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Este documento foi elaborado em 2008 no contexto do Projecto de Educaç?o para o Desenvolvimento "Conectando
Mundos", coordenado pela ONGD italiana UCODEP e na qual participam igualmente a Intermon Oxfam (Espanha), a
Inizjamed (Malta) e o CIDAC.Todos os materiais estão disponíveis em www.cidac.pt e em www.educiglo.net
"Este documento foi produzido com o apoio da União Europeia. O conteúdo do documento não pode, em caso nenhum, ser tomando como
expressão das posições da União Europeia”
O desafio da escola
O desafio da escola A Educação para a Cidadania Global, uma resposta possível
A escola não é um lugar neutro. Não se limita simplesmente a transmitir de forma objectiva um conjunto Trata-se de uma proposta de educação comprometida e transformadora.
comum de valores e de conhecimentos. A escola introduz e legitima formas particulares de vida social. Uma proposta comprometida com uma visão não instrumental da educação que salienta a sua função
Por isso, é necessário reflectir e debater abertamente acerca dos valores, das ideias e dos ideais pelos última: o desenvolvimento global e harmonioso do cidadão e cidadã, que deve aprender a ser, a pensar, a
quais as escolas se orientam: Os objectivos e conteúdos que se ensinam devem estar ao serviço de que sentir e a agir. A Educação para a Cidadania Global pretende valorizar a dimensão humana e global da
tipo de sociedade? Pode a educação ajudar educadores e educadoras, alunos e alunas a tomar educação.
consciência de si próprios e do mundo em que vivem? Pretendemos, enquanto educadores e Leva “um pouco de mundo à sala de aula” e empenha-se em introduzir no ensino formal as questões da
educadoras, promover nos nossos alunos e alunas a consciência de si próprios e do mundo em que equidade, da democracia, dos direitos humanos e do desenvolvimento integral e sustentável. Esta
vivem? proposta educativa promove a compreensão dos conflitos locais e internacionais, a promoção de valores
Acreditamos que a escola é um espaço privilegiado para a formação de cidadãos críticos e participativos, como a paz, a justiça, a solidariedade, a valorização da diversidade como fonte de enriquecimento
para a promoção de um desenvolvimento solidário e sustentável e para a construção de sociedades mais humano, a defesa do meio ambiente e do consumo responsável e o respeito pelos direitos humanos
justas e equitativas. individuais e colectivos no sentido de propor políticas económicas, sociais, ambientais e educativas mais
Ocupa um lugar estratégico para avançar no sentido de um conceito de cidadania mais amplo e global, justas, solidárias e conscientes do desequilíbrio e das interdependências entre os países empobrecidos
uma vez que as exigências sociais que caracterizam o mundo actual tornam o conceito tradicional de e os países enriquecidos.
“cidadania”, ligado basicamente ao espaço nacional, restrito e insuficiente. O fenómeno de globalização, Tendo por base uma concepção da vida escolar bem distante de uma concepção tecnocrática, é uma
a progressiva multiculturalidade e as desigualdades entre os países do Norte e os países do Sul, entre proposta de educação transformadora. Impregna os conteúdos concretos das disciplinas e o dia a dia
outros factores, leva à necessidade crescente de estimular um conceito que promova a participação da escola e vai mais além.
cidadã a partir dos princípios de democracia e de responsabilidade. Ou seja, uma cidadania “global”, Trata-se de transformar a escola num verdadeiro espaço de encontro e participação de toda a
crítica e intercultural, activa e responsável. comunidade educativa. Trata-se de promover o conhecimento como construção colectiva, que valoriza o
Mas, para tudo isso, é essencial progredir em direcção a uma abordagem crítica e dialógica, que torne saber de todos os envolvidos no acto educativo, e não como mero esforço individual. Através de uma
mais flexíveis os tempos e os espaços da escola, que promova locais de aprendizagem e de reflexão, que relação dialógica, educadores e alunos esforçam-se colaborativamente por compreender o mundo
estabeleça relações mais democráticas nos papéis e nas relações entre educadores/as e alunos/as. fundamentando-se nas suas próprias existências, experiências, necessidades, circunstâncias e desejos.
É também necessário que a escola estabeleça alianças com a sociedade civil, em especial com o Trata-se de transformar a escola num espaço de reflexão e acção relativamente aos desafios impostos
movimento associativo da sociedade civil, de forma a ampliar e melhorar o trabalho conjunto já pelos nossos dias. Trata-se de gerar espaços de intercâmbio, reflexão, socialização e discussão que
desenvolvido, inscrevendo-o numa estratégia de longo prazo, nomeadamente no sentido de reforço da permitam sair das experiências isoladas e individuais.
informação disponibilizada, do desenvolvimento de metodologias, do apoio às práticas e de promoção de Em Portugal, muitos educadores e educadoras, conscientes da realidade do mundo actual e do papel da
iniciativas comuns, dentro e fora da escola. escola, têm trabalhado com as suas turmas e nas suas escolas com o objectivo, mais ou menos explicito,
planificado e estruturado, de educar com uma visão de interdependência global, de assinalar injustiças,
de reflectir sobre possíveis estratégias de intervenção. Esta linha de trabalho vai de encontro aos
princípios vinculados pela Educação para o Desenvolvimento, Educação para os Direitos Humanos,
Educação Ambiental, Educação para a Paz, Educação para a Multiculturalidade e Educação para o
Género. É neste sentido que a Educação para a Cidadania Global pretende também constituir-se como o
património de valores e princípios comuns a estas “educações para...”, permitindo a educadores e
educadoras, a alunos e alunas serem actores participativos e responsáveis na construção de uma
sociedade mais justa, equitativa e solidária.