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Carminalla Pale
A.L. Bandina
II
Índice
I - Pálida Introdução
II - O Sapateiro
III - Outro Funeral
IV - Face Ebúrnea
V - Noite De Inverno
VI - Vestida Para A Morte
VII - Promessa Cumprida
VIII - O Casarão
IX - Sangue Infantil
X - Passagem Gótica
XI - Encontro Com Lugubrous
XII - Retorno Ao Lar
XIII - Visita Ao Interior
XIV - Um Ancião
XV - Bebendo Entre Imortais
XVI - Frio Na Madrugada
XVII - Farto Banquete
XVIII - Maldito Sol
XIX - Atraindo Como A Morte
XX - Magos Presentes
XXI - Uma Breve Visita
XXII - Perseguição Noturna
XXIII - Irmandade Obscura
XXIV - Reencontro
III
Prefácio
Carminalla Pale
IV
I – Pálida Introdução
U
- ... m cadáver... um cadáver sem sangue!!!...
Eu ouvi isso muitas e muitas vezes na velha cidade onde eu vivia.
Desde minha infância eu ouvia histórias de demônios, sugadores de
sangue, os temidos vampiros, mas confesso que nunca acreditei nessas
histórias, nos famosos vampyrs.
Nossa cidade já estava no auge da decadência econômica quando meus
pais resolveram mudar para a capital, “onde tudo acontece” como eles diziam.
Na minha última noite naquela vila, sai para ver e me despedir das ruas e
praças por onde passei minha infância toda.
Encontrei numa dessas ruas, um homem alto vestido em um sobretudo
preto e com encantadores olhos sedutores e brilhantes, que reluziam em sua
face pálida feito um morto.
Eu tinha naquela época por volta de quinze ou dezesseis anos, e me
apaixonei por aquele “anjo” em trajes negros.
Ele se aproximou de mim, tocou com suas mãos nas minhas, e eu senti
meu corpo todo arrepiar-se ao sentir sua pele fria.
_ Você é linda. Ouvi sua voz num tom sussurrado e excitante próximo
ao meu ouvido. Linda demais para morrer, quando tiver mais idade, lhe
encontrarei e você será minha companhia, será como eu, minha amada.
Linda demais para morrer eu pensei comigo em silêncio, ele vai me
matar?!
Quando ergui meus olhos para fitar os dele, já não vi mais ninguém,
aquele anjo da escuridão havia desaparecido tão rápido e funestamente como
havia surgido.
Voltei confusa para casa, pensei estar enlouquecendo, então no vai e
vem com as malas, acabei esquecendo o ocorrido e seguimos para a capital
com nossa mudança em uma engenhosa maravilha que estava surgindo naquela
época, o trem a vapor.
Eu estava fazendo minha primeira viagem, e de trem, um dragão que
soprava fumaça e grunhia com um sino a sua cabeça.
Fiquei a maior parte do tempo vendo pela janela o trajeto que íamos
fazendo, aguardando uma surpresa a cada curva, uma floresta, algum animal
selvagem no meio do mato, um rio, as cidades e suas estações pelas quais
íamos passando, e as pontes, nossa, cada ponte alta que atravessávamos e
enquanto eu olhava para baixo com um frio na barriga, eu via as pedras ou
árvores que pareciam tão pequeninos lá embaixo, ou as águas dos rios enormes
com suas correntezas batendo nos pilares de sustentação.
Eu nunca me esquecerei desta viagem, como se diz o velho ditado, “a
primeira vez a gente não se esquece”.
V
II – O Sapateiro
VII
III – Outro Funeral
IX
IV – Face Ebúrnea
XI
V – Noite de Inverno
Foi em uma noite de inverno que consegui conversar com aquele rosto
branco feito a morte. Eu estava saindo de uma praça onde eu havia sentado em
um banco para contemplar a noite que estava com um maravilhoso céu
estrelado, quando senti uma fria mão repousar sobre a minha.
_ Boa noite, linda Carminalla.
Eu fitei seus olhos assustados, mas logo me tranqüilizei, seu olhar me
deixava fascinada pelo brilho incessante que emanava de sua profundeza.
_ Esta é uma noite de revelações, de trevas, dor, solidão, paixão, enfim,
hoje compreenderá o que sou.
Eu não disse uma palavra, apenas observava cada gesto e cada palavra
com uma atenção sobrenatural, como se ele estivesse controlando meus
pensamentos e meus movimentos.
_ Eu sou um vampiro.
Ao ouvir esta palavra eu caí em uma gargalhada espetacular, não
conseguia me conter, onde já se viu uma pessoa se apresentar a você dizendo
que é um vampiro, oras, vampiros não existem, era isso o que eu imaginava até
que ele me agarrou fortemente, mostrou seus caninos pontiagudos em sua boca
escancarada e cravou-os em meu pescoço engolindo um pouco de meu sangue.
Pude ver o êxtase que ele sentia, e confesso que como vítima, também o
sentiu ao ser drenado.
_ Isto é só o começo meu amor, não está na hora de ser transformada
ainda.
Ele me contou que apenas podia caminhar nas noites, este era um dos
preços cobrados pela eternidade, assim como a solidão e a tristeza que eram
nossas parceiras eternas nesta vida regada de sangue, luxúria e prazer.
Perguntei sobre as famosas cruzes, alho, e coisas do gênero, e ele me
disse rindo que eram apenas lendas nada mais do que isso.
Entramos em um bosque que ele dizia Ter uma refeição esperando por
ele, que estava sentindo o cheiro de sangue de sua vítima. Eu não sentia cheiro
algum, e então para minha surpresa, logo ele me apontou um caçador
clandestino a alguns metros à nossa frente.
_ Fique aqui e observe aquela pressa ser atacada por mim.
Eu fiquei agachada entre uma moita verde enquanto observava suas
habilidades.
Primeiramente ele se aproximou sem nenhum ruído, depois fez um
aceno e chamou o caçador que virou sua arma apontando-a para sua cabeça.
Com seu jogo de sedução e palavras apaziguadoras, logo fez com que sua
vítima abaixasse a arma. Quando o pobre coitado já não tinha mais barreiras
para impedi-lo, o vampiro soltou os botões da camisa do caçador, envolveu-o
com um abraço por de trás tirando aquela mesma camisa enquanto a vitima
XII
desfrutava do momento voluptuoso. Os caninos apareceram na escuridão
enquanto os olhos brilhantes me fitavam, e ele sabia que eu desejava estar no
lugar de sua vítima.
Aquele rosto pálido sorriu para mim e então os dentes perfuraram a
carne do pescoço e em seguida os lábios em um beijo começaram a sugar o
sangue que fluía de sua fonte para sustentar e aquecer aquele vampiro sedento.
O corpo da vítima foi largado ao chão para que terminasse de morrer
enquanto o vampiro vinha em minha direção. Ele pegou minha mão, mas agora
a dele estava mais quente, com um calor quase que humano.
_ E o corpo, não vão encontrá-lo sem sangue?
_ Não se preocupe, olhe você mesma.
Olhei para o corpo e vi muitos lobos se aproximando para uma refeição e
pensei comigo mesma vendo o noticiário do jornal no dia seguinte: - Caçador
vira caça e é devorado por lobos famintos.
Já próximo a minha casa, o vampiro me abraçou e disse:
_ Logo voltarei para que esteja sempre ao meu lado.
_ Não, eu quero agora!
Ele sabia que eu não diria nada a ninguém, ou caso contrário, eu seria
internada em um sanatório ou coisa do gênero.
XIII
VI – Vestida Para A Morte
XIV
VII – Promessa Cumprida
Realmente ele cumpriu sua promessa, passou a me visitar uma vez por
semana e sempre que ele aparecia, eu estava pronta para que ele bebesse um
pouco de meu sangue. Numa dessas visitas, ele me revelou seu nome, Pietrus
que já estava com duzentos e nove anos.
Eu comecei a me sentir cada dia mais fraca, sem fome, cada vez mais
pálida e abatida, descobri que estava com uma forte anemia.
Pietrus não apareceu por um mês ou mais, e eu estava morrendo.
Deitada em minha cama, meu leito de morte, eu ficava pensando porque
ele havia tirado tanto sangue meu e me abandonou para um fim tão solitário e
lento, pois ele já havia sugado quase todo meu sangue, e mesmo que meu
corpo produzisse tanto sangue assim para repor a falta, eu não teria chances de
sobreviver, estava tudo perdido para mim.
Na noite em que eu já pressentia a morte me rodeando feito um abutre
sobre a sua carniça, Pietrus apareceu novamente. Desta vez estava muito
sinistro. Fiquei com muito medo ao olhar para seu rosto inexpressivo. Ele se
aproximou de mim, me despiu e cravou seus dentes com força em meu
pescoço, o que me fez estremecer enquanto o resto de minha vida era sugado.
Pouco antes de acabar todo meu sangue e minha vida, deixando-me entre
a fina linha entre a morte, ele afastou sua boca de meu pescoço e falou:
_ Agora é sua vez de decidir se vira para minhas trevas ou para o escuro
da morte eterna...
Ele mordeu sua própria língua e a pôs escorrendo seu sangue para fora
de sua boca. Eu então fiz minha escolha, beijei aquela língua sangrenta e
chupei todo sangue que escorria, cada gota que saia dela.
Nosso beijo durou poucos minutos até que ele me empurrou de lado
dizendo que já era mais do que suficiente para mim, enquanto eu delirava em
êxtase e queria mais.
Repentinamente cai ao chão com uma enorme dor correndo cada célula
de meu corpo, e eu tremia muito. Comecei chorar desesperadamente, então
Pietrus me envolveu com um forte abraço e me beijava dizendo que eu apenas
estava morrendo e renascendo para a eternidade.
Quando tudo acabou pude ver tudo ao meu lado com meus novos olhos
nocturnos e sentir que minhas lágrimas iam se tornando lágrimas de sangue.
Pietrus escolheu um lindo vestido preto entre minhas roupas e estendeu-
o para que eu o vestisse.
Após estar com o vestido em meu corpo, ele disse que deveríamos partir
para seu refúgio antes que o sol raiasse. E nós partimos daquela casa onde eu
perdi minha velha vida mortal para sempre.
XV
VIII – O Casarão
XVII
IX – Sangue Infantil
XVIII
X – Passagem Gótica
XX
XI – Encontro Com Lugubrous
Foi quando me perdi pelo mundo afora, e foi quando fui parar em uma
velha catedral, e lá encontrei um padre sozinho não sei fazendo o que. Eu
estava com uma boneca em minhas mãos, e nela eu vesti roupas iguais as que
eu estava vestindo. Com meu olhar inocente e sedutor, me aproximei do padre
e satisfiz minha sede e me sentei no chão empoeirado com o corpo do padre ao
meu lado, minhas roupas estavam sujas com o sangue que pingava de minha
boca.
Foi quando Lugubrous apareceu. A princípio pensei que fosse algum
aliado de Memento, pois ele emanava muito poder e magia ao seu redor.
Tive uma crise de loucura, mas acabei descobrindo que ele era inimigo
de Memento e lhe contei um pouco sobre mim e fiquei tão feliz ao saber que
ele havia destruído o maldito Memento.
Fui levada por Lugubrous até um conhecido seu, o pastor Desdomus,
este era um safado, usava a fé dos mortais para satisfazer sua sede. O problema
é que quando acordei na noite seguinte, o caixão em que eu estava havia sido
lacrado por fora durante o dia por uns carniçais de um tal de Memoriant.
Fui levada até um velho cemitério para ser usada como isca para
Lugubrous, uma vez que Memoriant era um tipo de chefe do detestável
Memento.
Lugubrous me salvou daquele lugar putrefo após alguns incidentes que
teve contra um dos carniçais que estavam de guarda.
Após isso, fui levada até sua mansão, onde nos banhamos e cuidamos
dos ferimentos que já estavam quase todos cicatrizados.
Lugubrous só tinha um caixão em seu refúgio, então dividimos o mesmo
naquele mesmo dia que se aproximava, transamos até o sol nascer e dormimos.
Acordamos com o refúgio em chamas e fugimos por uma passagem
secreta, Lugubrous já detalhou tudo isso em seu livro, por isso apenas estou
fazendo uma rápida passagem sobre nosso encontro, relacionamento e
despedida.
Após algum tempo, Lugubrous estava indeciso em relação ao que fazer,
Memoriant estava pressionado por todos os lados e ele temia por minha vida,
mesmo me tornando mais forte com o seu sangue poderoso. Decidiu então que
deveríamos nos separar pelo menos até que Memoriant não fosse destruído.
Fomos até a estação ferroviária, onde havia muitas pessoas e alguns
vampiros nos observando.
Eu parti mais uma vez sem destino traçado para este mundo afora.
Dentro do trem, eu me lembrei de quando viajei com meus pais pela
primeira vez de trem.
XXI
XII – Retorno Ao Lar
Decidi então voltar ao meu antigo lar e ver como tudo estava.
Cheguei em uma noite fria e melancólica. Abri a enorme porta dupla da
entrada e ouvi seu velho rangido que trazia boas recordações. Entrei, fechei a
porta e fui caminhando, olhando cada mobília coberta por lençóis já velhos e
empoeirados. A cada cômodo uma lembrança.
Antes de o sol nascer, desci até meu refúgio secreto e encontrei meu
velho caixão ainda inteiro, embora coberto pelo pó, era o mesmo, com o cheiro
de morte antiga ainda impregnado nele, cheiro que só a um bom faro como o
nosso é perceptível.
Com um pano esfarrapado o limpei por inteiro e me deitei para meu
merecido descanso.
Quando acordei, fui atrás de algumas pessoas para trabalharem para mim
naquela noite, a fim de deixar a casa limpa por inteira e como era antes.
Contratei muitas pessoas para que fizessem o serviço nesta mesma noite,
dando a desculpa que na manhã seguinte a casa receberia uma pessoa muito
importante, e como se sabe, nestas horas o dinheiro fala mais alto que a
curiosidade.
Começou então a limpeza e a rápida reforma, foi quando vi uma de
minhas contratadas limpando uma velha cômoda com frascos antigos de
perfume sobre sua superfície.
Era uma jovem muito linda, cabelos ruivos e lisos até a cintura, pele
macia e branca feito um véu, seus olhos verdes me fascinaram e seus lábios
com traços delicados me encantaram.
Observei-a durante a noite toda, cada movimento leve, toda sua sutileza,
e um ar melancólico a cercando a cada instante.
Todos terminaram o serviço antes do previsto, e eu fui pagando cada um
com uma boa gratificação e me assegurando que nada seria dito por ninguém, e
nem deixei que percebessem quem eu era.
Deixei a linda ruiva com suas vestes brancas por último, e antes de
remunerá-la, certifiquei-me que não houvesse ninguém mais na casa.
Conversamos um pouco sobre assuntos aleatórios e supérfluos e descobri
que ela estava morando há dois dias em uma pensão, que seus pais haviam
morrido em acidente recentemente e ela não tinha para onde ir. E seu nome era
Izabel.
O sol ia nascer logo, então fiz um convite irrecusável para ela, chamei-a
para vir morar comigo, e eu iria lhe pagar um bom salário para que mantivesse
minhas coisas em ordem.
Ela aceitou, e eu pedi que ela voltasse na noite seguinte já com suas
coisas para esta minha casa, que agora também seria a dela.
Conforme o combinado, ela apareceu na noite seguinte. Mostrei-lhe o
XXII
seu quarto e toda a casa. Depois de muita conversa sem importância, levei-a
para conhecer a parte de trás da casa, um lugar que eu gostava muito, e vi nos
olhos dela o brilho que mostrava que ela também adorou o lugar a primeira
vista. Era um pequeno espaço com algumas árvores, flores e um grande
gramado.
Uma chuva nos pegou de surpresa e começamos a rir e correr descalças
na grama, uma atrás da outra até cairmos uma sobre a outra e rolarmos
abraçadas.
Dei o primeiro beijo em seus lábios que retribuíram em um enorme amor
que fez nossa paixão aumentar assim como o desejo de uma pelo corpo úmido
da outra. Fui beijando seu pescoço, seus lindos seios e ela fazia o mesmo
comigo, até que não resisti e cheguei a seu genital que emanava um saboroso
cheiro de sua menstruação.
Comecei a sugar todo líquido de seu útero enquanto minha língua
trabalhava proporcionando muito êxtase e prazer a Izabel que, se contorcia em
seus gemidos de uma fêmea no cio, que me deixavam muito mais extasiada e
comecei a me masturbar até que sorvi a última gota de sangue proveniente de
seu útero junto ao meu orgasmo.
Beijamos-nos novamente e voltamos para dentro da casa já como duas
amantes. Eu sabia que ela não havia percebido que eu suguei aquele sangue
que havia dentro dela, mas também sabia que ela estranharia que seu ciclo
menstrual terminasse tão cedo, mas isso era fácil de contornar com alguma
história médica.
Tornamos-nos verdadeiras amantes, todas as noites nos banhávamos em
orgias como as mulheres em um perpétuo cio de fogo, e eu sempre tinha sede
pelo seu sangue que aumentava a cada relação que tínhamos, e apenas era
saciada pouco antes do amanhecer, quando Izabel já estava dormindo e eu me
deleitava com minhas vítimas que passavam pelas ruas, praças e parques
naquelas horas.
Ela nunca me perguntou por que eu me trancava em meu quarto durante
o dia e nunca a deixei entrar lá, e até ela, mesmo sendo mortal, passou a Ter
hábitos nocturnos e dormir durante o dia.
Tudo parecia estar perfeito como em um conto de fadas, mas em uma
noite em que eu saí sozinha para comprar alguma coisa para nós, encontrei um
homem já com seus cinqüenta e poucos anos, cabelos e barba grisalhos, mas
com o corpo ainda forte.
Percebi que me olhava com um olhar meio assustado, meio desconfiado.
Fui até ele para descobrir o que estava se passando em sua mente, e
quando cheguei bem perto dele, ele me falou:
_ Carminalla?!!
Foi quando descobri quem era. Há alguns anos atrás quando eu estive
naquele lugar, eu já era uma vampira, e este velho tinha seus quinze anos, e
trabalhava em uma loja de tecidos que eu freqüentava, seu nome era Antony, e
ele me reconheceu, e eu ainda estava tão bela e jovem como naquela época.
XXIII
_ Você é um demônio!
_ Calma Antony, são coisas da medicina moderna, plástica e coisas do
gênero.
- Mentira! E mesmo que fosse, com a idade que você deveria ter, você já
estaria morta!
_ Bem, como você mesmo disse, Poderia.
_ O demônio está entre nós, vou descobrir onde vive e te destruirei.
Eu não podia matá-lo ali, havia muitas pessoas caminhando por aquele
local, e muitas outras paradas vendo o velho que parecia um louco
blasfemando contra uma linda mulher.
Retirei-me o mais rápido possível do local e retornei para casa.
Eu precisava pensar em alguma saída para esta situação e pensei em
minha querida Izabel.
Naquela noite eu havia decidido contar a verdade à minha adorável
companheira, e foi o que fiz. Amamos-nos e após algumas horas juntas, eu
comecei a lhe falar de mina vida e no que eu havia me tornado, e como eu
estava apaixonada por ela.
Para minha surpresa, ela sorriu ao invés de mostrar horror e aversão a
minha pessoa, s eu sorriso era tão doce e seus maravilhosos dentes brancos me
fascinavam.
_ Eu já sabia que você era uma vampiresa há algum tempo, alias, eu
sabia desde que você sugou todo meu sangue uterino pela Segunda vez, mas
também me apaixonei por você e esperei pacientemente por este momento.
Olhamos-nos e nos beijamos demoradamente e então ela falou:
_ Me transforme em uma vampira como você, para ficarmos mais
próximas com laços de sangue eterno.
Foi quando tive a idéia perfeita de enganar o velho e os que viriam com
ele para me destruir.
Na noite seguinte havia uma multidão em frente à minha casa preste a
invadir com tochas, armas e coisas do tipo.
Izabel então abriu a grande porta dupla e se pôs a falar com o velho que
liderava o grupo e havia me reconhecido.
_ Como ousa a vir profanar uma casa em luto, onde a morte abriu suas
asas e levou minha amada patroa.
_ Mas como isso, eu a vi ontem, ela é um demônio.
_ Então você é o culpado pela morte dela. Ela voltou triste para casa
ontem por ter encontrado um velho conhecido que a recebeu com ofensas por
causa de sua cirurgia plástica facial que a manteve com aspecto mais jovem, e
suicidou-se, cortou os próprios pulsos, e eu a encontrei dentro da banheira
cheia com seu próprio sangue e já sem vida, maldito seja você.
Todos os que haviam vindo com o velho se condoeram e entraram para
velar o corpo da pobre mulher que havia se suicidado.
O velho incrédulo entrou correndo derrubando algumas pessoas e
fincou uma estaca em meu peito, isso confesso que doeu muito, mas tive que
XXIV
conter a dor e assim mostrar a todos que eu realmente estava morta.
Naquela mesma noite todos ajudaram a sepultar a mulher que no caso
era eu, e em uma outra a cova, o velho que eles lincharam por fazê-los de
idiotas. Izabel voltou para casa e dormiu pouco, pois preparou todas nossas
coisas para uma nova viagem, e quando a noite caiu, ela estava no cemitério
esperando para que eu saísse de baixo da terra, e foi isso o que fiz.
Eu a vi maravilhosa em um vestido negro com partes confeccionadas
em um véu rendado negro e transparente, ela estava vestida para mim, e eu a
aceitei de braços abertos.
Beijei-a primeiro nos lábios, então enquanto nossas mãos nos
acariciavam, eu mordi seu pescoço e drenei seu sangue até a fronteira da morte,
então fiz um corte em meu seio do lado direito com a unha e a fiz beber meu
sangue.
Izabel tombou ao chão tendo as convulsões da morte natural e
ressurreição ao mundo dos vampiros. Ela se levantou mais branca que antes,
uma palidez angelical e mórbida ao mesmo tempo, igual, senão maior que a
minha, e eu a desejei ainda mais do que antes.
Voltamos escondidas para a casa, pegamos nossa bagagem e fomos
para o aeroporto.
Antes do embarque, eu vi um vampiro que me observava, um rosto que
eu já havia visto antes.
Busquei sua face em minha memória e me lembrei de seu rosto na
estação ferroviária onde eu peguei um trem e deixei Lugubrous.
Fui até ele, e perguntei o que ele desejava.
Ele se apresentou como Dark Krishnevil, e que não desejava nada, foi
apenas uma coincidência se encontrarmos novamente. Contou-me sobre os
acontecimentos que ocorreram com Lugubrous que havia posto um fim em
Memoriant em uma batalha maligna e da busca em que Lugubrous estava
enfrentando.
Disse que ele também estava envolvido nesta busca por vontade
própria, e que faria tudo para ajudar Lugubrous.
Meu avião estava preste a partir, então nos despedimos e lhe falei que
também ajudaria Lugubrous no que pudesse ajudar, e ao despedir-nos, eu sabia
que nos reencontraríamos mais vezes.
XXV
XIII – Visita Ao Interior
XXVIII
XIV – Um Ancião
XXXI
XV – Bebendo Entre Imortais
XXXIV
XVI – Frio Na Madrugada
No anoitecer do dia seguinte fazia muito frio, não sei porque, mas eu
sabia que deveria ir para São Paulo, como se algo estivesse me avisando de
alguma coisa.
Conversei com Izabel e nos preparamos e fomos pegar o ônibus. Ao
chegar na rodoviária, Anlert estava nos esperando.
_ O que faz aqui? Perguntei.
_ Oras, vamos até S.P.
_ Como você sabe que iremos até lá?
_ Quem você acha que lhes invocou mentalmente?
_ Estranho, como você entra em nossas mentes desta forma, eu nem
percebi que era alguém tentando se comunicar comigo, é como se fosse algo
dentro de mim mesma dizendo que devo fazer algo, como isto é possível?
_ Com o tempo você poderá desenvolver mais seus dons noturnos, ai o
que você faz hoje com seus poderes será como um simples truque de mágica
para iniciantes.
_ E o que faremos em S.P.?
_ Krishnevil está nos esperando, falei com ele por telefone e vamos para
uma pequena e rápida reunião e tomarmos algumas decisões.
_ Reunião? Decisões?
_ Algo está acontecendo, lá nós conversaremos melhor sobre o assunto,
agora vamos, o ônibus chegou.
Fui pensativa sobre o que estaria acontecendo, o que seria esta reunião.
Pela janela do ônibus eu via o asfalto, árvores e prédios de concreto no
decorrer do caminho, carros passando apressados por nós. Na poltrona próximo
a porta de entrada, uma garotinha jogava seu mini-game distraidamente
enquanto sua mãe cochilava ao seu lado e seu pai trabalhava com um
notebook. Meus olhos correram por todos presentes ali, e eu sentia cada um
perdido em seus pensamentos enquanto outros dormiam despreocupadamente.
Descemos no terminal Tietê e a garoa intensa não incomodava, nem o
frio, nossas capas nos protegiam naquela noite em que eu estava ansiosa para
saber de que se tratava a tal reunião.
Dark Krishnevil apareceu para nos recepcionar. Todos se
cumprimentaram e fomos até o carro que Krishnevil havia alugado.
Chegamos em um hotel de luxo ande Krishnevil se hospedara e subimos
pelo elevador como humanos mortais.
Já no quarto do hotel, eu perguntei sobre a tal reunião e onde estavam os
que participariam do encontro.
_ Estão todos presentes no recinto. Disse Anlert.
_ Mas só estamos nós quatro aqui.
_ Exato, somente nós participaremos neste encontro.
XXXV
Lá fora a chuva havia apertado um pouco mais e a noite se tronava mais
sombria, eu parei perto de uma janela de vidro meio opaca e olhei para as
imensas nuvens negras encobrindo todo o céu, e sendo cortadas vez por outra
pelos relâmpagos seguidos de trovões tormentosos.
Batidas na porta foram ouvidas e Krishnevil comentou:
_ Deve ser Murlok, ele veio comigo para o Brasil.
A porta se abriu e realmente era Murlok, um vampiro de
aproximadamente um metro e setenta e seis de altura, olhos negros e sem
cabelo algum, ele provavelmente raspava sua cabeça com alguma navalha
todas noites após se levantar, um típico nosferatu dos cinemas.
_ Bem, começou a dizer Anlert chegando mais próximo a nós fechando
um círculo, agora que estamos todos aqui, podemos dar início a nossa reunião.
_ Sim. Disse Krishnevil. Ivant reapareceu e fugiu aqui para o Brasil,
estamos alertando a todos que estão por aqui para que nos avise a qualquer
sinal dele.
_ Quem é Ivant? Quis saber Izabel.
_ Ivant, Humn! Anlert fez uma expressão de desprezo e começou a falar
sobre o ser em questão. Ivant foi abraçado para o mundo vampírico uns setenta
anos após Lugubrous ter sido transformado, e disse também que foi Dórius
quem o Criou, alias, onde estará Dórius agora? Será que realmente está morto
como dizem? Ou será que se enterrou enganando a todos, um bom truque dos
anciões para desaparecerem por algum tempo sem serem seguidos e
perturbados.
Anlert se virou para mim e falou:
_ Ele é muito antigo, se estiver vivo, pode muito bem ser um destes
anciões que despertarão atrás do sangue de todos nós, mas isto é uma outra
história, voltemos a Ivant. Ele viveu alguns séculos em paz com os de nossa
espécie, mas depois se tornou um problema para nós, primeiro ele conseguiu
matar um vampiro muito velho e bebeu todo o sangue deste mesmo. Depois
entrou em esquemas de magia negra, começou estuprar mulheres mortais e
deixa-las vivas para contarem sobre seus atos sádicos, enfim, vários casos que
levaríamos algumas noites para comentarmos. O fato é que nós o aprisionamos
em um caixão de chumbo e enterramos debaixo de uma catedral, mas alguns
historiadores sem saber acabaram o libertando e consequentemente o
alimentaram com o próprio sangue e vidas.
_ Formamos grupos para caçá-lo, mas ele conseguiu desaparecer.
Acrescentou Murlok. Semana retrasada foi visto embarcando em um avião para
o Brasil. Avisamos amigos pelo país e aqui estamos, contando a vocês o que
aconteceu, agora sabem, irão nos ajudar nesta “caçada”?
Concordamos, mas agora tínhamos um problema, o de como encontrar
Ivant neste país tão grande.
Murlok percebendo o que pensávamos comentou:
_ Estou chegando de um contato nosso, e segundo as informações que
obtive, é que Ivant está aqui em São Paulo, embora ainda não saibamos o local
XXXVI
exato onde se esconda, mas logo ele terá que se apresentar em algum lugar.
Nesta hora acabou a energia elétrica. Fui até a janela para ver a chuva e
Izabel parou ao meu lado.
_ Algo estranho está acontecendo aqui. Comentei. Olhe as luzes na rua
lá embaixo, estão todas acesas assim como as dos prédios a volta deste.
Foi quando pressenti o perigo se aproximando. Foi tudo muito rápido,
quando fui correr, uma estaca varou minhas costas atravessando meu peito, e
eu caí no chão sentindo meu sangue jorrar para fora me deixando muito fraca e
com uma dor insuportável.
Ouvi apenas gritos, vidros se quebrando e vultos indo e vindo com uma
velocidade vampírica incrível.
O pior de tudo é que senti o amanhecer se aproximando. Algumas mãos
me pegaram e fui levada para um cômodo vedado contra a luz. Senti a estaca
ser puxada para fora de meu corpo e mais sangue escapar pelo ferimento.
Comecei a chamar por Izabel com a voz enfraquecendo a cada palavra.
_ Izabel... Izabel... Izabel...
Então a escuridão do sono fez tudo sumir a minha volta, assim como a
dor.
XXXVII
XVII – Farto Banquete
XLII
XVIII – Maldito Sol
XLV
XIX – Atraindo Com A Morte
Decidi ficar mais um tempo em São Paulo até ver o que faria, se viajaria
para algum lugar ou sei lá, eu precisava deste tempo sozinha para poder pensar
em tudo o que aconteceu.
Sai pelas ruas como uma simples mortal comum, hoje em dia temos
muita facilidade de nos locomovermos entre os mortais sem desertar a atenção
com nossa palidez, pois pensam que somos como alguns deles que se pintam
para se parecerem com os vampiros da TV.
Fui até um bar gótico, eu adoro estes lugares, pessoas depressivas, um
mundo maravilhoso para nós.
Conheci algumas pessoas, mas eu percebi que enquanto eu estava
sentada próximo ao balcão de bebidas conversando com uma linda garota, um
jovem aparentando uns vinte e três anos me observava sentado nos degraus de
uma escada que levava ao andar superior. As velas que bruxuleavam na parede
atrás dele davam-lhe um aspecto muito triste e sombrio.
A princípio, pensei que ele estava apenas me observando como uma
garota comum de lindos encantos que despertara seus desejos, sua paixão, mas
eu comecei a perceber que em qualquer parte da casa em que eu estivesse, ele
estava a me observar de uma forma diferente.
Acabei me apaixonando por um garoto de dezenove anos que passou por
mim. Quando digo que me apaixonei por este ser, digo que me apaixonei em
minha sede. Seu jeito triste de caminhar e seus olhos chamando pela morte em
uma dor por esta vida estúpida.
Pude ver que quando este meu desejo pelo sangue do garoto me invadiu
a mente, o jovem que observava quase expressou um riso em seu rosto, e eu
percebi que ele sabia o que eu era, mas não deixei que isso interferisse em
minha sedução pelos cabelos loiros de minha nova vítima.
Após conquistar a minha pobre caça, eu o levei para uma rua deserta e
escura para saciar minha fome, e fui sugando seu sangue bem lentamente,
proporcionando um grande êxtase a nós dois, até que o garoto moribundo
tombou sem nenhum vestígio de vida, eu senti seu desejo pela morte e lhe
concedi a mesma.
Deixei o corpo encostado na parede de um prédio como se fosse um
bêbado dormindo após um porre, comecei a caminhar em direção a um poste
com sua luz piscando por algum defeito e falei:
_ Quem é você e porque me segue, sabe que vou matá-lo!?
_ Não, você não vai me matar.
Falou a voz do jovem que observava no bar e saia das sombras de um
monte de lixo que estava empilhada na calçada para que os lixeiros
recolhessem ao amanhecer.
XLVI
_ Meu nome é Eillian, eu pertenço à irmandade obscura, você já deve ter
ouvido falar de nós.
Lembrei-me que Lugubrous me falou certa vez sobre esta irmandade
negra, mas não me contou muito a respeito, apenas que era um grupo de
bruxas, magos, feiticeiros, etc., e que entre eles tinham alguns que nos
conheciam, uns amigos, outros inimigos e a maioria nem sabia que nós
existíamos.
_ Então você é um mago ou coisa parecida? Perguntei.
_ Sim, ou melhor, sou um bruxo, mas ainda sou muito novo como você
mesma pode ver, ainda tenho muito a aprender no mundo da magia.
_ E porque me segue? Desde quando me observa?
_ Eu fiquei sabendo que existiam vampiros realmente após ouvir uma
conversa entre dois magos que já transcenderam a mortalidade com seus
conhecimentos místicos, ouvi-os comentarem sobre um amigo deles chamado
Lugubrous, apenas comentários de amigos sobre amigos, e fiquei sabendo que
esse Lugubrous é um vampiro muito poderoso, e tem muito conhecimento em
magia.
_ E o que isso tem a ver comigo?
_ Nada, é que eu comecei a ficar atento e observando melhor as pessoas
durante a noite para ver se eu encontrava algum de vocês, e nesta noite, sem ter
o que fazer, fui até o mesmo local que você escolheu, destino, coincidência ou
não, eu percebi o que você era ao sentir seu desejo pelo sangue daquele pobre
corpo ali. Ele apontou para o garoto que já começava a emanar o cheiro putrefo
da morte, mas naquele momento, apenas para quem tem o olfato como o nosso.
_ E o que faz me seguindo? Eu vou beber seu sangue se não desaparecer
de minha frente, e nunca mais me siga ou tente me procurar.
_ É isso que quero, que você beba meu sangue, e depois me de um pouco
do seu, eu quero ser um vampiro, não quero ficar velho, não quero morrer,
quero ser assim para sempre.
_ E porque não pede ao seu mestre para lhe tornar imortal?
_ Você sabe como é o mundo da magia, eles dizem que só depois de
muitos estudos e trabalhos em laboratórios alquímicos nós conseguimos o
elixir da eternidade, e muitos nem conseguem, ou morrem loucos ou por alguns
experimentos que não dão certo, e se conseguir o tal elixir da eternidade, já se
está muito velho, com aparência de velho, você me entende.
_ Sim, mas ai se torna eterno já com grande sabedoria e não como nós,
que ainda nos tornamos eternos ainda jovens e temos que ir aprendendo com o
passar dos séculos e com a dor.
_ Mas se tornam sábios, pelo menos os que querem.
_ Sim os que querem, pois na maioria, nós apenas queremos o prazer e a
luxúria, o sangue, a aventura.
_ E para que querer mais que isso? Para ser sábio e ficar filosofando
sobre o começo e o fim do mundo, porque tudo foi criado, qual o sentido da
vida, buscando eternamente respostas que nunca serão respondidas? Foda-se
XLVII
tudo isso, eu quero é mais viver e viver para sempre, grandes orgias escarlates
me esperam, foda-se se Deus ou o Diabo existam e se forem julgar nossas
almas, nossos atos em um juízo final, eu quero é ser eterno em carne e osso e
sangue é claro, mais uma vez eu digo, foda-se o resto.
Eu comecei a rir do jeito que ele falava seus palavrões, mas eu senti
sinceridade em suas palavras, no animo em que ele falava.
_ Infelizmente não posso torná-lo como um de nós.
_ Porque não? Eu imploro.
- Já pensou se transformássemos todos que querem ser vampiros em
vampiros de verdade? Seria um caos.
_ Porra!!! De-me uma chance, depois de eu fizer besteiras, vocês tem o
poder de me destruir, concorda?
_ Sim, com certeza isto seria fácil demais. Eu falei quase em um
cochicho e fiquei observando Eillian que me olhava já com a face meio triste e
infeliz, quase desesperada, então olhou para mim e disse:
_ Caralho, o que tenho que fazer para você me transformar?
Eu ri mais uma vez de seu vocabulário vulgar e lhe falei:
_ Primeiramente deve parar de dizer tantas palavras obscenas, ainda
mais para quem se acaba de conhecer, depois, vejamos, quem sabe um dia eu
lhe dê a chance de se tornar um vampyr.
Eu desapareci como um passe de mágica em livros de fábulas encantadas
para os olhos mortais de Eillian, mas na verdade eu estava no alto de um prédio
apenas observando. Ele começou um choro e depois se controlou.
Decidi espioná-lo enquanto eu estivesse por São Paulo e quem sabe eu
não o tornaria em um vampyr?!.
XLVIII
XX – Magos Presentes
LI
XXI – Uma Breve Visita
LIV
XII – Perseguição Noturna
LIX
XXIII – Irmandade Obscura
Conforme havíamos marcado, após meu desjejum nos encontramos no
mesmo hall da noite anterior.
Conversamos um pouco sobre assuntos aleatórios sem importância até
Lethichan se acomodar bem na mesma poltrona da noite anterior, que parecia
ser sua preferida. Colocou sobre a mesinha de centro uma garrafa de vinho e
sua taça já cheia, com qual ele observava com olhos perdidos em pensamentos,
até que sua voz rompeu o silêncio.
_ Vamos então começar nossa “viagem ao tempo”. E então começou a
falar:
A Irmandade Obscura:
Voltando nossas vistas para a época das grandes aglomerações de seres
humanos, onde o fenômeno chamado civilização se tornava determinado na
Mesopotâmia e Egito, uma das coisas mais importantes em todas as cidades
eram os templos.
Nestes templos existia um santuário, onde comumente tinha uma grande
figura monstruosa, metade humana, metade animal.
Nestes templos, havia determinados números de sacerdotes ou
sacerdotisas e serventuários.
Em um destes templos, tinha um jovem aprendiz de magia, era um
templo dedicado a um Deus egípcio chamado Set, Deus da escuridão.
Este jovem chamava-se Radau. Seu mestre é desconhecido de nossos
arquivos, mas sabemos que quando Radau completou seus trinta e seis anos de
idade, ele se tornou muito poderoso, há especulações dizendo que ele matou
seu mestre e bebeu seu elixir da vida eterna, dizem também que ele ainda vive
e voltará a liderar a Irmandade Obscura algum dia, mas disso falaremos mais
tarde.
Voltando ao assunto, nesta mesma época em que ele provavelmente
praticou este crime, ele apareceu vestido em um manto negro no templo onde
era apenas um sacerdote, e disse que havia recebido ordens diretas do Deus Set
para construírem um templo para se unir os Deuses Set., Deus da escuridão,
Anúbis, conhecida como a terrível, e Osíris, Deus da morte.
Disse também que ele, Radau seria o líder deste templo e que deveria ser
feito o mais rápido possível.
Houve uma investigação e descoberta que Radau não só praticava
magia branca como também magia negra, e que seu templo era invenção sua
para finalidades de seus projetos mágicos insanos.
LX
Ele foi condenado à morte, mas antes que a lei fosse executada, ele
desapareceu da cidade.
Conformes relatos em nossos arquivos, ele reapareceu cento e quinze
anos mais tarde em outra cidade do Egito, mas com outro nome, Darau, ou
seja, apenas inverteu as consoantes de seu verdadeiro nome, mas na época, o
suficiente para não levantar suspeitas, ainda mais cento e quinze anos depois.
Lethichan parou um momento e tomou o último gole do vinho em sua
taça e a encheu novamente, para assim dar continuidade ao seu relato.
Darau então fundou uma seita secreta apenas com discípulos em magia,
e como ele havia proposto antes, em seu templo secreto, havia imagens de Set,
Anúbis, Tifão e Osíris.
O nome desta seita foi batizada como Irmandade Obscura, cuja qual
Eillian foi acabar se metendo.
Boatos espalhados pelo mundo afora dizem que Darau permanece vivo
em tempos atuais, e utilizando seu nome verdadeiro, Radau, e como nós
sabemos, podem-se utilizar muitos nomes diferentes em contas e outras coisas,
como você mesma faz para se proteger, Pale.
Eu concordei com um leve sorriso, pois é verdade, tenho muitas contas
bancárias pelo planeta inteiro, e agentes que cuidam delas para mim, e cada
um, assim como para cada conta, utilizo um nome diferente, e em muitos
casos, com o passar dos anos, sempre preparo papéis comprovando a morte da
“dona” da conta que deixa tudo para uma sobrinha ou algo parecido, toda
fortuna como herança, não pondo assim minha identidade real em risco.
Fui embora para meu repouso já que novamente o dia se aproximava.
Na noite seguinte, pressenti que havia algum vampiro muito poderoso na
cidade.
Bebi o sangue de um maltrapilho que tentou me cortar com uma
butterfly para roubar meu precioso colar que eu havia escolhido para aquela
noite.
Segui meu instinto até chegar em uma casa de shows onde estava
tocando uma banda de black-doom.
Fiquei surpresa e feliz ao ver que era Lugubrous que tocava e cantava
sua triste e ao mesmo tempo agressiva música, que explorava sentimentos
sublimes em nossa alma condenada, sentimentos de dor e ódio.
O show acabou e ele veio até mim.
Seus olhos mostravam sua tristeza, aflição e preocupação.
Saímos para caminhar pelos cantos escuros e contarmos nossas andanças
pelo mundo, até que Lugubrous começou a falar sobre a Irmandade Obscura.
Ele havia vindo até o Brasil para desvendar e destruir de uma vez por
todas esta organização e seu líder Radau.
_ Mas ele realmente está vivo? Perguntei.
_ Estava, minha linda Pale. Então vi que sua expressão mudara para um
semblante ainda mais triste ainda.
_ E o que o atormenta tanto assim, não posso suportar todo este
LXI
sofrimento que emana de você. Eu queria chorar junto a ele.
_ Meu tormento é somente meu, não chores por mim. Ele suspirou
profundamente e continuou. Chegando aqui em São Paulo no final da
madrugada anterior, descobri algo que me deixou totalmente desorientado.
Ele olhou para o céu semi nublado com algumas estrelas brilhando e
voltou a falar:
_ Senti um poder muito forte por perto, pensei que fosse Radau, e ao
chegar ao local onde tal força era o centro, fiquei chocado ao ver que Radau
realmente estava lá, mas morto, alias, consegui ver seu último suspiro antes
que ele desencarnasse.
_ Como? Agora eu estou ficando confusa.
_ Um ancião Carminalla, um ancião muito poderoso tinha acabado de
arrancar o coração de Radau e terminava de sugá-lo. Ele então olhou para mim
em um sorriso perverso e ao mesmo tempo emanando amor por mim. Ele ateou
fogo no corpo exangue apenas com um estalar de dedos, jogou o coração
murcho sobre o fogo e virou-se para mim dizendo:
_ Boa noite meu amado filho, esta Irmandade não lhe fará mais sofrer,
este era o criador de toda esta ordem desgraçada, e também o último, pois eu
matei todos os outros por você. Eu sempre estive lhe observando desde meu
despertar de um profundo sono e jejum pelo sangue, eu te amo, sempre amei,
talvez não se lembre, mas sou teu criador, lembra-se da floresta? Meu sangue
corre em tuas veias, mas hoje não temos tempo, quem sabe em breve?
_ Eu cai de joelhos ao chão sem saber o que fazer, não sabia se corria
atrás do vulto daquele ser que sumia com sua velocidade vampírica ou se
chorava. Meu passado correu em frente aos meus olhos em segundos em uma
visão aterradora, imagine séculos passar em segundos em sua visão, lembrei-
me de minha transformação naquela floresta úmida e muitas coisa mais. A
única coisa que consegui fazer foi gritar perguntando seu nome.
_ “Memalon”. Sua voz soou este nome em minha mente ‘num sussurro
excitante, enquanto o sol ia libertando seus primeiros raios que brilhavam no
horizonte distante.
_ Corri para meu refúgio com meu novo tormento em mente, mas
felizmente logo o dia se fez presente e meu sono se fez supremo.
_ Acordei hoje com milhões de perguntas em minha cabeça, mas eu
tinha que cumprir este show para com os mortais, e não podia deixar meus
problemas interferirem, nem deixar alguma dúvida em suas mentes, para que
viessem a desconfiar que realmente sou um vampiro.
_ E aqui estamos nós. Falei com um sorriso inocente, puro e sincero.
_ Sim, aqui estamos nós, nosso lindo reencontro.
_ Mas você vai partir hoje, não é mesmo, eu sinto isso em tuas palavras.
_ É preciso, agora tenho que saber onde procurar Memalon, preciso
saber por que ele me escolheu, para trazer ao mundo dos não mortos.
_ Mas fique comigo esta noite, me ame mais uma vez.
_ Eu iria fazer este mesmo pedido a você.
LXII
Uma limusine chegou para nos pegar após Lugubrous ligar de um
telefone público, pois ele odeia celular e coisas do gênero.
O grande carro negro de vidros escuros ficou vagando a esmo por toda
cidade enquanto nosso deleite era consumado na parte de trás do carro.
Lugubrous era e ainda é meu mais querido amante, sombrio, triste e
voluptuosamente se entrega por inteiro em nossa paixão vampírica.
Nossas lágrimas selaram nosso longo beijo na despedida no aeroporto
onde ele estava partindo para algum lugar na Escócia, onde um de seus
contatos sabia algo sobre Memalon.
Sabíamos que logo nossos caminhos se cruzariam novamente como
sempre, e teríamos mais tempo juntos em nosso amor.
LXIII
XXIV – Reencontro
I
... ZABEL...
LXIV