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NA HIST~RIA DA MADEIRA
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ganhando dimensão particular na
religiosidade madeirense. No
primeiro domingo de Setembro a
pequena povoação de Ponta
Delgada recebia inúmeros romei-
ros que para aí se dirigiam a
cumprir as promessas. A passa-
I gem era anunciada pelos cantares
e mbsicas apropriadas que davam
ao ambiente serrano do norte da
I ilha uma animação inaudita. A
pr6pria igreja tomou algumas
medidas no sentido de facilitar
este movimento, aconselhando as
autoridades municipais para os
necessários cuidados na manu-
tenção dos caminhos ou punindo
os proprietários de gado com
excomunhão, pois conforme refe-
re o bispo em 1706 sucediam-se,
~
por vezes, desastres mortais, devido queda de manifestava-se, por vezes, no numero de
pedras provocadas pelas cabras que pastavam lâmpadas acesas, no fogo queimado, fias
nos precipícios sobranceiros aos caminhos do bandas de música e, mais recentemente, nos
lado de S. Vicente e Boaventura. Para apoio dos conjuntos de ritmos modernos.
romeiros abriram-se caminhos, construíram-se Hoje a realidade é outra e ao madeirense
casas de romeiros junto dos templos de são oferecidas inúmeras formas de diversão
devoção. Algumas destas construções, gemi- que colocam em plano secundário as festas e
nadas com as igrejas, são, ainda hoje, visíveis. romarias. Primeiro a rádio (1948), depois a
O bispo, nas visitações, recomendava ao televisão (1972) e as hodiernas formas de
município a recuperação dos caminhos e proibia diversão urbana com as discotecas (1973)
os pastores de manter o gado na serra quase que as apagaram para alguns grupos
sobranceira. etarios da população. O século XX deu um novo
O folguedo ou arraial, no espaço vizinho colorido as festividades e romarias, o arraial
da igreja/capela do orago, é efémero dura ganhou em luz mas perdeu em animação e
apenas quarenta e oito horas. Mas, para que forma de afluência dos forasteiros. Os cami-
isso acontecesse havia todo um trabalho de nhos e casas dos romeiros ficaram ao aban-
engenho e arte na criação das flores de papel dono e não mais se ouviu ecoar os cantares
ou de tapetes para a procissão. Os enfeites, de cadenciados que os denunciavam nos caminhos
alegra-campo e loureiro, contrastam com o sinuosos da montanha. As romarias adap-,
garrido das flores e o vermelho da Cruz da taram--se aos novos desafios do progresso ma$
Ordem de Cristo que flutua nas bandeiras. O perderam o carácter bucólico. A estrada facili-;
progresso trouxe mais luz e o feérico da cor, tou o acesso e o romeiro passou a excursio-
fazendo-os prolongar pela noite fora. A luz nista.
eléctrica, a paflir da década de quarenta, veio Em síntese, esta breve incursão históric
revolucionar o arraial. Aqui, para além da revela que o madeirense fez transbordar a su
oferta de um variado conjunto de barracas de alegria nestas manifestações festivas, dist
comes e bebes, onde pontua a espetada, buídas ao longo do ano, e que hoje são um dad
temos a feira para venda dos produtos da terra adquirido da vivência dos nossos avoengos e d
ou de fora. Este era e é um momento de todos nós, actuais e lidimos representantes
encontro, devoção e partilha da riqueza desta tradição.
arrancada a terra. Afinal, o arraial era a altura
em que todos se encontravam irmanados pela
devoção ao santo padroeiro. BIBUOGRAFIA: 1. De Sousa Coutinho, O Natal na Madeira, DMM,
IV, no,19-20, 1955. João Cabral do Nascimento, o Natal de há 30
Na segunda metade ao século XIX o emi- anos, DAHM, I, n0.4, 1951, 26-27. Eduardo Antonino Pestana, O
grante regressado do Havai, Demerara, Brasil, Natal Madeirense num Auto de Gil Vicente, DAHM, V, n0.27, 1957,
1-9. Eduardo Antonino Pestana, Ilha da Madeira I. Estudos
Venezuela, África do Sul e Austrália reforça a Madeirenses, Funchal, 1970. Manuel Juvenal Pita Ferreim, O Natal
animação destas festividades, dando-lhe uma na Madeim. Estudo folclórico, Funchal, 1956. Alberto Artur
Sanento, O Natal na Madeim. Quando eu em Estudante, DAHM, 11,
nova dimensão; este era o festeiro, que reco- n0.9, 1951. Fernando C. De Menezes Vaz, O Natal na Madeim,
nhecendo a protecção do santo, prestava a sua DAHM, Vol.1, n0.4, 1950. José de Sousa Coutinho, O Natal na
Madeim, DAtlM, I, n0.4, 1960, 38-39 IDEM, O Natal da
farta homenagem. As romarias passaram a ser Madeira(Estud0 Ebog~áfico),DAHM, IV, 19-20,1955,58-70. Alvaro
o momento para a visita aos familiares ou o Manm de Sousa, Curiosidades do Passado, DAHM, I, nO.l, 1950,II,
no.2, 1951. Ana Maria Ribeiro, O Natal em Câmara de Loks,
regresso desta promissora aventura. A anima- Xarabanda, 7, 1995, 29-35. Danilo Femandes, O Baile e as
ção feçtiva pasçou para o exclusivo controle do Romarias, Xarabanda, 2, 1992, 7-9. RUI Camacho, Festas e
Romarias da Madeim, Xambanda, 1, 1992, 31-36. IDEM, Festas e
emigrante, dependendo o brilhantismo da sua Romarias da Madeira. Novas Datas, XaraBanda, 2, 1992, 41-42.
disponibilidade financeira. Era o emigrante João Nelson Verissimo, A Festa do Esplrito Santo, Atl4ntim, 1, 1985,
9-17. A. A. Samento, A Festa do Eçpfrito Santo na Madeira, DAHM,
quem pagava as despesas dessa realização, I, no. 6, 1951, 23-24. Maria de Fátlma Gomes, Festas romarias na
assumindo aqui este acto uma forma de Madeira, AMntko, 14, 1988, 140-148. Vitor Sardinha, Cantigas de
Embalar, Xambanda, no espedal, 1993,7-8. Jorge Couto, Para uma
devoção ao santo patrono do çucesso alcan- bibliografia Madeirense da Cultum Popular. Festividades ciclicas,
çado. A ostentação da riqueza amealhada Xambanda, 9(1996), 45-53.