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CURITIBA
2006
A democracia não incentiva o espaço público cotidiana e compulsivamente. O
espaço (de interação e debate) público, da forma como propõe Habermas, se dá apenas (e
ainda assim de forma frágil e sem energia) em momentos específicos e estratégicos, como
escândalos, referendos e eleições. Diante dessa conjuntura, faz-se necessário verificar quais
as restrições que a democracia impõe ao espaço público e como isso contraria os próprios
princípios democráticos.
Analisemos essa contradição historicamente. A democracia original era uma
proposta grega que consistia essencialmente na deliberação. Muito se avançou, desde então,
em relação à participação de diferentes grupos sociais na vida política; mas muito se
regrediu em relação à qualidade dessa deliberação, até que atualmente ela é praticamente
nula. A democracia atual, portanto, caracteriza-se por não incentivar o debate público e pela
falta de deliberação. O governo é composto por uma elite profissional política e o debate
tornou-se privilégio dessa aristocracia, contrariamente ao ideal democrático de publicização
da expressão, do debate e das decisões políticas. Há, nesse sentido, a necessidade de
diversificação do que Lijphart chama de “instituições e práticas a que o cidadão recorre
para traduzir as suas preferências em iniciativas de natureza pública” (LIJPHART, 1989).
O que se tem é uma falsa publicidade, em que os cidadãos adotam atitudes não
significativas politicamente e se limitam a esperar decisões emanadas do poder político. Os
indivíduos na democracia atual não são essencialmente políticos, são alheios a essas
questões; preferem que a atividade seja controlada por uma elite especializada.
“A teoria democrática toma em consideração o poder autocrático, isto é, o poder que parte
do alto, e sustenta que o remédio contra esse tipo de poder só pode ser o poder que vem de
baixo” (BOBBIO, 1980)
HABERMAS, J. Comunicação, Opinião Pública e Poder, In: Comunicação de Indústria Cultural, Org. Gabriel
Cohn, São Paulo: Editora Nacional, 1977