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Relacionamento: Amor e Liberdade

OSHO

“Sejam como dois pilares que sustentam o mesmo teto. Esse teto é o amor."
Khalil Gibram

Primeiro Seja - Relacionar-se é uma das maiores coisas da vida: é amar,


compartilhar. Para amar é preciso transbordar de amor e para compartilhar é
preciso ter (amor). Quem se relaciona respeita e não possui. A liberdade do outro não
é invadida, ele permanece independente. Possuir é destruir todas as possibilidades de
se relacionar. Relacionar é um processo. Relacionamento é diferente de relacionar-se: é
completo, fixo, morto. Antes devemos nos relacionar conosco mesmos e escutar o
coração para a vida ir além do intelecto, da lógica, da dialética e das discriminações.
É bom evitar substantivos e enfatizar os verbos. A vida é feita de verbos: amar,
cantar,dançar, relacionar, viver.

O Outro Dentro de Você - Nada machuca mais do que quando um sonho é esmagado,
uma esperança morre, o futuro se torna escuro. A frustração representa uma parte
muito valiosa no crescimento espiritual. A nova psicologia está baseada nas
experiências da escola mais antiga, tantra. Qualquer um que seja dependente de
alguém, odeia essa pessoa.

Ciúme - Quando há atração sexual e o ciúme entra é porque não há amor. Há medo,
porque o sexo é uma exploração. O medo se torna ciúme. Não se pode amar alguém
não-livre, pois o amor só existe se dado livremente, quando não é exigido, forçado e
tomado. Quanto mais controlamos, mais "matamos" o outro. As causas do ciúme
estão dentro de nós; fora estão só as desculpas. O amor não pode ser ciumento. Ele é
sempre confiante. Confiança não pode ser forçada. Se ela existir, segue-se por ela.
Senão, é melhor separar, para evitar danos e destruição e poder amar outra pessoa.
Quando amamos alguém,confiamos que não quererá outro. Se quiser, não há amor e
nada pode ser feito. Só através do outro tornamo-nos conscientes de nosso próprio ser.
Só num profundo relacionar-se o amor de alguém ressoa e mostra sua profundidade:
assim nos descobrimos. Outra forma de autodescoberta, sem o outro, é a meditação.
Só há dois caminhos para chegar ao divino: meditação e amor.

Do Sexo ao Samadhi - Só temos uma energia que, no mais baixo, é sexual. Refinada,
transforma-se pela alquimia da meditação e torna-se amor ou oração. O sexo é o
fenômeno mais importante da vida. É natural, não exige preocupação. Repressão é
esconder energias impedindo sua manifestação e transformação. Até hoje nenhuma
sociedade encarou o sexo naturalmente. O sexo revela que somos dependentes. As
pessoas egoístas são contra o sexo (?) Nele sempre há o risco de rejeição. Nele nos
tornamos animais, porque naturais. Quando aceitamos o passado, o futuro se torna
uma abertura. O tantra usa o ato sexual rumo à integridade, se nos movermos nele
meditativamente, sem controle, com loucura, sem tempo, sem ego,naturalmente.
Tantra é um longo caminho do sexo ao samadi. Samadi é o supremo gol; sexo é só o
primeiro passe. Uma pessoa se torna Buda quando o sexo é transformado em Samadi.
É bom mover-se no sexo, mas permanecer observador. A meditação é a experiência do
sexo sem sexo. O sexo é um fim em si mesmo e no presente. Sem amor o ato sexual é
apressado. Sem pressa, estando no presente, caminha-se para a comunhão, a entrega,
a espiritualidade, o relaxamento, o fluir, a fusão, o êxtase, o Samadi. Não há
necessidade de ejaculação. Quanto mais observamos, mais nossos olhos são capazes de
ver, mais são perceptivos. "O homem e a mulher são dois pólos diferentes, o polo
positivo e negativo da energia. Seu encontro provoca um circuito e produz um tipo de
eletricidade. O conhecimento dessa eletricidade é possível se o período de cópula puder
ser mantido por um período mais longo. Então uma alta carga, produzindo uma
auréola de eletricidade evoluirá por si mesma. Se as correntes dos corpos estiverem
num abraço total e completo, pode-se até mesmo ver um lampejo de luz na escuridão."

Relacionamento como um Espelho - O amor se relaciona, mas não é relacionamento,


que é algo acabado. Ele é como um rio fluindo, interminavelmente. Há flores do amor
que só desabrocham após uma longa intimidade. Relacionar-se significa que estamos
sempre começando, sempre tentando nos tornar conhecidos. A alegria do amor está na
exploração da consciência. Quando investigamos o outro, fazemos o mesmo conosco.
Aprofundando-nos no outro, nos aprofundamos em nós mesmos. Tornamo-nos
espelhos para o outro e o amor torna-se meditação. Quando mais descobrimos, mais
misterioso o outro se torna: o amor é uma aventura constante. Quando estamos
apaixonados, a linguagem não é necessária. O amor não escraviza, não é possessivo
nem exigente. Ele liberta, permitindo aos amantes voarem alto, em direção a Deus.
Quando apreciamos nossa solidão, nos tornamos meditadores. Só quem é capaz de ser
feliz sozinho pode contribuir com a felicidade de outro.

Amor Verdadeiro - Quando há dependência não há maturidade nem amor, há


necessidade. Usa-se o outro, o que é desamoroso. Ninguém gosta de ser dependente,
porque a dependência mata a liberdade. Os homens sempre querem mulheres que
sejam "menos" do que eles. A maturidade vem com o amor e acaba com a necessidade.
Amor é luxo, abundância. É ter tantas canções no coração, que é preciso cantá-las,
não importando se há quem ouça. Quando somos autênticos, temos a aura do amor.
Quando não, pedimos amor aos outros. Quem se apaixona não tem amor e, assim,
não pode dar. Quem é maduro não cai de amor, mas se eleva nele. Duas pessoas
maduras que se amam, ajudam-se a se tornarem mais livres. Liberdade, moksha, é
um valor mais elevado que o amor. Por isso é que o amor não vale a pena se a
destruir.

Solidão e Solitude - Na solitude estamos constantemente encantados conosco mesmos.


Ela é abençoada, um profundo preenchimento, que nos mantém centrados e
enraizados. Ela é independente. Todos são um fim em si mesmos. Ninguém existe
para ser usado. Quem está no pico da solitude só se atrai por quem também esteja só.
Dois solitários olham um para o outro, mas dois que conheceram a solitude olham
para algo mais elevado. Se estão felizes consigo mesmos, tornam-se companheiros. As
palavras felicidade e acontecimento têm a mesma raiz em inglês. Porque a felicidade
simplesmente acontece. Para ser feliz é preciso deixar acontecer. O caminho do amor
deve ser tomado com tremenda consciência e o da consciência, com tremendo amor.
Depois de cada experiência profunda nos sentimos sós e tristes: seja um grande amor
ou uma meditação. Por isso muitos evitam experiências profundas. A solitude é bela e
livre. É um momento em que o outro não é necessário. Após essa liberdade o amor é
possível. O amor traz solitude e a solitude traz amor. Já a solidão não cria amor;
apenas necessidade. Ela pode matar. Dois solitários não conseguem se relacionar
porque isso não ocorre a partir da necessidade. Solitude é uma flor desabrochando, é
positiva, saudável. Só o amor dá a coragem de sermos sós. Só assim acumulamos
energia até transbordar e transformar-se em amor. Sós, acumulamos amor,
celebração, dança, energia, prazer, vida. Só o excesso de energia possibilita o orgasmo,
que não é um alívio, mas celebração. Quando os amantes se afastam, readquirem sua
solitude, beleza e alegria. A alegria traz a necessidade de compartilhar. A paixão é
muito pequena diante da compaixão. Solitude é mover-se para dentro e amor é
mover-se para fora. Ambos os movimentos são enriquecedores.

Terminando um relacionamento - Onde houver consciência, há revolta contra a


repetição mecânica. Totalidade é a base da liberdade. Simpatia não é amor. Não se
resolve problemas dentro da mente, pois ela é o problema, que não se resolve com
respostas, por não ser um problema intelectual, mas existencial. Em vez de pensar é
melhor entrar no silêncio, que é a porta a caminho da divindade. Relacionamento
não é amor e amor não é relacionamento. Este é pronto e fechado e o amor é fluir.
Relacionamento é estrutura; amor é não-estruturado. Amor é um processo, um estado
de ser. As pessoas amorosas não precisam de relacionamentos. O relacionamento
torna-se necessário quando o amor está ausente, ele o substitui. É preciso muita
coragem para permanecer aberto, sem criar um relacionamento. O amor acontece,
nós não o fazemos acontecer: só podemos nos tornar disponíveis. O amor vem do
nada, como um solavanco e só é possível entre iguais. Se escolhemos alguém que tem
medo de aprofundar é porque nós também temos. Quando o amor se aprofunda,
aumenta a liberdade. Elevar-se no amor é um aprendizado, uma mudança, uma
maturidade. É algo espiritual. Quem é sábio não impõe sua idéia a ninguém. A vida
é incerta, a insegurança é seu próprio espírito. Só a morte é certa. Nunca devemos
perguntar sobre problemas dos outros.

Casamento - Ninguém nasce para o outro. Amor e liberdade andam juntos. Ela é
uma expressão do amor. "Dar" liberdade é confiar. O crescimento precisa de liberdade.
De todas as artes, o amor é a mais sutil e precisa ser aprendida. Amor é felicidade,
harmonia, saúde. Um grande amante está sempre pronto a dar amor e não está
preocupado se vai receber de volta ou não. O amor tem sua própria felicidade
intrínseca. Quanto mais amamos, maior a possibilidade da pessoa certa acontecer,
porque o coração floresce. O amor real nos deixa felizes e harmônicos pela simples
presença do outro. Amor é eternidade. Se estiver presente, cresce. Ele conhece o início,
mas não o fim. Duas pessoas infelizes que se unem multiplicam sua infelicidade.

Amizade e Ser Amigo - Love vem do sânscrito lohba, avareza. A amizade pertence ao
templo e não à loja. Devemos ser amigáveis com todos: pessoas, animais, plantas e
não criar amizades, necessariamente. Amizade é amor sem caráter biológico. As
pessoas iluminadas têm mais inimigos do que as não-iluminadas, pois os cegos não
perdoam quem enxerga e os ignorantes não perdoam quem sabe. Ser amigável,
amoroso, autêntico, inocente sem causa é suficiente para disparar muitos egos contra
si.

Meditação e Amor - Quem quiser harmonia no amor precisa aprender a ser mais
meditativo. O amor sozinho é cego, quem enxerga é a meditação. É bom substituir
brigas por entendimento. Os conflitos existem por falta de compreensão. As palavras
medicina e meditação têm a mesma raiz. A medicina cura o corpo, a matéria e a
meditação cura a alma, o espírito. O amor é uma meditação e ela desabrocha no
amor. Meditação é um estado de bênção, não-pensamento, serenidade e silêncio. É
autodescoberta e a necessidade de compartilhar: o amor. Meditação é um estado de
não-mente, de pura consciência. É preciso aprender o truque de não nos envolvermos
com a mente, a arte de permanecermos indiferentes. Maturidade é conhecer algo em
nós que é imortal: a meditação, que conhece Deus. A mente conhece o mundo, fica
obcecada pelas nuvens, que vão e vêm. A meditação busca o céu, que é permanente.
Devemos buscar o céu interior. A meditação pode se tornar eternidade, é relaxamento
em si, é um estado de não-vontade, de não-ação, de espontaneidade indisciplinada,
sem direção, controle ou manipulação. Ela não tem meta, está no presente, é
imediatismo. Quem medita torna-se silencioso, tranquilo, pois a meditação traz paz.
É a árvore que cresce sem semente, pois é mágica, misteriosa. Quem abandona o
passado é meditativo. Na meditação vive-se o momento, nada interfere e a atenção é
total, porque não há distração; só consciência. Quem medita encontra o amor, pois a
meditação nos torna amorosos e o amor nos torna meditativos.

Amor e Compromisso - Quando amamos alguém não admitimos que o amor possa
acabar e, se ele existe, não há necessidade de arranjo legal. O casamento é necessário
porque não há amor. Amor é a fragrância de um coração meditativo, silencioso e
tranquilo; luxúria é paixão cega. Não há como melhorar o amor. Se é ele, é perfeito.
Se não for perfeito, não é amor. Quem quer conhecer o amor, deve meditar. Só os
místicos o conhecem. Ele é um dos muitos atributos de Deus, que também é
compaixão, perdão, sabedoria etc. Quem está centrado, é meditativo. O amor é uma
alegria transbordante, um estado do ser. O medo é o oposto do amor. O ódio é o amor
invertido. No amor nos abrimos, confiamos, expandimos. No medo nos fechamos,
duvidamos, encolhemos.

Ame a Si Mesmo - Para amar é preciso conhecer. Daí que a meditação é primária e o
amor, secundário. Como o Sol irradia luz sem foco, a meditação irradia amor sem
foco. Amar a si próprio é meditação, é ser autêntico, aceitar-se com é. Isso é oração, é
gratidão. O amor começa com o amor próprio, com a aceitação de si, de tudo e de
todos. A aceitação cria o ambiente onde o amor desabrocha. Também a confiança
começa na autoconfiança, que é independência. Quem é independente, aprende,
amadurece e se transforma com as mudanças. O amor é o fenômeno mais mutante da
vida: é como uma flor que se abre a cada manhã. Só os independentes podem amar e
ser amados.
Diante de um problema o que mais importa é saber exatamente qual é problema e
não sua solução.

Uma Nova Dimensão de Amor - O amor é mais verdadeiro e autêntico do que nós.
Todo caso de amor é um novo nascimento. O ego é como a escuridão, mas quando
chega a luz do amor, a escuridão se vai. As escolhas devem ser pelo real, pior e
doloroso e não pelo confortável, conveniente e burguês. O amor nos tira do ego, do
passado e do padrão e por isso parece confusão. Ficar louco de vez em quando é
necessidade básica para permanecer são. Quando a loucura é consciente, pode-se
voltar. Todos os místicos são loucos. O amor é alquimia porque primeiro tira o ego e
depois dá o centro. Amar é difícil, mas receber amor é quase impossível, porque a
transformação é maior e o ego desaparece. É o anseio pelo divino que impede que
qualquer relacionamento satisfaça. As pessoas mais criativas são as mais insatisfeitas
porque sabem que muito mais é possível e não está acontecendo. Amor 1: é orientado
a um objeto. Amor 2: ele transborda, não é orientado por um objeto. É uma amizade
que enriquece a alma. Amor 3: sujeito e objeto desaparecem: a pessoa é amor.

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