univali
Entristecida pela indiferença do enteado, Danite
resolveu solicitar ajuda a um monge que vivia em uma
cidade sagrada da Etiópia. Na presença do monge, ela
pediu-lhe que fizesse uma poção mágica para resolver o
seu problema. O monge disse que faria, mas, para tal, ela
precisaria trazer-lhe “[...] três fios do bigode de um leão
que vem atacando os rebanhos das ovelhas” (BARBOSA,
2016, p. 18).
Mesmo sem acreditar que seria possível, Danite,
logo no dia seguinte, preparou pedaços de carne e ossos
de carneiro e levou até o leão, que aceitou o alimento que
A produção literária de Rogério Andrade Barbosa
Referência
BARBOSA, Rogério Andrade. Danite e o leão: um conto das
montanhas da Etiópia. Ilustrações de Ciça Fittipaldi. São Paulo:
Editora do Brasil, 2016.
157
Cada grão de poeira
é importante em
um chão sagrado
59
Doutora em Educação – PPGE – UFSC
o imperador, puderam conhecer todos os lugares e
registrar, em escrita e desenhos, os mais belos lugares
e as características daquele país. O guia, então, ao
retornar, narrou ao imperador todos os menores detalhes
conhecidos pelos exploradores. Ao despedirem-se da terra
que tanto os encantara, ficaram surpresos com a única
exigência feita pelo imperador: que limpassem bem seus
sapatos para que não levassem embora nem um grão de
poeira da terra que era sagrada para os moradores do país.
A história também é contada pelas ilustrações de
Rubem Filho, que ocupam o espaço completo de cada
Referência
159
BARBOSA, Rogério Andrade. Nem um grão de poeira:
reconto da Etiópia. Ilustrações de Rubem Filho. Rio de Janeiro:
ZIT, 2011.
Soyas de sun tataluga:
histórias que me
contaram em São
Tomé e Príncipe
Kainara Ferreira61
61
Graduada em Pedagogia – UFSC
com ilustrações de Taísa Borges, que trazem um traçado
étnico e carregado de cores tropicais. Ao abrirmos o livro,
deparamo-nos com uma guarda completamente vermelha,
que nos afugenta pela sua força e impeli-nos a conhecer as
páginas seguintes.
O primeiro texto do livro é um ditado na língua
santomense “Son tê uê, matu tê oliá” (o chão tem olhos,
o mato tem orelhas) (BARBOSA, 2015). Esse pequeno
trecho, acompanhado de uma ilustração na primeira
página, anuncia ao leitor a sabedoria de uma cultura
popular a ser descoberta na sequência da leitura. O livro
161
chão”; “Quem tudo quer tudo perde”; e “Adivinhador
de sonhos”. Vale ressaltar que todas as ilustrações que
acompanham os paratextos anunciam uma estética a ser
descoberta ao longo do livro.
Logo, acompanhamos na primeira narrativa do livro,
“Quem não tem pena fica no chão”, as aventuras de Sun
Tataluga para participar de uma festa que só os animais
de pena poderiam ir. A tartaruga, muito esperta, trama
ao longo dessa história parcerias para chegar ao local
pretendido. Sendo bem-sucedida no seu plano, a tartaruga
só não poderia prever que, no caminho de volta para casa,
ela cairia do céu partindo-se em pedaços no chão.
Essa é apenas uma das três histórias que Sun
Tataluga protagoniza no livro. As narrativas que Rogério
traz configuram-se em uma mescla entre lenda e fábula,
em que o texto conta-nos não só a origem das rachaduras
de Sun Tataluga, como também, de modo geral, expõe as
tramoias e estratégias que esse personagem planeja.
Mas o destaque principal do livro não está somente
nas grandes e espertas aventuras desse inusitado
protagonista das ilhas de São Tomé e Príncipe. Além das
histórias narradas, o livro ilustra novos cenários, incorpora
no seu texto palavras da língua santomense e inclui uma
ficha interpretativa para que o leitor possa responder
perguntas acerca das aventuras do livro.
Por fim, conseguimos sentir em Soyas de Sun
Tataluga: histórias que me contaram em São Tomé e Príncipe que
A produção literária de Rogério Andrade Barbosa
Referência
BARBOSA, Rogério Andrade. Soyas de Sun Tataluga:
histórias que me contaram em São Tomé e Príncipe. Ilustrações
de Taísa Borges. São Paulo: FTD, 2015.
A tradição
das palavras
62
Mestranda do PPGE – UFSC
a palavras de matrizes africanas usadas no cotidiano do
povo brasileiro, sendo apresentados os seus significados
como em um dicionário.
Referência
BARBOSA, Rogério Andrade. Memória das palavras.
Coordenação do Projeto: Ana Paula Brandão. Rio de Janeiro:
Fundação Roberto Marinho, 2006. (Projeto Educativo A cor da
cultura). Não paginado.
A produção literária de Rogério Andrade Barbosa
164
Irmãos Zulus
Aline Effting63
63
Graduada em Pedagogia – UFSC
aqueles que não cumprissem seriam transformados em
pedra. O primeiro a tentar foi Punga, o irmão mais velho,
mas ele não conseguiu concluir a primeira tarefa e foi logo
transformado em pedra. Em seguida, foi a vez de Indula,
que teve o mesmo destino de Punga. Até que chegou a
vez de Mandela, que cumpriu as três tarefas com a ajuda
dos animais que ele salvou de seus irmãos. Com isso, tudo
voltou ao normal naquele reino e, como prêmio, Mandela
recebeu a mão da filha do rei em casamento, tornando-se,
assim, o herdeiro do reino. Punga e Indula aprenderam a
lição e casaram-se com as irmãs da noiva de Mandela.
A produção literária de Rogério Andrade Barbosa
Referência
BARBOSA, Rogério Andrade. Irmãos Zulus. Ilustrações de
Ciça Fittipaldi. São Paulo: Larousse Brasil, 2006. 32 p.
No museu
do cairo
64
Professora de Língua Portuguesa e Literaturas da Língua Portuguesa
e guerrilheiros e vive momentos de muito medo e de muita
aprendizagem.
É através de situações de vida ou de morte,
enfrentadas pelos personagens, que as diversas relações
humanas, culturais, políticas e raciais do povo africano
vão sendo tecidas pelo autor. O livro é repleto de mistério,
aventura e suspense. A narrativa é composta de 94 páginas
e é narrada numa linguagem simples, retratando princípios
e valores humanos como amizade, respeito à realidade e às
diferenças culturais de outros povos.
A produção literária de Rogério Andrade Barbosa
Referência
BARBOSA, Rogério Andrade. O anel de Tutancâmon.
Ilustrações de Afonso de Oliveira. São Paulo: Cia
Melhoramentos de São Paulo,1991.
168
O anel de
Tutancâmon
65
Professora de Língua Portuguesa do Colégio de Aplicação – UFSC
um país como o Egito! Mas a avó parece antever tudo o
que ocorrerá e mostra-se reticente:
171
Come, junto aos tuaregues, um arroz banhado de gordura
quente de carneiro acompanhado de leite de cabra e,
como sobremesa: nozes, amêndoas e mel. Jamasin é o
nome do vento que traz e anuncia as piores tempestades
de areia. E Junior vivencia uma.
Conviveu com os shilluks, um povo que tem pouco
pelo no corpo, que zela por suas mulheres e que, ao viver
no deserto, busca estar perto do oásis para cuidar de seu
maior tesouro: o gado. São muitas descobertas, das boas
às ruins.
Junior descobre, sobretudo, que o Egito continua
sendo roubado. Suas frágeis fronteiras, como por exemplo,
a Etiópia, conta, muitas vezes, somente com a ajuda
de organizações não governamentais, como a da Cruz
Vermelha. E em sua viagem, essa ONG, além de salvar
os etíopes da fome, precisa combater piratas modernos
e salvar de suas garras os firengis (estrangeiros)... Até os
cariocas, como ele.
Referência
BARBOSA, Rogério Andrade. O anel de Tutancâmon. São
Paulo: Melhoramentos, 2006.
A produção literária de Rogério Andrade Barbosa
172
Uma aventura
na cidade
66
Graduada em Farmácia Bioquímica – UFSC
histórias, ao lendário bazar de Marrakech, para levar a
carga preciosa, que são os tapetes produzidos pela família.
Rogério de Andrade Barbosa, de forma brilhante,
narra toda a viagem realizada por Hamed e seu pai,
descrevendo a cidade de Marrakech. Ele mostra o espanto
e o encantamento do menino diante dos altos edifícios
do bairro Francês, construídos pelos ex-colonizadores.
De forma hábil e atrativa, o autor revela curiosidades,
costumes e os principais locais da cidade.
Após a venda dos tapetes, o pai convida o filho
para comprar presentes para as mulheres da família, que
A produção literária de Rogério Andrade Barbosa
Referência
BARBOSA, Rogério Andrade. Pra lá de Marrakech.
Ilustrações de Roberto Weigand. São Paulo: FTD S.A, 2009.
A caixa de segredos,
de Rogério Andrade
Barbosa: a memória
como herança
Eliane Debus67
67
Doutora em Letras. Professora UFSC.
Uma caixa enferrujada que guarda segredos é
preservada pela família gerações após gerações, e a
curiosidade sempre presente desde a meninice faz com
que o narrador desvende seus segredos: a história de
Malã, seu tataravô. Os objetos que auxiliam o narrador
na busca pelo passado são: os manuscritos em forma de
diários, abrigados em folhas amareladas pelos anos; o
rosário de contas de madeira; e um amuleto no formato de
uma bolsinha de couro (patuá) com “[...] dois papelinhos
dobrados, com escritos em caracteres árabes” (Ibidem,
p. 9): o trecho de uma oração, retirado do Alcorão, e um
A produção literária de Rogério Andrade Barbosa
bilhete enigmático.
Atando as informações dos manuscritos com as
informações familiares, o narrador realiza a sua versão da
história:
177
no porão do navio, Malã é salvo pela língua, pois sabia o
português e era alfabetizado, o que lhe valeu o posto de
descascador de batatas e fê-lo chegar a terras brasileiras, no
Rio de Janeiro (1827), saudável e valendo um bom preço.
Vendido como mercadoria, o menino foi
encaminhado por seu dono, um rico comerciante, à cidade
de São Salvador, onde recebeu novamente o nome de
Antônio, sem nunca deixar de ser Malã.
Em “Juventude”, são narradas as transformações do
menino a jovem na cidade de Salvador, cidade descrita
como um grande reino africano, dominado por mãos
brancas. Sob os cuidados de outro escravo, Licurgo, um
velho mandinga, o menino aprendeu a profissão de alfaiate,
bem como retomou as rezas do Alcorão e aprendeu a
escrita árabe.
Malã participou da insurreição dos negros na Bahia,
a Revolta dos Malês, em 25 de janeiro de 1935. Licurgo
foi exilado como um dos líderes da insurreição e, ao
jovem, restou a sentença de duzentas chicotadas em praça
pública. “Cinquenta açoites por dia, de acordo com as
leis vigentes do Código Criminal da época” e o retorno à
cidade do Rio de Janeiro (BARBOSA, 2010, p. 48). A opção
do escritor em apresentar a Revolta dos Malês parece
significativa, pois desconstrói a ideia de que os negros
aceitaram calados a escravização em terras brasileiras, ou
que os quilombos foram a única forma de manifestação de
descontentamento e ou insurreição daquele período.
Em “Maturidade”, Malã é um “[...] alfaiate
A produção literária de Rogério Andrade Barbosa
179
no seu processo de liberdade: Zumbi e o Dia Nacional da
Consciência Negra, as leis e políticas afirmativas. De algum
modo o seu descendente, aqui no papel de narrador, leva
Malã à terra natal pela memória reconstruída.
Referências
DEBUS, Eliane Santana Dias. A escravização africana na
literatura infanto-juvenil. In: Currículo sem fronteiras, v. 12,
n. 1, p. 141-156, jan/abr 2012.
BARBOSA, Rogério Andrade. A caixa dos segredos.
Ilustrações de Gerson Conforti. Rio de Janeiro: Record, 2010.
A sedução das
narrativas bebidas
na oralidade
Eliane Debus68
68
Doutora em Letras. Professora UFSC.
jovem Elidalva e a “bota” que seduz o jovem engenheiro,
em duas narrativas sob dois enfoques; e Quem-te-dera,
uma “[...] mulher de identidade indefinida, baixa, tão magra
que dava para contar os ossos da renegada” (BARBOSA,
2005, p. 39), que seduz e põe cabresto nos incautos que
duvidam de sua presença.
A segunda parte é composta de cinco narrativas
que versam sobre lobisomens, fantasmas “[...] portas de
cemitérios, bruxas, tatus brancos e outras espécies de botar
feitiço e quebranto”. Na terceira parte, a narrativa centra-
se na figura do boi Espácio, metáfora para falar do desejo
181
Destacam-se ainda as ilustrações de Elvira Vigna, que
abrem os contos de forma magistral. Um livro carregado
de encantos, seduções e quebrantos!
Referência
BARBOSA, Rogério Andrade. Contos de encantos, seduções
e outros quebrantos. Ilustrações de Elvira Vigna. Rio de
Janeiro: Bertrand Brasil, 2005.
O Brasil narrado
pela voz de Rogério
Andrade Barbosa
74
Doutora em Educação – PPGE – UFSC
como os países dos quais as narrativas de tradição oral
foram recolhidas. Ao final de cada conto, o leitor se depara
com uma breve explicação sobre a origem do conto, um
glossário para compreender as palavras que não conhece e
também uma pequena biografia de cada autor.
O segundo conto do livro leva o título de “A casa do
vai-mas-não-volta”, do escritor brasileiro Rogério Andrade
Barbosa, narrativa recolhida no sertão de Pernambuco que
conta a história de um lavrador viúvo que tinha três filhos
homens. Certo dia, o filho mais velho resolveu tentar a vida
em um lugar melhor e, perdido no sertão, encontrou um
183
falta de notícias dele, pediu ao filho do meio que fosse
procurar o irmão.
Assim como o irmão, encontrou o negrinho pitando
o cachimbo, que não teve tempo de avisar sobre o perigo
que ele corria, chegando o filho do meio também até a
casa do vai-mas-não-volta, sendo igualmente recebido pela
senhora. Desse filho também nunca mais se ouviu falar.
O pai, então, pediu ao filho mais moço que fosse à
procura de seus irmãos. Ao encontrar o negrinho pitando
cachimbo, ele aceitou pegar uma carona em seu cavalo. O
negrinho contou sobre a passagem dos dois irmãos por
aquelas bandas, e o mais moço, então, descobriu que seus
irmãos foram para a casa do vai-mas-não-volta. Diferente
dos irmãos mais velhos, ele seguiu o conselho do negrinho,
entrando na casa e enganando a velha senhora, fazendo-a
desmaiar. Com a ajuda do negrinho, fugiram os quatro e
livraram-se da megera.
O ilustrador Angelo Abu escolheu cores terrosas
para representar a seca que assola o nordeste da narrativa
contada por Rogério Andrade Barbosa nessa coletânea de
contos.
Referência
GONÇALVES, Zetho Cunha et al. Dima, o passarinho
que criou o mundo: mitos, contos e lendas dos países de
língua portuguesa. Ilustrações de Angelo Abu. São Paulo:
Melhoramentos, 2013.
A produção literária de Rogério Andrade Barbosa
184
Em busca
da felicidade
75
Mestranda em Educação – PPGE – UFSC
A história envolve dois personagens, os irmãos
Adriana e Rafael, separados quando pequenos em função
do desaparecimento de Adriana, uma garota então com 14
anos de idade, sequestrada aos sete e submetida à máfia
do tráfico de crianças e prostituição infantil. Rafael é um
experiente atleta de caratê e especialista em desativar minas
antipessoais, destreza desenvolvida durante os três anos
de serviço militar no Exército Brasileiro, consolidada em
missão de paz na Angola, como integrante das tropas de
paz na Organização das Nações Unidas (ONU) e membro
do pelotão de elite.
A produção literária de Rogério Andrade Barbosa
Referência
Barbosa, Rogério Andrade. Um sopro de esperança.
Ilustrações de Rogério Borges. São Paulo: Saraiva, 1999.
187
Memórias de uma
ilha assombrada
Ingobert Vargas76
76
Mestre em Educação – PPGE – UFSC
do autor dá-nos pistas de sua origem carioca (quem no
Brasil chama torneira de bica?) e da sua aproximação com
a África portuguesa (ao brindar-nos com a expressão “às
tontas”).
O projeto gráfico, com letras fantasmagoricamente
brancas sobre as páginas pretas, evoca um cenário sinistro.
A ilustração, assinada por Maurício Negro e executada
numa composição de diferentes técnicas, é expressiva,
robusta, dramática e traz tensão e suspense ao diálogo
com o texto. O medo no olhar do homem que espia pela
janela e o peixe abissal que acompanha a mulher na rua
189
Na capa do livro, duas mulheres muçulmanas
convidam-nos ao assombro, expresso em seus olhares
pálidos, o que se confirma no texto-convite da contracapa.
As orelhas apresentam o autor e o ilustrador. A ficha
catalográfica evidencia o assunto como literatura
infantojuvenil. O livro traz os números de paginação
em tipografia discreta que compõe o projeto gráfico,
e um epílogo na última página aproxima o cenário do
livro ao imaginário d´As mil e uma noites. Mesmo sendo
um livro com referências culturais bastante demarcadas,
proporcionando um texto pedagógico e instrucional,
há uma forte presença de literalidade e, bem por isso, a
obra contribui significativamente à formação de leitores
literários.
Quando peguei o livro pela primeira vez, senti-o
gelado entre os dedos. Pode ter sido simples coincidência
em função do dia chuvoso de inverno que escolhi para
lê-lo, mas prefiro acreditar que aquela sensação fria que
me tomou as mãos foi o epílogo à leitura de memórias tão
sombrias e obscuras nas quais me aventurei.
Referência
BARBOSA, Rogério Andrade. Zanzibar: a ilha assombrada.
Ilustrações de Maurício Negro. São Paulo: Cortez, 2012.
A produção literária de Rogério Andrade Barbosa
190
A esperteza
do saltão
92
Doutoranda em Educação – PPGE – UFSC
idioma resultante da mistura entre o português e os vários
idiomas falados no país.
As imagens da narrativa foram criadas pela ilustradora
Ciça Fittipaldi, que comunica com expressividade os
elementos que vão sendo revelados no transcorrer da
história.
Não chore ainda não relata a história da fêmea de um
saltão, que é uma espécie de peixe e um dos alimentos
preferidos pelos povos das aldeias da ilha de Bibaque. Essa
fêmea de saltão, ao fugir do balaio das mulheres, começa
a chorar prevendo o triste fim do marido. O choro é tanto
A produção literária de Rogério Andrade Barbosa
Referência
BARBOSA, Rogério Andrade. Não chore ainda não. Ilustrações
de Ciça Fittipaldi. São Paulo: Larousse do Brasil, 2007. 23 p.
Um sonho
de liberdade
93
Doutoranda em Educação – PPGE – UFSC
O texto de apresentação, escrito pela Professora
Doutora Elisa Larkin Nascimento, diretora do Instituto
de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros, traz importantes
elementos de reflexão sobre a condição humana, a busca
constante de liberdade e o não isolamento temporal e
geográfico da escravidão.
Na ilustração de Rubens Matuck, a criação poética
da imagem destaca o vermelho, o preto e o branco,
representando a intensidade de sentimentos e a força
impactante das palavras.
No começo da narrativa, o autor relembra a existência
A produção literária de Rogério Andrade Barbosa
Referência
BARBOSA, Rogério Andrade. Nas asas da liberdade.
Ilustrações de Rubens Matuck. São Paulo: Biruta, 2006.
Para conhecer
a poesia na áfrica
95
Doutora em Educação – PPGE – UFSC
sobre a literatura africana de língua portuguesa, ministrado
por ele para professores do Rio de Janeiro.
Na introdução, o autor destaca a sua preocupação
sobre o desconhecimento do que se passa na África, tema
das palestras que ele realizou em escolas e universidades,
desde quando retornou de lá, após um período como
professor voluntário da ONU, em Bissau. O que mais
o impressionou nessas palestras foi perceber o total
desconhecimento dos professores sobre a história, a
geografia e a literatura africanas.
A produção literária de Rogério Andrade Barbosa
Referência
BARBOSA, Rogério Andrade. No ritmo dos tantãs: antologia
poética dos países africanos de língua portuguesa. Brasília:
Thesaurus, 1991.
196
Outros
temas
Os folguedos
da Ilha da Magia
60
Doutoranda em Educação – PPGE – UFSC
Francelino, professor estudioso do folclore e da tradição da
ilha, que gostava de registrar em seu pequeno caderno as
mais assombrosas histórias, causos fantásticos e histórias
de pescadores. Além dos imigrantes do Arquipélago dos
Açores, que chegaram para habitar a ilha, um mundo de
mistérios cheio de superstições, histórias, lendas, mitos e
festas populares ajudou a formar nossa história e nossa
cultura, compondo a magia da ilha.
Dentre as inúmeras histórias contadas, a do boi-
de-mamão é uma das mais conhecidas e dizem que a
brincadeira ganhou esse nome porque “[...] a cabeça do
A produção literária de Rogério Andrade Barbosa
Referência
201
O menino
revolucionário
Elika da Silva69
69
Mestre em Educação – PPGE – UFSC
fazer muito esforço físico, por isso, passava a maior parte
de seu tempo lendo, hábito que cultivou transformando-
se em anos de estudos em casa com sua mãe. O menino
acabou tornando-se médico e, ao lado de um colega tão
sonhador quanto ele, percorreu o continente latino-
americano, tendo a oportunidade de presenciar as belezas
e as desigualdades sociais do continente. Insatisfeito com
o que via, ele iniciou a luta por seus ideais.
O autor traz, no final do livro, algumas curiosidades
sobre a vida de Ernesto Guevara, mais conhecido por Che,
destacando que, entre tantas coisas admiráveis, está o fato
203
mais justas. É uma figura histórica importante e um ícone
cultural em todo o mundo; seu nome e seu rosto viraram
símbolos para as gerações futuras.
Referência
BARBOSA, Rogério Andrade. O menino que sonhava
transformar o mundo. Ilustrações de Salmo Dansa. Rio de
Janeiro: Pallas, 2009. Nã paginado.
Um misterioso
carnaval
70
Professora de Educação Infantil na Rede Municipal de Ensino de
Florianópolis – (RME/ PMF)
resultou nesse livro, reescrito e atualizado no ano de 2004.
Nas páginas 109 e 110, findando o livro, está uma breve
biografia do autor e uma lista de títulos publicados até
aquele ano (2005) pela mesma editora.
Na primeira parte da história, intitulada, “Há mais
de trezentos anos”, o autor contextualiza historicamente
o período da invasão holandesa que teve início no
litoral pernambucano, avançando até a então capital de
Pernambuco, Olinda. Em meio aos entraves da invasão,
um frade português, Frei Vicente de Carvalho, enterrou,
nas dependências do Convento do Carmo, um baú de ferro
e, com ele, segredos e mistérios que seriam desvendados
205
Percorrendo o caminho do Rio de Janeiro a Olinda, o leitor
pode conhecer, através da trama, os lugares e as realidades
diferentes desse pedaço do Brasil, como montanhas e vales
na divisa de Minas Gerais com a Bahia, o sertão baiano
miserável, seco e árido, entre outros.
Nessa parte da história, ainda no ônibus, Thiago
conheceu Hendrick Vermeer, um velhinho holandês
que foi estranhamente assassinado durante a viagem. Os
suspeitos descem do ônibus minutos antes que os demais
passageiros descobrissem tão espantoso acontecimento
e que Thiago percebesse que a maleta do seu mais novo
amigo havia desaparecido. Depois de uma longa viagem e
de prestar depoimento numa delegacia de Recife, Thiago
finalmente chegou até Olinda para o tão esperado carnaval.
Foi quando ele descobriu que o velhinho havia colocado
em sua mochila um misterioso mapa, mas, cansado, ele
deixou a folia do carnaval e o mistério do mapa para depois.
No dia seguinte, ainda se recuperando dos
inconvenientes da viagem, ele conheceu Briggite, uma
turista da Alemanha que passou a acompanhá-lo em sua
estada em Olinda, tanto na folia, quanto na sua saga em
descobrir pra onde e pra que serviria o tal mapa, aquele que
o velhinho holandês havia colocado em sua mochila antes
de morrer. Juntos, eles vivem uma emocionante busca a
uma possível fortuna enterrada em um antigo convento
construído por portugueses por volta do ano de 1588.
Em meio a segredos, tesouros, folia, maracatus,
mamulengos e frevo, a obra traz elementos da história, da
A produção literária de Rogério Andrade Barbosa
Referência
BARBOSA, Rogério Andrade. O Tesouro de Olinda. Ilustrações
de Rosinha Campos. São Paulo: Melhoramentos, 2005.
As aventuras de
toninho e seu avô
71
Mestranda em Educação – PPGE – UFSC.
permeado da beleza proporcionada pela paisagem da
cidade do Rio de Janeiro. Um percurso feito pelo espaço
físico somado às histórias contadas pelo avô, que faz o
menino viajar embalado por sua imaginação. O enredo
recebe uma dose de suspense quando o avô encontra
uma possível carta em um livro antigo, aguçando, assim, a
curiosidade de Toninho.
Na última parte do livro, “Caçadores de tesouro e o
mistério continua”, Toninho e o avô levam a misteriosa
carta para verificação de sua autenticidade. Eles encontram
um sujeito muito suspeito que quer avaliar a carta, mas o
A produção literária de Rogério Andrade Barbosa
Referência
208
72
Mestrando em Educação – PPGE – UFSC
Talvez, motivado por todos esses questionamentos,
Rogério Andrade Barbosa escreveu Na trilha do mamute.
Ambientado no estado de Roraima, o enredo leva a
ficção juvenil de Barbosa para dentro de um dos estados
brasileiros onde há mais registros de vestígios de vidas já
extintas, encontrados em sítios arqueológicos. Aproveita-
se o autor, também, do fato de a maior parte do estado de
Roraima ser de área de floresta, propício a um enredo que
tem como princípio provocar uma revolução na ciência
mundial e manter essa descoberta em segredo. E o que
pretende o enredo do livro?
A produção literária de Rogério Andrade Barbosa
Referência
BARBOSA, Rogério Andrade. Na Trilha do Mamute.
Ilustrações de Rodval Martins. São Paulo: Saraiva, 2001.
Comunicação
elegante
73
Mestrando em Educação – PPGE – UFSC
e o mundo pré-histórico. Agora, a tarefa de levar-nos a esse
lugar é do garoto Robinho, que, atraído por uma mensagem
vinda por meio de um pombo-correio, vai ao encontro de
uma garota desaparecida por conta de um sequestro, de
vigaristas, contrabandistas e de fósseis de animais pré-
históricos, encontrados num dos sítios arqueológicos mais
importantes do mundo, no nordeste brasileiro!
Com uma história como essa, o leitor certamente
sairá cheio de universos paralelos a serem montados em
sua imaginação.
A produção literária de Rogério Andrade Barbosa
Referência
212
77
Mestre em Educação – PPGE – UFOP
não correspondidas. Os namorados, em anonimato,
parecem reviver a história e, nesse movimento, as versões
se cruzam e descruzam. O olhar na época, que parecia
não ser correspondido, ganha novo tom com as versões
entrecruzadas e os envolvidos descobrem que seus olhares
se cruzaram, mas de maneira diferente.
A ilustração, lembrando desenho a giz, remete-
nos às atividades e aos amores escolares. O desenho dos
enamorados não traz traços que possibilitem o autor
identificar caraterísticas físicas peculiares dos meninos
apaixonados, mas remete a meninos e meninas de
A produção literária de Rogério Andrade Barbosa
Referência
BARBOSA, Rogério Andrade. Meu primeiro amor. Ilustrações
de Rosa Campos: DCL, 2008.
A poesia dos
contos de esquimós
78
Doutoranda em Ciência da Informação – PGCIM – UFSC
Contadora de histórias
Há ainda explicações sobre como a força das palavras deu
origem ao dia e à noite; como o desejo de dois irmãos de
vencer o medo fez surgir o sol e a lua; e como o vento se
espalhou por toda a terra. O leitor também conhecerá o
mistério dos homens invisíveis e os agrados feitos pelos
esquimós à furiosa deusa Nuliajuk.
As ilustrações de Graça Lima, em tons frios e
brancos, remetem à poesia e à beleza da paisagem em que
a neve é soberana durante quase todo o ano. Ursos polares,
raposas brancas, lobos, cães do gelo, homens, mulheres e
crianças aquecidas com pesados casacos de pele de animais
A produção literária de Rogério Andrade Barbosa
Referência
BARBOSA, Rogério Andrade. Contos da terra do gelo.
Ilustrações de Graça Lima. São Paulo: Ed. do Brasil, 2012.
Por que os homens
não me escutam?
79
Mestranda em Educação – PPGE – UFSC
Nesse sentido, torna-se difícil um posicionamento quanto
ao gênero dessa obra, sendo que o texto é nitidamente
pedagógico e informativo. No entanto, essas propriedades
diluem-se na poética das imagens. Marcelo D’Salete, o
ilustrador, utiliza o guache sobre papel, transmitindo com
a técnica certo grau de realismo e muito lirismo.
A ilustração da capa, que estrategicamente tem
continuidade na quarta capa, ganha sentido e força com
a palavra do título: Tietê. O olhar de perplexidade dos
personagens, como se eles percebessem pela primeira vez
algo tão presente no seu cotidiano, incita-nos à pergunta:
A produção literária de Rogério Andrade Barbosa
Referência
BARBOSA, Rogério Andrade. Ai de ti, Tiete. Ilustrações de
Marcelo D’Salete. São Paulo: DCL, 2005. Não paginado.
De um passeio
a uma “prisão”:
a língua de sinais
como sobrevivência
80
Mestre em Educação – PPGE – UFSC
Rodrigo, um dos personagens principais da história,
tem 15 anos, apresenta problemas de audição e fala, conhece
a linguagem de sinais e é chamado de cientista pelos colegas.
No zoológico, ele conversa com um chipanzé através da
linguagem de sinais. De volta ao colégio, conversa com o
professor de biologia e, junto com ele e com Fernando, neto
de seu professor e também biólogo, retornam ao zoológico,
mas o chipanzé havia sido devolvido ao dono, um sujeito
suspeito, segundo o professor.
Rodrigo e Fernando decidem investigar o dono
do chipanzé, Nestor. Entram escondidos na casa dele,
encontram vários filhotes aprisionados e acabam sendo
A produção literária de Rogério Andrade Barbosa
Referência
BARBOSA, Rogério Andrade. O enigma dos chipanzés.
Ilustrações de Alberto Llinares. São Paulo, Saraiva, 2005. 95 p.
Uma peça de teatro
para aprender a
cuidar da natureza
81
Doutora em Educação – PPGE – UFSC
frases com letras em formato itálico. O texto é finalizado
com um pequeno parágrafo que conta a história do teatro.
Na sequência de páginas são apresentados o cenário
e as personagens da peça para, então, dar-se início à
narrativa. A história se passa no sertão nordestino, numa
terra árida cercada por cactos. Rosinha, filha de simples
camponeses, resolve aventurar-se em outras paragens para
conseguir ajuda e melhorar a vida da família.
Em outro espaço, na mata, uma criatura chamada
Pé de Garrafa, nome dado por conta de seu grande pé
esquerdo, destrói as flores que crescem dia a dia pelas
sementes jogadas por Gabê, o protetor da natureza, que
promete às flores protegê-las da criatura que as está
A produção literária de Rogério Andrade Barbosa
Referência
BARBOSA, Rogério Andrade. O protetor da natureza – Texto
teatral em quatro atos. Ilustrações de Jô Oliveira. São Paulo:
Larousse do Brasil, 2009.
Uma história de amor
entre Hinemoa
e Tutanekai
82
Doutoranda em Educação – PPGE – UFSC
Inicia-se falando da Haka, a dança tradicional do povo
maori. O conto apresenta uma história de amor à primeira
vista entre Hinemoa, uma jovem bela, de cabelos negros,
e Tutanekai, um dançarino ágil e bonito, descendente dos
primeiros povoadores, povo conhecido como caçadores
de moas, gigantescas aves que foram perseguidas até sua
extinção. Hinemoa ao ver Tutanekai encanta-se e apaixona-
se perdidamente. Ambos ficam hipnotizados, enamorados,
mas terão o maior dos obstáculos que é vencer o zelo e
os ciúmes do pai de Hinemoa, já que, aos olhos do pai,
nenhum pretendente é digno da filha. A moça morava
A produção literária de Rogério Andrade Barbosa
225
biografia do autor na quarta capa, que destaca alguns
prêmios, entre eles o de 2005, recebido da Academia
Brasileira de Letras de Literatura Infanto-Juvenil.
Referência
BARBOSA, Rogério Andrade. Os amantes do Lago Rotorua.
Ilustrações de Gonzalo Carcamo. São Paulo: Edições SM, 2005.
(Cantos do mundo). Não paginado.
Sangue
de índio
83
Mestrando em Educação – PPGE – UFSC
que se acham melhores devido à sua classe social, apanha
covardemente de uma gangue cujo líder é justamente um
daqueles jovens baderneiros que acha que um índio é uma
raça menor, um estorvo.
Passado um tempo e já crescido, o jovem, ainda
sentindo os traumas da surra, sai da cidade e vai procurar
um lugar que ele ouviu dizer ser pacifista e encontra na
cidade de Alto Paraíso, no Estado de Goiás, o lugar perfeito
para viver. De acordo com os esotéricos, a cidade de Alto
Paraíso é um centro de energização e equilíbrio por estar
localizada sobre um bloco de cristal gigantesco, o que lhe
227
romance e tocando na questão do tráfico de animais – o
lobo guará, típico dessa região, chega a desenvolver-se no
enredo como um dos personagens centrais – Sangue de
Índio diverte e, ao mesmo tempo, traz uma reflexão sobre
problemas contemporâneos.
Referência
BARBOSA, Rogério Andrade. Sangue de índio. Ilustrações de
Ciça Fittipaldi. São Paulo: Melhoramentos, 2006.
Movimento
estudantil:
agosto de 1992
Elika da Silva84
84
Mestre em Educação – PPGE – UFSC
a Avenida Rio Branco cantando e batendo palmas com
faixas e cartazes “[...] exigindo mais verbas para a educação
e a renúncia de políticos e autoridades corruptos”
(BARBOSA, 2006, p. 6). Em meio ao renascimento do
movimento estudantil, Rômulo e Júlia se cruzam; ele, um
dos mais atuantes no manifesto, vice-presidente do grêmio
estudantil de sua escola e membro da União Brasileira
dos Estudantes Secundaristas, era filho de um jornalista,
vítima da tortura, ex-exilado da década de 1960; ela, uma
menina tímida e assustada, fez amizade com o Rômulo
e ajudou-o a fazer a panfletagem da manifestação. O pai
229
Descobre-se que ela é, na verdade, filha de Maria Regina,
uma estudante torturada e desaparecida na década de
1960. No último capítulo, era mês de dezembro e Júlia,
por decisão da justiça, fica sob a guarda de seus avós
maternos. O então presidente, Fernando Collor de Mello,
renuncia e os dois jovens começam a namorar.
Enfim, esse livro é uma excelente sugestão de leitura
tanto para o público juvenil como para o adulto, porque
envolve e provoca o leitor a refletir sobre dois momentos
históricos: o período da ditadura, quando um movimento
politizado e militante sofreu sérias consequências por
conta da luta pelos seus direitos e quando muitos foram
torturados e/ou mortos; e o período dos caras-pintadas, em
1992, em que, com o apoio da imprensa, os jovens saíram
às ruas numa passeata “[...] tranquila e bem-humorada,
sem golpes de cassetete e bombas de gás lacrimogêneo
estourando a torto e direito” (BARBOSA, 2006, p. 6).
Altamente recomendável – jovens – FNLIJ – 1993
Catálogo da Feira de Bolonha – 1994
Referência
BARBOSA, Rogério Andrade. Rômulo e Júlia – Os caras-
pintadas. Ilustrações de Roberto Weigand. São Paulo: FTD,
2006.
A produção literária de Rogério Andrade Barbosa
230
Mistérios em ouro
preto: sobre uma
jaqueta, ser escritor e
uma cidade histórica
85
Mestranda em Educação – PPGE – UFSC
diferentes por meio da literatura, embora, conforme
a descrição apresentada na narrativa, não seja ele um
estereótipo de rato de literatura apartado da vida juvenil; o
garoto é praticante de esportes e tem a pele bronzeada por
conta da prática das atividades físicas.
Após perder o ônibus direto do Rio de Janeiro para
Ouro Preto, Gabriel precisou fazer baldeação com parada
em Belo Horizonte, à noite, na rodoviária. Lá, reparou
em um homem mal-encarado, vestindo um casaco negro.
Cansado, Gabriel adormeceu e, ao despertar perto da hora
do ônibus partir, percebeu que o casaco negro estava sobre
A produção literária de Rogério Andrade Barbosa
Referência
BARBOSA, Rogério Andrade. O casaco negro. São Paulo:
Melhoramentos, 2003.
233
No interior da
amazônia: sobre
ribeirinhos, caboclos
e lendas indígenas
86
Mestranda em Educação – PPGE – UFSC
Em Mapinguari, as ilustrações de Roko mostram um
monstro assassino e contribuem para o clima de tensão e
curiosidade que envolve todo o livro. A narrativa leva esse
nome por tratar-se de uma lenda amazônica, derivada de
lendas dos indígenas dessa região do Brasil. Nas lendas, o
Mapinguari vive dentro da floresta e é um gigante com o
corpo todo peludo, de um olho só e com a boca na barriga.
É colocado como o responsável por uma série de mortes
estranhas ocorridas na população ribeirinha da divisa
entre os estados do Pará e do Amazonas, que mora nas
proximidades dos rios, em casas de palafitas (construídas
235
de fazer uma reportagem que abra as portas de grandes
jornais para a sua escrita. Com o apoio de sua namorada,
Letícia, ele parte de Belém para investigar as mortes. No
interior do estado do Pará, Marco descobre um processo
de degradação da floresta amazônica, causado pelas
madeireiras. Os moradores da região ribeirinha vivem em
condições precárias, sem luz elétrica, rede de esgoto ou
água encanada. Marco Polo escuta os poucos depoimentos
daqueles que se habilitaram a conversar e vai tomando
nota de tudo o que pode, mas, descrente da possibilidade
de existência de um Mapinguari, ele acredita que se trata
de uma fera faminta.
Entre as conversas, o jornalista descobre que há 15
anos houve ali o linchamento de um curandeiro acusado
de feitiçaria e que ninguém foi responsabilizado por isso.
São mistérios que se somam nessa narrativa, que vai
prendendo o leitor conforme se vai adentrando a mata
amazônica com essa leitura.
Referência
BARBOSA, Rogério Andrade. Mapinguari: o devorador de
cabeças. Ilustrações de Roko. São Paulo: FTD, 1999.
A produção literária de Rogério Andrade Barbosa
236
Cícero e a busca
por direitos
87
Doutora em Educação – PPGE – UFSC
malhado, último sobrevivente de uma criação doméstica
que andava solto pelo terreiro.
Agarrado ao seu cabritinho, Cícero se esforça para
não chorar no caminho para a feira. O pai o apressa para ir
ao local onde se vendem animais. Gritarias, porcos imensos
e leitõezinhos chorões grunhem desesperadamente.
Feirantes reclamam, têm pouco dinheiro, somente de
alguns forasteiros. Um deles compra o cabritinho de
Cícero, que se afasta puxando Direitos por uma corda.
A ilustração, alternando as 22 páginas entre o colorido de
umas e o acinzentado de outras, metaforiza a disposição
A produção literária de Rogério Andrade Barbosa
Referência
BARBOSA, Rogério Andrade. Lutando por Direitos.
239
Ilustrações de Daisy Startari. São Paulo: Melhoramentos, 2005.
A múmia do gelo e
seus segredos
Eliane Debus88
88
Doutora em Letras. Professora UFSC.
corpo da múmia, o sêmen é levado para o Brasil, onde o
cientista, aplicando técnicas da Segunda Guerra Mundial,
começa a fazer experiências de fecundação, sequestrando
mulheres e matando-as, até nascer Gorky, que é criado
como um homem das cavernas. Sem a língua e com
instinto selvagem, o personagem começa a matar aqueles
que aparecem na casa.
Luísa, filha de um novo morador da cidade, é
sequestrada por Gorky, que é morto pelos policiais após um
confronto. A narrativa é entretecida com o aparecimento de
outro corpo no gelo e a discussão sobre a possibilidade de
Referência
241
BARBOSA, Rogério Andrade. Os segredos da múmia do
gelo. Ilustrações de Rogério Borges. São Paulo: FTD, 1995.
Voo pleno
em liberdade
Eliane Debus89
89
Doutora em Letras. Professora UFSC.
mas, com o auxílio de outras aves, a liberdade chega para
a pequena ave.
Um paratexto final apresenta uma ficha técnica da ave
em extinção, alertando o leitor para o cuidado com as aves.
Impossível sair da leitura sem problematizar criticamente a
destruição que cerca a flora e a fauna brasileiras.
Referência
BARBOSA, Rogério Andrade. A vingança do falcão.
Ilustrações de Rogério Borges. São Paulo: FTD, 1992.
243
Aventuras e
descobertas na
Pedra da Gávea
90
Doutoranda em Educação – PPGE – UFSC
Ao copiar as inscrições, Vinícius inicia uma jornada
buscando decifrar a mensagem da pedra e, ao procurar
por respostas, ele conhece dois grandes professores
de arqueologia e a jovem Sumara, por quem acaba se
apaixonando. A partir daí, ele envolve-se em uma arriscada
aventura que quase lhe custou a vida.
A capa ilustrada com cores vibrantes apresenta o
jovem aventureiro voando de asa-delta, no entanto, são
poucas as ilustrações que compõem o interior do livro e
todas são em preto e branco. Uma história recheada de
mistérios e suspense, tendo como pano de fundo um
Referência
245
BARBOSA, Rogério Andrade. A maldição das inscrições na
Pedra da Gávea. Ilustrações de Marcelo Caribé. São Paulo:
FTD, 1997.
O sumiço das
tartarugas
91
Doutoranda em Educação – PPGE – UFSC
A narrativa de Rogério Andrade Barbosa acontece
na Bahia e apresenta elementos de referência cultural e
geográfica, como o Pelourinho, a Casa de Jorge Amado, a
Praça Castro Alves, o Elevador Lacerda, a Praia do Forte,
além de referendar informações para a ficção oriundas do
Greenpeace, Tamar – Programa Brasileiro de Conservação
das Tartarugas Marinhas, Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e das Organizações
das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
(Unesco).
A história tem como protagonistas Patrick Grant,
247
animais em extinção.
Referência
BARBOSA, Rogério Andrade. S.O.S. tartarugas marinhas.
Ilustrações de Roger Mello. São Paulo: Melhoramentos, 2005.
A magia de
muiraquitã
94
Doutoranda em Educação – PPGE – UFSC
artefato indígena chamado muiraquitã que possuí uma
essência mágica.
Como no conto de Chung Tzu, o menino com
a guarda do muiraquitã, sonha que é uma borboleta e
acompanha o seu tio-avô em terras brasileiras desde a
chegada em São Paulo até Porto Velho, no período da
construção da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré (EFMM),
que foi efetivamente construída entre 1907 e 1912 e tem
366 quilômetros de extensão, atraindo pessoas de todo
o mundo e sendo responsável pelo desenvolvimento da
capital no século passado. Essa estrada foi popularmente
249
distintas ao seu país de origem.
Referência
BARBOSA, Rogério Andrade. A viagem de Shaozu. Ilustrações
de Eduardo Engel. São Paulo: Melhoramentos, 2008.