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Direção Editorial
Comitê Científico
Modernismo no Ceará (1922 – 1931): Práticas Letradas, Cotidiano e Experiência Estética [recurso
eletrônico] / Thiago da Silva Nobre -- Porto Alegre, RS: Editora Fi, 2022.
212 p.
ISBN - 978-65-5917-474-4
DOI - 10.22350/9786559174744
CDD: 900
Apresentação 11
Thiago da Silva Nobre
Prefácio 13
Lívia Verena Cunha do Rosário
Introdução 16
Capítulo 01 24
A Metrópole Formidável
1.1 – Modernidade, Modernização e Modernismo(s) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
1.2 – Os canibais daqui. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
1.3 – A mocidade bradou o alarme, está iniciada a reação! . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
Capítulo 02 69
Literatura como Diversão
2.1 - Uma proposta irrecusável . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69
2.2 – O canto novo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87
2.3 - Rita de Queluz e o seu livro invisível . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 107
Capítulo 03 120
Imprensa como trincheira
3.1 - Falando do Povo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 120
3.2 - Uma desvairada match literária . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 143
3.3 - A Trindade Capenga . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 166
Fontes 202
Bibliografia 205
Apresentação
Este livro que agora o leitor tem em mãos foi fruto da minha disser-
tação de mestrado, defendida na Universidade Estadual do Ceará em 2018,
intitulada A Tribu de Antropofagia: Práticas Letradas, Cotidiano e Moder-
nismo(s) em Fortaleza (1922 – 1931). Esta pesquisa foi iniciada ainda na
licenciatura, em meados de 2010, quando pesquisei outro movimento lite-
rário de Fortaleza para a monografia, o Grupo Clã, que é considerado a 2ª
geração modernista, tendo iniciado seus trabalhos na década de 1940.
À época e ainda hoje os livros e fontes sobre esse movimento literário,
ou seja, a 1ª geração modernista de Fortaleza, são fragmentárias e disper-
sas. Por isso acho, sem falsa modéstia, que esse trabalho poderá ajudar
pesquisadores interessados no tema e também poderá, porque não, diver-
tir e entreter o leitor curioso sobre esse movimento estética ocorrido no
início do século XX, em uma capital que se modernizava rapidamente mas
ainda guardava ares de província.
Tentei reconstruir o contexto da cidade de Fortaleza do período utili-
zando documentos oficiais, relatos memorialísticos, jornais e historiadores
que escreveram sobre o tema. Tentei, também, reconstruir o movimento
real dessa geração de intelectuais que se uniu em torno da promoção e
divulgação do modernismo no Ceará, publicando livros e escrevendo in-
tensamente nos periódicos do seu tempo. Por fim, mas não menos
importante, debati sobre o cotidiano da cidade articulando literatura e jor-
nalismo para mostrar a recorrência de temas, opiniões, polêmicas,
disputas, propostas, etc.
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Doutoranda em Estudos de Literatura - UFF
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Referência
ADICHIE, Chimamanda Ngozi. O perigo de uma história única. São Paulo: Companhia das
Letras, 2019.
Introdução
1
Sabemos o quanto conceito Modernismo é impreciso e que vários autores têm perspectivas diferentes. Entendendo
isto, a pesquisa se limita ao caso brasileiro, especificamente o cearense, buscando as suas peculiaridades e as suas
especificidades, não esquecendo, é claro, a influência que as vanguardas europeias proporcionaram para tal, bem
como os centros difusores de cultura (Rio de Janeiro e São Paulo) à época. Sendo assim, adotaremos o conceito de
Modernismos, proposto por Monica Pimenta Velloso (2010), e do qual se procurará discorrer devidamente em
momento oportuno no decorrer do texto.
2
Bacharel em Direito, exerceu a advocacia e o magistério, porém também foi jornalista. Fora entusiasta do
comunismo.
3
Foi tipógrafo, funcionário na Rede de Viação Cearense e inspetor de ensino na Diretoria de Instrução Pública do
Estado.
4
Foi funcionário do Ministério da Viação, lotado na Rede Viação Cearense.
5
Foi oficial de gabinete no governo de Matos Peixoto, em 1928.
6
Pode-se citar, também, Rachel de Queiroz, Paulo Sarasate, Demócrito Rocha, Mario Sobreira de Andrade, etc.
7
Conceito elástico que periodiza, entre a década e o século, a sucessão humana no espaço e no tempo. A geração,
semelhante a uma respiração, é um produto da cultura, existindo a partir do momento em que cria uma existência
autônoma, uma identidade. Ela é modelada pelo acontecimento, muitas vezes fruto da autorepresentação e da
autoproclamação. Ou seja, o sentimento de pertencer ou ter pertencido (SIRINELLI, 2006).
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8
Cipó de fogo apareceu, em 27 de setembro de 1927, sob os auspícios dos intelectuais Mário Sobreira de Andrade,
João Jacques e Heitor Marçal.
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A partir do debate de Norbert Elias (1994), sabe-se que o conceito de civilização não significa o mesmo nas diferentes
nações ocidentais. Para britânicos e franceses o termo demonstra o seu orgulho em relação à importância de suas
nações para o progresso do ocidente. Pode se referir a fatos políticos ou econômicos, religiosos ou técnicos, morais
ou sociais. Descreve um processo ou o seu resultado, é algo que está sempre em movimento. Em certa medida, o
conceito de civilização minimiza as diferenças nacionais e enfatiza o que é comum entre os indivíduos, ou,
supostamente, deveria ser. Em suma, é a manifesta autoconfiança de povos cujas fronteiras e a identidade nacional
foram estabelecidas e consolidadas há tempos, podendo, assim, expandir sua influência. Em contrapartida, para os
alemães o mesmo conceito (Zivilisation) significa algo útil, mas com importância menor, compreendendo aparência
externa dos seres humanos, a superfície da existência. A palavra que expressa o orgulho alemão em seus feitos e em
seu ser, é Kultur. Ele alude a fatos intelectuais, artísticos e religiosos de um lado, separando para outro lado os fatos
políticos, econômicos e sociais. Kultur dá ensejo às diferenças nacionais e à identidade particular dos grupos. Em
suma, reflete a situação de um povo que consolidou os seus limites nacionais e a sua unificação política tardiamente,
e que sempre teve que constituir incessantemente a sua identidade política e cultural.
10
Ainda segundo Nobert Elias (1994), o comportamento e vida afetiva dos ocidentais mudou gradualmente após a
Idade Média e a criação dos Estados nacionais. Mudança que segue em uma direção específica, rumo à “civilização”.
O processo civilizador propõe uma mudança peculiar aos sentimentos de vergonha e de delicadeza, muda o padrão
do que a sociedade exige e proíbe, move as perspectivas do desagradável, do que é socialmente aceito.
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A Metrópole Formidável
pelos destroços de culturas implodidas de dentro para fora. Tanto nos cen-
tros como nas periferias do capitalismo, a alucinação fantasmagórica dos
homens e das mulheres na Modernidade possuem o mesmo contexto. Mu-
dam-se apenas as formas e as intensidades. Porém, a sensação de
descolamento, de desraizamento, de ilusões óticas e de deriva, foram fe-
nômenos experimentados desde o início da Idade Moderna, cada vez mais
em escala global e planetária.
O século XIX reagiu, em um misto de incredulidade, espanto e encan-
tamento, às invenções concebidas pelo moderno sistema fabril e no vasto
e intricado panorama que se rascunhou em torno das novas relações entre
técnica e sociedade. Exemplo disso foi, em 1830, a massa de 400 mil ex-
pectadores que assistiram atônitos e maravilhados à viagem de
inauguração da linha ferroviária Liverpool-Manchester, umas das primei-
ras do mundo. Com o advento das ferrovias a técnica se desgarrou das
formas que a produziram e assumiu feição sobrenatural (HARDMAN,
1988).
Esse aspecto sobrenatural que recobre a tecnologia não é à toa. Tanto
é que uma das primeiras exibições comerciais de um filme (L'Arrivée d'un
train à La Ciotat), realizada pelos irmãos Lumière, em 1896, no qual se
retratou a chegada de um trem à estação, ficou marcado pela fuga atrapa-
lhada e ingênua da sala de exibição pelos expectadores mais
impressionáveis e sensíveis. Muitos deles, imersos na prestidigitação da
imagem reproduzida na tela, realmente acharam que seriam atropelados
e esmagados pelo imenso trem negro da película.
A Europa em meados do século XIX assistiu à consolidação do sistema
fabril, ao triunfo da ordem burguesa, ao advento das máquinas e novas
invenções, às transformações urbanas e aos avanços da ciência. Dois pro-
cessos fundamentais foram expressão da expansão do capitalismo e
constituição do imaginário burguês: o sistema fabril e a Modernidade. A
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um golpe militar para destituir o regime que já vinha dando sinais de es-
gotamento há tempos. Modos de viver, valores, costumes, instituições e
códigos, tidas como progressistas e civilizados, foram transplantados feito
rascunhos mal esboçados. Um otimismo desvairado inundou as mentes e
os corações dos indivíduos, acreditando eles que as conquistas da ciência
e da técnica colocariam a humanidade nos trilhos do progresso. A barbárie,
a guerra, a pobreza e o atraso seriam solapadas pelo desenvolvimento ir-
resistível. Novos mecanismos transmutaram a economia mundial, as
grandes potências perceberam a possibilidade de altos lucros em tratar
com mercados periféricos, onde a mão-de-obra era mais barata, os direitos
sociais exíguos e as matérias-primas abundantes. O capitalismo financeiro
através de trustes e cartéis deu novas formas às políticas monopolistas. Os
cada vez mais numerosos pobres das cidades amontoavam-se em habita-
ções minúsculas, pardieiros, pensões, tugúrios, choças, choupanas,
cabanas, cortiços, casas de taipa, em bairros empobrecidos ou logradouros
periféricos distantes. A multidão, novidade recente das grandes aglomera-
ções urbanas, enchia em torrentes as ruas, as calçadas e as praças todos os
dias. Não obstante a profusão de homens e de mulheres indo e vindo, a
consciência da solidão, do anonimato e do desamparo só aumentavam.
Para contê-los, diverti-los, discipliná-los e educá-los a cidade foi reformada
amplamente (NEVES, 2008).
A cidade de Fortaleza, mesmo que em posição periférica, não foi ex-
ceção à regra. O final do século XIX foi marcado pela intensificação da
política de exportação empreendida pelos governos republicanos, ampli-
ando setores ligados ao capitalismo mundial. O conflito de Independência
do Estados Unidos, em 1850, e a Guerra de Secessão, em 1866, construí-
ram para a dinamização da economia do Nordeste brasileiro. O produto
valorizado foi o algodão, destacando-se aquele do Ceará cuja condição cli-
mática garantia o desenvolvimento da espécie de fibra longa, preferido no
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mais diretos. Tal fato mudou com a emancipação econômica do Ceará pe-
rante Pernambuco, em 1799, tornando o porto de Fortaleza o principal
escoadouro das mercadorias do Estado. Anteriormente, todas as mercado-
rias passavam pelos portos de Recife (PIMENTEL, 1998).
Como sabemos, o final do século XIX e os primeiros decênios de sé-
culo XX foram marcados por várias mudanças importantes no
desenvolvimento econômico, social, cultural e político no Brasil. Transfor-
mações essas estimuladas pelo surgimento de novos valores e demandas
sociais perante o capitalismo que se mundializava compulsoriamente por
todo globo. No bojo dessas mutações, várias das principais cidades do Bra-
sil foram submetidas a uma série de intensas reformas estruturais e sociais
na malha urbana.
Consequência dos desejos e anseios das elites dominantes de acertar
o ritmo das suas cidades ao compasso frenético e feérico do capitalismo,
modernizando, remodelando e alinhando os centros urbanos tal qual os
padrões e modelos civilizacionais das metrópoles europeias.
Durante a segunda metade do século XIX e com maior ímpeto na Pri-
meira República (1889 – 1930), na cidade de Fortaleza, capital do Ceará,
ocorreram semelhantes ações reformadoras com o objetivo de regenera-
ção urbana. Os principais agentes promotores dessas transformações, em
Fortaleza, foram os grupos ligados ao comércio, consolidados pelos lucros
dos negócios de importação e exportação, bem como o montante de pro-
fissionais liberais (médicos, advogados, jornalistas, funcionários públicos,
engenheiros, sanitaristas, etc.) produzidos pela República brasileira. As eli-
tes intelectuais foram fundamentais na construção e na imposição da
ordem social, legitimadas pela racionalidade cientificista e positivista eu-
ropeia, servindo de base ideológica para as classes dominantes e para o
Estado implementarem as modificações necessárias aos seus anseios ime-
diatos.
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Foi na tarde de um desses dias, no ano de 1877, o ano da fome, que na Jacare-
canga, um dos arrabaldes de Fortaleza, arranchava-se à sombra de um
cajueiro uma família de retirantes, que, depois das torturas de uma viagem de
cem léguas, vinham aumentar a onda dos famintos. Sentado em um toro de
madeira, na primeira manhã, em frente ao rancho, meditava um homem
pouco mais de cinquenta anos: era o chefe da família. Profundamente triste
olhava para os alojamentos dos companheiros de infortúnio, abrigados tam-
bém à sombra de árvores. A fome com o cortejo de dores não pudera apagar
os traços daquela carnação. (TEÓFILO, 1979, p. 4)
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abordagem metonímica, que lida com a parte para poder generalizar sobre
o todo, pode nos ajudar muito na falta de abundância de vestígios.
Mas nem tudo está perdido. Apesar da dificuldade é possível sim re-
construir minimamente as trajetórias e as redes de sociabilidades desses
personagens da trama. Talvez a pista inicial seja fundação do grupo cha-
mado Tribu Cearense de Antropofagia. A notícia saiu no jornal O Povo do
dia 31 de maio de 1929, relatando que na manhã anterior havia sido fun-
dada na redação do vespertino, ao soar do boré 1, a Tribu Cearense de
Antropofagia.
1
Flauta indígena feita com osso.
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O Povo, aparecia logo abaixo de seu nome a descrição “da Tribu Cearense
de Antropofagia”. Fora isso, e como mencionamos acima, notícias outras
não foram encontradas sejam elas de ações ou empreitadas coletivas do
grupo.
No entanto, a pista que podemos tirar daí é a importância que as
redações de jornais e revistas tinham como locais de sociabilidades para
os intelectuais. Rachel de Queiroz teve a sua iniciação literária através das
páginas do jornal O Ceará, de coordenação de Júlio Ibiapina. O interesse
do público e do matutino se deu com a carta aberta, de uma tal Rita de
Queluz, que comentava sobre a primeira Eleição das Rainhas dos Estudan-
tes. Ninguém sabia ao certo quem era aquela moça e muitos afirmavam
que era homem usando nome de mulher com certeza. Quem dirimiu a
dúvida foi Jáder de Carvalho: era a filha mais velha do seu primo Daniel.
Certa vez a moça e a sua família vieram a Fortaleza, permitindo ao seu pai
apresentá-la aos seus colegas do jornal.
2
Dolor Barreira (1986) afirma que Oiteiros não constituíam rigorosamente uma sociedade literária, mas antes
reuniões sob a presidência de Inácio de Sampaio.
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3
Poema construído com 14 versos, sendo mais usados, geralmente, os versos decassílabos ou os alexandrinos.
4
Poema composto por 10 versos octossílabos.
5
É uma composição poética para ser cantada ou declamada, em homenagem a pessoa amada ou para enaltecer uma
personalidade, seja numa solenidade ou numa festiva.
6
Poema, muito em voga no Arcadismo, em que se exalta um feito ou uma pessoa, caracterizado pelo tom
excessivamente elogioso.
7
Composição musical de cunho erudito, de inspiração profana ou religiosa, destinada tanto ao coro como ao solo.
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8
Antigos integrantes da Academia Francesa (Rocha Lima, Araripe Júnior, Capistrano de Abreu, Tomáz Pompeu de
S. Brasil Filho, João Lopes) e aos Abolicionistas de 1884, como, por exemplo, Guilherme Studart, Oliveira Paiva,
Justiniano de Serpa, Antônio Bezerra, Rodolfo Teófilo, Júlio César da Fonseca, dentre outros (CARDOSO, 2009).
9
Membros da Padaria Espiritual e aos moços que fundaram o Centro Literário, como Antônio Sales, Lívio Barreto,
Adolfo Caminha, Lopes Filho, Ulisses Bezerra, Valdemiro Cavalcante, Xavier de Castro, Jovino Guedes, José Nava,
Sabino Batista, Temístocles Machado, Álvaro Martins, Soares Bulcão, Pádua Mamede, dentre outros (CARDOSO,
2009).
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[...] todos [...] concorram, com verdadeiro patriotismo, para o brilhante exito
da celebração memorável da data que assignala o primeiro século da Indepen-
dencia do Brasil. Toda a bôa vontade deve ser demonstrada em factos que
falem bem alto do elevado grau de civismo e da solida educação moral do povo
cearense. O dia 7 de Setembro ha de marcar em nossa amada terra, com a
mercê de Deus, o inicio de um novo cyclo de progressos edificantes. Para que
a cidade apresente o aspecto festivo e alegre que se lhe pretende dar, todas as
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familias devem pintar as frentes das suas casas, concorrendo, assim, para o
maior lustre da grandiosa commemoração. Não haverá cidadão brasileiro,
digno deste nome, que se recuse a prestar o seu adminiculo a tão alto fim pa-
triotico. (O Nordeste, 11 ago. 1922, p. 1)
Temos sobre nossa mesa de trabalho um tomo do livro organizado por Aldo
Prado e denominado <<Os Novos>>. Contendo colaboração farta, em prosa
e verso, de jovens cultores das letras, em nossa terra. [...] Foi uma idéa louva-
vel e que devéras ha de estimular a mocidade patrícia afim de prosseguir na
faina nobilitante de aprender e produzir, tendo, sempre em mira a honra os
creditos mentaes da Terra da Luz. (O Nordeste, 28 ago. 1922, p. 01)
1
Sob a influência da sociologia weberiana, Sérgio Buarque (1995) faz uso dos tipos ideias para entender a formação
e evolução das sociedades. Entre eles não há uma oposição radical e absoluta, ambos influenciam, em maior ou menor
grau, as decisões dos indivíduos. Tais tipos não existem em estado puro e fora do mundo das ideias. No entanto, não
há dúvida que os conceitos permitem compreender melhor os sujeitos e as suas relações em sociedade.
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Desde já, porém, cumprimos o dever de externar todo o alvoroço com que
aguardamos o instante de abraça-lo e de ouvi-lo, - e o que importa dizer: de
nos rendermos captivos ao encanto de sua palavra falada, que de ha muito nos
seduziu e de sua palavra escripta, cantante, para nós, até agora, apenas, atra-
vez das estrophes maravilhosas de seu verso [...]. (Ceará Ilustrado, 08 nov.
1925, p. 4)
2
Nasceu em Maranguape, em 16 de novembro de 1907. Estudou no Liceu do Ceará (turma de 1925). Tornou-se
bacharel, em 1930, pela Faculdade de Direito da Universidade do Brasil. Foi do Instituto do Ceará e da Academia
Cearense de Letras.
3
João da Ega é a projeção literária de Eça de Queirós. É um personagem contraditório. Por um lado, romântico e
sentimental, por outro, progressista e crítico, sarcástico do Portugal Constitucional. Boémio, excêntrico, exagerado,
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caricatural, anarquista sem Deus e sem moral. É leal com os amigos. Sofre também de diletantismo (concebe grandes
projetos literários que nunca chega a executar).
4
Abílio Manuel Guerra Junqueiro foi alto funcionário administrativo, político, deputado, jornalista, escritor e poeta.
Foi o poeta mais popular da sua época e o mais típico representante da chamada "Escola Nova". Poeta panfletário, a
sua poesia ajudou a criar o ambiente revolucionário que conduziu à implantação da República.
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5
Pílulas rosadas para pessoas pálidas.
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6
Poeta norte-americano, nascido na cidade de Huntington em 1819. Grande expoente do verso-livre.
7
Campina com pequenas e contínuas elevações arredondadas, típica da planície gaúcha.
8
Grande planície coberta de vegetação rasteira, na região meridional da América do Sul.
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Meu povo
vive, comigo, a inquietude contemporanea:
- Batalhando, em toda a extensão das coxilhas,
no pampa luminoso, infinito e marcial!
- Estuando, dynamisado, á sombra dos arranha-céos, em São Paulo!
- Vibrando,
versejando,
desafiando,
Ao som de cordas nostalgicas:
barbaro,
amoroso,
insoffrido,
capaz de todas as audacias,
capaz de todas as bravuras:
Europeu!
Em frente da tua paisagem, dessa tua paisagem com estradas, quintalejos,
campanários e burgos, que cabe toda na bola de vidro do teu jardim; deante
dessas tuas arvores que conheces pelo nome – o carvalho do açude, o choupo
do ferreiro, a tília da ponte – que conheces pelo nome como os teus cães, os
teus jumentos e as tuas vaccas; Europeu! Filho da obediencia, da economia e
do bom-senso. Tu não sabes o que é ser americano! (CARVALHO, Ronald de.
Toda a América, s. d., p. 10)
laboratório das raças fora executado com maestria. Seara aonde se podia
inventar, descobrir e correr, criando os caminhos com a planta do pé.
É sintomático perceber a tensão entre a tradição consolidada e a re-
sistência às novas práticas sociais, em relação às pressões e às
possibilidades ocorridas no cotidiano fortalezense e surgidas das experi-
ências advindas do capitalismo, da modernidade e da urbanização das
cidades, presentes nos temas dos poemas. Entre os assuntos mais comuns
do livro estão os novos modos de sociabilidade na cidade, o problema da
seca, a modernização urbana de Fortaleza, as moças da cidade, os retiran-
tes, as grandes obras no sertão, a miscigenação, as manifestações
operárias, a pátria, entre outros. O poema “Modernismo”, de Jáder de Car-
valho, exemplifica bem essa tensão existente:
Tudo tem sua phase de pujança. Agora se nos apresenta o charleston com seus
passos anti-estheticos ao ruido ensurdecedor do jazz. Valsa, rige-time, lan-
ceiro, polka, tudo emfim desapareceu dos nossos salões, outr’ora tão
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9
Provas pedestres, náuticas, ciclísticas, motociclísticas, automobilísticas, provas de natação, nado coordenados, saltos
ornamentais, provas de tiro, esgrima, pólo, luta romana, ginástica sueca, ginástica com aparelhos, ginástica rítmica,
demonstrações coletivas, beisebol, etc.
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da lei, caso de polícia. Por essa perspectiva ele era visto como uma pre-
sença conturbadora e sua difusão como uma ameaça crescente. O futebol
gerava o embaralhamento das posições relativas, suscitava identificações
desautorizadas, conquistava espaços outros e desafiava o tempo do traba-
lho e do lazer. Esse componente indisciplinado se voltava contra as
restrições discriminadoras, incomodando alguns grupos, mas por outro
lado atraindo multidões ensandecidas.
Continuando, o literato fez menção à primeira estação radiofônica de
Fortaleza, comparando com o seio rijos de uma moça, perfurando o cor-
pete azul do céu. A primeira estação radiotelegráfica de Fortaleza foi
instalada na Praia de Iracema, antiga Praia do Peixe, em 1922 (NIREZ,
2001). E o primeiro radio receptor foi construindo por Clóvis Menton de
Alencar. Contando apenas com algumas peças, bugigangas e uma válvula
receptora 216-A comprada no Rio de Janeiro, conseguira ouvir no dia 04
de outubro o sinal da Rádio Clube do Brasil (MENEZES, 2000).
E já finalizando a sua lírica, o poeta pressentiu a futuro ciclópico da
sua cidade. Para ele o novo homem, nascido da cabloca, da mestiça, seria
capaz de extrair as moléculas de aço maquino fatura e, assim, conceber a
metrópole formidável de ouropluma que surgiria, sendo ela vertiginosa,
febril e alucinante.
O advento da metrópole surgiu como um fenômeno surpreendente
para muitos, tanto espacialmente como temporalmente, pois representou
uma ruptura crítica com o passado recente. Afora uma pequena minoria
da população, a grande maioria das pessoas ignoravam por completo a
experiência de viver na modernidade, até o momento súbito em que foram
engolidas por ela. A cidade moderna proporcionou o contato da massa ur-
bana com uma gama variada de tecnologias usadas no transporte, na
comunicação, na produção, no consumo e no lazer. Essas circunstâncias
imprevistas modificaram as práticas cotidianas e se impuseram
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Como se pode ver, Rachel de Queiroz, ou, melhor dizer dizendo, Rita
de Queluz, teceu uma linha de raciocínio muito interessante acerca da ma-
nutenção do título de rainha, bem como levantou alguns argumentos para
mudar a alcunha carcomida e anacrônica por algo mais moderno, demo-
crático e condizente com a época. Muitos pensaram que tinha sido homem
que escreveu a carta. Mas logo Jáder de Carvalho, amigo da família, extir-
para a dúvida: “Isso é coisa da Rachelzinha. Filha do Daniel. É RQ, eu
conheço, o carimbo de Quixadá” (CARVALHO, 2007, p. 47).
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Vê-se bem, pelo aferro com que me cinjo a preceitos talvez comezinhos do
novo código, a intolerância apaixonada de recém-iniciada, o entusiasmo pueril
de uns dezoitos anos ainda incompletos; e ao mesmo tempo o velho calo sim-
bolista ainda se faz sentir, os voos de Condoreirismo barato ainda se iniciam,
ainda permanecem fragmentos dessa crosta lírica, que nós os da grande terra
verde e amarela só conseguiremos extirpar depois de alguns anos e muita boa
vontade, porque ela traz em si a força atávica de várias gerações [...]. Talvez
os traços do Simbolismo romântico se denunciem logo no título que os escolhi;
mas convenhamos! Creio que a arte moderna não nos proíbe o uso de uma
imagem que reputamos feliz. E eu nada encontrei que melhor exprimisse a
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populares, entre outros. Não que os poetas de O Canto Novo da Raça não
colocassem em questão tais temas, mas os botavam em relação direta com
elementos da modernidade e com o desenvolvimento da cidade, mos-
trando as contradições.
O poema que iniciou o livro é intitulado Nheengarêçaua. Em nheen-
gatu significa cantoria. No desenrolar da primeira parte do texto a autora
travou um diálogo possível entre as diferenças do homem do Sul e do ho-
mem do Norte. Primeiramente, acentuando as peculiaridades naturais das
duas regiões específicas. Vejamos:
Para a autora, o filho da terra seria pequeno e feioso, mas não menor
perseverante diante da agrura, tal qual um mandacaru. Quando a seca vi-
nha expulsando a vida dos rincões e esturricando a seiva vegetal, só eles,
sertanejo e mandacaru, isolados no meio da caatinga, conseguem sobrevi-
ver. O Homem estendendo suas mãos calejadas ao céu, rogando piedade e
clemência, enquanto O vegetal abre seus braços espinhosos ao sol incle-
mente, realizando a fotossíntese. Ambos parceiros de infortúnio, buscam
o apego à vida, lutando macambúzios e eriçados até o fim.
No entanto, tantos os habitantes do Norte como os do Sul, são a
mesma gente, são brasileiros. Mesmo que seu sangue tenha sido invadido
pelo europeu, a mestiçagem de várias gerações continua. E o Norte ainda
o teria puro. São todos irmãos, apesar das diferenças geográficas, técnicas,
culturais e de desenvolvimento. Porém, e apesar de falar da equidade das
populações diametralmente opostas, a escritora reconhece a liderança e o
poder econômico do Sul, especificamente São Paulo. O irmão longínquo,
senhor das fábricas, dos cafeeiros e do ouro. Ela ansiou que, mesmo com
todas as diferenças e peculiaridades do nortista, fosse possível estabelecer
relações fraternas e de cooperação, em um abraço.
Thiago da Silva Nobre | 119
[...] uma bateria descoberta para os embates francos e leaes, na arena da im-
prensa. E o futuro dirá da nossa fidelidade ao programma aqui traçado. O
caminho, que temos que percorrer, embora seja bordado de precipicios e se-
meado de espinhos, não será a picada sinuosa dos hypocritas, mas a estrada
real por onde marcham, alheiados de si mesmos, aquelles que se acostumaram
a fitas a claridade dos infinitos desnublados. Alenta-nos a confiança de chegar-
mos, incólumes, ao término da jornada. Mas se porventura, rolarmos no
abysmo, os que ficarem empunhando a pena poderão dizer como o poeta: Um
cadáver de mais, um sonhador de menos... (O Povo, 7 jan. 1928, p. 1)
1
O imposto do selo foi implantado na Inglaterra, em 1694, consistindo na cobrança sobre os documentos. O que
incluía a maioria dos documentos legais, como por exemplo, cheques, recibos, comissões militares, licenças de
casamento e transações de terras. Um selo físico devia ser anexado ao documento para indicar que o imposto tinha
sido devidamente pago.
Thiago da Silva Nobre | 123
relativa até 1881. Porém nos EUA ela foi consolidada amplamente com a
independência.
Várias inovações técnicas como o telégrafo, o cabo submarino, o tele-
fone e o rádio, dinamizaram o fluxo de informações e a velocidade de
impressão. Tão logo a grande imprensa percebeu a possibilidade de influ-
enciar e orientar a opinião através do fluxo de notícias. As associações
especializadas na coleta, preparação e distribuição dinamizaram o traba-
lho dos jornais quando o custo do telegrafo se tornou inviável em relação
ao baixo preço unitário do impresso. A partir da segunda metade do século
XIX a concorrência estava nas mãos das agências de notícias, que estavam
associadas aos monopólios industriais. A relação entre informação e opi-
nião não foi a única, mas logo surgiu a vinculação entre a opinião e a
publicidade, consistindo na forma organizada que a propaganda assumiu.
No entanto, o fato é que o anúncio surgiu de modo secundário, recebendo
grande resistência dos profissionais da imprensa, ao seu avanço gráfico,
que receavam ameaçar os valores éticos e estéticos da linha editorial, da
paginação e da arte gráfica. A passagem do século XIX para o XX, no Brasil,
marcou o aparecimento de numerosos jornais tanto nas capitais como no
interior. Exemplo disso foi a torrente de pasquins (ridículos, caricatos,
obscenos, despudorados e imorais) surgidos no Ceará: A Coisa (1902), o
Ceará Nu (1901) e o Nuzinho (1902). A imprensa prosseguiu o seu desen-
volvimento técnico, pois nas capitais ela ingressou na sua fase industrial,
tornou-se empresa com estrutura comercial. A informação aceitou de bom
grado a sua vocação, tornou-se mercadoria (SODRÉ, 1996).
As bases do jornalismo moderno foram criadas na Inglaterra. John
Walter introduziu nas oficinas do Times, fundando em 1814, a imprensa a
vapor, além de enviar os primeiros correspondentes estrangeiros e de
guerra para o continente, publicando os primeiros artigos de fundo. No
entanto, preservou o seu caráter aristocrático, expressão fidedigna da elite
124 | Modernismo no Ceará (1922 – 1931): Práticas Letradas, Cotidiano e Experiência Estética
2
Foi um político e jornalista francês, nascido em Paris. Ele foi o criador do jornal "La Presse", e inovou colocando
romances e propagandas nos seus periódicos. Émile também era muito conhecido por ser um grande defensor da
liberdade de imprensa e dos direitos dos cidadãos.
Thiago da Silva Nobre | 125
A vida nacional de cada povo, na vida universal de cada época. Dahi a necessi-
dade de crearmos uma arte brasileira – originada na dynamica constructora
da actualidade. E’ de Graça Aranha: Nem a imitação europêa, nem a imitação
americana: a creação brasileira. Que se cante, pois, o que é nosso. Inteiramente
nacional. Exclusivamente brasileiro. Amazonense, gaúcho, paulista, cea-
rense... Canta-se o que é do nosso povo, da nossa raça, das nossas tradicções.
Formem-se a arte nacional, puramente brasileira, sem mystificações africanas,
plangência lusa ou primitivismo de arco e flexa. Porque precisamos de uma
arte brasileira, como precisavamos de uma raça brasileira. (O Povo, 7 jan.
1929, p. 35)
Cearense, só ter tido sua segunda edição em 2011, oitenta e quatro anos
depois. Pasmem! As cadeiras de Literatura Cearense são optativas na uni-
versidade.
Acerca das pesquisas acadêmicas, há uma preferência temática pelo
final do século XIX, aquele que abrangeu a vigência da Padaria Espiritual.
Deixando um pouco de lado o início do século XX e, consequentemente, o
Modernismo. Basta ver a fortuna crítica dispendida ao objeto, é em dimi-
nuta, confessamos. Não se trataria aqui de defender um “complexo de
vira-lata”, afirmando quem seria o melhor ou o pior, pois “Toda experiên-
cia histórica é [...], em certo sentido, única” (THOMPSON, 2012, p. 79).
Pelo puro acaso caótico nascemos aqui e não em outro lugar, o que custaria
conhecer um pouco do que foi produzido nesse local, permitindo o desen-
volvimento de um sentimento de identidade e pertencimento.
Por isso não nos deixemos paralisar por concepções a priori, do tipo:
o Modernismo no Ceará produziu e publicou tão minguadamente, bem
como durou pouco tempo. Não! Os acervos, as fontes e pesquisa estão aí
para provar o contrário. “A história real revelar-se-á somente depois de
pesquisa muito árdua e não irá aparecer ao estalar de dedos esquemáticos”
(THOMPSON, 2012, p. 135).
O Modernismo no Brasil estaria inserido em um contexto mais
abrangente da tradição cultural, remontando, quem sabe, até o Roman-
tismo. Então Eduardo Jardim se propôs entender as implicações filosóficas
e teóricas do Modernismo com o legado especifico da cultura brasileira.
Ele começou a sua reflexão com a pergunta inicial: Qual seria a inserção
da problemática da brasilidade modernista no panorama da reflexão filo-
sófica do país? Para melhor compreensão do movimento de ideias
nacionalistas da época, devemos concebê-lo em uma dimensão mais am-
pla, não nos bastando resvalar nos aspectos artísticos e literário. Suas
manifestações reverberaram no quadro geral da cultura brasileira. Para
140 | Modernismo no Ceará (1922 – 1931): Práticas Letradas, Cotidiano e Experiência Estética
3
Chefe temporal de tribo indígena; cacique, morubixaba.
150 | Modernismo no Ceará (1922 – 1931): Práticas Letradas, Cotidiano e Experiência Estética
Plínio Salgado, Cassiano Ricardo, Menotti del Picchia, Candido Mota Filho
e Alfredo Elis. Eles formaram a linha de frente Modernismo conservador.
A inserção do Brasil na Modernidade se daria através do rompimento com
a herança cultural europeia. Seu lema não deixava espaço para titubeios:
originalidade ou morte! A contrapartida política dos verde-amarelos era o
autoritarismo, condição irrevogável da independência cultural do país. Foi
através do Correio Paulistano que eles divulgaram as suas ideias. Esses
artigos foram reunidos, em 1927, na coletânea O Curupira e o Carão. Em
maio de 1929, publicaram o manifesto “Nhengaçu Verde Amarelo”, defen-
dendo a integração étnico-cultural sob a marca da colonização portuguesa
e a manutenção das instituições conservadoras. Na década de 1930, o
grupo se dividiu em duas vertentes: o integralismo e o bandeirismo. Plínio
Salgado rompeu com os demais e fundou, em 1932, a Ação Integralista
Brasileira. Cassiano Ricardo fundou o Bandeirismo com os dissidentes do
grupo inicial. Eles tinham a proposta de fortalecimento do Estado, bem
como eram contra o comunismo e o fascismo, pois era preciso defender os
limites geográficos e culturais do país, interrompendo a penetração de ide-
ologias externas. Mesmo com todas essas divergências, parece que para os
modernistas do Ceará, não haveria essa contraposição irreconciliável. Em
vários momentos eles utilizaram o termo verde-amarelo como sinônimo
de antropofagia.
Essa peculiaridade também foi percebida por Sânzio de Azevedo, afir-
mando que os de Maracajá estavam “desinformados” em relação às
polêmicas paulistas.
Gosto de escrever sobre o que é nosso; nas minhas paginas, sinto remorso
quando não photografo a véla de uma jangada ou silhueta de uma ipê dou-
rado... Que se faça uma literatura brasileira para cantar o Brasil tal qual elle é:
cheio de flores, coberto de estrellas, povoado de heroes e de bandidos. E’ esse
o lindo sonho dos modernistas loucos! (O Povo, 4 jun., 1929, p. 5)
dos últimos tempos. E ainda havia quem dissesse que o Ceará era um de-
funto. Sobre o modernismo já ser vitorioso e se tornar escola literária, o
ressurgimento de escola poética, a formação de uma literatura radical-
mente brasileira e a poesia nova, ele falou que não haveria chance alguma,
pois o que se fez “depois do advento do Modernismo foi uma frente unica,
que não é Escola literaria, para combater qualquer gosto tendente a dar á
arte expressão de coisa sempre velha e inutil” (O Povo, 5 jun, 1929, p. 5).
Indiscutivelmente, o movimento já era vitorioso, porque estrangulou o úl-
timo soneto. Não seria possível o retorno de alguma escola poética. O
Modernismo foi o romper de algemas e a legitima expressão brasileira. A
nova arte poética correspondeu ao anseio coletivo de liberdade, pois tanto
a rima e a métrica eram cativeiros. A musicalidade estava dentro do pró-
prio idioma. Acerca do maior modernista brasileiro, ele reforçou a sua
opinião dizendo que acima de Mário de Andrade (o da Paulicéia), de Raul
Bopp, de Oswald de Andrade e de todos os grandes iniciadores do novo
credo, era o cantor do poema “Cabocla”, descrita por ele como a morena
flor dos sambas sertanejos. Jáder de Carvalho era o nome dele. Sobre Ma-
racajá e o melhor modernista do Ceará, ele falou que na prosa era Paulo
Sarasate e na poesia era Antonio Garrido (Demócrito Rocha), desde a es-
crita de “O Jaguaribe é uma Artéria Aberta”.
Em 6 de junho de 1929, veio à lume a resposta inesperada de Renato
Soldon, pois ele estava na reserva da equipe: 4 x 1!
O que não o impediu de marcar o quarto gol dos modernos. Apesar
de esquecido da escalação oficial, ele não conseguiu permanecer fora do
jogo. Sobre o Modernismo e se ele podia ser considerado uma escola, afir-
mou que ele causou uma utilíssima celeuma entre os passadistas
empregadores do metro e que pesavam as suas produções nas balanças
enferrujadas de Guimarães, Passos, Camões, Bilac. E no Ceará, estavam
morrendo de medo de serem devorados. Ele o considerou como escola,
154 | Modernismo no Ceará (1922 – 1931): Práticas Letradas, Cotidiano e Experiência Estética
porém não via com bons olhos esse termo. Pois era antiquado e lembrava
“ordem, regras, professores, sabatinas, etc. devíamos denominar o grande
movimento de Açougue literario. Ou simplesmente: - Açougue” (O Povo,
6 jun, 1929, p. 6). O movimento já era vitorioso, o que faltava era devorar
o resto dos vencidos. Assunto urgentíssimo! Pois esses perdedores eram
“uma infinidade de proselytos. De fetichistas. Já está proclamada a derrota
do passadismo. Vamos beber-lhe o sangue co cauim e comer-lhe a carne
em moquenca” (O Povo, 6 jun., 1929, p. 6).
Acerca do indianismo, do renascimento de escolas literárias, da for-
mação de uma literatura nacional e da poesia, ele comentou que era
assunto complicado, preferindo deixar de lado a explicação, bastaria a sua
prática. Julgou impossível o retorno de uma escola literária, bem como
acreditou na formação de uma literatura genuinamente brasileira através
do Modernismo. Pois ele “foi o período de gestação da antropofagia que
será em breve uma literatura genuinamente brasileira. Sem ll, cç, th, te,
eb, tt, nn, mm, ph, ff, rh, etc. descida antropofagica! Carnificina! ... Inicio
do Brasil brasileiro!” (O Povo, 6 jun., 1929, p. 6).
A poesia nova serviu para delinear os verdadeiros medíocres, nulos e
plagiadores. Eram considerados grandes inteligências, mas tudo não pas-
sava de enganação e ilusão. Debatiam pelos cafés Ruy, Camões, Dante,
Gorky, Camilo, Eça e não saiam disso. Os maiores modernistas brasileiros,
para ele, foi Raul Bopp na poesia e Oswald de Andrade na prosa. Sobre o
movimento no Ceará e Maracajá, ele disse que era ferrenho apoiador “E
com a mais forte demonstração empurrando-o para a frente. A minha pro-
paganda tem sido encarniçadissima!... Em casa. Na rua. Nos cafés. Nos
jornaes” (O Povo, 06 jun., 1929, p. 6). Apesar de conhecer e ter os dois
números publicados de Maracajá, os ingratos ainda não o haviam requisi-
tado nenhuma colaboração. “Injustos!... Exijo que me exijam!...” (O Povo,
Thiago da Silva Nobre | 155
6 junho, 1929, p. 6). O melhor poeta da turma era Filgueiras Lima, pois
concebeu a monstruosidade chamada “Jazz-band da Floresta”.
Em 7 de junho de 1929, foi divulgado a sexta resposta, mas o sabati-
nado (Gustavo Barroso), devido a suas respostas camaleônicas, mandou a
pelota por cima da trave. O placar permaneceu 4 x 1. Segundo Barroso, o
movimento modernista era útil e necessário. Mostraria vida, reação, fer-
mentação e ebulição, produzindo resultados. Ele era, também, o
protestantismo das letras, “cada cabeça uma sentença. Dahi sua antropo-
phagia: comem-se os seus propugnadores uns aos outros... E está certo”
(O Povo, 7 jun., 1929, p. 3). Mas ainda não era vitorioso, era um meio e
não um fim, o sucesso viria do que saísse daí.
Acerca do indianismo, do renascimento de alguma escola poética, da
formação de uma literatura brasileira, da poesia nova e do maior moder-
nista brasileiro, ele afirmou que os antigos representavam o universal pela
imagem da serpente que comia o próprio rabo. Tudo no universo era cí-
clico. Sendo assim, o Modernismo carecia de passado e de tradição para se
enraizar e se consolidar. O que havia de mais velho do que o índio? Só era
possível o retorno de alguma escola poética de forma relativa, pois “[...]
muitas vezes as escolas novas não passam de velhas escolas deisfarçadas
com aquellas penninhas da conhecida adivinhação do caxovro...” (O Povo,
7 jun., 1929, p. 3). O Modernismo contribuiu sim para a formação de lite-
ratura brasileira, pois havia nele um sentimento nacionalista bem
delineado, percebido na sua pesquisa pelo índio, pelo folclore e pelos dia-
letos regionais. Por isso ele tinha simpatia pelos novos. No entanto, ainda
faltava muita coisa para a poesia nova, apesar de trazer em si uma vanta-
gem. Somente os de verdadeiro talento eram toleráveis. Comparando os
dois tipos de poesia, ele usou o exemplo das qualidades de vinhos. Os bons
apreciadores sempre tinham preferência pelos vinhos secos, permitindo
sentir melhor a fragrância e o sabor da uva. Em contrapartida, nos vinhos
156 | Modernismo no Ceará (1922 – 1931): Práticas Letradas, Cotidiano e Experiência Estética
A poesia antiga tinha o assucar da rima e da metrica para nos enganar o ouvido
e, assim, um soneto trivial bem medido e bem rimado parecerá coisa fina.
Agora, não: nem pés, nem cabeça, nem rima, nem nada. E’ preciso, portanto;
o talento de Guilherme de Almeida e de Ronald de Carvalho para não sosso-
brar. Agora é que é imprescindivel seguir o conselho do espanhol: en el medio
hay poner talento. (O Povo, 7 jun., 1929, p. 3)
[...] entrou de chapeu na cabeça. E de chapeu de sol aberto. Foi o que se fez de
melhor no Brasil. A terra estava cheia de sonetos. Soneto é uma plantasinha
mirrada. Especie de tiririca. Nociva em toda a parte e não servia pra nada. Mas
o caboclo está fazendo a limpa... Vae plantar uma roça... (O Povo, 10 jun., 1929,
p. 3)
Ora, é obvio que nós precisamos conhecer tanto a pimenta do reino, como
literatura estrangeira. Devemos conhecer o commercio, as industrias e a cul-
tura mental de todos os povos. Mas conhecer tudo isso, que é alheio, para fazer
o que é nosso. Acabar de vez com a vassalagem literaria (O Povo, 13 jun., 1929,
p. 3)
4
Publicado pela primeira vez no Correio da Manhã em 18 de março de 1924, no Rio de Janeiro.
5
Publicado na Revista de Antropofagia em maio de 1929, em São Paulo.
Thiago da Silva Nobre | 161
6
Lúcio Varzea era o pseudoanônimo do poeta Júlio Maciel.
162 | Modernismo no Ceará (1922 – 1931): Práticas Letradas, Cotidiano e Experiência Estética
jornal O Povo. “Novidades, d’aqui? [...] uma enquête do Povo sobre mo-
dernismo a que ainda não respondi. Ando com uma preguiça!” (QUEIROZ,
1929, p. 01). O que imediatamente nos lembrou de Macunaíma e a sua
frase característica (ai que preguiça!). No entanto, prossigamos com a par-
tida. Segunda a poetisa, o Modernismo brasileiro não era apenas uma
corrente literária consequência da exaustão da tradição poética, bem como
da influência das vanguardas europeias. E afirmou que a avaliava “antes
[como] uma manifestação, ou um symptona – da inquietação fecunda da
geração, que em tudo demonstra a sua anciedade de produzir qualquer
cousa de novo e de nosso” (O Povo, 21 de junho de 1929, p. 03). Porém, o
que saltava aos olhos e causava espanto era a falta de congregação e a ex-
cessiva individualidade nas propostas, em que cada um parecia fundar a
sua própria escola. Bem diferente das escolas anteriores que possuíam
“[...] organização docil e enfileirada [...], onde cada unidade das facções
conclue perfeitamente os itens de seu programma e os segue com consci-
ência e afinco, obedecendo á voz do orientador...” (O Povo, 21 de junho de
1929, p. 03). Para ela, o movimento artístico atual não podia ser definido
como escola literária, não estando sujeitada ao ódio ou ao amor do grande
público. A própria discussão sobre a sua viabilidade era debater um pro-
blema nacional.
Sobre o indianismo, o renascimento de outra escola poética, a forma-
ção de uma literatura nacional, a poesia nova e o maior modernista
brasileiro, ela comentou que seria lastimável que todos os artistas se vol-
tassem somente ao índio, mas é nele que “[...] repousam a força e a belleza
da raça; que na gente abanheênga temos o tronco ethnico que mais nos
honra; e que, se o indianismo não é o único caminho a trilhar, é uma bella
vereda, rica de paysagens inéditas” (O Povo, 21 de junho de 1929, p. 03).
Não havia formas novas, apenas as mais oportunas. Qual das propostas
passadas estavam em coerência com o tumulto inquietante, o abandono
164 | Modernismo no Ceará (1922 – 1931): Práticas Letradas, Cotidiano e Experiência Estética
era uma escola), mas sim uma guinada antropofágica. “Introspecção. Bra-
silidade ou moquem! (O Povo, 25 de julho de 1929, p. 03). Era loucura o
renascimento de alguma escola poética do passado, “[com] Tangos e
[com] fóquices executadas ao cravo (da Holanda, necessariamente...) [...]
cousa pavorosa! O (Povo, 25 de julho de 1929, p. 03). O movimento, sem
dúvida, levaria à consoloidação de uma literatura brasileira, bastava ver o
verde-amarelismo de Cassiano Ricardo, o tupi or not tupi de Alavro Mo-
reyra e Bopp, bem como o primitivismo de Mário de Andrade (do Sul),
“simplesmente, a fundação ciclopica desse monumento colosso” (Povo, 25
de julho de 1929, p. 03). A poesia nova era similar a uma acrobacia aérea
arriscada sem o equipamento de segurando algum (no caso o paraquedas),
que era a prestidigitação da métrica e da rima. O grande modernista bra-
sileiro ninguém sabia, mas o que mais lhe agradava era Raul Bopp. Sobre
o movimento no Ceará, a folha Maracajá e o melhor da terra, ele comentou
que o conhecia palmo a palmo, bem como Maracajá. O que mais lhe agra-
daria daqui era Jáder de Carvalho, por seus versos possuírem “ritmo e rara
emotividade” (Povo, 25 de julho, 1929, p. 03).
Finalmente, em 26 de junho e 01 de julho, respectivamente, saíram a
décima sexta (Alcides Mendes) e a décima sétima (Stella Rubens Monte)
repostas da enquete literária: 12 x 2! E aqui pedimos desculpa ao leitor
para passar adianta sem aprofundar as opiniões dos escritores. Pois a vi-
tória estava mais do que desenhada, que aceitassem a derrota os
perdedores.
Quando aprofundamos os estudos sobre o Modernismo Literário nos
anos 1920, em Fortaleza, percebemos a profusão de experimentações, ca-
minhos, propostas e ideias envolvidas. Alguns a favor das mudanças,
outros contra. Por isso faz muito mais sentido pluralizar o conceito para
Modernismos, abarcando as várias possibilidades da época. E é nesse ema-
ranhado inextricável de discursos que podemos dar a conhecer o quanto
166 | Modernismo no Ceará (1922 – 1931): Práticas Letradas, Cotidiano e Experiência Estética
esse momento foi frutífero de ideias e quais os caminhos foram sendo tri-
lhados até chegarmos aonde estamos. Muitas experiências ficaram pelo
caminho esquecidas, é o trabalho da pesquisa reconstruir esses meandros
e percalços da experiência humana no tempo para melhor compreender-
mos o nosso presente. Até aqui focamos, sobremaneira, o jornal O Povo,
as suas notícias e a sua campanha em prol do Modernismo. No próximo
tópico abordaremos mais detidamente as folhas modernistas lançadas à
época: Maracajá e Cipó de Fogo.
7
Caucaia é uma denominação de origem indígena significa “mato queimado” ou “queimado”. A Aldeia de Caucaia
ficou na dependência da Vila de Fortaleza até a determinação do Marquês de Pombal que a tornou Vila, juntamente
com mais cinco aldeias existentes na Capitania do Ceará. A Aldeia de Caucaia recebeu o nome de Vila Nova Real de
Soure por determinação da corte portuguesa, sendo oficializada em 15 de outubro de 1759. Vila Nova de Soure, após
a independência do Brasil, tornou-se Soure e depois Caucaia. A Estação de Soure foi inaugurada em 1917.
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foi com a cabeça do lado de fora para sentir a brisa macia e refrescante do
clima ameno e úmido, bem como o cheiro da terra molhada. Mas a cha-
miné da locomotiva, faiscando e fumaçando, jogou um pedaço de carvão
no olho dele. Em Soure, Demócrito tentou tirar o argueiro com um algodão
e nada do objeto estranho sair.
Elle cerrava as palpebras e dizia, cearensemente: Tirou não. Foi quando a Teté
se propoz a tirar [...]. Mandou que elle se assoasse tres vezes e rezou alto: Corre,
corre, cavaleiro/Pela porta de São Pedro/ Vae dizes a Santa Luzia/ Que me tire
esse argueiro/Com a pontinha de seu dêdo (Maracajá, 7 abr. 1929, p. 1)
Foi o quanto bastou para o granulo sair de vez. Teté sabia muito bem
que Santa Luzia não falhava nunca, o bicho foi levado embora na pontinha
do seu dedo. E Demócrito arrematou: “Ah! Teté! Se Santa Luzia me tirasse
uma brasa que está queimando meu coração...” (Maracajá, 7 abr. 1929, p. 1).
À primeira vista não faz muito sentido. Por que começar com uma
história aparentemente corriqueira? Não era melhor, logo de início, apre-
sentar a plataforma e as propostas do grupo? Talvez não. De uma maneira
muito perspicaz Demócrito Rocha mostrou vários temas e ideias defendi-
dos pelos modernistas. Por exemplo, a síntese da linguagem, a valorização
da oralidade, da cultura e das crenças das pessoas humildes, bem como a
pesquisa incessante pelo elemento popular. E no fim das contas, Teté foi a
heroína do conto, uma mulher. Não extrapolando, é óbvio, as possibilida-
des de interpretação desse caso.
Já Paulo Sarasate, apesar de também se apropriar da oralidade e da
síntese da mensagem, foi mais pragmático e escreveu um artigo mirando
a balística contra os possíveis inimigos da empreitada. O título era “Passem
muito bem!”. Sarasate começou o seu texto aludindo a um inimigo que ele
não delineou muito bem, usando palavras como gentinha, eles, vocês, só
permitindo o leitor descobrir esse mistério no quinto parágrafo. Ele
Thiago da Silva Nobre | 169
Todo movimento libertario tem surgido assim. Entre pedradas. Entre asso-
bios. Coberto de apodos. Tal foi com o naturalismo e o parnasianismo, nas
letras. [...] A historia apenas se repete [...] já no tempo de Galileu era assim. E
com um agravante: em vez de assobio, fogo. (Maracajá, 7 abr. 1929, p. 1)
8
Nasceu no dia 13 de janeiro de 1906, no Rio de Janeiro, filho de Nicolau Carlos Magno e de Filomena Carlos Magno.
Foi Poeta, escritor, teatrólogo, político, diplomata. Criou, em 1929, a Casa do Estudante Brasileiro e, em 1938, o
Teatro do Estudante do Brasil (TEB).
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Para uma estudo mais aprofundado sobre o tema ver NOBRE, Thiago da Silva. Geração moça desta Gleba:
movimento intelectual de clã e a consolidação do campo literário de Fortaleza na década de 40. Dissertação (Mestrado
em História). Mestrado Acadêmico em História e Culturas. Universidade Estadual do Ceará, Fortaleza, 2013.
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Eu canto alma de minha terra e a alma de minha gente. Canto o meu sol ar-
dente, amoroso e ruivo, que é o mais pessoal e característico de todos os sóes
do mundo. Eu quizera que meu verbo estrelejando em faiscas, reunisse-as to-
das num só fóco, atrahindo para minha terra os olhares do mundo inteiro.
(Maracajá, 7 abr. 1929, p. 8)
O que fazia sentido para a escritora era falar sobre as gentes e o meio
específico em que estavam inseridas. Ou seja, era narrar a partir das suas
experiências e da sua percepção o lugar aonde cresceu e viveu, podendo
mostrar ao mundo inteiro que lugar era este. Porém, ela ainda admitia a
176 | Modernismo no Ceará (1922 – 1931): Práticas Letradas, Cotidiano e Experiência Estética
terra e o seu passado tão curto, tão claro, tão cheio de expansão e vitalidade
que é quase outro presente. (Maracajá, 7 abr. 1929, p. 8)
O primeiro número de Maracajá foi espalhado por todo o globo e até por fora
do referido esteroide. A esta hora qualquer habitante de Marte já estará fa-
zendo antropofagia. Vocês lá do sul que escreveram sobre o gato selvagem do
nordeste toquem nos ossos. Isso! Nós estamos ligados por um sentimento
unico - o da voracidade. Juntemo-nos para comer tudo o que deva ser comido
no Brasil. (Maracajá, 26 maio 1929, p. 2)
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Ha, porem, uma diferença entre nós e os do sul. Influencia do clima. Elles met-
tem excessiva erudição no que fazem. E bancam sisudez. Nós somos alegres por
10
Muito provavelmente Demócrito Rocha estava se referindo ao projeto Fordlândia. Consistiu na concessão, pelo
estado do Pará, de uma vasta área de terras às margens do rio Tapajós ao empresário norte-americano Henry Ford,
que emprestou o nome ao atual distrito de Aveiro. O projeto foi aprovado pela Assembleia Legislativa, em 30 de
setembro de 1927. Ford tinha a intenção de usar Fordlândia para abastecer sua empresa de látex, que necessário para
a confecção de pneumáticos, tentando escapar da dependência da borracha produzida na Malásia (colônia britânica
à época). Os termos da concessão isentavam a Companhia Ford do pagamento de qualquer taxa de exportação de
borracha, látex, pele, couro, petróleo, sementes, madeira e outros bens produzidos na gleba. Oficialmente foi
encerrado em 24 de dezembro de 1945, em acordo entre Henry Ford II (neto do fundador) e o governo federal.
Thiago da Silva Nobre | 181
indole. Em São Paulo, os rapazes para fazer a sua antropofagia precisam dar laço
á gravata. [...] Aqui não. Nós rimos de tudo. MARACAJA’ espirra de uma furna
saturada de jovialidade. E os brasileiros gostem disso. Gostam de tudo quanto
apparece risonho e cantante. Gostam do canto da jandaia (o canto da jandaia
nunca foi triste! historias de Alencar!) (Maracajá, 26 maio 1929, p. 2)
Vamos ver si recebemos tambem coisas do Norte para maior divulgação por
estas bandas. Coisa boa. Cheirando a sol. Vocês que têm o mandacarú, a serra
da ibiapaba, o padre Cícero. Receita pra acabar com a epidemia: cada pessoa
soltar três foguetes. Viva. Isso é o maior poema da nossa historia. Estorou fo-
guete no Nordeste: acabou-se a tristeza brasileira. Vamos ver si vocês nos
mandam contar coisas dahi muito em breve. Por ora em abraço de camarada-
gem com o maracajá. (O Povo, 1 maio 1929, p. 4)
Dias depois Raul Bopp enviou uma carta a Heitor Marçal, falando so-
bre a recepção de Maracajá em São Paulo.
O Maracajá foi um dia de festa por aqui. Manda coisas do Garrido, do Mario
de lá, para correr uma carreira com o daqui. Turf. E o Franklin Nascimento?
Mande prosa. Prosa irreverente, Pau. Isso agora é uma espécie de thermidor
Thiago da Silva Nobre | 183
antropofagico. Pau em tudo, na alta burguesia das letras. Sem essa derrubada
não pode haver plantio novo que preste. (O Povo, 15 maio 1929, p. 5)
Iracema pelo viés antropofágico. Ele citou uma passagem da obra que nar-
rava os últimos momentos do chefe Batuireté que, mesmo sem forças,
conseguiu olhar para o seu neto e o para Soares Moreno (Gavião branco),
murmurando “Tupan quiz que estes olhos vissem antes de se apagarem o
gavião branco junto da narceja” (Maracajá, 26 maio 1929, p. 6). Batuireté
significa narceja ilustre e na forma figurada pode ter o sentido de valente
nadador. Combateu as tribos tabajaras percorrendo do litoral ao rio Jagua-
ribe. Mas quando envelheceu, perdendo a força e a agilidade, passou o
tacape e a liderança ao seu filho Jatobá. Após isso iniciou uma peregrinação
para só terminá-la na serra de Maranguape, aonde assentou exílio. Os che-
fes pitiguaras sempre iam visitar o velho Manguarab (o grande sabedor da
guerra) para receber conselhos sobre as melhores estratégias bélicas.
Certa vez o seu neto Poti foi visitá-lo trazendo consigo Soares Moreno. Foi
nesse derradeiro momento do último suspiro, entre morte e iluminação,
que Batuireté chamou o estrangeiro de gavião branco e o seu neto de nar-
ceja. Segundo o alumbramento premonitório do ancião, a ave de rapina ia
caçar e matar brutalmente a sua presa, ou seja, as etnias indígenas iam ser
todas dizimadas pelo colonizador europeu. “Que tal? Não foi trouxa o ve-
lho Batuireté? O que elle devia ter feito era comer o gavião branco. Elle
não era antropofago? (Maracajá, 26 maio, 1929, p. 6).
Demócrito Rocha continuou esse exercício de reescrita da História do
Ceará com o texto “Philosofia de Antropófago”, que inclusive foi publicado
na Revista de Antropofagia nº 15 (2ª dentição), no mesmo sentido do es-
crito de Heitor Marçal mencionado acima. Para ele, o centenário de
Alencar acabou se tornando uma questão familiar, pois “Todo o Brasil fi-
cou sabendo o que somente os eruditos sabiam: que elle era filho de um
padre...antropofágo” (Maracajá, 26 maio 1929, p. 7). O dentista e poeta fez
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uma brincadeira ácida com o fato do pai 11 de José de Alencar mesmo sendo
padre ter se casado e gerado filhos. O grande erro de Alencar foi a estiliza-
ção do índio. A mesma coisa aconteceu com Tapir e Cipiao de Olavo Bilac.
Mentira! A primeira negociação obscura dos brasileiros foi a de Poti se ali-
ando aos portugueses para expulsar os holandeses. Se Poti tivesse refletido
melhor, teria liquidado os dois com um só golpe de tacape. “Depois que
elle se chamou don Antonio, deveria ter sido comido summariamente”
(Maracajá, 26 maio 1929, p. 7). Esse negócio de canção dos tamoios nunca
existiu, foi invencionice dos românticos obcecados por epopeias. Dizima-
ram assim todas as tribos. Muito antes do dr. Serge Voronoff 12 começar a
enxertar glândulas sexuais de primatas em pessoas, os silvícolas já comiam
macacos. O rejuvenescimento vinha pela barriga, que esse negócio de en-
xerto não pegava direito. Gonçalves Dias (deglutido pelos peixes) meteu
uma capa de estudante de Coimbra no timbira. “Resultado: o indio ficou
cheio de espermatozoide e de bacilos de Koch. E quase morreu tísico” (Ma-
racajá, 26 maio 1929, p. 7).
Seguindo a mesma linha dos colegas, Franklin Nascimento também
produziu a sua contribuição acerca da reinterpretação do índio romântico
de Alencar. No poema “O Erro do Pagé” ele misturou o imaginário da
grande seca de 1915 e a narrativa da obra Iracema.
Foi no 15,
alencar,
11
José Martiniano Pereira de Alencar nasceu no Crato dia 16 de outubro de 1794 e faleceu no Rio de Janeiro dia 15 de
março de 1860. Foi padre, jornalista e político. Pai do escritor José de Alencar e do diplomata Leonel Martiniano de
Alencar (Barão de Alencar). Participou da Revolução de 1817 e da Confederação do Equador (1824) juntamente com
sua mãe (Bárbara de Alencar) e seus irmãos (Tristão Gonçalves e Carlos José dos Santos).
12
Serge Voronoff (1866 – 1951) foi um médico russo que prometia o rejuvenescimento e efeitos afrodisíacos aos
idosos através de xenotransplantes das glândulas sexuais de símios em humanos. Voronoff apareceu na imprensa
brasileira pela primeira vez em 1928. No mesmo ano veio ao Brasil dar palestras e realizar procedimentos cirúrgicos.
Realizou uma intervenção Feliciano Ferreira de Moraes e outra em um bode. As experiências foram aparentemente
bem-sucedidas, o que gerou uma grande receptividade popular na época. Essa figura enigmática se cristalizou no
imaginário virando até tema de músicas como Seu Voronoff (1929) de Lamartine Babo e João Rossi, bem como
também foi citado em música de Noel Rosa no mesmo ano.
Thiago da Silva Nobre | 187
13
Chefe dos guerreiros tabajaras, que era apaixonado por Iracema e consequentemente inimigo de Martins Soares
Moreno.
14
Refeição feita a partir da farinha de mandioca.
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15
Pai de Iracema e pajé da tribo tabajara.
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tem mais geito... Mas o Democrito falla numa sahida para breve”
(QUEIROZ, s. d., p. 01). E não saiu mesmo mais nenhum número. Mara-
cajá foi abatido e seu couro virou tamborim. O que nós percebemos foi a
guinada política do jornal O Povo e do seu criador Demócrito Rocha, de-
vido ao movimento político acontecido no país conhecido na historiografia
como Revolução de 1930, que na verdade foi um golpe de estado que en-
cerrou a Primeira República brasileira.
A crise política ocorrida na Primeira Republica, após a Primeira
Guerra Mundial, teve duas características principais. Em primeiro lugar, o
descontentamento de uma parte do exército. Em segundo lugar, a insatis-
fação das camadas médias urbanas. As tensões regionais apareceram
insufladas em 1922, diminuindo por volta de 1926 e se reaqueceram em
1929. A maior inserção da população urbana pode ser percebida na eleição
de 1919. O pleito foi realizado, excepcionalmente, pelo falecimento do pre-
sidente Rodrigues Alves. Apesar de derrotado em 1910 e 1919, Rui Barbosa
se apresentou como candidato sem apoio algum do maquinário eleitoral.
Venceu com cerca de um terço dos votos, apresentando um programa de
governo moderado e reformista, no qual propôs uma legislação com pre-
ocupações trabalhistas e maior autoridade para o governo federal.
A aproximação entre os militares e a elite política do Rio Grande do
Sul, teve relação com o retraimento de poder do Estado gaúcho do âmbito
federal para o regional. O Rio Grande do Sul era uma importante região
de fronteira, aonde se aglomeravam os maiores efetivos do Exército (vari-
ando entre um terço e um quarto do efetivo nacional). Criada em 1919, a
III Região Militar constituiu um trampolim social para os altos cargos ad-
ministrativos, pois vários comandantes seus chegaram ao Ministério da
Guerra. Conhecendo muito bem a influência e a importância da instituição
militar no Estado, as famílias gaúchas mais abastadas incentivaram os
seus filhos a seguirem a carreira militar, contribuindo para o aumento de
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[...] todos os modernistas do Ceará, sem exceção. E alguns dos outros Estados.
Cada um diz o que entende nas suas nas suas produções. O diretor, por en-
quanto, para efeitos gerais, é Mario de Andrade. Um exemplar [...] custa $300.
Cipó de Fôgo circula em todo o mundo civilizado. Consequentemente, será
pouco lido no Ceará. Os anuncios são caros. E dependem de combinação (Cipó
de Fogo, 27 set. 1931, p. 4)
16
Irmão de Paulo Sarasate.
Thiago da Silva Nobre | 193
ser compreendido como ruptura para ser parte do histórico em que se en-
gendravam várias tradições, ideias, experimentações e temporalidades.
E. P. Thompson (2012) também nos dá uma indicação interessante
sobre o debate tipológico de experiências históricas. Em Peculiaridades dos
Ingleses, o historiador britânico, teceu críticas ao modelo Anderson-Nairn 1
que interpretou negativamente a experiência revolucionária britânica em
relação à Revolução Francesa, seguindo a tradição marxista hegemônica
pré-1917. Thompson se opôs à análise que concentra a abordagem em um
episódio dramático (a Revolução) no qual tudo o que aconteceu antes e
depois deve ser relacionado, instituindo um tipo ideal de revolução, contra
a qual todas as outras deveriam ser julgadas. Inteligências aferradas a um
platonismo prontamente são frustradas pela história real. Apesar da Re-
volução Francesa haver sido um momento fundamental na história
ocidental, bem como a sua profusão de eventos subsequentes. Mas, pelo
fato de ter sido um importante acontecimento não foi necessariamente tí-
pico. Aconteceu de um jeito na França e de outro na Inglaterra, o que não
coloca em questão a importância da diferença, mas sim a tipicidade. Pois
“toda experiência histórica é obviamente, em certo sentido, única
(THOMPSON, 2012 p. 79)
Amparados por essa reflexão, podemos afirmar que a experiência
modernista foi de um modo em São Paulo e de outro no Ceará, bem como
em todos os lugares em que ela se deu. O que não nos permite valorar em
melhor ou pior, se foi mais profícuo ou não, o que nos cabe é aprofundar
a análise nas diferenças e peculiaridades. Sendo assim, o Modernismo Ce-
arense foi rico e frutífero nos restando ainda muito o que descobrir,
analisar e entender.
1
O artigo exemplar que defende essa hipótese criticada está em “Origins of the present crisis”, de Perry Anderson.
Fontes
Relatórios
Jornais
Diário do Ceará
1926 (Fevereiro)
O Nordeste
1922 (Julho, Agosto, Setembro)
O Ceará
1928
O Povo
1928, 1929, 1930, 1931
Maracajá
1929 (Abril, Maio)
A Esquerda
1928
Cipó de Fogo
1931
Revistas
A Jandaia
1924
Ceará Ilustrado
1925
Thiago da Silva Nobre | 203
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MENEZES, Raimundo de. Coisas que o Tempo Levou. Fortaleza: Edições Demócrito Ro-
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PIMENTA, Joaquim. Retalhos dos Passado. Edição fac-símile. Fortaleza: FWA, 2009.
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Novo da Raça. Fortaleza: Tipografia Urania, 1927.
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Livros de Entrevistas
Cartas
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