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A LUMINOSIDADE DO LUGAR
CIRCUNSCRIÇÕES INTERSTICIAIS DO USO DE ESPAÇO EM BELO
HORIZONTE: APROPRIAÇÃO E TERRITORIALIDADE NO BAIRRO DE
SANTA TEREZA
São Paulo
2005
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA HUMANA
A LUMINOSIDADE DO LUGAR
CIRCUNSCRIÇÕES INTERSTICIAIS DO USO DE ESPAÇO EM BELO
HORIZONTE: APROPRIAÇÃO E TERRITORIALIDADE NO BAIRRO DE
SANTA TEREZA.
São Paulo
2005
À memória de Haroldo Baggio
AGRADECIMENTOS:
Desejo, inicialmente, agradecer à minha família pelo apoio e pelo
estímulo ao longo de todo o percurso de realização desse trabalho,
especialmente à minha mãe, Lenita da Cunha Baggio. Agradeço igualmente
aos meus sogros, William Gerab e Maria Aparecida Gerab, e cunhados,
Rosana Gerab Tramontina e Fábio Gerab, pela atenção e pela confiança que
depositaram em mim.
Não poderia deixar de agradecer também aos professores Vanderlei
Messias da Costa e Heinz Dieter Heideman, ambos do Departamento de
Geografia da FFLCH da Universidade de São Paulo, pela contribuição que
deram a este trabalho quando da realização do exame de qualificação, bem
como pelo estímulo e pelo apoio dados.
Sou também muitíssimo agradecido ao Arquivo Público da Cidade de
Belo Horizonte, particularmente à Sirlene e ao estagiário Bruno, e, de forma
especial, ao Rafael Machado (funcionário do APCBH, professor e companheiro
de luminosas incursões no Mercado Central de Belo Horizonte), que sempre
me atenderam com a maior prontidão, profissionalismo e atenção, me
disponibilizando rico e diversificado material de pesquisa. Não poderia deixar
de registrar a excelente qualidade e relevância desta instituição, imprescindível
à história e à memória da cidade de Belo Horizonte.
Mesmo estando geograficamente distante, mas sempre atento e solícito,
registro aqui a minha gratidão ao Prof. Célio da Cunha, da UnB, pelo estímulo e
pela confiança depositados em mim.
À minha esposa, Kátia Gerab Baggio, que mesmo estando submetida a
uma carga excessiva de trabalho na UFMG, sempre me estimulou e me apoiou
na consecução deste intento, os meus sinceros agradecimentos.
Faço agora um agradecimento especial, sincero e profundo à minha
querida orientadora, Profa. Dra. Amélia Luisa Damiani, do Departamento de
Geografia da FFLCH da Universidade de São Paulo, pela liberdade
proporcionada, pelo tratamento ponderado, cuidadoso e crítico das idéias, além
de um acompanhamento minucioso de todo o trabalho realizado. Ademais, seu
estímulo e apoio foram decisivos para mim. A você, Amélia, o meu muito
obrigado.
A pé e de coração leve
eu enveredo pela estrada aberta,
saudável, livre, o mundo à minha frente,
à minha frente o longo atalho pardo
levando-me aonde eu queira.
A terra a se expandir
à esquerda e à direita,
pintura viva – cada parte com
a luz mais adequada,
a música a se ouvir onde faz falta
e a se calar onde não é querida,
a jubilosa voz da estrada aberta,
a alegre e fresca sensação da estrada...
Walt Whitman
“Canto da Estrada Aberta” (fragmentos)
RESUMO:
Introdução..........................................................................................................1
Capítulo 1:
A cidade e o urbano na contemporaneidade capitalista na
perspectiva do conflito uso/troca: uma análise sócio-espacial....................7
Capítulo 2:
Belo Horizonte: o percurso da formação da cidade moderna
e a circunscrição intersticial de permanências e resistências...................44
Capítulo 3:
Santa Tereza: a territorialidade pelo uso.....................................................138
Considerações finais.....................................................................................193
Anexos............................................................................................................196
Introdução:
1
O trabalho de campo empreendido no bairro de Santa Tereza e no Mercado Central revelou
importantes evidências neste sentido, isto é, a ocorrência de laços afetivos com o lugar
vivenciado (topofilia). Cumpre observar, oportunamente, que a pesquisa de campo teve um
caráter essencialmente qualitativo.
5
Capítulo 1
4
Cf.CHESNAIS, François. A Mundialização do Capital. São Paulo: Xamã, 1996.
10
5
CARLOS, Ana Fani A. O Lugar no/do Mundo. São Paulo: Hucitec, 1996. p.15.
11
Mas adverte:
Coutinho).
8
BELLUZZO, Luiz G. O Renascimento do Homo Oeconomicus, Carta Capital, p.67, maio de
1998.
9
LEFEBVRE, Henri. O Direito à Cidade. São Paulo: Editora Moraes, 1991. p.145.
15
10
FROMM, Erich. Análise do Homem. 10ª. edição. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1978. p.30.
16
Ou ainda:
O tempo determinado pela mediação do valor de troca das mercadorias
e do trabalho mercantilizado. O tempo quantitativo da troca e da
acumulação em conflito com o tempo qualitativo do uso. O tempo do
homem subjugado pela coisa, tempo em conflito com o tempo do
homem que subjuga a coisa. 15
13
FROMM, Erich. Análise do Homem. p.65-76 passim.
14
HARVEY, David. A Condição Pós-Moderna. São Paulo: Edições Loyola, 1992. p.208.
15
MARTINS, José de S. A Sociabilidade do Homem Simples. São Paulo: Hucitec, 2000,
p.103.
20
16
ARENDT, Hannah. A Condição Humana. Rio de janeiro: Forense Universitária; Rio de
Janeiro: Salamandra; São Paulo: Ed. da Universidade de São Paulo, 1981, p.201-202.
17
Embora o texto de Arendt sugira mais propriamente a crise do urbano do que um sentido
mais humano para a cidade, não se quer aqui reduzir o urbano a estas relações, mas apenas
indicar a sua relevância e necessidade para a construção deste sentido.
21
19
ARANTES, Otília. “Uma estratégia fatal: a cultura nas novas gestões urbanas”. In:
ARANTES, Otília et al. (org.). A Cidade do Pensamento Único: desmanchando consensos. 2a.
ed. Petrópolis: Vozes, 2000. p.11-74.
20
ARANTES, Otília, loc. cit.
21
Cf. MARTINS, José de S. O Cativeiro da Terra. São Paulo: Livraria Editora Ciências
Humanas, 1979.
24
22
LEFEBVRE, Henri. A Cidade do Capital. Rio de Janeiro: DP&A Editora, 1999. p.85-86.
23
MARX, Karl. Formações Econômicas Pré-Capitalistas. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1974.
Considerando-se que Marx não abordou a natureza em si mesma, isto é, desvinculada da
ação (práxis) humana, não havendo em sua obra, neste sentido, uma dimensão ontológica do
natural, Marx estabelece, contudo, uma diferenciação entre as duas expressões essenciais da
natureza, isto é, a primeira e a segunda natureza. A designada primeira natureza seria a
“natureza em estado natural”; a segunda natureza, por sua vez, consistiria na natureza
subsumida à sociedade e sua dinâmica, dinâmica esta consubstanciada pelo trabalho na
esteira do desenvolvimento das forças produtivas, engendrando, assim, a natureza
humanizada, que incorpora e evidencia os resultados da ação humana, ou seja, a
incorporação de trabalho ao solo, que leva à alteração das suas condições previamente
existentes. Nesta perspectiva compreende-se que o desenvolvimento da história implica um
constante e progressivo movimento de transformação da primeira em segunda natureza.
Sendo que a segunda natureza envolve inteiramente o sentido do trabalho alienado. Lembro
que as forças produtivas do trabalho se realizam como forças produtivas do capital.
25
24
LEFEBVRE, Henri. A Cidade do Capital. Rio de Janeiro: DP&A Editora, 1999. p.85-91.
(ênfases do autor). Aqui Lefebvre aborda a questão da terra a partir das idéias de Marx
expostas n’ O Capital, seção III, cap VII e nos Grundrisse, vol.I.
25
Ibidem, p.91 e 92.
26
26
CARLOS, Ana Fani A. Espaço-Tempo na Metrópole: a fragmentação da vida cotidiana. São
Paulo: Contexto, 2001. p.37 e 38.
27
HARVEY, David. A Condição Pós-moderna. São Paulo: Edições Loyola, 1992. p.202.
28
CARLOS, Ana Fani A. Espaço-Tempo na Metrópole: a fragmentação da vida cotidiana. São
Paulo: Contexto, 2001. p.38.
27
O uso permite a troca: a coisa da qual alguém fará uso se vende; ela
adquire valor de troca porque ela tem valor de uso. Todavia, o uso não
coincide com o valor de uso. A água, o ar, a luz, não tiveram valor de
troca durante milênios e até à modernidade, ainda que todo o mundo
faça uso deles. Mais precisamente, o ar, a água, a luz, a terra – os
elementos – adquirem valor de uso desde o momento em que eles se
produzem e se vendem, portanto adquirindo valor de troca: o ar, com o
ar condicionado; a água com o fornecimento por canalizações; a luz
com a iluminação artificial; a terra enfim, e, sobretudo, logo que ela
torna-se objeto de propriedade. (...) O uso persiste, já que corresponde
a uma necessidade, fundamental ou artificial, física ou elaborada:
respirar, beber, ver, andar. Logo que um elemento deixa de ser um
dom da natureza, em torno dele começam à travar-se lutas
encarniçadas. Do dom, a prática passa ao regime da dívida e da taxa;
o elemento se calcula e se contabiliza. Cada indivíduo é devedor à
sociedade daquilo que recebe dela ao título de elemento, que não tem
mais nada de elementar: sua parte de água, de ar, de luz, de terra. Os
‘elementos’ entram assim na região conflituosa onde se acertam os
negócios sociais, por contratos e discussões (relativos à dívida e ao
29
Ibidem, p.36.
28
30
LEFEBVRE, Henri. De l’État (Les contradictions de l’État moderne: la dialectique et/de
l’État), tome IV. Paris: Union Générale d’Éditions. 1978, p.275-278. (tradução minha do
original).
29
31
ROLNIK, Raquel & NAKANO, Kazuo. “Cidades e políticas urbanas no Brasil”. In: RATTNER,
Henrique (org.) Brasil no Limiar do Século XXI: alternativas para a construção de uma
sociedade sustentável. São Paulo: Edusp, 2000. p.115.
30
32
Segundo Ladislau Dowbor, “a reprodução social se contrapõe de certa maneira à
reprodução do capital, tradicional conceito que via essencialmente o processo de crescimento
econômico centrado nas atividades produtivas. Neste sentido, a reprodução social é mais
ampla, e define um processo que envolve tanto a produção como os serviços sociais, e as
diversas atividades de gestão do desenvolvimento como planejamento, segurança e outros.
Por outro lado, trata-se de reprodução, ou seja, de uma visão estrutural e de longo prazo que
envolve uma análise de como a sociedade no seu conjunto se reproduz e evolui. Ao insistir no
conceito de reprodução social, buscamos romper a absurda dicotomia que se fez entre a
economia, que se preocupa com a produção de riquezas, e o social, que acompanha com
atraso o processo, tentando através de políticas de compensação reduzir as contradições
geradas, a miséria, o abandono, a exclusão. Não há mais espaço para uma produção que
não leva em consideração os impactos sociais da própria economia, e que não integra os
processos corretivos na sua própria área, como não há mais espaço para políticas sociais que
tentam ignorar os seus custos e implicações econômicas; e tanto o econômico como o social
têm de levar em consideração a sustentabilidade dos processos, a sua viabilidade ambiental
de longo prazo. Em termos normativos, trata-se de seguir uma fórmula tradicional, mas
perfeitamente adequada: o desenvolvimento tem de ser socialmente justo, economicamente
viável e ambientalmente sustentável. Segmentar este processo não é realista, e a sua
integração implica numa redefinição de vários conceitos”. Cf. DOWBOR, Ladislau. A
Reprodução Social: proposta para uma gestão descentralizada. 2a. edição. Petrópolis: Vozes,
1998. p.419-420. Para uma análise crítica da idéia de “sustentabilidade”, cf: RIBEIRO,
Wagner Costa et al. “Desenvolvimento sustentável: mito ou realidade?”. Terra Livre. São
Paulo: Associação dos Geógrafos Brasileiros, n.11-12, ago.1992/ago.1993. p.91-101; Ver
também: MATTOS, Carlos A. “Desenvolvimento sustentável nos territórios da globalização.
Alternativa de sobrevivência ou nova utopia?”. In: BECKER, Bertha K. & MIRANDA, Mariana.
(orgs.). A Geografia Política do Desenvolvimento Sustentável. Rio de Janeiro: Editora da
UFRJ, 1997. p.103-125. (além deste, vários outros artigos do livro são de grande interesse
para a questão).
31
33
HARVEY, David. A Condição Pós-Moderna. São Paulo: Edições Loyola, 1992. p.217.
32
34
Ibidem, p.218 e 219.
35
De acordo com Henri Lefebvre, o direito à cidade integra o universo dos direitos que
definem a civilização, os quais “abrem caminho” na seara de “condições difíceis” da
sociedade capitalista. Observa que embora esses direitos sejam “mal reconhecidos” eles
gradativamente tornam-se “costumeiros antes de se inscreverem nos códigos formalizados.
Mudariam a realidade se entrassem para a prática social: direito ao trabalho, à instrução, à
educação, à saúde, à habitação, aos lazeres, à vida”. O direito à cidade compreenderia,
assim, não o direito à “cidade arcaica”, mas sim o direito “à vida urbana, à centralidade
renovada, aos locais de encontro e de trocas, aos ritmos de vida e empregos do tempo que
permitem o uso pleno e inteiro desses momentos e locais, etc”. A realização dessa condição
de direitos implicaria na transformação das práticas urbanas bem como no processo de
constituição das cidades. Cf. LEFEBVRE, Henri. O Direito à Cidade. São Paulo: Editora
Moraes, 1991. p.143.
33
E conclui:
...uma repartição espacial não-mercantil desses bens e serviços,
baseada exclusivamente no interesse público, traria, ao mesmo tempo,
36
GOMES, Paulo C. da. C. A Condição Urbana: ensaios de geopolítica da cidade. Rio de
Janeiro: Beretrand Brasil, 2002. p.139 e 141.
37
Emprego aqui o sentido kantiano da palavra dignidade, cujo princípio é: Age de tal forma
que trates a humanidade, tanto na tua pessoa como na pessoa de qualquer outro, sempre
também como um fim e nunca unicamente como um meio (Grundlegung zur Met. Der Sitten,
II). Segundo Nicola Abbagnano, “esse imperativo estabelece que todo homem, aliás, todo ser
racional, como fim em si mesmo, possui um valor não relativo (como é, p. ex. um preço), mas
intrínseco, ou seja, a dignidade”. Citando Kant, assinala: O que tem preço pode ser
substituído por alguma outra coisa equivalente, o que é superior a qualquer preço, e por isso
não permite nenhuma equivalência, tem D. Prossegue Abbagnano: “Substancialmente, a D.
de um ser racional consiste no fato de ele não obedecer a nenhuma lei que não seja também
instituída por ele mesmo. Observa ainda que “a mortalidade, como condição dessa autonomia
legislativa é, portanto, a condição da D. do homem, e mortalidade e humanidade são as
únicas coisas que não têm preço. (...) Na incerteza das valorações morais do mundo
contemporâneo, que aumentou com as duas guerras mundiais, pode-se dizer que a
existência da D. do ser humano venceu uma prova, revelando-se como pedra de toque para a
aceitação dos ideais ou das formas de vida instauradas ou propostas; isso porque as
ideologias, os partidos e os regimes que, implícita ou explicitamente, se opuseram a essa
tese mostraram-se desastrosos para si e para os outros.” Cf. ABBAGNANO, Nicola.
Dicionário de Filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 1998, p. 276-277. (os trechos
grifados/italizados são de Kant).
34
38
SANTOS, Milton. O Espaço do Cidadão. 2a. ed. São Paulo: Nobel, 1993. p.116 e 117.
35
44
No universo dos países de capitalismo tardio e periférico ganha
relevo o Brasil, pelo dinamismo e expressividade que marcam a trajetória do
desenvolvimento do capitalismo em seu território e suas correspondentes e
notáveis configurações espaciais. Entre elas, avulta a sua ampla e
diversificada rede urbana, realidade praticamente única nesse universo,
caracterizada concomitantemente por acentuada polarização - suscitada pela
consolidação de megacidades - e forte assimetria social. Com uma
industrialização acelerada de base fordista orientada para o mercado interno,
sob forte ação estatal no âmbito dos projetos de modernização autoritária,
alcançou-se níveis de urbanização espetaculares, circunscrevendo no
território o fenômeno metropolitano, reflexo de inversões capitalistas induzidas
pelo planejamento econômico estatal e voltadas, sobretudo, aos grandes
centros, sobretudo os do centro-sul, com destaque para São Paulo. A
expansão metropolitana traduzia-se, então, como urbanização concentrada,
direcionada estrategicamente à reprodução ampliada do capital, norteada e
justificada pela ideologia do crescimento e da consecução do projeto “Brasil
potência”. Tal projeto, elaborado e gerido pelas forças armadas, legou ao país
uma estrutura territorial que, entre outros aspectos que se podem atribuir a
ela, leva as marcas da desigualdade e da seletividade, presentes nas diversas
escalas espaciais intranacionais, expressando conformações territoriais e
temporalidades diferenciadas – aspectos relevantes para uma compreensão
mais profícua da modernização e da modernidade brasileiras. Esse
movimento acentuadamente contraditório revela os termos da ambivalência
do Brasil, aspecto constituído ao longo da modernização centralizadora e
autoritária, que desde as suas origens no período Vargas, mais
especificamente a partir do Estado Novo, é marcado por uma assimetria no
âmbito do planejamento estatal entre a esfera econômica e a social, com
prevalência da primeira. Daí poder-se falar que a chamada modernização
brasileira conduziu mais propriamente ao desenvolvimento econômico -
campo privilegiado pelas políticas governamentais - em detrimento do social.
44
Cf. MANDEL, Ernest. O Capitalismo Tardio. 2a.ed. São Paulo: Nova Cultural, 1985 (Os
Economistas).
39
45
Cf. BECKER, Bertha K. & EGLER, Cláudio A. G. Brasil: uma nova potência regional na
economia-mundo. 2a. edição. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1994. p.145-146.
46
NOVY, Andréas. A Des-ordem da Periferia: 500 anos de espaço e poder no Brasil.
Petrópolis: Vozes, 2002, p.355.
47
Cf. MARICATO, Ermínia. “As idéias fora do lugar e o lugar fora das idéias: planejamento
urbano no Brasil”. In: ARANTES, Otília et al. (org.). A Cidade do Pensamento Único:
desmanchando consensos. 2a. ed. Petrópolis: Vozes, 2000. p.162.
41
48
Cf. DAVIDOVICH, Fany R. “Considerações sobre a urbanização no Brasil”. In: BECKER,
Bertha K. et. al. (orgs.) Geografia e Meio Ambiente no Brasil. São Paulo: Hucitec, 1995. p.79-
96.
42
Assim sendo, haja vista o fato de que a renda não se define como o
único meio a lograr capacidades para a superação das privações. Depreende-
se daí que:
A relação instrumental entre baixa renda e baixa capacidade é variável
entre comunidades e até mesmo entre famílias e indivíduos (o impacto
da renda sobre as capacidades é contingente e condicional).50
classe média, supostamente a salvo dessa tormenta, vive cotidianamente o terror das
incertezas daí decorrentes, como a do desemprego sempre iminente”. (...) “Já nos primeiros
tempos após o golpe de 1964, tornou-se necessário que duas pessoas de uma mesma família
trabalhassem para perfazer o mesmo salário que antes era conseguido por um único
trabalhador. Portanto, uma redução no salário real do trabalhador ou, dito de outro modo, o
trabalho passou a valer cerca de metade do que valia antes. Com isso, um crescente número
de mulheres, adolescentes e crianças teve que se lançar no mercado de trabalho, os
trabalhadores competindo com os próprios trabalhadores, para completar o salário que se
tornara de fato salário da família”. MARTINS, José de S. Para compreender e temer a
exclusão social. Vida Pastoral, Ano XLV, nº 239, Editora Paulus, São Paulo, novembro-
dezembro de 2004, p. 3-9.
44
Capítulo 2
É sob estas circunstâncias que Belo Horizonte surge em fins do século XIX
como cidade concebida e planejada nos marcos do racionalismo urbano, e da
ordem positivista e geométrica, para ser uma capital moderna e simbolizar uma
empreitada rumo ao progresso. Sua inauguração deu-se em 12 de dezembro de
18971 em virtude de uma exigência da constituição do Estado, sendo inicialmente
denominada Cidade de Minas e, a partir de 1901, definitivamente nomeada de
Belo Horizonte. O nome fora criação do professor Luís Daniel Cornélio de
Cerqueira, quando se discutia a retirada do nome de Curral, por razões óbvias.
Entre diversos nomes sugeridos, entre os quais Santa Cruz, Cruzeiro do Sul, Nova
Floresta, Terra Nova e Novo Horizonte, o presidente provisório João Pinheiro
optou por Belo Horizonte, adotando-o em decreto de 1891. Registre-se que ao
longo da fase de construção da cidade e também por algum tempo depois,
diversos nomes insultuosos foram lançados a ela em virtude de certas condições e
situações que avultavam no seu espaço. Dentre eles o de Papudópolis,
Cretinópolis e Bociópolis, em virtude da ocorrência de bóscio endêmico na região,
problema que, na época, supostamente seria provocado pela água e pelo clima do
lugar; Poeirópolis, pela ausência de pavimentação e cenário de obras diversas
(como, por exemplo, de terraplanagem) inacabadas; Bandalheirópolis, por
referência às transações de compra e venda e negociatas que se desenvolviam ao
ritmo das construções da zona central da cidade.2 Por ocasião de sua “apressada”
inauguração, podia-se claramente observar obras inacabadas na sua paisagem, o
que em grande medida se explica, como já se viu, pela ocorrência da crise
econômica que se abatia sobre o país e o Estado, impactando, assim, o comércio
1
Embora a cidade tenha sido inaugurada oficialmente em 1897, a sua construção prolongou-se até
meados da década de 1910, quando então a cidade esposava aos seus habitantes condições mais
favoráveis ao desenvolvimento de uma vida de caráter mais urbano, embora socialmente
constrangida pela crise econômica da Primeira Guerra Mundial e pelo endividamento do Estado.
No ano de sua inauguração a cidade contava com uma população de aproximadamente 12 mil
habitantes, quando se definem os seus primeiros conjuntos arquitetônico-urbanísticos, como, por
exemplo, a Praça da Liberdade, expressando-se como um grande paço municipal, com a presença
dos belíssimos prédios das secretarias de Estado e do Palácio do Governo; o Parque Municipal,
que na época apresentava tamanho quatro vezes maior ao de hoje; a Praça da Estação; a rua da
Bahia; a avenida Santos Dumont; a avenida Afonso Pena. Conquanto a cidade já apresentasse na
década de 20 bens culturais e de lazer básicos de uma cidade moderna, a sua consolidação como
capital dar-se-ia, contudo, mais propriamente a partir dos anos 30.
2
Cf. IGLÉSIAS, Francisco. “Trajetória e significado de Belo Horizonte”. In: IGLÉSIAS, F. & PAULA,
J. A. de. Memória da Economia da Cidade de Belo Horizonte: BH 90 anos. Belo Horizonte: BMG,
s/d. p.11.
46
3
Ibidem, p.11 e 12.
4
LOBATO, Monteiro. “Impressões de um paulista”. In: Revista Social Trabalhista. Edição
comemorativa do cinqüentenário de BH, n.59, p.220-221, 12 de dezembro de 1947.
47
além de também servir de local para festas religiosas. Como já se notou a quase
totalidade destas formas de lazer não era, entretanto, acessível à população de
baixa renda, que alternativamente buscava em áreas distantes do centro,
principalmente nos seus botequins, nas peladas de futebol e na tômbola5 os seus
meios de diversão e sociabilidade. Não raro, trabalhadores destes segmentos
populares chegavam a sofrer ações discriminatórias ao transitarem por setores da
área central, mais frequentemente por iniciativa policial, à medida que eram
encarados de antemão como “desocupados” e “vagabundos” que ameaçavam a
manutenção da “ordem pública”. Desse modo, a área central se expressava como
espaço de uso da elite, na qual ganhava certo destaque a Rua da Bahia, à medida
que concentrava os principais bares e cafés da cidade, assim como o seu único
teatro até então, o Soucasseaux, surgido em 1900, cujo edifício conformava-se
mais propriamente como um barracão coberto de zinco, que servia à exibição de
peças teatrais, eventos musicais, além de comportar, de forma improvisada, um
botequim. Depois surgiriam outros teatros, como o “Teatrinho Paris” e o “Teatro
Variedades”, além da criação de alguns cinemas. A Rua da Bahia, que se tornaria
uma das principais referências da cidade, convertia-se assim num expressivo local
de encontros e sociabilidade dos segmentos sociais mais abastados, favorecendo,
sobretudo ao anoitecer, o footing e o namoro “bem comportado”, além de
consolidar-se como um lugar de “difusão de modismos na arquitetura, no
comportamento e na moda”. Este sucinto panorama revela, portanto, a
emergência e a conformação de uma cidade dividida (como se verá melhor mais
adiante), que já expunha de forma clara os seus sinais e suas “fronteiras” sócio-
espaciais. Não surpreende, ademais, o fato de que Belo Horizonte, nestes tempos,
revelasse uma ausência de identidade dos seus moradores com a cidade, o que
me parece absolutamente compreensível à luz da condição de ser uma cidade
que surge de um plano pré-concebido, constituída socialmente por parcelas
populacionais provenientes de outros lugares, além do seu pouco tempo de
existência, não havendo ainda, portanto, uma efetiva consolidação espaço-
temporal. São aspectos que efetivamente constrangeram a formação do
5
Jogo parecido com o bingo, no qual os prêmios não valem dinheiro.
49
componente identitário, retardando-o, mas que depois, sobretudo a partir dos anos
20, insinua-se no âmbito da sua vida cotidiana, quando a cidade começa a se
definir melhor, conquanto fosse adquirindo novos matizes, dados, essencialmente,
pelo incremento da atividade econômica e da vida social e cultural. O que vale
dizer que a vida urbana ganhava maior densidade e expressão, aspectos, em
larga medida, proporcionados por uma relativa diversidade de pontos de encontro,
de bens culturais, de consumo e de lazer que a cidade já dispunha nesta época.
Esta condição fez da rua um lugar de destacada importância na vida cotidiana da
cidade, à medida que se tornava mais atrativa e sedutora à realização de uma
variedade de práticas sócio-espaciais, colocando-se, desse modo, “em oposição
às formas de lazer domésticas”.6 Ademais, a economia urbana de Belo Horizonte
já não se apresentava mais tão dependente das atividades político-
administrativas, quando então a sua indústria já dava mostras de um certo
dinamismo. Esta condição a tornaria
...um centro regional de alguma importância, comparável a outros como
Juiz de Fora, na Zona da Mata, Barbacena no Campo das Vertentes e
Uberlândia no Triângulo. Seu raio de influência, no entanto, não ultrapassa
a região imediatamente ao norte, onde, ao lado da pecuária, se desenvolvia
a cotonicultura e a indústria têxtil.7
Pois bem, a nova capital implantou-se num sítio constituído pelo vale do
Ribeirão Arrudas, com uma várzea freqüentemente inundada, que posteriormente
seria perpassada pela então ferrovia Central do Brasil. Apresentando este vale
uma conformação e um desenvolvimento no sentido leste-oeste, a cidade iria se
desenvolver desse modo ao norte e ao sul. Ela foi edificada numa microrregião
dotada de duas unidades geológicas e geomorfológicas demarcadas e díspares.
De um lado as encostas da imponente Serra do Curral, dotada de formação
característica do quadrilátero ferrífero, e que, desgraçadamente, encontra-se
exposta à cobiça das empresas de mineração, que há muito tempo ali
desenvolvem atividades que esposam contundentes evidências de degradação.
6
ANDRADE, Luciana T. de. A Belo Horizonte dos Modernistas: representações ambivalentes da
cidade moderna. Belo Horizonte: Editora Puc Minas; C/ARTE, 2004. p.86.
7
Cf. SINGER, Paul. “Belo Horizonte”. In: Desenvolvimento Econômico e Evolução Urbana (análise
da evolução econômica de São Paulo, Blumenau, Porto Alegre, Belo Horizonte e Recife). São
Paulo: Editora Nacional e Editora da USP, 1968. p.234 e 235.
50
Arraial do Curral d’El Rey 9, cuja população e seus fixos territoriais eram tomados
pela lógica do Estado, e seu discurso normativo, como um constrangimento às
sendas do progresso, e assim tomados como indesejáveis e inadequados para a
nova urbe que viria: moderna, ordenada e que funcionasse como um organismo
saudável.
Vale dizer ainda que os princípios básicos que nortearam a confecção do
plano urbanístico foram a salubridade, a comodidade e o embelezamento, pelos
quais se procedeu à localização espacial dos equipamentos urbanos, quais sejam:
cemitério, matadouro, lavanderia municipal, local para banhos públicos,
incineradores de lixo, forno crematório etc. Eliminar-se-iam, assim, os traços que
remetiam ao passado, suprimindo-se o avesso do que deveria ser a “verdadeira”
Belo Horizonte, como a ela se referiam as autoridades públicas da época. Desse
modo, já em meados dos anos 1920, Prado Kelly assinalava:
Afastaram-se de vez, os figurinos da estética de colônia, vielas e becos
estreitos, arcos deselegantes e pesados monumentos. A cidade é, toda,
vibração moderna. Larga, poderosa, com determinantes locais... Parece
estar desafogada, livre, respirando a plenos pulmões.10
13
BARROS, José Márcio. “Cidade e Identidade: a Avenida do Contorno em Belo Horizonte”. In:
MEDEIROS, Regina (org.). Permanências e Mudanças em Belo Horizonte. Belo Horizonte:
Autêntica, 2001. p. 35.
14
SINGER, Paul. “Belo Horizonte”. In: Desenvolvimento Econômico e Evolução Urbana (análise da
evolução econômica de São Paulo, Blumenau, Porto Alegre, Belo Horizonte e Recife). São Paulo:
Editora Nacional e Editora da USP, 1968. p.219 e 220. O prefeito de Belo Horizonte a que Paul
Singer se refere é Américo Renê Gianetti, que foi, por ordem numérica, o trigésimo prefeito da
cidade, de 01/02/1951 a 06/09/1954. Cf. Plano-Programa de administração para Belo Horizonte,
Belo Horizonte, 1951. p.115 e 116.
15
HARVEY, David. Los Límites del Capitalismo y la Teoría Marxista. México: Fondo de Cultura
Económica, 1990.
54
16
Preservam-se aqui as designações utilizadas no próprio plano, embora se possa questionar, para
além desta segmentação formal e oficial da cidade, a efetiva condição espacial da zona
“suburbana” nestes tempos, cuja expressão real possivelmente pudesse ser considerada mais
propriamente como rural.
17
VILLAÇA, Flavio. Espaço Intra-Urbano no Brasil. São Paulo: Studio Nobel/FAPESP/Lincoln
Institute, 1998. p.119. Evidencia-se, portanto, por esta caracterização a constituição de duas
cidades, uma oficial e outra paralela ou satélite, onde se concentravam os segmentos sociais não
enquadrados na zona urbana do plano original.
55
21
LEMOS, Celina B. Determinações do Espaço Urbano: a evolução econômica, urbanística e
simbólica do centro de Belo Horizonte. Belo Horizonte: Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas
da Universidade Federal de Minas Gerais, 1988, p.93. (Dissertação de Mestrado em Sociologia
Urbana).
22
Cf. VILLAÇA, Flavio. Espaço Intra-Urbano no Brasil. São Paulo: Studio Nobel/FAPESP/Lincoln
Institute, 1998. p.200.
58
20, quando se pode mais claramente divisar práticas de uso e apropriação do seu
espaço.23 Entretanto,
Para evitar injustiças históricas, é importante ressaltar que muito do
processo de negociatas de terrenos e de especulação que se instaurara em
Belo Horizonte contrariava os planos de Aarão Reis, tendo sido, inclusive,
um dos motivos de seu afastamento da Comissão Construtora. Embora,
desde o início, Reis expressasse a intenção de entregar os terrenos à
iniciativa privada, segundo ele o processo de transferência deveria ocorrer
sob critérios rígidos, sendo fundamental o papel do Poder Público na sua
fiscalização e controle, o que, entretanto não aconteceu.
No processo de especulação, o governo exerceu papel decisivo: primeiro,
ao demonstrar, desde o início, a intenção de entregar os lotes ao mercado
e, segundo, ao permitir que as transações de lotes se efetuassem. O poder
público era o principal responsável pelo processo de ocupação do solo,
uma vez que controlava o acesso aos terrenos e construções e, nesse
processo, privilegiou os funcionários públicos, os proprietários de Ouro
Preto e, excepcionalmente, uma parcela dos antigos moradores de Belo
Horizonte. A transação de terrenos foi a contrapartida do governo para
vencer a resistência daqueles que eram contra a mudança da capital.24
27
Entende-se aqui por submordia toda e qualquer forma de habitação que revela no seu conjunto
precariedade de condições infra-estruturais básicas e até mesmo a sua destituição, apresentando
ausência de técnicas construtivas adequadas e uso de materiais de menor custo e qualidade
inferior (de pouca durabilidade), revelando ainda cômodos mal dimensionados, má circulação,
restrições de conforto térmico, de insolação, aeração e de estabilidade. Numa perspectiva legalista
(ótica do Estado), os tipos de submoradia constituem, de modo geral, formas de inserção ilegal na
cidade à medida que contrariam normas que regulam o uso e a ocupação do solo urbano. Cf.
BAGGIO, Ulysses da C. A Dinâmica das Transformações Sócio-Espaciais das Formas de
Submoradia no Município de São Paulo. São Paulo: Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências
Humanas da Universidade de São Paulo, 1995. (Dissertação de Mestrado em Geografia).
61
essa a primeira remoção de favelas conduzida pelo poder público local. De forma
mais sistemática, o combate às condições insalubres e “desordenadas” das
construções se estabelecerá mais precisamente em 1906, quando então se
promove pelo Estado a redefinição das zonas da cidade, ocorrendo na esteira
desse processo, em 1910, a instauração de uma política contrária à construção de
moradias precárias na zona urbana em virtude dos riscos à saúde pública que elas
representavam. Entre 1911 e 1914 o governo estadual promoveu alterações
expressivas, introduzindo modificações nas seções urbanas bem como
emancipando e incorporando à zona suburbana as colônias agrícolas Américo
Werneck, Adalbert Ferraz, Bias Fortes, Afonso Pena, e também o povoado do
Calafate. Como um desdobramento deste movimento, pelo qual se ampliava a
distância entre a representação idealizada da cidade (a imagem oficial) e a sua
expressão sócio-espacial real, sucede em 1921 a incorporação da zona rural à
zona suburbana, quando as regulamentações para as construções existentes na
zona urbana são estendidas às demais zonas. Entretanto, longe de se resolver o
problema, as invasões continuaram a ter o seu curso em novas áreas, haja vista
que a Área Operária não comportava uma população em processo de
crescimento. Depreende-se, portanto, que em conformidade com o estabelecido
pelo projeto da Comissão Construtora, que não admitia o estabelecimento efetivo
destes contingentes de baixa renda na cidade, o Estado intervém de modo a
segregá-los, recusando-lhes taxativamente os setores nobres e mais valorizados
da cidade.
A conformação deste panorama sócio-espacial desvela em relação ao
plano inicial da cidade - que previa a sua ocupação e crescimento no sentido
norte-sul a partir da área central -, uma total subversão/inversão 29, expressa pela
geografização da modulação restritiva e segregadora estabelecida pelo próprio
plano, afirmando-se, desse modo, uma orientação de sua ocupação da periferia
29
“Pretendia-se implantar a cidade a partir do centro em direção à periferia, do espaço central
ordenado, moderno e dominante, para os espaços periféricos, dominados, do urbano para o sub-
urbano. Mas foi a população trabalhadora, excluída do espaço central da cidade, do poder, da
cidadania, da agora estendida, que de fato determinou a produção da cidade. E Belo Horizonte
cresceu no sentido oposto, da periferia para o centro, num processo que se repetiu em inúmeras
cidades planejadas no Brasil”. Cf. MONTE-MÓR, Roberto L. “Belo Horizonte: a cidade planejada e
a metrópole em construção”. In: MONTE-MÓR, Roberto L. (coord.). Belo Horizonte: espaços e
tempos em construção. Belo Horizonte: PBH/CEDEPLAR, 1994. p.15.
63
30
VILLAÇA, Flavio. Espaço Intra-Urbano no Brasil. São Paulo: Studio Nobel/FAPESP/Lincoln
Institute, 1998. p.123 e 124.
31
BARROS, José Márcio. “Cidade e Identidade: a Avenida do Contorno em Belo Horizonte”. In:
MEDEIROS, Regina (org.). Permanências e Mudanças em Belo Horizonte. Belo Horizonte:
Autêntica, 2001. p.37.
64
32
Acerca dessa característica, é significativa e emblemática a observação do urbanista francês
Alfred Agache, que ao visitar Belo Horizonte em 1940, a convite de JK, proclamou: “esta cidade é
um paradoxo”. Esta observação de Agache sobre a cidade pautava-se, principalmente, na
comparação e nos contrastes verificados entre a zona suburbana, que apresentava um
crescimento “desordenado” e sem infra-estrutura, e a zona urbana.
65
Setor da Planta geral da Cidade de Minas (1895), com escala original de 1:4.000, abrangendo a
extensão drenada pelo ribeirão Arrudas entre as praças da Estação e do Mercado. Foi uma das
primeiras áreas da zona urbana a ser planejada e ocupada. “Segundo Francisco Bicalho, esse
arruamento teve de ser refeito após a aprovação da planta, pois não correspondia aos
condicionamentos da topografia, contrariamente ao que afirmara Aarão Reis. O tamanho dos
quarteirões e lotes também foi fator de crescente diferenciação entre as zonas, pois os terrenos
suburbanos, muito maiores que os urbanos, logo começaram a ser subdivididos e comercializados
em loteamentos privados. Poucas ruas então previstas, como Pouso Alegre, Jacuí e Varginha,
seriam mantidas posteriormente, com grandes alterações de traçado”.
Fonte: Panorama de Belo Horizonte: Atlas histórico. Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro,
Centro de Estudos Históricos e Culturais, 1997. p.34 (Coleção Centenário).(reprodução reduzida).
33
Cf. Plano Diretor de Belo Horizonte: lei de uso e ocupação do solo – estudos básicos. Belo
Horizonte, maio de 1995. p.42 e 43. (ênfases minhas).
66
Por sua vez, Maria Ângela Leite, diante desse quadro sócio-espacial,
conclui:
...foi assim que à construção planejada da cidade se associou a expansão
suburbana por manchas descontínuas de ocupação, numa desordem que,
ao contrariar a racionalidade do planejado, criava novos e imprevistos usos
das estruturas propostas, resultando em formas da paisagem que
sugeriam, aos olhos do Estado, uma modernidade capaz de revelar a
tradição que a cidade não conhecia. 36
34
BH 100 anos: nossa história. Encarte do Jornal Estado de Minas. Belo Horizonte, 1996. p.43.
35
VESENTINI, José W. A Capital da Geopolítica. São Paulo: Ática, 1986. p.16.
36
LEITE, Maria Â. F. P. “Uma História de Movimentos”. In: Santos, Milton & Silveira, María L. O
Brasil: território e sociedade no início do século XXI. Rio de Janeiro: Record, 2001. p.441.
68
37
LIBÂNIO, Clarisse de A. Guia Cultural das Vilas e Favelas de Belo Horizonte. Belo Horizonte:
Rona Editora, 2004. p.30-35 passim.
38
LEFEBVRE, Henri. “Especificidade da Cidade: a cidade e a obra”. In: O Direito à Cidade. São
Paulo: Editora Moraes, 1991. p.45-49.
70
39
Não são consideradas aqui como verdadeiras e essenciais necessidades humanas aquelas
artificialmente criadas pelos veículos de publicidade, essencialmente vinculadas e justificadas pelo
consumismo capitalista desenfreado, mas mais especifica e particularmente aquelas qualificadas
como básicas à vida de qualquer ser humano, como, por exemplo, moradia, alimentação,
educação, saúde, lazer, transporte e trabalho em patamares dignos.
71
pelo movimento da aridez mercantil da troca, uma vez que se admite que o uso
seja inerente à vida, estando esta orgânica e permanentemente vinculada ao
espaço.40 Daí o uso inscrever-se nos lugares de vivência como virtualidade e
também como expressão geograficamente exteriorizada. Guardadas as devidas
proporções, compreendo que essa condição acompanha e marca a evolução de
Belo Horizonte até os dias atuais, em que o uso, pela minha perspectiva, se
consubstancia em expressões espaço-culturais de variados matizes, ainda que se
reconheça e se considere na análise as influências advindas das características
de privação inscritas no seu plano de construção, bem como os fortes impactos no
uso do seu espaço produzidos pelo desenvolvimento urbano-industrial,
principalmente no após Segunda Guerra.
Nesse sentido, a cidade, em franco crescimento e transformação não se
consubstancia como espaço consumado, uma vez que o valor de troca, no
transcurso de sua realização, encerra, por suas próprias características, a
inerência do inacabado. No permanente movimento conflituoso da troca em
41
relação ao uso abre-se, todavia, a possibilidade da insurgência do uso - não do
valor de uso. Enquanto houver condições no espaço urbano que possam suscitar,
e mesmo favorecer práticas cotidianas de uso e de apropriação do território, o
urbano - tomado como condição relacional entre tempo e espaço - permanecerá
vivo, ainda que pesem sobre ele os imperativos da urbanização fragmentadora,
incluindo-se aqui a constituição, em curso, de uma sociabilidade privatizada como
reflexo e decorrência da complexidade tecnológica atinente aos variados
processos de interação social, fato que tem contribuído em grande medida para a
emergência de novas formas de agregação social, como, por exemplo, a
“agregação just-in-time”, acerca da qual Maria Aparecida Moura assinala:
A interação social, antes realizada através das relações face-a-face, foi ao
longo da história, transformando-se através da interposição de inúmeras e
diversificadas formas de mediação. A interposição das mediações nas
trocas comunicacionais se tornou necessária para garantir a aproximação
40
Cumpre esclarecer que se emprega aqui a categoria espaço na perspectiva da noção
lefebvriana, isto é, de que o espaço é uso do tempo, o que significa que o reconhecimento desta
subversão implica na necessidade de pensar nas dimensões temporal e espacial
concomitantemente. Ademais, o tempo e o espaço se inserem na estratégia do ator social.
41
Cf. SEABRA, Odette C. de L. “A insurreição do uso”. In: MARTINS, José de S. (org.). Henri
Lefebvre e o Retorno à Dialética. São Paulo: Hucitec, 1996. p.71-86.
72
43
MORAES, Antônio C. R. & COSTA, Wanderley M. da. Geografia Crítica: a valorização do
espaço. 2a. edição. São Paulo: Hucitec, 1987. p.132 e 133.
44
CASTRIOTA, Leonardo B. Algumas considerações sobre o patrimônio. In: Arquiamérica: I Pan-
American Congress of Architectural Heritage. Ouro Preto, setembro de 1992.
74
Fachada do “mitológico” Bar do Ponto, em 1930, localizado na esquina da Avenida Afonso Pena
com Rua da Bahia. Ele foi considerado pelo cronista Moacyr Andrade “a espinha dorsal e o
coração da cidade”.
Fonte: Coleção José Góes, do Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte.
77
O Bar do Ponto, como era mais conhecido, existiu até o final dos anos 30,
tendo sido fechado em 1940 e demolido em 1959, num terreno em que depois se
implantou o Othon Hotel, um edifício de 25 andares47 existente até os dias de hoje.
O bar ostentava esse nome devido a sua localização bem em frente à agência de
bondes, que recebeu um novo edifício em 1910, com o nome de “Viação Elétrica”.
O cronista Djalma Andrade reputa-se ao Bar como um lugar
...genuinamente popular. Centro terrível de maledicência, aí forjados boatos
que, em minutos, circulavam por toda a cidade. A opinião do Bar do Ponto
valia como opinião pública.48
47
Cf. WERNECK, Humberto. “Bondes e Boatos”. In: O Desatino da Rapaziada: jornalistas e
escritores em Minas Gerais. São Paulo: Companhia das Letras, 1992, p.34 e 35; sobre o contexto
da inauguração e da demolição do Bar do Ponto, cf. CHACHAM, Vera. A Memória dos Lugares em
Um Tempo de Demolições. Belo Horizonte: Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da
Universidade Federal de Minas Gerais, 1994. (Dissertação de Mestrado em História).
48
ANDRADE, Djalma. História Alegre de Belo Horizonte. Comemoração do Cinqüentenário de Belo
Horizonte, Imprensa Oficial, 1947, p.44.
49
LIMA, Benvindo. “O Bar do Ponto”. In: Canteiro de Saudades – Pequena História Contemporânea
de Belo Horizonte (1910-1950). Belo Horizonte: Editora Promove, 1996. p.29-30.
78
53
Cf. sobre o assunto: CHACHAM, Vera. “A Memória Urbana Entre o Panorama e as Ruínas: a rua
da Bahia e o Bar do Ponto na Belo Horizonte dos anos 30 e 40”. In: DUTRA, Eliana de F. (org.).
BH: horizontes históricos. Belo Horizonte: C/Arte, 1996. p.183-237.
81
afluência dos mais variados segmentos sociais. Neste sentido, pode-se postular
que a sua importância para a cidade atribui-se menos à sua função econômico-
comercial, e mais propriamente à sua função sócio-espacial de aglutinação e
coesão, sobretudo considerando-se a condição de um ambiente metropolitano
exposto a processos explícitos de fragmentação. A percepção e a própria
representação deste lugar por muitos daqueles que o freqüentam e vivenciam é de
um lugar “diferente” e “familiar”, ao mesmo passo que é considerado como um dos
lugares mais queridos da cidade, no qual as diferenças parecem não se insinuar
tanto no âmbito da atmosfera lúdica e de encontro que ele produz. Desse modo,
para além de um espaço de trocas comerciais, o mercado central é genuinamente
o espaço da festa, da sociabilidade, da alegria, do descanso, onde trabalho e lazer
harmoniosamente se entrelaçam. Ele está organicamente integrado à cultura
sócio-espacial da urbe mineira, acentuando-a na medida em que é vivenciado e
apropriado cotidianamente, revelando-se como palco, no qual práticas e formas de
uso se desdobram como o uso do espaço, do tempo, do corpo; um lócus de
aglutinação social, de proximidade e de entrelaçamento e, portanto, virtualmente
dotado de condições favoráveis a integrar uma condição de humanização no
complexo e fragmentado espaço metropolitano. Neste sentido, o mercado é um
espaço social catalisador na tessitura da metrópole, um interstício luminoso e de
forte simbolismo, cuja presença no âmbito das vivências afetivas pode ser
evocada mesmo em sua ausência física diante de nós, ou seja, capturado pela
memória e pela lembrança, através das quais o lugar é convocado ao tempo
presente de modo a imprimir-lhe densidade e sentido. Quão importante ele é para
a vida da cidade... Cumpre assinalar ainda que a existência de espaços públicos e
sua manutenção/preservação, a exemplo do que se dá com o mercado central,
desempenha, ou pode desempenhar um papel extremamente importante na vida
urbana, à medida que contribui para que a cidade se torne um lugar mais
aprazível para se viver, favorecendo significativamente as dimensões da
existência na urbe. O meio definitivamente não determina as características
humanas e sociais, mas exerce efetivamente condicionamentos importantes não
negligenciáveis na sociedade, em que a forma articula-se à essência,
82
inseparavelmente.
Enquanto lugares dotados de condição topofílica e de práticas sócio-
espaciais com o sentido de uso, eles se traduzem como espaços de
pertencimento e de expressiva valorização simbólica em momentos e situações
diversas ao longo da história da cidade e de seu processo de formação. A idéia de
pertencimento se vincula a uma concepção de cidade enquanto um espaço
relacional dotado de interações sociais diversas, preenchido por interações
recíprocas entre as pessoas, as quais, sobretudo nas grandes cidades (e nas
metrópoles), se realizam de modo a estabelecer (ao contrário das sociedades
tradicionais) uma maior flexibilidade (e mesmo de transitoriedade) relacional com o
espaço, mas não propriamente um descolamento (ou “desenraizamento”) que
pudesse sugerir a realização de uma efetiva independência em relação a ele.
54
Entende-se aqui por “modernidade” o processo cultural, econômico, social e político, de caráter
descontínuo e não evolucionista, que emerge na Europa a partir do século XVII (há, entretanto,
controvérsias relativas às suas origens), cujos princípios valorativos são a universalidade dos
valores, o progresso, a objetividade científica e a secularização. O caráter de descontinuidade
aludido refere-se à ocorrência de crises periódicas no seu transcurso, uma vez que na sua
realização têmporo-espacial determinadas condições não podem ser resolvidas ou modificadas
com facilidade, daí resultando situações de transição, instabilidade, ou seja, crises. Nesse sentido,
o movimento da modernidade engendra rupturas no espaço e no tempo. Marshal Bermam
identifica a “modernidade” como sendo “um tipo de experiência vital”, que se traduziria por uma
dada forma de experienciar o tempo e o espaço, “(...) de si mesmo e dos outros, das possibilidades
e perigos da vida – que é compartilhada por homens e mulheres em todo o mundo, hoje”. Cf.
BERMAN, Marshal. Tudo que é Sólido Desmancha no Ar: a aventura da modernidade. São Paulo:
Companhia das Letras, 1986. p.15.
85
55
CARLOS, Ana Fani A. Espaço-Tempo na Metrópole: a fragmentação da vida cotidiana. São
Paulo: Contexto, 2001. p.32.
56
Cf. STORPER, Michael. “Territorialização numa economia global: possibilidades de
desenvolvimento tecnológico, comercial e regional em economias subdesenvolvidas”. In: LAVINAS,
Lena et al. (orgs). Integração, Região e Regionalismo. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1994. p.13.
86
Nesta perspectiva, reafirmo que para aqueles casos destacados, como, por
exemplo, o mercado central, se realiza a formação do ingrediente topofílico, ou
seja, a produção de relações identitárias e afetivas com o espaço vivido, o que
pressupõe relações enredadas no e pelo lugar, pelas quais se forja sua
valorização afetiva e simbólica, favorecida por aspectos e condições que lhe são
próprios e que traduzem a “especificidade histórica do particular”.
...no lugar encontramos as mesmas determinações da totalidade sem com
isso eliminar-se as particularidades, pois cada sociedade produz seu
espaço, determina os ritmos da vida, os modos de apropriação
expressando sua função social, seus projetos e desejos.
O lugar guarda uma dimensão prático sensível, real e concreta que a
análise, aos poucos, vai revelando.60
61
BRANT, Fernando. Mercado Central. Belo Horizonte: Conceito, 2004. p.18.
62
Ibidem, p.34 e 35. (depoimento de Veveco).
88
67
O aspecto topofílico aludido já era pressentido por mim antes mesmo do início da realização
desta pesquisa, quando para cá me mudei, vindo de São Paulo, em 1995. Porém, este traço ficou
ainda mais evidenciado ao longo das atividades de campo, em que destaco de forma mais sucinta
o Mercado Central e, de modo mais detalhado o bairro de Santa Tereza, no qual tive a
oportunidade de também conversar com moradores antigos, fazendo do pressentimento um fato.
93
68
Sobre as transformações que se processam no “hipercentro” de Belo Horizonte, Cf: SOUZA,
José M. & CARNEIRO, Ricardo. “O hipercentro de Belo Horizonte: conformação espacial e
transformações recentes”. In: Anuário Estatístico de Belo Horizonte 2003. Disponível em:
<http://portal 1.pbh.gov.br/pbh/pgEDOCUMENT>. acesso em 19/03/2005. s/p.
69
Regulamento Geral de Construções de Belo Horizonte, Prefeitura de Belo Horizonte, PLAMBEL.
1979. p.185 – 240 passim.
70
IBGE. Censos Demográficos. 1940 e 1950.
94
71
Plano Diretor de Belo Horizonte: lei de uso e ocupação do solo – estudos básicos. Belo
Horizonte, 1995. p. 98 e 101.
72
Já na primeira década do século passado, Belo Horizonte se apresentava como o segundo pólo
têxtil da província, estimulando o desenvolvimento industrial de cidades ao longo das imediações
do Rio das Velhas, Santa Luzia, Sete Lagoas, Curvelo e cidades da Bacia do São Francisco.
95
74
LEMOS, Celina B. “A construção simbólica dos espaços da cidade”. In: MONTE-MÓR, Roberto L.
(coord.). Belo Horizonte: espaços e tempos em construção. Belo Horizonte: PBH/CEDEPLAR,
1994. p.37.
75
O CJK e o seu entorno carregam efetivamente essa pecha de “lugar maldito” essencialmente em
virtude da prostituição e da venda de drogas, atividades que se realizam neste lugar principalmente
à noite.
76
PIMENTEL, Thaís V. C. Belo Horizonte ou o estigma da cidade moderna. In: Varia História (Belo
Horizonte: cem anos em cem), no. 18, set/97, p.62.
97
79
Chamo a atenção para o fato de que a ocupação do território mineiro, mais especificamente,
inicia-se em fins do século XVII e início do XVIII, relacionando-se diretamente ao descobrimento e
exploração de jazidas auríferas.
99
81
Cf. SINGER, Paul. “Belo Horizonte”. In: Desenvolvimento Econômico e Evolução urbana (análise
da evolução econômica de São Paulo, Blumenau, Porto Alegre, Belo Horizonte e Recife). São
Paulo: Editora Nacional e Editora da USP, 1968. p.199-269. Mais especificamente sobre o Setor de
Mercado Externo assinala que “na Economia Colonial, a economia de mercado é representada,
sobretudo, pelo Setor de Mercado Externo, o que significa que as unidades produtivas locais se
ligam a um mercado que se encontra além-fronteiras e (no caso do Brasil) além-mar”. (p.199).
82
Cf. DULCI, Otavio S. Política e Recuperação Econômica em Minas Gerais. Belo Horizonte:
Editora da UFMG, 1999. p.193-203.
83
Veja-se, acerca disso, que “(...) a construção da nova capital plasmou uma coalizão de forças
políticas que, em que pese a heterogeneidade formal – alguns são republicanos, outros
monarquistas; a heterogeneidade regional – alguns são da velha região mineradora – João
Pinheiro de Caeté, Afonso Pena de Santa Bárbara, outros são do Campo das vertentes
(Barbacena), como Bias Fortes, ou do Sul como Silviano Brandão; é basicamente, a congregação
das elites mineiras, tanto das velhas elites da mineração, quanto das elites nascidas da expansão
cafeeira, quanto dos setores médios agregados às atividades urbanas. Por exclusão, o plano da
cidade explicitará isto exemplarmente, trata-se de uma cidade em que não há lugar para as classes
populares”. PAULA, João A. de & MONTE-MOR, Roberto L. “As três invenções de Belo Horizonte”.
In: Anuário Estatístico de Belo Horizonte 2000. Disponível em: <http://www.pbh.gov.br>.acesso em
20 de janeiro de 2005. s/p.
101
84
IGLÉSIAS, Francisco. “Evolução econômica e populacional”. In: Memória da Economia da
Cidade de Belo Horizonte: BH 90 anos. Belo Horizonte: BMG, s/d. p.39.
103
Avenida Afonso Pena, em 1930, que era considerada um dos principais símbolos da
“cidade jardim”, provavelmente a partir da antiga (e extinta) Feira Permanente de
Amostras, podendo-se divisar, ao fundo, os bairros da Serra e Funcionários.
Fonte: Acervo de José Góes, do Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte.
104
91
Idem. Ibidem.
109
80, neste sentido, assinala uma mudança do perfil da economia urbana de Belo
Horizonte, na qual o setor de serviços adquire progressiva importância e
expansão, configurando-se, assim, como um destacado centro de prestação de
serviços que atende, principalmente, a uma ampla zona industrial-urbana num raio
de influência superior a 100 km. Este dinamismo e proeminência adquiridos pelo
setor de serviços é um movimento, entretanto, que reflete uma tendência mais
geral na economia e na urbanização brasileiras e mesmo na mundial.
Na esteira da expansão metropolitana que marcou as décadas de 70 e 80,
seguiram-se intervenções importantes do Estado na cidade na década de 90. Em
1990 aprovou-se a lei orgânica do município. Em 1992 criou-se o Conselho
Deliberativo do Patrimônio Cultural do Município, com a função expressa de tratar
do tombamento de edifícios de valor histórico na cidade. Algumas de suas áreas
importantes que estavam um tanto que abandonadas e desvalorizadas foram
reformadas e entregues ao uso e ao desfrute da população, como, por exemplo, a
Praça da Liberdade, o Parque Municipal, e a Praça da Assembléia, as quais
constituem lugares expressivos de lazer, encontros e sociabilidade em Belo
Horizonte. A partir de 1996, o Plano Diretor da cidade e a Lei de Uso e Ocupação
do Solo passaram a regular e a ordenar o crescimento de Belo Horizonte.100 O
setor cultural passou também a ser estimulado, podendo-se destacar entre
diversas manifestações as espetaculares atuações do Grupo de Teatro Galpão,
que levou seus espetáculos às ruas, fato que estimulou a posterior iniciativa de
realização do Festival Internacional de Teatro Palco e Rua, que teve sua primeira
edição em 1994, com exibições em diversos pontos e bairros da cidade. Além de
ser um evento que tem contado com expressiva presença de público, ele, pelo
meu entendimento, contribui ao uso (neste caso coletivo) do espaço da cidade,
criando, ainda que temporariamente, uma atmosfera de festa e de sociabilidade na
cidade, mobilizando o intelecto e a alma (razão e emoção) das pessoas, de modo
a estimular outras relações, e até mesmo vínculos com o lugar. É plausível
considerar-se que um evento, como este, possa, até certo ponto, ampliar a vida
local, reforçando, assim, laços sociais e imprimindo maior sentido e densidade ao
100
O novo Plano Diretor do Município de Belo Horizonte foi instituído pela Lei no. 7.165 de 27 de
agosto de 1996.
115
102
MARQUES, Robson dos S. “Região de Belo Horizonte e a Urbanização: notas sobre uma
dinâmica imobiliária”. In: MEDEIROS, Regina (org.). Permanências e Mudanças em Belo
Horizonte. Belo Horizonte: Autêntica, 2001. p.130.
117
104
São diversas as intervenções arquitetônicas e urbanísticas de Oscar Niemeyer em Belo
Horizonte. Para além das obras projetadas e realizadas em torno da lagoa artificial da Pampulha -
na época, setor suburbano da cidade - no início dos anos 40, como o Cassino – que em 1957
transforma-se no Museu de Arte Moderna -, a igreja de São Francisco de Assis, a Casa do Baile e
o Iate Clube, o grande arquiteto e urbanista brasileiro projetou o memorial ao centenário de Belo
Horizonte, o Conjunto JK em 1951, e edifício Niemeyer em 1954, a Biblioteca Pública da Praça da
Liberdade, o Clube Sírio Libanês em 1952, o edifício Bemge em 1953 na Praça Sete, o Pampulha
Iate Clube em 1961, o Colégio Estadual no bairro de Lourdes, entre outros.
105
Entendo que este é um qualificativo genérico e pouco consistente que não empregarei neste
trabalho, servindo apenas como alusão.
106
A título de exemplificação podem ser citados os Edifícios Wall Street e Greenwich Village em
1988, os Edifícios Capri, Tenco, Jules Rian, Nashville em 1992, o Centro Empresarial Raja
Gabaglia e o Fashion Center em 1993, o Omni Center em 1994, a Escola Guignard e a Academia
de Letras em 1995, bem como vários edifícios recém-construídos no bairro Belvedere III.
107
RODRIGUES, Maysa G. A Zona de Fronteira: os limites da gestão urbana. Dissertação de
Mestrado em Ciências Sociais, PUC – MG, 2001, p.91.
122
Vista parcial do Belvedere III, a partir do BH Shopping. Em primeiro plano, na parte inferior
da foto, está a área verde da Praça Lagoa Seca, cujo entorno é utilizada, principalmente,
para caminhadas e cooper. Ao fundo, edifícios modernos e luxuosos de alta volumetria.
Foto: Ulysses da Cunha Baggio (13/07/2005).
123
diversas visitas feitas ao bairro, raras foram as vezes que avistei pessoas
palmilhando suas calçadas e ruas, exceção feita à praça de esportes localizada
nas proximidades do BH Shopping, que embora não se apresente, ao menos
ainda, como um lugar de expressiva atração e concentração de pessoas, expõe
uma atmosfera sócio-espacial menos árida. O que predomina, neste sentido, é a
circulação de veículos, o movimento rápido proporcionado pelo automóvel, o que
denota uma relação fluida e mesmo desapegada com o lugar de moradia.
A ocupação do bairro se deu com acomodações sucessivas de segmentos
sociais de alta renda, com a predominância de uma morfologia verticalizada sob a
forma de diversos espigões construídos concomitantemente. Como já se viu,
muitas críticas recaíram sobre o projeto de ocupação do bairro Belvedere e
setores próximos, como o Belvedere III, principalmente em virtude da proliferação
de arranha-céus e os riscos e impactos daí decorrentes, tanto pela proximidade do
empreendimento da Serra do Curral como por certas restrições do terreno para
suportar tamanha pressão infra-estrutural, o que de fato se comprovou com os
estudos geotécnicos. A área construída do bairro não só tem se estendido rumo a
Serra do Curral como evidências de degradação podem ser constatadas. Os
estudos geotécnicos realizados apontavam claramente a inadequação e os
problemas representados pela construção de edifícios de alta volumetria naqueles
solos, que revelam ocorrência de dolinas109, principalmente no Belvedere III.
O impacto ambiental trazido pelo Belvedere III é grande, sobrecarrega a
malha viária e tem um impacto visual muito grande com a construção de
espigões imensos que bloqueiam a visão da Serra do Curral (...) A
necessidade de rede de esgoto e água canalizada pode sobrecarregar os
mananciais da COPASA.110
fins alternativos. Assim, seu objeto vem caracterizado pela escassez”. O autor assinala que esse
objeto - tornado exclusivo desde que a economia se concedeu o estatuto de ciência - são os
valores de troca. “Todavia, os recursos da natureza e as capacidades humanas não nos parecem
se caracterizar pela escassez e sim pela abundância. E isto tanto em um sentido absoluto como
em relação às necessidades de reprodução da natureza e às necessidades de reprodução da
natureza e às necessidades humanas”. (p.13 e 14). (grifos meus).
113
Ibidem, p.14 e 15.
127
114
CORAGGIO, José L. “A construção de uma economia popular como horizonte para cidades sem
rumo”.In: RIBEIRO, Luiz C. de Q. & SANTOS JÚNIOR, Orlando A. dos. (orgs). Globalização,
Fragmentação e Reforma Urbana: o futuro das cidades brasileiras na crise. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 1994,.p.222-224.
115
Cf. CARLOS, Ana Fani A. “A mundialidade do espaço”. In: MARTINS, José de S. (org.). Henri
Lefebvre e o Retorno da Dialética. São Paulo: Hucitec, 1996, p. 121-134. Fundamentada nas idéias
de Lefebvre, a geógrafa observa que “no mundo moderno o Estado consolida-se na escala
mundial, pesa sobre a sociedade, planifica-a e organiza-a racionalmente com a contribuição da
ciência e da técnica. O processo de constituição do Estado mundializado que se realiza por meio
de um desenvolvimento histórico inaugura uma nova relação entre o econômico e o político. O
Estado toma para si o crescimento como estratégia e se transforma num ser político concretizando-
se espacialmente. (...) Na economia moderna os dados materiais ganham forma espacial por meio
dos fixos e dos fluxos, isto é, o espaço material transformado por redes, circuitos que se instalam
pelas estradas, circuitos bancários, rotas aéreas, etc. Como o processo tende para o homogêneo,
o Estado passa a assegurar, simultaneamente e, sob o mesmo plano, todas as formas de
produção e reprodução, indo desde a reprodução demográfica até a da reprodução das relações
sociais de produção e, por consequência, de dependência, o que não exclui a coação que se
realiza no emprego dos recursos territoriais e de sua gestão com a unificação e redução das
particularidades, com a impulsão do crescimento”.
116
Cf. SCHIMIDT, Benício V. O Estado e a Política Urbana no Brasil. Porto Alegre: Editora da
UFRGS/L&PM, 1983.
128
Essa racionalidade é crítica, sendo ela uma criação humana e como tal
sujeita às suas próprias interferências e ações. Não há Estado sem contra-Estado
e poder sem contrapoder. Os contrapoderes, por sua vez, insinuam-se como um
conjunto de forças e ações diversas capazes de perturbar e até mesmo ameaçar o
Estado e sua racionalidade, ainda que se considere, e se constate o seu poderio,
117
CARLOS, Ana Fani A. Espaço-Tempo na Metrópole: a fragmentação da vida cotidiana. São
Paulo: Contexto, 2001. p.31.
118
Aqui emprego para a idéia de poder o sentido que lhe atribui Claude Raffestin, para o qual “(...) o
poder é parte intrínseca de toda relação. (...) O poder se manifesta por ocasião da relação. É um
processo de troca ou de comunicação quando, na relação que se estabelece, os dois pólos fazem
face um ao outro ou se confrontam”, daí resultando, a partir do confronto de forças entre os
agentes envolvidos, a criação de um “campo de poder”. (...) “O poder só é de fato perceptível por
ocasião de um processo relacional”. Cf. RAFFESTIN, Claude. Por Uma Geografia do Poder. São
Paulo: Ática, 1993. p.51-64.
119
ARENDT, Hannah. A Condição Humana. Rio de Janeiro: Forense-Universitária/
Salamandra/Editora da Universidade de São Paulo, 1981. p.190 e 191. (ênfase minhas).
129
120
GODELLIER, apud SANTOS, Milton. In: “A reconstrução da individualidade”. In: O Espaço do
Cidadão. 2a. edição. São Paulo: Nobel, 1993. p.53. (ênfase minha).
121
Cf. LEFEBVRE, Henri. De l’Etat, tome IV. Paris: Union Générale d’Éditions, 1976.
130
126
O sentido subjacente à noção de “cidade do pensamento único” foi apresentado, em grande
medida, no primeiro capítulo deste trabalho. Para maiores referências, cf. ARANTES, Otília. et al.
(orgs). A Cidade do Pensamento Único: desmanchando consensos. 2ª. Edição. Petrópolis: Vozes,
2000.
127
MARICATO, Ermínia. As idéias fora do lugar e o lugar fora das idéias: planejamento urbano no
Brasil. In: ARANTES, Otilia et al. In: A Cidade do Pensamento Único: desmanchando consensos.
2ª. edição. Petrópolis: Vozes, 2000. p.186.
128
Leonardo Avritzer aponta dois limites que “parecem bastante claros” à proposta do Orçamento
Participativo: “a pouca democratização na relação entre os próprios atores sociais e a incapacidade
de estender o OP para áreas sociais nas quais o que está em jogo são alternativas de políticas
públicas”. Acerca do primeiro assinala que “se a grande virtude do OP parece ser a sua
contribuição na democratização da relação entre Estado e sociedade, alguns dados parecem
indicar que, no tocante à relação no interior das comunidades, permanece uma relação hierárquica
e pouco democrática”. Sobre o segundo, aponta que “(...) é a sua concentração na questão da
distribuição de recursos materiais. (...) Até o momento, a maior parte das decisões do OP diz
respeito a questões materiais”. AVRITZER, Leonardo. In: DAGNINO, Evelina (org.). Sociedade
Civil e Espaços Públicos no Brasil. São Paulo: Paz e Terra, 2002. p.37.
133
134
134
Ibidem, p. 23 e 24.
135
Cf. acerca do assunto: SANTOS, Boaventura de S. (org.). Produzir Para Viver: os caminhos da
produção não capitalista. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002.
137
assinala que “a história bem que poderia ser lida, contada, interpretada pelo
movimento conflituoso entre a apropriação e a propriedade”136, e acrescenta:
Esse conflito traduz-se numa luta pelo uso, pela apropriação, que
absolutamente não é nem poderia ser entendida como marginal, à parte do
todo, fora da sociedade e do social. Nesses termos, se o uso se insurge e
ganha visibilidade, restabelece a dialética da propriedade em outros
termos, em outros planos. É um processo que pressupõe atos práticos. 137
136
SEABRA, Odette C. de L. “A insurreição do uso”. In: MARTINS, José de S. (org.). Henri
Lefebvre e o Retorno da Dialética. São Paulo: Hucitec, 1996, p. 71.
137
Ibidem, p. 93.
138
Capítulo 3
Santa Tereza: a territorialidade pelo uso
Jorge Wilheim
1
GÓES, Luis. O Bar do Ponto. Belo Horizonte: Editora Luis Góes, 2000. p.67.
2
WESTIN, Vera L. C. Santa Tereza na Construção Cotidiana da Diferença: um estudo sobre
interações comunicativas e apropriação simbólica no espaço urbano: um bairro da Belo Horizonte
do final do século. Belo Horizonte: Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade
Federal de Minas Gerais, 1998. p.68. (Dissertação de Mestrado em Comunicação Social). (grifos
meus).
140
5
Depoimento à reportagem do Correio Mineiro (21/01/1934) de José Marcelo Ribeiro (morador da
Rua Pirolozito) apud GOES, Luis. In: Notas Cronológicas do Bairro Santa Tereza. Belo Horizonte,
1991. p.40. (edição do autor).
142
7
Vale lembrar, ainda, que o referido prefeito teve como uma das marcas fortes de sua gestão a
remoção das favelas da zona central da cidade sob as diretrizes de um plano urbanístico, proposto
por Lincoln Continentino (integrante da Comissão de Arquitetura e Urbanismo), que se pretendia
sistematizado e racional quanto à expansão da cidade. Embora este plano não tenha sido
contemplado integralmente, esta lógica cartesiana de tratamento do espaço urbano se
complementou e se estendeu com a realização de vários outros projetos tanto do governo do
estado quanto da prefeitura, os quais, no seu conjunto, asseguraram a expansão de Belo Horizonte
no transcurso das décadas de 40 e 50. A título de exemplificação podem-se mencionar os projetos
de construção do complexo da Pampulha, da Cidade Jardim e da Cidade Industrial.
8
Folha de Minas, “Calçamento para a Rua Bom Despacho em Santa Thereza”, 30 de outubro de
1910 apud GÓES, Luis. Notas Cronológicas do Bairro Santa Tereza, 2000. p.130.(Góes preserva a
ortografia original da época).
144
levantamento das duas torres da igreja matriz, que é considerada por seus
moradores um dos principais ícones identitários do bairro. Vista à distância, como,
por exemplo, da Avenida dos Andradas, suas imponentes torres destacam-se na
paisagem de Santa Tereza. Pela imponência, destaque e beleza do seu edifício, a
matriz se tornou se não a principal, uma das mais importantes referências do
bairro e, ainda mais, da Praça Duque de Caxias, que pelo fato de estar rodeada
de restaurantes e botequins tornou-se, indubitavelmente, um dos lugares de maior
atração e concentração de pessoas do bairro, sobretudo às noites, quando se
converte no “epicentro da boemia” deste lugar9. Destacando-se, portanto, no
universo da vida cotidiana e da sociabilidade do bairro, ela apresenta-se
delimitada pelas ruas Adamina, Mármore, Tenente Vitorino e Estrela do Sul. A Rua
Mármore, por sua vez, é uma das ruas de maior movimento e projeção de Santa
Tereza, possivelmente a rua mais conhecida e movimentada do bairro, por muitos
considerada a principal de Santa Tereza, nela pontuando a Igreja Matriz e uma
variedade de estabelecimentos comerciais. Desde o início das obras de
construção da matriz em 1931, em terreno cedido pela Prefeitura, até a sua
inauguração oficial em 01/05/1962, transcorreram-se, portanto, 31 anos de
trabalho. Tudo leva a crer que a edificação da igreja matriz, assim como a
construção do antigo coreto da Praça Duque de Caxias e os jardins que ela
adquiriu consolidaram este setor como a área central do bairro. E não é por acaso
que tanto a praça como a igreja comparecem nas narrativas dos seus moradores
como os principais ícones identitários de Santa Tereza, entre outros apontados,
como, por exemplo, o Mercado Distrital.
Na década de 1950 já se podia observar, com maior clareza, o predomínio
de construções de uso residencial no bairro, época em que começaram a surgir
construções de pequenos edifícios. Vale dizer acerca disso que, em Belo
Horizonte, o período compreendido entre o final dos anos 40 e, aproximadamente,
meados dos anos 50 é caracterizado como sendo uma fase em que o mercado
expõe um traço predominantemente especulativo, quando então operou uma
enorme oferta de lotes, sinalizando para a abertura de novas frentes do processo
9
Esta condição da Praça Duque de Caxias mereceu uma matéria, de duas páginas, do jornal “O
Tempo”, com o título “Santa Tereza reafirma a cada dia sua vocação notívaga”. Cf. O Tempo, Belo
Horizonte, 20 de abril de 2001, caderno Magazine, p.10-11.
145
10
Registre-se que o 16º. BPM responde pela segurança pública da Região Leste da capital, sendo
constituído por seis companhias.
146
11
Concluído em janeiro de 1992.
12
A inauguração da estação do metrô de Santa Tereza ocorreu em 20 de setembro de 1993,
começando a operar, contudo, em 26 de maio de 1994. Ela está localizada no final da Rua
Mármore, bem próximo à Avenida dos Andradas. O metrô melhorou enormemente o transporte
coletivo dos moradores do bairro à região central de Belo Horizonte e a outros setores da cidade.
13
As obras de canalização do ribeirão Arrudas tiveram início em 1984, e foram concluídas em
1997.
14
Pode-se, contudo, indicar, ao menos, dois antecedentes do percurso da mobilização da
comunidade local na defesa da preservação do bairro, quais sejam: a criação em 19/12/1983 da
Associação Comunitária do Bairro de Santa Tereza (que teve como primeiro presidente eleito
Mario Giuseppe Tedeschi) e, a formação em 21/12/1991 da Sociedade Amigos de Santa Tereza
(SAST), entidade criada por iniciativa do jornalista Luis Góes e um grupo de moradores do bairro.
Esta mobilização de 1996 contou, ademais, com o apoio do Jornal Santa Tereza e da Associação
Comunitária do bairro.
149
16
Estado de Minas, Belo Horizonte, 30 de janeiro de 2004, caderno Divirta-se, p. 14 e 15. (grifos
meus).
151
152
17
Segundo diagnóstico feito pelas secretarias municipais de Planejamento e Atividades Urbanas,
até 1998, Santa Tereza apresentava 5 edifícios com mais de 11pavimentos (sendo um deles com
três blocos), 7 entre 8 e 10 pavimentos, 14 entre 5 e 7 pavimentos, e mais de 3 mil edificações com
até quatro pavimentos. In: Hoje em Dia, Belo Horizonte, 13 de outubro de 1998. p.5.
154
18
Depoimento da coordenadora do movimento Salve Santa Tereza, Edelweiss Hermann, à
reportagem do Estado de Minas, Belo Horizonte, 22 de junho de 1998, p.32, Caderno Gerais –
Comunidade. Esta observação demonstra a plasticidade dos negócios da/na cidade. Certamente,
ela indica que a área, sendo alvo de interesses, irá induzir a pressão junto aos moradores por
novos usos e/ou novos proprietários. Assim, as condições econômicas dos atuais moradores
podem tornar a moradia um bem econômico tal que eles poderão chegar a vendê-la. É uma
situação relativa ao panorama de valorização da terra (e da habitação) absolutamente possível e
provável (muito embora se deva levar em consideração o desejo pessoal dos moradores, ao
menos parte deles, de permanecer no bairro, como, aliás, conversas e entrevistas realizadas in
loco revelaram). Nesta perspectiva uma geografia do movimento (nos termos de Pierre George)
prevê essas possibilidades, sendo esta economia (a capitalista) móvel, dinâmica, e, assim,
assombra patrimônios. Conforma-se, neste sentido, uma “extrema mobilidade das situações
atuais”, uma vez que “a extraordinária aceleração de evoluções técnicas, mas também de
processos históricos, modificando profundamente as relações econômicas e políticas
anteriormente estabelecidas, impôs a tomada em consideração do movimento, e mesmo a opinião
de que toda a situação é movimento”. Desse modo, “situações políticas e econômicas, que se
qualificavam de estáveis, foram transformadas e continuam a se transformar num ritmo rápido,
diante do qual as resistências e os conservantivismos não resistem por muito tempo”. GEORGE,
Pierre. “Problemas, doutrina e método”. In: GEORGE, Pierre et al. A Geografia Ativa. 2ª.edição.
São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1968. p.7-40, citações: p.24 e 25. (passim).
155
19
Esclareça-se que a estimativa se fez a partir de dados disponibilizados no Censo do IBGE de
1991 para os bairros de Santa Tereza e Floresta (respectivamente com 10.761 e 18.852
habitantes) para o ano 2000, quando então os dados não são apresentados por bairro nem pelo
IBGE (que opera com setores censitários) e nem pela Prefeitura de Belo Horizonte (que trabalha
com Unidades de Planejamento). Assim sendo, levantei os dados da Unidade de Planejamento
Floresta/Santa Tereza de 2000 (que indica apenas a população de forma agregada, no caso de
33.357 habitantes) para fazer esta estimativa. Trabalhando-se os dados destes dois períodos
(1991 e 2000), pode-se constatar, de forma aproximada, que a população de Santa Tereza e da
Floresta em 2000 perfaziam, respectivamente, 12.122 e 21.235, muito embora não seja prudente e
nem razoável afirmar que estes bairros tenham crescido na mesma proporção. Trata-se, portanto,
de uma aproximação.
20
Cumpre observar, acerca disso, que a literatura sobre valorização do espaço, que atravessa a
geografia econômica, fala dessa presença social “alternativa” que tem “certa cultura” e pode ser
intermediária – no tempo da capitalização possível – de outros usos e moradores. David Ley fala
de “pioneiros que redefinem as características do bairro em que se instalam, e, juntamente com a
especial atenção dedicada pela mídia e pelo setor imobiliário, preparam o terreno para uma
posterior chegada dos membros da classe média abastada, (...) os possíveis pioneiros são
excluídos pelos altos preços residenciais e, inclusive, o ambiente do bairro volta a mudar em
relação àquele imposto pelos pioneiros.” LEY, David. The new middle class and the remaking of
the central city. Oxford. University Press, Oxford, 1996, apud RIGOL, Sergi Martinez i. “A
156
gentrification: conceito e método”. In: CARLOS, Ana Fani A. & CARRERAS, Carles. Urbanização e
Mundialização – estudos sobre a metrópole. São Paulo: Contexto, 2005. p. 98-121, citação: p.116.
157
158
159
Esta tríade é, certamente, uma de suas características mais marcantes, traço forte
nas suas práticas sócio-espaciais e, neste sentido, da sua identidade e da sua
territorialidade, o que faz deste lugar um espaço de atração e de “philia”, de
procura constante por moradores de diversas partes de Belo Horizonte e de outras
cidades, uma vez que este traço se inscreve no universo do prazer, da festa, do
encontro, portanto do uso (do tempo e do espaço). Eis o que lhe é proeminente,
éter que o envolve e matiza a sua singularidade. Desse modo o bairro adquiriu
grande projeção na cidade, tornando-se bastante conhecido em virtude dos seus
carnavais e dos seus blocos, como, por exemplo, a Banda Santa, bem como pela
significativa contribuição e participação no cenário cultural da cidade, que não se
restringe apenas pela memória do Clube da Esquina, mas também pelo fato de
que nele igualmente despontaram bandas musicais de projeção internacional
como, por exemplo, a Skank e a Sepultura. Há que se considerar ainda a sua
agradável e atrativa expressão paisagística e arquitetônica, na qual avulta a
presença de muitas casas antigas, bem como a diversidade de opções de
entretenimento e de atividade cultural, podendo-se destacar as casas de seresta,
as feiras de artesanato, shows musicais e a gastronomia variada (de botequins a
restaurantes).
Além disso, pode-se identificar no bairro certa preservação de relações
estreitas de vizinhança, e, não raro, é possível observar nos finais de tarde,
principalmente, cadeiras colocadas nas calçadas para conversas prolongadas,
ocorrência, diga-se de passagem, cada vez mais incomum nas grandes cidades,
pesando ainda mais sobre elas o recrudescimento da violência, a fragmentação
das relações sociais e o avanço da impessoalidade, aspectos que também se
fazem sentir no bairro de Santa Tereza, porém, não de modo a suprimir esta
prática da cultura sócio-espacial local, mantendo-se, ao menos por enquanto, viva
e resistente aos vetores da modernidade e da metropolização. Guardadas as
devidas proporções, elas ainda se revelam parcialmente presentes na vida
cotidiana da capital e, mais especificamente, deste bairro, traduzindo-se como um
traço de permanência, mas que também conota resistência face aos impactos da
160
a primeira opção, com boa disposição e passo firme, pode-se mesmo realizá-lo,
comprovadamente, em aproximadamente 40 minutos. É um belo passeio que, se for feito no
domingo, pela manhã, pode ainda levar o caminhante a comprazer-se, ao final, do vistoso
ambiente da Feira de Arte e Artesanato da Avenida Afonso Pena. Oportunamente, assinale-se que
o Viaduto Santa Tereza é um equipamento urbano tombado pelo IEPHA, constituindo-se numa
obra de significativa projeção no universo dos ícones identitários de Belo Horizonte, que integra a
memória da cidade e o conjunto arquitetônico da Praça da Estação. Projetado por Emílio Baugart,
desde a sua inauguração, em 1929, ele já passou por cerca de trinta reformas. Naquela época foi
considerado como o maior vão de cimento armado da América Latina. Possuindo 400 metros de
extensão, chama muito a atenção das pessoas pelos dois belos arcos que ostenta, de 14 metros
de altura. Ademais, ele é, indubitavelmente, uma das mais importantes conexões entre a área
central da cidade e a Zona Leste da capital, fazendo da Avenida Assis Chateaubriand uma das
principais vias de acesso mais imediato e do escoamento do trânsito de veículos entre elas. Deve-
se aqui agregar, obviamente, a Avenida dos Andradas, que é a grande artéria marginal de
integração mais extensiva dos bairros da região Leste com o centro da cidade.
28
Acredita-se que para esta permanência tenha contribuído a relativa insularização do bairro em
relação ao centro e demais áreas de maior dinamismo da cidade, não ficando ele, neste sentido,
sujeito a uma efetiva elitização sócio-econômica, apresentando-se como um bairro
predominantemente ocupado por segmentos de renda média e baixa, diferentemente do que se
verifica, já há algum tempo, em diversos bairros da zona sul, como, entre outros, Sion, Santa Lúcia,
São Bento, que se situam no vetor de expansão e adensamento de segmentos de classe média e
alta.
29
Depoimento de moradora e dona de casa à reportagem do Estado de Minas, Belo Horizonte, 19
de dezembro de 2004, caderno Gerais, p.25. Contando com 50 anos de idade, ela reside na Vila
Ivone desde que nasceu.
163
queira efetivamente freqüentá-lo) por algum tempo. Não considero, portanto, que
este traço seja também um mero estereótipo. Acerca disso, pode-se oferecer
como exemplos vivos, entre outros, o Bar e Restaurante do Bolão, possivelmente
o mais conhecido de todos, que tendo sua unidade mais antiga localizada na
Praça Duque de Caxias, 288, ali funcionando há 38 anos possui, ainda, uma
extensão na Rua Mármore, 695, cujo funcionamento, sobretudo o primeiro,
costuma avançar até altas horas da madrugada, frequentemente reunindo grande
número de pessoas ao longo de toda a semana, principalmente de quinta a
domingo, período em que o bar chega a funcionar quase que ininterruptamente; o
Bar e Restaurante Temático, situado na Rua Perite, 187, nas imediações do
Mercado Distrital, lugar que embora não funcione até altas horas da noite,
encerrando suas atividades em torno de 01:00 hora da madrugada é,
indubitavelmente, um dos pontos mais freqüentados do bairro, oferecendo grande
variedade de pratos e tira-gostos, o que tem feito dele um dos bares mais
conhecidos e frequentados de Santa Tereza; ou ainda, o Bar e Pizzaria Parada do
Cardoso, localizado na Rua Dores do Indaiá, 409. Vale dizer que este último lugar,
embora seja mais recente no bairro, com oito anos de existência, já se constituiu
num dos principais pontos de encontro de Santa Tereza, tendo este nome em
virtude de estar localizado praticamente ao lado da parada de trens da Central do
Brasil de mesma designação (“Parada do Cardoso”)30, construída em 1918 e mais
precisamente posicionada na confluência das Ruas Dores do Indaiá, Alvinópolis e
Conselheiro Rocha.
Sendo um traço forte da sua identidade, é importante consignar que o bairro
de Santa Tereza efetivamente tornou-se bastante conhecido pela existência dessa
30
Vale registrar que na Parada do Cardoso o movimento de embarque chegou a alcançar 300
pessoas por dia, tendo sido desativada nos anos 50. “O motivo alegado pela Central do Brasil foi a
falta de passageiros para os trens do subúrbio em função do aumento do tráfego de bondes,
ônibus e lotações. A parada dos trens do subúrbio deu nome à região e era muito utilizada pelos
moradores da comunidade. A estação tinha uma pequena plataforma e uma cobertura com telhas
para proteger os usuários do sol ou da chuva. Na Parada do Cardoso embarcava-se nos trens de
subúrbio para o centro da cidade, Bairro Industrial, Barreiro, Betim e outras regiões. Embarcava-se
também para Marzagão, Borges, General Carneiro, Roças Grandes, Sabará, Caeté e outras
localidades, para o lazer ou por motivos religiosos. A Parada do Cardoso recebia também
passageiros destinados ao Hospital Cícero Ferreira. Era a maneira mais fácil de chegar ao hospital,
para quem morava no interior”. GOES, Luis. Bairro de Santa Tereza: memória e história nos 100
anos de Belo Horizonte. Belo Horizonte: Editora Luis Góes Ltda, s/d. p.91.
165
atmosfera boêmia, sendo que tanto moradores como muitas pessoas que afluem
ao bairro têm como prática comum e recorrente freqüentar estes
estabelecimentos. Assim, o bairro conta, até os dias atuais, com vários botequins,
bares, restaurantes, bem como casas de shows e mesmo de serestas, que têm
acontecido, também e esporadicamente, na Praça Duque de Caxias. Este
universo encerra, de fato, uma tradição no bairro. E, segundo Luis Góes:
Esta tradição é bem antiga e vem do tempo em que a região ainda era
habitada pelos colonos brasileiros e estrangeiros que aqui vieram. Na ex-
colônia Américo Werneck havia botequins que serviam à comunidade. (...)
Segundo o regulamento organizado pelo Governo do Estado, os colonos
podiam manter casas de vendas, mas eram proibidos de vender bebidas
alcoólicas. (...) Entre os precursores do comércio destacam-se o Bar do Zé
Inácio, na esquina de Conselheiro Rocha com Dores do Indaiá e o do
Agapito Piñal, ao lado da ponte do Cardoso. Também naquela parte do
bairro existia o Armazém Montanhês, (...) a Padaria do ‘Seu’ Coutinho, o
Bar do Lopes, o Bar do ‘Seu’ Marques e o Bar do Tilinho, todos na Rua
Silvianópolis. Subindo para a Praça, no final do ônibus, havia os
“comércios” do “Seu” Loureiro, do “Seu” Juca e do Tuchão. Na Rua
Hermílio Alves, porta de entrada do bairro, encontramos o Bar do Bigode,
recentemente falecido e que oferecia um pastel muito especial. O Bar do
Postinho, na esquina da Rua Hermílio Alves com Rua Mármore, já foi
pizzaria e tentou ser casa de seresta. Os irmãos Lacerda, quando sócios,
mantinham três estabelecimentos muito fortes, na Rua Mármore. A
mercearia, que cerra as portas às dez da noite, oferece tudo para o lar.
Conta com uma freguesia assídua, inclusive para um bate-papo e uma
cervejinha. Do outro lado da rua, há o Bar do Walter. Ainda no início do
quarteirão, encontra-se o Gatão & Cia, onde o self-service de
churrasquinho, em ambiente moderno e jovem comanda o restante da
noite. Há ainda o Felino’s, também dos irmãos Lacerda, depois da Praça.
Quase na esquina da Praça, subindo a escada da antiga sede da
Associação Esportiva Santa Tereza há o restaurante Macarrão com
Rapadura. Na Praça, aumentam as opções.31
que a vida desmente a interpretação formal, a história oficial ou oficiosa, que ignora o vivido, o
drama que cerca o trabalho, seus ganhos e suas incertezas. É o lugar em que as ideologias são
questionadas e desafiadas na prática. É o lugar em que o projeto, o possível, só tem sentido como
possibilidade permanente de revolução - a revolução na vida cotidiana. (...) Nestes espaços, a
memória é o documento vivo da história vivida”. Espaço & Debates – Periferia Revisitada. São
Paulo: NERU, 2001, ano XVII, n.42, Depoimento José de Souza Martins, p.75/84, citação: p.82/83.
33
Cf. sobre o assunto os bons trabalhos de BORGES, Márcio. Os Sonhos não Envelhecem:
histórias do Clube da Esquina. São Paulo: Geração Editorial, 1996; e GARCIA, Luiz Henrique A.
Coisas que ficaram muito tempo por dizer: o Clube da Esquina como formação cultural. Belo
Horizonte: Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas de Minas Gerais, 2000. (Dissertação de
Mestrado em História).
167
35
Acerca deste aspecto, Marilton Borges observa o seguinte: “Santa Tereza nunca foi um bairro de
passagem, mas sempre de chegada, ou seja, o nosso trânsito sempre foi local e voltado única e
exclusivamente para a própria comunidade, sendo certo que este é o principal motivo, segundo
alguns técnicos, que possibilitou fossem mantidas intactas, até hoje, as características do bairro
com relação aos outros da Capital”. BORGES, Marilton. Santa Tereza: 100 anos de amor e
tradição. In: Estado de Minas, Belo Horizonte, 15 de outubro de 1998, p.4. (Marilton Borges foi
presidente da associação de moradores do bairro e um dos membros do Clube da Esquina).
36
Como complemento da nota anterior, assinale-se que até os dias atuais as linhas de ônibus que
acessam o bairro, na sua maioria, são destinadas ao próprio bairro, o que reforça a condição de
Santa Tereza não ser um lugar de passagem tal qual ocorreu com alguns bairros limítrofes a ele,
conquanto os limites da cidade se coloquem para muito além dele. Neste sentido, e longe de
quaisquer determinismos geográficos, tudo leva a crer que a configuração viária do bairro (com a
predominância de ruas, muitas delas estreitas e, em parte, tortuosas) tem exercido, historicamente,
certa influência na constituição de sua identidade. Uma verificação in loco desta estrutura permite
perceber, pelo meu modo de ver, esta influência.
37
SCARLATO, Francisco C. Metropolização de São Paulo e o Terceiro Mundo. São Paulo: Iglu,
1987. p.98.
169
38
Segundo a SCOMGER-L (Secretaria Municipal da Coordenação de Gestão Regional Leste), esta
região “(..) tem como área jurisdicionada, de acordo com a Lei municipal no. 4158, de 16 de junho
de 1985, a compreendida no seguinte perímetro: começando na av. José Cândido da Silveira, na
divisa dos municípios de Sabará e Belo Horizonte; segue por esta, exclusive, até a av. Cristiano
Machado; por esta, exclusive, até o túnel da Lagoinha; por este, exclusive, até a av. Nossa
Senhora de Fátima; por esta, exclusive, até a av. do Contorno; por esta, exclusive, no sentido
horário, até o seu cruzamento com a rua Piranga; por esta, exclusive, até a divisa com o Setor
Especial 4 (SE4), do aglomerado Serra – São Lucas, conforme Decreto 4.845, de 08.11.84; pela
divisa leste deste aglomerado, exclusive, até a divisa com os terrenos da Fundação Benjamim
Guimarães (Hospital da Baleia); pela divisa oeste desta fundação, exclusive, até os limites com a
Serra do Taquaril na divisa com o município de Nova Lima; pela linha limítrofe dos municípios de
Belo Horizonte, Nova Lima e Sabará até a av. José Cândido da Silveira, ponto de origem desta
descrição”.
170
171
172
aspecto veja-se, por exemplo, que em 1991 a população residente nesta região
administrativa era de 250.032 pessoas, decaindo em 1996 para 247.595, ou seja,
com uma variação negativa, neste período, de -0,9747%39. Entretanto, à medida
que a região passa a ser servida pelo metrô e pela Avenida dos Andradas, ao
mesmo tempo em que apresenta preços da terra considerados atrativos para uma
área a poucos quilômetros do centro da cidade, torna-se, assim, muito vulnerável
aos dinamismos da metrópole, convertendo-se, por estas características, em uma
zona preferencial de expansão pericentral, como assim foi qualificada no Plano
Diretor de 1996. Neste sentido, pode-se afirmar que ela se conforma, sobretudo
nas últimas décadas, como um espaço de conflito (entre valor de uso e valor de
troca), como bem se pode observar no caso em tela.
Durante um bom tempo, desde o início da formação de Santa Tereza, os
principais acessos para o bairro eram pelas Ruas Hermílio Alves (até hoje a
principal via de entrada do bairro) e Pouso Alegre. Assim, só era possível acessar
Santa Tereza pelo bairro da Floresta e do Horto. Esta condição fez com que o
setor adjacente ao bairro Santa Efigênia ficasse, por décadas, quase que
geograficamente isolado pela barreira natural do Ribeirão Arrudas e pela ferrovia.
A conformação topográfica de Santa Tereza se expressa como um platô de
vertentes de inclinação média e homogênea, em cuja crista, parcial e
relativamente aplainada, inscreve-se a área nuclear do bairro (com a Praça Duque
de Caxias, o 16º. BPM – 20ª. CIA, a igreja matriz, boa parte dos seus
estabelecimentos comerciais etc.), estando este setor perpassado pelas ruas
principais do bairro (Rua Mármore, Hermílio Alves, Salinas). Pelas suas vertentes
precipitam-se boa parte do emaranhado das ruas de menor tráfego, tanto no
sentido do talvegue da Avenida dos Andradas, e da ferrovia que a ladeia, como,
no sentido oposto, isto é, da Rua Pouso Alegre. Desse modo, mesmo com a
construção do viaduto que conecta o bairro à Avenida dos Andradas, na altura do
bairro Santa Efigênia, o bairro ficou, até certo ponto, relativamente resguardado de
influências e ações que pudessem provocar maiores transformações na sua
estrutura espacial, em que pese o fato de que as vias de tráfego que conectam o
39
IBGE. Censo Demográfico, 1991; Contagem populacional, 1996. Org: DITPL- 2000.
173
40
KOTANYI, Attila & VANEIGEM, Raoul. Internationale Situacionniste, Boletim n.6, agosto de 1961.
In: Internationale Situacionniste. Paris: Fayard, 1997. p.214-217.
174
43
Ibidem, p.28
44
MARTINS, José de S. A Sociabilidade do Homem Simples. São Paulo: Hucitec, 2000. p.22.
176
45
WESTIN, Vera L. C. Santa Tereza na Construção Cotidiana da Diferença. Belo Horizonte:
Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Minas Gerais, 1998.
(Dissertação de Mestrado em Comunicação Social). p.130. (ênfases da autora).
46
GEORGE, Pierre. “Problemas, doutrina e método”. In: GEORGE, Pierre et al. A Geografia Ativa.
2ª.edição. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1968. p.22. Por situação George compreende
como sendo “uma soma de dados adquiridos, de relações organizadas em ordem sucessiva.
Algumas dessas relações continuam a ser funcionais, integradas na evolução atual, enquanto que
outras pertencem a uma herança que se degrada progressivamente e deixam, ao contrário, de ser
funcionais”. Esclarece, ainda, que “a situação se define necessariamente em primeiro lugar por
limites espaciais, mesmo quando a influência do espaço local ou regional se combina com efeitos
de uma pluralidade espacial. Mas a evolução da situação pode comportar deslocamentos dos
limites regionais ou locais, expansão ou retração do referido espaço. As heranças de situações
anteriores não correspondem necessariamente aos mesmos dados espaciais da situação atual e,
desembocando em outra situação a curto prazo, pode-se ser conduzido a reconsiderar a posição
espacial” (p.22).
47
GIDDENS, Anthony. “A vida em uma sociedade pós-industrial”. In: ULRICH, Beck. Modernização
Reflexiva: política e estética na ordem social moderna. São Paulo: FEU, 1997.
177
48
Ibidem, p.101.
49
APPADURAI, Arjun. Soberania sem territorialidade: notas para uma geografia pós-nacional,
Novos Estudos CEBRAP, p.33-46, n.49, novembro de 1997.
178
Assim, como também nos diz Milton Santos,“o território em que vivemos é
mais que um simples conjunto de objetos, mediante os quais trabalhamos,
circulamos, moramos, mas também um dado simbólico”51. Nesta condição, ele se
revela como o produto de uma apropriação simbólica, em que pese a identificação
que os diversos grupos sociais têm ou realizam com os seus respectivos espaços
de vivência. Assim,
A função do símbolo não é apenas instituir uma classificação, mas também
introduzir valores, modelando os comportamentos individuais e coletivos e
indicando as possibilidades de êxito dos seus empreendimentos.
Os mais estáveis dos símbolos estão ancorados em necessidades
profundas e acabam por se tornar uma razão de existir e agir para os
indivíduos e para os grupos sociais. Os sistemas simbólicos em que
assenta e através do qual opera o imaginário social são construídos a partir
da experiência dos agentes sociais, mas também a partir dos seus desejos,
aspirações e motivações. Qualquer campo de experiências sociais está
rodeado por um horizonte de expectativas e de recusas, de temores e de
esperanças.52
investimentos estes que se inscrevem no uso do espaço. Daí poder-se dizer que
um dado lugar pode alcançar certas condições que favoreçam os anseios e
demandas de sua comunidade a partir do momento em que se formam laços
afetivos (simbólicos) com o lugar. Por outro lado, o esvaziamento, ou ainda a
destituição de significações valorativas do território conformaria uma condição de
alienação territorial, podendo-se mesmo, neste caso, falar da constituição de um
território alienado.53 As experiências vividas no espaço fazem dele um espaço
conhecido, familiar, dotado de uma certa personalidade, atributos pelos quais ele
se consubstancia em lugar. Para YI-Fu Tuam, “quando o espaço nos é
inteiramente familiar, torna-se lugar”, que se revela como “um mundo de
significado organizado”.54 Num sentido mais amplo, Ana Fani A. Carlos nos diz
que o lugar é
...a porção do espaço apropriável para a vida, revelando o plano da
microescala: o bairro, a praça, a rua, o pequeno e restrito comércio que
pipoca na metrópole, aproximando seus moradores, que podem ser mais
do que pontos de troca de mercadorias, pois criam possibilidades de
encontro e guardam uma significação como elementos de sociabilidade. A
análise da vida cotidiana envolve o uso do espaço pelo corpo, o espaço
imediato da vida das relações cotidianas mais finas: as relações de
vizinhança, o ato de ir às compras, o caminhar, o encontro, os jogos, as
brincadeiras, o percurso reconhecido de uma prática vivida/reconhecida em
pequenos atos corriqueiros e aparentemente sem sentido que criam laços
profundos de identidade, habitante-habitante e habitante-lugar, marcada
pela presença. São, portanto, os lugares que o homem habita dentro da
cidade e que dizem respeito a sua vida cotidiana, lugares como condição
da vida, que vão ganhando o significado dado pelo uso (em suas
possibilidades e limites). Trata-se, portanto, de um espaço palpável, real e
concreto – a extensão exterior, o que é exterior a nós, e ao mesmo tempo
interior. São as relações que criam o sentido dos “lugares” da metrópole.
Isto porque o lugar só pode ser compreendido em suas referências, que
não são específicas de uma função ou de uma forma, mas produzidas por
um conjunto de sentidos, impressos pelo uso. É assim que os percursos
realizados pelos habitantes ligam o lugar de domicilio aos lugares de lazer,
de trabalho, de comunicação, ordenados segundo as propriedades do
tempo vivido.
Nesse processo se desvenda a base da reprodução da vida passível de ser
analisada pela relação habitante-lugar (pela mediação do uso), como
produtora de identidade do indivíduo. A construção da cidade, hoje, revela
53
Cf. sobre o assunto: FREMONT, Armand. La Région: espace vécu. Vendome: PUF, 1976.
54
TUAM, Yi-Fu. Espaço e Lugar: a perspectiva da experiência. São Paulo: DIFEL, 1983. p.83 e
198.
180
55
CARLOS, Ana Fani A. Espaço-Tempo na Metrópole: a fragmentação da vida cotidiana. São
Paulo: Contexto, 2001. p.35 e 36.
56
Tal área correspondia ao que hoje é a extensão compreendida entre a Avenida Silviano Brandão,
as ruas Salinas e Conselheiro Rocha, e a Avenida do Contorno, que, naquela época, constituía
parte da Sétima Seção Suburbana. Registre-se que os terrenos desta seção foram, em parte,
doados ao funcionalismo público e aos militares, e outra parte disponibilizada para a venda a
particulares. A planta desta área só seria aprovada em 1926 (com a aprovação da segunda Planta
geral da cidade). Esclareça-se que o levantamento de todas as áreas pertencentes à margem
esquerda do Ribeirão Arrudas (Carlos Prates, Lagoinha, Floresta, Américo Werneck, Imigração),
realizou-se em virtude da necessidade de se iniciar o projeto do reservatório do Menezes e outros
trabalhos, empreitada que envolveu grandes dificuldades, à medida que os técnicos se ressentiam
da inexistência de marcos de alinhamentos feitos pela Comissão Construtora para toda a região
externa à Avenida do Contorno. Desse modo, em 1923 são descritos os trabalhos de campo para a
região designada Imigração, onde hoje está Santa Tereza, para a qual foi confeccionado o
cadastro completo do terreno, figurando, ainda, no desenho da planta a conformação topográfica
do solo através de curvas de nível com intervalos de um metro.
181
57
BAILLY, Antoine & BEGUIN, Hubert. Introduction à la Géographie Humaine. Paris: Armand Colin
Éditeur, 1998. p.16 (tradução minha).
58
RAFFESTIN, Claude. Por Uma Geografia do Poder. São Paulo: Ática, 1993. p.158.
59
Segundo RAFFESTIN, a territorialidade encerra “sempre uma relação, mesmo que diferenciada,
com os outros atores. (...) Cada sistema territorial segrega sua própria territorialidade, que os
indivíduos e as sociedades vivem. A territorialidade se manifesta em todas as escalas espaciais e
sociais; ela é consubstancial a todas as relações e seria possível dizer que, de certa forma, é a
‘face vivida’ da ‘face agida’ do poder”. Ibidem, p. 161 e 162.
60
GOMES, Paulo C. da C. A Condição Urbana: ensaios de geopolítica da cidade. Rio de Janeiro:
Bertrand Brasil, 2002. p.172.
183
61
MAYOL, Pierre. “O bairro”. In: CERTEAU, Michel de et al. A Invenção do Cotidiano. 4ª. edição.
Petrópolis: Vozes. 1997. p.39.
62
Ibidem, p.44 e 45.
184
usuário associada ao uso cotidiano do bairro faz com que ele, gradativamente, se
insira numa esfera privada, em virtude dos investimentos regulares que o citadino
realiza no seu ambiente, capturando e introduzindo-o no seu universo existencial,
estabelecendo com ele, ou ao menos com parcelas dele (ruas, praças, calçadas,
botequins, feiras, mercados, etc) uma relação de aproximação e envolvimento.
Esta condição implica, entretanto, uma gradação/variação de intensidade nesta
relação, haja vista a enorme diversidade que matiza os lugares e as formas
urbanas da grande cidade (da metrópole), podendo-se mesmo considerar que, a
depender do caso e situação, esta condição relacional de aproximação e
envolvimento pode mesmo não se realizar (nos pontos que designo como lugares
de repulsão), ou, por outra, realizar-se precária e perversamente (lugares da
degradação). Podendo apresentar-se associadas, estas características são
mutantes no tempo e no espaço, suscetíveis às dinâmicas da produção e da
organização do espaço urbano.
Pode-se oferecer, a título de exemplificação, o caso das duas “torres” de
Santa Tereza, localizadas na Rua Clorita, que correspondem aos números 64 e
100. De forma sucinta, estas torres são dois edifícios inacabados de 17 andares
cada um, que foram erguidos por duas construtoras que acabaram falindo, a ICC e
a JET Engenharia. Os espigões chegaram a ser vendidos e abandonados pelas
construtoras antes mesmo do encerramento das obras, processo que envolveu o
desvio das verbas destinadas à construção para outras obras e finalidades,
apartamentos vendidos para mais de um proprietário, o que levou à realização de
ações na justiça. Passados alguns anos após a interrupção das obras os prédios
foram ocupados por famílias que se inviabilizaram no mercado imobiliário, por
moradores de rua e sem-teto. Em que pesem a ocorrência de problemas
relacionados ao uso de drogas e mesmo de conflitos com mortes nas
dependências das torres e imediações, recaiu sobre o lugar o estigma da
violência, considerado perigoso e ameaçador, o que tem provocado em parcelas
dos moradores do bairro posturas discriminatórias e refratárias à presença destas
famílias.63 Porém, a partir de 1998, com a atuação da Pastoral de Rua da Igreja
63
Em conversas que tive com alguns moradores das “torres”, no dia 8 de julho de 2005, este
aspecto ficou evidenciado nas suas falas. “Tudo de ruim que acontece por aqui, dizem que foi a
gente”, declarou uma moradora. Há alguns dias antes deste contato, “mandaram um rapaz pro
185
CTI”, disse ela. Afirmou que a violência é freqüente na área, tanto nas dependências das torres
como no entorno. Este último caso foi de ferimento à bala.
186
64
CARLOS, Ana Fani A. O Lugar no/do Mundo. São Paulo: Hucitec, 1996. p.22.
188
65
DAMIANI, Amélia L. “Geografia política e novas territorialidades”. In: PONTUSCKA, Nídia &
OLIVEIRA, Ariovaldo U. de. (orgs.). Geografia em Perspectiva. São Paulo: Contexto, 2002. p.23.
66
Existem muitos trabalhos dedicados ao tema das representações, mas para uma visão
abrangente e de boa qualidade sobre os debates em torno da questão recomendo o excelente
trabalho de: CARDOSO, Ciro Flamarion & MALERBA, Jurandir (orgs.). Representações:
contribuição a um debate transdisciplinar. Campinas: Papirus, 2000. Creio ser ainda de
fundamental importância o polêmico trabalho de: CHARTIER, Roger. A História Cultural: entre
práticas e representações. Lisboa: Difel, 1990.
67
Cf. LEFEBVRE, Henri. “Introduction”. In: Critique de la Vie Quotidienne. (vol.1). Paris: Éditions
l’Arche, 1958.
189
Considerações Finais:
1
Embora haja grande polêmica em torno do seu significado, não havendo consenso sobre ele,
emprega-se aqui cultura no sentido que lhe atribui Hugues de Varine, isto é, como o “conjunto
de soluções encontradas pelo homem e pelo grupo aos problemas que lhe são colocados por
seu meio natural e social”, pelas quais, acrescento, se forjam modos de vida e referências
simbólicas e identitárias que os afirmam. Cf. VARINE, Hugues de. “La Confusion Culturelle”. In:
La culture des autres. Paris: Seuil, 1976. p.15. (tradução minha).
222
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____. Censo de 1950.
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Municipal de Belo Horizonte, 1990.
Mapa da Exclusão Social de Belo Horizonte (Planejar BH). Belo Horizonte:
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Regulamento Geral de Construções em Belo Horizonte. Belo Horizonte: Prefeitura
de Belo Horizonte, PLAMBEL, 1979.
3- Jornais:
Estado de Minas
Hoje em Dia
O Tempo
ANEXOS
196
F.1- Praça Duque de Caxias: taxistas “batendo uma bolinha” na hora do almoço.
Foto: Ulysses da Cunha Baggio (29/08/2003).
196
197
F.4- Praça Duque de Caxias: numa tarde tranqüila de quarta-feira, jovens lendo,
“batendo papo”, namorando.
Foto: Ulysses da Cunha Baggio (29/08/2003).
197
198
198
199
199
200
F.9- Bar Temático, num agradável final de tarde. Outro lugar bastante procurado
no bairro, oferecendo comida bastante variada. Está bem próximo ao Mercado
Distrital de Santa Tereza.
200
201
201
202
F.11- Trecho do ramal férreo (em 1920), na região de Santa Tereza, que liga Belo
Horizonte à cidade de Sabará.
Fonte: Acervo de José Góes, do Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte.
202
203
F.12 - Vista aérea ampla do bairro de Santa Tereza, em 1951. Ao fundo, vêem-se
os bairros Pompéia, Paraíso e Saudade.
Fonte: Acervo de José Góes, do Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte.
203
204
F.13- Vista aérea do bairro de Santa Tereza, em 1951, em que se destaca mais
ao centro a Rua Amianto.
Fonte: Acervo de José Góes, do Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte.
204
205
F.14- Vista aérea dos bairros Santa Tereza e Horto, em 1955, destacando o
Colégio Tiradentes e, tendo ao fundo, os bairros Esplanada e Pompéia.
Fonte: Acervo de José Góes, do Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte.
205
206
206
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CAPÍTULO IV
DA REGULAMENTAÇÃO DA ADE DE SANTA TEREZA
Seção I
Das Disposições Gerais
Art. 100 - A ADE de Santa Tereza é definida pela Lei n.º 7.166/96 como área que,
em função das características ambientais e da ocupação histórico-cultural,
demanda a adoção de medidas especiais para proteger e manter o uso
predominantemente residencial.
Parágrafo único - A delimitação da ADE de Santa Tereza é a representada no
Anexo II da Lei n.º 7.166, de 1996.
Seção II
Dos Parâmetros Urbanísticos
Art. 101 - Os parâmetros urbanísticos para a ADE de Santa Tereza são aqueles
definidos pela Lei n.º 7166, de 1996, que não contrariem o disposto nesta Lei e
aqueles definidos neste Capítulo.
Parágrafo único - Os parâmetros urbanísticos para a área classificada como ZEIS
pela Lei n.º 7.166, de 1996 serão definidos em lei específica.
Art. 102 - Imóveis situados na ADE de Santa Tereza somente podem receber
transferência do direito de construir, nos termos da lei, proveniente da mesma
ADE.
207
208
Art. 106 - A taxa de permeabilização mínima é de 20% (vinte por cento) da área
do lote, não se aplicando o disposto nos §§ 2º, 3º e 4º, do art. 50, da Lei nº 7166,
de 1996.
Seção III
Da Gestão Urbana
Art. 112 - Fica instituído o Fórum da Área de Diretrizes Especiais de Santa Tereza
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209
Art. 113 - Fica instituída uma comissão provisória, com a atribuição de convocar
assembléia plenária para a indicação dos representantes da comunidade e de
efetivar a implementação do FADE DE SANTA TEREZA.
§ 1º - Esta comissão é composta por 1 (um) representante da Administração
Regional Leste, que a coordenará, e por 3 (três) representantes da comunidade.
§ 2º - O prazo para a convocação da assembléia plenária é de 60 (sessenta dias)
após a promulgação desta lei.
209
210
ANEXO VIII da Lei No. 8.137: classificação de usos na ADE de Santa Tereza.
Área: <50m²
-Adm. de Imóveis
Comércio e Administração de -Compra, Venda e Corretagem
Imóveis de Imóveis
-Empreendimentos Imobiliários
-Incorporação de Imóveis
-Cafeterias -Albergues
-Casas de Chá -Restaurantes
-Casas de Doces -Bar (150m²)
Serviços de Alojamento e -Casas de Sucos e Vitaminas
Alimentação -Lanches em Trailer(<30m²)
-Sorveterias
-Lanchonete
-Pensões
-Grupo I >150m² a <300m²
Área: <100m² Área: <100m², com exceção
-Lavanderias e Tinturarias
-Chaveiros -Toalheiro
-Dedetização -Adm.. de Condomínios
210
211
-Reparação de Veículos,
-Montagem de Molduras e excluindo Lanternagem e
Quadros Pintura (150m²)
-Reparação de Artigos de -Serviços de Vidraçaria
Couro e Similares -Serviços de Reparação de
-Reparação de Bicicletas Móveis
-Reparação de Instalações de -Serviços de Corte e Vinco
Gás,Elétricas e Hidráulicas em Embalagens
Serviços de Reparação e -Reparação de Aparelhos -Serviços Gerais de Pintura
Conservação Eletrônicos
-Reparação e Conservação de
Ferramentas
-Reparação e Conservação de
Máquinas, Aparelhos e Artigos
de Uso Doméstico e Pessoal
-Reparação e Instalação de
Antenas
-Reparação e Instalação de
Computadores, Periféricos e
Impressoras
-Serviços de Esterilização
-Serviços de Montagem de
Quiosques
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212
-Escola de Mergulho
-Estúdios Fotográficos
-Locação de Artigos de
Vestuário
-Massagens, Saunas, Duchas
e Banhos
-Salões de Beleza
-Salões de Engraxate
-Serviços Esotéricos
Área:<100m² Área:<100m²
212
213
Dentária
-Laboratório Fotográfico
-Postos de Coleta de Materiais
Biológicos
-Provedores Internet
-Serviços de Decoração
-Serviços de Editoração
Eletrônica
-Serviços de Jornalismo e
Comunicação
-Serviços de Litografia
-Serviços de Nutricionismo
-Serviços de Reprografia
-Serviços de Serigrafia
-Empreiteira de Serviços de
Construção
Área: <50m²
Área: <50m²
-Agências de Intercâmbio
Cultural e Viagens
-Agências de Turismo
-Confecção de Carimbos
-Serviços de Comunicação e
Programação Visual
-Adm. de Tickets, Vales,
Cartões, e Fichas
Serviços Auxiliares de -Adm. de Consórcios
Indústria e Comércio -Agências de Trabalho Avulso,
Diaristas
-Locação, Compra e Venda de
Telefones
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214
-Locação de Marcas e
Patentes
-Locação e Venda de Telões
-Posto de Intermediação de
Serviços
-Serviços de Vigilância
Área: <150m²
-Asilos
-Associações Beneficentes
Serviços de Uso Coletivo -Creches
Assistência Social -Entidades de Assistência e
Promoção Social
-Entidades de Atendimento
Não Asilar -Grupo I >150m² a <400m²
-Orfanatos
Área: <50m²
Serviço de Uso Coletivo
Órgãos de Previdência -Previdência Privada
-Previdência Pública
Área: <50m²
-Associações
Serviços de Uso Coletivo -Confederações
Entidades de Classe e -Conselhos
Sindicais -Federações
-Organizações de
Assistência a Empresas
-Sindicatos
214
215
-Confederações e
Federações
-Ligas Desportivas e
Recreativas
Serviços de Uso Coletivo - Associações Desportivas e
Entidades Desportivas e Recreativas
Recreativas -Praças e Quadras de
Esporte
-Clubes
-Escolas de Esportes
Área: <100m²
-Associações Religiosas
Serviços de Uso Coletivo -Congregações Religiosas
Instituições Religiosas -Órgãos Administrativos de
Instituições Religiosas
-Seminários Religiosos -Grupo I >100m² a <400m²
-Templos
Área: <50m²
-Clínicas Especializadas
-Postos de Saúde Pública -Clínicas Odontológicas
-Postos de Vacinação -Institutos de Fisioterapia
-Serviços de Enfermagem -Clínicas Veterinárias
-Serviços de Ambulância
Serviços de Uso Coletivo -Serviço Veterinário de
Serviços de Saúde Embelezamento e
Vacinação
215
216
-Bancos de Sangue
-Laboratórios de
Análises Clínicas
-Laboratório Radiológico
-Maternidade (sem limite
de área pré-definido)
-Clínica de Fisioterapia
-Policlínica (sem limite de
área pré-definido)
-Centros de Formação
-Institutos para Cegos Profissional
-Institutos para Portadores de -Cursos Pré-Vestibulares
Deficiência -Cursos Supletivos
-Institutos para Surdos-Mudos
Serviços de Uso Coletivo -Jardins de Infância e
Serviços de Educação Maternais
-Pré-Primário
-Escolas de Excepcionais
-Escolas de Idiomas
-Escolas de Primeiro Grau - Grupo I >150m² a <400m²
-Escolas de Segundo Grau
-Colchões
-Antiquários -Show Room
-Abrasivos -Vidraçarias
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217
217
218
-Brinquedos
-Cestas de Alimentação
-Confeitarias
-Copiadoras
-Cortinas
-Cosméticos
-Drogarias e Farmácias
-Eletrodomésticos
-Essências, Corantes e
Especiarias
-Embalagens
-Equipamentos de Pequeno
Porte Sem Incômodo
Ambiental
-Equipamentos de Segurança
de Uso Pessoal
-Equipamentos e Materiais
Elétricos e Eletrônicos
-Ferragens
-Ferramentas
Uso Comercial (cont.) -Floriculturas
-Gelo
-Instrumentos Musicais
-Joalherias e Relojoarias
-Jornais e Revistas
-Laticínios e Frios
-Livrarias e Papelarias
-Lubrificantes
-Materiais Plásticos
-Mercearias
-Metais e Pedras Preciosas
Para Joalherias
-Móveis
-Molduras
-Objetos de Arte e Adornos
-Óticas
-Padarias
-Perfumarias
-Presentes
-Produtos Alimentícios
-Produtos de Limpeza
-Produtos Naturais
-Programas para
Computadores
-Roupas Especiais de
Segurança
-Sapatarias
-Tabacarias
-Tapetes
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219
-Tecidos
-Peças e Acessórios Para
Bicicletas
-Pequenos Animais Não
Abatidos
-Produtos Preparados e/ou
Comercializados em
Equipamentos Compactos
Tipo: Jornais, Refrigerantes,
Pipocas, Balas, Churros, etc
-Produtos Hortifrutigranjeiros
-Quitandas
-Toldos
219
220
220
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Questionário de Pesquisa:
4- Quais são os lugares que você mais gosta da cidade (Aponte pelo menos
três). Justifique.
6- Quais são suas impressões sobre o bairro de Santa Tereza? Você acha que
o bairro favorece o encontro e as relações sociais? Sim ou não, justifique.
10- Você identifica em Santa Tereza diferenças em relação aos outros bairros
da cidade? Quais? Aponte aquelas que você considera as mais importantes.
Observações/complementos:
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