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Maria Luiza Germano de Souza

Thiago Roney Lira Borges


Organizadores

LITERATURA E CULTURA:
ensaios críticos
Conselho Editorial
Série Letra Capital Acadêmica

Beatriz Anselmo Olinto (Unicentro-PR)


Carlos Roberto dos Anjos Candeiro (UFTM)
Claudio Cezar Henriques (UERJ)
Ezilda Maciel da Silva (UNIFESSPA)
João Luiz Pereira Domingues (UFF)
João Medeiros Filho (UCL)
Leonardo Santana da Silva (UFRJ)
Luciana Marino do Nascimento (UFRJ)
Maria Luiza Bustamante Pereira de Sá (UERJ)
Michela Rosa di Candia (UFRJ)
Olavo Luppi Silva (UFABC)
Orlando Alves dos Santos Junior (UFRJ)
Pierre Alves Costa (Unicentro-PR)
Rafael Soares Gonçalves (PUC-RIO)
Robert Segal (UFRJ)
Roberto Acízelo Quelhas de Souza (UERJ)
Sandro Ornellas (UFBA)
Sergio Azevedo (UENF)
Sérgio Tadeu Gonçalves Muniz (UTFPR)
Ao professor Wilton Barroso Filho
(«25/09/1954 13/05/2019), in memoriam,
por ter nos mostrado que a epistemologia
e o raio do romance é sempre a aventura da vida,
a eterna dialética trágica sentida em nossas tripas
Copyright © Maria Luiza Germano de Souza e Thiago Roney Lira Borges (orgs.), 2019

Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei nº 9.610, de 19/02/1998.


Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida ou transmitida, sejam quais forem os
meios empregados, sem a autorização prévia e expressa do autor.

Editor João Baptista Pinto


Capa Luiz Guimarães
Projeto Gráfico e Editoração Luiz Guimarães
Revisão José Benedito dos Santos,
Ingrid Karina Morales Pinilla
Lourdes de Fátima Moraes de Souza
Maria Gabriella Flores Severo Fonseca
Neila da Silva de Souza
Sideny Pereira de Paula

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO


SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ

L755
Literatura e Cultura: ensaios críticos / organização Maria Luiza Germano de Souza, Thiago Roney
Lira Borges. - 1. ed. - Rio de Janeiro: Letra Capital, 2019.
236 p. ; 15,5x23 cm.
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-7785-704-3
1. Literatura - História e crítica. 2. Pós-colonialismo na literatura. I. Souza, Maria Luiza Germano
de. II. Borges, Thiago Roney Lira.
19-60172 CDD: 809
CDU: 82.09
Meri Gleice Rodrigues de Souza - Bibliotecária CRB-7/6439

Letra Capital Editora


Telefax: (21) 3553-2236/2215-3781
letracapital@letracapital.com.br
Sumário

Apresentação........................................................................................... 7
Parte I - Literatura, colonialismo e estudos pós-coloniais............. 13
1. Surdismo versus Ouvintismo: práticas colonizadoras veladas
pelos discursos.............................................................................. 15
Mary Andrea Xavier Lages
2. O Brasil e o racismo: o avesso do discurso na narrativa
Entre lembrar e esquecer, de Mauro Paz..................................... 25
Neila da Silva de Souza
3. O período do regime de exceção no Brasil como símile
a um processo de re-colonização e sua manifestação
na sociedade por meio da literatura.............................................. 43
Raimundo Nonato de França Fonseca
4. Aspectos do colonialismo na Carta, de Caminha, e no
Auto da Festa de São Lourenço, de Anchieta............................... 58
Maria Gabriella Flores Severo Fonseca

5. Pode a mulher africana escrever? Lugar de fala


na literatura contemporânea.......................................................... 71
Delma Pacheco Sicsú
6. O mal-estar da clausura: pós-colonialismo, subalternidade e
gênero em Nervous conditions, de Tsitsi Dangarembga............... 87
Bernardo Ale Abinader

7. Colonialismo dos tempos do mundo: a luta cronotópica


em Cem anos de solidão de García Márquez............................. 101
Thiago Roney Lira Borges

Parte II - Estudos literários e crítica dialética............................... 121


8. A literatura da decadência e a reificação do sujeito nos
contos Civilização e O ex-mágico da taberna minhota.............. 123
Maria Luiza Germano Souza
9. Microcosmos y prejuicios sociales y raciales presentes en la
obra la ciudad y los perros del escritor Mario Vargas Llosa..... 140
Rocio Del Carmen Celis Lozano

Parte III - Literatura e desconstrução............................................. 157


10. Pensando a homoafetividade feminina indígena:
uma reflexão à luz da epistemologia do romance..................... 159
Sideny Pereira de Paula
11. Quanto custa o ferro?: uma reflexão derridiana....................... 173
Annemeire Araújo de Lima
12. A desconstrução derridiana no Quixote de La Mancha............ 191
Ingrid Karina Morales Pinilla

Parte IV - Literatura e estudos de Mikhail Bakhtin...................... 205


13. Aspectos sobre dialogismo na letra da música Geni e o
Zepelim, de Chico Buarque e no conto Bola de Sebo,
de Guy de Maupassant.............................................................. 207
Márcio Azevedo da Silva
14. Os blogs como gêneros do discurso: um estudo
em evolução.............................................................................. 220
Lourdes de Fátima Moraes de Sousa Saldanha

Autores................................................................................................. 232
7.
Colonialismo dos tempos do mundo:
a luta cronotópica em Cem anos de solidão
de García Márquez
Thiago Roney Lira Borges

Introdução

A literatura como dispositivo narrativo é um lugar de tradução e/ou


reinvenção do tempo. Em relação ao tempo da realidade, o tempo
da literatura é um tempo suplementar que se prende e, simultaneamente,
desprende-se do espaço-tempo cotidiano. Walter Benjamin (2012, p. 221),
em 1936, no ensaio “O narrador”, afirmou que a narrativa oral como “for-
ma artesanal de comunicação” se encontrava em via de extinção. Devido
ao avanço das forças produtivas de reprodutibilidade técnica, da guerra
mundial e do próprio nascimento do romance, a faculdade de (re)contar
uma história de boca em boca como maneira coletiva de assimilar e inter-
cambiar experiências transformou-se numa faculdade solitária de produ-
ção e recepção do romance como maneira de trocar experiências do vazio
coletivo ou da vivência do choque contemporâneo. Para dizê-lo de modo
conveniente, o que mudou na narrativa no fim da era artesanal e do começo
da era de reprodutibilidade técnica foi nossa maneira de (re)criar, capturar,
transmitir e/ou ler o tempo suplementar narrativo. Partimos, assim, de certo
tempo integral e aberto de sabedoria coletiva para um tempo desintegrado
num todo homogêneo e vazio. Contudo, os despojos do tempo desintegra-
do podem compor um contratempo pleno de força, sentido e experiência,
saturado de tensão, ligado aos vencidos.
Benjamin observou, analisou e formulou essa perspectiva crítica a
partir do chamado “centro” do sistema-mundo capitalista, a Europa. A par-
tir, portanto, da experiência dos países colonizadores, contrapondo-se por
dentro. Aqui proponho analisar, a partir de países colonizados da chamada
“periferia”, o funcionamento da dinâmica do tempo suplementar narrativo
na estética de uma das ficções da nueva literatura hispanoamericana que
culminaram no boom editorial dos anos 1970. Considero, portanto, para
além das feridas abertas da colonização histórica, uma forte presença de um
poder colonial, reestruturado nas últimas décadas a partir das dinâmicas do

PARTE I - Li t e r a t u r a , c o l o n i al i sm o e est u d o s p ó s- co l o n i ai s 101


capitalismo tardio na América Latina, como um horizonte ainda atuante em
diversas dimensões da vida, inclusive na concepção e tessitura do tempo
no corpo social. Há, nesse sentido, um colonialismo dos tempos do mun-
do, embora haja lutas de resistência dos múltiplos tempos. Como lugar do
tempo suplementar e dispositivo ideológico, a literatura pode se tornar ins-
trumento colonial ou um campo de combate dos tempos. Destarte, como o
tempo suplementar somente pode existir correlacionado com a (re)criação,
captura, transmissão e/ou leitura de um espaço suplementar que compõe o
lugar narrativo, precisamos de uma ferramenta conceitual capaz de discernir
dialeticamente o tempo no espaço da imagem narrativa. Assim, o cronotopo
de Mikhail Bakhtin (1990) será um conceito-chave desse estudo.
Partindo, de um lado, da análise do tempo suplementar narrativo a par-
tir da premissa bakhtiniana de que toda imagem literária captura, mimetiza
ou recria cronotopos como condição básica para construir esteticamente
um mundo temático de eventos, que a indissociabilidade do espaço-tempo
reveste-se como materialização singular do tempo no espaço; e, de outro,
de que perdura ainda hoje na América Latina o horizonte do colonialis-
mo interno e da multitemporalidade, na perspectiva de Silvia Cusicanqui
(2010a), o presente estudo propõe investigar o que denominarei de colo-
nialismo dos tempos do mundo, no que tange às imagens cronotrópicas de
um dos romances mais expressivos da nueva narrativa hispanoamericana.
Especificamente, pretendo analisar a luta entre o tempo linear-progressivo-
-colonial e o tempo cíclico e em espiral na composição estética de Cien
años de soledad, de Garcia Márquez.

1. O colonialismo interno, a multitemporalidade e as


condições de possibilidade da nueva narrativa hispano-
americana
A pensadora e ativista boliviana de origem aymara – povo ameríndio
de língua aymará estabelecido desde a era pré-colombiana – Silvia Ri-
vera Cusicanqui desenvolveu uma importantíssima contribuição para os
estudos coloniais e os discursos e práticas de descolonização da América
Latina. Quase desconhecida nos estudos do gênero no Brasil, Cusicanqui
construiu um arsenal teórico singular no campo da história e da sociolo-
gia a partir, de um lado, dos mitos e da cultura aymara e da experiência
militante nos movimentos sociais; de outro, de releituras de conceitos de
pensadores latino-americanos como o boliviano René Zavaleta Mercado e
o mexicano Pablo González Casanova e de pensadores críticos ocidentais

1 0 2 PARTE I - Li t e r a t u r a , c o l o n i a l i s m o e e s t u d o s p ó s- co l o n i ai s
como os alemães Ernst Bloch e Walter Benjamin. Entre os livros mais im-
portantes, nos quais aparecem os conceitos utilizados nesse estudo, estão:
Oprimidos pero no vencidos (1984), Ch’ixinakax utxiwa – Una reflexión
sobre prácticas y discursos descolonizadores (2010), Violencia (re)encu-
biertas en Bolivia (2010) e Sociología de la imagen: miradas ch’ixi desde
la historia andina (2015).
Preocupada com a profunda memória do passado colonial e com sua
reestruturação no presente, Silvia Cusicanqui pensa o colonialismo interno
como internalização de contradições diacrônicas de diversas camadas do
tempo histórico, emergindo e interpelando o presente em diversos campos,
como os modos de produção, as esferas culturais, as instituições estatais e
as relações sociais. Assim, o colonialismo interno se configura como um
marco temporal largo de dominação e estratificação das relações sociais, por
meio dos conflitos de etnicidade, passando por vários ciclos ou horizontes de
organização e modo de produção societal, tendo início no horizonte colonial
formal, reconfigurando-se, no entanto, no capitalismo tardio. Nesse sentido,
Cusicanqui sustenta, a partir da realidade da Bolívia, que

en la contemporaneidad boliviana opera, en forma subyacente, un


modo de dominación sustentado en un horizonte colonial de larga du-
ración, al cual se han articulado, pero sin superarlo ni modificarlo com-
pletamente, los ciclos más recientes del liberalismo y el populismo.
Estos horizontes recientes han conseguido tan sólo refuncionalizar las
estructuras coloniales de larga duración, convirtiéndolas en modalida-
des de colonialismo interno que continúan siendo cruciales a la hora de
explicar la estratificación de la sociedad boliviana y los mecanismos
específicos de constitución identitaria en el ámbito político. (CUSI-
CANQUI, 2010a, p. 36-38)

Desse modo, para Cusicanqui (2010a, p. 39-40), há pelo menos três


horizontes históricos de diferentes profundidades e durações na Bolívia que
sustentam a teoria do colonialismo interno como interpelação colonial per-
sistente no presente devido às contradições não contemporâneas, conceito
ressignificado de Ernst Bloch: o horizonte colonial, o horizonte liberal e o
horizonte populista. O primeiro horizonte é marcado pelo substrato profun-
do de mentalidades e práticas normatizadoras de modos de convivências e de
sociabilidade, gerando os conflitos relativos à etnicidade, que evidenciam o
colonialismo interno, os quais na época colonial formal se concretizaram en-
tre as culturas ocidentais e a cultura autóctone com o cristianismo como for-
ça disciplinadora para efetuação do saque ao território indígena. O segundo
horizonte é caracterizado pela implementação de uma cultura única ociden-

PARTE I - Li t e r a t u r a , c o l o n i al i sm o e est u d o s p ó s- co l o n i ai s 103


talizada e excludente pelas instituições estatais, fundadas ideologicamente
na independência, que preveem uma igualdade cidadã apenas formal, aqui a
oposição cristão-herege é substituída pela civilizado-selvagem, com base no
nascente darwinismo social, como reestruturação e renovação da polaridade
e hierarquia entre as culturas ocidentais e nativas. O terceiro horizonte im-
plica a incorporação dos setores sociais étnicos em instituições estatais e da
sociedade civil organizada, por exemplo, partidos e sindicatos, enfraquecen-
do os vínculos políticos e sociais comunais e desconfigurando as identidades
e diversidade culturais ameríndias. Assim, o colonialismo seria internalizado
pelas culturas ameríndias e mestiças por meio de uma memória coletiva que
incorpora esses três horizontes históricos numa dinâmica multitemporal de
reatualização da dominação em torno da problemática da etnicidade como
hierarquia a partir de contradições não contemporâneas.
O presente se condensa, nesse sentido, numa grande densidade histórica,
tendo em vistas as camadas da memória de diferentes profundidas da conste-
lação de horizontes coloniais saturada de tensões. Para melhor compreender
a constituição da memória coletiva, Cusicanqui (2010a) traz os conceitos de
memória curta e memória larga, de maneira dialética, ora são complementa-
res, ora são antagônicas. A memória curta coletiva se refere à acumulação de
lutas representativas recentes, enquanto a memória larga coletiva constitui-
-se do horizonte de grande duração do substrato de mentalidade e prática so-
cial do colonialismo e suas formas de resistência. A coexistência simultânea
de camadas de múltiplos horizontes históricos que se insurgem no presente,
dando origem a interpenetração das memórias históricas, compondo as con-
tradições não contemporâneas, constitui a memória coletiva dos oprimidos.
Nesse sentido,

a la construcción de un marco conceptual que sea capaz, al mismo


tiempo, de comprender la tradición y la modernidad, los anclajes
profundos del pasado y las potencialidades del presente. Tal marco
conceptual no es otro que el de la teoría del colonialismo interno, en-
tendido como un conjunto de contradicciones diacrónicas de diversa
profundidad, que emergen a la superficie de la contemporaneidad, y
cruzan, por tanto, las esferas coetáneas de los modos de producción,
los sistemas político estatales y las ideologías ancladas en la homo-
geneidad cultural. Aunque el grueso de estos textos está referido a las
zonas andinas de Bolivia, no cabe duda que muchas de las ideas que
aquí se adelantan podrían tener una validez más amplia, y aplicarse a
las regiones orientales de las cuencas amazónica y platense, en las que
sería preciso hacer similares cortes históricos y ver los modos espe-
cíficos de inserción de las contradicciones del pasado en el presente.
(CUSICANQUI, 2010a, p. 36-37)

1 0 4 PARTE I - Li t e r a t u r a , c o l o n i a l i s m o e e s t u d o s p ó s- co l o n i ai s
A concepção de tempo histórico da teoria do colonialismo interno,
por conseguinte, produz uma crítica desestabilizadora à concepção linear e
teleológica da historiografia ocidental oficial. A tríade do tempo passado-
presente-futuro, na perspectiva teórica do colonialismo interno, perfaz
uma dinâmica mais próxima da imagem de um redemoinho, de uma espi-
ral, que o passado e o futuro se encontram no presente, ambos permane-
cendo com horizontes abertos, não somente o porvir, como também algo
do ocorrido. Para tanto, Cusicanqui se fundamenta, conceitualmente, por
um lado, na cosmovisão andina, pois “el mundo indígena no concibe a la
historia linealmente, y el pasado-futuro están contenidos en el presente: la
regresión o la progresión, la repetición o la superación del pasado están en
juego en cada coyuntura” (CUSICANQUI, 2010b, p. 55); por outro lado,
na concepção de história e tempo de Walter Benjamin, que possui uma
dimensão teológica de inacabamento do passado, abrindo a possibilidade
de um encontro secreto entre um ocorrido e um agora visado, ligados por
uma frágil força messiânica, aberta pela tensão histórica de um momento
de perigo para os sem nomes da história, cognoscível por meio de uma
imagem dialética. Assim, para interromper o continuum da história, con-
forme Benjamin (2012, p. 249), deve-se fazer um desvio rumo ao passado,
visando um salto para o futuro. Nesse sentido, em suma, Luis Huáscar An-
tezana, no prólogo do livro Oprimidos pero no vencidos (2010c, p. 11), traz
a seguinte sentença aymara, mirando dispor com toda força o significado
do tempo na historiografia de Cusicanqui: ñawpax manpuni – “olhar para
trás que também é ir para frente”.
Na perspectiva de Cusicanqui (2010b), considerando o horizonte co-
lonial de longa duração em articulação com sua reestruturação liberal e
populista, o passado recebe uma sobrevida política quando se mostra em
alguma dimensão atual no tempo posterior pela memória curta, trazendo
uma força em espiral na história para os oprimidos. Nesse sentido, a mul-
titemporalidade da teoria do colonialismo interno, com suas camadas his-
tóricas que recobrem o presente e a sua forma temporal de desvio cíclico
aberto ou em espiral, ao desestabilizar a concepção hegemônica de tempo
linear ocidental, faz uma crítica subjacente à ideia de progresso na histó-
ria humana, que arranja ideologicamente a reestruturação dos horizontes
coloniais do capitalismo tardio. Com a teoria do colonialismo interno, no
entanto, compreende-se que não há uma sucessão linear e progressiva, no
sentido de uma superação em diversos níveis, sobretudo humano, para se
chegar num lugar melhor. Ao contrário, as camadas históricas em atuação
no presente, quer dizer, as contradições não contemporâneas, nos termos
de Cusicanqui (2010b), pressupõem o conflito e a luta permanente.

PARTE I - Li t e r a t u r a , c o l o n i al i sm o e est u d o s p ó s- co l o n i ai s 105


A coexistência simultânea dessas camadas históricas – as contradições
não contemporâneas – são vivenciadas pelos oprimidos, no caso específico
dos indígenas andinos contemporâneos aymaras, delimitação de estudo de
Silvia Rivera (2010b), que pode, no entanto, ser estendido para a América His-
pânica, devido à experiência da racialização. Sabe-se que o poder segregador
colonial produz violências psíquicas, simbólicas e físicas, tendo em vista à
exclusão das próprias terras de origem. Caso visualizada pela chave de leitu-
ra do tempo linear e progressivo, essa discriminação racial, ainda persistente,
reveste-se como contradição e anacronismo numa época liberal dos Estados
modernos, sobretudo com horizonte populista. Por isso, a importância da te-
oria do colonialismo interno e da multitemporalidade das contradições não
contemporâneas, formuladas pela Cusicanqui nos livros citados, como método
e epistemologia de análise político-social para se pensar a América Latina.
Não se deve, com isso, fazer uma leitura superficial e equivocada das
contradições não contemporâneas: como se, supostamente, por um lado,
a luta entre o campesinato indígena e os latifundiários, no campo rural,
representariam um tempo do passado “pré-moderno”, e o movimento indí-
gena, assim, constituiria um sujeito social arcaico e pré-político; por outro
lado, a luta entre o operariado e a burguesia, no campo citadino, teriam
uma temporalidade “moderna” e contemporânea. Cusicanqui (2010b, p.
54) combate essa visão colonial “moderna”, dentro inclusive do marxismo
vulgar, por isso sustenta que “los indígenas fuimos y somos, ante todo,
seres contemporáneos, coetáneos y en esa dimensión –el aka pacha– se re-
aliza y despliega nuestra propia apuesta por la modernidad”. Portanto, não
cabe uma visão estática e limitadora das populações da cultura ameríndia,
uma vez que são sujeitos do presente, no complexo tecido multitemporal e
contraditório da historicidade do continente. Por isso, a necessidade urgen-
te de cruzar os horizontes históricos submersos nas camadas da formação
social contemporânea como modo de abrir potencialidades de memórias e
lutas significativas na relação dialética entre etnia e classe social possibili-
tada pela teoria do colonialismo interno.
Desse modo, por fim, pode-se estender os conceitos para análise da
América Hispânica, pela proximidade das cosmovisões ameríndias, so-
bretudo de base pré-colombiana relativa ao tempo, sugerida pela própria
Cusicanqui (2010b), a teoria do colonialismo interno e a multitemporalida-
de abrem várias potencialidades nos saberes e práticas das lutas coletivas
ameríndias e de trabalhadores mestiços, como práticas de descolonização a
partir da ruptura com o tempo linear e a ideia de progresso histórico, cons-
truindo memórias coletivas num tempo em forma de espiral ou de desvio
cíclico, capaz de articular a configuração da luta no presente como uma

1 0 6 PARTE I - Li t e r a t u r a , c o l o n i a l i s m o e e s t u d o s p ó s- co l o n i ai s
luta pelo passado, que se localiza o índice aberto do porvir descolonial no
encontro com o “agora” de sua cognoscibilidade.
Dito isso, deve-se discernir em quais pressupostos socioculturais-
-econômicos o romance, objeto desse estudo, ampara-se. Melhor dizendo,
antes de analisar os cronotopos e a criação do tempo suplementar narrativo
no romance símbolo do boom da narrativa hispano-americana, cabe situar
as condições de possibilidades para o surgimento do realismo maravilhoso
– enquanto estética de conjunção entre o “real” e o “irreal” – no que tange
à técnica literária, no sentido dado por Benjamin (2012, p. 121), em que
os impactos estéticos sofridos se articulam mais com a posição das obras
dentro das relações de produção da época do que com a mera consequência
dessas relações. Afinal, disso depende também as condições de possibi-
lidades de apropriação e (re)criação dos tempos do mundo como tempo
suplementar narrativo.
Nessa perspectiva, para dizer junto com Idelber Avelar (2003, p. 38),
em Alegorias da derrota, a nueva narrativa hispanoamericana pôde sur-
gir devido à “secularização e mercantilização que põem em crise a aura
religiosa do letrado latino-americano” em meados da década de 1950/60,
base da modernização da esfera literária e cultural. Em outras palavras, a
estética do boom emergiu a partir da desauratização do fazer literário, no
sentido benjaminiano, depois do avanço da técnica de reprodutibilidade
do romance pela impressão off set, possibilidade potente de editoração,
o que provocou uma mudança no valor da produção e na recepção liga-
da à exposição, produzindo, com isso, uma autonomia relativa à literatura
hispano-americana, sobretudo com a recente profissionalização do escritor,
que “já não é primordialmente um funcionário estatal, carreira na qual
inumeráveis haviam encontrado seu modo de sobrevivência desde as in-
dependências nacionais” (AVELAR, 2003, p. 42-43, grifo do autor). No
entanto, ao mesmo tempo em que gozava da autonomização do literário, o
escritor latino-americano recebia, em contrapartida, as pressões advindas
do mercado. Nesse contexto, sustenta Avelar,

[...] tornou-se impensável fantasiar que a literatura fosse outra coisa


que trabalho. Tratava-se aqui, em outras palavras, de despedir-se das
musas da boemia romântica. O sucesso do escritor latino-americano
implicou, então, uma perda: o preço a pagar pela autonomia social foi
o desaparecimento da aura. (AVELAR, 2003, p. 43)

Constrói-se, então, uma ambiguidade crucial com essa dinâmica: como


resposta ao desaparecimento da aura, sustenta Avelar (2003, p. 41), a vonta-
de de inserção na modernidade fez com que os escritores e críticos do boom

PARTE I - Li t e r a t u r a , c o l o n i al i sm o e est u d o s p ó s- co l o n i ai s 107


encontrassem um modo de reinstalar o aurático no pós-aurático, depois do
abalo do caráter cultual do fazer literário. Ao mesmo tempo em que goza-
vam da autonomia e da independência promovida pelo cenário pós-aurático,
acentuado pelo mercado editorial, os escritores lutavam para reinserir a aura
na obra literária pela porta de trás da produção estética, ao construírem uma
dissimetria entre a instância social e a literária, a segunda, sendo “avança-
da”, compensaria a primeira na categoria de “atrasada”, como sugere alguns
romances e escritos críticos do período. Avelar, assim, caracterizou o projeto
político do boom como uma vontade compensatória. Portanto, as condições
de possibilidades da nueva narrativa hispano-americana estavam assenta-
das na ambiguidade crítica de reinstalação do aurático no pós-aurático.
Alberto Moreiras (2001), em A exaustão da diferença, também inves-
tiga as condições de possibilidades do realismo maravilhoso, que seriam
também suas condições de impossibilidade. O realismo maravilhoso sur-
giu, na concepção de Moreiras (2001, p. 221), no século XX, por meio das
disputas culturais nas cidades letradas latino-americanas, entre as forças
do regionalismo/nacionalismo e as forças das vanguardas artísticas, o que
deu origem ao chamado “surrealismo etnográfico”, termo emprestado de
James Clifford, para associar claramente a influência que o Collège de So-
ciologie francês teria exercido sobre a nova narrativa. Assim, encerrado em
dois modos de produção diferentes, o realismo maravilhoso construiu-se
no conflito aporético entre duas racionalidades distintas.
Já para Franco Moretti (1996, p. 243-249, apud MOREIRAS, 2001, p.
231-232), a partir de sua leitura de Cem anos de solidão, de García Már-
quez, o realismo maravilhoso conseguiu obter certa capacidade apropria-
dora da captura da não sincronia, por meio da fusão do que ele chama de
“retórica da inocência” e da “ideologia da modernização e do progresso”,
porque conseguiu incorporar as “reservas de magia” da periferia para um
trabalho ideológico global de “re-encantamento” do mundo, dadas como
condição de possibilidade. O preço a pagar, portanto, teria sido a submis-
são da representação transculturadora ao “sistema-mundo”.
Embora algumas categorias conceituais mobilizadas pelos críticos te-
nham em seu nervo algo de colonial, para além de desenvolver um dissen-
so crítico mais exaustivo aqui, interessa-me a identificação das condições
socioculturais-econômicas que abriram possibilidade para o surgimento da
nueva narrativa hispanoamericana, que se mostra adequada em perspec-
tivas distintas nesses três críticos. As condições estavam fundamentadas,
portanto, pelo encontro entre a cultura ocidental e a cultura nativa, entre
dois modos de produção, numa época de avanço do mercado editorial his-
pano-americano aberto pela reprodutibilidade técnica, de recente profissio-

1 0 8 PARTE I - Li t e r a t u r a , c o l o n i a l i s m o e e s t u d o s p ó s- co l o n i ai s
nalização e independência do escritor. O mercado começou a pressionar os
escritores, que sentiram o peso da perda da aura cultual do fazer literário, e,
paradoxalmente, tentaram reintroduzir o aurático no pós-aurático, apostan-
do na captura da não-sincronia de duas racionalidades diferentes.
Portanto, nessas condições se encontram pelo menos duas concepções
de tempos do mundo distintas, para não dizer uma multiplicidade, ampa-
radas, por exemplo, no encontro de duas narrativas distintas na gênese de
produção da maioria dos romances: a narrativa oral dos viventes da cultura
local e a narrativa escrita ocidental. Assim, de algum modo, esses tempos
foram reproduzidos nos romances. Se há um colonialismo interno e uma
multitemporalidade nas lutas do mundo, ou do encontro de mundos, do
referente hispano-americano e das condições de possibilidades do nueva
narrativa hispanoamericana, a tessitura do tempo suplementar do realis-
mo maravilhoso foi tecida com os espectros das malhas desse tempo.

2. O cronotopo como base teórica para pensar o tempo su-


plementar
Como o tempo somente pode ser analisado num determinado espaço,
para investigar o tempo suplementar narrativo de Cem anos de solidão
faz-se necessário recorrer ao conceito de cronotopo, de Mikhail Bakhtin
(1990). Embora o pensador russo utilize a categoria de espaço-tempo no
decorrer de sua obra, dois textos são fundamentais para pensar o conceito
de cronotopo: “Formas de tempo e cronotopo no romance” e “O romance
de educação e sua importância na história do realismo”. O cronotopo com-
põe um projeto de pensar a literatura como material de conhecimento do
mundo e do ato ético. Por meio da leitura da imagem literária, que Bakhtin
(1990, p. 53-54) compreende como “uma formação estético-singular re-
alizada [...] o mundo temático dos eventos (o conteúdo formalizado) ”,
é possível visualizar a categoria do tempo na qualidade de ponto central
ligada à de espaço e sujeito. Nessa acepção, a imagem literária cronotópica
caracteriza-se como uma “imagem artístico-histórica”.
A partir das discussões físicas da teoria da relatividade de Albert Eins-
tein, relativa ao espaço-tempo, Bakhtin (1990) promove uma transposição
conceitual, transformando o cronotopo em uma categorial conteúdo-for-
mal, que possibilita compreender o processo de assimilação do espaço-
-tempo e do indivíduo histórico real dentro dos romances. Desse modo,
percebe-se a combinação do tempo e do espaço como uma unidade ir-
redutível, em que o tempo se manifesta no espaço, e o próprio espaço se
preenche de tempo.

PARTE I - Li t e r a t u r a , c o l o n i al i sm o e est u d o s p ó s- co l o n i ai s 109


Em outras palavras, a mobilização mimética do espaço-tempo efetua-
-se como materialização singular do tempo, por isso Bakhtin estuda os
diferentes tempos do mundo, por exemplo, o tempo histórico, o tempo bio-
gráfico, o tempo idílico, entre outros, que transcorrem conforme o lugar de
ação dos eventos. Assim, o cronotopo torna-se fundamental como deter-
minante dos limites ou transgressões das ações humanas, e, portanto, dos
heróis na imagem literária.
Nessa perspectiva, Bakhtin (1990) formula o conceito do cronotopo
como uma teoria do conhecimento, amparada numa visão da totalidade da
realidade do mundo na experiência artística realista, conectando o mun-
do representado com a imagem literária por meio de um tempo concreto,
construído dentro de certos referenciais. Desvincula-se, assim, qualquer
noção abstrata de tempo. Portanto, a literatura é concebida como um gêne-
ro de apropriação de imagens de experiências, em que o cronotopo, torna-
-se capaz de discernir como a tessitura espaço-temporal dos eventos da
realidade histórica é capturada e construída pela linguagem da imagem
literária. Com isso, o cronotopo possibilita ler o tempo suplementar narra-
tivo na dimensão política em sua ligação com o mundo.
A teoria do cronotopo permite também analisar a imagem do homem
em formação, substancialmente aberto no devir do tempo histórico. A par-
tir dessa investigação da determinação do cronotopo para a imagem do ho-
mem, Bakhtin (2003) constrói uma gênese e classificação da composição
cronotópica dos romances de educação e de formação, que fundamentam o
romance realista do século XVIII ao século XIX. A análise e diferenciação
gira ao redor de pensar duas grandezas, respectivamente, a constante e a
variável, em relação à caracterização do herói e do espaço-tempo, depen-
dendo do nível de mimetização do tempo histórico. Na grandeza constante
do romance de educação, a formação do homem se perfaz num mundo
perfeito e estático como ponto de fundo fixo. Ao contrário, na grandeza va-
riável do romance de formação, na construção da nova imagem do homem,

[...] a formação do homem se apresenta em indissolúvel relação com a


formação histórica. A formação do homem efetua-se no tempo históri-
co real com sua necessidade, com sua plenitude, com seu futuro, com
seu caráter profundamente cronotópico (BAKHTIN, 2003, p. 221).

Nesse sentido, dois exemplos de romances de formação histórica do


homem é o Gargântua e Pantagruel e Wilhelm Meister.
Os romances, assim, são capazes de inscrever a emergência de um
sentimento realista do tempo, para utilizar as palavras de Bakhtin (2003,
p. 206-256), que o cronotopo dispõe, considerando as transformações e a

11 0 PARTE I - Li t e r a t u r a , c o l o n i a l i s m o e e s t ud o s p ó s- co l o n i ai s
consciência do tempo histórico dos homens. Quando a imagem do herói é
estática, estamos diante de um romance sem emergência; ao revés, numa
imagem dinâmica do herói, o romance de emergência se constitui com
vigor. Portanto, a captura e a assimilação do tempo estruturam-se como
tecido modificador da imagem do herói.
Nesse sentido,

[...] o cronotopo, como materialização privilegiada do tempo no espa-


ço, é o centro da concretização figurativa, da encarnação do romance
inteiro. Todos os elementos abstratos […] gravitam ao redor do cro-
notopo, graças ao qual se enchem de carne e de sangue, se iniciam no
caráter imagístico da arte literária. (BAKHTIN, 1990, p. 356)

Assim, Bakhtin identificou diversos motivos cronotópicos repetitivos


com pequenas variações no decorrer da história do romance, fazendo uma
espécie de cartografia temporal das imagens literárias cronotópicas, por
exemplo, o tempo da estrada – do encontro/desencontro; da metrópole –
tempo de transformação constante; dos lugares de limiares, como a escada,
a antessala, a soleira, a praça – transição e passagem; da cidade provinciana
e da vila – tempo idílico/cíclico. Portanto, o cronotopo é um conceito fun-
damental e oportuno para investigar o que denomei de tempo suplementar
narrativo e sua conexão com o colonialismo interno e a multitemporalidade.

3. A luta cronotópica e o colonialismo dos tempos do mun-


do em Cem anos de solidão
A história das gerações da família Buendía, em Cem anos de solidão,
publicado em 1967, confunde-se com a história da pequena cidade de Ma-
condo, quer dizer, a genealogia dos cem anos de solidão dos Buendía se
amalgama com o nascimento da aldeia e o declínio da cidade de Macondo.
A partir da crença de que bebês nascem com rabo de porco, quando são
filhos de um casal de primos, José Arcadio Buendía e a sua prima Úrsula
Iguarán, amantes, deixam a vila de Riohacha para irem fundar Macondo
e as gerações de Buendía. Esse constitui o início do tempo cronológico
da história, se fosse narrada em forma linear, não é o caso. Já na abertura
do romance, uma das mais conhecidas da literatura, tem-se de imediato a
sugestão do tom, do ritmo e do tempo suplementar narrativo que percorrerá
toda a narrativa, quando o narrador diz:

Muitos anos depois, diante do pelotão de fuzilamento, o Coronel Aure-


liano Buendía havia de recordar aquela tarde remota em que seu pai o

PARTE I - Li t e r a t u r a , c o l on i al i sm o e est u d o s p ó s- co l o n i ai s 111


levou para conhecer o gelo. Macondo era então uma aldeia de vinte ca-
sas de barro e taquara, construídas à margem de um rio de águas diáfanas
que se precipitavam por um leito de pedras polidas, brancas e enormes
como ovos pré-históricos. O mundo era tão recente que muitas coisas
careciam de nome e para mencioná-las se precisava apontar com o dedo.
Todos os anos, pelo mês de março, uma família de ciganos esfarrapados
plantava a sua tenda perto da aldeia e, com um grande alvoroço de api-
tos e tambores, dava a conhecer os novos inventos. Primeiro trouxeram
o ímã. Um cigano corpulento, de barba rude e mãos de pardal, que se
apresentou com o nome de Melquíades, fez uma truculenta demonstra-
ção pública daquilo que ele mesmo chamava de a oitava maravilha dos
sábios alquimistas da Macedônia. (MARQUÉZ, 2008, p. 7-8)

Essa antecipação de um retrospecto do foco narrativo nos antecipa


também o caráter cíclico da narração nesse “mundo tão recente”. Inicial-
mente, o signo impessoal – da “visão por trás” da onisciência – do narrador
sugere ser um observador. No entanto, a voz narrativa se transforma no
decorrer do romance, principalmente próximo ao desfecho, passando do
signo impessoal para o signo pessoal – da “visão com” do personagem.
Dentro do signo impessoal, a marca temporal de antecipação de um re-
trospecto e de variações retrospectivas se repete entre os parágrafos e ca-
pítulos, por exemplo, “já o era há muito tempo, desde o dia longínquo[...]”
(MARQUÉZ, 2008, p. 139); ou ainda “anos depois, em seu leito de agonia,
Aureliano Segundo haveria de se lembrar da chuvosa tarde de junho[...]”
(MARQUÉZ, 2008, p. 177). As marcas temporais compõem a todo instante
uma circularidade do tempo impregnada na memória narrada de Macondo.
A repetição não se reproduz apenas como atributo narratológico, in-
sere-se também na dinâmica dos personagens por meio de ações repetidas
entre as gerações dos Buendía. Como no caso dos desaparecimentos, por
exemplo, no episódio inicial da greve dos trabalhadores da companhia ba-
naneira, José Arcadio Segundo desaparece de maneira similar a Aureliano
em anos anteriores, repetindo a mesma ação:

Foi tão tensa a atmosfera dos meses seguintes que até Úrsula a per-
cebeu no seu refúgio de trevas e teve a impressão de estar vivendo
de novo os tempos incertos em que seu filho Aureliano carregava no
bolso as pílulas homeopáticas da subversão. Tentou falar com José Ar-
cadio Segundo para fazê-lo conhecer esse precedente, mas Aureliano
Segundo informou-a de que desde a noite do atentado ignorava-se o
seu paradeiro.
– Igual a Aureliano – exclamou Úrsula. – É como se o mundo estivesse
dando voltas. (MÁRQUEZ, 2008, p. 283-284, grifo nosso)

11 2 PARTE I - Li t e r a t u r a , c o l o n i a l i s m o e e s t ud o s p ó s- co l o n i ai s
Na esteira da teoria do cronotopo, o tempo é materializado no espaço
de Macondo, vilarejo que cresce até se transformar numa cidade provincia-
na. A transformação de mais de um século, que tem origem na economia
elementar de subsistência, passando pela invasão estrangeira colonial, até
chegar ao capitalismo de horizonte liberal e populista, parece sair e che-
gar ao mesmo lugar em determinados momentos, embora haja diversos
acontecimentos característicos dessas passagens. Por vezes, os eventos pa-
recem compor apenas o pano de fundo para as peripécias da família Buen-
día. Outras vezes, contudo, imbricam-se na história das gerações. Assim,
a ambição do narrador sugere, de fato, uma mimetização total de algum
lugar existente no continente Americano, por isso a sentença crítica repe-
tida à exaustão de que “Cem anos de solidão é uma metáfora da América
Latina”. É possível. Basta saber, entretanto, a partir de que olhar o narrador
constrói essa metáfora. Talvez, a busca dessa compreensão do tempo su-
plementar narrativo nos indique essa perspectiva.
Víctor de La Concha (2007), em texto crítico para a edição comemo-
rativa de Cien años de soledad, da Real Academia Española, no seguinte
trecho, sintetiza essa primeira percepção majoritária do tempo “mágico”
macondiano, de tipo faulkneriano,

[...] que corre precipitado, hace trampas al calendario o de pronto


se estanca, la escritura de Cien anõs de soledad tiene un “tempo”
análogo. Fluye a veces a ritmo normal, que de pronto se acelera o
se remansa, y, por supuesto, los años, los meses y los días no tienen
nada que ver con una historia real. Por lo pronto, un repaso de la
cronología nos hace ver que com una historia real. Por lo pronto, un
repaso de la crononología nos hace ver que la historia contada en
la novela supera con mucho los cien años fijados en el título. Mu-
chos críticos suprayado el carácter circular, o de espiral, del tiempo
de Cien anõs de soledad. Dan pie a ello, desde luego, las alusiones
explícitas de Úrsula. Cuando José Arcadio Segundo se empeña en
la descomunal empresa de romper piedras, exavar canales, etc., ella
gritaba: “Ya esto me lo sé de memoria [...]. Es como si el tiempo diera
vueltas en redondo y hubiéramos vuelto al principio”. (p.225).Y lo
mismo repite a la llegada del ferrocarril. (p.225). Pero, más allá de
eso, en el proceso de sucesión de las generaciones de los Buendías
se advierte que, como también Úrsula observaba, unos repiten las
acciones y comportamientos de los outros, y, lo que es más importan-
te, que lo hacen porque están condenados a repetirlos, aprisionados
en un círculo predeterminado por un destino fatal, que termina por
extenderse a todo lo que es o significa Macondo. (LA CONCHA apud
MARQUEZ, 2007, p. LXXVII-LXXVIII)

PARTE I - Li t e r a t u r a , c o l o n i al i sm o e est u d o s p ó s- co l o n i ai s 113


Nesse sentido, preliminarmente, o tempo suplementar narrativo de Cem
anos de solidão sugere ser um tempo circular–espiral, marcado pelo signo
do destino total sobre as ações das gerações de Buendía e sobre a própria
Macondo, característica que teria conexão com o tempo do mundo concreto
das culturas nativas hispano-americanas, na esteira analítica de muitos crí-
ticos, em suas variações metodológicas, ligadas a ideia de Macondo como
mera metáfora da América Latina. No entanto, como veremos, o roman-
ce não parece ter a marca única desse tempo circular, há outros tempos
em luta, inclusive o tempo em espiral, que rearranja a dinâmica da tríade
passado-presente-futuro de modo diferente do movimento circular, o tempo
real das culturas ameríndias contemporâneas, na perspectiva de Cusicanqui
(2010b), não procede apenas de um tempo mítico-circular com um desti-
no total, mas um tempo qualitativamente diferente, rompendo tanto com a
ideia de destino quanto com a ideia de progresso. Todas essas concepções
de tempos eram espectros presentes na década de composição do romance.
Voltemos a recorrer à teoria do cronotopo de Bakhtin. Essas carac-
terísticas espaço-temporais de Cem anos de solidão, destacadas até aqui,
contêm similaridades com os atributos dos romances de viagem do século
XVIII. Esse tipo de romance, conforme Bakhtin (1997, p. 223-224), trazia
uma imagem puramente espacial e uma visão estática da diversidade do
mundo e do homem, “a vida é formada de uma sucessão de situações di-
ferenciadas e contrastantes”, recheados de observações temporais do tipo
“um dia depois”, “um minuto mais tarde”, entre outros, nas descrições de
lutas, eventos e peripécias, sem uma percepção substancial do tempo. Nas
palavras de Bakhtin (1997, p. 224-225), no romance de viagem,

A ausência do tempo histórico faz que a ênfase recaia unicamente nas


diferenças e nos contrastes. Os vínculos consubstanciais são quase ine-
xistentes. Fatos socioculturais tais como etnia, país, cidade, grupo so-
cial, grupo profissional, não são percebidos no conjunto integrado que
constituem. É isso que explica uma característica particular desse tipo
de romance: o grupo social, a etnia, o país, os costumes são registrados
num espírito “exótico”, ou seja, as distinções e os contrastes, a alteri-
dade, são objeto de uma percepção bruta. E isso que explica também
o caráter naturalista dessa variante romanesca: o mundo se desagrega
em coisas isoladas, fenômenos e acontecimentos, que são justapostos
ou se sucedem. A imagem do homem — apenas esboçada — é intei-
ramente estática, como é estático o mundo que o rodeia. Esse tipo de
romance ignora o devir, a evolução do homem. E mesmo quando a
situação do homem se modifica (no romance picaresco, em que o men-
digo fica rico, o plebeu se torna nobre), ele mesmo continua inalterado.

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Em Cem anos de solidão, no entanto, na qualidade de romance con-
temporâneo, não incorpora igualmente todas caraterísticas do romance de
viagem do século XVIII; evidentemente, transforma-as, atualiza-as, com-
põe variações. A composição de uma imagem estática da diversidade do
mundo parece ocorrer geralmente quando, visto a partir de um panorama,
os eventos se repetem, numa justaposição de contrastes, com o destaque
para o caráter “exótico”, caracterizado pela naturalização do sobrenatu-
ral ou sobrenaturalização do natural do realismo maravilhoso, de García
Márquez, sem qualquer vínculo enraizado no tempo e na cosmovisão de
mundo do cronotopo real-histórico, por exemplo, no caso, respectivamen-
te, do episódio do gelo como evento maravilhoso, e do episódio de levita-
ção do padre Nicanor Reyna como evento natural. Nas observações tem-
porais, encontramos inscrições com caráter litúrgico-demiurgo como “No
princípio” e “Na época”, dispondo um arranjo de destino, que tem relação
com o narrador e a luta cronotópica, e a passagem do tempo se registra
em escala muito maior, dada por anos. A escala temporal, precisamente,
explica-se pelo herói do romance. Não há um herói apenas, o herói é, por
assim dizer, uma legião: as gerações da família Buendía. Aqui, localiza-se
a dificuldade de identificar uma espécie nova de cronotopo que faz mover
o herói familiar coletivo para o destino circular dos “cem anos de solidão”.
Em relação à tipologia do tempo cronotópico, nesse sentido, a maioria
dos críticos, com estudos baseados no Bakhtin, não vacilam em classificar
o caráter do tempo circular idílio, sobretudo o idílio familiar e dos traba-
lhos agrícolas, dado a genealogia da família Buendía, pelas característi-
cas já expostas. Nessa linha, por exemplo, encontra-se Orlando Fontalvo
(2003), ao afirmar que

La prehistoria de Macondo (...) corresponde punto por punto a lo que


M. Bajtin en su momento llamó el cronotopo idílico en la novela. Y,
más concretamente, al tipo denominado idilio familiar. En este cro-
notopo, de estructura circular y dinámica, a la manera de Cien años
de soledad, el tiempo se caracteriza por parábolas que bien anticipan
el futuro o dilatan el pasado; de manera que el presente se percibe
también como pasado desde la perspectiva del futuro. Las anticipacio-
nes y prospecciones son una fórmula recurrente tanto en el cronotopo
descrito por Bajtín como en el construido por García Márquez. (FON-
TALVO, 2003)

De fato, há um tempo circular com força que retoma o idílio no ro-


mance, remetendo a uma consonância em relação entre o espaço e tempo
no sentido sustentado por Bakhtin, sobretudo na

PARTE I - Li t e r a t u r a , c o l o n i al i sm o e est u d o s p ó s- co l o n i ai s 115


[...] adesão orgânica e a ligação da vida e dos seus acontecimentos a
um lugar — o país de origem com todos os seus recantos, suas mon-
tanhas, vales, campos, rios, florestas e a casa natal. A vida idílica e os
seus eventos são inseparáveis desse caminho concretamente situado
no espaço, onde viveram os pais e os avós, e onde viverão os filhos
e os netos. Esse pequeno mundo limitado no espaço se auto-satisfaz;
não se liga de modo substancial nem a outros lugares, nem ao restante
do mundo. Mas a série da existência das gerações, localizada nesse
pequeno mundo limitado no espaço, pode ser infinitamente longa. Na
maioria dos casos, no idílio, o conjunto da vida das gerações (em geral,
da vida das pessoas) é determinado essencialmente pela unidade de lu-
gar, pela ligação secular das gerações ao lugar único, do qual essa vida,
em todos os seus acontecimentos, é inseparável. A unidade de lugar da
vida das gerações debilita e atenua todos os limites temporais entre as
existências individuais e entre as diversas fases da mesma existência.
A unidade de lugar aproxima e funde o berço e o túmulo (o mesmo
recanto, a mesma terra), a infância e a velhice (o mesmo bosque, o
mesmo riacho, as mesmas tílias, a mesma casa), a vida das diversas
gerações que viveram no mesmo lugar, nas mesmas condições, que
viram as mesmas coisas. Essa atenuação de todos os limites do tempo,
determinada pela unidade de lugar, contribui de modo substancial tam-
bém para a criação do ritmo cíclico do tempo, característico do idílio.
(BAKHTIN, 1998, p. 333-334)

O cronotopo idílio singular do romance de García Marquéz, no entan-


to, parece se encontrar em luta com outro cronotopo histórico. Na circu-
laridade temporal própria de Cem anos de solidão, com a coexistência do
passado e do presente, e, por vezes, do futuro por meio das profecias e das
repetições, não há abertura de espaço para o devir do novo para os Buen-
día. O que se torna muito mais perceptível próximo ao desfecho. Há, con-
tudo, uma resistência e uma tentativa de romper com esse destino em certo
episódio, em que o tempo circular acelera e aprofunda sua imersão nos
acontecimentos, sugerindo uma possibilidade de mudança: o episódio da
greve dos trabalhadores da companhia das bananeiras, acabando no massa-
cre de três mil mortos. Baseado num cronotopo real-histórico, a greve dos
trabalhadores das bananeiras em Aracataca em 1928. O episódio traz uma
sincronia e coexistência dos tempos, presente e passado, tentando abrir
uma fissura no futuro, quando José Arcadio Segundo, na hora do massacre
dos trabalhadores, pega no colo um “menino” que poderia apontar para o
porvir. Ele – “o menino” como alegoria do novo – poderia apresentar em
algum “presente do futuro” a sincronicidade dos tempos, as contradições
não contemporâneas, como tempo dos sem nomes da história de Macondo:

11 6 PARTE I - Li t e r a t u r a , c o l o n i a l i s m o e e s t ud o s p ó s- co l o n i ai s
Pegou o menor no colo e pediu a José Arcadio Segundo acavalou o menino
na nuca. Muitos anos depois, esse menino haveria de continuar contando
sem que ninguém acreditasse, que tinha o tenente lendo com um megafone
de vitrola o Decreto Número 4 do Chefe Civil e Militar da província. [...]
Muitos anos depois, o menino haveria de contar ainda, apesar de os
vizinhos continuarem a encará-lo como um velho maluco, que José Ar-
cadio Segundo o erguera por cima da sua cabeça e se deixara arrastar,
quase no ar, como que flutuando no terror da multidão, para uma rua
adjacente. A posição privilegiada do menino lhe permitiu ver que nesse
momento a massa ululante começava a chegar na esquina e a fila de
metralhadoras abriu fogo. (MÁRQUEZ, 2008, p. 289-291)

Assim, o tempo circular poderia incorporar o cronotopo similar ao dos


romances de Goethe, que atualiza e aprofunda o tempo histórico, pois uma

[...] característica da visão histórica do tempo em Goethe é a criativida-


de do passado, de um passado que deve estar ativo no presente (ainda
que seja numa perpectiva negativa, indesejável). O passado determina
o presente de um modo criador, e juntamente com o presente, dá di-
mensão ao futuro que ele predetermina. Atinge-se assim uma plenitude
temporal que é sensível, visível. (BAKHTIN, 1997, p. 253)

No entanto, o enunciado temporal do narrador de predizer um futuro


que não aparecerá mais no romance para seu desenvolvimento revela que
esse futuro já nasce como um passado. Sobretudo, quando sabemos que o
Melquíades, um dos ciganos de fora de Macondo que trazia as novidades
das cidades cosmopolitas, está escrevendo e cifrando um pergaminho. O
pergaminho é a própria história de Macondo, que lhe dá estatuto de exis-
tência, escrita por Melquíades. Expõe-se, nesse momento, a cisão e a luta
cronotópica submergidas no romance: o cronotopo de Macondo, circular
e idílio, e o cronotopo dos ciganos, dos de fora, que compõe um tempo
homogêneo, linear e progressivo, acompanhando o tempo do leitor. O po-
tencial possível do cronotopo idílio de abertura para o futuro, por meio da
coexistência do passado e do presente, que poderia ser a passagem para um
cronotopo circular, é sufocado por esse outro cronotopo histórico norma-
tizado pelo narrador. Assim, Aureliano, o último dos Buendía, descobre o
seu destino encerrado no pergaminho:

Em nenhum ato de sua vida, Aureliano tinha sido mais lúcido do que
quando esqueceu os seus mortos e a dor dos seus mortos e tornou a pre-
gar as portas e as janelas com as cruzes de Fernanda, para não se deixar
perturbar por nenhuma tentação do mundo, porque agora sabia que nos

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pergaminhos de Melquíades estava escrito o seu destino. Encontrou-os
intactos [...], como se estivessem escritos em castelhano sob o brilho
deslumbrante do meio-dia, começou a decifrá-los em voz alta. Era a
história da família, escrita por Melquíades inclusive nos detalhes mais
triviais, com cem anos de antecipação. (MÁRQUEZ, 2008, p. 393)

Considerações finais
Em termos de tempo suplementar narrativo, portanto, no decorrer de
Cem anos de solidão, constrói-se um tempo cíclico sem qualquer potência
de captura da multitemporalidade e das contradições não contemporâneas,
a coexistência e a sincronicidade do tempo não permitem uma abertura para
o futuro, pois o tempo foi criado pelo narrador e prediz o destino, fazendo o
futuro como um passado dado a priori, colonizando os tempos num único
instante, como assegura o narrador: “A proteção final [...] radicava em Mel-
quíades ter ordenado os fatos não no tempo convencional dos homens, mas
concentrando tudo em um século de episódios cotidianos, de modo que todos
coexistiram num mesmo instante” (MÁRQUEZ, 2008, p. 393). Em outras
palavras, o tempo cíclico de Macondo, em relação à tendência à forma espiral
– a qual a articulação do passado, em suas camadas no presente, ativamente
abriria um vórtice para o futuro – é domesticado e colonializado pelo tempo
linear e progressivo dos de fora, vazio de sentido às ações das personagens,
que forma a imagem literária total do romance, mostrando seu caráter colo-
nial. Percebe-se isso, claramente, quando o narrador dispõe no entrecho final
do desfecho o fim da memória de Macondo dos homens, no momento em que
Aureliano Babilonia termina de decifrar os pergaminhos e percebe “que tudo
o que estava escrito neles era irrepetível desde sempre e por todo o sempre,
porque as estirpes condenadas a cem anos de solidão não tinham uma segun-
da oportunidade sobre a terra” (MÁRQUEZ, 2008, p. 394).
Portanto, se ainda persiste um colonialismo interno na América Hispâ-
nica, Cem anos de solidão capturou e apresentou um colonialismo dos tem-
pos do mundo, expresso pelo narrador demiurgo de Macondo, Melquíades,
em que o tempo linear-progressivo da escrita do pergaminho domestica e
subjuga o tempo cíclico macondiano, de acordo com Avelar (2003), que
acaba por bloquear a recriação de uma imagem literária da multitempo-
ralidade, de um tempo em espiral pleno de qualidades políticas, a partir
da referência à realidade do continente, construindo, assim, um romance
sem emergência, para utilizar os termos de Bakhtin (2003). Cem anos de
solidão pode até ser, por fim, uma metáfora da América Hispânica e Latina,
mas sugere ter sido construída a partir do olhar temporal do colonialismo.

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